Sentenca 4
Sentenca 4
Sentenca 4
06/11/2024
Número: 0827126-33.2023.8.10.0001
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 6ª Vara da Fazenda Pública de São Luís
Última distribuição : 08/05/2023
Valor da causa: R$ 98.764,20
Assuntos: Obrigação de Fazer / Não Fazer, Classificação e/ou Preterição, Cadastro Reserva ,
Concurso Público - Nomeação/Posse Tardia
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes
Procurador/Terceiro vinculado GLEISA CAMPOS (AUTOR)
GABRIEL PINHEIRO CORREA COSTA (ADVOGADO) ESTADO DO MARANHAO (REU)
LUCAS PORTELA SILVA BACELAR MOREIRA
(ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
12931 21/10/2024 12:07 Sentença Sentença
5040
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO MARANHÃO
PROCESSO: 0827126-33.2023.8.10.0001
SENTENÇA
Trata-se de Ação Ordinária c/c Pedido Liminar ajuizada por GLEISA CAMPOS contra ato do ESTADO DO
MARANHÃO, requerendo a sua nomeação para exercer o cargo de “Analista Judiciário – Assistente Social” do Tribunal
de Justiça do Estado do Maranhão.
A autora alega que prestou concurso público (edital nº 03/2019) para provimento do cargo de analista judiciário
(assistente social), sendo classificada na 5ª posição na lista de ampla concorrência e 1ª posição na lista de cotas para
negros e pardos.
Relata que para o cargo pretendido, o TJMA convocou as três primeiras aprovadas, violando o item 6.1.2 do edital, onde
está previsto que “o primeiro candidato negro classificado no concurso será convocado para ocupar a 3ª vaga aberta,
relativa ao cargo para o qual concorreu [...]”
Aduz que possui direito subjetivo à nomeação face a preterição na vaga reservada para candidatos negros e pardos, e
violação do tema nº 784 do STF (RE 837311). Requereu pela concessão da antecipação dos efeitos da tutela e no
mérito pede pela confirmação da tutela antecipada para realizar a sua nomeação em definitivo para exercer o cargo de
Analista Judiciário – Assistente Social do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, de acordo como descrito no edital
nº 03/2019.
Não concedida a antecipação de tutela, devido a ausência do perigo de dano (ID n.º 92328238).
O Estado peticionou pedindo dilação de prazo para apresentar contestação (ID n.º 97581660).
Decisão indeferindo a dilação de prazo e decretando a revelia do Estado do Maranhão (ID n.º 104545451).
Parecer do Ministério Público Estadual pela procedência dos pedidos formulados na exordial (ID n.º 118735095).
É o relatório. Decido.
6.1.2 O primeiro candidato negro classificado no concurso será convocado para ocupar a 3ª vaga
aberta, relativa ao cargo para o qual concorreu, enquanto os demais candidatos negros classificados serão
convocados para ocupar a 8ª, a 13ª, a 18ª e a 23ª vagas, e assim sucessivamente, observada a ordem de
classificação, relativamente à criação de novas vagas, durante o prazo de validade do concurso.
Verifico que a autora/candidata se classificou em 5º lugar na ampla concorrência e 1º lugar nas vagas destinadas aos
candidatos negros e pardos (ID n.º 91657210). Constato que foram convocadas três candidatas (ID n.º 91657213,
91657214 e 91657216) para as vagas destinadas ao cargo de analista judiciário (assistente social), não estando a
requerente incluída. Assim, pela simples leitura do dispositivo editalício acima transcrito, percebe-se que houve violação
da lei do certame, caracterizada pelo desrespeito à ordem de classificação.
Não há dúvidas, portanto, que a 3ª vaga aberta deveria ter sido ocupada pela autora, já que foi aprovada em 1º lugar na
lista de candidatos negros e pardos, ao passo que o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, em inobservância
da previsão editalícia, nomeou a 3ª colocada da ampla concorrência. Ora, sabe-se que o edital do concurso é Lei entre
as partes e, como tal, vincula não só os candidatos como a Administração, impedindo-a de afastar- se das regras
postas.
Nessa esteira, convém destacar que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 837.311 salientou que há direito
subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso quando houver preterição na nomeação, por não
observância da ordem de classificação, senão vejamos:
Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, fixou tese nos seguintes termos: ’O
surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de validade
do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos candidatos aprovados fora das
vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da
administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a
inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser
demonstrada de forma cabal pelo candidato. Assim, o direito subjetivo à nomeação do
candidato aprovado em concurso público exsurge nas seguintes hipóteses: 1 - Quando a aprovação
ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital; 2 - Quando houver preterição na nomeação por
não observância da ordem de classificação; 3 - Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo
concurso durante a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma
arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos acima.” Vencido o Ministro Marco Aurélio,
que se manifestou contra o enunciado. Ausentes, nesta assentada, os Ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 09.12.2015. – sem grifo;
Reforço que o Estado do Maranhão, embora citado, não se manifestou, momento em que poderiam ter apresentado
motivação idônea para a não nomeação da autora.
Destaco, por fim, trecho do parecer do Ministério Público no mesmo sentido: "No caso em tela, a autora logrou êxito em
demonstrar que, de fato, houve inobservância da ordem de classificação, pois, por expressa previsão editalícia, deveria
ter sido convocada a ocupar a 03ª vaga em aberto do cargo para o qual concorreu" (ID n.º 118735095).
Diante do exposto e de acordo com o parecer do Ministério Público, julgo PROCEDENTE o pedido para determinar, no
prazo de 30 (trinta) dias, a nomeação e posse da autora ao cargo de Analista Judiciário – Assistente Social do Tribunal
de Justiça do Estado do Maranhão, nos termos do edital nº 03/2019. sob pena de fixação de multa diária.
Sem custas.