PARECER - N. - 00303 2024 PROCURADORIA PFIFPAR PGF AGU

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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL JUNTO AO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ
PROCURADORIA
AV. JOÃO PAULO II, S/Nº - PERÍMETRO: PASSAGEM MARIANO/SAGRADO CORAÇÃO DE JESUSBAIRRO -
CASTANHEIRACEP: 66.645-240TELEFONE: (91)3342-0576/3342-0597CNPJ/IFPA - 10.763.998/0001-30

PARECER n. 00303/2024/PROCURADORIA/PFIFPARÁ/PGF/AGU

NUP: 23051.012625/2021-57
INTERESSADOS: INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ - IFPARA
ASSUNTOS: ATIVIDADE FIM

EMENTA: ADMINISTRATIVO. PESSOAL. CONCESSÃO DE PROGRESSÃO. ATO NULO. NÃO


DETECÇÃO DE MÁ FÉ. IMPOSSIBILIDADE DE ANULAÇÃO. DECADÊNCIA. RECOMENDAÇÕES A
IFES.

I - Do relatório

01. Vêm os presentes a esta Procuradoria para análise e manifestação em função do DESPACHO Nº 144/2024 -
REI/CLN, que relata o procedimento administrativo para revisão, de ofício, da progressão funcional por capacitação concedida ao
servidor Elvislei Mendes Miranda, matrícula SIAPE 1669426, e apresenta os seguintes questionamentos jurídicos para análise:

a) É cabível a revisão administrativa sobre a progressão do servidor Elvislei Mendes Miranda concedida no ano
de 2009, sem a observância do interstício de 18 meses estabelecido no art. 10 da Lei 11.091/2005, diante do prazo
decadencial disposto na Lei 98784/99? Em caso positivo, caberia a reposição ao erário, diante de eventuais
institutos da prescrição e decadência?

b) Considerando que houve uma mudança de entendimento por parte do SIPEC, em relação aos efeitos retroativos
da progressão TAE, estaria caracterizado boa fé do servidor no recebimento dos valores?

II - Da análise jurídica

II.1. Da abrangência da análise

02. Primeiramente, importa ressaltar que o exame realizado por este órgão de execução da Procuradoria-Geral
Federal junto ao IFPA se dá nos termos do art. 11 c/c artigo 18 da Lei Complementar nº 73/93 - Lei Orgânica da Advocacia Geral
da União, do art. 10, § 1º, da Lei nº 10.480/2002, subtraindo-se da análise questões que refogem do espectro jurídico da demanda.,
nos termos da Boa Prática Consultiva – BPC n° 7, que assim dispõe:

A manifestação consultiva que adentrar questão jurídica com potencial de significativo reflexo em aspecto
técnico deve conter justificativa da necessidade de fazê-lo, evitando-se posicionamentos conclusivos sobre temas
não jurídicos, tais como os técnicos, administrativos ou de conveniência ou oportunidade, podendo-se, porém,
sobre estes emitir opinião ou formular recomendações, desde que enfatizando o caráter discricionário de seu
acatamento. (Manual de Boas Práticas Consultivas aprovado pela Portaria Conjunta nº 01, de 2 de dezembro de
2016).

03. Feita a ressalva, passa-se à análise.

II.2. Dos atos administrativos

II.2.1. Da anulação e da convalidação dos atos administrativos

04. Reza a Súmula 473 do STF que:

Súmula 473
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais , porque deles
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. (o original não contém grifo)

0 5 . Assim, a anulação atinge o ato por razões de ilegalidade, já que, tendo por princípio basilar o da
LEGALIDADE, à Administração não é dado fazer permanecer no mundo jurídico atos que, por sua própria natureza, contrariem a
lei.

06. Os vícios de legalidade podem atingir, um, alguns ou todos os requisitos de validade do ato, quais
sejam: competência, finalidade, forma, motivo ou causa, e o seu objeto ou conteúdo, s egundo a lição de Maria Sylvia Zanella
Di Pietro, verbis:

“No Direito Civil, os vícios estão previstos nos artigos 166 e 171 do Código Civil (artigos 145 e 147 do CC de
1916), correspondendo, respectivamente, às nulidades absolutas e relativas; eles se referem, basicamente, aos
três elementos do ato jurídico: sujeito, objeto e forma.
No Direito Administrativo, também, os vícios podem atingir os cinco elementos do ato, caracterizando os vícios
quanto à competência e à capacidade (em relação ao sujeito), à forma, ao objeto, ao motivo e à finalidade.
Esses cinco vícios estão definidos no artigo 2º da Lei de ação popular (Lei nº 4.717 de 29-6-65 .” (DI PIETRO,
Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. – 22 ed. – São Paulo: Atlas, 2009, p. 236)

07. Por outro lado, os vícios administrativos podem ser de legalidade ou de legitimidade; sanáveis ou
insanáveis. Quando se estiver diante de vício insanável (eivado de nulidade absoluta), a Administração Pública tem a
obrigação de anular o respectivo ato. Já quanto ao vício considerado sanável (nulidade relativa), poderá
ser anulado ou convalidado (corrigido), por meio de ato próprio da Administração, desde que não gere lesão ao interesse público ou
prejuízo a terceiros de boa-fé.

08. O instituto da convalidação, portanto, já se encontra previsto na Lei Federal de nº 9.784/1999 (legislação que
regula o processo administrativo federal), que, em seu art. 55, dispõe:

Art. 55 - Em decisão na qual se evidencia não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros,
os atos administrativos poderão ser convalidados pela própria Administração.

09. Ao analisar o citado dispositivo de lei, Maria Sylvia Zanella Di Pietro assinala que, muito embora o legislador
tenha se utilizado do verbo poder, a regra não é facultativa, e sim obrigatória, com base no princípio da legalidade:

“O uso do verbo poder no artigo 55 da Lei nº 9784/99 não significa necessariamente que o dispositivo esteja
outorgando uma faculdade para a Administração convalidar o ato ilegal, segundo critérios de
discricionariedade; como em tantas outras hipóteses em que a lei usa o mesmo verbo, trata-se, no caso, de
reconhecimento de um poder de convalidação que pode ser exercido na esfera administrativa, sem necessidade
de procura pela via judicial. A convalidação é, em regra, obrigatória, se se pretende prestigiar o princípio da
legalidade na Administração Pública.” (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. – 22 ed. – São
Paulo: Atlas, 2009, p. 247).

10. Já a anulação dos atos administrativos também encontra respaldo na referida Lei Federal de nº 9.784/1999,
segundo a qual:

Art. 53 – A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-
los por motivo de conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
Art. 54 – O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para
os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
§1º - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro
pagamento.
§2º - Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe
impugnação à validade do ato.

11. Feita esta breve digressão, discorre-se, agora, acerca do instituto da Decadência.

II.2.2. Da Decadência

12. Cumprirá aqui, a partir do tanto quanto dispõe a Lei nº 9.784/99, analisar este órgão jurídico o alcance do
instituto da DECADÊNCIA.

13. De início, é certo asseverar, quando se trata de analisar o poder-dever da Administração de anular seus atos, a
existência de possível conflito entre dois importantes princípios constitucionais, quais sejam: o da legalidade e da segurança
jurídica, de observância obrigatória, também no âmbito do Direito Administrativo.

14. Pode-se perceber que, enquanto o princípio da Legalidade reduz o campo de incidência do instituto da
Decadência, limitando-o aos atos anuláveis, o segundo (da segurança jurídica) o amplia, estendendo seus efeitos, também, aos atos
nulos, em homenagem à sempre esperada legitimidade dos atos praticados pela Administração.

15. No entanto, o que deve ficar patenteado é que o limite imposto à autotutela administrativa, dar-se-á sempre em
favor da estabilidade das relações jurídicas, assegurando-se ao administrado a previsibilidade do comportamento da
Administração, com se lê da lição do ilustre Jorge Amaury Maia Nunes, no livro Segurança Jurídica e Súmula Vinculante:

“É claro que a regra geral cede perante peculiaridades do caso concreto. É possível que o ato da administração
pública tenha gerado direitos que ingressaram na esfera patrimonial do administrado. Nessas circunstâncias, a
instauração do processo administrativo com todos os requisitos da Lei 9.784/99 pode não ser capaz de assegurar
a pretendida anulação. É que, às vezes, o tempo decorrido foi suficiente para permitir a consolidação do direito
no patrimônio do administrado, sem que esse tivesse agido de má-fé. Em hipóteses desse jaez, o princípio da
legalidade estrita cede passo ao princípio da segurança jurídica.” (NUNES, Jorge Amaury Maia. Segurança
jurídica e súmula vinculante. São Paulo: Saraiva, 2010. – (Série IDP). p. 152.) (grifos ausentes no original)

16. Nesse caso, impõe-se a aplicação da técnica de ponderação de interesses, que segundo os ensinamentos do
jurista Daniel Sarmento deve ser assim compreendida:

“A ponderação de interesses só se torna necessária quando, de fato, estiver caracterizada a colisão entre pelo
menos dois princípios constitucionais incidentes sobre um caso concreto. Assim, a primeira tarefa que se impõe
ao intérprete, diante de uma possível ponderação, é a de proceder à interpretação dos cânones envolvidos, para
verificar se eles efetivamente se confrontam na resolução do caso, ou se, ao contrário, é possível harmonizá-los.
Nesta tarefa, estará o exegeta dando cumprimento ao princípio da unidade da constituição, que lhe demanda o
esforço de buscar a conciliação entre normas constitucionais aparentemente conflitantes, evitando as
antinomias e colisões. Isto porque a Constituição não representa um aglomerado de normas isoladas, mas
um sistema orgânico, no qual cada parte tem de ser compreendida à luz das demais. Assim, como ressaltou
Canotilho, o princípio da unidade obriga o intérprete a considerar a constituição em sua globalidade e a
procurar harmonizar os espaços de tensão entre as normas constitucionais a concretizar.” (grifou-se)

17. Ao analisar o conflito entre os aludidos princípios, entretanto, a doutrina majoritária não tem hesitado em
priorizar o princípio da legalidade, sob o fundamento de que os atos nulos não produzem efeitos, e, assim, o art. 54 da Lei n.º
9.784/99 incidiria apenas sobre os atos anuláveis. Nesse sentido, convém transcrever as lições do jurista Felipe R. Deiab :

“Os atos nulos ou absolutamente insanáveis , a seu turno, como já salientamos, contrariam de tal forma o
ordenamento que não podem ser sanados nem pelo tempo. Correspondem às hipóteses de anulação de atos
administrativos viciados, para as quais a lei não instituiu prazo decadencial (assemelhando-se a um direito
potestativo sem prazo definido em lei para o seu exercício).” (DEIAB, Felipe R. Algumas reflexões sobre a
prescrição e a decadência no âmbito da atuação dos Tribunais deContas. Revista Brasileira de Direito Público,
Belo Horizonte, ª 2, n. 4, p. 128, jan./mar. 2004.) (grifou-se)

18. Outro não é o entendimento da doutrinadora Raquel Melo Urbano de Carvalho que, ao analisar a decadência
administrativa, assim se manifesta:

“Atentando para a posição doutrinária majoritária de que atos com vícios de finalidade, de motivo ou de
conteúdo são necessariamente nulos e, assim, não devem produzir efeitos, tem-se como incabível a decadência
qüinqüenal para o exercício da autotutela administrativa em tais situações. O art. 54 da Lei Federal nº 9.784
atingiria somente os atos anuláveis, a saber, aqueles com vícios de sujeito ou de forma, se esta não for exigida
pela lei. Estes seriam os atos viciados que apenas poderiam ser revisto no prazo de decadência 05 (cinco) anos,
salvo comprovada má-fé.” (Curso de Direito Administrativo. Parte Geral, Intervenção do Estado e Estrutura da
Administração. Bahia: EditoraJusPodivm, 2008. p. 555.)(grifos não constam no original)

19. Entretanto, em que pese a lucidez da argumentação doutrinária, a realidade que se vislumbra no Judiciário é bem
outra, notadamente no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, que têm priorizado o princípio da segurança
jurídica, consoante se pode verificar da leitura das ementas abaixo transcritas:

“CONTROLE EXTERNO – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO – MOVIMENTAÇÃO FUNCIONAL – FATOR


TEMPO – CONTRADITÓRIO. O ato de glosa do Tribunal de Contas da União na atividade de controle externo,
alcançando situação constituída – ocupação de cargo por movimentação vertical (ascensão) -, fica sujeito ao
prazo decadencial de cinco anos previsto no artigo 54 da Lei nº 9.784/99 e ao princípio constitucional do
contraditório, presentes a segurança jurídica e o devido processo legal." (MS 26363/DF – DISTRITO
FEDERAL, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJ 11.04.2008)

“SERVIDOR PÚBLICO. Funcionário (s) da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Cargo.
Ascensão funcional sem concurso público. Anulação pelo Tribunal de Contas da União – TCU.
Inadmissibilidade. Ato aprovado pelo TCU há mais de cinco (5) anos. Inobservância do contraditório e da ampla
defesa. Consumação, ademais, da decadência administrativa após o qüinqüênio legal. Ofensa a direito líquido e
certo. Cassação dos acórdãos. Segurança concedida para esse fim. Aplicação do art. 5º, inc. LV, da CF, e art.
54 da Lei federal nº 9.784/99. Não pode o Tribunal de Contas da União, sob fundamento ou pretexto algum,
anular ascensão funcional de servidor operada e aprovada há mais de 5(cinco) anos, sobretudo em
procedimento que lhe não assegura o contraditório e ampla defesa." MS 26782/DF/DF, Rel Min. Cezar Peluso,
Tribunal Pleno, DJ 22.02.2008)

“Mandado de Segurança. Acórdão do Tribunal de Contas da União. Prestação de Contas da Empresa Brasileira
de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO. Emprego Público. Regularização de Admissões. 3. Contratações
realizadas em conformidade com a legislação vigente à época. Admissões realizadas por processo seletivo sem
concurso público, validadas por decisão administrativa e acórdão anterior do TCU. 4. Transcurso de mais de
dez anos desde a concessão da liminar no mandado de segurança. 5. Obrigatoriedade da observância do
princípio da segurança jurídica enquanto subprincípio do Estado de Direito. Necessidade de estabilidade das
situações criadas administrativamente. 6. Princípio da confiança como elemento do princípio da segurança
jurídica. Presença de um componente de ética jurídica e sua aplicação nas relações jurídicas de direito público.
7. Concurso de circunstâncias específicas e excepcionais que revelam: a boa-fé dos impetrantes; a realização de
processo seletivo rigoroso; a observância do regulamento da Infraero, vigente à época da realização do
processo seletivo; a existência de controvérsia, á época das contratações, quanto à exigência, nos termos do art.
37 da Constituição, de concurso público no âmbito das empresas públicas e sociedades de economia mista.
8. Circunstância que, aliadas ao longo período de tempo transcorrido, afastam a alegada nulidade das
contratações dos impetrantes. 9. Mandado de Segurança deferido." (MS 22357/DF - DISTRITO FEDERAL,
REL. MIN. GILMAR FERREIRA MENDES, TRIBUNAL PLENO, DJ 05.11.2004)”

“Servidor Público. Funcionário. Aposentadoria. Cumulação de Gratificações. Anulação pelo Tribunal de Contas
da União – TCU. Inadmissibilidade. Ato julgado legal pelo TCU há mais de cinco (5) anos. Anulação do
julgamento. Inadmissibilidade. Decadência administrativa. Consumação reconhecida. Ofensa a direito líquido
e certo. Respeito ao princípio da confiança e segurança jurídica. Cassação do acórdão. Segurança concedida
para esse fim. Aplicação do art. 5º, inc. LV, da CF, e art.. 54 da Lei Federal nº 9.784/99. Não pode o Tribunal
de Contas da União, sob fundamento ou pretexto algum, anular aposentadoria que julgou legal há mais de 5
(CINCO) anos." (MS 25963/DF – DISTRITO FEDERAL, REL. MIN. CEZAR PELUSO. TRIBUNAL PLENO.
DJ 21.11.2008)

“MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO CIVIL. PROCESSO


ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. CARGO PÚBLICO. HABILITAÇÃO LEGAL. FALTA. EXONERAÇÃO EX
OFFICIO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. MÁ-FÉ. DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA. ART. 54 DA LEI Nº
9.784/99. I – O prazo decadencial para a Administração anular atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis aos administrados decai em cinco anos, contados de 1º/2/1999, data da entrada em vigor da Lei nº
9.784/99. Contudo, o decurso do tempo não é o único elemento a ser analisado para verificação da decadência
administrativa. Embora esta se imponha como óbice à autotutela tanto nos atos nulos quanto nos atos anuláveis,
a má-fé do beneficiário afasta sua incidência. (...) III – Incumbiria à Administração Pública expor, no ato
decisório, as razões de fato e de direito que fundamentariam a não-aplicação do art. 54 da Lei n.º 9.784/99,
analisando especificadamente a existência de má-fé da impetrante. A falta de motivação, neste ponto, acarreta
a nulidade do ato de exoneração. Segurança concedida para reconhecer a nulidade da Portaria 8/2008 por vício
de motivação, determinando-se a reintegração da impetrante no cargo em que retornou por anistia ." (MS
13407/DF, Rel. Min. Felix Fischer, Terceira Seção, DJ. 02.02.2009)

“RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVIDORES PÚBLICOS QUE


ASSUMIRAM CARGOS EFETIVOS SEM PRÉVIO CONCURSO PÚBLICO, APÓS A CF DE 1988. ATOS
NULOS. TRANSCURSO DE QUASE 20 ANOS. PRAZO DECADENCIAL DE CINCO ANOS CUMPRIDO,
MESMO CONTADO APÓS A LEI 9.784/99, ART. 55. PREPONDERÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
JURÍDICA. RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO.

1. O poder-dever da Administração de invalidar seus próprios atos encontra limite temporal no princípio da
segurança jurídica, de índole constitucional, pela evidente razão de que os administrados não podem ficar
indefinidamente sujeitos à instabilidade originada da autotutela do Poder Público.
2. O art. 55 da Lei 9.784/99 funda-se na importância da segurança jurídica no domínio do Direito Público,
estipulando o prazo decadencial de 5 anos para a revisão dos atos administrativos viciosos e permitindo, a
contrario sensu, a manutenção da eficácia dos mesmos, após o transcurso do interregno qüinqüenal, mediante a
convalidação ex ope temporis, que tem aplicação excepcional a situações típicas e extremas, assim consideradas
aquelas em que avulta grave lesão a direito subjetivo, sendo o seu titular isento de responsabilidade pelo ato
eivado de vício.
3. A infringência à legalidade por um ato administrativo, sob o ponto de vista abstrato, sempre será prejudicial
ao interesse público; por outro lado, quando analisada em face das circunstâncias do caso concreto, nem
sempre sua anulação será a melhor solução. Em face da dinâmica das relações jurídicas sociais, haverá casos
em que o próprio interesse da coletividade será melhor atendido com a subsistência do ato nascido de forma
irregular.
4. O poder da Administração, destarte, não é absoluto, de forma que a recomposição da ordem jurídica violada
está condicionada primordialmente ao interesse público. O decurso de tempo, em certos casos, é capaz de tornar
a anulação de um ato ilegal claramente prejudicial ao interesse público, finalidade precípua da atividade
exercida pela Administração.
5. Cumprir a lei nem que o mundo pereça é uma atitude que não tem mais o abono da Ciência Jurídica, neste
tempo em que o espírito da justiça se apóia nos direitos fundamentais da pessoa humana, apontando que a
razoabilidade é a medida sempre preferível para se mensurar o acerto ou desacerto de uma solução jurídica.
6. Os atos que efetivaram os ora recorrentes no serviço público da Assembléia Legislativa da Paraíba, sem a
prévia aprovação em concurso público e após a vigência da norma prevista no art. 37, II da Constituição
federal, é induvidosamente ilegal, no entanto, o transcurso de quase vinte anos tornou a situação irreversível,
convalidando os seus efeitos, em apreço ao postulado da segurança jurídica, máxime se considerando, como
neste caso, que alguns dos nomeados até já se aposentaram (4), tendo sido os atos respectivos aprovados pela
Corte de Contas Paraibana.
7. A singularidade deste caso o extrema de quaisquer outros e impõe a prevalência do princípio da segurança
jurídica na ponderação dos valores em questão (legalidade vs segurança), não se podendo fechar os olhos à
realidade e aplicar a norma jurídica como se incidisse em ambiente de absoluta abstratividade.
8. Recurso Ordinário provido, para assegurar o direito dos impetrantes de permanecerem nos seus respectivos
cargos nos quadros da Assembléia Legislativa do estado da Paraíba e de preservarem as suas aposentadorias ."
(RMS 25652/PB, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, DJ 13/10/2008). (grifamos).

​20. Pelo que se denota, e de acordo com a interpretação dada pelos tribunais, a possibilidade de anulação dos atos,
com a desconsideração da Decadência, só estaria possibilitada caso comprovada a má-fé, nos termos do art 54 da Lei n.º 9784/97.

21. Juarez de Freitas também comunga desse entendimento, verbis:

“Parece que não se deve restringir a compreensão do dispositivo sem perda de parcela significativa do seu
conteúdo: o dispositivo alude à má-fé em geral, seja a do administrado, seja a do administrador, isoladamente
consideradas ou em conjunto, porquanto o prisma de restrição macularia, entre outros, o princípio da
moralidade jurídica.” (FREITAS, Juarez. Deveres de motivação, de convalidação e de anulação: deveres
correlacionados e propostaharmonizadora. Interesse Público. São Paulo, Notadez, n. 16, p. 43, out./dez.. 2001.)

22. Contudo, ainda que demonstrada a má-fé, a Administração não poderia exercer ad eternum suas prerrogativas de
correção dos seus atos, sendo aconselhado por alguns doutrinadores, neste caso, que seja observada, ao menos, a regra geral do
prazo decenal, prevista no art. 205 do Código Civil.

23. A decadência no contexto da revisão de progressão funcional refere-se ao prazo dentro do qual a administração
pública pode rever atos administrativos que concedem progressões ou promoções aos servidores. Este prazo é estabelecido para
garantir a segurança jurídica e a estabilidade das relações funcionais.

24. Como amplamente citado nesta peça, a Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo federal no
Brasil, em seu artigo 54, estipula que o direito da administração de anular atos administrativos que concedem benefícios aos
servidores decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados.

25. Assim, a aplicação da decadência na revisão de progressão funcional busca equilibrar a necessidade de correção
de atos administrativos ilegais com a proteção dos direitos dos servidores que adquiriram benefícios de boa-fé.

26. A decadência da revisão de progressão funcional equivocada gera, neste sentido, a proteção dos direitos dos
servidores, em vista da sua boa-fé, limitando, desta forma, o poder de revisão da Administração, bem como prevenindo riscos de
revisões arbitrárias ou deveras intempestivas, como parece ser o caso dos autos, cujo ato já produziu efeitos jurídicos significativos
na esfera patrimonial do servidor, tratando-se, inclusive, de verba alimentar.

27. No presente caso, o erro, ilegalidade, ou equívoco somente foi detectado dez anos após a realização do ato
administrativo. Nesses casos, a revisão do ato só seria cabível, se a Administração comprovar a má-fé do servidor ou do próprio
agente encarregado, à época, da prática do ato administrativo, o que não se viu nos autos.

28. Neste sentido, a Administração continuaria a estar sujeita a questionamentos, porquanto, como visto, o poder-
dever de rever os atos, nestes casos, não seria absoluto, quer pela necessária observância do prazo qüinquenal, presente na Lei nº
9.784/99, bem como do decenal, previsto no Código Civil, desde que comprovada a má-fé.

29. Assim sendo, o ato de concessão da progressão, apesar de nulo, dado o grave erro de conteúdo, posto
que inobservada a regra do interstício de 18 meses estabelecido no art. 10 da Lei 11.091/2005, já se encontra fulminado pela
decadência, posto não se encontrar nos autos qualquer prova ou referência à pratica do ato por má-fé dos agentes ou do próprio
servidor.

30. Por outro lado, em que pese a desnecessidade de a Administração atuar/decidir de acordo com o entendimento
vigente nos tribunais, também é certo que deve buscar a diminuição de conflitos, sendo recomendável que favoreça a acomodação
das situações concretas, evitando-se a judicialização desnecessária de matérias afetas à sua rotina. É também papel deste
órgão consultivo o de alertar as autoridades administrativas para os riscos de atitudes internas, que, indo na contramão
dos entendimentos firmados pelos tribunais, ocasionem uma avalanche de demandas judiciais, gerando uma sobrecarga excessiva
de trabalho ao órgão de pessoal e ao órgão de representação judicial da Autarquia. No caso específico dos autos, infere-se que é
muito provável que eventual anulação do enquadramento seja revista pelo poder judiciário.

31. A interpretação conferida pelos tribunais superiores em relação à aplicação da decadência não é das mais
favoráveis ao exercício da autotutela pela Administração, eis que o prazo de cinco anos seria aplicável tanto para os atos anuláveis,
quanto para os atos nulos. A má-fé, por sua vez, ainda que comprovada, também se sujeitaria à observância de prazos, que para
alguns doutrinadores seria o decenal do Código Civil, enquanto para outros o seu limite deveria ser determinado à luz do caso
concreto, tendo como norte o princípio da proporcionalidade/razoabilidade.

32. No entanto, no caso que se apresenta não se tem notícias da prática de má-fé.

33. Assim sendo, para uma e para outra hipótese, o tempo razoável decorrido concorre para a impossibilidade de
correção do ato administrativo de enquadramento do servidor na carreira.

34. Registre-se, no entanto, que a Administração deve diligenciar no sentido de evitar, o tanto quanto possível,
a prática de atos administrativos dessa natureza, ainda que em matéria complexa, como é a do exame das progressões de servidores,
de sorte que não venha a se repetir equívocos como os tratados nos presentes autos.

III - DA CONCLUSÃO

35. Ante todo o exposto, e tendo em vista os diplomas legais vigentes e aplicáveis ao caso, opina este setor jurídico
pela impossibilidade de exercício do poder-dever, por parte da administração do IFPA, de rever o ato que , equivocadamente,
progrediu o Técnico em Tecnologia da Informação, Elvislei Mendes Miranda, da classe D, padrão/nível 101, para o padrão/nível
201, em 08/09/2009, quando teria decorrido o interstício de apenas 09 (nove) meses após seu ingresso no serviço público, logo, em
desacordo com o art.10, § 1º Lei 11.091/2005, dada a ocorrência da decadência, pelo decurso do prazo qüinquenal, previsto no art.
54, da Lei nº 9.784/99, inclusive por não haver sido devidamente comprovada a prática de má-fé, passível de estender o prazo de
decadência por até 10 anos, nos termos da legislação civil.

É o parecer.

Belém, 29 de outubro de 2024.

ADRIANO YARED DE OLIVEIRA


PROCURADOR-CHEFE ADJUNTO DA PF/IFPA

Atenção, a consulta ao processo eletrônico está disponível em https://supersapiens.agu.gov.br mediante o


fornecimento do Número Único de Protocolo (NUP) 23051012625202157 e da chave de acesso d58d9392
Documento assinado eletronicamente por ADRIANO YARED DE OLIVEIRA, com certificado A1 institucional (*.agu.gov.br), de
acordo com os normativos legais aplicáveis. A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código
1736698356 e chave de acesso d58d9392 no endereço eletrônico https://sapiens.agu.gov.br. Informações adicionais: Signatário (a):
ADRIANO YARED DE OLIVEIRA, com certificado A1 institucional (*.agu.gov.br). Data e Hora: 29-10-2024 17:14. Número de
Série: 65437255745187764576406211080. Emissor: Autoridade Certificadora do SERPRO SSLv1.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO
PARÁ FOLHA DE ASSINATURAS
SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E
CONTRATOS

Emitido em 29/10/2024

PARECER JURÍDICO Nº 168/2024 - REI/PFIF (11.02)

(Nº do Protocolo: NÃO PROTOCOLADO)

(Assinado digitalmente em 30/10/2024 11:55 )


ADRIANO YARED DE OLIVEIRA
PROCURADOR FEDERAL
1258109

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número: 168, ano: 2024, tipo: PARECER JURÍDICO, data de emissão: 29/10/2024 e o código de verificação:
8ea99dc9a5

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