Biotecnologia

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BIOTECNOLOGIA NO BRASIL: NORMAS DE BIOSSEGURANÇA E

ACREDITAÇÃO DE LABORATÓRIOS

Ariel de Figueiredo Nogueira Mesquita1, João Felipe dos Santos Sales1, Leonardo
Lima Bandeira2, Suzana Claudia Silveira Martins3, Claudia Miranda Martins3.

1. Universidade Federal do Ceará, Bacharel em Biotecnologia, Departamento de


Bioquímica e Biologia Molecular, Fortaleza, Ceará, Brasil.
arielmesquita26@alu.ufc.br
2. Universidade Federal do Ceará, Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais,
Departamento de Biologia, Fortaleza, Ceará, Brasil.
3. Universidade Federal do Ceará, Professora de Biossegurança, Departamento
de Biologia, Fortaleza, Ceará, Brasil

Recebido em: 15/02/2023 – Aprovado em: 15/03/2023 – Publicado em: 30/03/2023


DOI: 10.18677/EnciBio_2023A5

RESUMO
A biotecnologia tornou-se uma ciência de mudança de paradigma entre as ciências
da vida. Seus benefícios têm alcançado muitos campos práticos, seja na saúde
humana, animal ou agricultura. No entanto, onde quer que haja uma prática de
biotecnologia há um risco biológico associado a ela e seu impacto negativo pode
atingir diversos seres vivos, incluindo os seres humanos. Visto este cenário, a
cooperação de instituições neste campo culminou na criação dos conceitos e
aplicações de biossegurança. Essas relações promoveram a necessidade de
processos regulatórios que equilibrem o incentivo à produção biotecnológica e a
biossegurança. Dentro desse aspecto, os padrões de normalização surgiram como
uma estratégia para estabelecer normas visando a garantia de qualidade e
segurança de produtos e dos recursos humanos presentes em ambiente laboratorial
e empresas, sendo especialmente interessantes para empresas de biotecnologia.
Nesse contexto, essa revisão procura abordar alguns tópicos que a literatura
apresenta sobre esse tema, a fim de se discutir o contexto de biossegurança e da
normalização dentro de empresas de biotecnologia no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: avaliação da qualidade, ISO/IEC 17025, riscos em laboratório.

BIOTECHNOLOGY IN BRAZIL: BIOSAFETY STANDARDS AND LABORATORIES


ACCREDITATION

ABSTRACT
Biotechnology has become a paradigm shifting science among the life sciences. Its
benefits have reached many practical fields, whether in human or animal health and
agriculture. However, wherever there is a biotechnology practice there is a biological
risk associated with it and its negative impact can reach several living beings,
including human. Therefore, the cooperation of institutions in this field culminated in
the creation of biosafety concepts and applications. This interface promotes the need
for regulatory processes that balance incentives for biotechnology production and
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biosafety. In this respect, standardization standards have achieved as a strategy to
establish norms aimed at guaranteeing the quality and safety of products and human
resources present in laboratory and business environments, being especially
interesting for biotechnology companies. In this context, this review seeks to address
some topics the literature presents on this subject, aiming at discussing the context
of biosafety and standardization within biotechnology companies in Brazil.
KEYWORDS: ISO/IEC 17025, laboratory risks, quality assessment.

INTRODUÇÃO
A biotecnologia é uma área interdisciplinar que emprega organismos vivos,
células e moléculas para desenvolver processos e produtos tecnológicos. Ela
desempenha um papel crucial na produção de alimentos, medicamentos,
biocombustíveis e na conservação do meio ambiente. No entanto, o trabalho em
laboratórios de biotecnologia com organismos vivos apresenta riscos potenciais,
tornando-se fundamental a adoção de medidas de biossegurança para minimizá-los
(KEARNS et al., 2021).
A biossegurança está se tornando cada vez mais importante para as ciências
da vida, especialmente devido aos avanços acelerados da biotecnologia nos últimos
anos. Portanto, uma variedade de definições de biossegurança está sendo usada
atualmente, dependendo de seu campo de aplicação. Em geral, pode-se defini-la
como um conjunto de medidas preventivas e protetivas que visam minimizar os
riscos de acidentes e exposição a agentes biológicos. Essas medidas incluem o uso
de equipamentos de proteção individual (EPIs), sistemas de ventilação e filtragem de
ar, sistemas de descontaminação, procedimentos de segurança e treinamento de
funcionários. A implementação dessas medidas é crucial para garantir a segurança
dos trabalhadores e do meio ambiente (MATOS et al., 2021).
A gestão da biossegurança em laboratórios de biotecnologia é uma atividade
complexa que requer a avaliação de riscos, a definição de medidas preventivas e
corretivas e a monitorização do ambiente de trabalho. Para isso, é necessário contar
com profissionais especializados em biossegurança e procedimentos padronizados
de gestão de risco. A implementação desses procedimentos é ainda mais importante
em laboratórios que manipulam agentes biológicos patogênicos, que podem causar
doenças em humanos e animais (RODRIGUES; TALLINI, 2019).
Nesse contexto, a acreditação de laboratórios de biotecnologia é um processo
de avaliação da qualidade dos serviços prestados. A acreditação é realizada por
órgãos nacionais e internacionais que verificam a conformidade dos laboratórios
com padrões de qualidade e segurança estabelecidos. Esse procedimento é uma
forma de garantir que esses laboratórios estão implementando medidas adequadas
de biossegurança e gestão de risco, o que aumenta a confiança na qualidade dos
serviços prestados (PEÑA, 2020).
A acreditação é essencial para garantir a segurança dos trabalhadores, dos
usuários e do meio ambiente. Ela também pode ser um fator determinante na
escolha de fornecedores de serviços e produtos para empresas e instituições. Além
disso, é um processo contínuo que exige a atualização constante dos procedimentos
de gestão de risco e biossegurança, bem como a manutenção dos padrões de
qualidade. É evidente que a biotecnologia é uma área de grande importância para a
produção de bens e serviços, mas que envolve riscos potenciais (ZIMNY; SOWA,
2022). Neste contexto, esta revisão tem como objetivo abordar alguns tópicos que a

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literatura apresenta sobre esse tema, utilizando-a como base para discutir o contexto
da biossegurança e da normalização dentro de empresas de biotecnologia no Brasil.

HISTÓRICO DA BIOTECNOLOGIA E DA BIOSSEGURANÇA


Alimentos fermentados, como queijo, picles e algumas bebidas alcoólicas
eram componentes centrais da dieta de povos antigos, desempenhando papéis
sociais, políticos, econômicos e até mesmo religiosos. Há evidências de produção e
consumo de alimentos fermentados que datam de períodos pré-históricos, mais
especificamente do período Neolítico (6000 a 5000 A.C.), em regiões como a China
Antiga, França Mediterrânica, Escandinávia com seus povos nórdicos, Alemanha
com os celtas, e as primeiras civilizações dos Andes e do Antigo Egito (AOUIZERAT
et al., 2019).
Esse tipo de alimento é fruto das primeiras biotecnologias, que já eram
usadas mesmo que essas civilizações não soubessem o que é uma fermentação ou
uma levedura tão a fundo como sabemos hoje. A cerveja, por exemplo, era
extremamente importante para diversas culturas e sua fermentação era bem
difundida, mesmo sendo mais complexa do que as demais. Algumas das
biotecnologias mais antigas são a produção de vinho e pão, cujos princípios
utilizados hoje ainda são os mesmos daqueles tradicionais, que aparecem até
mesmo na Bíblia cristã (COPETTI, 2019).
Hoje, a Biotecnologia e seus conceitos já são bem estudados e definidos.
Segundo o artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica, Biotecnologia pode
ser definida como aplicações tecnológicas utilizando sistemas biológicos, seres vivos
e/ou seus derivados, para criar ou modificar produtos ou processos com fins
específicos (BRASIL, 1992).
A Biotecnologia como ciência permeia a interseção entre várias áreas do
conhecimento como biologia, química, física, matemática, e utiliza do estudo em
ciências complexas como a biologia molecular, a bioquímica, bioprocessos e a
engenharia genética (BARNES, 2020). Essa interdisciplinaridade possibilita o
desenvolvimento de técnicas e produtos que apresentam impacto direto sobre os
mecanismos responsáveis por controlar a vida. O entendimento dessas implicações
é necessário para o uso consciente das formas de vida em prol das necessidades
humanas. Por ser um país grande e rico em biodiversidade e recursos naturais, essa
preocupação deve ser ainda maior no Brasil (ALVES; COSTA, 2020).
A possibilidade de desenvolver novos produtos a fim de resolver problemas,
melhorar produtos e processos, reduzir custos e maximizar lucros e, principalmente,
melhorar a qualidade de vida torna a Biotecnologia uma área de grande destaque e
interesse na Ciência como um todo, sendo um dos indicadores que medem o grau
de desenvolvimento de um país. Os frutos da Biotecnologia podem ser colhidos em
diversos setores como saúde humana e animal, agroindústria e meio ambiente
(FLORÊNCIO et al., 2020).
Por atuarem na fronteira do conhecimento, empresas de biotecnologia
tornam-se ainda mais competitivas no mercado, muitas vezes tendo maior
permissibilidade em mercados internacionais. Essa ciência se torna ainda mais
relevante para o mercado devido a sua aproximação à denominada Indústria 4.0,
que consiste no desenvolvimento de novas tecnologias que utilizam da união das
interfaces físicas e virtuais, melhorando os processos de troca de dados e
informações e permitindo abordagens diferentes para a resolução de problemas.

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Um exemplo clássico da integração de tecnologias é a bioimpressão 3D, que
utiliza matérias-primas de origem biológica para realizar impressões 3D de produtos
como tecidos animais e vegetais. Por ser capaz de utilizar softwares para melhorar a
precisão na produção desses tecidos, a bioimpressão 3D mostra como a
biotecnologia pode ser associada a novas tecnologias de ponta até mesmo fora da
área das Ciências da Natureza (nesse caso, engenharia de materiais), o que torna
ainda mais latente a necessidade de regulações específicas para essa área tão
ampla e com tantas possibilidades (AMARAL et al., 2020).
Existem inúmeras biotecnologias ainda sendo desenvolvidas, e o uso destas
associadas as outras tecnologias ainda sem confiança e segurança estabelecidas,
tanto em resultados como em consequências para a saúde e meio ambiente, assim
como o grau de incerteza de alguns países que seguem o princípio da precaução,
podem dificultar a exportação de produtos e serviços de empresas de biotecnologia
alinhadas à Indústria 4.0.
Dentro das potencialidades da Biotecnologia, a edição gênica se destaca
pelo seu potencial de revolucionar a medicina e a agricultura, a exemplo do
tratamento de doenças hereditárias, do controle de pragas na agricultura, do
melhoramento nutricional de plantas, da produção de organismos que sintetizam
metabólitos capazes de substituir combustíveis fósseis, dentre outras contribuições
(RICROCH, 2019; CLARKE; KITNEY, 2020).
Entretanto, a aplicação da biotecnologia pode causar danos severos em
caso de falta de gestão dos riscos associados. No caso de tratamento de doenças
por edição gênica, existem discussões sobre potenciais riscos de danos ao DNA, e
consequentemente à saúde do paciente (SANTOS et al., 2019) Um dos pontos mais
discutidos acerca do uso da biotecnologia no mundo é o impacto na agricultura por
meio do uso e comercialização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM),
mesmo décadas após a primeira comercialização de um OGM. Em contrapartida, há
o argumento da redução do uso de pesticidas e o aumento da produtividade para os
agricultores que utilizam de variantes de plantas geneticamente modificadas
(TURCO; PAIVA, 2020).
O risco da dispersão de DNA modificado por meio do cruzamento de plantas
geneticamente modificadas com suas variantes selvagens implica na necessidade
de uma biossegurança maior do que apenas a contenção desses OGM. Assim, é
necessário se considerar o princípio da precaução, a fim de evitar os possíveis
impactos do uso desses organismos na saúde e no meio ambiente. Esses aspectos
éticos e ecológicos trazem à tona a busca por regulações específicas, que
promovam o equilíbrio entre oportunidade e riscos dentro do uso da biotecnologia
para soluções sustentáveis aos problemas existentes na sociedade (WILSON,
2021).
O desenvolvimento da tecnologia do DNA Recombinante permitiu o
isolamento, transferência e recombinação do DNA de diferentes organismos. Em
1973, a transferência e expressão do gene da insulina para a bactéria Escherichia
coli ganhou grande destaque no cenário internacional, pois esse experimento
demonstrou as potencialidades dessa tecnologia. Aliado a esse avanço originou-se a
discussão acerca dos riscos e consequências resultantes de sua utilização
(ZANGARINI et al., 2020).
A fim de se mediar os riscos e benefícios da tecnologia do DNA
recombinante para o homem e para o meio ambiente, foi realizada a Conferência de
Asilomar em 1975 na Califórnia. Esse encontro promoveu o início da construção do
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conceito de biossegurança (GILLESPIE et al., 2019). Assim, a partir das implicações
discutidas na conferência de Asilomar, foram originadas as normas de
biossegurança do National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos, o que
incentivou a comunidade internacional a discutir a necessidade da criação de
legislações específicas para a regulação das atividades que utilizavam a engenharia
genética (LIANG et al., 2019).
No ano de 1992, A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (Eco-92 ou Cúpula da Terra) foi realizada no Rio de Janeiro, com
a finalidade de estabelecer relações de cooperação entre os países participantes
para a criação de acordos internacionais. Esses acordos tinham como base o
princípio da precaução em casos de possíveis danos ao meio ambiente ou
incertezas dos riscos associados às novas tecnologias. Além disso, os acordos da
Eco-92 ressaltaram a importância da integração entre meio ambiente e
desenvolvimento, como uso racional da biodiversidade, resultando no
desenvolvimento sustentável que hoje é o principal objetivo das políticas ambientais
mundiais (LOCATELLI; VAZ JÚNIOR, 2019).
No ano 2000, em Cartagena, Colômbia, durante a Convenção da
Diversidade Biológica (CDB), o Protocolo Internacional de Biossegurança foi
acordado tendo como principal ponto, novamente, o princípio da precaução, que
deve ser adotado em caso de falta de conhecimento científico aprofundado acerca
dos riscos da tecnologia em questão. O consenso de que os produtos transgênicos
devem ter uma identificação específica em seu rótulo também surgiu na CDB. Além
disso, a convenção buscava regular a movimentação de organismos vivos
geneticamente modificados (LMO) entre países, com atribuição de
responsabilidades em caso de danos, como o direito ao país importador de recusar
o produto caso não esteja acompanhado de estudo de risco adequado (PENNA et
al., 2020).

CONCEITOS E PADRÕES DE BIOSSEGURANÇA


Um dos primeiros conceitos de biossegurança foi definido pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) em 1980 e incluía as práticas de prevenção de riscos em
ambientes laboratoriais que utilizavam agentes biológicos patogênicos, além da
classificação dos riscos como biológicos, químicos, físicos, ergonômicos e de
acidente. Nos anos seguintes, esse conceito foi sendo ampliado com a inserção de
novos aspectos referentes à preservação de animais e do meio ambiente (PENNA et
al., 2020).
Com o passar do tempo, foi se difundindo o conceito de biossegurança
apresentado por Teixeira e Valle (1996), que a definiam como o conjunto de ações
voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação dos riscos inerentes às
atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação
de serviços, evidenciando a necessidade de assegurar a saúde humana, dos
animais e a conservação do meio ambiente.
Segundo Wu (2019), o conceito de Biossegurança deve ser ampliado em
uma estrutura que envolva vários aspectos, como: ocupacionais, educacionais,
sociais, informacionais, normativos, organizacionais e tecnológicos. Nesse contexto,
destacam-se a infraestrutura adequada para as atividades realizadas no laboratório,
a valorização dos recursos humanos em contexto ético, a comunicação de fácil
acesso entre os diferentes níveis hierárquicos no ambiente de trabalho, as normas

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de padronização do desenvolvimento das atividades e a organização entre os
diferentes setores funcionais em um laboratório.
Quando se fala sobre biossegurança, é comum surgirem os conceitos de
risco e perigo, que muitas vezes são erroneamente colocados como sinônimos.
Risco é o nível das perdas financeiras, impacto na saúde ou no meio ambiente
decorrentes de uma fatalidade. Perigo seria uma situação ou característica
intrínseca de um agente que propiciam o acontecimento de algum dano ou
problema, ou seja, de um risco. Ao se aplicar os níveis de proteção definidos pela
biossegurança, é possível reduzir o risco associado ao perigo, mas este nunca pode
ser zero (ANGELO, 2016).
Em resumo, perigo é uma situação que tem o potencial de causar danos,
enquanto risco é a probabilidade de que esse dano aconteça. Por exemplo, em
ambientes hospitalares, fluidos corporais e superfícies contaminadas são perigos,
mas ao se entrar em contato com essas situações, como durante procedimentos ou
manipulação e descarte de lixo, por se tratar da exposição ao perigo, configura um
risco. Os maiores fatores para estimular as práticas de biossegurança são
justamente o medo de infecções e de acidentes causados pelos diferentes perigos
(PIRES et al., 2019). Um perigo negligenciado pode gerar um risco, como
mencionado, biológico, químico, físico, ergonômico ou de acidente.
Riscos físicos são aqueles provocados por algum tipo de energia, como
calor, frio, vibrações, pressões anormais ou radiação. Riscos biológicos consistem
em amostras provenientes de seres vivos ou os próprios seres vivos, como animais,
plantas ou microrganismos, assim como materiais que tiveram contato com essas
amostras, que podem incluir sangue, urina, fezes, biópsias, etc. Riscos químicos
abrangem todos aqueles causados por reagentes químicos perigosos seja no estado
líquido, sólido ou gasoso, que podem ser agentes combustíveis, explosivos,
irritantes, voláteis, corrosivos ou tóxicos. Riscos ergonômicos são fruto das
conhecidas LER – lesões por esforço repetitivo. Esses riscos geralmente ocorrem
após longas rotinas de trabalho, como pipetagens repetitivas, uso de cadeiras
inadequadas, balcões com altura incompatível, circulação excessiva ou obstrução
das áreas de trabalho. Por fim, os riscos de acidente consistem em situações de
perigo como infraestrutura inadequada (piso liso ou molhado, fios elétricos expostos,
dentre outros), armazenamento e descarte impróprio de reagentes químicos, uso de
materiais inadequados (por exemplo, manuseio de ácidos concentrados em
recipientes plásticos), manejo inadequado de perfurocortantes, etc (SANTOS et al.,
2019).
O estabelecimento de “níveis de biossegurança” (NB) foi feito pela Comissão
de Biossegurança e Saúde (CBS), instituída pelo Ministério da Saúde, e é uma
forma de mensurar riscos biológicos, especificamente, quanto à sua patogenicidade,
virulência, transmissão, profilaxia e tratamento. Essa escala varia de 1 (NB-1, mais
seguro) a 4 (NB-4, mais perigoso). Agentes biológicos NB-1 são aqueles que
oferecem baixo risco individual e coletivo, não sendo patogênicos a seres humanos
adultos e saudáveis. Os agentes biológicos que apresentam moderado risco
individual e baixo risco coletivo são classificados como NB-2. Esses agentes podem
ser patogênicos, mas sua propagação é limitada e o tratamento e profilaxia dessas
doenças já são conhecidos e eficazes. Agentes NB-3 apresentam alto risco
individual e moderado risco coletivo, podendo ser transmitidos por via respiratória e
causar doenças que nem sempre têm tratamento e são potencialmente letais em
seres humanos e em animais. Por fim, agentes biológicos NB-4 oferecem alto risco
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individual e coletivo, podendo ser transmitidos por vias respiratórias ou
desconhecidas e causar doenças gravíssimas, que não possuem tratamento, em
humanos e animais. Os laboratórios também podem ser classificados quanto à sua
infraestrutura, normas e treinamento de seus funcionários de NB-1 a NB-4, relativo
ao nível de biossegurança dos agentes biológicos com os quais são capazes de
trabalhar com segurança. Existem ainda os agentes de classe de risco especial, que
não obrigatoriamente são patogênicos para seres humanos, mas podem causar
doenças que ainda não existiam nos animais daquele país. Agentes biológicos de
classe especial, se disseminados no meio ambiente, podem trazer graves
consequências econômicas e por isso devem ser manejados em laboratórios NB-4
(GONDIM et al., 2021).
Um tipo de risco cuja existência só começou a ser percebida e debatida mais
recentemente é o risco psicossocial. Esse risco consiste nos problemas causados
pela exigência de resultados, pressão para cumprir prazos e o estresse associado.
Os laboratórios de pesquisa seguem cronogramas que, se muito apertados ou se
algo atrasar, cobranças e estresse aumentam, assim como a intensidade do
trabalho. Os riscos psicossociais se refletem principalmente em danos à saúde
mental do trabalhador, como angústia, agressividade, ansiedade e depressão, mas
que também podem ser refletidos em sintomas físicos como cansaço, irritabilidade,
dificuldade de concentração e distúrbios do sono (VICENTE et al., 2021). Apesar de
estar mais relacionado aos aspectos pessoais (personalidades) e as relações de
poder dentro do laboratório, os riscos psicossociais podem trazer consequências
graves à integridade do pesquisador e da pesquisa e não podem ser negligenciados.
Dentro de um ambiente profissional, existem riscos de acidentes que podem
causar danos físicos inerentes às funções exercidas pelas pessoas que lá atuam,
mesmo que indiretamente. Devido à exposição dos recursos humanos a agentes de
risco, existe a necessidade de procurar eliminar ou reduzir esses riscos, partindo da
identificação dos perigos ao estabelecimento de medidas que possam minimizá-los
dentro de um laboratório (RODRIGUES et al., 2020).
A biossegurança praticada em laboratório como prevenção de riscos pode
ser chamada de “Biossegurança Praticada”, enquanto aquela referente às
legislações que regulamentam o uso e descarte de OGMs é chamada de
“Biossegurança Legal”. Pesquisas e processos industriais que manipulam o DNA de
organismos vivos são o foco do que é conhecido como biotecnologia moderna,
portanto as normas de biossegurança desses organismos devem evoluir lado a lado
com o desenvolvimento das novas tecnologias. Diante desses conceitos e suas
implicações, é seguro afirmar que a biossegurança é um campo estratégico para a
segurança do trabalho e do ambiente (COSTA; COSTA, 2021).
A necessidade de normas que assegurem a qualidade dos dados e dos
produtos gerados nos laboratórios, assim como guiem a implementação da
biossegurança adequada ao ambiente de trabalho levou ao desenvolvimento de
padrões de Sistemas de Gestão de Qualidade (SGQ) internacionais. Sendo assim, é
possível rastrear e avaliar o uso e performance de equipamentos, realizar o controle
de qualidade e precisão das atividades, e garantir a segurança das pessoas dentro
de laboratórios focados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) (RIBEIRO NETO et
al., 2019). Dentre esses padrões, os mais utilizados para um contexto de laboratório
são as Boas Práticas de Laboratório (BPL) e as normas da Organização
Internacional de Normalização (ISO) (MAEHIRA, SPENCER, 2019).

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Os sistemas de gestão da qualidade (SGQ) têm o objetivo de verificar todos
os processos da empresa e como esses processos podem melhorar a qualidade dos
produtos, sendo um sistema formalizado que documenta processos, procedimentos
e responsabilidades para alcançar políticas e objetivos. Além disso, um SGQ ajuda a
coordenar e direcionar as atividades de uma organização para atender aos
requisitos reguladores e comerciais, bem como a melhorar sua eficácia e eficiência
de maneira contínua. Os sistemas de gerenciamento/gestão atendem a muitos
propósitos, dentre os quais incluem-se: melhoria dos processos, redução de custos,
facilitação e identificação de oportunidades de treinamento, envolvimento da equipe
e definição do rumo de toda a organização (OLIVEIRA, 2020).
Na década de 80, a OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) reuniu um grupo de especialistas para formular os
princípios básicos de Boas Práticas de Laboratório (BPL), tendo como objetivo
reduzir as barreiras comerciais de produtos químicos, promover a aceitação e
confiabilidade de resultados, e evitar a repetição desnecessária de experimentos
(CASTELLANO et al., 2022). A BPL é um sistema de qualidade que consiste em um
conjunto de ações que visam garantir qualidade nas atividades, valorizar os
resultados e reduzir possíveis acidentes dentro de um laboratório. Nesse contexto,
estão inclusas ações em vários setores funcionais como planejamento da estrutura
física do laboratório em busca de redução de riscos, utilização de protocolos que
estabelecem padrões a serem seguidos nas atividades, capacitação dos
profissionais que estão atuando no ambiente quanto ao uso dos equipamentos e às
medidas em caso de acidente, e coleta e registro adequados dos dados obtidos das
atividades (RICELLI; AMARAL, 2019).
Outro aspecto relevante no cumprimento das BPL é o conhecimento e
utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC). Os EPI
mais comuns são jaleco, sapato fechado, equipamentos de proteção individual
óculos de proteção, protetor facial e luvas, que impedem impactos e contaminação
por contato direto com as amostras, aparelhos e máscaras de respiração para
proteção contra inalação de gases tóxicos. Os EPC mais necessários em
laboratórios são lava-olhos e chuveiro de emergência para remover rapidamente
contaminantes, ácidos ou chamas dos olhos e do corpo, respectivamente, extintor
de incêndio e, em laboratórios que trabalham com material biológico ou gases
tóxicos, câmara de fluxo laminar e capela de exaustão (SALES, 2022). Outro EPC
muito importante que não costuma ser incluso nesse tipo de lista é a pia, onde é
recomendado que os profissionais adquiram o costume de lavar as mãos ao longo
da rotina de trabalho.
Os laboratórios que possuem o reconhecimento a adesão aos princípios das
BPL apresentam maior confiabilidade, rastreabilidade, consistência e qualidade dos
seus resultados (SANTOS et al., 2019).

PADRONIZAÇÃO E ACREDITAÇÃO NO BRASIL


O mercado empresarial moderno se caracteriza pelo teor competitivo e
globalizado, evidenciando assim, a necessidade de que as empresas adotem
estratégias que lhes proporcionem maior desenvolvimento a fim de se consolidarem
no mercado. A aplicação de normas técnicas influencia o nível da competição
empresarial que vem ocorrendo no mundo, tendo em vista que essas normas
abrangem diversas áreas e setores, influenciando na economia, na segurança das
pessoas, na qualidade dos produtos, bem como nos serviços, e se encontram em
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todos os níveis da organização social, tendo um papel significativo no crescimento
das empresas (FACCO, 2022).
A padronização International Organization for Standardization (ISO)
começou em 1978, quando a Organização de Normatização Internacional (ISO) e a
Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC) publicaram a ISO/IEC Guia 25. Em 1987,
a ISO publicou o primeiro conjunto das normas da qualidade ISO 9000 que são
modelos que buscam garantir a qualidade em projetos, desenvolvimento, produção,
instalação e inspeção. A ISO conceitua qualidade como o grau das características
inerentes ao produto ou serviço que satisfazem as condições do cliente. Dentro
desse princípio está o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), que, como já
mencionado, tem como objetivo estabelecer padrões de qualidade desejados e
impedir a não conformidade com esses padrões, desse modo, exigindo um conjunto
de processos e atividades de gestão em que haja a provável redução em não
conformidades e desperdícios ao longo do processo (STERGIOUet al., 2019).
Entretanto, mesmo sendo aplicadas em diversos setores tanto de produção
quanto de serviços, existem setores em que os modelos estabelecidos pela ISO
9000 não são capazes de garantir a qualidade e eficácia dos objetivos. Tendo em
vista a especificidade de laboratórios de ensaio e calibração, foi elaborada a norma
ISO/IEC 17025 (ABNT, 2008). A primeira versão da norma ISO/IEC 17025 foi
publicada em 1999, sendo posteriormente atualizada em 2005 e em 2017. Essa
norma regula os requisitos necessários para se obter resultados consistentes,
confiáveis e imparciais em análises laboratoriais, sendo referência mundial na área.
No Brasil, foi integrada à Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT),
sendo a Coordenação Geral de Acreditação (CGCRE) do Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) responsável pelo processo de
acreditação da norma (SANTOS, 2019).
Nesse sentido, a implementação de um SGQ baseado na ABNT ISO/IEC
17025:2017 permite a análise dos processos das empresas visando a melhoria da
qualidade dos produtos e serviços ofertados, resultando em atendimento de
excelência aos clientes. A garantia dessa qualidade promove a confiança na
execução do planejamento desse SGQ (ABNT, 2017).
Para a implementação de um SGQ, são necessários a nomeação de um
gerente responsável pelo projeto, o registro adequado das documentações
(procedimentos, operações e validação dos processos), a redação de um manual de
qualidade a ser seguido com as instruções de implementação do SGQ e a estrutura
gerencial do laboratório e, por fim, o controle das não conformidades. Após a
implementação do SGQ, a empresa ou instituição responsável pelo laboratório pode
entrar com um pedido de acreditação desse SGQ de acordo com a ISO/IEC
17025:2017 à CGCRE. A equipe avaliadora desse órgão irá analisar toda a
documentação enviada e realizar uma visita técnica ao local, para verificar a
implementação do SGQ e a capacitação técnica dos profissionais. Caso tudo esteja
nos devidos conformes, a CGCRE formaliza a acreditação desse SGQ
(GONÇALVES, 2020).
A acreditação é uma avaliação externa, sistemática, periódica, sistêmica e
reservada que certifica se determinada empresa, produto ou serviço atende a
padrões previamente estabelecidos como ótimos. Não se pode confundir
acreditação com fiscalização, licenciamento ou certificação, uma vez que a
acreditação busca atestar excelência e promover a cultura de qualidade e

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segurança, a fim de valorizar e incentivar a constante melhoria dos serviços (TREIB
et al., 2022).
Desde 2019, o INMETRO estabeleceu que para solicitar a acreditação, o
laboratório deve apresentar um relatório de auditoria interna, de modo a comprovar a
conformidade aos requisitos da ABNT ISO/IEC 17025:2017. Os certificados de
acreditação ISO possuem validade de 3 anos após sua emissão, sendo realizadas
auditorias periódicas de manutenção para a renovação do certificado (GONÇALVES;
CUNHA, 2020).

REGULAÇÃO PARA BIOTECNOLOGIA NO BRASIL


Segundo Ferro e Paixão (2021), as regulações das aplicações de
biotecnologia na agricultura, no meio ambiente e na saúde pública parecem se
aproximar do princípio da precaução, que observa se o potencial benéfico daquela
tecnologia justifica e supera os possíveis danos causados. Além disso, essas
normas parecem afetar também a produção biotecnológica na agricultura,
demonstrado pelas limitações legais e ambientais na produção de plantas
geneticamente modificadas tolerantes a herbicidas e a insetos por empresas
multinacionais.
Uma maior aproximação ao princípio da inovação, ou seja, uma maior
permissibilidade no uso de novas tecnologias, parece incentivar a produção
biotecnológica. Uma vez que a biotecnologia está em constante desenvolvimento,
novos riscos associados às novas tecnologias estão sempre sendo descobertos e
mensurados, como a exemplo das New Breeding Plant-Breeding Techniques
(NBTs), conjunto de técnicas recentes utilizadas para a engenharia de plantas
(SALONIA et al., 2020). Outra técnica que tem sido frequentemente tópico de debate
é a tecnologia CRISPR-Cas9 para a edição genética, que utiliza de complexos
proteicos já existentes em algumas bactérias capazes de reconhecer sequências de
DNA palindrômicas e clivá-las em locais altamente específicos, permitindo a
inserção de uma sequência de DNA de interesse (DUAN et al., 2021).
Com os constantes avanços tecnológicos na área de engenharia genética e
a polêmica acerca dos OGMs no mundo até a década de 90, houve a necessidade
de regulamentar atividades relacionadas a essas áreas. Assim, no Brasil, foi
homologada a lei Nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, que estabelece normas para o
uso das técnicas de engenharia genética e liberação de OGMs no meio ambiente,
tendo como abrangência as suas relações com a promoção de saúde no ambiente
de trabalho, no meio ambiente e na comunidade (BRASIL, 1995).
Com essa lei, foi criada a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio), composta por membros das áreas humana, animal, vegetal e ambiental
para estabelecer normas às atividades que envolvam construção, cultivo,
manipulação, uso, transporte, armazenamento, comercialização, consumo, liberação
e descarte de OGMs dentro do território brasileiro. Além disso, a CTNBio possuía a
competência de decisão para a aprovação de pesquisas e comercialização de
produtos principalmente relacionados a OGMs. Entretanto, a legislação existente
não era apropriada para a realidade do constante avanço do desenvolvimento das
tecnologias, evidenciando uma exigência por melhores qualificações legais por parte
de investidores e da comunidade científica (FONSECA; GUIVANT, 2019).
Em 19 de fevereiro de 2003, foi criada a Comissão de Biossegurança em
Saúde (CBS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, que tem como objetivo definir
estratégias de atuação, avaliação e acompanhamento das ações de biossegurança,
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em virtude da melhor relação entre o Ministério da Saúde e as instituições que lidam
com o tema.
Por fim, em 2005, ocorreu uma atualização da lei Nº 8.974 para a Lei
11.105/2005, que destacou pontos importantes sobre o uso de OGMs e derivados
como construção, cultivo, produção, manipulação, transporte, transferência,
importação, exportação, armazenamento, pesquisa, comercialização, consumo,
liberação no meio ambiente e descarte. Além disso, a lei passou a englobar o
manuseio de células-tronco para fins de pesquisa e aperfeiçoou o caráter técnico do
CTNBio, estabelecendo que os membros devem ser compostos por profissionais
com grau de doutor nas áreas de biotecnologia, biossegurança, biologia, saúde
humana, saúde animal e meio ambiente (SALES, 2022).

DIFICULDADES INERENTES À REGULAÇÃO DE EMPRESAS DE


BIOTECNOLOGIA
A garantia de qualidade de um laboratório com acreditação ABNT ISO/IEC
17025 pode facilitar o processo de exportação de produtos e serviços, tendo em
vista o reconhecimento internacional da excelência na padronização de seus
ensaios, qualidade e segurança dos produtos e serviços ofertados e capacitação dos
recursos humanos envolvidos. Dentro dessa abordagem, a acreditação passa a
trazer um valor agregado à empresa de biotecnologia, por meio do maior poder de
competitividade e confiança dos clientes na empresa.
A aplicação da ABNT ISO/IEC 17025 em empresas aumenta o período de
adaptação dos funcionários à rotina de trabalho, devido ao alto nível de exigência
das normas. Assim, é necessário o comprometimento da gestão de liderança dessas
empresas, desenvolvendo dentro do ambiente empresarial a valorização da gestão
da qualidade, a implementação e a manutenção desses sistemas de gestão, assim
como fornecendo o suporte e recursos necessários para a capacitação dos recursos
humanos, e o registro de suas atividades e resultados (JESUS, 2021).
Um dos grandes problemas referentes à implementação de SGQs e ao
processo de acreditação é o alto custo financeiro que isso traz para a empresa,
devido à necessidade de adequação às exigências de estrutura e conformidade com
os padrões determinados pela norma, além do treinamento dos recursos humanos
presentes no ambiente laboratorial. Ao obter a acreditação, as empresas que
priorizam qualidade se tornam mais competitivas no mercado, e o custo associado à
implementação de um SGQ passa a ser interpretado como investimento para o
desenvolvimento da empresa (GONÇALVES; CUNHA, 2020).
Esse alto custo é um dos principais pontos que dificultam a escolha das
empresas em buscarem a acreditação, assim como o tempo a ser dedicado para
obter essa certificação, o que justifica a baixa quantidade de empresas que possuem
laboratórios de Biotecnologia acreditados: dos 1250 laboratórios acreditados pela
CGCRE no Brasil, apenas 26 (2%) são de biotecnologia. Os fatores inerentes à
realidade das empresas podem dificultar o processo de implementação de medidas
de biossegurança em ambiente de trabalho laboratorial. A adequação de sua
infraestrutura, implementação de um sistema de gestão de qualidade, redução de
lucros a curto prazo devido aos investimentos dispendidos para obtenção da
acreditação e o já alto custo dos insumos são fatores que devem ser levados em
consideração durante os processos de implementação de SGQ para empresas
(SALES, 2022).

ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer – Jandaia-GO, v.20 n.43; p. 66 2023


O aumento do custo e a ampliação do tempo necessário para a entrada dos
produtos e serviços no mercado são pontos de preocupação para os governos, pois
isso poderia afetar a implementação da acreditação de empresas de biotecnologia
em países em desenvolvimento, como o Brasil. A realidade econômica e estrutural
desses países é evidenciada por utilizar de estratégias de redução de custos para
essas empresas, como a aplicação de benefícios fiscais com o objetivo de atrair sua
instalação.
Assim, pela visão das empresas de biotecnologia, esse valor é considerado
uma ampliação do custo já elevado associado a P&D dependente do sistema
regulatório local, e possivelmente tem impactos nos processos de produção e
transferência de tecnologia, o que mesmo de forma indireta afeta os interesses da
sociedade (CUCCO, 2022).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Empresas de biotecnologia podem agregar valor aos seus produtos ao se
adequarem às normas que garantam qualidade e biossegurança, ganhando maior
permissibilidade em mercados internacionais e maior confiança por parte de seus
clientes. No Brasil, a Coordenação Geral de Acreditação (CGCRE), pertencente ao
INMETRO, é a instituição responsável pelo processo de acreditação da norma,
assim realizando as visitas para vistorias de conformidade com as exigências da
norma, como a fiscalização da estrutura física, do treinamento dos recursos
humanos, da organização e coleta dos dados e do cumprimento dos protocolos de
acordo com a atuação do laboratório a ser avaliado.
Entretanto, no Brasil, o alto custo do processo de adequação às exigências
estruturais e de recursos humanos da acreditação ABNT ISO/IEC 17025 pode
dificultar o seu acesso por empresas de biotecnologia, e essa dificuldade pode ser
um dos fatores pela baixa amostragem de laboratórios de empresas de
biotecnologia com acreditação que se observa atualmente.

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