Gabriel Matos. Dissertação
Gabriel Matos. Dissertação
Gabriel Matos. Dissertação
EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2023
GABRIEL NERY MATOS
VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2023
Gabriel Nery Matos
VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2023
Agradecimentos
de Deus que me ajudaram nos momentos em que quis desistir e que me ajudaram a dar
Agradeço de modo especial o meu orientador professor Dr. Paulo Coelho Castelo
de pandemia, permitiu que a jornada de escrita fosse possível e proveitosa, que todos os
e aprendizado. Esse vínculo me motiva e inspira na busca por ser um melhor profissional
científico e acreditar que, de algum modo, posso ser um pesquisador ético e responsável.
etapas! A você, Paulo, toda gratidão e admiração! Assim como Maria Clara, colega e
amiga, sinto-me honrado por ter o nome de uma pessoa tão importante na nossa área junto
um todo, tendo este um papel de suporte importante nas adversidades, podendo-se citar
deu e que tantos processos fez parecer mais leves nesse mundo dos e-mails e distância.
Agradeço às colegas Amanda e Juliana que em alguns momentos foram suporte e
Aos meus amigos Heitor Blesa Farias e Ellen Feitosa que por muitos momentos
etapas do processo deste trabalho e que passaram de alunos à amigos que se estabelecem
incentivadores e parceiros em todas as fases da minha vida e que nesta não agiram de
modo diferente. Além da minha prima Victória que chegando já na reta final do meu
Gostaria de deixar um agradecimento mais que especial aos meus pais: Sara Maria
de Fátima Soledade Nery Matos e Antonio Carlos Matos Santos, que em todas as fases
do meu processo foram suporte, que em todas as fases em que tenho memória são suporte
e que mesmo diante de todas as adversidades da vida só sinalizam para mim passos para
Este trabalho reflete um pouco o esforço de gerações que se atualizam nos meus
atos, reflete o sofrimento de muitos que estão tentando existir diante das condições
estabelecidas e sinaliza o desejo de crescimento que, penso eu, está no processo de todos
que de algum modo querem contribuir com os pares. A todos e todas sou grato!
MATOS, Gabriel Nery (2023). Experiências de procrastinação acadêmica: análise
fenomenológica. Dissertação (Mestrado-Profissional) – Universidade Federal da Bahia, Vitória
da Conquista.
Resumo
1 Introdução .................................................................................................................... 10
2 Objetivos...................................................................................................................... 15
3.1 - Geral ................................................................................................................... 15
3.2 - Específicos .......................................................................................................... 15
3 Marco Teórico e Conceitual – O personalismo rogeriano como base de leitura para
sobre o fenomeno da Procrastinação Acadêmica ......................................................... 15
4 Metodologia ................................................................................................................. 37
4.1 - Critérios de Inclusão dos Participantes ............................................................... 38
4.2 - Procedimentos de Coleta e Análise das Informações ........................................ 39
4.3 - Procedimentos Éticos ......................................................................................... 42
5 Resultados da coleta de dados empíricos .................................................................... 42
6 Discussão .................................................................................................................... 47
6.1 - A procrastinação no ambiente educacional ........................................................ 47
6.2 - Manifestações de angústia e ansiedade na procrastinação ................................. 50
6.3 - Dificuldades e estratégias para lidar com a procrastinação ................................ 53
6.4 - Elementos contextuais que influenciam a procrastinação .................................. 58
7 Considerações finais .................................................................................................... 61
8 Produto final: implantação de um serviço de Aconselhamento Psicológico Centrado
na Pessoa......................................................................................................................... 64
8.1 - Apresentação ...................................................................................................... 64
8.2 – Procedimentos Clínicos ..................................................................................... 68
8.3 - Resultados Esperados ......................................................................................... 70
Referências ..................................................................................................................... 71
Apêndice 1 ...................................................................................................................... 81
Apêndice 2 ...................................................................................................................... 82
Anexo 1........................................................................................................................... 86
1 Introdução
atividades para depois, consistindo em uma substituição de uma tarefa mais importante
por outras menos importantes (Sampaio & Bariani, 2011). Este constante adiamento
estruturada em uma lógica que envolve a presença de prazos e pressões para seus
estudantes do que em relação a outros públicos (Tonelli, Pessin, & Deps, 2019), inclusive
urgentes do campo acadêmico, deixando estudos, trabalhos e escritas para depois, muitas
da interação do indivíduo com o seu meio, nesse caso dos estudantes com a universidade
Como, por exemplo, nas tarefas da escrita acadêmica, que é entendida como uma
expressão de sofrimento no espaço acadêmico e guarda total relação com um meio que
(Cruz, 2018).
acadêmicas. Abrindo-se espaço para pensar o bloqueio da escrita como uma faceta
correlata ao procrastinar.
cada vez mais relatos de piora em suas condições de trabalho, estando o estudante de pós-
graduação em uma situação de ainda mais fragilidade, na medida em que muitas vezes
está em um trabalho sem remuneração que impacta em sua saúde. Não raro, o estudante
precisa se manter conciliando suas atividades universitárias com outros afazeres laborais,
familiares e domésticos.
atenção para uma tendência mercadológica que é sinalizada como uma expressão do
11
científicas, em um capital produtivo mercadológico, medido muito mais pela quantidade
que por sua qualidade. Esse valor estabelecido pelo produtivismo tem acarretado
na saúde física e mental (Estácio, Andrade, Kern, & Cunha, 2019; Lima & Vanti, 2019).
marcado por pressões por resultado métrico oriundos de uma visão mercantilista, por um
(Cruz, 2018).
maioria trabalhos que visem acessar as suas questões por uma perspectiva educacional e
focando em suas implicações para aprendizagem (Sampaio & Bariani, 2011). Como
constructo por uma via psicométrica (Couto et al., 2020; Tonelli et al., 2019). A despeito
das sinalizações do campo universitário como um contexto que impacta à saúde através
estresse, ansiedade, doenças psicossomáticas, entre outras (Couto et al., 2020; Tonelli et
12
(2015) que identifica um movimento da sociedade disciplinar para uma sociedade do
desempenho. Este autor percebe um contexto de desgaste dos sujeitos que perante ideais
Nesta visão psicossocial a procrastinação pode ser entendida como uma defesa do
adoecimento social, permitindo uma noção mais crítica e ampla do conceito. O que, de
de defesa do self.
Para justificar Rogers como uma base importante de investigação, vale destacar
que as relações entre o pensamento desse autor humanista com o campo do ensino são
amplas em sua carreira (Castelo Branco, 2019). Portanto, dentre seus livros, pode-se
diversos momentos da carreira rogeriana, pode-se perceber esse tema como um ponto
13
Com toda essa base teórica já construída que permite pensar em Rogers como um
passo pensado foi o de visitar a literatura e buscar por trabalhos que tivessem feito essa
PePSIC.
Desse modo, a partir dos descritores presentes no banco SciELO, foram usados os
individual deles e leitura dos títulos, resumos e nos resultados gerados, não se identificou
Procrastinação Acadêmica que sinalizam para a escassez de materiais. Este fator pode
14
estabelecer uma leitura e compreensão do fenômeno da Procrastinação Acadêmica em
2 Objetivos
2.1 Geral
2.2 Específicos:
humanista rogeriana.
nos permite construir relação com elementos da atualidade e/ou com temas que a sua obra
formular contribuições deste campo de saber a fenômenos ainda não visitados, tal como
a procrastinação acadêmica.
15
A partir dessa intelecção, a Teoria da Personalidade e do Comportamento,
construída por Carl Rogers (1951/1992a) mediante evidências científicas e clínicas e que
norteiam sua proposição da TCC, pode funcionar como um recurso que aproxima sua
em direção a uma descrição geral da formação da pessoa, entende-se que este recurso
rogeriana.
Este capítulo, destarte, situa-se como um ensaio teórico e reflexivo sobre uma
leitura do fenômeno da procrastinação acadêmica (PA) que toma como base a teoria da
16
proposições presentes no capítulo “Uma teoria da Personalidade e do Comportamento”
espécie de mundo íntimo de cada indivíduo que funciona como seu universo particular.
Este mundo é constituído por tudo que é experimentado pelo organismo, seja apreendido
pela consciência ou não. Dentro dessa perspectiva a consciência funciona como aquilo
Dentro dessa proposição, o conceito organismo tem centralidade, por sua vez, é
afirmado por Castelo Branco (2012) como conceito fundamental para a teoria rogeriana,
(86).
17
Portanto, nesta leitura, nem tudo que é experienciado pelo organismo é conteúdo
pela consciência, sendo muito desse mecanismo direcionado por uma lógica de
muito do que se experiencia não está no campo consciente, porém particular, pois esse
1951/1992b).
encara o universo que se defronta a partir de sua mônada organísmica (Castelo Branco,
2012) e reage ao mundo pelo seu ponto de acesso particular. Fator que nos direciona e
individuais de cada campo perceptivo. Para tanto, a noção de realidade fica ligada a um
pelo indivíduo (Rogers, 1951/1992b). É importante reforçar essa noção, pois com ela se
18
pode trabalhar com os estudantes que se queixam de Procrastinação Acadêmica através
de seu campo particular, tendo cada elemento do mundo acadêmico uma representação
vão testando. Entretanto, podem existir percepções que não são confirmadas com muita
trabalhado neste projeto, pode-se pensar: que a noção de ser um estudante produtivo passa
pela necessidade de dar conta de uma rotina de estudos, fator que parece ser uma hipótese
testável em sua própria rotina e experiência. Entretanto, pode estar presente também a
ideia de que ser um estudante produtivo passa por escrever textos, adequados as
necessidades, em um único ato de escrita, fator que está mais sustentado em idealizações
do fazer que em sua experiência, seja ela direta ou indireta (contato com amigos e
professores).
entende-se que há uma forma de expressão orgânica que funciona integralmente nas
disposições adaptativas que a relação com o meio impõe. Para tanto, argumenta-se que
19
autopreservação do organismo, diante do contato com o universo acadêmico e seu modo
de funcionamento. Logo, visa-se trabalhar essa questão como uma ação de um todo
inteiro tende a buscar sua auto-realização, uma espécie de combustível dos organismos
vivos que os levam ao desenvolvimento. Algo como uma força inata que direciona o
554).
organísmicos sejam simbolizados pela consciência para que possam nortear o movimento
que as necessidades não encontram meios para serem atendidas, pode existir uma
modificação do ambiente pelo organismo; entretanto, numa dinâmica como essa, também
20
em casos em que esses desacordos não encontrem possibilidades de alteração, há o
acadêmicos que apresentam através de suas tarefas (ler, escrever, cumprir prazos)
construção de formas mais saudáveis de encarar seu contexto que o ato puro de
claro.
dirigida para uma meta que o organismo utiliza para satisfazer as necessidades que ele
é percebido tem mais função que uma possível realidade em si, já que como sustentado
anteriormente, cada pessoa existe em seu campo fenomenal (Castelo Branco & Cirino,
21
Importante frisar que essa conceituação cabe integralmente para a pessoa em
estágio pré-self, visto que a formação do self altera parte do fluxo de expressão dos
1951/1992b).
progressão do organismo. Neste cenário, todas as necessidades têm uma via fisiológica
organismo se esforça para satisfazer são sempre as presentes (atuais), entretanto é aceito
que a experiência passada pauta a percepção das necessidades e tensões atuais. Para tanto
1951/1992b).
Com essa proposição, pode-se pensar o(a) procrastinador(a) como alguém que
tensões e necessidades que emergem no contato direto com este ambiente. De modo que
se reforça a necessidade de concepção da questão por uma via que pense a relação desses
indivíduos com este contexto universitário e de que modo isso é apreendido por eles.
meta, sendo que o tipo de emoção relaciona-se com os aspectos de busca versus
22
importância percebida do comportamento para a preservação e o aperfeiçoamento
podem ser melhor entendidas no processo de implicação das noções do self. Para tanto,
pode-se encontrar muitas situações em que o indivíduo sinta suas emoções e expresse
este momento interessa refletir que nessa dinâmica, algo nutritivo para o organismo, pode
ser experienciado de modo ameaçador e com grande tensão, evocando emoções intensas-
autorrealizador organísmico que poderia ser encarado com várias emoções calmas-
(Castelo Branco, 2012), como também resgata a perspectiva pragmática da teoria no que
23
concerne sua proposta de compreender os elementos do indivíduo pela relação do seu
Com essa proposição, pode-se encarar que a experiência do que pode ser
campo acadêmico. Deve-se levar em consideração, por sua vez, de que modo são
desses comportamentos.
essa relação. A partir da oitava proposição, trabalha-se com o surgimento do self e sua
dinâmica de funcionamento.
Portanto para conceber o nascimento do self, a oitava proposição diz: “Uma parte
1951/1992b, p. 565). Desse modo, o entendimento de self defendido pelo Rogers parte da
exemplo simples, pela sua mão que usa para acessar objetos quando tem essa necessidade.
No entanto, esse mecanismo também implica em perceber que elementos que não são
percebidos como vinculados a um controle, podem ser menos percebidos como partes do
self. Até mesmo partes do corpo, podem virar objetos, alienadas da percepção de si.
24
Portanto, dentro dessa perspectiva o self é um elemento diferente do organismo, pois aqui
ele tem um entendimento mais restrito a consciência de ser e agir (Rogers, 1951/1992b).
contato com ela como conceito, em virtude de não ser reconhecida como um elemento
coerente com seu self, visto que pode ser mais coerente pensar que está entediada com a
tarefa, mudar o foco para atividades que pareçam mais prazerosas, entre outras.
Ocasionando um conflito entre sua experiência direta com elementos de sua imagem de
si, tendo a primazia sentidos que pareçam mais coerente com esta imagem. Essa situação
seu texto, como também por finalizarem uma certa ideia de gênese do self, desse modo
25
Retomando parte do que já foi iniciado na proposição 8, há um fluxo no
desenvolvimento da criança, que a partir de sua interação com o ambiente, fomenta uma
ainda em nível não verbal, utiliza-se dos recursos organísmicos para ir experimentando o
criança também se encontra com avaliações dos outros sobre seu self nascente, colocando-
se diante dela juízos sobre si que passam pelos seus cuidadores, como por outras pessoas.
Essas avaliações ocupam seu espaço no campo perceptivo dessa criança, compartilhando
processo tem sua formação ligada à necessidade de afeto e amor da criança dos seus
Seguindo a mesma lógica, o estudante que vai se formando a partir das condições
de valia e valores do campo acadêmico também começa a ansiar pela sua validação para
26
um trabalho, por exemplo, ter um sentido não simbolizado do quanto será bem-visto por
seus pais, ou de outras pessoas que estejam intimamente associadas a ela. Esses
valores passam a ser aceitos como tão "reais" quanto os valores conectados a
indivíduo está vinculado a um self forjado de experiências que não são suas (Castelo
Branco, 2012). Considera-se essa relação como uma espécie de gênese de futuras
necessárias ao meio.
27
self em relação aos outros e ao ambiente; as qualidades de valor percebidas como
não mais diretamente com o organismo. Pensando pelo ângulo do fenômeno estudado
ignoradas porque não há relação percebida com a estrutura do self, ou (c) ter sua
28
que são ignorados pela consciência. Este processo consiste em apontar para os elementos
que estão em contato com o campo perceptivo, porém como não figuram como uma
zona sem a simbolização. Vale mencionar seu caráter potencial de ser simbolizada,
bastando exercer algum papel em uma necessidade, passa-se a ser figura – Elemento que
simbolizadas, aquelas que são aceitas pela consciência. Estas figuram nessa posição por
serem condizentes com a imagem do self ou por ocuparem uma posição de necessidade
dele. Desse modo, interpretações de vivências são feitas a partir da manutenção dos
como rejeições com algum grau de consciência, como por exemplo: Eu percebo que
procrastino diante de tarefas acadêmicas, porém faço isso porque trabalho melhor quando
entretanto, pode-se assimilar um sentido para o comportamento que seja compatível com
não ganha nenhuma simbolização por parte da consciência. Essa não simbolização se
deve ao risco que a experiência orgânica exerce aos conceitos do self, estabelecendo-se
uma contradição que é rejeitada. Esta ameaça é percebida em um nível de subcepção, uma
29
entender a ansiedade que permeia muitas situações de desajustamento, estando
Trazendo para o tema do trabalho: pode-se pensar que a pessoa que vivencia
acadêmicas como ameaçadoras a sua estrutura de si. De modo que pode ser que expresse
de execução das tarefas ou mesmo através de queixas paralelas que transitam entre outros
organismo são os que apresentam coerência com o conceito de self “(Rogers, 1951/1992b,
sua dinâmica com as expressões dos comportamentos. Esta proposição de modo sintético
demonstra como todo comportamento se manifesta em uma forma coerente com o self,
papel significativo nessa relação. Pois, quando existem necessidades organísmicas que
conflitam com as noções de self que são concebidas pela pessoa, podem existir
que o prazer e lazer dessas tarefas cumpre um papel de afastamento da tarefa acadêmica
30
Nesta proposição se encerra os aspectos de gênese e funcionamento do self,
abrindo-se espaço para que se aborde o modo como se desorganiza o self e se abre espaço
A proposição 13 diz que: “Em alguns casos, o comportamento pode ser induzido
comportamento pode ser incoerente com a estrutura do self mas, em tais casos, o
controle como elemento fundante do self e, portanto, coloca esses comportamentos como
1951/1992b).
consideração a urgência e/ou importância das tarefas a serem executadas. Visto que o
desafio de lidar com as tarefas carrega elementos que estando em nível de não assimilação
pelo self, dificultam o contato com a tarefa, percebendo-se em nível subceptivo como uma
ameaça a sua própria estrutura. Por exemplo: é possível imaginar uma estudante que a
vezes a rejeição do contato com essa tarefa e/ou dificuldade de continuidade quando
31
iniciada. Essa relação se expressa por elementos valorativos que ameacem noções de si
estrutura do self. Quando essa situação ocorre, há uma tensão psicológica básica ou
entendimento:
que, quando se nega simbolização a uma parte muito grande desse universo
discrepância muito real entre o organismo que experimenta, tal como ele existe,
Oriundo desse processo, há uma tensão que se sustenta a partir desse conflito entre
a busca por satisfazer essas necessidades que não são simbolizadas pela consciência e as
unidade, como alguém que toma decisões e tem necessidades que não reconhece (Rogers,
1951/1992b).
32
Uma outra expressão possível desse movimento, porém com elementos ainda mais
desestruturantes, passa pela possibilidade da pessoa visitar seu campo fenomenal e ter a
noção que todas suas decisões eram pautadas em valores e condições dos outros, algo
se encontre cenários dos dois tipos descritos nessa proposição. Pode-se pensar, portanto,
Nesta proposição vale também a exploração do aspecto dos valores, visto que
ser um bom pesquisador, entre outras, podem funcionar como introjetos e realçar
Acadêmica.
estrutura do self pode ser percebida como uma ameaça, e quanto mais numerosas forem
(Rogers, 1951/1992b, p. 585). Esta proposição é escolhida para ser apresentada antes da
33
a compreender o comportamento defensivo do self. Pretende-se entender como o aspecto
se em série; à medida que essa série progride, a atenção desvia-se cada vez mais
Nesse processo descrito, há o alerta para o fato de que quanto mais se nega a
34
um self rígido rejeita e deturpa simbolizações sobre as tarefas acadêmicas, colocando o(a)
estudante diante de um ciclo de repetições que pode ter impactos sérios no processo
simbolicamente assimiladas para formar uma relação coerente com o conceito de self”
(Rogers, 1951/1992b, p. 582), entende-se que essa é a busca a ser alcançada pelo serviço
a ser desenvolvido, aproximando o(a) estudante de um fluxo mais harmônico entre suas
experiências organísmicas e a percepção que tem de si. Para tanto, pode-se pensar a
- em uma dinâmica relacional ofertada neste serviço – para cuidar de uma pessoa
35
percebe e aceita, num único sistema coerente e integrado, todas as suas
experimentar um bom fluxo entre o que sente, pensa e expressa; a consideração positiva
incondicional pode ser entendida como a construção de uma relação em que o terapeuta
atribuir juízos a suas experiências; a compreensão empática funciona como uma forma
fosse seu; ao final, é importante que o cliente perceba as atitudes do terapeuta como uma
Com estas noções, há a intenção de que se alcance uma reformulação dos valores
do(a) indivíduo(a) pelas próprias noções organísmicas do(a) mesmo(a), como anuncia a
proposição 19:
36
À medida que percebe e aceita em sua estrutura de self uma parcela maior de
1951/1992b, p. 593).
acadêmicas com um menor fator ameaçador, em virtude de seu ganho em fluidez entre o
self e os elementos experienciados. Portanto, neste momento a pessoa que antes estava
desafios impostos pelo meio, inclusive o das tarefas acadêmicas. Valorando sua
e 16); pela dinâmica da reorganização da personalidade (15, 17, 18 e 19). Paralelo a esses
elementos, buscou-se pincelar exemplos que apresentassem uma interação dessas noções
4 Metodologia
37
A partir da proposta do trabalho, organizou-se metodologicamente o processo em
uma linha qualitativa. A pesquisa qualitativa pode ser compreendida como um conjunto
sujeitos investigados. Deste modo, parte-se a uma busca por aspectos constitutivos da
(MFE) tendo como justificativa: por apresentar a possibilidade de acessar como dado
qualquer fenômeno que possa ser representado a partir da vivência de um sujeito (Castelo
Branco, 2014); pelo interesse de Rogers pela fenomenologia e pelos métodos qualitativos
conhecimento (Castelo Branco, 2022); por se tratar de uma tendência para organizar
implicados à Psicologia (Maeder, Holanda, & Costa, 2019). Portanto, para que se
(Marotti, et al., 2008), fez-se uma busca ativa através de divulgação da proposta em redes
38
contato com 4 participantes, em virtude de um dos casos ter faltado ao encontro e não
da Conquista - Bahia, seja ela pública ou privada; que as pessoas expressassem a queixa
de procrastinação acadêmica.
O contato foi feito pelas vias mais confortáveis possíveis, em sua maioria redes
um encontro.
dados simples que favoreçam sua apresentação: S1 é do gênero feminino, tem 21 anos e
(...) considera qualquer fenômeno como algo passível e ser investigado, desde que
39
Essa vivência sustenta e expressa indícios de realidade sobre um determinado
2014, p. 194).
relatos dos participantes através de perguntas que favoreçam o acesso a experiência dos
sujeitos com relação e vivência da procrastinação acadêmica. Norteado pela noção de que
dos comportamentos das pessoas em determinados meios culturais (Manzini, 2004). Para
reflexões sobre os temas apresentados. Sua busca parte por questionamentos mais
profundos e subjetivos. Exige um roteiro com tópicos a serem abordados, porém sua
semiestruturada, que passam pela construção de um roteiro que permita espaço para o
surgimento de novas questões durante a entrevista. Como também que destacam a base
40
teórica e hipóteses que sustentam as escolhas dos questionamentos presentes em um
roteiro semiestruturado.
físico utilizado foi o da instituição de ensino que um dos pesquisadores trabalha, Centro
plataforma Google Meet. Em ambas as situações foram utilizados recursos para gravação
do áudio da entrevista. Nos dois casos o contato iniciou com uma breve reafirmação do
3) O material relatado foi gravado e transcrito para leitura por via de uma nova
temática. Para isso, foi utilizado um gravador de voz via smartphone, nos casos
online. Tais materiais foram armazenados em local seguro para que outras pessoas não
tenham acesso. Ao final da leitura, foi feita uma síntese específica para cada entrevista
do que foi percebido por parte do pesquisador; após isso foi realizada uma síntese geral.
de significação (US’s) que podem ser entendidas como a percepção dos participantes
41
sobre a procrastinação acadêmica. Examinou-se as unidades da técnica de variação livre
fenômeno.
Normas e Resoluções CNS/466. Foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
a transcrição e leitura geral de cada entrevista, construiu-se uma breve descrição do que
identifica-se cada sujeito pesquisado pela letra S (de Sujeito) e um número (1,2,3 e 4); a
síntese deve ser um texto curto, breve e que não deve ser fundamento teoricamente.
procrastinação acadêmica, vivenciado por este sujeito pesquisado, aparece para mim?”.
42
Em seguida, apresentam-se as sequencias das sínteses específicas, obtidas por esse
exercício.
43
depender de circunstâncias contextuais e do modo como as relações são percebidas
pelo sujeito.
das experiências relatadas, esta busca responder a seguinte questão: “Agora, como o
um texto que visa apreender uma noção geral do fenômeno tomando como referência o
Quadro 5, a seguir:
44
Sucedendo a síntese geral, partiu-se para uma divisão do texto em direção à
construção das Unidades de Significação (US’s). Nesta etapa, retornou-se para a leitura
da entrevista transcrita com o intuito de mapeamento das US’s presentes no texto. Essa
intencionalidade, busca-se uma nova linha na tabela, um novo número e a respectiva nova
intencionalidade descrita. Tal exercício foi realizado com as falas transcritas dos quatro
sujeitos compreendidos.
Como última parte do estabelecimento dos produtos para construção dos dados a
serem discutidos, utilizou-se dessas categorias US’s apreendidas para que se favorecesse
sentido permite ao pesquisador desenhar eixos temáticos. Este processo pode ser
46
questão que tipo como relevam profissionalmente essas
questões ou não, entendeu? (S3:U10)
procrastinação.
dificuldades encontradas neste enfrentamento. Por fim, na quarta categoria foi percebida
6 Discussão
dos sujeitos, muitas vezes atrelada à infância ou adolescência no campo escolar. Por
47
exemplo: “Eu acho que desde criança eu sempre procrastinei. Nunca gostei de ir para
escola. Comecei a procrastinar quando comecei a ter obrigação lá. Desde os treze anos de
idade até, então, na universidade” (S1: US2). Este relato permite pensar que o sofrimento
da procrastinação tem elementos que são compostos por experiências passadas que se
rogeriana, visto que, ela critica muitos modelos condicionais nas relações pedagógicas.
Este clima condicional é evidenciado por Rogers (1969/1978) como um elemento que
universitário.
necessidades das condições estabelecidas por outrem. Essa tensão gera reações de se
48
Dentre os processos expressos pelas experiências dos sujeitos, a diferenciação
entre procrastinação e preguiça permite uma elaboração que exemplifica esse estado
mas eu entendo por procrastinar quando eu deixo de fazer alguma coisa relevante
na minha vida. Quando eu só fico deixando algo em standby, vou deixando outras
coisas passar, ou simplesmente não faço nada. Daí eu sofro e sinto culpa. Na
US1).
acadêmica e que gera uma tensão, que pode ser expressa como culpa, medo ou fuga. Os
não fazer, mas em um agir em tarefas que não são as mais importantes a serem executadas.
procrastinação como uma resposta do organismo a uma ameaça que gera um desacordo
entre o que se sente, (experimenta), pensa (simboliza disso) e faz (expressa no ambiente)
(Rogers, 1959/1977). Isso pode ocasionar um adiamento da ação, que funciona como uma
espécie de defesa e que, não raro, contraria uma idealização de si e do que se poderia
49
Nesse contexto, observa-se o senso de (auto)cobrança, em seus moldes de um
A ansiedade pode ser compreendida por um ângulo rogeriano, como uma forma
difuso, enquanto na ansiedade há uma noção de qual objeto provoca certas reações que
são entendidas como ansiosas. Ambas são tensões que remetem a reações a algo vivido
comitê. Eu não sei como fui me meter nisso e o motivo, mas eu estou sentindo que
não estou conseguindo cumprir com o que eu queria. Não sei dizer bem o que
maiores elaborações. Este elemento anuncia um horizonte de futuro, algo como uma
50
A procrastinação aqui evidencia, em sua forma de presentificação na vida dos
Diante dessas dinâmicas, o sujeito pode experimentar reações de angústia como uma
espécie de sofrimento que se atualiza na presença das tarefas e/ou necessidades, mas sem
motivo do comportamento.
O que eu sinto... é mais uma questão de ansiedade mesmo. É, tem vezes que ei
realmente, costumo ter crise de ansiedade violenta como foi essa última; mas,
normalmente, eu não sinto tanta coisa. Essa foi mais específica porque era em
um grupo que eu quis participar. Era em relação à uma atividade de uma matéria.
aceitei que ia ser zero e pronto. Não tem problema nenhum, fiquei sem sentir
no auge da procrastinação. Ocorre uma espécie de embotamento que sinaliza uma falta
51
Essa sensação de vazio, em uma perspectiva rogeriana, sinaliza a sua reação à
ser realizada em um trabalho grupal, com prazo e funções definidas). Isso gera uma tensão
pessoa fica rígida em relação a isso e o processo grupal e os prazos avanço para lidar com
a tarefa. Essa rigidez decorre de uma tensão oriunda de um desacordo entre o que se
cumprir com isso e o comportamento de não fazer o trabalho. Essa idealização expressa
um self ideal que não necessariamente corresponde a experiência real e atual da pessoa;
o que sente de modo a evitar um contato com a sua experiência em termos de sensações
correspondência com o que foi idealizado. Logo, o embotamento em relação ao que estava
acontecendo.
comportamentos de adiamento (não fazer) não geram uma elaboração e implicação maior,
pois não são congruentes com as representações idealizadas do self (Rogers, 1959/1977).
sujeitos, logo seria constitutiva da dinâmica do ser em relação com o outrem, com o tempo
52
e com o mundo. Os sujeitos demonstram a procrastinação como algo relacionado: ao
encarar os desafios impostos por ele. Em relação a isso, apresenta-se este relato:
Mesmo quando eu entrego algo, eu sinto como se eu não tivesse feito aquilo. É
meio que isso assim: eu entreguei aquele trabalho, beleza; mas foi algo tão
rápido, foi como se eu tivesse comido um alimento de forma tão rápida que eu
não senti que eu me alimentei daquilo... e foi embora assim. Eu diria que é a parte
que mais me afeta, é não poder aproveitar o processo porque durante ele não
consegui realiza-lo. Mesmo quando eu sento e falo “vou fazer”, a coisa não anda
e quando anda eu não curto como os outros curtem e não me sinto bem (S2: US5).
o desfecho possível, a despeito dos atrasos; e a percepção de que com as tarefas feitas em
um tempo reduzido, em virtude dos adiamentos, há uma menor absorção das experiências
53
Reflete-se aqui os modos de funcionamento que reforçam a desorganização do
self ou a sua reorganização criativa para lidar com o problema. A partir da desorganização
Trata-se das formas como os sujeitos entrevistados lidam com a procrastinação em termos
Se eu falar assim: “que eu tenho que estudar para prova da matéria”. Aí nesse
dia eu vou decidir fazer uma faxina na casa. Aí eu faço uma faxina enorme. Limpo
tudo. Até o que nem precisava. Aí no final eu falo: “não vou estudar mais, estou
coisa, mas não o que tenho que fazer. Às vezes, o que eu faço é muito mais
evitação e/ou fuga em relação à tarefa acadêmica. Deste modo, é possível perceber, o
caráter ameaçador que a tarefa ganha para o self, gerando um mecanismo de defesa
da tarefa entendida como importante, por outra atividade vivida como mais urgente e que
evita a principal tarefa. Ocorre, pois, um movimento que desvia o sujeito de sua meta
54
Baseando-se no comportamento expresso por S1, pode-se imaginar que, diante da
conflitos em direção à tarefa, o que na sequência, pode ser sucedido por experiências de
manutenção do self, no caso da entrevistada, a faxina na casa e a fuga, por sua vez. O
Deste modo, pondera-se que em uma ação como a faxina, ainda, há o sentido de
doméstica. Por isso ocorre uma deformação da experiência (Rogers, 1959/1977), em que
S1 volta a sua consciência e ação para outra tarefa que lhe é significativamente produtiva
e mais urgente, porém não lhe é ameaçadora, ocorrendo uma diminuição do foco na tarefa
à percepção de a tarefa acadêmica é uma ameaça. Decorre um processo que dificulta uma
experiência não concordam com a ideia que faz de si mesmo” (p.170). Permitindo-se
acessar a tarefa acadêmica como este elemento ameaçador que suscita defesas perante o
risco direcionado a si. Assim, o modo de defesa relatado por S1, implica em uma
55
cumprimento figuram como uma ameaça ao self, evita-se entrar em contato com essa
experiência, significa-se outras tarefas como prioritárias e age-se em função disso (Roger,
1959/1977).
é possível estabelecer estratégias para lidar com a procrastinação quando ela surge e
dificulta o seu trabalho. O seguinte trecho chama a atenção para um ponto significativo
em relação a isso:
Eu moro com o meu irmão. Quando tem alguma coisa muito importante para
fazer, eu aciono ele. Eu falo: “Irmão, eu tenho que uma atividade tal dia. Tem
como você ficar frisando isso diariamente para mim? Fazendo isso como uma
obrigação?” Mesmo que eu, que não consiga, sei lá... Não sei se faz sentindo,
mas com o meu irmão me cobrando, eu fico: “Ai, estou chateando meu irmão,
porque eu não estou fazendo isso”. Aí, então, eu vou lá e faço o que tenho que
fazer. Quando meu irmão não chega junto, aí eu peço para alguma colega me
dar esse tipo de assistência: “Por favor, me lembre de entregar isso. Me cobra
Esse trecho sinalizou uma estratégia para lidar com a procrastinação a partir de
em relação à sua procrastinação, a partir de uma ajuda externa. Essa estratégia funciona
como uma forma de enfrentamento aos desafios vividos pela procrastinação (Augustin &
56
reconhecendo-a, sinalizando-a e buscando um suporte psicológico que pode ser
momentâneo e situacional ou pode ser mais longo, a partir de uma aliança de ajuda no
enfrentamento da procrastinação.
autossuficiência que pode ser sintomática e gerar sofrimento (Augustin & Bandeira,
(1951/1992), o self pode estar estruturado de modo que todas as experiências sensoriais e
provavelmente, não lhe são ameaçadores; em função disso, estabelece essa estratégia para
de seus recursos pessoais, tensões e variáveis que o ambiente coloca, acessar e mobilizar
o que lhe é possível para lidar com suas necessidades de autorrealização (Rogers,
enfrentamento a procrastinação.
57
Logo, dinâmicas de heterossuporte sinalizam comportamentos sustentados em
parceria com outras pessoas que não necessariamente implicam em uma heteronomia,
uma busca pautada pela tentativa de resolver todos os problemas sozinho. Trata-se,
Eu acho que a minha procrastinação, tem um elemento social muito forte que
exemplo... Tem casos de professor, que fica abusando... achando que o tempo
dele é mais importante do que o do aluno, porque ele tem mais coisa para fazer.
Aí... eu fico decepcionado e não consigo dar conta do que me pedem, como pedem
58
A partir deste trecho é possível compreender que há uma dinâmica no espaço
acadêmico.
um jeito de pensar que desconsideram jeitos de ser. Assim, a academia é alicerçada com
do espaço formativo que se fecha para novas formas de ensinar e aprender. Para Rogers
institucionais que favorecem uma lógica impositiva e antidemocrática, que não prestigia
ao encontro dos alunos com o professor. Impõe-se um vínculo relacional pautado em uma
produtivismo, como (Graner & Cerqueira, 2019; Macêdo, Sudário, Souza, & Souza,
59
2021): distância da família; convivência com a solidão; competitividade; individualismo;
a procrastinação.
As redes sociais vêm me afetando, depois que iniciou o semestre. Eu não me via
tão ligado em rede social, por exemplo, há alguns meses atrás, só que eu vinha
que compõe e se conecta aos comportamentos procrastinadores, dado que pode ser
Rezende e Ribeiro (2023), encontram-se dados que sinalizam para o uso do smartphone
modo geral.
60
dificultando, por exemplo, o desempenho de atividades grupais. Além disso, o aparelho
serve de gatilho para uma dependência virtual que gera isolamento psíquico e
individualização competitiva (Yang, Asbury, & Griffiths, 2019). Todos esses fatores,
7 Considerações finais
uma perspectiva Humanista Centrada na Pessoa. Desta forma, para acessar esse objetivo,
mental.
Esta dupla leitura pôde ser acessada na relação com o universo do campo
das contribuições clínicas, a base teórica rogeriana, também, permite pensar questões do
61
de formatos de ensino pautados em hierarquia e condições de valor (produtivismo). Estes
acadêmica, foi possível perceber através das categorias encontradas algumas instâncias
que acompanham essa experiência. Pelos relatos, foi possível perceber que a
procrastinação acadêmica costuma vir acompanhada de uma história em que ela já havia
sido vivenciada, muitas vezes sendo percebida pela primeira vez no contato do sujeito
atividades de avaliação.
em ser percebida como uma experiência quase de bloqueio em relação à tarefa que se
pretende ser executada, quase como se algo impedisse que o comportamento fosse
de enfrentamento que formam uma imagem de si (self) e que diante dos desafios presentes
sinalizam um risco a essas ideias de si e uma ameaça aos horizontes de sentido, nas
percebeu-se como movimento mais habitual o que funciona como uma espécie de fuga
da tarefa urgente, evitando-se o contato com tal tarefa pela sua percepção ameaçadora ao
62
self. Algo como trocar o estudo por uma faxina, ou a execução de uma escrita por mais
para os comportamentos habitualmente usados, o que deu ênfase para um outro caminho
colocam o acadêmico em contato com um espaço que não demonstra se importar com um
formas que deve ser cumprido, mesmo que em afastamento aos sentidos próprios dos
sujeitos envolvidos.
nosso contexto histórico-social, que se impõe como valores maiores que estabelecem
condições para uma suposta autorrealização acadêmica. Este fator nos ajuda a
Outro fator contextual que ganhou ênfase esteve no uso das redes sociais e do
celular. Elemento que foi sinalizado como um intensificador da procrastinação e uma das
atividades favoritas para que se evite o contato com as tarefas a serem feitas. Um
comportamento que pode acontecer com meu próprio notebook que uso para trabalhar ou
com o celular que coloco em cima do livro e me permite passar horas longe das
“exigências da realidade”.
63
Apesar da produtiva leitura teórica que o material rogeriano promoveu e das
uma forma de lançamento sobre esse limite e expectativa interventiva, concluo indicando
a influência disso em meu atual trabalho como professor e supervisor de estágio no curso
instituições.
Centrado na Pessoa
8.1 Apresentação
inclinações desses jovens para ser encaminhados a ocupações vistas como adequadas a
seus perfis. Sua base era a teoria de traço e fator, modelo baseado em princípios
64
psicométricos e positivistas. Priorizava a adaptação e o ajustamento dos indivíduos ao
Schmidt, 2009).
ampliada, caminhando em direção a uma proposta que não mais funcionava somente com
diretiva. Ela passa a representar um serviço no qual se busca alívio para tensões,
Essa ampliação passa diretamente pelo trabalho de Carl Rogers que, após a década
Para Rogers (1946/2000) o aconselhamento deveria ser encarado como uma forma
modo:
65
A função do conselheiro é tornar possível ao cliente adquirir a libertação
forma mais completa. Com base neste insight, será capaz de ir ao encontro dos
1946/2000, p. 11).
Para tanto, entende que o profissional deve ter uma boa compreensão das pessoas
que atenderá, sugerindo noções que nortearão esse entendimento. As noções passam pelo
consciente; para atender nossas necessidades buscamos ajustamentos que podem ser
cliente ter consciência de muitas de suas motivações e as aceite como suas, conduzindo o
indivíduo para uma escolha de objetivos e dos caminhos para sua satisfação, tendo, por
Destarte, o primeiro passo nesse processo foi o de buscar por trabalhos que
Psicológico e Procrastinação. A partir dessa procura não foram encontrados trabalhos que
com aspectos que foram sinalizados como lacunas. Justamente pelo fato de propor um
67
serviço de Aconselhamento Psicológico que pode ser mais bem investigado em futuras
pesquisas.
psicológico orientado pela ACP não é a de organizar um formato de serviço que vise
ajustes em direção a uma melhor produtividade das pessoas, mas um serviço que se volte
para um melhor lidar com a experiência de procrastinar. Tendo por referência o próprio
temática.
68
Como modelo de processo clínico, objetiva-se atuar nos moldes das 12 fases
descritas por Rogers (1942/1997) sobre o processo terapêutico. Importante destacar que
pode encontrar. A seguir serão trabalhadas as etapas presentes no processo, todas serão
amparadas pelo que está descrito em Rogers (1942/1997), em seu livro Psicoterapia e
Consulta psicológica.
que ela tenha consciência de qual problema pretende trabalhar no contato com o
necessidade de que o cliente entenda que o psicólogo não tem as repostas para suas
relação de cuidado e ajuda que aquele momento representa, justamente favorecendo que
momento uma força na simbolização de elementos que não estavam sendo acessados pela
incondicional.
No 5º momento, ele(a) se defronta com uma riqueza maior dos aspectos negativos,
também é momento de se conectar com suas energias positivas e que direcionam ao seu
maior com aspectos negativos e positivos de sua pessoa, fator que favorece um olhar mais
maduro de si.
69
O 7º movimento tem um protagonismo no processo, pois sinaliza uma etapa em
que o(a) cliente passa a assimilar conceitos que antes eram ameaçadores como partes de
em que vai se efetuando movimentos cada vez mais congruentes com a experiência direta.
Uma ideia de si que contempla mais do que é vivido, por justamente ser visto como fatores
menos ameaçadores.
em direção a uma compreensão mais viva de seus recursos e limites. Este reconhecimento
agora acontece sem a noção de ameaça e com um tom de acolhimento de si; No 10º
momento o(a) cliente sente cada vez mais uma autocompreensão maior e uma aceitação
A 11ª parte do processo conta com uma convicção maior dos próprios recursos e
se esvaindo até o cliente encaminhar sua sinalização pelo encerramento, com uma
70
Espera-se que como resultado dos Aconselhamentos Psicológicos Centrado na
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80
APÊNDICE 1
ROTEIRO DE ENTREVISTA
exemplo(s)?
relacionado à academia?
sim, Como?
6. Como você lida com a procrastinação no seu dia a dia? Poderia dar
exemplo(s)?
81
APÊNDICE 2
Prezado(a) Senhor(a)
fenomenológica” está sendo desenvolvida pelo psicólogo Gabriel Nery Matos (CRP-
03/17873) sob orientação do Prof. Dr. Paulo Coelho Castelo Branco, vinculados ao
Bahia.
Vitória da Conquista e/ou mediada por recursos digitais (Google Meet), com
gravação e posteriormente será transcrita para a realização de uma análise. Os dados serão
Vale deixar claro também que sua participação é voluntária e, portanto, o(a)
82
solicitadas pelo pesquisador, nem receberá qualquer tipo de remuneração. Os
poderão ser associados a você. O nome de todas as pessoas que participarem da pesquisa
não será divulgado, de forma nenhuma, nem conhecido por outras pessoas além dos
situação que experimente desconforto o(a) Sr.(a) pode a qualquer momento decidir em
não participar do estudo, não sofrendo nenhum dano. Caso o(a) Sr.(a) tenha alguma
qualquer material que indique sua participação não será liberado sem a sua permissão.
O(A) Sr.(a) não será identificado em nenhuma publicação posterior. Este termo de
consentimento está impresso em duas vias originais, sendo que uma será arquivada pelos
83
pesquisadores responsáveis e a outra será fornecida ao(a) Sr.(a). As gravações,
por um período de cinco (5) anos, e após esse período serão destruídas. Os pesquisadores
irão tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo, atendendo a legislação
científicos.
__________________________________________________
CONSENTIMENTO
Estou ciente que recebi uma via desse documento e que me foi dada a oportunidade
__________________________________________________
84
Pesquisador: Gabriel Nery Matos
Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor entrar em contato
ou pelo telefone: (73) 99194-4439, residente na Rua Paraguassu, nº 112 Térreo, Alto
Caso necessite de mais algum suporte sobre o presente estudo, favor entrar em contato
de Castro Filho, 1540, apt 801, Bairro Luciano Cavalcante, Fortaleza-CE. CEP: 60813-
540.
85
ANEXO 1
86
87
88
89
90