CASOS PRÁTICOS - 2º Conjunto

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CASO PRÁTICO 6

Alberto, residente em Barcelos, celebrou com Bernardina, residente em Tomar, um


contrato de compra e venda de participações sociais, pelo qual o primeiro
transmitiu à segunda 30.000 ações da sociedade JFM, S.A., com sede em Albufeira.
O contrato foi celebrado através de documento particular assinado a 13 de março
de 2018 e o preço estabelecido foi de € 500.000, que devia ser pago até ao dia 31
de maio de 2018.

Porém, no dia 31 de maio de 2018, Bernardina apenas teve disponibilidade


financeira para pagar € 375.000, tendo nesse mesmo dia as partes celebrado um
acordo, através de documento autenticado, de cujo teor decorria que a Bernardina
“reconhece, confessa e declara ser devedora a Alberto do valor total de €
125.000,00, mais declarando que tal montante será pago do seguinte modo: a) o
montante de € 75.000,00 será liquidado até ao dia 18/08/2018; b) o montante de €
25.000,00 será liquidado até ao dia 18/09/2018; e c) o montante de € 25.000,00
será liquidado até ao dia 18/10/2018. O não cumprimento tempestivo de qualquer
das prestações implica o vencimento antecipado das restantes”. Para pagamento
da primeira prestação acordada, Bernardina entregou a Alberto um cheque pré-
datado, identificado pelo n.º 5966751032, no valor de € 75.000,00.

No dia 18 de agosto de 2018, Alberto apresentou o referido cheque a pagamento


tendo o mesmo sido devolvido pelo banco com a menção “sem provisão”. Alberto
interpelou Bernardina para que procedesse ao pagamento, mas até à data de hoje
não recebeu qualquer resposta, nem qualquer montante por parte de Bernardina.

a) Alberto deu entrada de uma ação executiva para cobrança de todos os


montantes que lhe eram devidos. Estavam reunidas todas as condições
processuais para o efeito?

1. Para que possa ter lugar a realização coactiva duma prestação devida (ou
do seu equivalente), há que satisfazer dois tipos de condição, dos quais
depende a exequibilidade do direito à prestação:

 Título executivo: trata-se de um pressuposto de carácter formal, que


extrinsecamente condiciona a exequibilidade do direito, na medida em
que lhe confere o grau de certeza que o sistema reputa suficiente para
a admissibilidade da acção executiva.

 Prestação deve mostrar-se certa, exigível e líquida: são pressupostos


de carácter material, que intrinsecamente condicionam a
exequibilidade do direito, na medida em que sem eles não é
admissível a satisfação coactiva da pretensão.

2. Título Executivo

 O artigo 703.º CPC apresenta uma enumeração taxativa dos títulos


executivos que podem servir de fundamento a uma ação executiva,
entre os quais se contam os documentos exarados ou autenticados,
por notário ou por outras entidades ou profissionais com competência
para tal, que importem constituição ou reconhecimento de qualquer
obrigação; (n.º 1, b), como é o caso do acordo, celebrado no dia 31 de
maio de 2018, através de documento autenticado, pelo qual
Bernardina reconhece ser devedora do valor total de € 125.000,00.

 O cheque só poderia servir de título executivo (art. 703.º, n.º 1, c) do


montante de € 75.000,00.

3. Requisitos da obrigação exequenda

 Certeza: a obrigação diz-se certa quando está determinada em relação


à sua qualidade, o que implica que o objeto da prestação se encontre
perfeitamente delimitado ou individualizado, isto é, que se saiba
perfeitamente o que se deve. No caso concreto é a obrigação certa em
função da delimitação que resulta do acordo.

 Exigibilidade: a obrigação exequenda diz-se exigível quando já se


encontra vencida ou quando o seu vencimento depende de simples
interpelação do devedor, ou seja, quando já pode ser exigida. No caso
concreto, a obrigação de pagamento de € 125.000,00 é exigível, uma
vez que não foi cumprida a primeira prestação e o acordo previa
expressamente que “o não cumprimento tempestivo de qualquer das
prestações implica o vencimento antecipado das restantes”

 Liquidez: a obrigação diz-se líquida quando se encontra determinada


em relação à sua quantidade, isto é, quando se sabe exatamente
quanto se deve ou quando essa quantidade é facilmente determinável
através de uma operação de simples cálculo aritmético com base em
elementos constantes do próprio título. No caso, a obrigação é líquida.

b) Em que tribunal deveria Alberto ter proposto a ação executiva referida na


pergunta anterior?

A competência interna, nos termos do disposto no artigo 60.º n.º 1 do


CPC, distribui-se em função dos critérios da matéria, da hierarquia
judiciária, do valor causa e do território.

No plano da distribuição da competência em razão da matéria, deve


reconhecer-se, antes de mais, que a acção é da competência dos tribunais
judiciais, por não se inserir na esfera de competência dos tribunais de
qualquer outra ordem jurisdicional (art. 64.º do CPC, art. 40.º, n.º 1 e 80.º,
n.º 1 LOSJ). No âmbito dos tribunais judiciais, os tribunais de comarca são
tribunais de competência genérica (abrangendo quaisquer causas não
atribuídas por lei a outro tribunal, art. 80.º, n.º 1 LOSJ) e de competência
especializada (art. 81.º LOSJ), incluindo estes juízos de execução (art.
129.º LOSJ).

Quanto à hierarquia, ações executivas são intentadas nos tribunais de 1.ª


instância, uma vez que o STJ e os Tribunais da Relação não têm
competência executiva (art. 86.º CPC).

De acordo com a organização judiciária, o território português encontra-se


dividido em 23 comarcas, sendo que os critérios de competência
territorial são os que decorrem dos artigos 70.º e ss. do CPC. Uma vez que
se trata de uma ação executiva há que atender às disposições especiais
dos artigos 85.º a 90.º CPC.

Tendo em conta que o título executivo não é uma sentença, aplica-se o


artigo 89.º, n.º 1 do CPC, segundo o qual é competente para a execução o
tribunal do domicílio do executado. Ora, sabemos que o executado reside
em Tomar.

De acordo com o Mapa III do regime aplicável à organização e


funcionamento dos tribunais judiciais (ROFTJ), verificamos que Tomar está
abrangido pela área de competência territorial do Tribunal Judicial da
Comarca de Santarém e que dentro destas o Juízo de Execução do
Entroncamento, tem uma área de competência territorial que abrange o
município de Tomar.
Uma vez que existe Juízo de Execução competente, é irrelevante o valor
da causa para a atribuição da competência.

Assim, o exequente devia propor a ação no Juízo de Execução do


Entroncamento do Tribunal Judicial da Comarca de Santarém.

c) Bernardina apresentou uma oposição à execução que não foi objeto de


contestação por parte de Alberto. Quais as consequências processuais
associadas a este silêncio de Alberto?

Nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 732.º do CPC, à falta de


contestação é aplicável o disposto no n.º 1 do artigo 567.º e no artigo
568.º, ou seja, em princípio consideram-se confessados os factos
articulados pelo executado. Porém, como resulta da parte final do mesmo
artigo 732.º, n.º 2 CPC não se consideram, porém, confessados os factos
que estiverem em oposição com os expressamente alegados pelo
exequente no requerimento executivo.
d) É possível Bernardina invocar, como fundamento dos embargos, que pagou
parte da dívida a Alberto?

Tendo em conta que o título executivo é um documento particular, o


pagamento, enquanto facto extintivo da obrigação de pagamento da
dívida de € 125.000 (no caso, extinção parcial), pode ser alegado como
fundamento da oposição à execução, nos termos do disposto no artigo
731.º e 729.º g) do CPC.

e) Qual o efeito dos embargos apresentados na marcha do processo executivo?

Em regra, os embargos não suspendem a execução que prosseguirá não


obstante o seu recebimento. Com efeito, nos termos do disposto no n.º 1
do artigo 733.º, o recebimento dos embargos só suspende o
prosseguimento da execução se:
a) O embargante prestar caução;
b) Tratando-se de execução fundada em documento particular, o
embargante tiver impugnado a genuinidade da respetiva assinatura,
apresentando documento que constitua princípio de prova, e o juiz
entender, ouvido o embargado, que se justifica a suspensão sem
prestação de caução;
c) Tiver sido impugnada, no âmbito da oposição deduzida, a exigibilidade
ou a liquidação da obrigação exequenda e o juiz considerar, ouvido o
embargado, que se justifica a suspensão sem prestação de caução.
CASO PRÁTICO 7

A OPTI-FONE, empresa de telecomunicações sedeada em Lisboa, pretende saber de


que modo pode recuperar rapidamente os montantes que lhe são devidos por Abel
(residente na Figueira da Foz) e por Berta (residente na Guarda), devedores de,
respectivamente, € 500 e € 20.000,00.

a) Que solução recomendaria à OPTI-FONE para estes dois casos, e porquê? A


sua resposta altera-se se a OPTI-FONE detiver em sua posse uma letra
subscrita por Berta?
b) Precisará a OPTI-FONE de advogado nas ações executivas que tenciona
intentar contra Abel e contra Berta?
c) Em que tribunal deve a OPTI-FONE propor a ação executiva contra Abel?

a) Uma vez que o enunciado alude a «dois casos», não oferecendo nenhum indício
de que eles estejam relacionados, as soluções a recomendar à Opti-Fone devem
ser ajustadas em função das circunstâncias próprias de cada um.
Assim, e relativamente a Abel, recomendar-se-ia à Opti-Fone que recorresse ao
procedimento de injunção. Trata-se, com efeito, de uma «providência que tem
por fim conferir força executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento
das obrigações» pecuniárias, emergentes de contratos, de valor não superior a €
15.000, nos termos do artigo 7.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de
Setembro. Caso o requerimento de injunção apresentado pela Opti-Fone junto do
Balcão Nacional de Injunções não viesse a merecer oposição da parte de Abel
(oposição essa que deveria ser apresentada por Abel no prazo de quinze dias),
ser-lhe-ia aposta fórmula executória, passando o referido requerimento a valer
como título executivo, nos termos e para os efeitos do artigo 703.º, n.º 1, al. d)
do Código do Processo Civil e do artigo 14.º do anexo ao Decreto-Lei supra
indicado. Deste modo, a Opti-Fone passaria a estar imediatamente habilitada a
recorrer à acção executiva para satisfação coerciva do seu crédito sobre Abel. Se,
pelo contrário, Abel se opusesse ao requerimento de injunção apresentado pela
Opti-Fone, haveria lugar à acção declarativa especial prevista igualmente no
Anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98, nos termos dos seus artigos 16.º, 17.º e 1.º e
seguintes. A sentença que viesse a ser proferida nos autos desta acção especial
valeria igualmente como título executivo (desta feita, ao abrigo da alínea a) do
n.º 1 do artigo 703.º do CPC). Em qualquer caso, trata-se do meio mais célere ao
dispor da Opti-Fone para recuperar os montantes que lhe são devidos por Abel.
Quanto a Berta, a resposta não pode ser a mesma uma vez que o montante
devido por Berta à Opti-Fone ultrapassa o limiar previsto no Decreto-Lei n.º
269/98, ficando assim afastado quer o procedimento de injunção, quer a acção
declarativa especial. A Opti-Fone terá portanto de recorrer a uma acção
declarativa comum de condenação, com vista a obter uma sentença com base na
qual (e depois do respectivo trânsito em julgado, salvo no caso de ser interposto
recurso com efeito meramente devolutivo – art. 704.º do CPC) possa intentar
uma acção executiva para pagamento de quantia certa.
Caso Berta tivesse subscrito uma letra, a qual estivesse na posse da Opti-Fone
(fazendo desta parte legítima para a acção executiva, mais concretamente, como
exequente – art. 53.º), a resposta altera-se na medida em que a Opti-Fone deixa
de ter de recorrer a uma acção declarativa. A letra é um título de crédito e, como
tal, um título executivo, com base no qual a Opti-Fone pode de imediato dar
início a uma acção de execução para pagamento de quantia certa (artigos 703.º
e 10.º, n.º 5, ambos do CPC).

b) Na acção executiva que tenciona intentar contra Abel, a Opti-Fone não necessita
de advogado, uma vez que o valor da causa (€ 500) é inferior à alçada da 1.ª
instância (€ 5.000) – cf. artigo 58.º, n.º 1 e n.º 3, a contrario).
Na acção executiva a promover contra Berta, a constituição de advogado é
necessária e obrigatória se houver lugar a algum procedimento que siga os
termos do processo declarativo (artigo 58.º, n.º 1). Não havendo, a Opti-Fone
necessitará ainda assim de se fazer representar por advogado, advogado-
estagiário ou solicitador (artigo 58.º, n.º 3), uma vez que o valor desta acção
ultrapassa a alçada da 1.ª instância (ficando porém aquém da alçada da
Relação).

c) A acção executiva que a Opti-Fone pretende instaurar contra Abel deverá ser
proposta no Juízo de Execução do Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra.
Com efeito, e quanto à hierarquia, as acções executivas são necessariamente
propostas em tribunais de 1.ª instância, até mesmo quando o título executivo
corresponda a uma decisão de um tribunal superior (artigo 86.º do CPC). Uma
vez que esta causa não se insere na competência de nenhum tribunal de
competência territorial alargada, é competente o tribunal de comarca.
No que respeita à competência territorial, e sendo o título executivo um
requerimento de injunção ao qual foi aposta fórmula executória (i.e., um título
extrajudicial), a competência pertence ao tribunal do domicílio do executado, a
saber, Figueira da Foz, nos termos da 1.ª parte do n.º 1 do artigo 89.º. Note-se
que a Opti-Fone não teria a possibilidade (prevista na 2.ª parte do mesmo
preceito) de optar pelo tribunal do local do cumprimento da obrigação uma vez
que o executado (Abel) não é uma pessoa colectiva, e a Figueira da Foz não
pertence à Área Metropolitana de Lisboa.
No que respeita à matéria, as acções executivas devem ser propostas nos juízos
de execução, caso existam, os quais correspondem a juízos de competência
especializada integrados nos tribunais de comarca (artigos 81.º e 129.º da Lei de
Organização do Sistema Judiciário). Não existindo, em função do valor, esta
acção teria de ser proposta nos juízos locais cíveis (artigo 130.º da LOSJ).
Sucede, porém, que a comarca na qual Figueira da Foz se acha inserida – a
comarca de Coimbra – tem um juízo de execução, com competência territorial
sobre toda a comarca (i.e., também sobre Figueira da Foz), pelo que é lá que
deve ser proposta a acção.
Aceitou-se também a resposta dos alunos que assumiram que o título executivo
era judicial: nesse caso, a acção deveria ser proposta no tribunal que proferiu a
sentença a executar (artigo 85.º do CPC), devendo porém ser remetida por este
para os juízos de execução que se mostrem competentes.
CASO PRÁTICO 8

Em 2 de Setembro de 2016, o Banco Comercial de Crédito, S.A., com sede em


Lisboa, na Rua Augusta, n.º 66, celebrou escritura pública de mútuo com António,
arquiteto, residente na Avenida da Boavista, n.º 2121, no Porto.

O mútuo concedido, no valor de € 100.000,00, destinava-se a financiar a


remodelação do gabinete de arquitetura de António, tendo sido fixado o prazo de
um ano para o pagamento do capital e juros remuneratórios à taxa de 3,15%, em
prestações mensais (de capital e juros), vencendo-se a primeira prestação no dia
01.10.2016 e cada uma das restantes no dia 01 de cada um dos meses
subsequentes.

Sucede que António deixou de pagar as prestações do mútuo em 01.05.2017 e,


apesar dos esforços levados a cabo por A., não resta outra alternativa senão
recorrer a juízo, a fim de recuperar o valor ainda em dívida (€ 62.500,00), acrescido
dos respetivos juros de mora.

a) O Diretor Jurídico do Banco Comercial de Crédito, S.A. entende que se deve


recorrer a uma ação declarativa de condenação. Será a opção mais acertada?

i. Referência à distinção entre as diferentes espécies de ações nos termos do


artigo 10.º do CPC:

a. Nas ações declarativas, a pretensão dirige-se à obtenção de uma


declaração do órgão judiciário – pede-se a solução concreta, conforme
o Direito, para o conflito real subjacente à pretensão. Em particular,
nas ações declarativas de condenação, o autor pretende uma decisão
que reconhecendo a existência de um direito, ordene ao Réu a
realização de uma prestação destinada à reintegração do mesmo (art.
10.º, n.º 3 b).

b. Nas ações executivas, a pretensão visa a realização coerciva de um


direito já certificado através de um título executivo (art. 10.º, n.º 4 e 5
e 703.º CPC). A ação executiva para pagamento de quantia certa,
sendo a mais comum na nossa prática judiciária, tem lugar nos casos
em que o título executivo encerra uma obrigação de pagamento de
uma quantia pecuniária. Ou seja, não sendo a obrigação pecuniária
voluntariamente cumprida, o credor pode obter a sua realização
coativa através da penhora e venda subsequente do património do
devedor (artigo 817.º CC)

ii. Referência ao preenchimento dos pressupostos específicos da ação executiva

a. Para que possa ter lugar a realização coactiva duma prestação devida
(ou do seu equivalente), para lá dos pressupostos processuais gerais
das acções judiciais, há que satisfazer dois tipos de condição, dos
quais depende a exequibilidade do direito à prestação:

i. Título executivo – trata-se de um pressuposto de carácter


formal, que extrinsecamente condiciona a exequibilidade do
direito, na medida em que lhe confere o grau de certeza que o
sistema reputa suficiente para a admissibilidade da acção
executiva.

ii. Prestação deve mostrar-se certa, exigível e líquida – são


pressupostos de carácter material, que intrinsecamente
condicionam a exequibilidade do direito, na medida em que sem
eles não é admissível a satisfação coactiva da pretensão.

b. Era, pois, necessário verificar se no caso concreto, estes pressupostos


específicos se encontravam preenchidos:

i. O artigo 703.º, n.º 1 do CPC apresenta uma enumeração


taxativa dos títulos executivos que podem servir de fundamento
a uma ação executiva, entre os quais se contam “Os
documentos exarados ou autenticados, por notário ou por outras
entidades ou profissionais com competência para tal, que
importem constituição ou reconhecimento de qualquer
obrigação” (alínea b))
ii. A escritura pública de mútuo constitui um documento
autêntico (art. 363.º, n.º 2 CC e art. 35.º, n.º 2 CN), do qual
resulta a constituição de uma obrigação de pagamento.

iii. Esta obrigação era certa (o objeto da prestação estava


perfeitamente delimitado ou individualizado, isto é, sabia-se
perfeitamente o que se devia), exigível (era uma obrigação a
prazo certo que já se encontrava decorrido - art. 805.º CC) e
líquida (o montante em dívida (capital e juros de mora) estava
determinado ou era determinável através de uma operação de
simples cálculo aritmético com base em elementos constantes
do próprio título - art. 703.º, n.º 2 e 716.º CPC).

iii. Referência às consequências aplicáveis quando se recorra à ação declarativa,


havendo título com manifesta força executiva:

Não há qualquer impedimento à propositura da ação declarativa,


embora a mesma redunde, em princípio, numa perda de tempo
desnecessária, pelo que o CPC determina o pagamento das custas da
ação declarativa pelo autor (art. 535.º, n.º 1 e 2, a) do CPC)

b) Imagine agora que o Banco Comercial de Crédito, S.A tem conhecimento de


que António se prepara para vender o imóvel onde se encontra instalado o
seu gabinete de arquitetura, único bem de que era proprietário, e que irá
emigrar para o Brasil. Caso o Banco decidisse avançar para uma ação
executiva, qual a forma de processo a que a mesma estaria sujeita?

i. O processo executivo comum (não se aplicava nenhum processo especial -


artigo 546.º, n.º 2 CPC) para pagamento de quantia certa pode seguir forma
ordinária ou forma sumária (art. 550.º, n.º 1 CPC).
ii. Nos termos do art. 550.º, n.º 2 CPC, emprega-se o processo sumário nas
execuções baseadas:

a) Em decisão arbitral ou judicial nos casos em que esta não deva ser
executada no próprio processo;

b) Em requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula


executória;

c) Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida, garantida por


hipoteca ou penhor;

d) Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida cujo valor não


exceda o dobro da alçada do tribunal de 1.ª instância.

iii. Tendo em conta que o título executivo é uma escritura pública de mútuo e
que a obrigação exequenda ascende a € 62.500,00, acrescido dos respetivos
juros de mora, o caso concreto não poderia ser enquadrado na alínea c) (por
não ter sido constituída qualquer garantia), nem na alínea d) (por o valor
excede o o dobro da alçada do tribunal de 1.ª instância - € 10.000,00 (art.
44.º da LOSJ).

iv. Assim, a execução a intentar pelo Banco seguiria o processo ordinário


(artigos 724.º e ss do CPC)

c) Tendo em conta os factos de que o Banco teve conhecimento, qual a melhor


forma de proceder na ação executiva para acautelar os riscos inerentes à
possível atuação de António?

i. Considerando que António se prepara para vender o imóvel onde se encontra


instalado o seu gabinete de arquitetura, único bem de que era proprietário, e
que irá emigrar para o Brasil, o Banco deveria requerer, ao abrigo do disposto
no artigo 727.º que o juiz determinasse a dispensa de citação prévia, de
modo a que a penhora de bens de António, nomeadamente, o referido
imóvel, fosse efetuada sem a citação prévia do executado.

ii. Com efeito, os factos referidos justificam o receio do Banco de perda da


garantia patrimonial do seu crédito, que é o património de António (art. 601.º
do CC).

iii. Nesse sentido, no requerimento executivo (art. 724.º, n.º 1, j) CPC), além de
requerer a dispensa de citação prévia e alegar os referidos factos, o Banco
deveria oferecer de imediato os meios de prova de que dispusesse para
demonstrar a factualidade em causa. Este incidente seria tramitado como
urgente (artigo 727.º, n.º 1 e 2 CPC).

iv. Se o juiz considerasse justificado o alegado receio de perda da garantia


patrimonial do crédito exequendo, determinaria a dispensa de citação prévia,
sendo o agente de execução notificado para proceder à penhora e só após
esta seria o executado citado, passando a aplicar-se, com as necessárias
adaptações, o regime estabelecido nos artigos 856.º e 858.º (artigo 727.º, n.º
4 CPC).
CASO PRÁTICO 9

Em ação declarativa de condenação proposta por Manuel contra Joaquim ambos


comerciantes, que correu os seus termos pelo Tribunal do Porto, Joaquim foi
condenado a pagar àquele a quantia de €75.000,00, acrescida dos juros de mora à
taxa legal de 8%, contados desde a data de vencimento da fatura que originou a
ação até efetivo pagamento.

No entanto, Joaquim, apesar desta decisão não pagou, pelo que Manuel pretende
instaurar a competente ação executiva.

a) Joaquim apresenta os embargos. Entre outros aspetos alega, em suma, que:


- o direito invocado por Manuel se encontrava prescrito quando este
propôs a ação declarativa;
- o contrato de compra e venda comercial, celebrado em 2010,
subjacente ao direito de crédito de Manuel sobre Joaquim é anulável,
pois o mesmo está inquinado, desde a sua celebração com o vício de
coação moral (Joaquim só celebrou o contrato porque Manuel o
ameaçou com a revelação de determinados segredos de natureza
fiscal), sendo que tal coação só cessou após o trânsito em julgado da
sentença.
Pronuncie-se sobre a admissibilidade de cada um dos fundamentos deduzidos
nos embargos por Joaquim.

Trata-se de execução de sentença – título executivo nos termos do artigo 703.º, n.º
1, alínea a): o processo segue a forma sumária, a não ser que se trate de execução
que deva ser executada no próprio processo (artigo 550.º, n.º 2).

Quando se trate de execução de sentença, os embargos apenas podem ter um dos


fundamentos elencados no artigo 729.º, que consagra um elenco taxativo de
fundamentos de oposição à execução de sentença.

A função dos embargos de executado é obstar ao prosseguimento da execução [a


sua procedência extingue a execução, no todo ou em parte (artigo 732.º, n.º 4) e
produzindo a sentença de embargos (decisão e mérito) efeitos de caso julgado
quanto á existência, validade e exigibilidade da obrigação exequenda].
Quanto ao primeiro fundamento – prescrição – o mesmo seria procedente, nos
termos da alínea g) do artigo 729.º - explicar;

Já o segundo argumento teria hipóteses de procedência, como fundamento dos


embargos, uma vez que o vício de coação só cessou após o trânsito em julgado da
sentença.

[Valorização da fundamentação da resposta e da estrutura da resposta e linguagem


utilizada].

b) Quais os efeitos dos embargos deduzidos sobre a marcha da ação executiva?


Poderão tais efeitos ser alterados? Justifique.

Apesar de se tratar de execução sumária, os embargos, em princípio, não


suspendem a execução – artigo 733.º, a não ser que o executado requeira, nos
termos do artigo 856.º, n.º 5 a prestação de caução em substituição da penhora.

No caso de a execução prosseguir – artigo 733.º, n.º 4.

Pode ainda ser requerida a suspensão da venda nos termos do n.º 5 do artigo 733.º.

[Valorização da fundamentação da resposta e da estrutura da resposta e linguagem


utilizada].

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