A Inclusão Da Criança Autista Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental

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Curso de Pedagogia Artigo Original

A INCLUSÃO DA CRIANÇA AUTISTA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO


FUNDAMENTAL
THE INCLUSION OF THE AUTISTIC CHILD IN THE EARLY YEARS OF FUNDAMENTAL EDUCATION

Como citar esse artigo:


BARBOSA, Janaina Carvalho; SILVA, Renata Fernandes Pereira; ROCHA, Ana
Paula de Araújo. A INCLUSÃO DA CRIANÇA AUTISTA NOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL. Anais do 2° Simpósio de TCC, das
faculdades FINOM e Tecsoma. 2020; 456 - 470

Janaina Carvalho Barbosa¹, Renata Fernandes Pereira e Silva¹, Ana Paula Rocha²
1 Acadêmica do curso de Pedagogia
2 Professora Especialista do curso de Pedagogia
____________________________________________________________________________________________________________

Resumo
O Transtorno do Espectro Autista tem como características principais, o comprometimento qualitativo na
comunicação, na interação social e no uso da imaginação/raciocínio abstrato, causando isolamento e
consequentemente dificuldades na aprendizagem escolar. Na perspectiva de conhecer as características e
as implicações que o autismo causa na vida da pess oa é que foi escolhido este tema, percebendo-se a
importância de se discutir o assunto, visto que a proporção de crianças autista nas escolas vem aumentando
a cada ano, havendo a necessidade de intervenções dos profissionais envolvidos na educação para que não
haja prejuízos no desenvolvimento integral da criança. Este artigo tem por objetivo principal abordar e analisar
a incidência do autismo nas escolas, suas características e as estratégias de intervenção pedagógic a
utilizadas pela escola para amenizar os efeitos negativos deste transtorno na vida da criança. A metodologia
utilizada foi a revisão bibliográfica, identificando, coletando e analisando as contribuições sobre o tema,
registrando e analisando os dados coletados em bases de dados online, livros , dissertações, artigos de
revistas. Os resultados mostram a historicidade do termo autismo e sua evolução na linha do tempo e, as
implicações que o autismo traz para a vida da criança, família e professores. E por fim, há sugestões de como
organizar a escola para acolher o aluno e ajudá-lo a interagir no ambiente.

Palavras-chave: Autismo. Ensino. Aprendizagem. Criança. Comunicação

Abstract

Autistic Spectrum Disorder has as main characteristics, the qualitative commitment in communication, in social
interaction and in the use of abstract imagination / reasoning, causing isolation and consequently difficulties in
school learning. From the perspective of knowing the characteristics and implications that autism causes in
the person's life, this theme was chosen, realizing the importance of discussing the subject, since the
proportion of autistic children in schools has been increasing every year, there is a need for interventions by
professionals involved in education so that there is no damage to the child's full development. The main
objective of this article is to address and analyze the incidence of autism in schools, its characteristics and the
pedagogical intervention strategies used by the school to mitigate the negative effects of this disorder on the
child's life. The methodology used was the bibliographic review, identifying, collecting and analyzing the
contributions on the theme, recording and analyzing the data collected in online databases, books,
dissertations, magazine articles. The results show the historicity of the term autism and its evolution in the
timeline and the implications that autism brings to the life of the child, family and teachers. And finally, there
are suggestions on how to organize the school to welcome the student and help him interact in the
environment.
Keywords: Autism. Teaching. Learning. Child. Communication
Contato: janainacarvalhobarbosa@gmail.com;renatafernandes090@gmail.com
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Introdução

Partindo da necessidade de conhecer as características e as implicações que o


autismo causa na vida da pessoa é que foi escolhido este tema, percebendo-se a
importância de se discutir o assunto, visto que a proporção de crianças autista nas escolas
vem aumentando a cada ano, havendo a necessidade de intervenções dos profissionais
envolvidos na educação para que não haja prejuízos no desenvolvimento integral da
criança.
A questão que norteia o desenvolvimento deste artigo implica em como inserir a
criança em sala de aula de forma a superar as barreiras do Transtorno do Espectro Autista,
proporcionando aprendizagem significativa e melhorando suas relações interpessoais?
O Transtorno do Espectro Autista tem como características principais, o
comprometimento “qualitativo na comunicação, na interação social e no uso da
imaginação/raciocínio abstrato” (MELLO, 2007, p. 16), causando isolamento e
consequentemente dificuldades na aprendizagem escolar.
De acordo com a Associação Americana de Pediatria “trata-se de um transtorno
pervasivo e permanente, não havendo cura, ainda que a intervenção precoce possa alterar
o prognóstico e suavizar os sintomas”.
Assim, as intervenções educativas possuem importância singular no
desenvolvimento global da criança autista, sendo a escola um local de relações
interpessoais e aprendizagens que necessitam da comunicação e interação com os pares,
considerando também que não há cura para o Transtorno do Espectro Autista.
Portanto, este artigo tem por objetivo principal abordar e analisar a incidência do
autismo nas escolas, suas características e as estratégias de intervenção pedagógica
utilizadas pela escola para minimizar os efeitos negativos deste transtorno na vida da
criança.
Este objetivo se subdivide em três objetivos específicos que visam conhecer as
características do TEA e os impactos que causam no desenvolvimento da criança e na
família; analisar como é realizado o diagnóstico e as orientações dos profissionais da saúde
em relação ao comportamento, cuidados e estímulos para que a criança não tenha maiores
perdas em sua vida e; investigar as intervenções pedagógicas que a escola usa para
proporcionar a interação e aprendizagem da criança, levando-o ao desenvolvimento
integral.
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Este artigo não tem a pretensão de esgotar um assunto complexo como este, visto
que é um tema em plena discussão e longos caminhos a serem percorridos.

Métodos
A presente pesquisa foi realizada por meio da revisão bibliográfica, identificando,
coletando e analisando as contribuições sobre o tema, registrando e analisando os dados
coletados em bases de dados online, livros, dissertações, artigos de revistas.
Os autores consultados no aporte teórico foram devidamente referenciados nas
referências bibliográficas e citados no corpo do trabalho.
A pesquisa bibliográfica é de grande importância, pois é construída com estudos já
realizados sobre o tema, oferecendo ao pesquisador dados para enriquecer o seu estudo
para confirmar ou refutar ideias.
Para Amaral (2007), é imprescindível que se faça uma pesquisa bibliográfica
profunda antes de iniciar um trabalho, o que influencia todo o embasamento do trabalho,
consistindo no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações, já a
revisão da literatura deve ser crítica, baseada em critérios metodológicos, que separam
informações valiosas daquelas sem valor.
Essa pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2020, cuja área de
conhecimento são as ciências humanas.
A amostra utilizada foram alunos que frequentam os primeiros anos do ensino
fundamental, ou seja, entre seis e oito anos de idade e que apresentam características do
transtorno do espectro autista.
O trabalho foi realizado de forma exploratória, sendo descritos os resultados na
compilação de dados, apresentados em tópicos que almejam contribuir para a
compreensão do assunto.
A pesquisa é exploratória, pois visa conhecer as características do TEA e os
impactos que causam no desenvolvimento da criança e na família, explorando conceitos e
nomenclaturas que elucidem a questão problema levantada.

Resultados

A primeira definição que será abordada neste artigo diz respeito aos termos autismo
e Transtorno do Espectro Autista – TEA e suas características. O termo TEA é mais utilizado
atualmente por razoes que serão expostas a seguir.
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Plouller em 1906 foi o pioneiro a introduzir o termo autismo, descrevendo o sinal


clinico de isolamento. Em 1911 o médico Eugene Bleuler difundiu o termo e o definiu como
sendo “uma fuga da realidade”. Bleuler, ainda, utilizou o termo autismo para se referir ao
quadro de esquizofrenia (BRASIL, 2014).
Bleuler tomou da teoria freudiana o termo autoerotismo e subtraiu Eros, indicando o
autismo como efeito da dissociação e tentativa de adaptação ao processo patológico. Ele
descreveu um tipo particular de pensamento — autístico ou derreísta, que não é guiado por
objetivos, mas por afetos e desejos que aparecem de forma extrema na esquizofrenia e
têm papel importante no caso de crianças autistas. Assim, os sintomas essenciais dos
esquizofrênicos das crianças autistas podem ser englobados sob um comum denominador:
uma ruptura das relações entre eles e o mundo exterior (DIAS, 2015).
A primeira definição de autismo como um quadro clínico ocorreu em 1943, quando o
médico austríaco Leo Kanner, que na época trabalhava no Hospital Johns Hopkins (em
Baltimore, nos EUA), sistematizou a cuidadosa observação de um grupo de crianças com
idades que variavam entre 2 e 8 anos, cujo transtorno ele denominou de ‘distúrbio autístico
de contato afetivo’.
O trabalho de Kanner foi de fundamental importância para formar as bases da
Psiquiatria da Infância nos EUA e também mundialmente. Ele realizou experimentos com
11 crianças que apresentavam características comuns. Assim, ele sugeriu que se tratava
de uma inabilidade inata para estabelecer contato afetivo e interpessoal e que era uma
síndrome bastante rara, mas, provavelmente, mais frequente do que o esperado, pelo
pequeno número de casos diagnosticados (BRASIL, 2013).
Segundo Klin (2006) foi no início dos anos 1960, que as evidências começaram a
acumular-se, sugerindo que o autismo era um transtorno cerebral presente desde a infância
e encontrado em todos os países e grupos socioeconômicos e étnico-raciais investigados.
Com a confusão de conceitos entre o autismo e a esquizofrenia de início precoce,
surge a necessidade de diferenciar um transtorno do outro, prevalecendo o conceito de que
os sinais e sintomas devem surgir antes dos 30 meses de idade.
Além disso, destacam-se em seu quadro clínico: problemas no desenvolvimento
social que são peculiares e se manifestam de inúmeras formas e não condizem com o nível
de desenvolvimento intelectual da criança; atraso e padrão alterado no desenvolvimento de
linguagem com características peculiares que não condizem com o nível de
desenvolvimento intelectual da criança; e, repertório restrito e repetitivo de comportamentos
e interesses, o que inclui alterações nos padrões dos movimentos (BRASIL, 2013).
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As pesquisas prosseguiram por todo o planeta e uma definição mais completa da


síndrome autista foi dada por Ritvo e Freedman, em 1978, que passou a ser considerada
como uma inadequação de desenvolvimento que surge nos primeiros três anos de vida da
criança e permanece por toda a vida, sendo mais comum em meninos do que em meninas.
Os pesquisadores postulam ainda, que o autismo possa ser uma consequência de afecções
cerebrais decorrentes de infecções virais e problemas metabólicos no início da vida e
frequentemente é acompanhado de epilepsia. Os diagnósticos diferenciais ficaram mais
abrangentes e incluíram a deficiência mental, esquizofrenia, alterações sensoriais (dentre
essas, a surdez) e as afasias receptivas ou expressivas (BORDIN, 2006).
Essa definição da síndrome autista foi adotada pela National Society for Autistic
Children e, no ano de 1979, ela passou também a fazer parte da Classificação Internacional
das Doenças (CID) de origem francesa, tornando o autismo independente da esquizofrenia
com a qual se mantinha associado. Sua definição estava agora vinculada aos “Transtornos
Psicóticos da Infância” (BORDIN, 2006).
Para além dos termos técnicos a definição do transtorno do espectro autista – TEA
no DSM-V (2013), é caracterizado por prejuízos em três áreas do desenvolvimento: a)
habilidades de interação social; b) habilidades de comunicação; c) presença de
comportamentos estereotipados e/ ou interesses restritos.
Assim a criança com TEA é um sujeito que possui dificuldades na relação e interação
com os outros, consigo mesmo e com o mundo que a cerca, bem como, dificuldade na
inclusão no universo da linguagem e na socialização (LAIA, 2011).
Com o lançamento da 5ª edição do DSM (2013), o autista passa a ser diagnosticado
em um único espectro com diferentes níveis de gravidade. O DSM-V passa a abrigar todas
as subcategorias da condição em um único diagnóstico guarda-chuva denominado
Transtorno do Espectro Autista – TEA. A Síndrome de Asperger não é mais considerada
uma condição separada e o diagnóstico para autismo passa a ser definido em duas
categorias: alteração da comunicação social e pela presença de comportamentos
repetitivos e estereotipados (BRASIL, 2013).
Como no Brasil não há estudos completos sobre a prevalência do autismo, a
abordagem aqui demonstra a prevalência nos Estados Unidos, o que é semelhante em
outros países pesquisados.
Dados de 2014 pesquisas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC,
demonstrou a prevalência 1 em 68 crianças (1 em cada 42 meninos e 1 em cada 189
meninas) com Transtorno do Espectro Autista. “Os critérios diagnósticos se ampliaram e o
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olhar sobre o Autismo fez com que um número maior de casos fosse diagnosticado” (CDC,
2016).
Estes estudos confirmam que de acordo com as características do transtorno e as
taxas de prevalência atuais indicam que, identificar e tratar os sintomas o mais cedo
possível é uma questão urgente de saúde pública (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
NEUROPSICOLOGIA, 2016).
Essa prevalência das crianças com TEA tem preocupado as instituições escolares
no que se refere a diagnóstico precoce e acompanhamento educacional. E, as razões pelas
quais a prevalência tem aumentado se relaciona a maior número de diagnósticos realizados
que não se enquadram na forma típica com retardo mental; maior conscientização entre os
clínicos sobre as diferentes manifestações do autismo; a adoção de definições mais
amplas, entre outros.
Estudos de Mello, et al (2013) estimam que no Brasil haja cerca de 1,2 milhões de
pessoas autistas, entre crianças e adultos.
“O diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, feito a partir das observações da
criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos. Os critérios
usados para diagnosticar o TEA são descritos no Manual Estatístico e Diagnóstico da
Associação Americana de Psiquiatria, o DSM” (GADIA, TUCHMAN, ROTTA, 2004).
No Brasil, por uma questão de tradução, utiliza-se o termo Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento (DSM-IV) com os critérios diagnósticos da CID-10. A classificação do
transtorno fica agrupada nos TGD dessa forma: F84 – Transtornos globais do
desenvolvimento; F84.0 – Autismo infantil; F84.1 – Autismo atípico; F84.2 – Síndrome de
Rett; F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância; F84.4 – Transtorno com
hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados; F84.5 – Síndrome
de Asperger; F84. 8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento; F84.9 – Transtornos
globais não especificados do desenvolvimento.
Para Fonseca (2015), “O TEA é um Transtorno do Desenvolvimento Neurológico e
deve estar presente desde o nascimento da criança ou no começo da sua infância, porém
pode não ser observado antes por conta das demandas sociais mínimas, na mais tenra
infância, e do intenso apoio dos pais e/ou responsáveis nos primeiros anos de vida”.
Uma criança com TEA causa impactos na família que são irreversíveis. É preciso
adaptar-se à nova forma de tratamento da criança, de lidar com os sintomas de aversão ao
abraço, de isolamento, de deficiência na fala e comunicação, entre outros.
E, muitas vezes, a família não possui o conhecimento adequado para fazer o
acompanhamento em tempo hábil, acreditando que é a maneira da criança agir e tentando
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muda-la inadequadamente, ao invés de estimular suas habilidades que consegue


desenvolver.
As crianças diagnosticadas com TEA frequentemente apresentam maior grau de
incapacidade cognitiva e dificuldade no relacionamento interpessoal. Consequentemente,
exigem cuidado diferenciado, incluindo adaptações na educação formal e na criação como
um todo (GOMES et al., 2015).
Nas crianças com TEA, além das características já citadas no corpo deste artigo,
observa-se também, uma inabilidade em relacionar-se com o outro. Desde tenra idade, os
jogos de faz de conta e de imitação social, habituais nas crianças com desenvolvimento
normal, são falhos ou inexistentes (OMAIRI, et al, 2013).
Assim, é preciso que a família busque alternativas para atender as necessidades da
criança, mudando a rotina da casa e adaptando-se ao seu ritmo no cotidiano.
Em muitos casos, a família rompe com a vida social em nome do bem-estar do filho
autista, pois a condição especial da criança requer que os pais encarem a perda do filho
idealizado e desenvolvam estratégias de ajustes à nova realidade.

Discussão

A inclusão da criança com transtorno do espectro autista na escola regular, requer


uma pesquisa anterior para conhecer as peculiaridades que esta apresenta, se moderada,
leve ou grave. Exige conhecer também, suas formas de interação, alimentação, deficiências
na fala, grau de comunicação e agressividade, entre outros.
Assim, as pessoas que irão lidar com esta podem usar estratégias dirigidas
individualizadas no seu trato diário.
Quando se deparam com casos mais graves, devido à desinformação dos adultos,
pais e profissionais da Medicina e da Educação, a criança autista fica condenada a viver
em um mundo que não consegue compreender.
Dessa forma, a criança cresce frustrada, respondendo com agressão e gritos quando
não compreendem o mundo. Muitas vezes, se auto agride e machucam-se para
descarregar sua frustração em não ser compreendido, por isso é melhor identificar o mais
cedo possível que a criança é autista.
“O papel do professor na pré-escola é fundamental. É a partir desse diagnóstico que
é preciso planejar uma estratégia educacional que minimize as dificuldades da criança de
forma que ela possa se integrar e desenvolver de acordo com as possibilidades”
(CAMARGO e BOSA, 2009, p. 8).
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Quando se proporciona às crianças com autismo “oportunidades de conviver com


outras da mesma faixa etária, possibilita o estímulo às suas capacidades interativas,
impedindo o isolamento contínuo”.
Em detrimento dessa afirmativa, o processo de aprendizagem proporciona a troca
de experiências e constrói as habilidades sociais que são fáceis de serem adquiridas se
estimuladas.
No entanto, é preciso respeitar as características de cada criança, evidenciando que
as crianças de condutas típicas ajudam as crianças autistas na interação dando base para
o desenvolvimento de suas competências.
Nesta perspectiva, acredita-se que “a convivência compartilhada da criança com
autismo na escola, a partir da sua inclusão no ensino comum, possa oportunizar os contatos
sociais e favorecer não só o seu desenvolvimento, mas o das outras crianças, na medida
em que estas últimas convivam e aprendam com as diferenças”.
Como visto, O transtorno do espectro autista -TEA se caracteriza por déficits
persistentes na comunicação e na interação social em múltiplos contextos.
A pessoa apresenta déficits na reciprocidade social, em comportamentos não
verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver,
manter e compreender relacionamentos (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA,
2014).
Para detectar o autismo é preciso observar o comportamento de repetições
excessivas, interesses e atividades restritas, a falta de interação com colegas e
professores, a comunicação prejudicada, entre outros.
Muitas vezes, o estudante já chega à escola com o diagnóstico, já que se manifesta
nos primeiros anos de vida. Cabendo à equipe pedagógica e professor analisar o grau de
comprometimento da deficiência para criar estratégias de intervenção que ajude o
estudante a ter desenvolvimento e aprendizagem nas atividades escolares.
Percebe-se que quanto mais conhecimento sobre o autismo, maior será a
contribuição do profissional para que possam sanar as deficiências de aprendizagem
destes estudantes. Isso não quer dizer que a maioria vai acompanhar a turma, mas muitos,
quando estimulados, podem até aprender além, considerando que sua deficiência é na
interação e comunicação oral.
Sabido é que, cada pessoa com TEA é única e age conforme o comprometimento
da deficiência. Quanto mais estimulado, melhor será o resultado final, convergindo em
aprendizagem significativa.
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É importante considerar que quando a criança chega à escola, há a ocorrência de


reações de inflexibilidade diante do desconhecido. “Essas manifestações não devem ser
interpretadas como o estado permanente da criança. Na verdade, trata-se de reações
esperadas mediante uma alteração importante na sua rotina”. A escola, é uma experiência
desconhecida e de difícil apropriação de sentido e propósito pela criança (BELISÁRIO
FILHO, 2010, p. 24).
O professor, tende a sentir-se impotente, angustiado, paralisado, diante da
impossibilidade de colaborar com o desenvolvimento da criança.
Belisário Filho (2010, p. 24) acrescenta que, “mediante as dificuldades iniciais, as
escolas recorrem a todo tipo de tentativa de acolhimento ao aluno”. Mas, considerando
alguns subsídios teóricos, “entende-se que tais dificuldades iniciais ocorrem em
decorrência da inflexibilidade mental dessa criança. É pela falta de flexibilidade que a
experiência de estar na escola não é significada facilmente, representando inicialmente
apenas a perda da rotina cotidiana”.
É importante nesta etapa, não ofertar vivencias que não farão parte da sua rotina,
pois a criança autista se relaciona melhor com as práticas cotidianas que se repetem e
condizem com sua organização mental.
A antecipação do que acontece diariamente na escola, faz com que o aluno autista
se acostume com essas atividades na escola progressivamente. Depois de algum tempo,
ela já estará familiarizada com o ambiente escolar e com as pessoas que convive.
Quando o aluno já vem para escola com diagnóstico, é assegurado o direito do
professor de apoio que o acompanha em suas atividades diárias e cria estratégia para a
aprendizagem dos conteúdos ensinados pelo professor regente.
Uma estratégia adotada pelos profissionais da educação para melhorar a interação,
comunicação e aprendizado é a tecnologia assistiva, usada por professores de apoio e em
salas de recursos.
Galvão Filho (2008), classifica essa tecnologia como uma área do conhecimento, de
característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias,
práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e
participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando
sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.
O TEA predispõe o estudante a ter deficiência de comunicação, prejudicando tanto
a fala ou sua maneira de expressar. Assim a tecnologia assistiva pode suplementar a fala,
quando o sujeito já dispõe de alguma linguagem, ou substituí-la, quando há um
impedimento para que a linguagem oral seja desenvolvida.
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O ambiente da escola deve ser acolhedor para o autista, demarcando o território com
setas, desenhos nas paredes, ornamentação da sala, placas que indiquem caminhos para
se chegar a locais como banheiro, cantina, quadra poliesportiva.
A seguir serão mostrados alguns exemplos de placas e pranchas que são utilizadas
no processo de ensino e aprendizagem do aluno com TEA.

FIGURA 1: prancha de comunicação na tecnologia assistiva.

Fonte: VIEIRA/ 2019

A prancha acima, visa melhorar a comunicação visual, onde o desenho representa


expressões ou ações a serem desenvolvidas e respostas a serem dadas em determinado
momento.
Preparar a escola para receber os estudantes autistas, já é um grande começo, pois
este se sentirá acolhido em um ambiente que sabe decifrar, podendo interagir e circular
com facilidade.
Assim como o entorno da escola, os professores da turma a que o estudante
pertence também pode desenvolver as estratégias dentro da sala de aula, juntamente com
o professor de apoio, respeitando os limites de intervenção no ambiente, pois este não
poderá estar sobrecarregado de informações.
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Uma estratégia importante é desenvolver no estudante o senso de responsabilidade,


usando as pranchas de comunicação alternativa, propondo a organização de materiais e
do local onde está, apresentando uma comunicação oral de fácil entendimento e que
permite exercitar e melhorar a interação com outras pessoas.
Mas, é preciso lembrar que junto com os recursos de apoio visual deve-se utilizar a
verbalização objetiva, dirigindo-se oralmente ao aluno para que compreenda e reaja ao
enunciado.

FIGURA 2: Prancha de comunicação de afazeres do cotidiano

Fonte: VIEIRA/ 2019

Espera-se a sensibilização dos educadores para o atendimento especial ao


estudante com TEA, que pode melhorar o aprendizado e a interação com o ambiente
escolar e, consequentemente com a sociedade em que está inserido.
Na inclusão escolar, ainda são observadas críticas que questionam a estrutura
institucional escolar brasileira e a educação nela oferecida para os alunos deficientes, pois
esses alunos demonstram em sua aparência, uma diferença que provoca insegurança no
professor que muitas vezes não sabe como agir.
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Mas, quando há a troca de experiências família/escola/atendimento especializado, o


professor deverá ser capaz de orientar os pais dos alunos através de palestras e estudos
sobre a prevenção e a identificação dos agravos, sobre o programa de estimulação
precoce, bem como sobre sua atuação em toda a vida do filho. Informar os pais sobre os
serviços disponíveis nas áreas de saúde, psicologia, assistência social e educação, para
que possa buscar o atendimento adequado a seu filho (FERREIRA E ALBUQUERQUE,
2008, p, 61).
As mudanças estruturais e pedagógicas da inclusão são inúmeras, desde a Proposta
Pedagógica da escola à formação do professor regente e de apoio, mas é necessária a
transformação familiar também. Assim, torna-se necessário que os pais aprendam a lidar
com as dificuldades, facilitando a comunicação com o filho autista, no intuito de gerar
equilíbrio que satisfaça as necessidades de todos e que ele possa ter maior rendimento ao
ser ingressado no ambiente escolar.
As ações que já estão sendo implementadas, com base nos princípios da inclusão,
revelam que a conscientização de todos os educadores é prioritária, também são relevantes
as condições da escola, o Projeto Político Pedagógico, o envolvimento da gestão
educacional e a mobilização dos pais e alunos.
A mudança que envolve toda a comunidade escolar é necessária e contempla hoje
não somente a inclusão dos alunos com deficiência, mas todos os que, por diferentes
motivos, encontram-se em situação de risco de não atingir um nível adequado de
aprendizagem.

Conclusão

O transtorno de espectro autista – TEA é uma deficiência que acomete várias áreas
do desenvolvimento humano, mas principalmente, a comunicação, interação e o uso da
imaginação. Essas características variam conforme a nível de comprometimento e a idade
da pessoa.
A aprendizagem do aluno com autismo fica prejudicada quando este não é acolhido
por pessoas conhecedoras de suas condições e que se envolvem diretamente com esse
atendimento.
Sabe-se que o atendimento educacional da criança autista está sendo um grande
desafio, uma vez que exige modificações estruturais e pedagógicas necessárias para a
inclusão satisfatória desse aluno no ambiente escolar.
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Assim sendo, a criança autista vem sofrendo grandes fracassos com a má formação
dos professores, e um sistema educacional que está longe de ser estruturado para o seu
atendimento, pois, o aluno que possui deficiência, apresenta um esforço bem maior em
aprender do que aquele dito normal.
Portanto, discutir a educação escolar desta criança, reporta não só às questões
referentes aos seus limites e possibilidades, como também aos desafios da escola em
acolher e mantê-las em um ambiente inclusivo que promova o seu desenvolvimento
integral.
Este artigo abordou os sintomas em crianças que frequentam os primeiros anos do
Ensino fundamental, ou seja, de seis a oito anos de idade e que estão sendo inseridos em
salas de aula que ainda não estão familiarizados, percebendo-se uma dificuldade de
adaptação.
Percebe-se também que alguns professores não estão preparados para atender
estes estudantes em suas verdadeiras necessidades, tentando agradar com atitudes que
não fazem parte do cotidiano escolar, o que agrava o de isolamento e a falta de interação.
Assim, cabe à escola além da formação dos professores e equipe pedagógica para
acolher e manter o estudante autista na escola, o uso de estratégias que viabilizam seu
aprendizado e interação no ambiente escolar.
Uma educação inclusiva só acontecerá se houver o redimensionamento das ações
educacionais hoje empreendidas pela escola comum, buscando uma reorganização da
estrutura escolar, superando visões seriadas, disciplinares e hierarquizadas dos
conhecimentos, respeitando a escola como espaço de conflito, contradição e
transformação.
Observou-se que os esforços estão sendo empreendidos e, já começam a aparecer
alguns resultados nas escolas comuns para se tornarem espaços inclusivos de ensino e de
aprendizagem, por meio de práticas pedagógicas que tentam a melhoria do processo
educacional para todos os alunos
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Referências

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