3 TGP Civil Competência

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TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL

PROF. RODRIGO DE LIMA LEAL

COMPETÊNCIA (arts. 21 a 25 e 46 a 66, CPC)

A competência é a medida ou limite da jurisdição, exercida pelo seus


órgãos. Será fixada com base em alguns critérios.

1. Jurisdição Nacional
A jurisdição nacional significa quando o Brasil tem jurisdição (arts. 21 ao
25).
a) Jurisdição Nacional exclusiva (art. 23)
São aquelas hipóteses em que somente o Brasil pode exercer a
jurisdição, está ligado à soberania:
I. ações sobre imóveis no Brasil;
II. questões sucessórias de bens no Brasil;
III. partilha de bens situados no Brasil em razão de divórcio, separação,
anulação de casamento e união estável.
Eventual sentença estrangeira não terá validade no Brasil.

b) Jurisdição Nacional concorrente (arts. 21 e 22)


São aquelas hipóteses em que o Brasil decide, porém também admite
que outra país decida:
I. ações contra réu domiciliado no Brasil;
II. ações que versam sobre obrigações a serem cumpridas no Brasil;
III. ações baseadas em fatos ou atos ocorridos no Brasil;
IV. ações de alimentos quando o credor for residente e domiciliado no Brasil ou
quando o réu tiver bens, rendas ou vínculos no Brasil;
V. ações de consumo, quando o consumidor for residente ou domiciliado no
Brasil;
VI. quando as partes de forma expressa ou tácita escolherem o Brasil.
Nessas hipóteses, eventual sentença estrangeira somente terá validade
no Brasil depois de homologada pelo STJ.
2. Competência interna (arts. 42 ao 66)
2.1 Conceito
Competência é a medida ou limite da jurisdição a ser exercida por cada
órgão.

2.2 Critérios de fixação da competência


Tecnicamente, utiliza-se como critérios de fixação da competência:
I. matéria
Leva-se em conta o direito material discutido. É com base nesse critério
que se tem as justiças e as varas especializadas.
II. pessoa ou parte
A lei leva em conta a parte envolvida (ex. quando a União, empresas
públicas, autarquias ou fundações públicas são parte no processo, a
competência é da Justiça Federal).
III. hierarquia
O critério da hierarquia leva em conta os graus de jurisdição.
IV. funcional
Leva em conta a função do juiz em outra ação ou outra fase processual.
V. distribuição
Define o juízo quando há mais de um deles com a mesma competência.
VI, Valor da Causa
Define procedimentos (ex. juizados especiais cíveis).
V. Territorial
Indica o foro adequado.

3. Competência absoluta e relativa


Matéria, pessoa, hierarquia, função e distribuição fixam competência
absoluta, que não pode ser alterada pelas partes (é exceção o art. 516 do
CPC).
Nesses casos, quando a regra é violada, gera incompetência absoluta,
por se tratar de assunto de ordem pública, pode ser reconhecida de ofício pelo
juiz, podendo ser arguida pela parte em preliminar de contestação. Poderá ser
alegada a qualquer tempo. Gera a nulidade dos atos decisórios a ser declarada
pelo juiz competente. Mesmo após o trânsito em julgado cabe ação rescisória,
Território e valor da causa fixam competência relativa, a qual pode ser
alterada pelas partes (é exceção o art. 47 do CPC).
Nesses casos quando a regra é violada há incompetência relativa, a qual
não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz (é exceção o art. 63, § 3°). O réu
deve arguir a incompetência relativa em preliminar de contestação, sob pena
de preclusão e prorrogação de competência. O MP quando intervém como
fiscal da ordem jurídica, pode arguir incompetência relativa (art. 65, par. único).

4. Regras de Competência
a) regra geral (arts. 46, 48, 49 e 50)
O domicílio do réu é o foro competente para julgar ações pessoais e
reais sobre bens móveis.
b) regras especiais (art. 47 e 53)
Nos termos do art. 47 a ação real imobiliária deverá ser proposta no foro
do imóvel, podendo ser no foro de eleição ou do domicílio do réu.
As ações reais imobiliárias baseadas em propriedade, vizinhança,
servidão, divisão, demarcação, nunciação de obra nova e ações possessórias
devem ser propostas no foro do imóvel.
O art. 53 elenca várias regras especiais de competência relativa:
I. nas ações de separação, divórcio, anulação de casamento ou união estável,
a ação deverá ser proposta no foro do guardião do filho incapaz, ou no foro do
último domicílio conjugal, ou no foro do domicílio do réu, sucessivamente.
II. nas ações em que se pede alimentos, a competência é no foro da residência
ou domicílio do alimentado.
III. ações contra pessoa jurídica é no foro da sede, também poderá ser no foro
onde se localiza agência ou sucursal, em se tratando de sociedade ou
associação sem personalidade é no foro do local da atividade principal.
IV. as ações em que se exige o cumprimento de obrigações deverão ser
propostas no foro onde ela deveria ter sido satisfeita.
V. ações baseadas no estatuto do idoso devem ser propostas no foro da
residência do idoso.
Observação. Para a doutrina essa é uma regra de competência relativa que se
aplica para as ações individuais, diferente do art. 80 do Estatuto do idoso, que
prevê a competência absoluta do domicílio do idoso para as ações coletivas.

VI. ações contra tabelião e registrador é no foro da serventia.


VII. é no foro do local do fato: 1. Ações contra o administrador ou gestor de
negócio alheio; 2. Ações de reparação de danos.
VIII. em se tratando de dano decorrente de delito ou acidente de veículo, é
competente o domicílio do autor ou local do fato.

Observação. Como essa regra é de competência relativa, sempre que


favorável ao autor, ele poderá demandar no domicílio do réu.

c) regra de perpetuação da competência (art. 43)


A competência é determinada no momento em que a inicial é distribuída
ou registrada.
São irrelevantes as alterações de fato e de direito posteriores, salvo:
I. se suprimido o órgão judicial (ex. extinção de vara).
II. se alterada a competência absoluta.
Com isso haverá o deslocamento da competência.
Existem outras exceções que deslocam a competência no curso do
processo:
I. art. 516, par. único: permite ao credor pedir o cumprimento de sentença em
outro foro.
II. ingresso ou retirada da União ou ente federal no processo.
III. art. 58: reunião das ações em razão da conexão ou continência.

d) modificação da competência relativa (arts. 54 e ss)


Essa modificação pode ser:
I. pela vontade das partes, as quais podem fazer foro de eleição por meio de
um contrato escrito ou de forma tácita por meio da prorrogação da
competência.
II. pelo vínculo entre ações (conexão ou continência)
O art. 55 conceitua conexão como o vinculou relação entre ações com a
mesma causa de pedir ou pedido. Nos termos do art. 55, § 2° do CPC há
conexão entre execuções baseadas no mesmo título extrajudicial e ações de
conhecimento sobre o mesmo negócio jurídico. O art. 55, § 1° diz que as ações
conexas serão reunidas no juízo prevento, salvo se uma delas já houve
sentença. O art. 55, § 3° diz que mesmo sem conexão, as ações serão
reunidas se houver risco de decisões conflitantes.
O art. 56 trata da continência, vínculo ou relação entre ações que
tenham as mesmas partes e a mesma causa de pedir e o pedido de uma seja
mais amplo e contenha o pedido da outra. As ações serão reunidas no juízo
prevento, no entanto, se a ação contida for posterior, ela será extinta sem
resolução de mérito (litispendência parcial).
Juízo prevento de acordo com o CPC é aquele para o qual foi distribuída
ou registrada a primeira das petições iniciais.

e) Competência da Justiça Federal (arts. 45 e 51)


A regra é que se a União, suas autarquias ou empresas públicas for
parte a competência é da Justiça Federal.
A primeira exceção é se for competência da justiça especializada:
trabalhista, eleitoral ou militar.
A segunda exceção é se for competência da justiça estadual (ex. ações
acidentárias movidas contra o INSS visando benefício acidentário, ações de
falência, recuperação judicial e insolvência civil).
A terceira exceção é quando não há vara federal na comarca e a ação
tramita na justiça estadual (ex. ações previdenciárias contra o INSS e ação de
produção antecipada de prova – art. 381, § 4°). Nessa hipótese, eventuais
recursos serão julgados pelo TRF.
O art. 45 diz que o ingresso da União desloca a competência para a
Justiça Federal, de forma que a sua retirada devolve o processo para a Justiça
Estadual, e nesse caso o juiz estadual não poderá suscitar conflito de
competência.
Quanto à competência de foro:
I. quando a União ou ente federal for autor é competente o foro do domicílio do
réu;
II. quando a União ou ente federal for réu é competente o domicílio do autor,
local do fato, cumprimento da obrigação, local da coisa ou DF.

f) Conflito de Competência (art. 66)


Ocorre quando juízes divergem quanto à competência:
I. todos se consideram incompetentes: conflito negativo.
II. todos se consideram competentes: conflito positivo.
III. divergem sobre a reunião ou separação de processo: conflito por conexão.

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