Paula
Paula
Paula
Neonatologia
Período Perinatal:
É o período compreendido entre as 28 semanas de gestação e o 28º dia de vida.
Período Neonatal:
É o período compreendido entre o nascimento e o 28º dia de vida.
Idade Gestacional:
Período a partir do 1º dia do último fluxo menstrual normal até ao dia do nascimento.
1º trimestre
- 1º dia do último período menstrual até à 13ª semana de gestação;
2º trimestre
- Da 13ª à 26ª semana de gestação;
3º trimestre
- Da 26ª semana de gestação até ao nascimento.
Classificação do Recém-nascido:
o Início séc. XX OMS peso à nascença
o Déc. 70 Academia Americana de Pediatria idade gestacional
o Atualmente, a classificação baseia-se em dois critérios: peso à nascença idade
gestacional
Permite avaliar a idade gestacional, quando não é possível determinar a data da última
menstruação da mãe e o exame de ultrassonografia não foi realizado no início da gestação.
• 6 parâmetros físicos:
1.Pele
2.Lanugo
3.Superfície plantar
4.Glândula mamária
5.Olhos / orelhas
6.Genital feminino / masculino
Recém-nascido PRÉ-termo:
Prematuridade
- Elevada % mortalidade fetal e neonatal
- Elevada % morbilidade infantil
Quanto < peso à nascença e < idade gestacional > mortalidade
RISCO CAUSA
Risco de Complicações:
Possibilidade Probabilidade
Intrínseco a cada ser e não se
pode prever de forma individual
VS É uma projeção, por extrapolação
do que aconteceu aos seus pares.
Prematuridade Viabilidade
A idade gestacional a partir O limiar de viabilidade será
da qual o RN tem > 50% de a idade da maturação fetal que
hipóteses de sobrevida e em que
pelo menos 50% dos
VS assegura razoáveis hipóteses de
sobrevida extrauterina se
sobreviventes ficam sem sequelas oferecido suporte tecnológico.
severas, a longo termo.
Em Portugal (2005-2012):
- Abaixo das 23 semanas – todos os recém-nascidos faleceram (n=4);
- Às 24 semanas – a probabilidade de sobreviver foi de 35%;
- Às 25 semanas - a probabilidade de sobreviver ultrapassou os 50%.
Factores maternos, de risco, para o parto prematuro:
Hipertensão arterial
Infecções
História de partos prematuros prévios
Diabetes
Doença cardíaca
Doença renal
Anomalia uterina
Placenta prévia
Descolamento prematuro da placenta
Abuso do fumo, álcool e drogas
Má nutrição
Características gerais:
PC > perímetro torácico;
Proporção tronco / membros > que RN termo;
Lanugo na face e tronco (++ < 30 semanas de gestação);
Órgãos genitais femininos – pequenos lábios mais proeminentes;
Órgãos genitais masculinos – testículos incompletamente descidos;
Pavilhão auricular muito “mole”;
Pele mais fina, cor-de-rosa escuro;
Nódulo mamário – mais pequeno ou ausente;
Ossos do crânio menos consistentes.
Recém-nascido PÓS-termo:
Características gerais:
Peso ao nascer elevado;
Ausência de lanugo;
Ausência de vernix;
Unhas longas;
Aumento de cabelo;
Pele seca e descamativa;
Comportamento + “vígil”;
Hipoxia decorrente da insuficiência placentária, causando stress e eliminação de mecónio
aspiração de mecónio e suas complicações.
6. CLAVÍCULAS:
a. Palpar sempre – fratura?
7. APARELHO RESPIRATÓRIO:
a. Simetria do tórax
b. Respiração: “Gasping”
i. Variações rápidas do ritmo são normais; Movimentos respiratórios
assincrónicos e não efetivos,
ii. FR < 60 ciclos / minuto;
caracterizados por altas
iii. Tipo de respiração; amplitudes de curta duração
iv. ++ diafragmática / movimentos abdominais; com períodos de apneia
v. Avaliar presença de tiragem, gemidos, “gasping”.
subsequentes.
8. APARELHO CARDIO-CIRCULATÓRIO:
a. Frequência cardíaca:
i. 90 pulsações / minuto, a dormir
ii. 180 pulsações / minuto, a chorar
iii. Ritmo (regular / arritmias)
iv. Som dos batimentos (forte ou fraco)
10. ABDÓMEN:
a. Distensão abdominal / ansas intestinais visíveis ou palpáveis;
b. Cordão umbilical – confirmar a presença de duas artérias e uma veia umbilical
c. Presença de massas – tamanho e localização;
d. Hérnias – inguinal, umbilical ou da linha branca;
e. Fígado (palpar gentilmente o fígado – 2 a 3 cm abaixo do rebordo costal direito);
f. Baço (palpar gentilmente o baço – 1 cm abaixo do rebordo costal esquerdo);
g. Conteúdo gástrico – características;
h. Ruídos hidroaéreos –presentes, diminuídos ou ausentes;
i. Tipo de alimentação
i. aleitamento: materno / artificial / misto
ii. oral (amamentação / tetina / copo) / gavagem
j. Fezes
i. mecónio / transição / outro
ii. consistência / cor / quantidade;
11. GLÂNDULAS MAMÁRIAS:
a. Aumento transitório (hormonas maternas)
12. GENITO-URINÁRIO:
a. Características da urina – cor e aspecto, micção espontânea
b. Genitais femininos – Grandes lábios cobrem os pequenos lábios / sinéquia dos
pequenos lábios / secreções mucosas ou sanguinolentas.
c. Ambiguidade sexual
d. Genitais masculinos
i. Prepúcio: cobre e adere à glande
ii. Testículos (bolsas escrotais ou canais inguinais / criptoquirdia)
iii. Hidrocelo – tumefacção escrotal, com retenção de líquido
iv. Hipo ou epispádias – implante da uretra
13.
ÂNUS: •
a. Permeabilidade anal / ânus imperfurado;
b. Posicionamento do orifício anal em relação à genitália;
c. Fístulas e outras anomalias anorrectais.
Exame
Psicológico do Recém-nascido:
Ritmo de sono / vigília
Vitalidade
Motricidade espontânea / provocada (simetria)
Postura (posição de conforto, semelhante à postura intrauterina)
Tónus muscular - normal / hipotónico / hipertónico
Características do choro - vigoroso / fraco / gemido / agudo
Visão / audição
Reflexos
REFLEXO DE PREENSÃO PALMAR - O RN flete seus dedos das mãos ao contato com um
objeto ou quando o próprio polegar lhe toca a palma da mão.
REFLEXO DE PREENSÃO PLANTAR - O bebê flete os dedos dos pés como resposta a um
objeto que lhe toque as plantas dos pés, próximo a inserção daqueles.
ANAMNESE
Antecedentes familiares – validar:
o actores genéticos, doenças hereditárias,
o factores demográficos (meio socio-económico, tipo de habitação, apoio
socio-familiar, …),
o idade materna - < 16 anos e > 40 anos.
A Unidade Neonatal:
1882 - A Neonatologia, como especialidade, surgiu na França.
Um obstetra, Dr. Pierre Budin, resolveu estender as suas preocupações além da
sala de parto e criou o Ambulatório de Puericultura no Hospital Charité de Paris.
1914 - Foi criado o primeiro centro de recém-nascidos prematuros no Hospital Michel Reese,
em Chicago, por um pediatra, Dr. Julius Hess.
1947 – Foi criado um centro, na Universidade do Colorado, que para além dos cuidados
prestados aos prematuros, possuía camas para mães com gravidez de risco para parto
prematuro e programas de formação especifica para médicos e enfermeiros.
deve ser integrada dentro de uma estrutura hospitalar que disponha de recursos
para o diagnóstico e tratamento de qualquer tipo de patologia neonatal;
tem de incluir procedimentos especializados: cateterismo umbilical e cardíaco,
cirurgia neonatal, assistência ventilatória, monitorização de parâmetros vitais,
…;
deve ser localizada próxima do centro cirúrgico e sala de parto.
EQUIPAMENTO MATERIAL
Incubadora Mat. Intubação ET
Balança Fita métrica
Rampa de O2 Mat. Colheita sangue
Aspirador Mat. Punção venosa
Monitores Mat. Catet. umbilical
Ap. av. TA Estetoscópio
Ventilador Termómetro
⇓⇓⇓⇓
mantendo um ambiente térmico neutro estável
TEMPERATURA SOBRIVIVENCIA
< 1200g 34 – 35,4º
1201 – 1500g 33,9 – 34,4º
1501 – 2500g 32,8 – 33,8 º
> 2500 e > 36 semanas 32,0 – 33,8º
RN pré-termo:
• Menor idade gestacional e pós-natal maior será a necessidade de suporte
• Agravamento do estado clínico térmico ambiental para manter
normotermia do RN.
PERDA DE CALOR
1. Irradiação
Transferência de calor corporal para superfícies frias no ambiente que não estão em contacto
com o corpo.
Exemplo: através das paredes da incubadora, quando esta está perto de uma janela,
corrente de ar condicionado.
(incubadoras afastadas das janelas, usar incubadora aquecida, utilizar incubadoras de parede
dupla).
2. Condução
Perda de calor por contacto direto de um corpo com o outro.
Exemplo: usamos o estetoscópio frio, placas de raio x frias, mãos frias,
(aquecer o estetoscópio, lavar as mãos com água quente, pré aquecer as geleias, placas de
raiox).
3. Convecção:
Perda de calor através do movimento do ar passando pela superfície da pele.
Exemplo: quando se abrem as portinholas das incubadoras ou é utilizado ar e O2 sem
ser previamente aquecido.
4. Evaporação:
Perda de calor durante a conversão do estado líquido para o gasoso.
Exemplo: através da pele e mucosa do trato respiratório.
(manter o RN seco, trocar as fraldas sempre que necessário).
Hipotermia
• A hipotermia no RN prematuro é motivo de grande preocupação.
• Assim, estratégias que previnam a perda de calor podem ter impacto na morbilidade e
mortalidade do RN, especialmente do pré-termo, e podem melhorar seu prognóstico.
Asfixia Perinatal
Período antes, durante e após o nascimento, onde há comprometimento das trocas gasosas,
com aumento do pCO2, acidose e hipóxia, que levam a isquémia por insuficiente perfusão
tecidular.
Causa importante de mortalidade e de sequelas neurológicas graves no recém-nascido de
termo.
⭣⭣⭣⭣
Encefalopatia hipóxico-isquémica neonatal
Disfunção neurológica precoce (primeiros dias de vida), nomeadamente prostração,
convulsões, hipotonia, diminuição dos reflexos
Hipertermia
• Temperatura axilar > 37,5º
• Vasodilatação periférica esforço do organismo dissipar calor
• Pode ser consequência de infeção bacteriana
Caracteriza-se, de uma forma geral, pelo tom amarelo de pele e das escleróticas que o
recém-nascido apresenta. A icterícia tem uma progressão cefalo-caudal.
A bilirrubina:
É um produto final do catabolismo dos aminoácidos e hemoproteínas.
É formada essencialmente, no fígado e no baço, através do catabolismo da
hemoglobina
O recém-nascido de termo, saudável, produz em média 2,3 mg de bilirrubina / Kg / dia.
Classificação da icterícia:
ao 3º dia de vida
Imaturidade no metabolismo da bilirrubina;
Aparecimento após as primeiras 36 horas de vida;
Recém-nascido “está bem”.
Desaparece ao fim de:
- 1 semana no RN de termo
- 2 semanas no prematuro;
2. Icterícia patológica
Apresentação de icterícia visível nas primeiras 36 horas, após nascimento.
≥ 15 mg / dl ⇒ recém-nascido de termo
Aumento na concentração da bilirrubina total > 5 mg / dl / dia:
10 a 14 mg / dl ⇒ prematuro;
Persistência:
+ de 1 semana no RN de termo
+ de 2 semanas no prematuro;
Importante indício para o diagnóstico de muitas doenças do RN.
Quadro clínico
Coloração amarela da pele: progressão rápida ou lenta / evolução cefalo caudal.
Hiperbilirrubinemia fisiológica: recém-nascido sem comprometimento do estado
geral.
Hiperbilirrubinemia patológica: pode ocorrer sucção débil, hipoactividade,
hepatoesplenomegalia, anemia e anasarca.
Kernicterus
Indicações:
- Icterícia do prematuro, doença hemolítica do recém-nascido, icterícia de etiologia
desconhecida.
Cuidados:
- Proteção dos olhos, balanço hídrico, vigilância da temperatura corporal, doseamento
de bilirrubina de 12 / 12 h.
Técnica:
Através da veia umbilical, com um cateter e uma torneira de três vias, retiram-se 10cc
de sangue do recém-nascido e substituem-se por 10cc de sangue do dador.
Repete-se até ter substituído ± 200cc/Kg.
Complicações:
• vasculares (embolia, trombose),
• Cardíacas (arritmias, hipovolémia, paragem cardíaca),
• Metabólicas (hipocalcémia, hipernatrémia, hipoglicemia),
• Alterações da coagulação,
• Infecções.
Hipoglicemia Neonatal
A GLICOSE
É utilizada por todos os tecidos do corpo, como fonte de energia.
É o único alimento energético exclusivo da célula nervosa.
É fornecida pela mãe, através da placenta por difusão, durante a vida intra-uterina.
Constitui a maior fonte de energia do feto.
É um polímero da
Após a absorção da glicose pelas células, esta pode ser: glicose que se acumula
o utilizada imediatamente no fígado,
o armazenada, sob a forma de glicogénio principalmente no 3º
trimestre de gestação.
A introdução da glicose nos músculos e tecidos adiposos é regulada pela insulina:
++ insulina liberada > rapidez na chegada da glicose às células.
Os níveis de glicose:
No feto são 60 / 70 % dos níveis maternos, na hora do parto;
Caem durante 1 / 2 horas até um mínimo de 40 mg / dl;
Sobem até às 6 horas para 45 – 60 mg / dl.
O nível sanguíneo de glicose é mantido pelo balanço entre a libertação dos depósitos de
glicogénio e a sua captação / utilização periférica:
- depende da reserva (quantidade e qualidade)
- depende da insulina, temperatura e atividade muscular
⬆ da secreção de insulina,
b. Hipotermia,
c. Septicemia.
3. Anormalidade na regulação endócrina – hiperinsulinismo que produz um
a. Recém-nascido de mãe diabética ⬆ da taxa de síntese de
b. Incompatibilidade Rh / Eritrosblatose fetal glicogéneo e a utilização
c. Exsanguíneo transfusão de glicose intracelular.
Factores de risco
Peso < 1500g;
Recém-nascido de mãe diabética;
Hipotermia;
Pós exsanguíneotransfusão;
Recém-nascido pré-termo;
Presença de lesão do SNC;
Recém-nascido asfixiado;
Recém-nascido leve para a idade gestacional;
Recém-nascido com atraso de crescimento intra-uterino;
Infecções.
Quadro clínico
A hipoglicemia não tem sintomas específicos.
É muitas vezes assintomática.
Sintomas manifestados sinal de sofrimento do SNC:
o Tremores / convulsões
o Irritabilidade / choro estridente
o Apnéia / cianose
o Letargia / hipotonia
o Hipotermia / taquipnéia
o Diaforese / recusa alimentar
Conduta
Objetivos:
- Corrigir a hipoglicemia
- Prevenir as sequelas neurológicas (lesões cerebrais e atraso mental)
Situações de risco
- Monitorização bioquímica
- Alimentação precoce – leite materno / início nas primeiras 2 horas de vida
- Soroterapia (se necessário) – solução de glicose a 10%, em água (dose: 70 a 80 ml /
Kg, nas primeiras 24 horas)
• Glicogénese:
Reação de síntese da glicose que ocorre no fígado e nos músculos. Mecanismo pelo qual se
produz glicose.
• Glicogenólise:
É a quebra de glicogénio em glucose ou glucose 6-fosfato. Esta quebra de glicogéneo é
realizada através da retirada sucessiva de moléculas de glicose.
Etiologia
Causa mais frequente – causa iatrogénica – administração excessiva de glicose
Outras causas:
• Intolerância à glicose (recém-nascido extremamente prematuro)
• Terapêutica com esteróides e teofilina
• Septicemia
• Resposta ao stress
Factores desencadeantes
Imaturidade: recém-nascido com < 30 semanas e peso < 1000g
Idade: recém-nascido com menos de 3 dias de vida
Ritmo de infusão de glicose: excedendo 8 mg / kg / minuto
Septicemia
Quadro clínico:
1. Sem sintomatologia específica
2. Pode observar-se: diurese osmótica, glicosúria e desidratação
Conduta:
a) diminuição da concentração de glicose e / ou diminuição ritmo da infusão da
hidratação IV
b) Glicemia > 180 mg / dl iniciar perfusão de insulina
c) Monitorizar glicemia (1 / 1 h e depois 2 / 4 horas)
d) Suspender perfusãode insulina glicemia < 80 mg / dl
e) Monitorizar glicemia (30 / 30 minutos e depois 1 / 1 hora)
“Todo prematuro tem direito ao tratamento estabelecido pela ciência, sem distinção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, ou de outra natureza, origem nacional ou social,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Sendo assim, todo prematuro tem o direito
de ser cuidado por uma equipe multidisciplinar capacitada a compreendê-lo, interagir com ele
e a tomar decisões harmónicas em seu benefício e em prol de seu desenvolvimento.”
FUNÇÃO RESPIRATÓRIA
A função respiratória normal depende de vários fatores:
integridade das estruturas anatómicas envolvidas
elementos reguladores da atividade respiratória (SNC)
A maturação anatómica e funcional dos pulmões requer pelo menos 35 semanas de gestação.
Complacência pulmonar
facilidade com que os pulmões são distendidos, depende da relação entre o volume insuflado e a pressão interior
dos pulmões.
A complacência pulmonar está reduzida quando há:
ingurgitamento dos vasos pulmonares
edema pulmonar
processo inflamatório
atelectasia
Resistência pulmonar
diferença de pressão necessária entre dois pontos da via aérea para que se estabilize um fluxo de 1l / segundo
entre esses dois pontos.
A resistência pulmonar pode ser afetada por:
diâmetro interno do tubo ET
tempo expiratório insuficiente
alterações anatómicas nas vias aéreas superiores
O Surfactante
É uma lipoproteína que se encontra na parte distal das vias aéreas e nos alvéolos dos pulmões normais;
Contribui para a manutenção da tensão pulmonar;
Aumenta a complacência pulmonar;
Promove a estabilidade pulmonar;
Reduz a tensão superficial alveolar, impedindo o seu colapso.
Complexo lipoprotéico que reduz a pressão tendente a colapsar os alvéolos (na fase da expiração), igualando
as forças de tensão alveolar, constituindo-se como um potente factor antiatelectasia que é essencial à respiração
normal.
A SDR:
É caracterizada pela deficiência de surfactante, levando ao colapso dos alvéolos.
É um dos problemas respiratórios mais frequentes no período neonatal.
Maior incidência nos recém-nascidos com < 32 semanas de gestação e com peso < 1500g.
Inversamente proporcional à Idade Gestacional.
Quase exclusiva da prematuridade.
Incidência inversamente proporcional à idade gestacional e ao peso à nascença:
o 60 – 80 % - recém-nascidos < 28 semanas
o 15 – 30 % - recém-nascidos 32 / 36 semanas
o 5 % - recém-nascidos > 37 semanas
Apesar dos avanços tecnológicos e dos cuidados pré-natais e pós-natais desses RN’s, ainda é alta sua
morbi/mortalidade.
Recém-nascido prematuro tem pulmões anatómica e fisiologicamente imaturos
ventilação
oxigenação deficiente
perfusão deficiente
hipoxemia falência respiratória
acidose metabólica progressiva
Fatores de risco:
+++ prematuro < 32 semanas de gestação e peso < 1500g
Anóxia perinatal
Hipotermia
Diabetes gestacional
Gestação gemelar – 2º gémeo +++
Hipóxia (por da produção de surfactante)
Quadro clínico
Dispneia ou respiração superficial - adejo nasal
Aumento progressivo da FR > 60 c / min - taquicardia
Tiragem sub-costal, intercostal e supra-esternal - cianose central
Gemido expiratório em repouso
Aumento progressivo das necessidades de O2
Diminuição ruídos expiratórios
Episódios de apnéia
Palidez vasoconstrição periférica
Edema intersticial e palpebral
Raio x
mostra 1 pulmão de pequenas dimensões, com micro atelectasia, opacidade alveolar e broncograma (aspecto de
vidro batido).
Gasimetria arterial
acidose respiratória (diminuição de pH – inferior a 7,35) e metabólica (bicarbonato – HCO3- inferior a 22)
Gasimetria venosa: sangue venoso (punção venosa directa, cateter umbilical venoso ou
cateter central venoso)
Gasimetria arterial: sangue arterial (punção arterial directa, cateter umbilical arterial ou
cateter arterial periférico)
Gasimetria capilar: sangue venoso (punção superficial da pele na região calcânea do recém-
nascido)
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Taquipneia transitória do RN - alteração na reabsorção de líquidos pulmonares; não necessita FiO2 > 50% e
desaparece em menos de 48h.
• Persistência de circulação fetal – mais frequente em RNT e pós-termo, Hipertensão pulmonar, shunt D-E
em ausência de doença cardíaca ou pulmonar.
Conduta - Tratamento respiratório:
1. Reduzir hipoxemia e diminuir trabalho respiratório:
CPAP nasal
Pressão Positiva Contínua nas vias aéreas
Consiste na administração contínua de uma mistura de O2 com ar comprimido, ambos humidificados e
aquecidos, através dum dispositivo nasal e que tem como objetivo aumentar a capacidade funcional residual
pulmonar, reduzindo a resistência vascular pulmonar e melhorando a oxigenação.
Manutenção de uma pressão transpulmonar positiva contínua durante a fase expiratória da respiração.
Objetivos:
Aumentar a capacidade residual funcional;
Manter o funcionamento de vias aéreas;
Regularizar a respiração;
Prevenir atelectasias;
Diminuir a resistência de vias aéreas.
Indicações:
Doença da Membrana Hialina;
Edema pulmonar;
Taquipnéia transitória;
Aspiração meconial;
Apnéia;
Persistência do canal arterial;
Desmame do respirador;
Pós-operatório.
Este processo invasivo consiste numa intubação endotraqueal, que tem como indicações: manter as vias
aéreas livres, protegê-las e tornar mais fácil a higienização pulmonar.
Objetivos:
1. Oxigenar - aumento Pa O2
2. Ventilar – diminuição Pa CO2
3. Manter pH – pH N
Indicações:
1. Dispneia importante, em CPAP
2. Apneias frequentes, em CPAP
3. PaO2 < 40mmHg, com FiO2 > 60%
4. PaCO2 > 65 mmHg
5. Acidose metabólica intratável
6. Doenças neuromusculares
7. Necessidade de entubação para administração de surfactante
Tipos ventilatórios:
1. Ventilação ciclada a volume: a inspiração termina quando o volume é administrado
2. Ventilação ciclada a fluxo: a inspiração termina quando o fluxo cai a uma percentagem pré-determinada
do pico de fluxo
3. Ventilação ciclada a pressão: a inspiração termina quando a pressão inspiratória é atingida
4. Ventilação ciclada a tempo: a pressão inspiratória tem um determinado período pré-definido.
Ventiladores pediátricos:
Ventiladores de fluxo contínuo, ciclados por tempo e pressão limitada
– acionado pneumaticamente e eletronicamente controlado
Modos ventilatórios:
Frequência Lenta: 20-30 cpm
Frequência Rápida: 60-80 cpm
Hiperventilação: 100-140 cpm
Ventilação Oscilatória de Alta Freqüência : 1800 cpm
Oxigenoterapia
Consiste na administração de oxigênio numa concentração de pressão superior à encontrada na atmosfera (21%). É
utilizada para corrigir a deficiência de O2 ou hipoxia.
Indicações:
Sempre que a PaO2 do RN < 50 mmHg
PaO2 < 60 mmHg ou Sat O2 < 90 % (em ar ambiente)
Sat O2 < 88% durante a deambulação, exercício ou sono em portadores de doenças cardiorrespiratórias.
Intoxicação por gases (monóxido de carbono)
Envenenamento por cianeto
Administração:
1. Campânula de O2 – FiO2: 30 a 70% (8 a 10 l/mn)
2. O2 na incubadora – FiO2: 40 a 90% (6 a ± 15 l/mn)
3. Cateter nasofaríngeo – FiO2: 40 a 50% (6 a 8 l/mn)
4. Óculos nasais / cânulas nasais - FiO2: 20 – 40% (1 a 3 l/min)
Complicações:
Contaminação dos equipamentos e consequente infeção do RN:
o pseudomonas,
o stafilococos,
o E.coli,
o klebsiella.
Não esquecer que para se administrar O2, este deve ser aquecido e humidificado:
a. Aquecido: ajuda na estabilidade térmica
b. Humidificado: ajuda na fluidificação das secreções e evita o ressecamento das mucosas das vias
aéreas superiores.
A quantidade O2 a administrar deve ser a necessária para PaO2>50mmHg (efeitos tóxicos de aumentos níveis
de O2
2. Administrar surfactante:
técnica asséptica durante todo o procedimento
Aquecer a solução à temperatura ambiente
Não agitar o frasco
Utilizar SNG, para administrar o surfactante
Posicionar o recém-nascido em 4 posições
Evitar a aspiração de secreções no tubo ET, nas 2 / 4 horas após a administração do surfactante
Tratamento geral:
1. Manter temperatura corporal – promove a conservação calórica;
2. Manter equilíbrio hidroelectrolitico e glicose – administração de soroterapia, balanço hídrico;
3. Fornecer aporte calórico adequado (120 cal / Kg / dia) – quando o recém-nascido estiver estabilizado,
iniciar alimentação para manutenção e promoção do crescimento;
4. Avaliar SV a cada 2 horas e sempre que necessário – despiste precoce de qualquer agravamento;
5. Agrupar os cuidados – evita a instabilidade e agitação do recém-nascido;
6. Avaliar a presença da dor / administrar anlgésicos e sedativos, se prescrito – promove o conforto do
recémnascido;
7. Manter os pais informados / integrados nos cuidados.
PCA (persistência do canal arterial) e ENC (Enterocolite
necrosante)
- PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL-
A função cardiovascular:
O desenvolvimento embrionário do coração-
o Inicia-se mais ao menos 18º dia após a conceção
o Está completo mais ao menos no 40º dia de gestação (um dos primeiros a serem
formados)
O coração é um órgão muscular, constituído por músculo atrial, músculo ventricular e
fibras especializadas condutoras e excitatória
No feto as trocas gasosas (recebe O2 e remove CO2) e a nutrição são feitas através da
placenta e do cordão umbilical
Na gestação, os pulmões não estão expandidos (visto ainda estarem a ser desenvolvidos)
e apenas recebem uma pequena quantidade de sangue para o seu desenvolvimento.
In útero é como se os pulmões do feto não tivessem nenhuma função, uma vez que não
existe pequena circulação no feto, e esta é feita através da placenta e do cordão umbilical
O que é a PCA?
Consiste na incapacidade do canal arterial encerrar, após o nascimento. É mais frequente
no recém-nascido pré-termo e no sexo masculino. Representa cerca de 12% da totalidade das
cardiopatias congénitas (Exemplo: coartação da aorta, “menino azul”, defeitos do septo).
Pode aparecer isolada ou associada a outras lesões (coartação da aorta ou defeitos do septo)
Canal arterial fetal músculos lisos relaxados ação da prostaglandina E2 (canal aberto)
Durante a gestação, a concentração de E2 é aumentada porque há:
o fonte placentar
o fluxo sanguíneo pulmonar diminuído metabolizada no pulmão
O canal arterial do feto contem músculos lisos que se mantêm relaxados, pela ação das
prostaglandinas circulantes, principalmente a E2, ou seja, o canal mantém-se aberto
durante a gestação porque:
o Existe ao nível da corrente sanguínea fetal elevado teor de E2 (transmitido pela
mãe, através da placenta) que mantem os músculos lisos do canal relaxados;
o O baixo fluxo sanguíneo pulmonar (não esquecemos que a pequena circulação não
existe– os pulmões estão colapsados) permite manter elevado nível da E2 (esta
prostaglandina é metabolizada pela circulação pulmonar)
o Em suma, mãe deixa de dar prostaglandina pequena circulação metabolização
das prostaglandinas contração dos músculos lisos encerramento do canal
Complicações:
o Insuficiência cardíaca congestiva
o Doença vascular pulmonar obstrutiva
Endocardite bacteriana - infeção da superfície interna do coração, geralmente
as válvulas cardíacas
Formação de aneurismas
Conduta:
o Médico
Administração de indometacina- agente anti-prostaglandinico
Administração de ibuprofeno- agente anti-prostaglandinico
São ambos fármacos utilizados para fechar o canal. Caso não encerre com os
fármacos tem de se recorrer a cirurgia
o Cirúrgico
Laqueação do canal arterial, através de cateterismo
No caso de bebes instáveis é arriscado fazer a laqueação do canal na sala de
operações, geralmente faz-se na unidade (maior risco de infeção, mas mais
possibilidade de sobrevivência por não ser feita uma transferência)
Fatores protetores:
o Estudos mostram que o leite materno pode proteger as crianças prematuras da
ECN.
o Nos prematuros muito pequenos ou doentes é possível reduzir o risco atrasando a
alimentação oral durante vários dias e depois aumentando progressivamente a
quantidade de leite.
o A dieta enteral mínima ou trófica, que é a infusão de quantidades pequenas, poucos
mililitros de leite- de preferência leite materno- de forma precoce, pode ajudar a
reduzir o risco de ECN
o Ou seja, o leite materno protege de desenvolver ENC. Caso o RN tenha ENC deve
ser dado 1 ou 2 ml de leite materno para “obrigar” o intestino a funcionar. Se a mãe
não tiver possibilidade de dar o seu leite recorre-se à doação de leite materno, pois
os leites artificiais são mais agressivos para o intestino e não têm a mesma função.
o Em suma, os fatores protetores são leite humano, progressão criteriosa da dieta (20
ml /kg/dia), profilaxia da PCA- persistência do canal arterial- e corticoterapia pré-
natal (indutores da maturação intestinal) - ajuda na maturação-
Fatores infeciosos:
o Colonização por bactérias multirresistentes
o Hospitalização durante epidemia
o Baixa imunidade. Maior risco de infeção
Outros fatores:
o DMH ou SDR síndrome de dificuldade respiratória
o Exsanguinotransfusão (consiste em retirar volémia e colocar volémia o que não
permite um valor de volémia constante e desta forma aumenta a probabilidade de
desenvolver ENC)
o Presença de cateteres umbilicais
o Anomalias congênitas gastrintestinais
o Pré-eclâmpsia materna
o Cardiopatia congênita / PCA
o Pequeno para a Idade Gestacional
Fisiopatologia:
o Ainda não se identificaram completamente as suas causas, mas...
1- A inadequada irrigação de sangue para o intestino pode lesar parte do
mesmo– Insuficiência da circulação sanguínea do intestino, com sofrimento
para este órgão.
2- As bactérias podem invadir a parede intestinal danificada e produzir gás
dentro da mesma– distensão abdominal aumentada
3- A parede interna do intestino fica muito fina, podendo ocorrer rompimento da
mesma (num ou em vários locais) – perfuração intestinal. Isto leva a
peritonite porque o líquido sai da cavidade intestinal e geralmente provoca a
morte
4- O intestino pode necrosar e necessitar de ser removida a parte necrosada
(cirurgia)
5- Se a parede intestinal perfurar, os conteúdos intestinais invadem a cavidade
abdominal e produzem uma infeção (peritonite).
6- Se as bactérias passam para a circulação sanguínea causam sépsis (infeção
generalizada) e até pode ocorrer morte.
Sintomatologia:
o Intolerância alimentar. Intestino em sofrimento retém conteúdo gástrico
o Abdómen dilatado
o Hiperemia da parede abdominal e periumbilical
o Defesa abdominal
o Resíduos gástricos
o Vómitos de conteúdo intestinal com bílis
o Ocorrer presença de sangue nas fezes. Parede interna do intestino a sangrar.
o Sinais de sépsis: Letargia, toxemia, alterações da perfusão tecidular,
instabilidade térmica (hipo / hipertermia), apneia- paragem respiratória
Tratamento clínico:
o Dieta zero SEMPRE QUE O QUADRO ESTÁ INSTALADO TEM DE SE FAZER DIETA 0
OBRIGATORIAMENTE!!
o Descompressão gástrica
o Reposição de fluidos IV
o Suporte vasoativo (dopamina) mais intável
o Correção de anemia
o Correção de acidose
o Tratamento com antibiótico de amplo espectro(anaeróbios)
o Antibióticos: Ampicilina, Gentamicina, Metronidazol, Cefepime, Meropenem,
Amicacina, Vancomicina
Tratamento cirúrgico
(consiste em limpar a cavidade abdominal, retirando todo o conteúdo intestinal extravasado
e o segmento do intestino com perfuração ou com sofrimento– cuja viabilidade futura esteja
comprometida).
o Indicações: Pneumoperitoneu, Ansa fixa em uma série de radiografias, Fleimão na
parede abdominal, Massa abdominal, Gás na veia porta
o Outros sinais de necrose tecidual: defesa peritoneal, trombocitopenia
persistente, neutropenia progressiva, deterioração clínica, sangramento
gastrintestinal severo
o Cirurgia
Ressecção de tecidos necrosados.
Ileostomia – se não for possível de imediato a anastomose, necessidade de
ostomia intestinal
Prognóstico:
o O tratamento médico intensivo e a cirurgia apropriada melhoraram o prognóstico
dos bebés com ENC.
o Em raras ocasiões, nos bebés tratados sem cirurgia, parte do intestino grosso
estreita-se durante as semanas ou meses seguintes, obstruindo-o parcialmente-
estenose. Para alargar a área cicatrizada e estreitada é necessário recorrer à
cirurgia (Desfazer a estenose no bloco operatório)
Complicações:
o Estenose intestinal pós-cicatricial
o Fístula
o Abcesso
o ECN recorrente
o Síndrome do intestino curto
o Colestase (colestase consiste em uma diminuição ou interrupção do fluxo biliar)