1 Vinculo Sombrio - Emy V
1 Vinculo Sombrio - Emy V
1 Vinculo Sombrio - Emy V
Vínculo Sombrio
Projeto Atos Profanos
Livro 1
1ª Edição
Obra Registrada.
Revisora: @AnaReis
Ilustrador: @Iranilustra_
Diagramação e
Capa: @VitoriaEditorial
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
PLAYLIST
EPÍGRAFE I
EPÍGRAFE II
NOTA DA AUTORA
AVISO DE GATILHOS
AVISO II
ILUSTRAÇÃO
ATO I
PROLÓGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
ATO II
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
ATO III
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
ATO IV
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
EPÍLOGO
Dedico esse livro a todas as pessoas que acham que
o maior pecado que cometem é amar demais.
Que você possa encontrar a forma certa de
se aceitar e demonstrar esse sentimento.
Ou Clique Aqui
Todas as coisas verdadeiramente
perversas começam na inocência.
— Ernest Hemingway
Para mim, por todas as vezes que me decepcionei
com as pessoas à minha volta.
Por ter vencido o desânimo, e muitas vezes
ter sido forte em situações que ninguém me ajudou.
MIA DEMORY
Innsbruck, Austrália
Presente
Percebemos o quanto nossa vida é frágil em momentos de
vulnerabilidade, nos quais vivemos algo que não esperávamos passar. Só
então entendemos, que não temos nada, além do presente. Do agora. Talvez
nunca mais o depois.
Ser cruel nem sempre é uma escolha. Às vezes é necessário para
sobreviver à toca do coelho e às suas armadilhas mais profundas, que
marcam não só a pele, mas também a alma. Eu não entendia isso meses
atrás, e quando Dominic Axel me drogou, percebi o quanto estava frágil,
quebrada demais.
Aparecer na minha cama foi um alívio, mesmo assim e se ele fosse
o inimigo? Poderia não estar mais viva.
Os monstros existem e não ficam embaixo da cama. Podem ser as
pessoas que vivem ao nosso redor, o vizinho que aparenta ser gentil, uma
irmã que finge amar a outra, e que no fundo só quer vê-la cair. Nunca
sabemos de fato as intenções.
E foi essa a lição que Axel quis deixar claro. Nunca aceitei a forma
que seus ensinamentos são feitos, mas dessa vez Dominic passou dos
limites.
Há uma lenda na cidade de Innsbruck, onde um Serial Killer foi
amaldiçoado desde seu nascimento, fadado a uma vida eterna em solidão
pelos anjos do inferno e que ele deveria seduzir garotas para assassiná-las, e
as que declarassem seu amor por ele, só assim aliviaria aos poucos a dor de
ter sua alma atormentada. Esse mesmo assassino foi o responsável pela
morte de oito mulheres. Estas foram dadas como mortas por nunca terem
sido encontradas antes ou por estarem desaparecidas e o culparam por ser o
suspeito mais convincente para que as famílias pudessem seguir em frente.
Havia rumores sobre a parte que precisavam declarar seu amor por
ele foi romantizada por boatos, para ocultar o lado cruel dessa lenda, e
trazer algum tipo de esperança que um dia, uma de suas vítimas, tocaria em
seu possível lado humano que ainda restava. E viveria. Contudo, o
desconhecido como assim o chamavam, nunca foi pego.
Mesmo depois de toda dor que causou nas famílias das vítimas.
Mas ao contrário do que o documentário do psiquiátrica Brayson
Rydell está dizendo:
Psicopatas simulam sentimentos para atrair as vítimas. Quando
encontram seus alvos, eles as hipnotizam com o que acreditam que elas
querem viver. Assim, compartilhando uma fantasia, onde a vítima vai se
sentir recompensada pelo envolvimento. Pessoas nascem com essa
estrutura mental, recusam tratamento para amenizar os sintomas, assim
dificultando a correção e prevenção de muitos crimes.
Então, a probabilidade de isso ser mentira, de acordo com o
psiquiatra, é cem por cento e sim, para romantizar algo que deve ser
considerado tóxico e inaceitável.
Ao contrário de alguém frio e calculista, psicopatas são
considerados pessoas que não podem amar.
Dou uma pausa no documentário e clico na página que falava sobre
comportamentos que podem indicar um Serial Killer, e suas atitudes
questionáveis, quando a garçonete morena de avental azul bebê com
branco, coloca em cima da minha mesa um copo de chocolate quente com
bastante chantilly e um prato de cookies com pingos de chocolate. Se
tornou meu prato preferido para não deixar meu estômago vazio, além de
waffles crocante de chocolate com pingos de chocolate e banana. Agradeço
e ela se retira.
— Bom dia, Mia — Liberty fala, sentando-se ao meu lado e
observa meu notebook sobre a mesa. — Vejo que não desistiu de sua
obsessão por dúvidas mórbidas.
Desde que comecei a frequentar o Brew, Liberty e eu estamos cada
vez mais próximas. Algo que é difícil de acontecer, já que não criei laços
com ninguém há um bom tempo. Ela é a única que me permiti. Além de
Dominic… Não sei ao certo como podemos nos chamar, já que ele deixou
claro não sermos amigos.
Observo a loira de olhos claros à minha frente, com sua blusa social
por baixo de um casaco careca azul liso com a logo da nossa universidade
no lado direito e calça wide leg branca. O motivo pelo qual estamos nos
encontrando aqui pela segunda vez na semana é o trabalho de psicanálise,
sobre Hibristofilia.
Estamos iniciando a nova fase de calouras de Psicologia. Tudo é tão
interessante e fascinante, querer compreender melhor a mente humana, e
todas as dúvidas a serem esclarecidas. Os trabalhos serão feitos, para que
possamos nos aprofundar melhor nos assuntos, de acordo com nosso
professor Brandon.
— Bom dia, Liberty. Obsessões não devem ser saudáveis, não acha?
Por isso se chama dessa forma — declaro salvando o vídeo para continuar
em outro momento e voltando para minha pesquisa.
— Sim, mas meu pai não é um bom exemplo para se acompanhar,
deveria procurar outro, qualquer um será melhor — informa, quando viu
que salvei o vídeo. Por algum motivo Liberty e o pai não se dão bem, ainda
não chegamos no nível dela me contar o porquê. Quem sabe algum dia. —
E eu sei o que significa, só que às vezes é apavorante o quanto se dedica a
conhecer mais sobre Serial Killers. Pessoas frias e calculistas, esse é o
público que trabalhará? Não tem medo de acabar se atraindo por um? Como
se chama mesmo…
— Hibristofilia é a palavra. É assim que se chama uma pessoa que
se atrai fisicamente e sexualmente por alguém considerado um malfeitor.
— E que se sente atraída pela maldade. Li um pouco sobre o tema,
só não sabia pronunciar essa palavra já que será o primeiro trabalho do
semestre, acredito que não tenha precisado pesquisar muito, já que ama
documentários relacionados a isso — completa, e a forma como fala é
nítido o julgamento. — Enfim, quem sou eu para dizer algo, afinal amo
filmes perturbadores. Talvez seja por isso que escolhemos psicologia, para
compreender melhor o motivo desses gostos peculiares. Aqui estão todas as
informações que consegui resumir de acordo com o que li. Bom, irei
embora, depois você me passa seu rascunho — afirma deixando a pasta que
estava segurando na mesa e começa a se levantar.
Ela sempre tenta me deixar confortável sem ultrapassar os limites,
meu trauma de me envolver com pessoas às vezes me trava e tenho certeza
que esse é o motivo dela querer ir embora nesse exato momento.
— O trabalho é individual, porém, a ideia de fazer em dupla é
debater sobre as possíveis situações que podem estar em aberto — falo,
segurando sua mão.
— Como estávamos fazendo a segundos atrás — completa com um
sorriso no rosto e sentou no mesmo lugar de antes.
De repente o ambiente muda assim que o sino da porta de entrada
toca, indicando que alguém está passando sobre ela. O homem que entra no
lugar, tem sua face familiar de uma maneira estranha, usando uma jaqueta
de couro preta, calça jeans clara e tênis branco, seus olhos claros,
aparentemente azuis, passeiam por todos os lados do café e por um
momento nos encaramos, e constato algumas tatuagens em seu pescoço e
rosto. Ele segue até o balcão.
— Um café sem açúcar — pede. Olho para Liberty que o seca sem
ao menos disfarçar. A garçonete começa a preparar o pedido e a todo
momento ele fala gentilmente com ela.
Pega o café e se senta a poucos centímetros de onde estamos,
próximo a janela de vidro.
— Você viu como aquela jaqueta de couro ficou ótima nele? —
sussurra.
— Vemos isso todos os dias aqui, estamos em uma cidade com
época de neve e frio, a maioria das pessoas se vestem dessa forma
aquecidas e temos muitos motoqueiros por aqui que usam as mesmas
roupas.
— Nunca vi ninguém com tamanha gentileza e elegância — expôs
sua opinião.
— Pra mim, ele é apenas um homem normal como todos os outros.
— Deixo claro.
O celular dela toca, roubando a atenção da conversa.
— Droga, meu pai está ligando. Esqueci que havíamos combinado
de passar a manhã juntos hoje. Se importa de continuarmos em outra hora?
Mesmo não se dando tão bem, Liberty demonstra ser a típica filha
perfeita para Brayson.
— Não… tudo bem. — Ela se levanta.
— Deveria dar uma chance de conhecer novas pessoas, talvez esteja
vivendo muito em um mundo de ficção — sugere olhando para ele. —
Faltarei hoje na faculdade, mas nos veremos amanhã — avisa e logo em
seguida vai embora.
Assim que olho para o lado, vejo o homem me observando de forma
intensa, ao lado de sua mesa está um livro.
Alice no país das maravilhas?
Quais as chances dessa coincidência? Pois é a mesma história que
foi passada para lermos em literatura.
Por algum motivo, a forma como pega e volta a ler me causa uma
certa curiosidade. O que uma pessoa lê diz muito sobre ela. Li esse livro de
trás pra frente muitas vezes, é o meu clássico preferido. Não enxergo
alguém como ele lendo este ou qualquer outro livro.
— Deseja mais alguma coisa? — a garçonete interroga para ele.
— Não. Mas obrigado. — Desvio minha atenção quando a tela do
meu celular acende, mostrando ser quase cinco horas. Merda! Holly irá me
matar caso não esteja antes das cinco e meia em casa.
Junto às minhas coisas, deixo o dinheiro sobre a mesa, guardo meu
celular e sigo até a saída.
— Obrigada! Volte sempre! — fala a garçonete. Olho para trás lhe
dando um sorriso e logo sinto algo se colidir comigo. Ao olhar para cima
me deparo com olhos claros e frios, minha bolsa de lado caiu e o livro que
ele estava na mão também.
— Me perdoe, não havia te visto. — Pego o livro dele, e antes que
eu mesma pegasse a minha bolsa, ele me entrega.
— Sem problemas. — São suas únicas palavras.
Ele desce o olhar sobre minhas vestes. Uso uma blusa de gola alta
preta, calça jeans com lavagem escura e um coturno preto.
A voz de Liberty dizendo que eu deveria sair mais do mundo de
ficção atormenta minha mente.
— Alice no País das Maravilhas é um ótimo livro. Não pensei que
existiam homens como você que o liam. — Solto antes mesmo de pensar,
mas em seguida me arrependo amargamente. Ele parece surpreso com meu
comentário, contudo segura o livro que o direcionei, que aliás é um de
colecionador, igual ao que eu tinha quando criança.
— Devo dizer que não me conhece, como poderia saber o que
homens como eu gostam? — Seu tom é rude e de uma forma de duplo
sentido, um sorriso sarcástico surgiu em seus lábios.
— Bom… está certo, não teria como afirmar isso. Tive um quando
criança, é raro encontrar, talvez tenha despertado em mim lembranças que
causam essa impressão de que o conhecia.
— Então, essa colisão foi proposital? Para roubar meu livro de
colecionador? — sussurra como se me contasse um segredo.
— Não! Nem se preocupe respeito às pessoas que colecionam
livros, são poucas que fazem isso.
— Sim, de fato, senhorita…
— Demory. Mia Demory. — Específico.
— Bom, Mia. Poderia me dizer o que mais te interessa na leitura de
Alice? Estou fazendo um trabalho e adoraria a opinião de alguém que ama
livros.
— Acho que há muitos pontos a serem discutidos. Tanto a
metamorfose constante da ambientação, dos personagens, como o
chapeleiro, a rainha de copas com seu comportamento volátil e, claro, a
Alice. Depende muito de qual lado esteja querendo trabalhar.
— É claro, faz todo sentido, mesmo em ficção o mal existe. Sempre
tem o outro lado, é algo inevitável. — Sua maneira mórbida de falar faz
com que eu lembre dele e meu humor mude.
— Tenho que ir agora, foi um prazer… — Percebo que não
perguntei o nome dele ao estender a mão, ele segura em minha mão, uma
energia intensa e diferente nos cerca.
— Pode me chamar de M.
— M? — retruco, rindo.
— Sim — responde, rindo de volta.
— Você não vai me dizer o seu nome? — interrogo.
— Não, quando nos virmos a próxima vez saberá, não só o meu
nome, como todo o resto, e assim teremos um motivo para nos
reencontrarmos.
— Não sei se me sinto lisonjeada ou assustada — afirmo, ele alisa
minha mão. Seu toque é lento e seus olhos misteriosos, frios, se fixam nos
meus.
— Demory. — Dominic aparece e o rapaz solta minha mão. —
Desculpe, não quis atrapalhar, podemos conversar? — M, olha de mim para
ele aguardando minha resposta.
— Não, Axel, talvez em outro momento. — Passo entre eles.
Ele me magoou, muito.
Apesar de nossas desavenças, eu queria acreditar que havia alguma
parte dele que se sentia mal por tudo.
Mas, todas as pessoas da minha vida estão propícias a me usar,
manipular.
E Dominic Axel, não aparenta ser melhor que Holly.
Talvez poderia ser até pior, por ter me drogado e sempre ter tido
entendimento sobre as intenções dela.
Suas mãos estão no meu quadril
Seu nome está nos meus lábios
De novo e de novo como se
fosse minha única oração
(Vamos me diga garoto)
Tenho um desejo ardente por você, baby
(Tenho um desejo ardente)
(Vamos, me diga, garoto)
Burning Desire, Lana Del Rey
MISHA CROWN
5 anos atrás
MIA DEMORY
MISHA CROWN
MISHA CROWN
Dor, é o que refletiu nos olhos dela antes de sair da sala de jantar.
Queria mostrá-la como era sentir. Me causou um ódio infame, saber
que ela pensava dessa forma de nós dois.
Depois de tudo que passamos, isso não é aceitável.
Dominic, é um grande empecilho, ela sente algo por ele mesmo que
negasse, é evidente a forma como o defendeu.
Rejeição e mais rejeição.
Queria apenas que ela visse como eu vejo tudo isso.
A seguir, partiu meu coração após saber que ela correu até ele.
O que eu preciso fazer para ganhar ela por inteiro? A crueldade a
atrai, mas por que não aceita? É tão difícil deixar a porra do egoísmo e o
desejo de ser perfeita de lado?
Um verdadeiro caos de sentimentos, minha vontade é executar ele.
Mas isso não ajudaria em nada. Ele pode a machucar… ninguém
pode fazer isso, apenas eu para o meu prazer.
A manipulei usando a atração, o desejo. Sabia que a manipulação
era um gatilho para ela, que tinha uma chance de dar certo ou muito errado.
Holly está chegando de viagem, e amanhã teremos o jantar na mansão
Greyson.
Eu usei Abby, mas, enquanto ela me chupava violentamente,
imaginei Bunny. Queria que pensasse que fosse pela mulher ajoelhada em
minha frente, mas era tudo por ela.
Foi torturante e excitante ao mesmo tempo, não poder dar e fazê-la
sentir o que claramente queria.
Minha reação foi totalmente inaceitável, entendo perfeitamente
isso.
O amor é algo que torna o lado vulnerável exposto, às fraquezas. O
verdadeiro amor é muito além de palavras doces e carícias suaves. E sim, o
controle. Domínio. Manter o outro sob o controle para protegê-lo de seus
próprios demônios.
8 Anos de idade.
MIA DEMORY
5 anos atrás
DOMINIC AXEL
Innsbruck, Austrália
Presente
Bondade, gentileza.
Essas atitudes e sentimentos que, em teoria, deveriam levar à
salvação, apenas trouxeram a ruína. Não existem pessoas boas,
verdadeiramente compassivas ou puras; todos nós estamos fadados ao
pecado.
A realidade é que a humanidade está imersa em uma teia de desejos
obscuros e impulsos proibidos.
Ouvindo Mia Demory declarar que não foi uma vítima, mas sim
uma pecadora, senti uma excitação crescer dentro de mim. O pulsar do meu
pau é uma resposta involuntária e intensa.
Tudo com ela tem sido assim ultimamente: intenso e avassalador.
Desde que percebi o quanto ela é suja e proibida, uma atração tomou conta
de mim.
A maioria dos culpados se declara vítima, alegando manipulação ou
usados por outros.
Mas confessar seu lado obscuro é para poucos. Já ouvi muitas
confissões ao longo dos anos, mas nenhuma foi como a de Mia. Ela é um
grande labirinto de surpresas, e cada conversa nossa revela mais sobre o
quão doentio Misha é e, pior ainda, o quanto ela gosta disso.
Esse lado sádico está no DNA dela; é impossível escapar. É quem
ela é, mas aceitar essa realidade é uma luta constante.
Penso que alguém como ela poderia me aceitar sem julgamentos.
Faz um bom tempo, talvez anos, que eu não considerava essa possibilidade.
A mulher que amei teve um fim trágico graças a Will. Ele era insano, a
ponto de matar qualquer uma que demonstrasse interesse em mim, ou que
eu insistisse em ter um relacionamento.
Esses anos em que estivemos próximos, Mia nunca se abriu tanto
quanto agora, quando Misha está tão próximo dela. Nunca pensei que
Misha voltaria. Sua presença trouxe à tona uma série de emoções
conflitantes e um desejo incontrolável nela.
O “não” saiu tão involuntário, pois em minha visão, só não sei ao
certo qual, seja espiritual ou carnal.
Mia não passa de uma vítima nessa família em que nasceu.
— Axel… — sussurra ela do outro lado do confessionário. — Seu
silêncio está me torturando, fale algo por favor. — Pede com sua voz
ansiosa. — Eu sei que talvez tenha sido demais para você o que falei.
— Na verdade, acho sua confissão revigorante. Nada do que me
confessou foi demais para mim. Você acreditando ou não já ouvi coisas
muito mais terríveis do que ficar excitada pela tortura e crueldade.
Houve um suspiro de alívio do outro lado, mas também um tremor,
como se ela estivesse se segurando em um fio tênue de esperança e
desespero.
Ela não faz ideia das coisas que fiz e passei.
— Acha que somos iguais? Eu e o Misha…
Misha é um completo psicopata, penso. Mas Mia… Ela sempre
buscou o melhor nas pessoas, até em mim. Mesmo quando eu sabia que o
bem em mim havia se dissipado há muito tempo. É difícil reconciliar a
imagem da doce Mia com a mulher que agora confessa esses desejos
sombrios.
— Me diga, Mia… O que realmente deseja? O que seu coração
anseia? — questiono, ansioso pela sua resposta.
— Quero explorar esse lado obscuro… esse lado que pede por…
— Dor, medo? Por prazer misturado com o queimor da dor e todas
as possíveis sensações que o momento lhe causará? — Pressiono para
confirmar, isso está indo longe demais. Essa conversa está me deixando
louco.
Mia é a porra de uma masoquista e não consegue aceitar esse fato,
por querer ser a garotinha perfeita.
Nunca imaginei que desejaria conhecer esse lado dela.
— Sim, padre Axel… — ela solta, baixo quase como um gemido.
Me deixando mais duro. A respiração está entrecortada, tento controlá-la ao
máximo para que ela não perceba.
Essa confissão enviou uma onda de excitação através de mim, um
desejo primitivo que eu tinha tentado reprimir por tanto tempo. A ideia de
explorar Mia, de guiá-la através de seu próprio labirinto de escuridão, era
aterrorizante e irresistível.
— Mia… — solto, segurando meu pau latejando, por cima da
batina. — Você sabe o que está pedindo? — pergunto, minha voz grave. —
Está pronta para aceitar as consequências por explorar esse lado de si
mesma?
— Estou — ela responde sem hesitar, sua voz firme pela primeira
vez. — Estou pronta.
Houve uma pausa, e então eu perguntei:
— Coisas normais te excitam, Mia? — minha voz é um sussurro
sedutor. — Ou é só a dor e o medo? Presenciar a dor dos outros que te faz
sentir viva?
Ela fica em silêncio por um momento, e posso quase ver sua mente
trabalhar, tentando articular uma resposta honesta.
E a única coisa que vinha em minha mente era o porão, sujo, onde
muitos morreram e morrerão.
Puni-la lá agora, é o meu maior desejo.
Morder os bicos dos seios dela, colocar pregadores para causar dor e
excitação neles. Marcar seu pescoço, lábios derramando seu sangue.
— Não deveríamos estar nos aprofundando nesse assunto. É tão
obsceno.
— Sabe um segredo meu e agora sei um seu. Meu dever é te dar a
devida punição que merece.
— Quero que me puna — pede, fico sem entender.
— O que quer dizer?
— De que forma acha que devo ser punida? Quero que me deixe no
limite. Talvez só assim, entenderia que isso é apenas um mal querendo me
destruir. Não aceito que essa sou eu, você me entende? Não posso, nem
quero ser cruel. Virar um monstro como ele…
Misha.
Se a tocar, considere-se morto.
Minha mente fodida grita ao contrário.
Quero que me deixe no limite.
Ela não faz a menor ideia de como essas palavras mexeram comigo.
Existem várias formas de amar, insanas, saudáveis.
E todos da minha vida, me mostraram o lado insano.
Poderá existir saudável?
— Não posso — declaro, a dor de minha própria luta interna
transparecendo. — Talvez eu não conseguisse me controlar.
— Não entendo, Axel.
— Se eu começar, terá que aguentar até o fim. Não aceito o “não”,
ou muito menos que tentem me controlar. Tenho regras, e elas precisam ser
cumpridas sem questionamentos.
Ela não fala nada.
Mas seu silêncio é perturbador para mim.
— Que regras? — questiona, claramente curiosa.
— A primeira, Obediência Absoluta: você deve obedecer sem
questionar. Segunda, Silêncio Durante a Dor: quando infligir dor, não pode
gritar ou pedir para parar. Deve suportar em silêncio. Terceira, Não
teremos relações sexuais, tudo o que farei será para causar dor, não para
que goze. Quarta: usarei formas diversas para infligir a dor, minha boca,
mãos e objetos cortantes, correntes. Quinta: Marcas Visíveis: Causarei
cortes, mordidas…
— Dominic pensei que mordidas levaria para o lado sexual, assim
como sua boca, mãos… — Sinto a hesitação em sua voz.
— Primeira regra, deve obedecer sem questionar. Só assim
entenderá se isso é algo que faz parte de você. E me chame de Axel. Dirija-
se a mim como senhor quando estivermos a sós. Não levarei para o lado
sexual, mesmo que eu deseje naquele momento. Nunca, então não se
assuste se ver minha ereção presente. Sexta e última regra: O que fazemos
aqui fica aqui, não pode afetar nosso relacionamento fora desse ambiente.
— Eu compreendi, senhor — afirma. Por um momento penso ser
apenas mais um de seus joguinhos e brincadeiras. — Quando podemos
começar? Faço o que for preciso, tudo para não me entregar a essa
escuridão e se eu tiver que sentir dor, que seja. Não quero me tornar um
monstro, lutei por anos tentando ser alguém melhor e Misha, em poucos
dias, trouxe à tona tudo que tentei deixar no passado. Meus erros,
sentimentos e desejos.
Fico surpreendido, não fazia ideia de que ela era capaz de ir tão
longe para provar a si mesma que não é como ele.
Talvez isso seja uma péssima ideia.
Minha atração por ela está cada dia mais clara. Me masturbar
pensando nela foi a resposta para essa dúvida.
A dor e o prazer, são coisas que me excitam.
Não tenho certeza se serei forte o suficiente para resistir a isso…
— Me ajude… por favor, Axel. Você me deve e foi por isso que
Holly o contratou, não foi? Para que eu fosse alguém melhor que ele. Uma
luz. Faça o seu trabalho. Tudo o que acha que deve fazer não será
questionado por mim.
Meu coração acelera, não de uma forma boa, mas sim como um
alerta de que eu deveria parar por aqui. Mas mesmo com a razão gritando
alto, as palavras saem como um sussurro em meus lábios:
— Amanhã, esteja aqui depois das aulas. Não permita que ninguém
a siga.
Mia não responde, apenas abre a porta do confessionário e vai
embora, deixando-me com uma mistura de ansiedade e excitação.
Eu fico ali, parado, tentando processar o que acabou de acontecer.
O silêncio que se segue é quase ensurdecedor, amplificando cada
batida do meu coração. Tento ouvir qualquer sinal de movimento do outro
lado, mas tudo o que recebo em troca é o som abafado dos meus próprios
pensamentos.
Minutos se passam, ou talvez apenas segundos. É difícil dizer com
precisão quando estou tão imerso na expectativa.
A porta do confessionário se abre, e uma silhueta se desenha contra
a luz fraca do corredor. Minha respiração se torna mais rápida, e meu
coração parece querer pular do peito. Não reconheço a figura que entra, mas
a postura dela exala uma presença que exige minha atenção. Ela fecha a
porta atrás de si, mergulhando-nos novamente na penumbra quase total.
— Mi perdoni, padre — declara em italiano, me pegando totalmente
de surpresa. Como ela poderia saber que sou italiano? — Não esperava
encontrar alguém aqui… — diz ela, com um tom que carrega uma
intrigante mistura de surpresa e curiosidade. — Queria apenas um lugar em
silêncio, para que eu pudesse tentar compreender meus próprios
pensamentos.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a voz desconhecida
preencheu o ar, quebrando o silêncio com uma suavidade que contrasta com
a tensão do momento. A familiaridade da situação se dissolve
instantaneamente, substituída por uma nova camada de mistério. Sua voz
me puxa de volta à realidade, trazendo consigo uma onda de novas
emoções.
— Sei que deveria ter marcado horário com o senhor, mas não
queria… não quero que reconheça meu rosto depois da minha confissão.
Seria terrível ser reconhecida entre as mulheres por ser alguém tão suja pelo
pecado.
Ela não hesita em cada palavra que sai de seus lábios, claramente
bem estudada nessa língua. Sua voz tremeu de leve percebo que ela a está
forçando para ficar irreconhecível caso a veja por ai falando em italiano,
carregada de vergonha e medo. Tento manter a calma, apesar do turbilhão
de emoções dentro de mim.
— Como posso chamá-la? Pela sua voz, está claro que é jovem. Não
seria interessante alguém como eu chamá-la de filha, já que, claramente,
não é uma das mulheres casadas e de idade que costumo aconselhar. —
Tento suavizar o clima mórbido que ela transmitiu.
— Claro, e você… não aparenta ser nada velho, padre — afirma,
com a voz carregada de curiosidade. — Pode me chamar de… Lilith.
O nome ecoa no confessionário, deixando-me sem compreender seu
raciocínio.
— Pensei que… não queria que eu descobrisse quem era — declaro,
confuso.
— Esse não é meu nome verdadeiro — responde rapidamente, a voz
firme.
— Então, por que Lilith? — pergunto, curioso.
Há uma pausa, e posso quase sentir a tensão no ar.
— Lilith foi a primeira mulher, antes de Eva, segundo algumas
lendas. Ela escolheu ser livre, mesmo que isso significasse ser expulsa do
Paraíso.
Em todos esses anos, me fechei para as pessoas, e decidi ouvi-las.
Ser padre tem seus fardos, ouvir confissões as quais nenhum outro ouvira,
dar conselhos. Ouvir Lilith me fez lembrar de um tempo em que me sentia
exatamente do mesmo jeito.
Mia é uma responsabilidade alguém capaz de foder com todos os
meus planos com Misha. Para conseguir o que tanto desejo, valeria a pena?
Me arriscar por alguém tão instável?
— Eu claramente, estou condenada a ele.
— E por qual motivo pensa dessa forma?
— Amo um homem que é um assassino — exclama, como uma
súplica de dor. — Eu o amo, e mesmo sabendo disso, meu amor não
diminuiu. Irei para o inferno, por ele, sabendo quem é, e o que faz.
— Se aceita isso, por que se confessar?
— O fardo de amá-lo… de não poder falar com alguém sobre isso
me deixa muito mal, como se… tivesse causando minha própria ruína. E
você… o senhor… padre é o único que poderia me confessar e saber que
não contará a ninguém o que ouviu de mim.
Mesmo não falando, sei exatamente como é.
Amar alguém dessa forma, tão cegamente, achando que merece e
deve passar por isso sozinho, por ele.
Foi o que fiz, pela minha família. Por anos busquei entender o
porquê de todas as torturas. Apenas por ser um pecador? Eu seria o único na
família merecedor de punições incessantes?
— Se tem tanta convicção disso, por que não me deixa saber quem
é?
— Odiaria ter que matá-lo, padre, caso não soubesse guardar meu
segredo. Ele me mataria, se descobrisse que estou aqui. Tudo é intenso,
entre nós dois, o amor, a crueldade, o sexo e as drogas. E eu amo. Amo
como tudo isso me faz sentir viva.
Por muitos anos, fui controlado por Will, sentindo a dor de cada
morte, de todas que já me conectei. Achando que eu merecia, que precisava,
pela minha falta de obediência por estar sendo punido por Deus através
dele. Irmãos, melhores amigos.
Me libertar nunca foi uma opção.
— Está claramente dependente dele…— Solto. E a respiração da
garota do outro lado do confessionário fica entrecortada.
— Sabe o que é amar alguém? Tanto, ao ponto de aceitar suas
loucuras? Por saber que mesmo as vezes não parecendo ele quer o seu
melhor? — Ela faz o questionamento um atrás do outro. — E…
— Ele te machuca? — Ela para o que ia dizer.
— Sim. Porquê eu permito — confessa com hesitação.
O silêncio que se segue é carregado de tensão, um peso quase
tangível entre nós.
— Permite? — repito, a incredulidade em minha voz.
— Eu sei que parece insano, padre — ela responde, a voz cheia de
emoção. — Mas é complicado. Ele… me entende de uma forma que
ninguém mais entende. E essa dor… me faz sentir viva, de um jeito que
nada mais faz. Ele só faz até ser o suficiente.
— E quando exatamente é o suficiente?
— Quando eu chego ao ápice, isso é melhor que qualquer droga que
já provei. Me faz esquecer tudo e todos — revela, sua voz carregada de um
misto de êxtase e desespero. — Perder o controle.
Fico apavorado, e ao mesmo tempo sem saber o que dizer.
Ela goza sentindo dor?
Mas que Cazzo é essa? Não pode ser isso.
Não é possível.
Quem é ela?
Quem?
— Devo ir embora, talvez precise refletir sobre minhas confissões
— afirma. — E está ficando tarde, estarei aqui, neste mesmo horário em
breve não me desaponte, por favor… eu preciso de você mesmo que seja
apenas para me ouvir.
Em nenhum momento a aconselhei, só vinha questionamentos em
minha mente, já confusa pelo pedido de Mia… e agora ela…
— Boa noite… padre.
— Boa noite… Lilith. — Solto.
MISHA CROWN
MIA DEMORY
MISHA CROWN
CASEY GREYSON
MIA DEMORY
5 anos atrás
DOMINIC AXEL
MIA DEMORY
MISHA CROWN
A reunião foi adiada para outro dia, por imprevisto, de acordo com
Mikai.
Eu sabia exatamente para onde Casey Greyson a levaria:
Apartamento 026.
Dou um sorriso ao vê-la indo embora com ele, a silhueta do carro
desaparecendo na escuridão da noite. Ela realmente achou que a deixaria
livre? Que teria a chance de escolher entre nós? Mas nem sempre temos
essa opção.
Eu não tive.
Cinco anos atrás, o ato profano de Mia abriu um buraco dentro de
mim. Um vazio do qual nunca consegui escapar, que só ela é capaz de
preencher. E agora, preso nisso, a única saída que vejo é arrastá-la para
junto de mim.
Um beijo, um maldito beijo.
Ela o beijou e ainda usava a aliança.
Que merda Casey acha que está fazendo?
Minha mente me atormenta a cada segundo, enquanto aguardo antes
de ligar o carro. Sigo o mesmo destino que eles, cada quilômetro
aumentando a tensão que cresce dentro de mim. Apesar da raiva e da dor,
sabia a confusão que Mia sentia por todos, e por isso estava perdida do
caminho certo.
Não houve um único dia em que não me lembrei de Scarlett.
A memória dela me assombra e consome. De alguma forma, Mia se
tornou o símbolo de tudo o que perdi e não consegui proteger.
Desde que nascemos, Holly sempre teve uma fissura por mim. Um
desejo possessivo que se intensificou com o tempo. Ela mudou nossos
sobrenomes, como se isso pudesse romper a conexão entre mim e Mia.
Sempre quis minha total atenção para ela, desde a infância.
Quando percebeu que nunca teria, me afastou e agora tenta
manipular Bunny, usando-a como uma arma para me controlar.
O caminho até o Hotel Royal Lux se torna um borrão, já que minha
mente se enche de emoções conflitantes. A imagem de Casey tocando-a,
seus lábios nos dela, invade os pensamentos como alfinetes penetrando
minha cabeça.
Maldito filho da puta.
E aquele anel… O brilho do diamante em seu dedo anelar, é um
lembrete constante do quão longe ele está disposto a ir.
Estaciono o carro em frente ao hotel, minhas mãos apertam o
volante, e desço indo em direção às portas do Royal Lux. O lugar exala
luxo e exclusividade, mas para mim é apenas uma prisão disfarçada. Ao
entrar no saguão, uma mulher elegante está sentada na recepção, seu olhar
atento se fixa em mim.
— Boa noite, senhor Crown. — Sua voz é suave, mas há uma ponta
de formalidade em suas palavras. Fico surpreso que ela conheça meu nome.
— O senhor Greyson deixou claro que viria também e pediu para lhe
entregar o cartão de acesso. — Ela estende a mão, segurando um pequeno
cartão magnético. Seus olhos não revelam nada, mas eu posso sentir a
tensão subjacente.
Pego o cartão. A mistura de frustração e realização inunda meus
pensamentos.
É claro que Casey antecipou isso.
Ele sabia que eu viria.
Bunny pensa que tem o controle, mas essa noite não será como
imagina.
Entro no elevador e aperto no quinto andar. A caixa metálica sobe
rapidamente, como se ansiasse nossos reencontros tanto quanto a adrenalina
que ronda minhas veias.
Ao chegar no andar, sigo observando os números das portas até que
encontro o 026. A chave magnética pesa na minha mão. Deslizo o cartão na
fechadura e a porta se abre com um clique suave.
O apartamento é luxuoso, e decorado, mas todos esses detalhes
passam despercebidos por mim. Sigo até uma porta, onde escuto gritos ou
seriam gemidos de dor?
Ao abrir lentamente a porta. Meus olhos foram imediatamente
atraídos para Mia, sentada na cama forrada com um lençol vermelho. A
visão era perturbadora e excitante.
Ela está amarrada com cordas que passam pelo seu pescoço e mãos
presas atrás, e acorrentada ao teto. As correntes puxam-na para cima,
fixando-a na cabeceira da cama, completamente nua. Seus olhos estão
vendados por um pano preto e suas pernas presas em cada pilar da cama por
correntes, deixando-a completamente exposta e vulnerável.
— Que bom que chegou a tempo… — Casey sussurra, surgindo do
banheiro, usando apenas uma toalha enrolada na cintura, e com uma
expressão de satisfação cruel estampada no rosto
— Casey… quem chegou? — Mia questiona tentando enxergar pelo
pano preto.
Casey se virou para mim, seu olhar desafiador e um sorriso perverso
nos lábios.
— Observe, dominador — ordena com um tom de comando.
Ele indica uma cadeira de frente para a cama. Me aproximo,
sentindo o peso da situação, e falo em um tom baixo:
— Não combinamos isso, Casey.
— Não concordamos com muitas coisas. E já que não podemos nos
matar, por que não aproveitar o que temos em mãos? Por que não deixa ela
decidir?
Gesticula para Mia, cuja intimidade está visivelmente exposta.
A visão dela assim, tão vulnerável, me faz sentir excitação. Lembro
de algumas noites atrás, quando provei de sua deliciosa boceta apertada.
— Bunny… — afirmo me aproximando dela, e ela tenta se mexer,
porém não consegue.
— O que está fazendo aqui, Misha? — questiona. Seguro seu rosto e
abaixo a venda, seus olhos verdes encontram o meu.
— Eu preciso que diga que precisa disso, Bunny. E por esse motivo
aceitou isso. — Ela olha para Casey, como se não entendesse o que está
acontecendo.
Talvez Casey estivesse certo. Havia muito em jogo e perder a seita
não seria ideal para mim agora.
Ela já tinha sido corrompida por Dominic, o que mudaria se fosse
por Casey? Mesmo assim, eu ainda serei quem tem seus sentimentos
verdadeiros.
E se for preciso aceitar isso para tê-la só para mim, concordarei com
o risco.
— Diga — pedi, sentindo meu coração acelerar.
— Misha…
— Se esse for seu desejo, realizaremos juntos, Bunny — disse, meu
olhar fixo no dela.
— Sim. É o que quero. — ela confirma, em um sussurro de
desespero.
Concordo com a cabeça, embora estivesse esperando que ela
dissesse que não precisava disso. Mas eu sabia que, de alguma forma, ela
estava aceitando a situação.
Me sento na cadeira, observando o cenário que se desenrola diante
de mim. Casey, com um olhar triunfante, começa a se aproximar de Mia.
Quando ele abaixa-se sobre Mia, seus lábios encontram os seios dela
em um gesto possessivo, mordendo e lambendo a pele sensível. Cada toque
parecia incendiá-la, pois arfa e geme, enquanto seus olhos me observam
como se quisesse que eu ficasse excitado com a situação.
Eu estou ali, sentindo-me fraco. Forçado a assistir enquanto Casey
toca nela, se tornando uma mistura insuportável de dor e desejo.
Desce a língua lentamente pela barriga de Bunny, provando cada
centímetro de pele, o que a fez arfar mais alto.
Sua atenção momentânea desvia-se para ele, que sobe novamente e
toma seus lábios em um beijo profundo e faminto. Então, se posiciona sobre
ela, removendo a toalha que cobria seu corpo, ficando completamente nu.
— Casey… — geme, sua voz tremendo com prazer e confusão.
Casey, em resposta, desce a língua novamente, provocando-a com
movimentos lentos e torturantes, parando propositalmente antes de chegar
ao ponto que ela mais deseja.
Eu estou dividido entre a raiva ardente e a necessidade desesperada
de manter o controle. Minha mente gritava que isso é por ela, que essa é a
única maneira de evitar um mal maior. Mas o conflito dentro de mim é
insuportável; cada vez que minhas mãos tremiam, me seguro para não
arrancar Casey de perto dela. Para não ceder à violência que borbulha sob a
superfície da minha pele.
Quando finalmente chega ao clitóris dela, sugando-o com uma
intensidade calculada, Bunny se contorce. Os gemidos se tornam mais altos,
misturados com pequenos gritos de prazer.
Suas pernas se puxam contra as amarras, mas as correntes são
firmes, mantendo-a aberta e vulnerável. O som de seus gemidos ecoavam
no quarto. Uma melodia cruel que parecia zombar da minha fraqueza.
— Misha… — Bunny me chama em um sussurro.
Meu pau pulsa dolorosamente contra o tecido da calça, uma reação
que eu odeio e desejo em igual medida. Não consigo tirar os olhos dela,
observando as expressões que se formam em seu rosto: prazer, confusão,
um resquício de descontrole interno que apenas ela poderia entender.
Casey não para. Chupando e lambendo seu clitóris com uma
dedicação que me enche de uma raiva impotente. Cada vez que ela geme, e
seu corpo se contorce contra as correntes, eu me sinto como se estivesse
sendo torturado.
E gosto dessa sensação, mesmo que não quisesse aceitar.
A dor de vê-la.
O que me causa um mínimo conforto é que mesmo com ele, ainda
geme meu nome.
Minha mente pensa em mil formas de executar ele enquanto a fode
com a língua e seus dedos ágeis.
Casey se posiciona para penetrá-lá, mas antes sussurra:
— Diga o que quer, fale olhando para Misha… — Ele a estimula
pelo clitóris.
Seus olhos esverdeados e em um tom mais escuro, cheios de prazer.
Fixam em mim.
— Que me foda.
Imagino uma cena de violência com clareza: esmagar seu crânio
contra a parede. Esse pensamento é uma fuga temporária da realidade cruel
diante de mim. Uma maneira de lidar com o que está acontecendo sem
perder completamente o controle. E por imaginar a fodendo com o sangue
do amante que está a consumando nesse exato momento.
Casey, com um sorriso satisfeito, posiciona-se entre as pernas dela,
segurando suas coxas com firmeza, coloca uma camisinha e começa a
penetrá-la lentamente, provocando-a com a ponta do seu membro antes de
empurrar, centímetro por centímetro.
Posso ver cada detalhe da expressão dela. O prazer misturado com o
desespero, ainda me olha fixamente, como se estivesse buscando algo uma
confirmação, aceitação ou talvez até uma redenção.
Ele começa a se mover. Entrando e saindo dela com uma precisão.
Abri a calça, e abaixo a cueca, já não aguentando mais.
Toco no meu membro e começo a me masturbar. Solto um gemido
intensificando o movimento.
A sala está mergulhada em um calor sufocante. O ar carregado de
desejo e tensão. Os gemidos de Bunny, o som úmido e repetitivo de Casey
entrando e saindo dela, tudo parece amplificar a minha respiração pesada.
Estou consumido por um desejo ardente e implacável, incapaz de resistir ao
que está diante de mim.
Minha mão desliza ao longo do meu pau com uma intensidade
crescente, sincronizando-se com o ritmo dos movimentos de Casey. Uma
coreografia de luxúria que me prende a uma agonia prazerosa.
Bunny me observa, um sorriso fraco se formando em seus lábios
enquanto era penetrada por ele.
Havia algo em seu olhar. Uma mistura de desafio e submissão, como
se ela soubesse exatamente o que está fazendo comigo.
Era um jogo perverso, um teste para ver até onde eu estava disposto
a ir por ela, e está falhando miseravelmente.
Sinto-me uma marionete, controlado pelo desejo que ela e Casey
estão cultivando. Cada movimento deles me puxando mais fundo em um
abismo do qual eu sei que não tem saída.
Enquanto meus dedos se movem mais rápido em torno do meu pau,
agora completamente exposto, meu gemido sai em um rosnado baixo e
feroz. Eu posso sentir o prazer crescendo dentro de mim, uma pressão que
ameaça me consumir por completo.
Continuo me masturbando, até que noto que ela está perto de gozar.
Levanto da cadeira, tiro minha camiseta e todo o resto. Aproximo-
me deles, Casey estremece ao libertar sua porra.
— Minha vez — murmuro ao puxá-lo para longe dela, minha voz
rouca e cheia de desejo.
Casey, surpreendido e sem forças, cede sem resistência, deitando de
lado.
Enquanto, me posiciono entre as pernas de Bunny.
Ela mal teve tempo de reagir antes que a penetrasse com força.
Arrancando-lhe um grito que estremece pelas paredes. A sensação de estar
dentro dela, quente, úmida e apertada, é quase sufocante.
Eu a fodo com uma brutalidade que é ao mesmo tempo uma
expressão de minha raiva e um grito de posse. Cada estocada é uma
afirmação de que ela é minha e que ninguém mais teria o que eu tinha.
Bunny geme, a sua cabeça jogada para trás, as mãos ainda
amarradas, incapaz de se mover. Seus olhos encontram os meus, e no fundo
deles, vi algo que me inflama ainda mais: prazer absoluto.
Ela gosta disso, da minha brutalidade. Da maneira como eu a tomo
sem remorso, sem piedade.
E quando ela finalmente chega ao clímax, seu corpo arquea
violentamente.
— Diga que me ama… — ordeno.
Fodendo sua boceta molhada por nós dois.
— Eu te amo… — declara e impulsiona seu rosto para frente e nos
beijamos.
Sentindo o controle novamente em mãos, gozo dentro dela sem
camisinha. Sentindo seu líquido escorrer sobre meu pau, meu corpo treme
com a intensidade da foda e da minha porra enchendo-a.
Olho para Casey, que nos olha dando um sorriso perverso. Bunny
morde o lábio, com a respiração ainda ofegante e os olhos fechados.
Que caralho eu fiz?
Aceitar isso foi mais difícil para minha sede de sangue que meu
desejo por controle, é o que eu senti naquele momento.
Mas ao estar presente, os dois se colidiram repetidas vezes.
Pego minhas roupas e entro no banheiro. Ligo o chuveiro, a água
bate contra meu corpo, o vapor subindo ao redor em nuvens espessas, mas
nada disso consegue silenciar o turbilhão de pensamentos que atormentam
minha mente.
A ironia era sufocante; ali estou eu, o homem que sempre acreditou
estar no controle, à mercê de circunstâncias que odeia. A sensação de
impotência é uma tortura e a raiva que eu sinto está à beira de transbordar.
Perdido em meus próprios pensamentos, ouvi uma voz ecoando pelo
banheiro, cortando o som da água e a paz que eu tanto ansiava.
Mas para saber se era verdade, escuto uma segunda vez.
— Misha?
Mia.
A voz dela é suave, mas com uma firmeza hesitante que ela não
costuma demonstrar. Aproximo-me da parede de azulejos, deixando a água
escorrer pelo meu rosto, mas não respondi. Simplesmente não consigo.
— Deveria ter ido com Casey — declaro.
Casey havia deixado o quarto por pedido de Mia, se vestindo e com
um olhar que deixava claro que nos esperaria lá embaixo.
— Não queria te deixar sozinho.
Sorrio com sua fala. Pela primeira vez, ouvi a preocupação real em
sua voz. Há algo ali, um tipo de culpa que ela não consegue esconder, mas
eu não estou pronto para lidar com isso.
Sem esperar uma resposta, Mia se aproxima. Seus passos bradam no
chão do banheiro. O ar entre nós está carregado de uma tensão quase
tangível. Quando ela entra sob o chuveiro comigo, seu corpo nu próximo do
meu, o calor da água não era nada comparado à febre que começa a arder
entre nós.
Ela se coloca na minha frente. Seus olhos buscando os meus, mas o
que encontra é um abismo escuro, uma alma em guerra consigo mesma. Os
minutos passam em uma tranquilidade pesada, apenas o som da água caindo
ao nosso redor e respirações.
— Nunca pensei que isso aconteceria, você… me… — ela começa
cortando o breu.
— Dividindo? Infelizmente minha opção de matar Casey não deve
estar na minha lista de afazeres. — Deixo claro.
— Por quê? O que está acontecendo? O que vocês estão
escondendo? E Zack… — Mia pergunta, sua voz cheia de curiosidade e
uma crescente angústia. — Saindo de madrugada… o que vocês estão
fazendo?
Eu ri, mas o som que sai é amargo. Uma risada sem humor.
— Eu aceitei essa merda por você, Bunny — digo em voz baixa,
mas intensa. — Você é o meu demônio, Bunny — continuo, meu olhar fixo
no dela. — Mas isso não quer dizer que eu não possa te explicar porquê
Casey te quer tanto.
Ela pisca, surpresa, sem entender o que eu estou dizendo.
— Sabe por que ele quer você? — pergunto, esperando a resposta
que já sabia que não teria Esperando que negasse, o que, é claro, faria.
O silêncio é como um veredicto. Eu sei que a verdade a
despedaçaria, mas parte de mim queria que ela soubesse, que sentisse o
mesmo ódio que eu sentia.
— Por causa da porra do cadáver da ex-noiva dele. — Minhas
palavras foram cortantes, cada uma delas cheia de intenção cruel. — Você
significa alguém que ele próprio matou. Casey tem um quarto cheio de
fotos suas e dela. Sabe tudo o que fez nos últimos cinco anos. Se excitou ao
perceber que vocês não só se pareciam em algumas atitudes, mas o cabelo,
os olhos, a cor da pele…. É a sombra de um fantasma, Bunny. E está te
usando para reviver o que perdeu e que nunca teve com Beatrix.
Os olhos dela começam a se encher de lágrimas. Uma reação que eu
esperava. Ela balança a cabeça, negando com veemência.
— Não, isso não é verdade. Casey não é como nós, Misha. — Sua
voz está trêmula, quebrando no final, como se tentasse se convencer de que
no fundo é uma mentira.
— O que mais me irrita… — continuo, sem dar a ela tempo de
processar completamente o que havia dito — É saber que você buscou nele
algo que não encontrou em mim. E, mesmo que não queira admitir, não
existem mocinhos nessa história, Bunny. — Minha voz ficou mais baixa,
um sussurro mortal. — Quer a verdade? Por que não vai conferir? Te darei
o endereço. Cada maldito detalhe. E saberá o que faço nas madrugas e
Casey também. Mas agora sai de perto de mim, antes que eu mesmo cometa
algo do qual me arrependerei.
Ela fica parada por um momento, a respiração dela rápida, quase
ofegante. Os olhos dela estão uma confusão de medo e tristeza. Sem dizer
mais nada, Mia sai do banheiro, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto,
seu corpo tremendo enquanto pega as peças de roupa e se veste às pressas e
desaparece do meu campo de visão.
Eu sabia que, mais do que nunca, a porta para o inferno havia sido
aberta.
E desta vez, não havia como fechá-la.
Baby, eu poderia desacelerar
Se é isso que você precisa que eu faça
Podemos ir outra rodada
Talvez para uma nova altitude.
(...)
Perder outra verdade
Não aja como se eu não soubesse
Mm, eu sou tão profissional
Eu vou fazer você precisar e você quer.
Altitude, Montell Fish
MIA DEMORY
CASEY GREYSON
MISHA CROWN
A deixei lá, e vim embora para casa. O que menos precisava era ver
Casey. Ao dirigir totalmente atordoado, finalmente adentro a casa, e subo as
escadas até o meu quarto, os degraus rangendo sob meus pés.
Minha mente está em um turbilhão, mas de repente, as vozes me
trazem de volta à realidade. Paro no meio do caminho e ouço com atenção.
A princípio, são apenas murmúrios abafados, mas conforme me
aproximo, as vozes ficam mais claras. Reconheço-as: Holly e Zack.
Algo no tom deles me faz parar, ficar completamente imóvel.
— Nosso tempo está acabando, Holly! — Zack diz, com a voz
alterada, quase desesperada. — Isso vai acabar te matando. Temos que agir.
Morrendo? Minha mente trava nessa palavra. Eu mal consigo
processá-la enquanto continuo ouvindo.
— Não, eu tenho alguns meses ainda — Holly responde, com um
tom de falsa tranquilidade. Mas há um tremor quase imperceptível em sua
voz, que revela que ela sabe que o tempo está realmente se esgotando.
— Você não sabe disso! Ninguém tem essa certeza. Foda-se tudo, o
que importa é a sua vida, caralho! — Zack, praticamente, grita. O desespero
na sua voz é palpável.
Minhas sobrancelhas se franzem, e o desconforto começa a crescer
no meu peito.
O que está acontecendo? Holly está morrendo? E Zack… Parece à
beira de um colapso.
Escuto tudo com atenção, me esforçando para não fazer barulho e
que não percebam minha presença.
— Zack, por favor, preciso que você fique do meu lado! — implora
Holly, a voz é baixa, quase quebrada.
— Como quer que eu fique ao seu lado quando estou vendo o amor
da minha vida morrer?! — Zack explode, sem conseguir mais segurar o
que sente.
O quê? Amor da sua vida? Aquelas palavras me deixam sem
reação.
Zack… e Holly? O choque faz minha respiração falhar. Eles
estavam juntos esse tempo todo? Desde quando? Zack, que sempre esteve
ao meu lado, que sempre parecia leal… Agora está com Holly?
— Eu te amo, você não vai me perder — Holly responde, e então
ouço o som de um beijo. Um beijo apaixonado, carregado de emoção. O
som deles ficando ofegantes me enoja.
Como não vi isso antes?
— E o que faremos com Misha? Mia precisa se casar o quanto
antes. — Holly muda o assunto, como se tivesse uma urgência por trás de
suas palavras. O nome de Mia me puxa de volta à realidade.
Me inclino mais perto, cada palavra deles agora eliminando
qualquer resquício de confiança que eu pudesse ter em Zack.
— A única opção de Mia é se casar, ou Mikai a mata. Seja com
Casey ou Dominic. — A voz de Zack soa tensa, como se ele também
estivesse dividido.
— Não! Dominic não é uma opção viável para os meus planos. Ela
deve casar com Casey — Holly insiste, com firmeza. — Ela está
apaixonada por ele. Sei que vai escolhê-lo.
— Como você tem tanta certeza? — Zack pergunta, sem esconder a
dúvida.
— Porque, pela primeira vez em muitos anos, ela ignorou os
sentimentos repulsivos que tem por Misha e foi com Casey ao baile. Isso
deve significar algo, Zack.
Filha da puta!
Me afasto, antes que me vejam.
O que eu faço?
O que?
Prefiro minha carnificina e que o inferno permaneça.
Então, que o inferno permaneça.
Os olhos não mentem
Diga que você é minha
Os olhos não mentem
Não posso mentir para você, querida
Quero sentir seu corpo perto
Você diz que me odeia
Mas me conta coisas que ninguém sabe
Sim, você é linda, não precisa tentar
Querida, você parece divina.
Eyes Don't Lie, Isabel LaRosa
DOMINIC AXEL
Levo Mia para minha casa. Ela está frágil, e após tudo o que havia
passado, precisa de um ambiente seguro e estável. A casa dela é o último
lugar que poderia ser considerado.
Ela está sentada no sofá, enrolada em uma manta, segurando uma
caneca de chocolate quente entre as mãos. Veste uma blusa social preta
minha e uma calça de moletom cinza, grande demais para o corpo delicado
dela, mas que a mantém segura. Seus olhos ainda mostram resquícios de
medo, mas tem um esforço evidente para manter a calma.
— Está melhor? — pergunto, tentando suavizar a tensão no ar.
Ela ergue os olhos lentamente, piscando, saindo de um transe.
— Sim, obrigada, Dominic. Sem você, eu… — A voz dela fraqueja.
Aliso o rosto dela com delicadeza. Os dedos deslizando pela sua
pele fria, tentando oferecer algum conforto.
— Ele teve sorte que cheguei a tempo. — Minha voz sai carregada
de uma frieza mórbida e eu sei que Mia captaria. — Se não tivesse, a morte
dele teria sido muito mais dolorosa.
Ela treme, apertando as mãos.
— O que fez com o corpo? — A pergunta sai num sussurro.
— Um dos homens de Mikai está cuidando disso — explico, sem
rodeios. — Não se preocupe com isso.
— Mas isso quer dizer que você faz parte da seita agora? — Sua voz
sai calma, porém hesitante.
— Não. — Balanço a cabeça. — Ele apenas concorda que
abusadores devem morrer. Mia, você está bem mesmo? Suas mãos estão
tremendo. — Noto como seus dedos se entrelaçam em um esforço de se
acalmar, mas o tremor é incontrolável.
— Quando ele tentou… — Sua voz falha por um momento. — Ou
fez menção disso, nossa conversa sobre Holly… sobre o que ela pediu para
que fizesse, veio à tona. — Ela abaixa o olhar, com lágrimas se formando
nos olhos. — Eu me pergunto como ela foi capaz de pensar em algo tão
repulsivo.
Toco gentilmente seu ombro, tentando puxá-la de volta ao presente.
— Nada disso importa agora. Nosso acordo acabou.
Mia me olha fixamente.
— Acabou? — A incredulidade em sua voz. — Então… você vai
embora?
Nego com a cabeça.
— Ainda há muito o que resolver aqui. — Pauso, analisando o que
ela está prestes a me dizer, contudo nada sai. Então pergunto o que está me
corroendo por dentro: — Você vai casar?
Mia respira fundo, como se o peso de suas escolhas estivesse prestes
a esmagá-la.
— Sim… Ou, pelo menos, é o que esperam de mim. — Seu rosto se
contorce em agonia, e as lágrimas finalmente cessam. Ela limpa os dois
lados das bochechas. — Sinto muito por te colocar nessa situação, Dominic.
Isso tudo é uma grande merda. — Ela olha para minhas mãos, manchadas
com o sangue do homem. — Suas mãos… estão meladas de sangue. Assim
como seu rosto, deveria se limpar — sugere.
— Claro, irei fazer isso. Mas, entenda, ele era um abusador de
merda. Teve o que mereceu, e faria isso quantas vezes fosse necessário. —
Minha voz endurece. — E não é a primeira vez, Mia. Eu… matei meu
irmão Will e pai — confesso, a verdade, mesmo saindo mais amarga do que
eu esperei.
Ela continua me ouvindo, com uma atenção silenciosa.
— Eles mataram duas pessoas que foram importantes para mim. Eu
os tirei do meu caminho. — Meu tom está tenso. — Você talvez não
entenda o que é o sentimento de vingança…, mas é doce quando o sangue
dos responsáveis está em suas mãos.
Mia assente, seu olhar compreensivo, embora perturbado.
— Sim, Dominic… eu entendo. E não te julgo. — Ela limpa uma
lágrima solitária de sua bochecha. — Mas… casar com Casey ou Misha…
Não sei se isso é uma boa ideia, estou confusa sobre tudo. São tantas
revelações e sentimentos inesperados. — Sua voz sai fraca, quase inaudível.
— Eu não sei o que fazer.
— Casa comigo — verbalizo as palavras me veio à mente, antes que
eu pudesse racionalizá-la.
O olhar de surpresa em seus olhos foi imediato, mas não de rejeição.
— Mas… isso não te atrapalharia nos seus planos de vingança?
Senti um sorriso perigoso se formar no meu rosto.
— Não. Pelo contrário. Ser padre foi uma ótima fachada, mas… um
que abandona seu cargo por amor? — Me aproximo, tocando seu queixo. —
Isso é perfeito. A menos que você…
— Não. — Mia me interrompe, o brilho de uma decisão surgindo
em seus olhos. — Eu… concordo. Sim! É claro que sim, Dominic.
Percebi naquele instante o quanto aquilo é uma péssima ideia, e
ainda assim… irresistível. Nossos lábios se encontraram num beijo quente e
urgente, o gosto salgado de suas lágrimas se misturando aos meus lábios.
Quando nos separamos, Mia me olha com uma expressão que
transborda algo novo. Algo mais profundo.
— Dominic… obrigada por me proteger.
— Já falei que… — Começo a responder, mas ela me interrompe de
novo, segurando meu rosto.
— Não só por hoje. — Sua voz era suave, mas cheia de emoção. —
Por todos os outros dias. Axel… — Ela para, hesitando por um momento.
— Eu realmente acho que estou apaixonada por você, Axel.
Meu coração acelera, e por um breve segundo, todas as minhas
intenções de vingança e escuridão parecem se dissolver, apenas para serem
substituídas por um sentimento que eu havia enterrado há muito tempo.
Amor.
Eu estou disposto a deixar de lado o que sentia por ela. Mas, ao
presenciar tal ato mais cedo, percebi o quanto estava sendo tolo ao fugir.
— Então, isso significa que não está aceitando apenas por ser
beneficente para você?
— Estou aceitando porque, eu sei que me protegerá.
— O problema é que não sei se conseguirei te proteger de mim
mesmo, Demory.
— Daremos um jeito de nos entendermos, sei que sim. — Ela sorri,
um sorriso que me dá esperança como Alice fazia.
Com ela parecia que tudo era possível.
E com Mia Demory, sinto o mesmo.
Eu tentei gritar, mas os lírios
nublaram minha mente
As pétalas flutuando suavemente
perto dos meus olhos
Senti seus dedos rastejarem
lentamente pelas minhas voltas
Não tivemos que afundar para você ser meu.
Lilith, Saint Avangeline
MIA DEMORY
Dominic foi embora. Então decidi tomar um banho para tentar tirar
o peso que sinto sobre mim. Algo que se impregnava não apenas na pele,
mas na alma. A noite foi um desastre. O calor das tensões mal resolvidas
ainda queima dentro de mim.
Sei que haverá consequências, e elas já estão se desenrolando, uma
após a outra. Não conseguia afastar os rostos de Misha, de Casey, e a frieza
com que Holly me observaram. Cada olhar, gesto, parece ter selado um
destino que eu mal comecei a entender.
Entro no quarto e paro no mesmo instante. Casey está lá, sentado na
poltrona, o mesmo lugar que Misha ocupou antes.
Ele está relaxado, como se me esperasse há algum tempo. Um
cigarro descansa entre seus dedos e o cheiro do tabaco invade o ambiente.
Meu coração acelera no mesmo instante.
— Casey… O que faz aqui? — Minha voz sai baixa, hesitante, o
suficiente para atraí-lo com a quebra no timbre.
Ele não responde de imediato, apenas inala mais um trago do
cigarro. A fumaça subindo lentamente em espirais, se dissolve no ar. Seu
olhar, porém, não vacila, preso ao meu, esperando algo.
— Por que escolheu ele? — questiona, finalmente.
Meus lábios se entreabrem, mas as palavras não vêm de imediato.
— Foi o mais sensato a fazer — respondo, tentando manter a voz
firme.
— Sensato? — Ele ri, o som é áspero, amargo. — Para você, amor?
Meu estômago se revira ao ouvir a palavra “amor” escapar de seus
lábios com tanta facilidade. Sinto a tensão crescer no ambiente, como a
fumaça que agora flutua entre nós. Evito olhar diretamente em seus olhos,
mas era impossível não sentir a sua presença se aproximando cada vez
mais.
— Não me chame assim, Casey… — sussurro, a voz quase
sumindo.
Ele apaga o cigarro com um gesto calmo, sem pressa.
Levanta-se da poltrona e caminha em minha direção. Sua sombra se
alongando no chão conforme ele se aproxima, fazendo meu coração bater
ainda mais rápido. Eu consigo sentir o cheiro da nicotina em sua pele
misturado com o perfume amadeirado que sempre o acompanha.
— Sei que está confusa, Mia. — Sua voz é baixa, mas o seu olhar
contava outra história. — Mas escolher Dominic… isso eu não entendo.
Tento me afastar, instintivamente criando distância entre nós, mas
Casey segue em frente, e logo senti seu corpo muito próximo do meu. Sua
respiração quente roçava em minha pele, o cheiro dele invade todos os
meus sentidos.
— Não precisa entender, Casey — falo. — Acabou. Tudo acabou.
Ele negou com a cabeça, um sorriso irônico se formando em seus
lábios.
— Não, Mia. — Casey inclina a cabeça, seus olhos percorrendo
meu rosto como se pudesse ver além das palavras. — Você sabe que isso
acabou de começar.
O tom de sua voz é frio, mas carregado de uma verdade que eu não
quero admitir. Algo profundo dentro de mim se agita com suas palavras,
uma parte que eu estou tentando sufocar.
— Deveria ter escolhido a mim — ele murmura, uma certeza
inabalável.
Desvio o olhar, mas ele continua me encarando, desvendando os
meus segredos mais profundos. Me afasto mais um passo, sentindo a parede
atrás de mim. Estou presa. Sem opções.
— Você está livre, Casey. Assim como Misha. — Minha voz falha, e
ele se aproxima ainda mais.
— Nunca estaremos livres, Mia. — Ele toca minha pele com um
dedo, traçando uma linha invisível ao longo do meu braço, me arrepiando
inteira. — Pelo menos, não eu. Transamos e isso, para mim, significa um
acordo eterno. Submissão até nossos últimos suspiros.
Me afasto para o lado, indo em direção a porta, ao lembrar da cena.
Tão forte em minha mente, assim como suas penetradas.
— Dominic terá o coração partido por você desejar outro homem?
Ou ele sabe dividir, como fez com Alice?
A menção desse nome, Alice, me pega de surpresa. Eu nunca tinha
ouvido falar dela, e a curiosidade misturada com desconforto se acende em
mim.
— Ah, vejo que nem todos contam todos os detalhes do passado —
Casey continua. — Mas deixa eu te contar algo. Dominic dividia sua amada
Alice com o irmão, Will. No final, sabe o que aconteceu? Will matou Alice.
E Dominic não pôde fazer nada.
O choque percorre meu corpo, uma corrente elétrica.
— Isso não muda nada, Casey. Todos nós participamos ou fizemos
algo terrível.
Ao declarar essas palavras, senti duas mãos firmes segurando meus
ombros por trás. O cheiro familiar me invade, e eu soube imediatamente de
quem se tratava.
— Casey — Dominic disse, a voz baixa, mas carregada de ameaça.
— Poderia deixar minha noiva em paz?
Casey sorri, um sorriso cruel, provocador.
— Eu, ao contrário de você e Misha, não sou devoto a seita. Não me
importo em arrancar seu sangue se for preciso, Greyson.
Dominic avança, sua fúria contida, algo que eu nunca tinha visto tão
claramente antes. Ele sempre foi tão controlado, calmo, mas agora seus
olhos ardem com uma intensidade que me assusta.
— Adoraria ver você tentar — Casey provoca.
— Casey, por favor — intervim, minha voz trêmula. — Prometo
que antes do casamento, conversaremos melhor. Agora, vá embora.
Casey hesita por um momento. Seus olhos alternando entre mim e
Dominic, antes de dar um passo para trás e sair.
O silêncio que se seguiu é quase palpável.
— Pensei que tinha ido embora — comento, tentando parecer
casual.
— Eu ia. Mas vi quando Casey entrou novamente, por uma das
janelas — responde Dominic, seus olhos ainda fixos na porta por onde ele
acaba de sair.
Fico sem jeito. Será que ele ouviu tudo?
— Não precisa se envergonhar pelo que Casey falou. — Dominic
tenta me tranquilizar. — Sei da conexão que você tem com os dois.
— E a ameaça que fez? Não parecia concordar com isso.
— Ele precisava saber que, mesmo que eu tenha aceitado dividir
Alice, você é diferente, Mia. E não vai acontecer de novo. Eu sou capaz de
eliminar todos para que só tenha a mim. Quando nos casarmos, seremos
apenas nós dois. Sem Casey ou Misha.
— Mas antes, você disse que não se importava em dividir —
replico, lembrando-me das palavras de Dominic.
— Isso foi antes de estarmos noivos — ele responde firmemente,
segurando minha mão e retirando o anel que Casey havia me dado. — Não
vai precisar disso.
Ele guarda o anel no bolso e, em seguida, retirou uma caixinha
preta. Dentro dela, havia um novo anel, menor e mais delicado. Dominic
desliza-o no meu dedo com cuidado, onde antes estava o antigo.
— Depois do sim, todo esse pesadelo vai acabar, Mia. Eu te
prometo. — Ele alisa meu rosto, e sinto uma mistura de angústia e alívio.
Não sabia definir quais eram os verdadeiros motivos desses sentimentos.
Não esperava em nenhum momento ter os três. Sabia que minha
decisão de ficar com Dominic, seria definitiva.
Mas me pergunto: estou começando uma guerra?
Onde isso vai acabar?
Estou apaixonada por Dominic
Mas também por Casey e Misha.
E para mim, esse é o pior tipo de inferno, não saber onde tudo isso
vai acabar. E estar confusa em meio a esse enorme labirinto, onde ao
escolher o caminho errado, os demais pagarão com sangue.
“Aonde fica a saída?”,
Perguntou Alice ao gato que ria.
“Depende”, respondeu o gato.
“De quê?”, replicou Alice;
“Depende de para onde você quer ir...”
- Alice no país das maravilhas
Se dói para respirar, abra a janela
Oh, sua mente, quer sair, mas você não pode ir
Esta é uma casa feliz, estamos felizes aqui
Em uma casa feliz, isso é divertido.
House of Balloons / Glass Table Girls,
The Weeknd
MISHA CROWN
MIA DEMORY
MISHA CROWN
Mais uma morte em minha alma, aliviará esse peso no meu coração?
Essa sensação de que tudo está desmoronando e que minha única
opção é derramar sangue de mais inocentes. Matar é uma forma que
encontrei de me refugiar, para não cometer coisas piores.
Tinha tanta certeza que ela me escolheria, até pensei que escolheria
Casey.
Mas Dominic Axel?
A porra de um padre com um passado de merda, que veio para se
vingar?
Nunca imaginei. Mia acha que terá estabilidade com ele, mas está
mais que enganada. Ela não o conhece, só conhecemos alguém quando
vivemos com essa pessoa, na mesma casa e só então, que vemos o lado
ruim e o bom. Pode acreditar, Dominic tem métodos duvidosos, não que eu
seja melhor.
Porque todo mundo nessa porra é louco.
Mando uma mensagem para Bunny, poucas palavras que com
certeza a fará chegar em meu destino.
“A vida de Malakai vale algo para você? Ou ele era apenas um dos
seus joguinhos para tentar foder minha cabeça?”
Tiro uma foto da casa do lago e a envio.
“Tic tac o relógio está passando, Bunny Meio-dia ele morre se não
vir até aqui sozinha. Sem Dominic ou qualquer outra pessoa.”
— Misha… me solte, por favor — implora o professor Malakai,
preso em uma cadeira de ferro. Usa apenas a cueca e com arame farpados
ao redor de seu corpo, o deixando totalmente impossibilitado de qualquer
movimento inútil. Seu rosto está repleto de sangue e olhos inchados. Sorrio.
— Eu avisei a você e não esqueço fácil as promessas que faço —
afirmo.
— Fiquei longe dela, como me pediu depois que quase nos
beijamos. Casey Greyson foi quem se aproximou dela. É ele quem deveria
estar aqui, não eu! — grita, com sua voz trêmula.
— Não sabe o quanto desejo que fosse ele aqui em vez de você,
professor. Mas nem sempre temos tudo aquilo que queremos e tudo tem seu
devido tempo, não acha? Serei paciente, para que esse dia chegue e eu
execute o que tanto almejo. Enquanto esse dia não chega, pessoas, como
você, devem ser punidas.
— Do que está falando? — pergunta confuso. Enrolo um pedaço de
arame farpado na minha mão e um grande pedaço fica caído, o sangue
escorre de mim. — Que tipo de fetiche macabro é esse de arame farpado? O
que aconteceu com você, Misha?
— Perguntas e mais perguntas. Não entendeu ainda que não
responderei nenhuma delas? A única coisa que deveria estar preocupado é
se vai sair vivo, professor.
— Eu já sei a resposta e você também — ele retruca.
Meu sorriso cresce ainda mais ao ouvir a voz trêmula de Malakai.
Ele se acha tão sábio, superior em suas palavras. Mas, nesse momento, suas
certezas são como areia escorrendo por entre os dedos. O tempo é cruel e o
tique-taque do relógio ao fundo só intensifica o desespero crescente.
O amarrei no porão, onde há apenas uma cortina vermelha, aberta ao
meio, que divide os dois lados desse retângulo. Há uma cadeira perto da
sua, porém de lado para ele. Sento-me nela e o observo.
— Você não entende, professor — sussurro. — Tudo tem um preço.
E o seu já foi determinado há muito tempo.
Ele respira com dificuldade, tentando se mover, mas o arame
farpado fincado em sua pele faz com que sinta apenas uma dor lancinante.
Pequenas gotas de sangue escorrem lentamente por seus braços e
pernas, manchando o chão ao redor. O cheiro metálico que preenche o ar.
Eu me aproximo, observando cada detalhe de seu rosto ensanguentado, os
olhos inchados, a pele pálida. Um homem quebrado.
— Misha… — ele tenta novamente, a voz falhando. — Isso… isso
não vai trazer nada de volta. Você acha que matando inocentes ou me
torturando vai conseguir alguma paz? Está apenas cavando um buraco mais
fundo.
Eu paro por um momento. Reflito sobre suas palavras, mas logo
depois dou um riso curto, seco.
— Paz? — pergunto, quase incrédulo. — Você acha que estou em
busca disso, Malakai? Não. Isso nunca foi meu objetivo. O caos… é a única
constante na realidade que vivo. Pensar em paz, é tolice. Não sou eu quem
está cavando o buraco, professor. Já estava aqui, eu só decidi mergulhar
fundo.
Ele tenta manter contato visual, mas posso ver que está à beira do
colapso.
A dor, o medo… tudo se misturando.
— Diga-me, Malakai, o que você acha que Bunny faria se estivesse
aqui agora? — pergunto, observando as reações em seu rosto. — Será que
imploraria por sua vida? Que ainda te vê como algo mais do que uma peça
descartável? Ou já te esqueceu?
Não responde imediatamente, mas vejo sua mandíbula apertar.
Talvez saiba a resposta, mas não quer admiti-la.
— Não acredito que Mia seja assim… — ele começa.
— Bunny é exatamente assim… — o interrompo. — Todos nós
somos marionetes do mesmo jogo. A única diferença entre nós é quem está
segurando os fios no momento.
Me levanto, caminhando ao redor da cadeira. O som de meus passos
ecoa pela casa vazia. A cada movimento meu, Malakai tenta seguir com os
olhos, mas a dor o impede de qualquer gesto brusco. Eu paro atrás dele,
puxando o arame farpado com força mais uma vez, em torno de seus
ombros, e ele solta um gemido de dor.
— Sabe, Malakai… o tempo está passando. E eu não sou um
homem paciente, na verdade fui muito nesses últimos dias, mas tô cansado
dessa merda. Acredito que Bunny já recebeu minha mensagem. A questão é
se ela se importa o suficiente para chegar a tempo. — Dou uma olhada no
relógio. Onze e quarenta e cinco. — Faltam quinze minutos. Acha que ela
virá correndo para te salvar?
Puxo-o novamente para trás, sentindo o ardor do arame penetrar
fundo em minha carne. Um grito baixo escapa de seus lábios, mas ele tenta
disfarçar, parecer forte. É admirável, em certa medida. Tiro minha camiseta,
e fico apenas de calça e sapatos.
— Me liberte, prometo que não contarei a ninguém sobre isso. Vou
embora de vez de Innsbruck. — Fraco e inútil.
Escuto pneus de um carro, e logo em seguida alguém andando pela
casa. Sozinha, como havia pedido. Viro-me para Malakai, que parece ter
ouvido também. Um fio de esperança surge em seus olhos, e isso me
diverte, ele realmente acredita que essa história terá um final feliz.
— Parece que nossa convidada chegou… — digo, enquanto o brilho
do metal do arame, reflete a luz fraca da sala.
Volto para trás dele e circulo sua garganta com o pedaço de arame
que sobrou, o enrolando na minha outra mão.
O sorriso se abre em meu rosto, alimentado pela expectativa. Ele
abre a boca, tentando implorar, mas eu ignoro suas palavras fracas. Estou
pronto para encerrar o sofrimento inútil de Malakai, ou Mia o fará?
O metal frio crava na carne quente e ele ofega de dor. O sangue
escorre de onde o arame penetrou, pequenas gotas descem por seu pescoço
e suja mais ainda, seu peitoral exposto.
— Você realmente acha que ela veio para te salvar, não é? — digo
com um tom divertido, inclinando-me mais próximo de seu ouvido. —
Bunny está jogando o jogo dela, Malakai. Sempre te usou para me provocar.
Ele tenta falar, a respiração ficando cada vez mais difícil, mas só
ruídos indecifráveis escapam de sua garganta. O arame está apertado o
suficiente para impedir que ele faça qualquer som coerente.
Eu poderia acabar com isso agora, mas não… ainda não.
Escuto os passos de Bunny pararem na entrada do porão e começar
a ecoar das escadas. Sua presença enche o ambiente, uma mistura de tensão
e desafio, ao se aproximar. O olhar fixo em mim, analisando cada
movimento meu. Sem soltar o arame, ergo o olhar lentamente sobre ela,
notando que está usando o uniforme da faculdade. Encontro seus olhos em
seguida.
— Misha, solte-o! — me repreende, e puxo o arame e o sangue
começa a escorrer da boca do professor. Mia tenta se aproximar assustada, e
a ordeno que se afaste.
— Olhe para ele, Bunny. — Minhas palavras saem cortantes. — Ele
já está condenado. Nada do que você disser vai mudar isso. A questão agora
é o que está disposta a fazer para salvar o pouco de vida que o resta.
Ela dá mais um passo, sem ousar desviar o olhar, mas percebo que
está calculando. Considerando suas opções, tentando encontrar uma
fraqueza, uma maneira de inverter a situação
— O que você quer, Misha? — ela pergunta, agora mais controlada.
— Qual é o seu objetivo com tudo isso?
Eu rio. O som amargo ecoa pela sala.
— Parece até que não me conhece, Bunny. Me diga, qual você acha
que seja o meu objetivo, a ponto de me arriscar para matar um professor tão
insignificante e te trazer em um lugar isolado. Onde apenas um serial killer
e duas possíveis vítimas se encontram? — interrogo, brincando com sua
mente. Ela fica tensa ao perceber o quanto pode ser perigoso estarmos aqui
sozinhos.
— Não vai me matar — responde. Não contenho o sorriso. — Eu sei
que não. Não tenho medo de você, Misha. Você não é o monstro que está
tentando fingir ser.
— Você não sabe de nada! — a respondo, soltando o professor.
Desenrolo o arame da minha mão direita colocando-o na esquerda. — Eu
não quero te matar. Mesmo com as vozes da minha cabeça pedindo para
que o faça, que só assim ficaremos juntos, Bunny. No nosso inferno. E
mesmo que seja tentador, eu desejo outra coisa... — Me aproximo dela, a
guiando em direção a parede do lado esquerdo da cortina. — Me diga, o
que acha que quero, Bunny.
— Não sei. — Seus olhos buscam a resposta em alguma atitude
minha.
— Quero que vista uma roupa para mim — peço e indico uma caixa
preta, que se encontra com o laço vermelho no chão. — Se quer tanto que
ele viva, o que acha de me obedecer, Bunny? — questiono.
Ela olha entre mim e Malakai.
— Desde o momento em que se envolveu com Dominic, ou Casey.
Tenho sonhado com algo, bem excitante. — Aliso seu rosto e resquícios de
sangue fica nela. — Algo que sei que vai gostar... — Sinto meu pau pulsar.
— Caralho, você me faz ser um grande filho da puta. E mesmo que isso me
deixe fodido da mente, só me dá mais vontade de te mostrar quem está no
controle.
Seguro em seu pescoço com a mão que está o arame farpado, ela
ofega.
— Acha que a vida dele vale o risco de perder Dominic? —
pergunto.
— Não quero que mais ninguém morra, Misha — ela diz com
dificuldade.
— Então, vista o que está dentro daquela caixinha e volte para mim
— ordeno, e ela olha para a caixa.
— O que tem dentro? — Sorrio.
— Você vai ficar perfeita. — São minhas únicas palavras.
— Não vai me obrigar a transar com você — ela afirma, e segue
para onde está a caixa.
— Não vai ser preciso, Bunny — respondo. — Vai desejar isso... —
murmuro para mim mesmo. — Limpe-se no banheiro do porão e volte.
Bunny pega a caixa, e vai para atrás da cortina. Noto sua reação
surpresa ao ver o que encontrou dentro. Ela me olha, mas não diz nada e vai
para o banheiro, onde nem eu, ou o professor pudesse vê-la.
Depois de alguns minutos ela volta usando a lingerie preta rendada.
É tão transparente que parece quase inexistente, revelando a fragilidade de
sua pele nua por baixo, com alças finas. Seu busto é decorado com detalhes
de renda, formando um design delicado e floral, adicionando um toque
sensual e refinado à peça. A parte inferior é mais solta, com uma leve
transparência que continua o jogo de revelação e mistério.
— Solte-o, já fiz o que me pediu.
— Não, isso é só o começo. — Ela me olha sem compreender. —
Ajoelhe-se em frente a ele.
— Mia… não o escute, salve-se! Eu já estou morto — aconselha o
professor. Ela nega.
— Não, não serei eu a culpada pela sua morte, Malakai — justifica.
— Farei o que for preciso para mantê-lo vivo.
Ela obedece, e me aproximo dela. Ajoelho ao seu lado e cheiro seu
pescoço sentindo o óleo que usou para se limpar. Morango.
— Está pronta? — pergunto, ela confirma com a cabeça, totalmente
submissa.
Prendo o seu pescoço com o arame, que antes estava em Malakai, e
o ajusto de uma forma que não saia facilmente.
O arame apertado ao redor de seu pescoço não é apenas uma arma,
mas uma coleira, uma prova de que sua liberdade não existia. Cada
respiração sua é controlada pela minha vontade. O silêncio da sala chega a
ser ensurdecedor, cortado apenas pelo som do leve ranger do metal quando
ela se movia minimamente. Uma tensão aguda insuportável, parece que a
qualquer momento pode se romper.
Eu me levanto devagar, o que faz as pontas do arame farpado
deslizar pela palma da minha mão, deixando pequenos cortes. O sangue que
pinga da minha pele escorre lento, criando um rastro rubro vivo no chão,
marcando, talvez, o caminho que todos ali seguirão: o de uma ruína
inevitável. A dor física é mínima, comparada ao prazer de ver a submissão
estampada no rosto de Bunny. Minha mão encontra a dela, forçando-a a
tocar o arame em volta de seu próprio pescoço, fazendo-a sentir o quão
afiada é aquela prisão invisível.
— Sente isso? — pergunto, um tom quase gentil, mas com uma
malícia latente. — É o controle… onde a qualquer segundo, tudo pode
terminar. Ou talvez… pior ainda, não termine.
— Está a machucando! — Malakai grita, apenas sorrio.
Mia estremece quando coloco meu dedo indicador em seu lábio.
— Lembra o que te falei mais cedo, Malakai? — interrogo, mas ele
se mantém calado.
— Misha... — Bunny diz. — Deixe-o ir… por favor — pede, quase
gemendo.
— Diga o que está sentindo para que ele entenda. — Ela o olha. —
Bunny — chamo-a
— Não me faça falar — implora, e com essa resposta eu sabia que
para ela não era uma tortura.
Mia está hesitante, seu corpo tenso, como se as palavras fossem o
verdadeiro castigo e não o aperto do arame ao redor de seu pescoço. Sua
respiração acelera, seus lábios tremem e ela vira o rosto para Malakai.
Bunny estremece ao meu toque em seu rosto mas não recua. Em vez
disso, fecha os olhos, respirando fundo, se entregando completamente.
— Eu quero… — ela começa, com dificuldade, mas com uma
convicção crescente surgindo a cada palavra. — Quero isso, Misha. Perder
o controle e que você me diga o que fazer. Quero sentir… que não sou eu
quem decide.
A última palavra sai como um sussurro, carregada de uma dor
intensa misturada com desejo. Há uma confissão, uma libertação no que ela
diz. Parece que ela está se despindo de qualquer moralidade que lhe resta.
Malakai engole em seco. Seus olhos se arregalam, o choque e
incredulidade tingindo sua expressão. Ele tenta falar, mas as palavras não
saem.
Os olhos dela brilham, uma mistura de excitação e desafio, a tensão
entre nós é elétrica. Como se o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido
e tudo o que resta é nós três. Presos em um ciclo de desejo e controle.
— Vamos fazer isso, então — murmuro, e com um movimento
brusco, puxo-a para perto de mim, mantendo a coleira ao redor de seu
pescoço como um lembrete constante do poder que eu tenho sobre ela.
Ela pensa que minha intenção é fodê-la, mas vai além. Até onde ela
iria?
— Você tem dois minutos para decidir se Malakai vale mais a pena
do que Dominic — sussurro. — Estamos sendo gravados e se não matar o
professor, Dominic receberá essa gravação. Acha que o que ele sente por
você é o suficiente para te perdoar por isso? — interrogo e mordo seu
pescoço, ela geme. — Está tão entregue a mim, Bunny. — Passo a mão em
seu busto, descendo a mão até chegar por baixo da lingerie.
— Misha…
— Me diga que esse perigo não te excita — sussurro em seu ouvido,
ela morde o lábio — Como quero te foder... na frente desse perdedor, para
que entenda e se arrependa por ter chamado minha atenção na frente de
todos.
Aliso por cima de sua boceta, livre de qualquer tecido. Bunny está
nua, e molhada, pronta para mim.
— Mas me pergunto, você quer isso? Dominic não ficará magoado?
— interrogo, olhando para a câmera sorrindo.
— Ah... — geme. — Não me torture dessa forma — sussurra.
— A vida dele ou magoar Dominic. O que você escolhe? — Ela
olha para mim, entendendo a gravidade da situação.
— Se o deixar vivo, Dominic receberá a gravação. Ou, ele pode
morrer e isso nunca aconteceu. — Me afasto dela um pouco. A puxo pelo
arame para perto de Malakai.
— Mia... não faça isso.
Ela está excitada e, ouso dizer, completamente sem seus sentidos
normais. Está confusa entre magoar Dominic ou matar Malakai.
Ela olha para o professor, cuja vida estava em suas mãos, e o
conflito interno a consumia. O desejo de proteger Dominic a faz hesitar,
mas a urgência de eliminar Malakai pulsa como um grito dentro dela.
— Eu não posso fazer isso. — Sua voz soa quase como um sussurro,
perdida entre o desespero e a determinação.
— Dominic não significa nada para você? — pergunto, tentando
atingir o coração dela, expor a fragilidade de suas escolhas.
— Sim, significa. — A confirmação dela soa como uma facada, e
um lampejo de resolução cruza seu olhar, mesmo que breve.
— Então, faça. Só precisa enrolar o arame no pescoço dele. — A
frieza nas minhas palavras parecia cortante, como o fio que ela segura.
Com as mãos trêmulas, ela se aproxima de Malakai. O desespero e a
dor misturam-se em seus olhos, mas a decisão toma conta dela,
empurrando-a para frente. O arame se fecha ao redor do pescoço dele, e
enquanto ela segura com força. Lágrimas escorrem por seu rosto,
misturando-se ao sangue que brota da boca de Malakai. Ele luta, os olhos
arregalados em choque, enquanto a vida se esvai.
Um silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente, como se o
tempo tivesse parado. O que deveria ser um ato de amor se tornara um ato
de brutalidade, e a transformação de uma mistura de culpa e alívio, é
palpável. Ela se afasta, o horror em seu rosto agora é inconfundível.
— Eu… — As palavras falham em sua garganta, enquanto o choque
a envolvia como uma névoa densa.
Aproximando-me, vejo a fragilidade dela. Tão bela e, ao mesmo
tempo, monstruosa. O peso da ação a esmaga, e eu sorrio, a excitação
dançando em meu interior.
— Somos monstros e isso é perfeito, caralho. — Acaricio seu rosto,
a pele dela ainda quente, mas manchada de sangue.
Então, o som da porta batendo ecoa, e a figura que surgiu no limiar
era uma visão inesperada. O olhar dela se fixa no intruso, choque e
incredulidade estampados em seu rosto. O brilho da revelação torna tudo
ainda mais envolvente.
Meu plano, ao forçá-la a tomar aquela decisão fatal, não foi apenas
uma demonstração do controle que eu tenho sobre sua vida. Era um teste,
uma maneira de expor seu egoísmo, a sombra de quem ela realmente é.
O fato de ela ter matado por alguém que significa tanto para ela,
agora parece apenas um jogo em que eu controlo as peças. A presença
daquele por quem ela tinha feito o impensável transforma a situação em um
espetáculo, uma peça de teatro onde os monstros dançam no palco, e ela
não é melhor do que eu.
Querido
Me abrace enquanto você
enxuga as minhas lágrimas
Me apaixonando
Você diz que sou sábia
demais para a minha idade
Sim, homens da minha idade
não são a mesma coisa
Eu sou jovem e está tudo bem
Older, Isabel LaRosa
DOMINIC AXEL
MIA DEMORY
MIA DEMORY
MISHA CROWN
CASEY GREYSON
MIA DEMORY
MISHA CROWN
MIA DEMORY
MISHA CROWN
MIA DEMORY
MIA DEMORY
3 meses depois…
MISHA CROWN
5 Anos depois…
FIM.
Dominic Axel
CONTINUA...