Dullius

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 71

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE FÍSICA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DESENVOLVIMENTO DE SIMULADORES CARDÍACOS PARA USO


EM MEDICINA NUCLEAR

Por

MARCOS ALEXANDRE DULLIUS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


Cidade Universitária “Prof. José Aloísio de Campos”
São Cristóvão – SE – Brasil

-2011-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
DEPARTAMENTO DE FÌSICA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

DESENVOLVIMENTO DE SIMULADORES CARDÍACOS PARA USO


EM MEDICINA NUCLEAR

MARCOS ALEXANDRE DULLIUS

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Núcleo de Pós-Graduação em Física da
Universidade Federal de Sergipe para
obtenção do título de Mestre em Física.

Orientadora:
Prof. Dra. Divanízia do Nascimento Souza

São Cristovão
2011

ii
Dedico este trabalho aos meus
pais, José e Lorena; aos meus
irmãos Paulo, Denise e Maida;
aos meus sobrinhos Maria
Eduarda, Ana Clara, Isabelli e
João Pedro; e a minha namorada
Zaira.

iii
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela vida.


Agradeço a minha Orientadora, Prof. Dra. Divanízia do Nascimento Souza, pela
oportunidade de realizar este trabalho, pela atenção, apoio dispensado e pela confiança
depositada durante a realização deste trabalho.
Aos meus pais José Tarcísio Dullius e Lorena Maria Dullius pelo apoio incondicional
em todos os momentos.
Aos meus irmãos Paulo, Denise e Maida pelo incentivo e companheirismo.
A minha namorada Zaira de Oliveira pelo companheirismo, incentivo e pela
compreensão em todos os momentos.
Aos meus sobrinhos Maria Eduarda, Ana Clara, Isabeli e João Pedro pelo carrinho.
Aos meus amigos pelo incentivo.
À Msc. Fernanda Carla Lima Ferreira, pelo incentivo e apoio em todos os momentos.
Ao Msc. Clêdison Cunha, pela cooperação com a execução deste trabalho.
À Prof. Dra. Ana Figueiredo Maia pela oportunidade iniciar o mestrado em Física na
UFS.
Aos professores do Núcleo de Pós-Graduação em Física em especial aos professores
Cláudio Macedo, André Mauricio e Mário Ernesto pelos bons ensinamentos.
A Universidade Federal de Sergipe, em especial ao Núcleo de Pós-Graduação em
Física por conceder a oportunidade de realizar o curso de Pós-Graduação em Física.
À Fundação Climedi Assistência Social e à Clínica de Medicina Nuclear
Endocrinologia e Diabete Ltda, pela permissão de uso das câmaras cintilográficas e pela
atenção dispensada por seus profissionais ao desenvolvimento desta pesquisa.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo
apoio financeiro.
A todos que direta e indiretamente contribuíram na realização deste trabalho.

iv
DESENVOLVIMENTO DE SIMULADOR CARDÍACO PARA USO EM
MEDICINA NUCLEAR

Marcos Alexandre Dullius

RESUMO

Um programa de controle de qualidade em serviços de medicina nuclear abrange a


verificação da eficiência de todos os equipamentos utilizados tanto para diagnóstico como
para terapia, incluindo a câmara de cintilação. Nesse trabalho desenvolvemos e avaliamos o
desempenho de dois objetos simuladores de coração, um antropomórfico estático e outro
dinâmico, para controle de qualidade em câmaras de cintilação. O objeto simulador
antropomórfico estático foi utilizado para caracterizar e avaliar imagens tomográficas do
coração em 180°, a partir da oblíqua anterior direita (OAD - 45°), da resposta do sistema de
processamento para diferentes volumes do ventrículo esquerdo. O objeto simulador dinâmico
de coração possibilitou avaliar a fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 30%, 50% e 70%,
através de imagens tomográficas do coração em 180° a partir da OAD - 45°. O movimento do
simulador dinâmico foi gerado através de um motor ligado a um pistão; o batimento do objeto
simulador de coração está sincronizado através de um simulador de eletrocardiograma. Além
disso, com o objeto simulador dinâmico de coração foi avaliada a influência dos batimentos
cardíacos na medida da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). Também foi
possível avaliar a FEVE através de diferentes matrizes de aquisição da imagem.
Adicionalmente, foi estabelecida e realizada uma intercomparação de frações de ejeção em
duas câmaras de cintilação distintas. Os resultados dos testes de controle de qualidade se
mostraram satisfatórios podendo ser utilizados como parâmetros em avaliações futuras. O
novo objeto simulador estático antropomórfico se mostrou eficiente para uso em medidas de
variação do volume do ventrículo esquerdo. Da mesma forma, o novo objeto simulador
dinâmico de coração se demonstrou eficiente para uso nas medidas de fração de ejeção do
ventrículo esquerdo. Portanto, os dois novos simuladores de coração se apresentaram como
eficazes para uso em controle de qualidade das câmaras cintilográficas.

v
DEVELOPMENT OF CARDIAC PHANTOM FOR USE IN NUCLEAR
MEDICINE

Marcos Alexandre Dullius

ABSTRACT

A program of quality control in nuclear medicine covers the verification on of the


efficiency of all equipment used for diagnosis and for therapy, including the scintillation
camera. In this work we develop and evaluate the performance of two heart phantoms for
quality control in scintillation cameras: an anthropomorphic static phantom and a dynamic
phantom. The anthropomorphic static phantom was used to characterize and evaluate
tomographic images of the heart at 180° for the the response of the processing system to
different volumes of the left ventricle from the right anterior oblique (RAO - 45°). The
dynamic heart phantom allowed us to evaluate the ejection fraction of the left ventricle at
30%, 50% and 70% by means of tomographic images of the heart at 180° from the RAO -
45°. The movement of the dynamic simulator was generated by a motor connected to a piston.
The beating of the heart phantom was synchronized by a electrocardiogram simulator.
Moreover, the dynamic heart phantom evaluated the influence of the heartbeat in the
measurement of the left ventricular ejection fraction (LVEF). It was also possible to assess
LVEF by different arrays of image acquisition. Additionally, it was established and carried
out a comparison of LVEF between two different scintillation cameras. The results of quality
control tests were satisfactory and can be used as parameters in future assessments. The new
anthropomorphic static phantom was efficient for used in measurements of change in the left
ventricular volume. Likewise, the new dynamic heart phantom was shown efficient for usage
in measurements of the left ventricular ejection fraction. Therefore, the two new heart
simulators showed effective for use in quality control of scintigraphic cameras.

vi
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 6
2.1. PRINCÍPIOS BÁSICOS ............................................................................................. 6
2.1.1. RADIAÇÕES ......................................................................................................................................... 6
2.1.2. QUANTIDADE DE ÁTOMOS DE UMA AMOSTRA RADIOATIVA................................................. 12
2.1.3. INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM A MATÉRIA ............................................................................ 13

2.2. UTILIZAÇÃO DOS RADIOISÓTOPOS NA MEDICINA NUCLEAR ................ 16


2.2.1. GERADOR DE RADIONUCLÍDEOS .................................................................................................. 17

2.3. CÂMARAS DE CINTILAÇÃO ............................................................................... 19


2.3.1. COLIMADOR DE FUROS PARALELOS ............................................................................................ 22

2.4. CINTILOGRAFIA DO MIOCÁRDIO .................................................................... 23


2.5. OBJETOS SIMULADORES EM MEDICINA NUCLEAR.................................... 26
2.6. CONTROLE DE QUALIDADE PARA CÂMARA DE CINTILAÇÃO ................ 28
2.6.1. TESTE DE UNIFORMIDADE DE CAMPO ......................................................................................... 29
2.6.2. RESOLUÇÃO E LINEARIDADE ESPACIAL PLANAS ..................................................................... 30
2.6.3. SENSIBILIDADE ................................................................................................................................ 31
2.6.4. CENTRO DE ROTAÇÃO (COR) ......................................................................................................... 31

3. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................... 33


3.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE IMAGEM ............................................................ 33
3.2 MONITOR ELETROCARDIÓGRAFO.................................................................. 33
3.3. TESTE DE UNIFORMIDADE DE CAMPO ........................................................... 34
3.4. RESOLUÇÃO E LINEARIDADE ESPACIAL PLANAS ...................................... 34
3.5. SENSIBILIDADE ..................................................................................................... 34
3.6. CENTRO DE ROTAÇÃO (COR) ............................................................................ 35
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................. 36
4.1. CONSTRUÇÃO DOS OBJETOS SIMULADORES....................................... 36
4.1.1. CONSTRUÇÃO DO OBJETO SIMULADOR ANTROPOMÓRFICO ESTÁTICO DE CORAÇÃO ... 36
4.1.2. CONSTRUÇÃO DO OBJETO SIMULADOR DINÂMICO DE CORAÇÃO ....................................... 38
4.2. CONTROLE DE QUALIDADE DA CÂMARA DE CINTILAÇÃO ..................... 41
4.2.1. TESTE DE UNIFORMIDADE DE CAMPO ......................................................................................... 41
4.2.2. TESTE DE RESOLUÇÃO ESPACIAL E LINEARIDADE ................................................................... 42
4.2.3. TESTE DE SENSIBILIDADE .............................................................................................................. 44
4.2.4. TESTE DE CENTRO DE ROTAÇÃO (COR) ....................................................................................... 44

4.3. IMAGENS ESTÁTICAS DO SIMULADOR ANTROPOMÓRFICO DE


CORAÇÃO ........................................................................................................................ 46

vii
4.4. VARIAÇÃO DE VOLUME DO VENTRÍCULO ESQUERDO NO SIMULADOR
ANTROPOMÓRFICO DE CORAÇÃO ........................................................................... 47
4.5. IMAGENS DINÂMICAS DO SIMULADOR DINÂMICO DE CORAÇÃO ......... 50
4.6. INFLUÊNCIA DA FREQUÊNCIA CARDIÁCA NA MEDIDA DA FRAÇÃO DE
EJEÇÃO DO VENTRICULO ESQUERDO .................................................................... 52
4.7. COMPARAÇÃO ENTRE MEDIDAS DE FRAÇÕES DE EJEÇÃO ADQUIRIDAS
COM DIFERENTES MATRIZES .................................................................................... 53
4.8. COMPARAÇÃO ENTRE MEDIDAS DE FRAÇÕES DE EJEÇÃO EM
EQUIPAMENTOS DE MEDICINA NUCLEAR ............................................................. 54
5. CONCLUSÕES .......................................................................................... 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 58

viii
1. INTRODUÇÃO

A busca pela causa dos fenômenos naturais e a procura dos elementos mais
fundamentais dos corpos levou alguns filósofos gregos do século VI a.C. a formularem o
conceito de átomo como unidade elementar e indivisível da matéria. Somente entre 1880 e
1900 dados experimentais se mostram a favor da existência de uma estrutura descontínua da
matéria (ROCHA, 1976).
A experiência de Rutherford, realizada em 1911, é a base para a evolução dos estudos
da matéria. Em experimentos típicos de espalhamento, um fluxo de partículas carregadas pode
incidir sobre uma lâmina metálica. Verificou-se por meio desses experimentos que uma fração
das partículas incidentes é espalhada em vários ângulos e outras frações atravessavam em
linha reta uma folha metálica. O fato das partículas atravessarem a lâmina sem sofrer desvios
em suas trajetórias prova que a matéria é descontínua. Segundo Rutherford, as cargas
positivas e praticamente toda a massa atômica estariam concentradas em uma pequena região,
chamada de núcleo, e as cargas negativas distribuídas numa região orbital do átomo
(SYMON, 1982; ROCHA, 1976).
A descoberta dos isótopos estáveis por Joseph John Thomson, em 1910, indicava a
existência de um componente neutro no núcleo, que foi chamado de nêutron por Rutherford
em 1920. Somente em 1932, James Chadwick demonstrou a existência do nêutron através da
produção de núcleos de recuo por intermédio de choques elásticos com uma partícula neutra
de massa próxima à do próton.
O colapso dos elétrons com o núcleo do átomo, devido à irradiação contínua de
energia pela aceleração aos elétrons, imposta por intermédio da eletrostática, foi superado em
1913, quando Niels Henrick David Bohr propôs um modelo quantizado do átomo, com a
formulação das forças nucleares (ALMEIDA e TAUHATA, 1981).
Os núcleons (partículas pertencentes ao núcleo atômico, ou seja, prótons e nêutrons)
formam um sistema através de interações do tipo forte e eletromagnética, obedecendo à
estatística de Fermi. A busca da condição de estabilidade nuclear é obtida através de
processos corretivos, chamados de processos radioativos (ALMEIDA e TAUHATA, 1981).

Em 1896, um ano após a descoberta dos raios X por Willian Conrad Röentgen, o físico
francês Antoni Henri Becquerel verificou que sais de urânio emitiam uma radiação capaz de
impressionar chapas fotográficas, mesmo estando envolvidos em um papel preto. As
experiências de Becquerel o levaram a afirmar que o urânio emite espontaneamente uma

1
radiação penetrante. Ele ainda observou que a quantidade de radiação emitida era
proporcional a quantidade de urânio, essa se mantendo inalterada sobre variações de
temperatura, pressão, campos elétricos, campos magnéticos ou estado químico da amostra
(SCAFF, 2010; BITELLI, 2006; XAVIER et al, 2006; ROCHA, 1976). Em 1898, dois anos
após essa descoberta, o casal Curie (Pierre e Marie) descobriu dois novos elementos que
emitiam radiações penetrantes, o polônio e o rádio. Marie Curie utilizou o termo
radioatividade para descrever a energia emitida por esses elementos. Rutherford, em 1899,
fazendo um feixe de radiação atravessar um campo magnético mostrou a existência de três
tipos de radiação, denominadas alfa, beta e gama (XAVIER et al, 2006; BITELLI, 2006;
SCAFF, 2010).
Os tipos de radiações mais importantes em medicina nuclear, que é uma especialidade
médica que utiliza radioisótopos para estudo da fisiologia dos órgãos e também para terapia,
são: radiação gama (γ) e partículas beta (β) (THRALL e ZIESSMAN, 2003). A radiação gama
é utilizada no diagnóstico (formação da imagem) e em terapia, e as partículas beta são
utilizadas com finalidade terapêutica.
A medicina nuclear utiliza radioisótopos associados a fármacos (radiofármacos) para
estudos não invasivos da fisiologia dos órgãos. No diagnóstico em medicina nuclear certa
quantidade de radiofármaco é administrada ao paciente e é captada pelo órgão a ser estudado;
A imagem é gerada a partir da detecção das radiações ionizantes emitidas pelos órgãos ou
sistemas do corpo que captam o radiofármaco. A imagem possibilita obter informações sobre
o funcionamento do órgão ou sistema estudado (THRALL e ZIESSMAN, 2003).
Avanços tecnológicos em equipamentos e programas de aquisição de imagem nas
últimas décadas permitiram à medicina nuclear obter imagens cardíacas não invasivas, a partir
do uso de traçadores radioativos. Pacientes portadores ou com suspeita de doença arterial
coronária (DAC) podem ser submetidos à cintilografia miocárdica para detecção de isquemia,
determinação da viabilidade do miocárdio e avaliações pré e pós operatórias dos riscos
cardíacos. Os exames de perfusão do miocárdio, obtidos através de técnica tomográfica
associada ao eletrocardiograma (ECG), provêem informações diagnósticas a respeito da
perfusão do ventrículo esquerdo, que possibilitam avaliar e estimar os riscos em pacientes
com DAC (KHAN e WILDE, 2003; ZANCHET, 2007).
No Brasil, dados do SUS (Sistema Único de Saúde) mostram que na década de 1990
doenças cardiovasculares foram responsáveis por 30% de todas as mortes (NOBRE e

2
SERRANO, 2005). Atualmente, uma das áreas de maior aplicação da Medicina Nuclear é o
diagnóstico de doenças cardiovasculares.
A cardiologia aplicada à medicina nuclear, realizada em instituições de saúde
brasileira, tem evoluído de forma paralela aos centros internacionais mais avançados, pois a
produção industrial de novos traçadores e avanços tecnológicos nos aparelhos de aquisição e
de processamento de imagens proporcionaram o diagnóstico das diversas situações de doença
cardíaca, até mesmo na identificação da reversibilidade da disfunção do ventrículo esquerdo e
na seleção cirúrgica (CAMARGO, 2007).
O aprimoramento dos padrões de eficiência, confiabilidade e da tecnologia empregada
na prática diagnóstica em medicina nuclear, como em outras especialidades, exige um
controle de qualidade adequado. A garantia de qualidade abrange todos os esforços para que a
imagem resultante de um determinado procedimento se aproxime de uma ideal, livre de erros
e artefatos (IAEA, 1991, 2009).
Uma das formas de garantir o controle de qualidade nos procedimentos de aquisição
de imagens pelas câmaras cintilográficas empregadas em medicina nuclear é por meio da
utilização de objetos simuladores na realização dos testes necessários à avaliação desse
controle. As normas brasileiras recomendam que se utilizem simuladores adequados para
realização dos testes de uniformidade de campo, linearidade e resolução espacial das câmaras
cintilográficas, como, por exemplo, estabelecido pela norma CNEN-NE 3.05 da Comissão
Nacional de Energia Nuclear, CNEN, (CNEN, 1996).
A geração de imagens a partir de um objeto simulador dinâmico de coração é
fundamental para avaliar a capacidade do sistema de imagens no rastreamento do movimento
cardíaco. Vários objetos simuladores dinâmicos de coração têm sido concebidos para
reproduzir a sequência de pulsos ou movimentos cardíacos específicos, como a compressão
do ventrículo esquerdo, por exemplo (KEE et al., 2010).
Atualmente, são encontradas várias descrições sobre objetos simuladores de coração
na literatura, a seguir têm-se alguns exemplos:
Na década de 1980 Ullmann e Kuba (1985) desenvolveram um objeto simulador
cardíaco dinâmico para análise de ventriculografia e angiografia com uso de radionuclídeos.
O simulador desenvolvido por esses autores consiste de dois balões ligados a um pistão que,
quando preenchidos com radionuclídeos dissolvidos em água, simulam o volume do
ventrículo esquerdo. Utilizando esse simulador é possível verificar algumas das propriedades
do sistema de aquisição das imagens, por meio da análise do valor de fração de ejeção do

3
ventrículo esquerdo. O objeto simulador foi utilizado pelos autores para calibrar um sistema
de aquisição de imagens.
Debrun et al. (2005) realizaram pesquisas com objetos simuladores cardíacos para o
controle de qualidade em medicina nuclear. Utilizaram um objeto simulador dinâmico
cardíaco para comparar e validar as medidas de volume do ventrículo esquerdo em câmaras
tipo Gated SPECT e ecocardiografia em 4D.
Matusiak et al. (2008) criaram um objeto simulador de coração dinâmico para controle
de qualidade, com o qual é possível simular a variação da frequência de bombeamento
cardíaco, de 60 até 200 bpm (batimento por minutos) e o volume, de 70 a 100 mL, durante o
movimento de sístole e diástole. As informações sobre o volume de final de diástole (VFD) e
volume de final de sístole (VFS) são obtidas através de imagens planas sincronizadas ao ritmo
do coração (gatilhadas). Imagens do objeto simulador preenchido com radiofármaco
dissolvido em água podem ser utilizadas para verificar a capacidade do sistema de imagens na
avaliação do volume cardíaco e da uniformidade das paredes do miocárdio através da análise.
Esse objeto pode ser utilizado no controle de qualidade das câmaras de cintilação,
especialmente em medidas de fração de ejeção relacionadas à insuficiência cardíaca.
Vale ressaltar que, para desenvolver os simuladores, esses autores se basearam em um
documento da International Comission on Radiation Units and Measurements (ICRU), que
trata de objetos simuladores e modelos computacionais para terapia, diagnóstico e
radioproteção. (ICRU-48, 1992).
De acordo com os regulamentos brasileiros definidos pela CNEN-NN-3.05
(CNEN, 1996) e as publicações da Agência Internacional de Energia Atômica, IAEA, do
inglês International Atomic Energy Agency (IAEA, 1991; 2009), faz-se necessário a
realização de controle de qualidade (CQ) dos equipamentos e dos protocolos de aquisição de
imagem empregados em Medicina Nuclear. A principal razão para se realizar os testes de
controle de qualidade de equipamentos que utilizam radiação ionizante é garantir ao paciente
o melhor diagnóstico possível com a menor exposição à radiação (MATUSIAK et al., 2008).
Os custos financeiros elevados e a burocracia envolvida na importação dos objetos
simuladores para teste de controle de qualidade, provavelmente, dificultam a aquisição desses
objetos pelos serviços de medicina nuclear brasileiros.

4
Objetivo
Tendo em vista a importância de um programa de qualidade adequado em
equipamentos de aquisição de imagem e em programas de reconstrução das imagens
utilizados em medicina nuclear, os objetivos desse trabalho foram desenvolver dois objetos
simuladores cardíacos, um estático antropomórfico e um dinâmico. O objeto simulador
estático de coração foi desenvolvido para estudos em aquisição de dados sobre o volume do
ventrículo esquerdo do coração humano. O objeto simulador dinâmico de coração tem por
objetivo a prática de medidas da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. As imagens obtidas
com esses objetos, utilizando radiofármacos aplicados em medicina nuclear cardiológica,
foram também utilizadas em controle de qualidade a partir de intercomparações de medidas
de fração de ejeção realizadas em diferentes equipamentos de tomografia computadorizada
por emissão de fóton único.

5
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo serão abordados os conceitos básicos necessários para o


desenvolvimento deste trabalho. Tais conceitos serão divididos em três etapas, como definidas
a seguir:
Primeira etapa: Serão descritos os conceitos e as definições relativas à aplicação dos
radionuclídeos em medicina nuclear e ao funcionamento dos equipamentos utilizados nesta
especialidade médica, principalmente da câmara cintilográfica.
Segunda etapa: Serão apresentados os testes de controle de qualidade que devem ser
realizados nos equipamentos utilizados para os exames cintilográficos, de acordo com as
normas da CNEN, as resoluções da ANVISA e as recomendações da IAEA.
Terceira etapa: Serão descritos os métodos utilizados na cintilografia do miocárdio e
suas aplicações. Ainda, será apresentada a utilização de objetos simuladores em medicina
nuclear, principalmente os simuladores cardíacos.

2.1. PRINCÍPIOS BÁSICOS

A imagem médica utilizada em radiodiagnóstico é formada através da interação da


radiação com a matéria. A informação adquirida via imagem depende da natureza dessas
interações. Na medicina nuclear a imagem do corpo é obtida através das interações das
radiações emitidas pelo órgão estudado, decorrentes dos radiofármacos que são metabolizados
no interior do paciente. A distribuição do material radioativo depende da farmacocinética dos
traçadores (fármacos) e, de acordo com o acúmulo do material no órgão ou sistema, é formada
a imagem.

2.1.1. RADIAÇÕES

Radiação é a propagação de energia através do espaço ou da matéria. As radiações são


produzidas por processos que ocorrem nos núcleos atômicos ou nas suas camadas eletrônicas,
ou através da interação de radiações ionizantes com átomos. O decaimento radioativo permite
ao núcleo buscar o estado mais estável possível.
Os tipos de radiações são normalmente divididos em dois grupos: radiações
corpusculares ou partículas e radiações eletromagnéticas. As radiações corpusculares são
constituídas por prótons, nêutrons, elétrons, deuterons e partículas alfas. As radiações

6
eletromagnéticas não possuem massa, são todas as radiações que possuem vibrações de
campos elétricos e magnéticos, perpendiculares entre si. As radiações eletromagnéticas
viajam a velocidade da luz alterando somente seu comprimento de onda. As radiações
eletromagnéticas mais utilizadas na medicina são os raios X e a radiação gama. A seguir, são
apresentadas informações básicas sobre essas radiações.

Emissão de Partículas Alfa (α)

O decaimento alfa foi o primeiro a ser descoberto e também o primeiro a fornecer


informações a respeito da estrutura do átomo. O caráter monoenergético da radiação α
possibilita uma espectroscopia precisa. Decaimento alfa é comum para elementos de número
atômico alto.
Quando o número de prótons e elétrons é elevado, o núcleo pode emitir partículas alfa,
que são compostas por dois prótons e dois nêutrons (núcleo de hélio – 42 He ).
A Equação 1 apresenta a reação de desintegração de um elemento que emite partículas
alfa.
A A 4 4
Z X Z 2 Y 2 He (1)

A energia cinética efetiva (Qα) do sistema final é proveniente da diferença das massas
de repouso dos núcleos envolvidos na reação. A conservação do momento linear requer que a
energia cinética total seja dividida entre seus produtos.

Emissão de Partícula Beta Negativa (β-)

Quando o núcleo é instável e possui excesso de nêutrons em relação a prótons, ele


poderá se desintegrar por emissão de partículas beta negativas, alcançando a estabilidade
através da conversão de um nêutron em um próton e uma partícula beta; a partícula é emitida
e o próton permanece no núcleo. A partícula β possui a mesma massa de repouso de um
elétron e mesma carga. A Equação 2 mostra a reação de desintegração de um elemento com
emissão de partícula beta negativa.

A
X A
Y 0 0 ~ (2)
Z Z 1 1 0

7
Em que, ~ são antineutrinos. A hipótese da existência do neutrino (υ) e antineutrino
( ~ ) foi sugerida em 1931, por Pauli. Essas partículas são necessárias para explicar a
conservação de momento angular total. A energia cinética dos produtos dessa reação pode ser
dividida entre os produtos, o que explica o espectro contínuo da radiação beta. A Figura 2.1
ilustra o espectro contínuo de emissão do fósforo-32 (32P) (CHUNG, 2001).

Figura 2.1: Representação do espectro de emissão beta do fósforo-32 (POWSNER e


POWSNER, 2006).

Na maioria dos casos, as transições nucleares deixam o nuclídeo filho também em


estado excitado, atingindo o estado fundamental através da emissão de radiação gama.
O radionuclídeo emissor beta mais utilizado em medicina nuclear é o iodo-131, que é
usando para tratamento de hipertireoidismo e câncer de tireóide. O iodo-131 também é
utilizado para diagnósticos, principalmente na investigação de nódulos tireoidianos; nesse
caso, a radiação de interesse será a gama.
O esquema de decaimento radioativo do iodo-131 representado pela Figura 2.2 mostra
tanto as emissões beta como as emissões gama, a energia de emissão gama considerada em
diagnóstico é a de 364 keV.

8
Figura 2.2: Esquema decaimento radioativo do iodo-131 (POWSNER e POWSNER, 2006).

Emissão de Partícula Beta Positiva (Β +) e Captura Eletrônica

O núcleo com excesso de prótons em relação ao número de nêutrons pode alcançar a


estabilidade através da conversão de um próton em um nêutron mais uma partícula beta
positiva (pósitron). A Equação 3 representa a emissão de pósitrons.

A
Z X A
Z 1 Y 0
1 β 0
0 υ (3)

A energia mínima para ocorrer o decaimento por emissão de pósitron é de 1,022 MeV,
energia equivalente à massa de repouso de dois elétrons.
O processo de captura eletrônica compete com o de desintegração beta positiva, pois
também ocorre quando o núcleo possui excesso de prótons. Na captura eletrônica um elétron
orbital, geralmente das camadas mais internas, é capturado pelo núcleo, então, ocorre
conversão de um próton em um nêutron e a liberação de um neutrino monoenergético. A
captura do elétron gera uma vacância, que é preenchida posteriormente pela transição de um
elétron da camada mais próxima, gerando raios X característicos. A Equação 4 descreve o
decaimento por captura eletrônica.

0 A A 0
e X Y
1 Z Z 1 0 (4)

9
Emissão de Radiação Gama (γ)

A radiação gama constitui-se numa onda eletromagnética com origem nuclear. Ondas
eletromagnéticas possuem campos magnéticos e elétricos se movimentando na forma de
ondas senoidais, perpendicularmente entre si. As ondas eletromagnéticas são caracterizadas
por sua energia, frequência e comprimento de onda, relacionados pela Equação 5.

v f. (5)

Em que v é a velocidade da onda, f é a frequência e λ é o comprimento de onda. Para


ondas eletromagnéticas, o produto entre a frequência e o comprimento de onda é igual à
velocidade da luz. Essas ondas consistem de pacotes de energia, transmitidos através do
espaço, sem a necessidade de um meio de propagação. Outros tipos de ondas eletromagnéticas
são ondas de rádio, micro-ondas, luz visível, raios X, por exemplo.
Após o núcleo pai decair por emissão de uma partícula, se o núcleo filho permanecer
no estado excitado, para que atinja o estado fundamental emite energia sob a forma de
radiação gama ou a emissão de uma partícula alfa ou beta, até atingir o estado fundamental. A
energia da radiação γ é bem definida dependendo da diferença entre os valores iniciais e finais
das transições nucleares. A intensidade da radiação gama depende de suas probabilidades de
emissão, quanto mais semelhantes forem os estados envolvidos, maior a probabilidade de
transição. Alguns radionuclídeos decaem por múltiplas transições, o núcleo filho pode ter
vários estados excitados possíveis; portanto, o radionuclídeo pode emitir um ou mais raios
gama em cada desintegração.

Transição Isomérica e Conversão Interna

Alguns radionuclídeos que sofrem decaimento radioativo apresentam estados


excitados intermediários com duração maior do que 10 -9 segundos, esses estados são
chamados de estados metaestáveis, sendo indicados através da letra m logo após o número de
99m 99
massa, por exemplo, 43 Tc ou tecnécio-99m, que é o nuclídeo filho do 42 Mo (molibdênio-
99). A transição do estado metaestável para o estado fundamental é isomérica porque não
altera o número atômico, como mostra a Figura 2.3. O estado metaestável do tecnécio-99m
tem uma meia-vida física de aproximadamente 6 horas. A emissão de radiação gama puro

10
desse radionuclídeo, de energia de aproximadamente 140 keV, é ideal para a formação da
imagem em medicina nuclear (THRALL e ZIESSMAN, 2003).

Figura 2.3: Transição isomérica do tecnécio-99m para tecnécio-99 (POWSNER e


POWSNER, 2006).

A conversão interna compete com a emissão de radiação gama, porque o núcleo


excitado transfere energia para um elétron orbital das camadas mais internas, sendo este
ejetado do átomo. A ejeção do elétron, por consequência, acarreta em produção de radiação X
característica. A energia cinética do elétron ejetado é igual à diferença entre a energia da
radiação transferida e a energia de ligação do elétron.
No processo de formação de imagem, a conversão interna diminui a estatística de
contagem, porque um número menor de fótons gama é detectado para a formação da imagem
e, ainda, aumenta a dose de radiação absorvida pelo paciente, pois a energia do elétron de
conversão é absorvida pelo tecido próximo a sua origem. O tecnécio-99m, material mais
utilizado em cintilografia, emite 89% das vezes radiação gama de 140 keV, o restante
corresponde à conversão interna.
A Figura 2.4 apresenta um esquema básico representando um átomo e as radiações
relacionadas com transição isomérica e conversão interna.
Se um fóton (radiação X característica) não for emitido quando um elétron realiza
transição de uma camada eletrônica mais externa para uma mais interna a fim de preencher
uma vacância, a energia dessa transição é transferida para outro elétron da mesma camada
inicial. Quando a energia transferida para esse outro elétron for maior que a sua energia de
ligação, ele é ejetado do átomo. Esse elétron ejetado é chamado de elétron Auger. Processos
11
de conversão interna e de captura eletrônica podem resultar na emissão de elétrons
(TURNER, 2007).

Figura 2.4: Representação do processo de conversão interna (SAHA, 2006).

2.1.2. QUANTIDADE DE ÁTOMOS DE UMA AMOSTRA RADIOATIVA

Todo decaimento radioativo envolve a emissão de uma partícula alfa ou uma partícula
beta, o que altera o número de átomos do núcleo que se desintegra (núcleo pai)
transformando-o em outro elemento (núcleo filho). O processo de desintegração pode ocorrer
em qualquer tempo após a formação do nuclídeo pai; portanto, tem um caráter probabilístico.
A probabilidade de um átomo decair em um intervalo de tempo dt é λdt , em que λ é a
constante de desintegração radioativa. A velocidade de desintegração depende de λ e do
número de átomos do radioisótopo na amostra (N), como mostrado pela Equação 6.

dN
dt (6)
N

Resolvendo essa equação diferencial, obtemos a Equação 7, que possibilita conhecer,


em qualquer tempo, o número de átomos de certo radionuclídeo em uma amostra radioativa:

t
N N 0e (7)

Em que: N0 – número de átomos no instante inicial


N – número de átomos no instante t

12
λ – constante de desintegração radioativa
t – tempo decorrido

Atividade de uma amostra é o número de desintegrações por unidade de


tempo (dN/dt).

2.1.3. INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM A MATÉRIA

A interação da radiação eletromagnética com a matéria é diferente da que ocorre com


partículas carregadas. Para mesmas energias, a penetrabilidade da radiação eletromagnética é
muito maior do que a de partículas. Em se tratando de partículas carregadas, quando essas
atravessam um material, a interação elétrica entre as cargas é suficiente para arrancar um
elétron orbital, formando íons, assim as partículas carregadas são chamadas de radiações
ionizantes.
O processo de absorção da radiação γ e raios X é realizado através de colisões, por
meio das quais os fótons são absorvidos pelo material, emitindo partículas secundárias,
diminuindo a energia e alterando a direção de propagação. Os principais processos de
espalhamento ou absorção das radiações eletromagnéticas, excluindo as reações nucleares,
são: efeito fotoelétrico, efeito Compton e formação de pares. A probabilidade de ocorrência
desses destes três tipos de interação depende da energia da radiação e do número atômico (Z)
do material. Os efeitos mais prováveis para energias usadas em medicina nuclear são efeitos
fotoelétrico e Compton, como mostra a Figura 2.5.
Considerando que o efeito produção de pares não ocorre na faixa de energia das
radiações empregadas em medicina nuclear, serão apresentados detalhes apenas sobre efeito
fotoelétrico e Compton.

13
Figura 2.5: Esquema demonstrando a frequência relativa dos três processos mais frequentes
de interação dos fótons com a matéria (POWSNER e POWSNER, 2006).

2.1.3.1. EFEITO FOTOELÉTRICO

O efeito fotoelétrico é caracterizado pela transferência total da energia (hυ) para um


único elétron orbital, este elétron deixa uma vacância ao ser arrancado de sua órbita, podendo
ser expelido ou reabsorvido ao passar para uma camada mais externa, devido ao seu pequeno
alcance no material. A vacância é preenchida pela transição de um elétron mais externo, tendo
como consequência a emissão de raios X característicos, como exemplificado pela Figura 2.6.

Figura 2.6: Representação do efeito fotoelétrico (THRALL e ZIESSMAN, 2003).

14
O elétron ejetado tem energia cinética (E C) bem definida, dada pela Equação 8.

EC h Be (8),

em que, h é a constante de Planck, υ é a frequência da radiação e Be é a energia de ligação do


elétron orbital.
A interação fotoelétrica não é desejada em tecidos moles, devido à alta absorção nestes
tecidos, mas é de fundamental importância na formação da imagem através da detecção da
radiação. Os detectores dos sistemas de imagem utilizados em medicina nuclear são
constituídos por materiais cuja probabilidade de efeito fotoelétrico seja grande, ou seja,
materiais de alta densidade, alto número atômico como cristais inorgânicos.

2.1.3.2. EFEITO COMPTON

No efeito Compton o fóton interage com um elétron de baixa energia de ligação, que
absorve somente parte de sua energia e é arrancado do material, o fóton é desviado de sua
direção original e continua sua existência dentro do material; porém, com energia menor. A
diferença de energia é transferida para o elétron ejetado na forma de energia cinética. A
relação entre a energia do fóton incidente (hυ 0) e a energia do fóton espalhado (hυ’) é dada
pela Equação 9.

h 0
h ' (9)
h 0
1 (1 cos )
m0 c 2

Em que: m0 é a massa de repouso do elétron, c é a velocidade da luz e θ é o ângulo de


espalhamento do fóton, conforme Figura 2.7.
Para a formação da imagem clínica em medicina nuclear os fótons espalhados não
devem fazer parte da imagem. O uso de colimadores possibilita a absorção dos fótons
espalhados antes que estes venham a interagir com o detector. Os fótons espalhados que
conseguirem colidir com detector terão perdido parte de sua energia; assim, eles podem ser
excluídos da imagem final através da aplicação de discriminadores na janela de aceitação de
energia do equipamento. Porém, os fótons que sofrem pequenos desvios podem não ser

15
devidamente excluídos pela janela de seleção de energia; assim, esses fótons acabam
causando diminuição da resolução das imagens.

Figura 2.7: Esquema do efeito Compton. (CHERRY et al., 2003).

2.2. UTILIZAÇÃO DOS RADIOISÓTOPOS NA MEDICINA NUCLEAR

Em 1922, o físico George de Hevesy utilizou um radioisótopo natural de chumbo para


estudar a absorção dele pelas raízes das plantas, após a incorporação do material nas plantas,
as utilizou com alimento para animais para estudar a biodistribuição desse elemento nos
animais (BITELLI, 2006). Em 1927 foi descrito o primeiro estudo com radioisótopos em
humanos. Para isso, após a administração via intravenosa de uma solução salina contendo
radônio, mediram a circulação sanguínea humana. Em 1938, a funcionalidade da tireóide
usando iodo-121 foi estudada, dando início à utilização de radioisótopos como traçadores para
fins de aplicações médicas e biológicas (OLIVEIRA e CARNEIRO-LEÃO, 2008).
Para fins terapêuticos são utilizados radionuclídeos emissores de partículas beta.
Como esse tipo de radiação possui baixo poder de penetração, mas alta energia, causam
grande quantidade de quebra molecular através de ionizações, acarretando assim a morte de
células tumorais. Os radionuclídeos emissores de partículas beta mais utilizados são: iodo-
131, samário-153, estrôncio-90 e lutécio-177 (ARAUJO, 2005).
O radiofármaco mais utilizado em diagnóstico é o tecnécio-99m, porque preenche
praticamente todos os requisitos para ser administrado em um paciente. As exigências que o
radiofármaco deve atender são: ter uma distribuição adequada no organismo, ausência de
toxidade e efeitos secundários, não deve sofrer dissociação nem em in vivo nem in vitro, ser

16
de fácil obtenção, custo razoável e a marcação (junção do fármaco ao radioisótopo) deve ser
realizada com certa facilidade (THRALL e ZIESSMAN, 2003). O tecnécio-99 ( c) foi
descoberto em 1937 por Carlo Perrie e Emilio Gino Segrè, seu nome vem do adjetivo grego
technetos, que significa artificial, por ter sido o primeiro elemento químico obtido
artificialmente (ARAÚJO et al., 2008).

2.2.1. GERADOR DE RADIONUCLÍDEOS

O sistema gerador de radionuclídeo mais largamente empregado em medicina nuclear


consiste de um radioisótopo pai de meia-vida física longa e um filho de meia-vida física curta,
o que permite obtenção de um radionuclídeo de meia-vida física adequada para aplicações
clínicas na própria instituição médica. Aqui vale lembrar que, meia-vida física é o tempo
necessário para que a atividade radioativa de uma amostra de certo elemento radioativo seja
reduzida à metade da atividade inicial.
Vários tipos de geradores são empregados com finalidade diagnóstica e terapêutica,
por exemplo, os de rubídio-81/criptônio-81m, estrôncio-82/rubídio-82. As características dos
principais geradores utilizados são mostradas pela Tabela 2.1. O gerador mais utilizado em
medicina nuclear é o gerador de molibdênio-99/tecnécio-99m (THRALL e
ZIESSMAN, 2003).

Tabela 2.1: Características dos três geradores mais utilizados em medicina nuclear
(POWSNER e POWSNER, 2006).

Gerados Aplicação clínica do Meia-vida Meia-vida


(Pai/Filho) radionuclídeo filho do Pai do Filho
99 Usado associado a radiofármacos
Mo-99mTc
para estudos diversos em 67 h 6h
(molibdênio-99/tecnécio-99m)
medicina nuclear
82
Sr-82Rb
Imagem de perfusão miocárdica 600 h 0,021 h
(estrôncio-82/rubídio-82)
81
Rb-81mKr
Ventilação pulmonar 4,7 h 0,004 h
(rubídio-81/ criptônio-81m)

99 235
O Mo é produzido em reator, através do método de fissão do U. Após sua
purificação, o elemento é ligado a uma coluna de alumina na forma de molibdato (Mo 24 ) . A
17
coluna é inserida num recipiente revestido de chumbo; tubos inseridos na coluna permitem a
99
eluição do sistema. A Figura 2.8 mostra a estrutura interna de um gerador Mo-99mTc
(CHERRY et al., 2003; THRALL e ZIESSMAN, 2003).

Figura 2.8: Vista interna do gerador 99Mo-99mTc (CHERRY et al., 2003).

O tecnécio-99m é produzido na forma de pertecnetato ( 99m TcO 4 ) , que não se liga à


coluna de alumina, e assim pode ser eluído facilmente com uma solução salina (solução de
NaCl). Após uma eluição uma nova retirada com atividade máxima só poderá ser realizada
aproximadamente 24 horas.
Antes dos geradores serem comercializados eles devem passar por um controle de
qualidade, certificando que este atende aos requisitos necessários para a aplicação médica.
Além do controle antes da comercialização, cada instituição deve realizar testes de controle de
qualidade, alguns deles são o de pureza radionuclídica, que analisa a quantidade de outros
radionuclídeos no eluato. No caso do gerador de 99Mo-99mTc, o contaminante mais comum é o
próprio molibdênio-99.

18
2.3. CÂMARAS DE CINTILAÇÃO

O diagnóstico em medicina nuclear se baseia, principalmente, em medidas não


invasivas realizadas com fontes internas de radiação ionizante (ao invés de externas),
utilizando detectores de radiação que permitem a medição do radionuclídeo aplicado ao
paciente.
A cintilografia é um procedimento que permite identificar a emissão de uma radiação
ionizante, através da conversão da radiação em luz (cintilação). A cintilografia inclui;
cintilografia planar, tomografia por emissão de fóton único (SPECT - single-photon emission
computed tomography) e tomografia por emissão de pósitron (PET – positron emission
tomography). Por meio dessas técnicas é possível monitorar a função fisiológica dos tecidos,
órgãos ou sistemas a partir de imagens funcionais. Essas imagens também podem ser
avaliadas em termos quantitativos para medir processos bioquímicos ou fisiológicos
importantes na análise clínica (ZAIDI, 2006)
A câmara de cintilação, geralmente, é composta por colimadores, que limitam o
ângulo de aceitação da radiação incidente e define a distribuição espacial da radiação gama
que chega até o cristal. Após o colimador encontra-se o cristal de cintilação, normalmente de
iodeto de sódio enriquecido com tálio (NaI:Tl). Atrás do cristal um guia de luz é opticamente
acoplado aos tubos fotomultiplicadores (FMT), que convertem e multiplicam a luz da
cintilação em sinal eletrônico. O sinal de saída é analisado e define a posição espacial (x, y)
da radiação incidente, através do circuito de posicionamento. Outro circuito, chamado de
circuito de adição, amplifica o pulso inicial; após essa amplificação o sinal atravessa um
circuito que analisa a altura do pulso, ou seja, verifica a energia desse evento (ZAIDI, 2006).
A Figura 2.9 apresenta os componentes básicos de uma câmara de cintilação.
Em equipamentos que contém o sistema tomógrafo existe um conjunto de engrenagens
num suporte (gantry) onde os detectores são fixados, permitindo movimentos giratórios. O
principal objetivo de sistemas tomógrafos é uma melhor definição dos detalhes da imagem
(THRALL e ZIESSMAN, 2003).

19
Figura 2.9: Esquema de uma câmara de cintilação (THRALL e ZIESSMAN, 2003).

O fenômeno de cintilação do cristal detector se dá através do efeito fotoelétrico. A


energia absorvida pelo cristal provoca o deslocamento dos elétrons para banda de condução,
os elétrons tem dificuldade em retornar dessa banda para a banda de valência, pois essa banda
está preenchida com outros elétrons. Os átomos da impureza, que no caso do detector de
NaI;Tl é o tálio, facilitam o retorno dos elétrons para banda de valência, por formarem sub
níveis de energia, chamados níveis de transição, dos quais os elétrons podem retornar ao
estado fundamental. A impureza emite fótons de luz com comprimento de onda característico
(ROCHA, 1976; CHERRY et al., 2003; POWSNER e POWSNER, 2006; SAHA, 2006).
A definição da imagem gerada pela câmara de cintilação é determinada pela interação
da radiação proveniente do meio que recebeu o radionuclídeo com o cintilador. Os múltiplos
fótons luminosos produzidos no cristal são captados por diversas fotomultiplicadoras (FTM)
próximas ao evento, o circuito de posicionamento é responsável por determinar a posição
exata do evento. O tubo fotomultiplicador mais próximo ao evento receberá uma quantidade
maior de fótons e o tubo mais distante uma quantidade menor de fótons, proporcionalmente
(ROCHA, 1976; THRALL e ZIESSMAN, 2003; CHERRY et al., 2003).
O posicionamento dos eventos por meio de coordenadas x e y em uma matriz de pixels
possibilita formar a imagem. A Figura 2.10 mostra um fóton de radiação incidindo no cristal,

20
a luz captada pelas fotomultiplicadoras é proporcional à distância das fotomultiplicadoras ao
fóton incidente. A resolução da matriz é limitada pela resolução da câmara (cristal e
fotomultiplicadoras) e pelo colimador (THRALL e ZIESSMAN, 2003; SAHA, 2006).

Figura 2.10: Representação da localização do evento pelo circuito de posicionamento


(POWSNER e POWSNER, 2006).

O analisador de pulso é usado para selecionar somente pulsos com alturas (energias)
convenientes, o intervalo dos pulsos selecionados é chamada de janela de energia. Com um
ajuste na janela simétrico de 20% centrada no fotopico (pico do espectro de radiação emitida)
do 99mTc, serão registrados apenas pulsos entre 126 keV a 154 keV, o restante dos pulsos será
desprezado, como mostra a Figura 2.11 (POWSNER e POWSNER, 2006; SAHA, 2006).

Figura 2.11: Representação da janela de energia centrada no fotopico do 99mTc


(POWSNER e POWSNER, 2006).

21
2.3.1. COLIMADOR DE FUROS PARALELOS

O objetivo do colimador de uma câmara de cintilação é definir a direção de entrada


dos fótons incidentes no cristal e limitar o campo de visão geométrico do cristal detector, uma
vez que a emissão de raios gama do paciente é isotrópica. O uso de colimadores predefine
certa direção dos fótons incidentes (THRALL e ZIESSMAN, 2003; BAERT e
SARTOR, 2006).
O colimador mais comumente utilizado em câmaras de cintilação é o de furos
paralelos distribuídos uniformemente, que é feito de chumbo, com pequenas aberturas
separadas por paredes, chamadas septos. A Figura 2.12 apresenta detalhes de um colimador
de furos paralelos.

Figura 2.12: Detalhes do colimador de furos paralelos (POWSNER, 2006).

A espessura e a largura dos septos são escolhidas de acordo com a energia dos raios
gama incidentes, quanto maior a energia mais espessos são os septos. O desenho de um
colimador deve levar em conta a resolução espacial, que está ligada à capacidade de um
sistema diferenciar imagens de duas fontes pontuais ou lineares a pequenas distâncias, a
menor distância entre os pontos corresponde a resolução espacial e a sensibilidade,
relacionada à medida da proporção dos raios gama emitidos pela fonte e a radiação captada
pelo dispositivo. Quanto mais espesso o colimador, ou seja, septos mais longos, maior a
22
resolução espacial; porém menor a sensibilidade. Furos longos diminuem o ângulo de
aceitação, resultando numa perda da sensibilidade de contagens, todavia melhora a resolução
espacial.
Os colimadores de furos paralelos são classificados como: colimador de baixa energia,
utilizados para energias de 140 keV (99mTc); colimadores de média energia, que são
utilizados para radionuclídeos emissores de raios gama de até 400 keV; e colimadores de alta
131
energia, projetados especialmente para o I, esses possuem septos mais grossos do que os
colimadores de média energia (BAERT e SARTOR, 2006).
No esquema de decaimento do iodo-131 há também fótons com energias superiores a
600 keV, o que torna necessário o uso de colimadores de alta energia, para evitar degradação
na imagem (POWSNER e POWSNER, 2006).
Além dos colimadores de furos paralelos, também existem colimadores de desenhos
especiais. Por exemplo, colimador de furo único, cujo principal uso é na cintilografia da
tireóide, por oferecer a vantagem da magnificação da imagem, permitindo uma melhor
resolução de objetos menores. Outros colimadores como de furos convergentes e divergentes
também são utilizados em câmaras de cintilação.

2.4. CINTILOGRAFIA DO MIOCÁRDIO

As doenças cardiovasculares representam um grave problema de saúde pública no


mundo inteiro, sendo a principal causa de morbimortalidade, e ainda representam os mais
elevados custos de assistência médica (GUS et al., 2002). Doença coronária é a principal
causa de morte no Brasil desde 1960. Entre 1996 e 1998, mais de duzentas mil pessoas de
ambos os sexos foram a óbito devido doença coronária (LOTUFO, 2000).
A cintilografia do miocárdio perfusional permite diagnosticar isquemia miocárdica,
analisar extensão das áreas cardíacas comprometidas por alguma doença e os efeitos sobre
função ventricular esquerda (BARBISAN et al., 2006). Esse é um método de destaque no
diagnóstico de doenças coronárias, pois é não invasivo, praticamente sem efeito adverso do
radiotraçador e ainda de fácil aplicação nos pacientes. A técnica tomográfica (SPECT)
permite confirmar ou excluir doença arterial coronária por seus altos valores de sensibilidade
e especificidade (CÉSAR, 2004).
Pode-se considerar, em conceitos gerais, que o exame representa dois eventos
sequenciais: No primeiro evento o radiotraçador deve chegar ao miocárdio; para haver o

23
segundo evento, que é a entrada do radiotraçador no coração, é preciso que haja células
miocárdicas metabolicamente ativas. Assim, a cintilografia do miocárdio pode ser vista como
um mapa da perfusão miocárdica regional. Se o paciente apresenta uma diminuição da
perfusão miocárdica regional, a cintilografia revela uma área com pouca emissão de fótons ou
sem fótons, o que acontece na doença arterial coronária hemodinamicamente significativa ou
na perda da viabilidade celular, como no infarto do miocárdio (THRALL e ZIESSMAN,
2003). A Figura 2.13 mostra uma imagem de cintilografia miocárdica e uma demostração
esquemática de cortes tomográficos do eixo curto transverso, eixo longo horizontal e do eixo
longo vertical do coração.

Figura 2.13: À esquerda, imagem de cintilografia perfusional do miocárdio


(LUJAMBIO et al., 2010). À direita, demonstração esquemática de cortes tomográficos do
eixo curto transverso, eixo longo horizontal e do eixo longo vertical do coração
(ROMÁN, et al., 2009).

O fármaco mais utilizado para cintilografia miocárdica perfusional é o sestamibi


(Hexaquis-2-metoxi-isobutil-isonitrila) também conhecido como MIBI. O radiofármaco
sestamibi-99mTc é um agente de perfusão do miocárdio. Utilizado para diferenciar o miocárdio
24
normal do anormal, localização de anormalidades e avaliação das doenças coronárias
isquêmicas. Para doenças coronárias isquêmicas a avaliação é realizada em duas etapas de
repouso e de estresse físico ou farmacológico (BULA MIBI, 2010).
A sincronização das imagens obtidas através de SPECT com o sinal do
ecocardiograma (ECG) é o princípio do exame SPECT- gatilhado, como mostra a Figura 2.13.
A fusão das imagens é necessária, pois a cintilografia do miocárdio tem por objetivo analisar
de forma conjugada a perfusão e a função cardíaca. (ZANCHET, 2007).
Durante a aquisição das imagens a câmara de cintilação adquire projeções em
múltiplos ângulos, geralmente de três em três graus, até formar um ângulo de 180º,
dependendo do equipamento. A cada projeção são adquiridas repetidas imagens em intervalos
de tempo iguais. Durante um ciclo completo todas as imagens são gravadas e somadas para
reconstruir uma fase específica. No ECG um ciclo completo é representado pelo intervalo R-
R, a onda R corresponde à despolarização ventricular. A Figura 2.14, apresenta uma ilustração
do princípio de funcionamento do exame SPECT-gatilhado.

Figura 2.14: Ilustração do princípio de funcionamento do exame SPECT-gatilhado


(ZANCHET, 2007).

Os aspectos mais importantes na análise da estratificação de risco e prognóstico da


doença arterial crônica são a extensão da lesão e a fração de ejeção do ventrículo esquerdo
(FEVE). Pacientes com redução progressiva da fração de ejeção após o infarto do miocárdio

25
apresentam maior probabilidade de mortalidade. Pacientes com FEVE menor do que 35% são
considerados pacientes de alto risco (CÉSAR, 2004).
A fração de ejeção é a porcentagem de sangue que o coração bombeou para fora do
ventrículo em cada batimento cardíaco. A fração de ejeção pode ser obtida medindo-se a
variação de tamanho da cavidade ventricular durante o ciclo cardíaco. (SRIWONGTA, 2008;
THRALL e ZIESSMAN, 2003). O volume da diástole (maior volume) e da sístole (menor
volume) são obtidos através das imagens capturadas sincronizadas ao ECG, que informa ao
sistema o momento da aquisição das imagens. Os volumes do ventrículo esquerdo em diástole
e em sístole são obtidos através da aplicação de um programa disponível comercialmente, que
geralmente é fornecido juntamente com a câmara de cintilação (GERMANO et al., 1995;
RAMOS, 2002). A porcentagem de FEVE é obtida através da Equação 10.

(Volume final da diástole Volume final da sístole)


FEVE (%) 100 (10)
Volume final da diástole

Análises quantitativas da perfusão do miocárdio obtidas através do método SPECT-


gatilhado são utilizadas desde sua introdução no final de 1980. O exame de eletrocardiograma
sincronizado com SPECT tem sido cada vez mais empregado para colher informações sobre a
função do miocárdio (SANTOS et al., 2008).

2.5. OBJETOS SIMULADORES EM MEDICINA NUCLEAR

Objetos simuladores são utilizados em medicina nuclear para calibração dos


equipamentos, avaliação do desempenho dos instrumentos e análise dos parâmetros de
reconstrução das imagens. Os objetos simuladores mais utilizados são: simuladores de barras
e simuladores de homogeneidade, como o jaszczak, que possui artefatos de diferentes
dimensões para simulação de absorção da radiação e ainda análise de diferentes parâmetros
empregados em sistemas tomográficos (IAEA, 1996; DOMENICO et al., 2007). O fantoma
Rollo, é um objeto simulador empregado para a verificação de contraste e resolução espacial.
Outros objetos simuladores utilizados são os dinâmicos de coração, por exemplo, Phantom
Dynamic Cardiac - Fluke Biomedical e Dynamic Cardiac Phantom™ ECT/D-CAR/P, que é
apresentado na Figura 2.15.

26
Os objetos simuladores cardíacos dinâmicos simulam o movimento cardíaco e a
circulação sanguínea no coração, através de movimentos periódicos. É necessário um
mecanismo simulador de ECG acoplado ao objeto simulador para informar os momentos de
final da diástole e de final da sístole. Esse acoplamento possibilita ao objeto simulador, ou
sistema simulador, medir a fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Fixando um valor de
FEVE no sistema simulador é possível verificar a acurácia do sistema de aquisição da câmara
de cintilação. Para realizar testes com simuladores dinâmicos é necessário que estes sejam
capazes de representar os sinais vitais de um paciente, para que as imagens obtidas de tais
objetos sejam equivalentes às que podem ser adquiridas de pacientes (BERGMANN, 1993).
Quando os objetos simuladores são utilizados para dosimetria, são incorporados neles
materiais que medem a dose absorvida, chamados dosímetros (MAGALHÃES et al., 2004;
CASTRO JUNIOR et al., 2004).

Figura 2.15: Fotografias de simuladores cardíacos da Fluke Biomedical e exemplo de


imagem obtida do segundo simulador a partir de uma câmara de cintilação.
Fonte: http://www.pnwx.com/Accessories/NuclearAssociates/Nuclear/ProductDetail.
acessado em 08/11/2010.

27
Os objetos simuladores permitem o treinamento de profissionais de medicina nuclear e
a análise da funcionalidade de órgãos e do próprio sistema de aquisição de imagem, sem a
necessidade de realizar treinamentos com o auxílio de pacientes (MURRAY et al., 1979).

2.6. CONTROLE DE QUALIDADE PARA CÂMARA DE CINTILAÇÃO

Para garantir a qualidade do sistema cintilográfico tipo SPECT deve ser realizado
periodicamente um conjunto mínimo de testes. No Brasil, os testes exigidos estão citados na
norma da Comissão Nacional de Energia Nuclear, CNEN-NE 3.05, e na Resolução de
Diretoria Colegiada (RDC) de nº 38 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
de 04 de junho de 2008. Os testes exigidos pela ANVISA e CNEN, estão listados na Tabela
2.2.
Os testes realizados diariamente e mensalmente são suficientes para garantir a
qualidade das câmaras de cintilação para os testes realizados neste trabalho; portanto, não
serão abordados.
A metodologia de todos os testes realizados foi baseada da Norma CNEN-NN-3.05, e
nas recomendações da IAEA.

Tabela 2.2: Testes de controle de qualidade determinados pela ANVISA, CNEN para
câmara de cintilografia e suas respectivas frequências mínimas.

Testes de controle de qualidade (CQ) Frequência

Inspeção visual Diário

Uniformidade intrínseca ou extrínseca de campo integral para baixa Diário


densidade de contagem
Radiação de fundo da sala de exame Diário

Centralização e largura da janela energética para cada radionuclídeo Diário

Uniformidade intrínseca de campo integral e diferencial para alta Mensal


densidade de contagem
Resolução e linearidade espacial planas Mensal

Centro de rotação da câmara SPECT Mensal

28
2.6.1. TESTE DE UNIFORMIDADE DE CAMPO

O teste de uniformidade de campo verifica a uniformidade do campo de visão do


sistema detector quando exposto a uma fonte radioativa uniforme. Medidas realizadas com o
colimador acoplado ao sistema detector são referidas com extrínsecas, medidas realizadas sem
o colimador acoplado são referidas como intrínsecas (IAEA, 1991, 2009;
THRALL e ZIESSMAN, 2003). Dois tipos de fontes podem ser usadas para avaliar e corrigir
57
a uniformidade de campo, as sólidas em forma de placas, como as de Co (cobalto-57) que
99m
tem meia-vida física de 270 dias, e as líquidas de Tc.
O teste de uniformidade de campo intrínseco é realizado para verificar a uniformidade
de resposta dos componentes do sistema, incluindo o cristal de NaI, as fotomultiplicadoras e o
seu circuito amplificador e de posicionamento. Esse teste deve ser realizado diariamente, sua
realização requer a retirada do colimador; em seguida, uma fonte radioativa ( 99mTc)
puntiforme deve ser colocada a uma distância equivalente a pelo menos cinco vezes o
tamanho do campo de visão útil do cristal (UFOV, do inglês useful field of view). É adquirida
uma imagem estática com 4 milhões de contagens em matriz de 64 64 pixels. A fonte de
tecnécio-99m deve ter atividade entre 10-20 MBq (0,3-0,5 mCi), para que proporcione uma
taxa de até 30 000 contagens por segundo (IAEA, 1991, 2009; FERREIRA, 2008).
O resultado do teste é expresso em um valor, denominado de uniformidade integral
(UI). A UI é calculada analisando-se o pixel com maior número contagens (máx.) e o com
menor número de contagens (mín.) que estejam localizados em áreas situadas na região de
visão útil (UFOV) e na área central de visão (CFOV, do inglês central field of view) do
cristal, a partir da Equação 11 (IAEA, 1991, 2009).

máx. mín.
UI (%) 100 (11)
máx. mín.

A uniformidade pode ser diferente para distintos radionuclídeos e janelas de aquisição;


portanto, é importante assegurar se a uniformidade é coerente para todos os radionuclídeos
utilizados na câmara cintilográfica. O resultado sobre a uniformidade deve ser avaliado antes
que estudos clínicos sejam realizados (CHANDRA, 2004).
Não uniformidade na imagem pode ocorrer devido às condições ambientais,
temperatura e umidade, fora dos limites recomendados pelos fabricantes das câmaras de

29
cintilação, assim como, à baixa densidade de contagem e a não correção da uniformidade do
sistema de aquisição.

2.6.2. RESOLUÇÃO E LINEARIDADE ESPACIAL PLANAS

A resolução espacial intrínseca do sistema geralmente é medida pela largura a meia


altura (FWHM, do inglês full width at half maximum) da curva de distribuição da taxa de
contagem do detector exposto a uma fonte pontual a uma distância mínima de cinco UFOV. A
Figura 2.16 mostra a representação da medida da FWHM.
A resolução espacial do sistema (RS) é dada pela Equação 12, em que a resolução
intrínseca referente ao detector é chamada de Ri e a resolução espacial do colimador é
chamada de RC. A resolução associada ao colimador deteriora-se com o aumento da distância
da fonte de radiação ao colimador.

RS Ri2 RC2 (12)

Figura 2.16: Curva do fotopico representando o cálculo da FWHM (CHANDRA, 2004).

É possível estimar a resolução espacial intrínseca em ternos da FWHM, usando a


Equação 14 (IAEA, 1991, 2009).

30
FWHM (%) 1,75B (13)

Em que, B é a largura das menores barras visualizadas, obtida através da análise visual
da imagem gerada pelo simulador de barras paralelas.
Alguns dos principais fatores que diminuem a resolução espacial estão relacionados
com o alinhamento dos septos do colimador, alimentação ou mau funcionamento das
fotomultiplicadoras e defeito no cristal (IAEA, 1991, 2009).
O teste de linearidade verifica a capacidade da câmara de cintilação em reproduzir
imagens das linhas retas do simulador de barras sem distorções e curvaturas. Esse teste é
realizado com o mesmo objeto simulador de barras aplicado na medição da resolução espacial
(OLIVEIRA, 2000). Os principais fatores de defeito para o teste de linearidade são os
mesmos estabelecidos para resolução espacial.

2.6.3. SENSIBILIDADE

A avaliação da sensibilidade de uma câmara de cintilação é realizada por meio de uma


fonte radioativa plana e homogênea colocada sobre o colimador. O teste de sensibilidade está
relacionado com a resposta que o sistema fornece quando exposto a uma fonte radioativa, ou
seja, esse teste relaciona a taxa de contagem e a quantidade radiação incidente no cristal por
unidade de tempo (IAEA, 1991, 2009; OLIVEIRA, 2000).
A sensibilidade do sistema é medida normalmente em contagens por minuto/kBq para
medida usando janela de 20% da energia centrada no fotopico do tecnécio-99m.
Normalmente, o teste é realizado com uma amostra de 40 MBq de 99mTc dissolvido em água
num recipiente de 10 cm de diâmetro (MUEHLLEHNER et al., 1981). A sensibilidade é
obtida a partir da Equação 15 (MAGALHÃES et al., 2004).

contagens tempo(mim)
S (14)
atividade

2.6.4. CENTRO DE ROTAÇÃO (COR)

O centro de rotação é avaliado somente em câmaras de cintilação do tipo SPECT.


Verifica-se o eixo de rotação da câmara coincide com o eixo de rotação de reconstrução da

31
imagem. Se o centro de rotação não estiver alinhado podem surgir distorções em
reconstruções de fatias da imagem tomográfica. A Figura 2.17 mostra o efeito de reconstrução
sem desvio no centro de rotação e com desvio de 2 e 6 pixels. Um grande desvio de COR
transforma a imagem de um ponto em uma imagem em forma de anel (IAEA, 1991, 2009). O
valor de desvio do centro de rotação é considerado satisfatório somente quando for menor do
que 3 mm (IAEA, 1991, 2009; CNEN-NE 3.05).

Figura 2.17: Imagem representativa de imagem com desvios no centro de rotação


(IAEA, 2009).

32
3. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo será apresentada a metodologia empregada para a aquisição das


imagens, para realização dos testes de controle de qualidade das câmaras de cintilação
utilizando objetos simuladores.
As avaliações empregando as câmaras cintilográficas foram realizadas na CLIMEDI –
Clínica de Medicina Nuclear Endocrinologia e Diabete Ltda., situada em Aracaju, SE.

3.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE IMAGEM

Os testes de controle de qualidade foram realizados com colimador de furos paralelos


de baixa energia e alta resolução, acoplado às câmaras de cintilação, APEX SP4 e
APEX SPX6 da marca Elscint, mostradas na Figura 3.1(a) e 3.1(b), respectivamente. Ambos
os modelos tem detector de cintilação de NaI:Tl.

Figura 3.1: Câmaras de cintilação modelo (a) APEX SP4 e (b) APEX SPX6.

3.2 MONITOR ELETROCARDIÓGRAFO

Ambas as câmaras de cintilação estavam acopladas a monitores cardíacos do


fabricante Funbec, modelo 4-1CN. Esse monitor cardíaco fornece traço de ECG, batimentos
cardíacos e sistema de alarme pelo batimento. A Figura 3.2 mostra o monitor cardíaco da
Funbec modelo 4-1CN.
33
Figura 3.2: Monitor cardíaco da Funbec modelo 4-1CN

3.3.TESTE DE UNIFORMIDADE DE CAMPO

Foi adquirida uma imagem estática sem colimador, com quatro milhões de contagens
em matriz de 64 64 pixels. Utilizando uma fonte de tecnécio-99m dentro de uma seringa de
1 mL, posicionada a três metros do detector, com atividade de 11,1 MBq (0,30 mCi).

3.4.RESOLUÇÃO E LINEARIDADE ESPACIAL PLANAS

Os testes de linearidade e resolução espacial planas são realizados através da aquisição


de imagens do objeto simulador (phantom) de barras de chumbo. Pela visualização das
imagens é possível verificar se há ou não distorções das barras de chumbo. Os testes foram
realizados com uma fonte pontual de 11,1 MBq de tecnécio-99m em uma seringa de 1 mL,
posicionada a três metros do detector. Foram adquiridas quatro imagens com cinco milhões de
contagens cada, o phantom de barras é girado em 90° após cada aquisição.

3.5. SENSIBILIDADE

99m
Para realizar o teste de sensibilidade utilizou uma fonte de 40 MBq (1 mCi) de Tc,
em um recipiente de acrílico com 10 cm de diâmetro, a fonte foi dissolvida em 60 mL de
água. Foram adquiridas 10 imagens com duração de 1 minuto cada.

34
3.6.CENTRO DE ROTAÇÃO (COR)

O teste do centro de rotação foi realizado através de uma fonte pontual, confeccionada
em uma capa de proteção de uma agulha de injeção contendo um pequeno pedaço de algodão.
O algodão foi umedecido com 74 MBq (2 mCi) de tecnécio-99m. Esse aparato é colocado no
centro da circunferência de giro do detector. São adquiridas imagens em 360° da amostra. A
Figura 3.3 apresenta os materiais utilizados para a preparação da fonte pontual: algodão, a
tampa e a seringa.

Figura 3.3: Apresentação dos materiais utilizados para preparação da


fonte pontual para o teste do centro de rotação.

35
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos no trabalho serão apresentados em quatro partes principais,


conforme a seguir:
Na primeira parte será descrita a construção de dois objetos simuladores de coração.
Na segunda parte serão apresentados os resultados dos testes de controle de qualidade
das câmaras cintilográficas;
Na terceira parte serão apresentados os resultados obtidos a partir de imagens do
simulador antropomórfico estático de coração;
Na quarta parte serão apresentados os resultados das avaliações realizadas utilizando o
objeto simulador dinâmico de coração.

4.1. CONSTRUÇÃO DOS OBJETOS SIMULADORES

Primeiramente será apresentado o desenvolvimento de um objeto simulador estático


antropomórfico de coração, posteriormente o desenvolvimento de um objeto simulador
dinâmico de coração. Estes objetos simuladores serão descritos em detalhes a seguir.

4.1.1. CONSTRUÇÃO DO OBJETO SIMULADOR ANTROPOMÓRFICO ESTÁTICO DE


CORAÇÃO

Foi projetado e construído um objeto simulador antropomórfico estático de coração


utilizando um coração humano adulto como modelo, o órgão modelo pertence ao acervo do
Museu de Anatomia Humana, Prof. Osvaldo da Cruz Leite, da Universidade Federal de
Sergipe. A Figura 4.1 apresenta o órgão utilizado como modelo para a confecção dos moldes,
a imagem à direita mostra uma visão externa do coração e as duas outras mostram uma visão
da parte interna do órgão, após corte.

36
Figura 4.1: Fotografias do coração humano utilizado como molde.

Os objetos simuladores antropomórficos de coração foram baseados em três outros


objetos simuladores cardíacos já existentes, os simuladores desenvolvidos por Ullmann e
Kuba em 1985, e por Matusiak et al. em 2008, e o simulador comercial da Fluke Biomedical.
Para a confecção do molde da forma do coração foi utilizado alginato odontológico, acrílico e
resina acrílica da marca JET para obter a forma final.
O objeto simulador desenvolvido tem a geometria de um coração adulto humano,
contendo os dois ventrículos (direito e esquerdo) interligados, recobertos com balões de látex.
As Figuras 4.2 (a) exibe um molde de alginato confeccionado a partir do coração utilizado
como modelo. A figura 4.2 (b) mostra os ventrículos de acrílico cobertos com látex. No
momento da utilização, os ventrículos são preenchidos com água para a diluição de 37 MBq
(1 mCi) de sestamibi-tecnécio-99m. Ao serem inflados, os balões expulsam a solução do
simulador; diminuindo o volume cardíaco. A Figura 4.2 (c) mostra o simulador
antropomórfico estático do coração.

37
Figura 4.2: Molde de alginato do coração utilizado como modelo (a), ventrículos cobertos
por látex (b) e simulador antropomórfico de coração (c).

4.1.2. CONSTRUÇÃO DO OBJETO SIMULADOR DINÂMICO DE CORAÇÃO

Como não foi possível obter o volume do ventrículo esquerdo no objeto simulador
antropomórfico estático de coração, devido aos dois ventrículos ser interligados, foi
construído um objeto simulador somente com o ventrículo esquerdo, o que possibilitou a
obtenção do volume exato para cálculo da fração de ejeção. A construção do objeto simulador
dinâmico de coração contendo somente o ventrículo esquerdo foi baseado em
Matusiak et al. (2008).
O objeto simulador dinâmico foi construído em material elástico (látex líquido), sendo
composto por duas cavidades, uma interna e outra externa. Para a obtenção das imagens no
sistema SPECT, a cavidade interna é preenchida com água e a cavidade externa é preenchida
com tecnécio-99m associado ao fármaco sestamibi, dissolvido em água; a cavidade externa
simula a forma do ventrículo esquerdo. A Figura 4.3 (a) mostra um esquema das cavidades do
objeto simulador dinâmico. A Figura 4.3 (b) mostra uma fotografia do objeto simulador de
coração dinâmico.

38
Figura 4.3: (a) Esquema de construção do objeto simulador dinâmico de coração, (b) objeto
simulador dinâmico de coração.

A parte dinâmica do simulador é impulsionada através de um motor ligado a um disco,


o disco se conecta a um pistão que impulsiona as seringas, esse pistão injeta e retira
determinados volumes de água do ventrículo, gerando o movimento dos ventrículos. A
alteração de volume é necessária para simular a variação entre a diástole e a sístole,
indispensável para calcular a fração de ejeção. A Figura 4.4 mostra o motor de impulsão
conectado ao disco, onde é possível regular a medida de fração de ejeção. Esse por sua vez, se
conecta ao pistão com as duas seringas, cada uma com 60 mL.
A frequência da bomba de compressão e descompressão do pistão pode variar de 50 a
90 bpm (batimentos por minutos). A variação do volume do ventrículo entre a diástole e a
sístole pode ser alterada para 30, 40, 48, 50, 60, 70, 80, 90, 100, 110, 112 e 120 mL.
O movimento do coração está acoplado a um simulador de eletrocardiograma (ECG).
O pulso da onda R está acoplado ao batimento do simulador cardíaco. O simulador de ECG
imita a forma da onda de um batimento cardíaco. No simulador de ECG é possível controlar a
velocidade de compressão e descompressão da bomba, ou seja, alterar a velocidade dos
batimentos cardíacos simulados. No simulador de ECG também é possível alterar a altura do
pulso de saída de 1 mV até 2 mV e controlar a forma de onda do batimento cardíaco, ou seja,
simular variações anormais nos batimentos cardíacos, simulando uma doença cardíaca. A
Figura 4.5 mostra a placa de circuito desenvolvida para o simulador de ECG.

39
Figura 4.4: Imagem do motor de impulsão onde é ligado o pistão com as seringas.

O simulador de ECG funciona sem estar acoplado ao simulador dinâmico de coração,


podendo ser utilizado para testar exclusivamente o monitor de eletrocardiograma. A variação
da forma dos batimentos cardíacos só pode ser realizada com o simulador do ECG
desacoplado do motor.

Figura 4.5: Placa de circuito do simulador de ECG.

40
4.2. CONTROLE DE QUALIDADE DA CÂMARA DE CINTILAÇÃO

Nesta seção serão apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir dos testes de
controle de qualidade para avaliação da uniformidade de campo, resolução espacial intrínseca,
sensibilidade e centro de rotação de dois modelos de câmaras cintilográficas: APEX SP4 e
APEX SPX6.

4.2.1. TESTE DE UNIFORMIDADE DE CAMPO

No teste de uniformidade de campo intrínseca foram analisados alinhamento do ganho


de tensão das fotomultiplicadoras, a falha de uma ou mais fotomultiplicadoras, a
homogeneidade do acoplamento óptico e a integridade do cristal de NaI. A uniformidade de
campo deve ser inspecionada visualmente, a imagem obtida deve ter uma aparência uniforme,
ou seja, sem áreas de maior ou menor intensidade (IAEA, 1991, 2009; CNEN-NE 3.05;
THRALL e ZIESSMAN, 2003). A Figura 5.1 mostra os resultados, com correção do
desempenho do circuito, dos testes de uniformidade de campo intrínseca das câmaras de
cintilação avaliadas.
Os resultados encontrados, calculados a partir da Equação 11, estão dentro dos limites
estabelecidos como normais em que a diferença na taxa de contagem de uma área para outra
na imagem não deve ser superior 10%, como pode ser visto na Figura 4.6, com imagens
homogêneas sem nenhuma região de grande contraste. Esses resultados demonstram um
desempenho adequado dos sistemas de aquisição, de acordo com os manuais dos fabricantes,
as normas brasileiras e as recomendações internacionais (CNEN-NE 3.05; IAEA, 1991, 2009;
CHANDRA, 2004).

41
Figura 4.6: Imagem gerada a partir do teste de uniformidade de campo das câmaras de
cintilação APEX SP4 (à esquerda) e APEX SPX6 (à direita).

4.2.2. TESTE DE RESOLUÇÃO ESPACIAL E LINEARIDADE

Os resultados dos testes de resolução espacial foram obtidos com o uso de objeto
simulador de barras paralelas nas câmaras de cintilação utilizadas nesse trabalho. Neste teste o
colimador é retirado, sendo colocado o simulador de barras acima do cristal de NaI da câmara
de cintilação. As imagens obtidas pela câmara da radiação emitida por uma fonte de tecnécio-
99m mostram todos os grupos de barras dos quatro quadrantes do simulador sem distorções.
A Figura 4.7 apresenta os resultados dos testes de resolução espacial e linearidade das
câmaras cintilográficas APEX SP4 e APEX SPX6.

42
Figura 4.7: Imagens obtidas nos testes de resolução espacial e linearidade das câmaras
cintilográficas APEX SP4 (à esquerda) e APEX SPX6 (à direita).

Por análise visual da imagem gerada pelo simulador de barras paralelas e utilizando-se
a Equação 13 do capítulo anterior, foram obtidos os seguintes valores para FWHM (Tabela
4.1).

Tabela 4.1: Resultados obtidos no teste de resolução espacial.

Largura das menores


Valor estimado de
Equipamento barras visualizadas (mm) FWHM (%)
APEX SP4 2,5 4,3
APEX SP6 2,5 4,3

Esses valores representam um bom desempenho das fotomultiplicadoras, cristal em


perfeitas condições de uso e sem deslocamento do fotopico, cujo limite de aceitação é de 10%
do valor de referência. Assim, os sistemas apresentaram resultados dentro dos limites de
aceitação, de acordo com as recomendações da IAEA.

43
4.2.3. TESTE DE SENSIBILIDADE

O teste de sensibilidade foi realizado com colimador de furos paralelos de baixa energia
e alta resolução. Foram realizadas dez aquisições estáticas sucessivas (contagens), cada
aquisição com duração de 1 minuto, utilizando uma amostra de tecnécio-99m com atividade
de 40 MBq. A partir dos valores obtidos nas aquisições, foi calculado o valor médio, e dele
subtraído o valor da contagem para radiação de fundo. Os resultados dos testes foram
calculados através da Equação 14, obtendo-se um valor médio de sensibilidade para
equipamento. Os resultados da sensibilidade das câmaras de cintilação estão apresentados na
Tabela 4.2, sendo considerados satisfatórios porque apresentam desvio percentual menor do
que 10% (CNEN-NE 3.05; IAEA, 1991, 2009).

Tabela 4.2: Valores obtidos no teste de sensibilidade.

Média das Valor da sensibilidade


Equipamento contagens (cpm/kBq)

APEX SP4 (937±7)102 2,34

APEX SP6 (1573±11)102 3,93

4.2.4. TESTE DE CENTRO DE ROTAÇÃO (COR)

O teste de centro de rotação foi realizado com o colimador de baixa energia e alta
resolução nas câmaras de cintilação. O teste mostrou uma correta interseção entre o eixo de
rotação e a perpendicular baixada do centro do plano do detector quando este está paralelo ao
eixo, pois como pode ser visto na Figura 4.8, em nenhum momento as linhas azuis
ultrapassam os traços brancos nos gráficos que limitam os valores aceitáveis.

44
Figura 4.8: Imagens obtidas como resultado do teste para avaliação do centro de rotação, das
câmaras de cintilação APEX-SP4 (à esquerda) e APEX-SP6 (à direita), respectivamente.

A Tabela 4.3 contém os resultados dos desvios nos eixos de rotação X e Y, calculados
a partir do programa de processamento de imagens das câmaras cintilográficas. Para que os
dados obtidos na avaliação sejam considerados satisfatórios, o desvio de cada eixo deve ser
menor que 4 mm (IAEA, 1991, 2009). Embora as câmaras de cintilação tenham apresentado
variações nos eixos X e Y, essas variações estão dentro dos limites aceitáveis pela norma
brasileira e recomendações internacionais (CNEN-NE 3.05; IAEA, 1991, 2009).

Tabela 4.3: Valores obtidos no teste de centro de rotação.

Desvio no Desvio no
Equipamento eixo X (mm) eixo Y (mm)

APEX SP4 3,28 2,96


APEX SP6 3,11 2,73

45
4.3. IMAGENS ESTÁTICAS DO SIMULADOR ANTROPOMÓRFICO DE
CORAÇÃO

Imediatamente após a aquisição das imagens do objeto simulador antropomórfico de


coração, foram obtidas imagens planas do coração sem movimento e imagens tomográficas
em 180°, a partir da oblíqua anterior direita de 45° (OAD 45°), utilizando-se colimador de
baixa energia e alta resolução. A matriz utilizada na aquisição foi de 64×64 pixels. O
simulador antropomórfico foi preenchido com água e dissolvido 37 MBq (1 mCi) de
sestamibi-tecnécio-99m.
Após a reconstrução das imagens, podem ser visualizadas as imagens de cortes
tomográficos do eixo curto transverso, eixo longo horizontal e do eixo longo vertical do
coração. Exames normais devem apresentar distribuição homogênea do radiotraçador por todo
o miocárdio do ventrículo esquerdo, ou seja, deve se apresentar homogênea em todos os
cortes tomográficos (BARBIRATO et al., 2009; THRALL e ZIESSMAN, 2003). Como pode
ser visto na Figura 4.9, a imagem do objeto simulador antropomórfico estático de coração
apresentou pequenas áreas com menor concentração do radiofármaco nos cortes tomográficos,
que podem ter sido geradas por não homogeneização do radionuclídeo ou por formação de
bolhas de ar no interior do objeto simulador.

Figura 4.9: Imagem do simulador antropomórfico estático de coração.


46
Foram adquiridas cinco imagens subsequentes do objeto simulador do coração sem
movimento; em seguida, foi calculado o volume do ventrículo esquerdo estático através do
programa de reconstrução de imagem da câmara. O volume médio do ventrículo esquerdo
calculado por meio dos dados das imagens geradas foi de 144±5 mL.
Segundo a literatura, uma variação do volume do ventrículo esquerdo de até 5%,
determinado através de imagens de SPECT, é aceitável (SCHAEFER et al., 2005). Portanto,
os valores encontrados do volume do ventrículo esquerdo são satisfatórios.

4.4. VARIAÇÃO DE VOLUME DO VENTRÍCULO ESQUERDO NO SIMULADOR


ANTROPOMÓRFICO DE CORAÇÃO

Foram obtidas imagens com o objeto simulador antropomórfico de coração sem


movimento, com alteração do volume do ventrículo esquerdo em 30 mL e em 60 mL, por
meio da inserção de ar nesse ventrículo, mantendo o volume do ventrículo direito constante.
As imagens foram adquiridas na câmara de cintilação APEX SPX6 como tomográficas em
180° do coração, a partir da oblíqua anterior direita de 45° (OAD 45°), utilizando-se
colimador de baixa energia e alta resolução. A matriz utilizada na aquisição foi de 64×64
pixels.
Após a reconstrução das imagens são exibidas imagens de cortes tomográficos do eixo
curto transverso, eixo longo horizontal e eixo longo vertical do simulador de ventrículo
esquerdo. Para o cálculo do volume e da área do ventrículo esquerdo foi utilizado o programa
de processamento de imagem.
A Figura 4.10 mostra a imagem do simulador antropomórfico de coração contendo
ventrículo esquerdo com volume igual a 143 mL e área de 146 cm2.

47
Figura 4.10: Imagem do simulador antropomórfico de coração com volume de 143 mL.

Após a diminuição do volume do ventrículo esquerdo em 30 mL, com o acréscimo de


30 mL de ar no balão que recobre esse ventrículo, o volume médio determinado nas cinco
aquisições de imagem, conforme calculado pelo programa de processamento de imagens, foi
de 118±5 mL. A Figura 4.11 mostra a imagem do simulador antropomórfico de coração com
volume do ventrículo esquerdo de 115 mL.

48
Figura 4.11: Imagem do simulador de coração antropomórfico de coração com volume de
115 mL.

Após a diminuição do volume do ventrículo esquerdo em 60 mL, devido ao acréscimo


de mais 30 mL de ar no balão que o recobre, o experimento foi repetido e o volume médio das
cinco aquisições de imagens desse ventrículo foi novamente calculado pelo programa de
processamento de imagens, como sendo de 85±4 mL. A Figura 4.12 mostra a imagem do
simulador antropomórfico de coração com volume do ventrículo esquerdo de 87 mL.

49
Figura 4.12: Imagem do simulador antropomórfico de coração com volume de 87 mL.

A variação dos volumes do ventrículo esquerdo, calculado pelo programa de


processamento de imagem, está de acordo com as variações impostas pelo simulador
antropomórfico de coração. O resultado está de acordo com a literatura (NGUYEN et al.,
2003).

4.5. IMAGENS DINÂMICAS DO SIMULADOR DINÂMICO DE CORAÇÃO

Para todos os testes realizados com o simulador dinâmico de coração foram realizadas
aquisições tomográficas do simulador dinâmico de coração, adquiridas na câmara de
cintilação APEX SPX6, em 180° do coração, a partir da oblíqua anterior direita de 45° (OAD
45°). A aquisição das imagens são sincronizadas com o ECG. Foram adquiridas oito imagens
por batimento cardíaco simulado. Durante as aquisições foi utilizado colimador de baixa
energia e alta resolução.
50
Os volumes da cavidade cardíaca externa e interna foram aferidos através de dez
medidas. Primeiramente, determinou-se o volume médio da cavidade interna, o qual foi de
180±4 mL; em seguida, foi determinado o volume da cavidade externa sendo encontrado a
média de 160±5.
Para este teste foram adquiridas imagens com matriz de 64 64 pixels. As imagens de
cada quadro (intervalo R-R no eletrocardiograma) foram somadas e reconstruídas. O
processamento das imagens da função ventricular foi realizado pelo programa acoplado nas
câmaras de cintilação. O simulador dinâmico de coração foi calibrado para fornecer o volume
do ventrículo esquerdo em final de diástole (VDF) igual a 160 mL e em final de sístole (VSF)
igual a 80 mL, ou seja, FEVE igual a 50%.
Após o processamento do SPECT gatilhado são obtidos os VDL e os VSF. A Figura
4.13 mostra a imagem obtida através do simulador dinâmico de coração com FEVE de 51%.
Na imagem abaixo, a fração de ejeção do ventrículo esquerdo é mostrada como EF (do inglês
Ejection Fraction).

51
Figura 4.13: Imagem obtida através do simulador dinâmico cardíaco com fração de ejeção de
51%.

4.6. INFLUÊNCIA DA FREQUÊNCIA CARDIÁCA NA MEDIDA DA FRAÇÃO DE


EJEÇÃO DO VENTRICULO ESQUERDO

Para testar a influência da frequência cardíaca do ventrículo esquerdo na medida de


fração de ejeção, a taxa de batimentos cardíacos simulados por minuto (bpm) foi elevada de
50 a 90, em intervalos de 10. Foram realizadas 10 medidas para cada valor de batimento
cardíaco. As imagens foram adquiridas com matriz de 64 64 pixels.

Cada aquisição foi realizada com um volume sistólico final de 85 mL e volume final
de diástole de 160 mL, ou seja, uma fração de ejeção de 50%. A Figura 4.14 mostra os
resultados obtidos, com seus respectivos desvios padrão.

52
Figura 4.14: Gráfico apresentando a influência da frequência cardíaca na medida de
fração de ejeção do ventrículo esquerdo.

Os dados mostram uma variância de 3,1%, ou seja, uma variação não significativa
entre os valores de fração de ejeção obtidos variando a frequência cardíaca. O resultado está
de acordo com os obtidos por Nguyen et al., (2003), que observaram que a frequência
cardíaca não altera significativamente os valores da fração de ejeção do ventrículo esquerdo.

4.7. COMPARAÇÃO ENTRE MEDIDAS DE FRAÇÕES DE EJEÇÃO


ADQUIRIDAS COM DIFERENTES MATRIZES

Foram adquiridas imagens do simulador dinâmico de coração com matrizes de 64×64,


128 128 e 256 256 pixels. Nesta avaliação, determinou-se que fossem aceitos batimentos
com variação de 20% no intervalo R-R do ECG. Para cada matriz foram feitas 10 medidas
com os mesmos parâmetros.
O simulador dinâmico de coração foi calibrado para fornecer uma fração de ejeção de
50%. A Figura 4.15 mostra o gráfico da variação da fração de ejeção do ventrículo esquerdo
de acordo com a matriz de aquisição.

53
Figura 4.15: Gráfico da influência da matriz de aquisição na fração de ejeção do ventrículo
esquerdo.

O resultado está de acordo com os obtidos por Debrun et al., em 2005, que realizaram
uma comparação entre ecocardiografia 4D (o método de diagnóstico de estrutura e
funcionamento do coração baseado no uso de ultrassom permite a visualização das três
dimensões, em tempo real). A técnica SPECT gatilhado mostrou uma boa correlação entre os
volumes de FEVE obtidos nas duas modalidades; porém, com uma pequena superestimação
dos volumes com a técnica SPECT gatilhado devido a influência dos parâmetros de filtragem
e o tamanho do pixel em relação aos volumes medidos através da ecocardiografia 4D.
Os resultados obtidos neste trabalho mostram uma medida de fração de ejeção
ligeiramente maior para as matrizes menores.

4.8. COMPARAÇÃO ENTRE MEDIDAS DE FRAÇÕES DE EJEÇÃO EM


EQUIPAMENTOS DE MEDICINA NUCLEAR

Foi realizada uma comparação de valores de fração de ejeção do ventrículo esquerdo


entre diferentes equipamentos de medicina nuclear, através de um objeto simulador cardíaco
que fornece os mesmos valores de fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Sendo assim, é
possível estudar a variação das mesmas medidas, em diferentes equipamentos.
Foram estabelecidos três valores de fração de ejeção para o objeto simulador dinâmico
cardíaco, 30% (valor baixo), 50% (valor médio) e 70% (valor alto).
54
Em todos os equipamentos foram mantidos os mesmos parâmetros de aquisição de
imagem e mesmos valores para frações de ejeção. Também foi mantida fixa a posição do
objeto simulador. Além disso, foram fixados os valores dos batimentos cardíacos semelhantes
aos de uma pessoa adulta com faixa etária entre 30 e 40 anos, que é de 70 bpm
(PASCHOAL et al., 2006). Em cada câmara de cintilação foram realizadas 10 medidas
correspondente a mesma fração de ejeção.
As imagens foram processadas com o mesmo programa de processamento de imagens.
Os resultados das medidas de fração de ejeção estão listados na Tabela 4.4.

Tabela 4.4: Valores obtidos das medidas de frações de ejeção em diferentes equipamentos

Medidas de fração de ejeção (%)


Valores de fração de ejeção
Equipamento 30(%) 50(%) 70(%)

APEX SP4 29±2 51±3 72±3

APEX SP6 30±2 52±3 72±3

O resultado está de acordo com os obtidos por Makler et al., 1985, que realizaram uma
comparação de medidas de fração de ejeção utilizando um simulador cardíaco, entre onze
serviços de medicina nuclear da Filadélfia, Pensilvânia. Nessa comparação os autores não
observaram diferenças significativas de medidas de fração de ejeção entre os diferentes
equipamentos pesquisados.
Aqui, neste trabalho, também não foram observadas diferenças significativas entre os
valores de fração de ejeção obtidos nos dois equipamentos.

55
5. CONCLUSÕES

Os objetivos deste trabalho foram atingidos, dentre os quais o desenvolvimento e a


avaliação de um objeto simulador estático antropomórfico cardíaco e de um objeto simulador
dinâmico de coração. Foi também possível realizar uma comparação de valores de fração de
ejeção do ventrículo esquerdo obtidos em duas câmaras de cintilação de modelos distintos.
Vale ressaltar que para que estes objetivos fossem alcançados uma série de etapas
intermediárias foram realizadas. Os principais resultados serão descritos a seguir.
Neste trabalho foram desenvolvidos e avaliados dois novos objetos simuladores
cardíacos, um deles foi um objeto simulador estático antropomórfico cardíaco e o outro um
objeto simulador dinâmico de coração. Ambos os objetos simuladores são úteis na realização
de testes de controle de qualidade em câmaras de cintilação e em programas de reconstrução
de cintilografia do miocárdio.
O objeto simulador estático antropomórfico cardíaco permitiu a avaliação de
diferentes volumes do ventrículo esquerdo através de imagens tomográficas em 180° do
objeto simulador a partir da OAD (45°). Os resultados obtidos nesse teste podem ser
considerados satisfatórios, não apresentando diferenças superiores a 5% em cada medida de
volume do ventrículo esquerdo. O objeto simulador estático antropomórfico desenvolvido
neste trabalho pode servir para controle de qualidade de câmaras de cintilação e programas de
aquisição de imagem, permitindo a avaliação diferentes volumes do ventrículo esquerdo.
As imagens do objeto simulador dinâmico de coração foram adquiridas em 180° do
objeto simulador e sincronizadas com o simulador de ECG para aquisição de oito imagens por
batimento cardíaco. O objeto simulador dinâmico de coração avaliou a fração de ejeção do
ventrículo esquerdo de 30%, 50% e 70%, com resultados satisfatórios para todos os valores de
fração de ejeção disponíveis no objeto simulador. Também, permitiu avaliar a influência da
velocidade dos batimentos cardíacos no valor da FEVE. Os resultados mostram que a
velocidade dos batimentos cardíacos não alteram os valores da FEVE. Além disso, o objeto
simulador dinâmico possibilitou avaliação da influência da matriz de aquisição das imagens
no valor da FEVE, os resultados mostram um valor um pouco menor para matrizes de
aquisição maiores; portanto, o tamanho do pixel da imagem influencia no valor da FEVE.
Por meio das análises realizadas neste trabalho também foi possível observar que
diferentes sistemas de aquisição têm valores aproximadamente iguais de FEVE a partir de
parâmetros selecionadas previamente. Portanto, o objeto simulador dinâmico desenvolvido
neste estudo pode servir tanto para controle de qualidade de câmaras cintilográficas quanto
56
para treinamento de profissionais de medicina nuclear, aprimorando o processamento das
imagens a partir de diferentes parâmetros de aquisição. Além disso, o objeto simulador
dinâmico de coração pode ser utilizado para comparações entre equipamentos de serviços de
medicina nuclear, para avaliar possíveis erros de aquisição nas imagens ou mesmo falhas nos
programas de reconstrução das imagens.
Quanto ao custo financeiro final desses novos objetos simuladores, eles apresentam
uma grande vantagem aos simuladores cardíacos comerciais, pois podem ser construídos com
matérias primas de baixo custo. Pode-se estimar que o custo financeiro dos materiais
necessários para a confecção dos objetos simuladores construídos neste trabalho é de apenas
5% do valor dos objetos simuladores dinâmicos de coração disponíveis no mercado,
aproximadamente.

Perspectivas

Aperfeiçoar os objetos simuladores de coração para controle de qualidade em sistemas


SPECT e PET e realizar análises de fração de ejeção para intercomparação de câmaras de
cintilográficas e programas de processamento de imagem desses equipamentos na região
Nordeste.
Aprimorar metodologias para avaliação de doses de radiação ionizante resultantes de
procedimentos diagnósticos cardíacos realizados com uso de radiofármacos.
Aprimorar o controle de qualidade de câmaras cintilográficas e de outros
equipamentos empregados para o diagnóstico cardíaco em medicina nuclear, de acordo com
especificações dos fabricantes dos sistemas e as normas regulamentares.

57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, E. S.; TAUHATA, L. Física Nuclear. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981.

ANVISA, RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA - RDC Nº 38, 2008.

ARAUJO, E. B. A. Utilização do elemento tecnécio-99m no diagnóstico de patologias e


disfunções dos seres vivos. Cadernos Temáticos de Química Nova, 2005. Acessado em
04/04/2010.

ARAÚJO, E. B.; LAVINAS, T.; COLTURATO, M. T.; MENGATTI, J. Garantia da


qualidade aplicada à produção de radiofármacos. Revista Brasileira de Ciências
Farmacêuticas. Vol.44, n.1, 2008.

BAERT, A. L.; SARTOR, K. Diagnostic Nuclear Medicine. Ed. 2a., Springer, 2006.

BARBIRATO, G.B.; AZEVEDO, J. C.; FELIX, R. C. M.; CORREA, P. L.; VOLSCHAN, A.;
VIEGAS, M.; PIMENTA, L.; DOHMANN, H. F. R.; MESQUITA, E. T.; MESQUITA, C. T.
Uso da cintilografia miocárdica em repouso durante dor torácica para descartar infarto agudo
do miocárdio. Arquivos Brasileiros de Cardiologia – Vol. 92, p. 269-274, 2009.

BARBISAN, J. B; STROEHER, I.; LUDWIG, E.; GIORDANI, D.; PELLEGRINI, J. A.


Cintilografia miocárdica perfusional de repouso na avaliação de dor torácica. Revista da
AMRIGS, Vol. 50 p. 324-326, 2006.

BERGMANN, H. Test phantoms in nuclear medicine: planar gamma câmera. Radiation


Protection Dosimetry. Vol. 49, p. 285-293, 1993.

BITELLI, T. Física e Dosimetria das Radiações. 2a Ed. Atheneu, 2006.

BULA MIBI empresa RADIOPHARMACUS, disponível em


http://www.radiopharmacus.com.br/pdf/Bula_6.pdf, acessado em 03/01/2011.

CAMARGO, A. C. Otimização dos procedimentos de preparação marcação e controle de


qualidade do glucarato-99mTc para diagnóstico do infarto agudo do miocárdio. 2007.
Dissertação (mestrado em Tecnologia Nuclear – Aplicações). São Paulo/SP.

CASTRO JUNIOR, A.; ROSSI, G.; DIMENSTEIN, R. Guia prático em medicina nuclear:
A instrumentação. 2a Ed. São Paulo: 2004.

58
CÉSAR, L. A. M. Diretrizes de doença coronariana crônica angina estável. Arquivos
Brasileiros de Cardiologia – Vol. 83, 2004.

CHANDRA, R. Nucler medicine physics – the basics. 6a Ed. New York, Lippincott
Williams & Wilkins, 2004.

CHERRY, S. R.; SORENSON, J.; PHEPLS, M. Physics in Nuclear Medicine. 3a Ed.


Philadelphia, Hardcover, 2003.

CHUNG, K. C. Introdução à física nuclear. Ed. Rio de Janeiro: UERJ, 2001.

CNEN-NE 3.05, Comissão Nacional de Energia Nuclear, Requisitos de Radioproteção e


Segurança para Serviços de Medicina Nuclear, Rio de Janeiro, 1996.

DEBRUN, D.; THÉRAIN, F.; NGUYEN, L.; LÉGER, C. P; VISSER, J. J. N.;


BRUSEMANN-SOKOLE, E. Volume measurements in nuclear medicine gated SPECT and
4D echocardiography: validation using a dynamic cardiac phantom. International Journal of
Cardiac Imaging, Vol. 21, p. 239-247, 2005.

DOMENICO, G.; CESCA, N.; ZAVATTINI, G.; AURICCHIO, N.; GAMBACCINI, M. CT


with a CMOS flat panel detector integrated on the YAP-(S) PET scanner for in vivo small
animal imaging. Nuclear Instruments and Methods in Physics Research Section A. Vol.
571, p. 110-113, 2007.

FERREIRA, F.C.L. Avaliação de medidores de atividade e câmaras cintilográficas


utilizados em medicina nuclear em Sergipe. 2008. Dissertação (mestrado em física),
Aracaju/SE.

GERMANO, G.; KIAT, H.; KAVANAGH, P. B.; MONIEL, M.; MAZZANTI, M.; SU, H.;
KENNETH, F. VAN TRAIN, F. V.; BERMAN, D. S. Automatic Quantification of Ejection
Fraction from Gated Myocardial Perfusion SPECT. The Journal of Nuclear Medicine. Vol.
36, p. 2138-2147,1995

GUS, I.; FISCHMANN, A.; CLÁUDIO, M. Prevalência dos Fatores de Risco da Doença
Arterial Coronariana no Estado do Rio Grande do Sul. Arquivos Brasileiros de Cardiologia.
Vol. 78, p. 478-83, 2002.

59
IAEA-INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. International basic safety
standards for protection against ionizing radiation and for the safety of radiation
sources. Vienna: Safety series. Vol. 115, 1996.

IAEA-INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Quality assurance for SPECT


systems. Vienna, 2009.

IAEA-INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Quality control of nuclear


medicine instruments. Vienna, 1991. (IAEA-TECDOC-602).

ICRU-INTERNATIONAL COMISSION ON RADIATION UNITS AND


MEASUREMENTS. Phantoms and computational models in therapy, diagnosis and
protection. ICRU REPORT 48, 1992.

KEE, S.; LARSEN, E.; PALUCH, K.; SINKE, R.; YAN, K. C.; PILLA, J. J.; XU, C.
Development of a Dynamic Heart Phantom Prototype for Magnetic Resonance Imaging.
Bioengineering Conference, IEEE 36th Annual Northeast. DOI:
10.1109/NEBC.2010.5458235, 2010.

KHAN, S.; WILDE, J. Design of a dynamic cardiac MR phantom for the evaluation of
cardiac MR systems. International Congress Series. Vol. 1256, p.1165–1170, 2003.
LOTUFO, P. A.; Mortalidade pela doença cerebrovascular no Brasil. Revista Brasileira de
Hipertensão. Vol. 4 p. 387-391, 2000.

LUJAMBIO M.; KAPITÁN, M.; DURO, I.; FAJARDO, A.; LANGHAIN, M.; LEYES, D.
L.; FERRANDO, R. SPECT de perfusión miocárdica en un caso de síndrome de
balonamiento apical transitorio del ventrículo izquierdo (miocardiopatía Takotsubo).
Alasbimn Journal. Ano 13, Nº 50, 2010.

MAGALHÃES, A.C.C.; DECKER, H. H.; CASTRO JÚNIOR, A.; FUJIKAWA, G. Y.;


DIMENSTEIN, R.; DUARTE, P. S.; MARTINS, L. R. F.; ALONSO, G. Influência da
espessura do cristal da câmara de cintilação na qualidade das imagens. Revista Imagem. Vol.
26, p. 43-46, 2004.

MAKLER, P.T.; MAKLER, P. T.; MCCARTHY, D. M.; MARSHALL, P. B. K.; BOURNE,


M.; VELCHIK, M.; ALAVI, A. Multiple-Hospital Survey of Ejection-Fraction Variability
Using a Cardiac Phantom. Journal of Nuclear Medicine, Vol. 26, p. 81-84, 1985.

60
MATUSIAK, K.; RADWANSKA, M. W.; STEPIEN, A. Dynamic heart phantom for the
quality control of SPECT equipment. Physica Medica. Vol. 24, p. 112-116, 2008.

MUEHLLEHNER G.; WAKE, R. H.; SANO, R. Standards for Performance Measurements in


Scintillation Cameras. Journal of Nuclear Medicine, Vol. 22, p. 72-77, 1981.

MURRAY, K. J.; ELLIOTT, A.T.; WADSWORTH, J. A New Phantom for the Assessment
of Nuclear Medicine Imaging Equipment. Physics in Medicine & Biology. Vol. 24, p. 188-
192, 1979.

NGUYEN, L. D.; LÉGER, C.; DEBRUN, D.; THÉRAIN, F.; VISSER, J.; SOKOLE, B.
Validation of a volumic reconstruction in 4-D echocardiography and gated SPECT using a
dynamic cardiac phantom. Ultrasound in Medicine and Biology. Vol. 29, p. 1151-1160,
2003.

NOBRE, F.; SERRANO Jr.; C.V. Tratado de Cardiologia. SOCESP – Sociedade de


Cardiologia do Estado de São Paulo. Ed. Manole Ltda, São Paulo, 2005.

OLIVEIRA, F. R. “Uma contribuição ao Controle de Qualidade de Gamacâmera”. 2000.


Dissertação (mestrado em Engenharia), Florianópolis/SC.

OLIVEIRA, R. S.; CARNEIRO-LEÃO, A. M. A. História da radiofarmácia e as implicações


da Emenda Constitucional N. 49. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, vol. 44,
2008.

PASCHOAL, M. A.; VOLANTI, V. M.; PIRES, C. S.; FERNANDES, F. C. Variabilidade da


freqüência cardíaca em diferentes Faixas etárias. Revista Brasileira de Fisioterapia. Vol. 10,
p. 413-419, 2006.

POWSNER, R. A. POWSNER, E. R. Essential Nuclear Medicine Physics. 2a Ed. Boston,


Blackwell Publishing, 2006.

RAMOS, C.D. Cálculo da fração de ejeção do ventrículo esquerdo utilizando contagem


radioativas miocárdicas. 2002. Tese (doutorado em ciências médicas), Campinas/SP.

ROCHA, A. F. G. Medicina Nuclear. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1976.

ROMÁN, J. A. S.; JAUME CANDELL-RIERA, J.; ARNOLD, R.; SÁNCHEZ, P. L.;


AGUADÉ-BRUIX, S.; BERMEJO, J.; REVILLA, A.; VILLA, A.; CUÉLLAR, H.;
HERNÁNDEZ, C.; FERNÁNDEZ-AVILÉS, F. Análisis cuantitativo de la función ventricular

61
izquierda como herramienta para la investigación clínica. Fundamentos y metodologia.
Revista Española de Cardiologia.Vol. 62, p.:535-551, 2009.

SAHA, B. G. Physics and Radiobiology of Nuclear Medicina. 3a Ed. Spreinger, 2006.

SANTOS M. M. S.S., PANTOJA, M. R.; CWAJG, E. Valor prognóstico da cintilografia


miocárdica de perfusão com tetrofosmin marcado com tecnécio-99m sincronizada com o ciclo
cardíaco (“gated SPECT”) na avaliação de pacientes com diabete melito e suspeita clínica de
doença arterial coronariana. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Vol. 90, p. 2-10, 2008.

SCAFF, L. A. M. Física da Radioterapia. Ed. São Paulo: Projeto Saber. Vol. 1; 2010

SHAEFER, W. M.; LIPKE, C. S.; STANDKE, D.; KÜHL, H. P.; NOWAK, B.; KAISER, H.
J.; KOCH, K. C.; BUELL, U. Quantification of left ventricular volumes and ejection fraction
from gated 99mTc-MIBI SPECT: MRI validation and comparison of the Emory Cardiac Tool
Box with QGS and 4D-MSPECT. Journal of Nuclear Medicine. Vol. 46:1256-63. 2005.

SRIWONGTA, S. Validation of ejection fraction obtained from gated spect imaging


using NCAT phantom. 2008. Dissertação (mestrado em tecnologia radiológica), Mahidol
University, Salaya, Tailândia.

SYMON, K. R. Mecânica: Ed. Rio de Janeiro: Campus,1982.

TAUHATA, L.; SALATI, I. P. A.; PRINZIO, R. D.; PRINZIO, A. D. Radioproteção e


Dosimetria: Fundamentos. 5a Rio de Janeiro IRD/CNEN, 2003.

THRALL, J. H.; ZIESSMAN, H. A. Medicina Nuclear. 2a Ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2003.

TURNER, J. E. Atoms, Radiation, and Radiation Protection. Ed. USA: Wiley-VCH, 2007.

ULLMANN, V.; KUBA, J. A general purpose dynamic phantom for modelling cardiac action
in radionuclide ventriculography and angiocardiography. Physics in Medicine & Biology.
Vol. 31, p. 669-675, 1986.

XAVIER, A. M.; MORO, J. T.; HEILBRON, P. F. Princípios Básicos de Segurança e


Proteção Radiológica. Ed. 3a., 2006. Acessado em 02/09/2010,
http://www6.ufrgs.br/spr/SegurancaProtRad.pdf.

ZAIDI. H. Quantitative Analysis in Nuclear Medicine Imaging. Ed. Switzerland, Springer,


2006.

62
ZANCHET, B. A. Desenvolvimento de uma ferramenta para análise quantitativa de
espessamento miocárdico através do processamaento imagens médicas digitais. 2007.
Monografia (Bacharel em Ciência da Computação). Universidade Federal de Pelotas,
Pelotas/RS.

63

Você também pode gostar