Chico Voce É Kardec? Wilson Garcia

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WLSON .

GARCA

A verdade sobre Chico Xavier


o retorno de Allan Kardec
Chico Xavier:

"Nao s-omos- G1újui lo

ú1 ue os- o u-tros-
. .
1magmam újUe

s-omos-.

CO-EDIÇÃO
ELD DO/E E
Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
Wilson Garcia www.viasantos.com/pense

CHICO,
VOCÊ Ê KARDEC?

CO-EDIÇÃO
ELDORADO / EME
Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
Wilson Garcia www.viasantos.com/pense

Edição e Distribuição:

EDITORA

Fone/Fax: (019) 491-7000


Caixa Postal 1820
13360-000- Capivari-SP
E-mail: editoraeme@ncap.com.br
Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
Wilson Garcia www.viasantos.com/pense

WILSON GARCIA

CHI CO
VOCÊ ·É KARDEC?

A verdade sobre Chie o Xavier


e o retorno de Allan Kardec

Capivari-SP
- 1999 -
Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
Wilson Garcia www.viasantos.com/pense

Copyright 1999, Wilson Garcia

1a edição
3.000 exemplares
Novembro de 1999

Edição conjunta:
Editora Eldorado Espírita de São Paulo
Editora Mensagem de Esperança (EME)

Projeto gráfico:
Jonas Narivicius

Capa:
W. Garcia

Revisão:
Maria Júlia Oliveira Zucolin
DIGITALIZAÇÃO:
PENSE – Pensamento Social Espírita
www.viasantos.com/pense
Dezembro de 2013

Ficha Catalográfica
Garcia, Wilson
Chico, Você é Kardec?, Wilson Garcia, la edição
novembro/1999, Capivari- SP, Editora Eldorado/EME.
ISBN 85-7353-129-0
183p.
1 - Espiritismo - Reencarnação
2 - Biografia sobre Chico Xavier/Kardec
CDD 133.9
Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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"A HISTÓRIA É FEITA


PELOS HOMENS-ESPÍRITOS
E NÃO PELOS
HOMENS-CORPOS. "

JosÉ HERCULANO PIREs


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SUMÁRIO

O Círculo de Abred da Reencarnação ... .......... ... ... ....... 11

CAPÍTULO I

De onde nascem as águas da vida ................... ........ .... 23


O mundo maravilhoso das vidas passadas ... ..... ....... ... 24
Nova r eferência ao retorno de Kardec ..... .... .... ..... .. ..... . 32
A su cessão d e Ka rdec e a obra complementar .... ........ . 36
O qu se p nsa sobr o a s u nto ......... .. .... ............ .... .. . 38
O r etorno s gund os bió rn ~ s ... ...................... .. ........ 40

CAPÍTULO II

O passado suscita curiosidades e conduz a pesquisa s 45


O ponto de partida para ligar Chico Xavier a Kardec .... 51
Kardec prossegue, na opinião de Adelino da Silveira ... 55
A mensagem do Espírito Hilário Silva .................... ... .. . 57
Chico/Kardec na visão do Dr. Jarbas Varanda .... .. .. ... . 60
A médica Marlene Nobre e a tese Chico/Kardec ... ... ... . 63
Mensagem de Kardec indicaria seu retorno próximo ... 68

CAPÍTULO III

A opinião contrária das lideranças espíritas ... ... ..... .. ... 73


Análise dos argumentos prós e contras ....... ............. ... 77
A m ensagem "A Volta de Allan Kardec" .... ............ ....... . 79
Duas outras mensagens de Hilário Silva .... .. .... ...... .. .. .

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Apenas com Água e Visão de Eurípedes ................. ... .. 90


Todos os rios caminham para o mar :..-.... .. ........ ............ 96
A lógica da emoção e a emoção da lÓgica .......... ......... 100
Na berlinda, Chico nada confirma ..... .. .. .................... 108
De preces e outros argumentos inconsistentes ......... 116
Teria sido uma farsa o casamento de Kardec? ........... 121
As diferenças psicológicasde Kardec e Chico Xavier . 130
As mensagens que Kardeê não teria enviado ·~ ....... .... 137
No clima do passado, um;;;: opinião- e uma detlaração
discutíveis ................................................ .. ......... . 148

CAPÍTULO IV

O que Chico de fato disse a seu respeito ............. .... .. 155


Chico não aceita ser confundido com Allan Kardec ... 166

Bibliografia .... .. .................... ... ................................... 173

Notas ...... ........ ............................ ... .. .. ... .... ............. ... .... 178

Obras do Autor ............... .. ...................... .. ............ .. ... 181

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O Círculo de Abred da Reencarnação

"Uma vez, uma senhora chegou perto dele feliz


da vida. Tinha feito uma descoberta.
- Fui mártir. Morri na arena devorada por um
leão. E você, Chico?
- Ah, eu fui a pulga do leão". 1
Segundo o jornalista Mar I Souto Maior, Chico
"ficava cansado daquel mont d h róis à sua
volta. De vez em quando, um amigo abria um sor-
riso e se apresentava a ele, orgulhoso, como um
ex-Napoleão, um ex-rei, um ex-apóstolo. Ninguém
enchia a boca para dizer: "Fui um perdedor". To-
dos tinham histórias edificantes para contar.
Chico ouvia as revelações grandiloqüentes e, às
vezes, não resistia a uma ironia:
-Eu, aqui, no meio destas cabeças coroadas,
com a cabeça decepada.
Ficou feliz da vida quando um vizinho comuni-
cou:
-Lá em casa há mais uma criadinha às or-
dens. Nasceu uma menina e dizem que é o espíri-
to de uma índia que reencarnou.

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Chico quase bateu palmas.


-Graças a Deus. Até que enfim nasceu uma
índia.
Só sentia vontade de vaiar quando alguém es-
peculava sobre as vidas passadas dele. Certo, ele
teria sido Flávia mesmo. E daí? Qual a importân-
cia disto? O tema, para ele, era pura perda de
tempo. Cada um deveria se preocupar com esta
vida".
Por seu trabalho e por seus exemplos, Chico
Xavier, o médium de Pedro Leopoldo, Minas Ge-
rais , e depois de Uberaba mas, essencialmente, o
médium do mundo tornou -se uma das figuras
mais conhecidas e amadas de nosso tempo . Por
isso mesmo, falar dele e de sua obra é um risco
muito grande, especialmente quando se pode ter
por obrigação dizer coisas que possam parecer
críticas a ambos, obra e Chico.
Não é essencialmente este o caso aqui. Mas
pode a alguns parecer. A verdade é que Chi c o
monopolizou a atenção do Brasil desde os pri-
meiros anos de sua idade adulta, mais precisa-
mente quando o livro "Parnaso de Além Túmulo"
saiu do domínio do anonimato literário e caiu no
gosto dos críticos, isso pelos idos de 1932. Lá se
vão quase setenta anos de história.
A multidão que desde então passou a amar o
Chico e a lhe dever algum tipo de favor (embora
ninguém devesse de fato dever alguma coisa aos
médiuns) pode ser vista até hoje, nas imensas
filas que se formaram em Pedro Leopoldo, Uberaba
e por esse Brasil afora, por onde tenha passado o
médium. Nenhum mortal viu coisa igual em país

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algum do mundo, em se tratan-


do de um médium. Em 1978, na
Bienal do Livro, que ainda era
realizada no Pavilhão do
lbirapuera em São Paulo, apre-
texto do lançamento de um li-
vro, Chico Xavier mobilizou ad-
miradores até quase cinco ho-
ras da manhã, numa sessão de
autógrafos que havia começado
no dia anterior, por volta das
dezesseis horas. Quem ali pre-
senciou o fato viu como os edi-
tores estrangeiros reagiram: Chico
psicografando
com enorme espanto! quando
Chico é fora de dúvida. Ja- ainda
mais, no mundo inteiro, um residia em
Pedro
médium respondeu aos seus Leopoldo
deveres com tanta responsabi-
lidade e dedicação, sem desme-
recer nenhum dos extraordinários médiuns que
o antecederam com obras psicográficas admirá-
veis, de grande consumo.
Chico é diferente. Se sua tarefa tinha como
ponto primordial servir sem ser servido, ninguém
o alcançou no mesmo métier, se o principal as-
pecto de seu trabalho consistia em entregar ao
homem uma pilha de obras deveras necessárias
para o entendimento do mundo, estaria ele apro-
vado; mas, se o que de mais importante tinha a
fazer era dar um exemplo de como se vive por um
ideal anos a fio, a despeito das incompreensões e
de todas as mais insinuantes manobras d a co-

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modidade, Chico foi incomparável.


Os anos vão se suceder, até que um dia os co-
nhecimentos da obra de que foi medianeiro se es-
gotem e sejam suplantados por outros, da mes-
ma maneira que ocorre com Allan Kardec, cujo
rasgo profundo no sistema de pensamento do
homem exigirá séculos para ser de fato absorvi-
do. E se nada mais para ambos houvesse que
des~acar, bastaria lembrar que as obras dos dois
estão interligadas definitivamente, sendo Chico o
medianeiro por meio de quem os Espíritos pros-
seguiram na obra que Kardec houvera organiza-
do, segundo um sistema que mais educa que de-
limita o pensamento.
Mas, a grande discussão deste fim de século
XX, em que Chico Xavier supera as mais pruden-
tes profecias e permanece ligado ao corpo fisico,
é sobre ser ele ou não a reencarnação do
Codificador Allan Kardec. A tese foi proposta há
muitos anos e enganosamente permaneceu apa-
gada; enganosamente, porque, de fato elajamais
foi abandonada, pois dormitava no leito daqueles
que especulam sobre o retorno do Codificador no
corpo do médium mineiro. De momento a mo-
mento, revitalizava-se com o aparecimento aqui
e ali de fatos que pareciam indícios. Os mais de-
cididos contraditares, dentre eles alguns que ti-
veram longo e largo contato com Chico, chegam
mesmo a afirmar com destemor que há por parte
do Chico uma parcela de culpa nessa questão,
uma vez que ele estaria, de uma forma ou de ou-
tra, alimentando a fogueira das ilusões e indire-
tamente fomentando a tese. De outro lado, a con-

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trabalançar a questão, outros não menos insus-


peitos amigos de Chico são unânimes em dizer
que o médium fica tão contrariado quando o as-
sunto surge que chega a cortar relações com aque-
les que defendem a tese de que ele e Kardec são a
mesma personalidade reencarnada.
A acreditar-se nas palavras do jomalista Marcel
Souto Maior, no livro citado, têm razão. Diz ele
que Chico "sempre mudava de assunto quando
alguém ameaçava sondá-lo sobre suas próprias
vidas anteriores. Mesmo assim, as especulações
animavam conversas reservadas entre os espíri-
tas. Os amigos aprenderam a arriscar, às escon-
didas, palpites sobre a última encarnação de
Chico na Terra. Entre os nomes mais cotados,
sempre esteve o de José Anchieta, parceiro de
Manoel da Nóbrega (o Emmanuel)". 2
Não há como ficar imune à discussão, quando
se tem uma parcela, por mínima que seja, de par-
ticipação no tema que se chama Espiritismo. O
·grande desafio que se coloca aos estudiosos é
encontrar meios de estudar o assunto com isen-
ção de ânimo, levando em consideração os dois
lados e aCrescentando aí os demais pretendentes
a herdeiros do pedagogo francês, já que estes tam-
bém participam da discussão e, no caso presen-
te, são terceiros interessados, para usar de uma
linguagem jurídica. Outro desafio a vencer é man-
ter o respeito às diversas opiniões, mesmo quan-
do estas se apresentam despojadas de qualquer
senso crítico, tendendo mais a um posicionamento
emotivo e pessoal, às vezes até respaldado por
evidentes influências de personalidades invisív is

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cujas intenções são de trazer ao ambiente em que


as idéias são colocadas uma certa confusão.
O tema da reencarnação está colocado na Dou-
trina Espírita como um dos pilares que a susten-
tam; tudo o que lhe diz respeito interessa de cer-
ta forma ao Espiritismo. Apresenta-se sob dois
aspectos igualmente importantes: o filosófico e o
científico. Entre os dois situa-se o do interesse
pessoal ou grupal, mas esse aspecto precisa ser
colocado no seu devido lugar, por se tratar de
uma questão que não passará do nível em que
surge - o da mera curiosidade - apesar de apare-
cer aqui e ali como ingrediente motivador de li-
vros e trabalhos diversos. Neste caso, servirá,
quando abordado, para que o estudioso possa
formar uma idéia clara de seu valor apenas cir-
cunstancial.
Embora a reencarnação não tenha sido inven-
tada pelo Espiritismo, foi a partir dele que a teo-
ria ganhou espaço e passou a ser pesquisada em
termos científicos, já desde os tempos de Kardec,
ocupando a atenção de estudiosos sérios, como
Gabriel Dellanne, Camille Flamarion, Ernesto
Bozzano e, mais recentemente, Ian Stevensson e
o professor Hemendra Nat Banerjee. Este último,
estando no Brasil, foi visitar Chico Xavier em com-
panhia do Dr. Hernani Guimarães Andrade, mas
não estava interessado em pesquisar sua reen-
carnação.3
O que a pesquisa científica traz como contri-
buição à filosofia da reencarnação admitida pelo
Espiritismo é o fato de confirmá-la ou não nos
casos estudados. Uma vez que isso não possa ser

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concretizado, qualquer tese deverá ser colocada


no seu devido lugar, aguardando melhor es con-
dições para sua definição . Porém, se uma dessas
duas condições for devidamente preenchida, não
se terá mais o que discutir. Isso de forma alguma
invalida os esforços empreendidos por aqueles
que, com seriedade, se lançam a analisar o as-
sunto e de modo particular concluem numa ou
noutra direção. O que se espera aí é , no mínimo,
uma posição honesta: casos em que a reencarna-
ção não esteja comprovada devem ser devidamen-
te esclarecidos, cabendo ao estudioso a sinceri-
dade desse esclarecimento, para que sua opinião
particular não seja tomada inadvertidamente à
conta de uma verdade. Este foi o caminho trilha-
do pelos estudiosos do passado, o que contribuiu
para que se tornassem referência no assunto.
A questão Chico-Kardec tem sido colocada
muito no plano emocional, o que explica de certa
forma as posições apaixonadas e pouco propícias
à discussão. É possível que não seja resolvida no
plano científico, mas sua análise pode e deve le-
var a uma posição pelo menos de resguardo da
opinião doutrinária, desde que convenientemen-
te aceita com boa vontade. Isto é plenamente pps-
sível, embora pareça a alguns muito po_u co pro-
vável. A explicação é que, desde que Chico alcan-
çou o estágio em que se situa atualmente, de ad-
miração somente votada aos grandes e raros ho-
mens, tornou-se quase impossível contornar os
meandros formados pela avassaladora massa dos
seus adoradores, massa essa que, como qualquer
outra, não pode ser tratada somente no pla n o d

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razão, mas também não pode ser manipulada pelo


lado emocional. E isto, segundo aquelas opi-
niões, é o que mais tem acontecido, especialmen-
te pelas manifestações de algumas lideranças,
cujo posicionamento contribuiria para aumentar
a carga emocional.
Se isso é de fato verdadeiro, pouco se poderá
fazer.
Em nosso estudo, porém, preferimos acreditar
que os espíritas inteligentes, cultores da fé racio-
nal, poderão auxiliar com grande influência a
opinião pública, a fim de colocá-la numa posição
equilibrada ante a situação, na esperança de que
isso contribua para o discernimento doutrinário,
base das mudanças individuais e sociais que se
espera ocorra. Essa esperança se funda na certe-
za de ser o Espiritismo uma doutrina que promo-
ve uma ruptura no pensamento humano, a par-
tir da qual pode ser melhor absorvido e, portan-
to, incorporado culturalmente.
Se a maioria dos espíritas e dos admiradores
da doutrina codificada por Kardec preferirem o
caminho contrário, dando mais valor à emoção 1
em detrimento do equilíbrio entre sentimento e
razão, aí então, não somente Chico será Kardec,
mas, qualquer um poderá ser qualquer coisa,
porque estaremos vivendo o tempo das ilusões
que o Espiritismo não terá conseguido suplan-
tar.
***
Chico se fez uma criatura extraordinária. Como
homem e como médium. E como toda criatura
extraordinária, tem seu lado complexo, misterio-

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so, indevassável. À distância, esse mistério se tor-


na ainda maior e quem o admira com sofregui-
dão apenas à distância ficará, deveras, horrori-
zado com a sabedoria popular que diz que "para
um criado de quarto não há homem perfeito".
Fred Jorge saiu de São Paulo para ver o Chico,
preocupado . Será que o famoso médium o rece-
beria? "Fomos ver um dos maiores homens do
Brasil" - diz. "O mais discutido e o mais querido.
Considerado um dos maiores médiuns do mun:_
do. Esperávamos ver alguém impertinente,
superocupado, sem disposição para nos receber,
para perder tempo com estranhos. Encontramos
mais do que um amigo . Não um irmão para nós.
Um irmão para todos! Um manancial suave e
puro, perdido na flo resta de dores e sofrimentos
deste mundo!". Este retrato está no livro "Chico
Xavier, sua verdadeira história", que Fred Jorge
publicou em 1972 .4
Com a obra, produzida às carreiras para con-
sumo rápido, Fred Jorge se juntou às mais de
duas dezenas de escritores que já procuraram
descrever essa criatura que um dia, lá se vão mais
de 80 anos, afirmou para o padre de sua cidade
que estava trocando a família católica pela do
desconhecido e mal-afamado francês Allan
Kardec. Em todos os trabalhos biográficos, con-
tudo, a questão da vida anterior de Chico Xavier
ficou relegada, ora ao esquecimento, ora a meras
anotações. Com razão. Além do disse-que-disse
dos bastidores nada se sabia. Hoje, que o assun-
to está posto publicamente, sob a chancela d
lideranças de expressivos seguimentos do m vi-

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mento espírita, torna-se obrigatório enfrentá-lo.


E como a vida do famoso médium está por de-
mais apresentada, podemos optar por tratar ape-
nas do tema em si, com escaramuças quando
necessário pelo campo de sua mediunidade.
Ainda assim, sabemos estar pisando num ter-
reno movediço. Temos, contudo, a nosso favor, a
sinceridade de propósito e o amparo do
Codificador, que garante a qualquer estudioso o
direito (e por que não o dever?) de auscultar os
fatos, analisar os conteúdos e tomar uma posi-
ção honesta. Isto vale tanto para a questão da
mediunidade, quanto para a da reencarnação.

***

Depois que tomou conhecimento de sua vida


pretérita como druida, Allan Kardec teve aumen-
tado seu interesse pela doutrina daquele povo.
Publicou na "Revista Espírita" estudos sobre o
assunto para tornar mais conhecidos os princí-
pios druídicos que tão perto estavam dos que o
Espiritismo vinha apresentar. Ao tocar na impor-
tante questão de Deus sob a visão dos druidas,
Kardec destacou: "Há três círculos de existência:
o círculo da região vazia (keugante) onde - exceto
Deus - não há nada vivo nem morto e nenhum
ser que Deus não possa atravessar; o círculo da
migração (abred) onde todo ser animado procede
da morte, que o homem atravessou; e o círculo da
felicidade (gwenved), onde todo ser animado pro-
cede da vida, que o homem atravessará no
céu".

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Em termos druídicos, pois, o Círculo de Abred


se refer e à vida na Terra, onde os Espíritos
transmigram, isto é, vivem vidas sucessivas em
corpos diferentes, atravessando a morte constan-
temente para ressurgir mais além e prosseguir
sua saga. Como diz o texto reproduzido por Kardec
na revista de abril de 1858, "as declarações das
tríades relativas às condições inerentes ao Círcu-
lo de Abred derramam as mais vivas luzes sobre
o conjunto da religião druídica. Sente-se que nela
perpassa um sopro de superior originalidade. O
mistério que à inteligência oferece o espetáculo
de nossa existência atual adquire nela uma fei-
ção singular, que não se encontra em parte algu-
ma. Dir-se-ia que um grande véu, rompendo-se
aquém e além da vida, deixa a alma nadar de
repente, com uma força inesperada, através de
uma extensão indefinida, de que jamais foi ca-
paz de suspeitar por si mesma na sua pnsao
entre as portas espessas do nascimento e da
morte".
Estamos todos, Chico, Kardec e nós, mergu-
lhados no Círculo de Abred, mas agora com o
mistério druídico desfeito, pelo menos quanto a
inúmeras indagações que então ficavam apenas -
para os seus iniciados. Podemos contar com as
luzes lançadas sobre a reencarnação pelos Espí-
ritos, esclarecendo medianamente inúmeros as-
pectos da existência para deixar este mergulho
que é renascer no planeta azul com muito mais
fôlego. Quis o destino que um ex-druida fo sse o
autor dessa façanha esplendorosa, como a con-
firmar que o fio da meada da vida que com çou

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não se sabe onde, prossegue sem se romper pelo


infinito dos universos.

O AUTOR

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CAPÍTULO I

De onde nascem as águas


da vida

"SIM, PLATÃO, É VERDADE: NOSSA ALMA


É IMORTAL; É UM BEM QUE LHE FALA, UM
DEUS QUE NELA VIVE. DE QUEM SENÃO
DELE PODERIA VIR ESSE GRANDE PRES-
SENTIMENTO, ESSE DESPREZO PELOS BENS
MUNDANOS, ESSE HORROR DO NADA?"
VOLTAIRE

Há dois pilares que sustentam o edifício dou-


trinário denominado Espiritismo, sem os quais
não sobreviveria muito tempo: a mediunidade e a
reencarnação. Não são os únicos pilares do edifí-
cio, mas são importantes e definitivos para sua
sustentação. A mediunidade encaminha para a
realidade invisível, que deixou de ser virtual ou
imaginária para se transformar num valor palp · -
vel, decisivo para o homem poder compreend r o
mundo em que está situado e as relaçõe8 q u ·

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estabelece com outros planos existenciais. A re-


encarnação se insere neste contexto como o fun-
damento da justiça e da evolução humana, pro-
videnciando o devido entendimento da continui-
dade da vida ao longo das eras, nos diversos mun-
dos materiais construídos a partir da energia pura
e destinados às experiências inúmeras dos con-
teúdos espirituais, as individualidades imortais
denominadas Espíritos.
Ao estabelecer os fundamentos desses dois pi-
lares, o Espiritismo garantiu a construção de
uma idéia coerente para o ser e o destino, com
abrangências nas vidas passadas e nas futuras.
As conseqüências morais resultantes das teorias
da mediunidade e da reencarnação se estendem
a todos os demais princípios do Espiritismo e só
podem ser compreendidas em sua extensão a
partir dessas teorias.

O MUNDO MARAVILHOSO
DAS VIDAS PASSADAS

Há uma curiosidade em geral sadia naqueles


que buscam as raízes dos fatos. O desejo de co-
nhecer a origem da vida é, como sempre foi, a
causa de grandes descobertas e extraordinárias
conquistas. Mas, vasculhar o passado não é ape-
nas prazeroso para o pesquisador paciente e pre-
disposto a alcançar determinadas realidades;
atende também às expectativas da curiosidade
pura e desinteressada, com origem nos "mortais"
mais simples e anónimos.
Em alguns compartimentos da sociedade, essa

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curiosidade tem sido motivo· de condenação, ar-


rastada por uma visão de pe-
cado, especialmente
quando o objeto de de-
sejo se situa na zona
nebulosa do mun-
do invisível. Ocor-
re que a curiosi-
dade não pode
ser condenável
em si mesma;
talvez não deves-
se ser condena-
da jamais! Sen-
do o móvel das
ações em diversas
circunstâncias da
vida, mesmo quando
dirigida àquilo que
não oferece nenhum be-
neficio, em lugar de ser ob-
jetivamente condenada deveria
ser estimulada com vistas a manter a criatura
disposta a prosseguir cultivando-a, com certeza
aprimorando as aspirações, todavia nunca elimi--
nando-as em razão da existência da curiosidade.
Foi a curiosidade que fez Allan Kardec se lan-
çar à solução de muitos pontos e aspectos da vida
invisível quando, depois de muito insistir com ele,
alguns amigos o convenceram de que devia parti-
cipar das experimentações mediúnicas que cau-
savam certo alvoroço na sociedade de Paris, em
meados do século XIX. Uma vez particip ndo,

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descobriu um filão do mais puro ouro que um


homem então poderia desejar: o conhecimento do
invisível e suas relações com o visível. Antes, po-
rém, de se lançar na escavação desse terreno rico,
quis confirmar a sua autenticidade; desejou, tam-
bém, resolver centenas de pequenas questões re-
lacionadas ao terreno e esta curiosidade se mos-
trou intensa, contínua e responsável pelo encon-
tro das soluções.
Por exemplo: tempos antes de definir sua par-
ticipação na obra espírita, Kardec alimentava inú-
meras dúvidas. A curiosidade o levou a colocar
essas dúvidas e uma delas se referia à possibili-
dade de ter ele um guia espiritual ou Espírito pro-
tetor. Pelo diálogo anotado em "Obras Póstumas" 5
se pode inferir não só essa curiosidade como, tam-
bém, as questões e formas como eram colocadas.
Depois de perguntar se havia no mundo dos
Espíritos algum que se interessasse por ele e ob-
ter uma informação positiva, Kardec quis saber:
"Será o Espírito de algum parente ou de algum
amigo?", obtendo por resposta: "Nem uma coisa
nem outra". A curiosidade dele prosseguiu na for-
ma de perguntas sucessivas, pelas quais ficou
sabendo que o seu Espírito protetor teria sido na
Terra "um homem justo e de muita sabedoria".
Isso poderia ser suficiente para a satisfação de
qualquer um, mas Kardec tinha em mente con-
seguir outras informações, seja para resolver suas
necessidades pessoais, seja para formar uma vi-
são de conjunto do terreno onde estava pisando.
Não conseguiu ele arrancar nenhuma informa-
ção quanto ao nome do seu Espírito protetor, de

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forma a poder identificá-lo entre os personagens


da história. O máximo que obteve foi uma indica-
ção bastante subjetiva: "Para ti chamar-me-ei
Verdade". E ponto final.
A curiosidade de Kardec era inesgotável, po-
rém. Na esteira das questões que apresentou,
desejou obter informações sobre se o Espírito de
sua mãe vinha de alguma forma visitá-lo por ve-
zes. Os Espíritos afirmaram: "Vem e te protege
quanto lhe é possível", mas Kardec estendeu a
questão e queda saber também, entre outras coi-
sas, se quando sonhava com ela- e o fazia cons-
tantemente- não era isso o efeito de sua própria
imaginação. A resposta satisfez completamente:
"Não; é mesmo ela que te aparece; deves
compreendê-lo pela emoção que sentes". Por uma
nota acrescentada em suas recordações, esclare-
ceu Kardec: "Isto é perfeitamente exato. Quando
minha mãe me aparecia em sonho, eu experimen-
tava uma emoção indescritível. .. ".
Por esse pequeno exemplo se pode ter uma
idéia, ainda que pálida, da ansiedade do
Codificador em solucionar as dúvidas que se su-
cediam em sua mente. Este fato foi positivo nele,
assim como é nas pessoas sérias e sinceras e
naquelas desejosas de resolver questões de im-
portância para o bem geral, como é o caso dos
pesquisadores nos variados campos da socieda-
de humana.
Entramos, agora, no terreno que nos interes-
sa: a reencarnação de Kardec. Todo estudioso
acaba sabendo que a relação do Espírito encar-
nado com o. desencarnado, dentro dos processos

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naturais em que a comunicação se faz via pensa-


mento na vida diária, produz resultados diver-
sos. No caso específico do Codificador e da sua
curiosidade, algumas informações chegavam
espontaneamente e outras vinham como respos-
tas às suas indagações . A primeira vez que ouviu
falar de uma possível futura reencarnação sua
ocorreu ainda muito cedo, antes mesmo de ser
publicado "O Livro dos Espíritos". E veio de for-
ma espontãnea, no contexto de uma advertência
que o Espírito Zéfiro lhe fazia com relaÇão ao tra-
balho que estava executando e a necessidade de
preservar-se de uma série de situações: "Segun-
do o que vejo, és muito capaz de levar a bom ter-
mo a tua empresa e tens que fazer grandes coi-
sas. Nada, porém, de exagero em coisa alguma".
Essa foi a advertência.
O fato aconteceu em uma sessão na casa do
Sr. Baudin, no dia 17 de janeiro de 1857, prati-
camente três meses antes do lançamento de "O
Livro dos Espíritos". A informação do Espírito que,
no dizer de Kardec, "não era um Espírito superi-
or, porém muito bom e muito benfazejo", está
escrita da seguinte forma:

"Mas, ah! a verdade não será conhecida


dé todos, nem crida, senão daqui a muito
tempo! Nessa existência não verás mais do
que a aurora do êxito da tua obra. Terás que
voltar, reencarnado noutro corpo, para com-
pletar o que houveres começado e, então,
dada te será a satisfação de ver em plena
frutificação a semente que houveres espa-

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lhado pela Terra. "6

O objetivo da informação dada pelo Espírito


parece bastante claro: pretendia de certa forma
estimular Kardec quanto ao trabalho que realiza-
va, indicando-lhe que teria oportunidade de pros-
segui-lo em outra existência. Era certo que a obra
demandaria muito mais tempo para ser executa-
da, embora naquela ocasião não se pudesse pre-
ver com clareza as reais dimensões do trabalho
ainda em início. "O Livro dos Espíritos" não havia
sido lançado, mas estava a caminho e, como se
sabe, sua primeira edição nem de longe fazia su-
por a repercussão que teria posteriormente. Com
certeza, por mais que descortinasse a importân-
cia do resultado de seus estudos e pesquisas,
Kardec não tinha a noção exata do futuro, como
é comum acontecer com os seres humanos em
circunstâncias semelhantes.
Mas havia outros fatores e inconvenientes que
era preciso perceber. Kardec, que nascera em três
de outubro de 1804, tinha então 53 anos. Como
"O Livro dos Espíritos" deveria ser lançado dali a
três meses com cerca de metade das questões que
comporiam depois a edição definitiva, tinha mui-
to trabalho pela frente. Quando Zéfiro afirma a
ele que deveria retornar à vida fisica para ver o
êxito maior do trabalho e completar a obra, fala
de forma genérica e não propriamente profética,
como quem está inais ou menos a par da exten-
são do trabalho e do tempo que demandará até
ser finalizado.
As comunicações dos Espíritos, como de resto

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a comunicação entre os homens de forma geral,


têm o seu lado objetivo e o subjetivo. Ao perceber
essa nuança, Kardec registrou-a especialmente
em "O Livro dos Médiuns", referindo-se a ela com
ênfase. Um dos detalhes, que aqui vale a pena
estudar, diz respeito ao tempo. Este nem sempre
é contado entre os Espíritos da mesma forma que
entre os homens na Terra. Na revelação de Zéfiro,
acima, não há referência objetiva ao tempo, isto
é, não fala ele se a reencarnação de Kardec acon-
tecerá num momento ou noutro. Diz, apenas, que
"a verdade não será conhecida de todos, nem
crida, senão daqui a muito tempo", acrescentan-
do: "Nessa existência não verás mais do que a
aurora do êxito da tua obra".
"Daqui a muito tempo" é uma afirmação bas-
tante subjetiva. Pode, entretanto, ser interpreta-
da como um tempo realmente muito longo, em
termos terrenos, se levarmos em conta que a ver-
dade precisará alcançar "todos" os seres huma-
nos, verdade- diga-se- da qual o Espiritismo é
uma parcela importante. Mas, se apenas a "au-
rora", ou seja, o nascer da obra que realizava se-
ria visto por Kardec, podemos inferir que, estan-
do com 53 anos e vivendo numa época em que a
expectativa média de vida não deveria ultrapas-
sar 60 anos, não restava tanto tempo ao
Codificador para completar o trabalho.
Ainda em relação à questão do tempo, veja-se
o seguinte: em 24 de janeiro de 1860, quase três
anos depois do aparecimento do livro inicial do
Espiritismo, Kardec conversa com o Espírito de-
nominado Verdade a respeito de uma previsão

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que um outro Espírito fizera espontaneamente,


na cidade francesa de Limoges, dizendo que o seu
trabalho duraria ainda cerca de dez anos . Kardec
queria saber se aquele tempo era correto e como
um Espírito, comunicando-se numa cidade que
ele jamais fora, poderia saber dessas coisas. A
resposta esclareceu o assunto e deixou material
para se pensar. Disse o Espírito Verdade:

"Nós sabemos o que te resta a fazer e, por


conseguinte, o tempo aproximado de que
precisas para acabar tua tarefa. " Um pouco
mais à frente , disse: "Entretanto, não é ab-
soluto o prazo de dez anos; pode ser prolon-
gado por alguns mais, em virtude de circuns-
tâncias imprevistas e independentes da tua
vontade."7

Com isso, Kardec tinha a previsão de que po-


deria completar o seu trabalho naquela vida mais
ou menos em 1870. Como desencarnou em 30 de
março de 1869, pode-se dizer que a previsão se
confirmou. Já em dezembro de 1866, fazia refe-
rência à insistência dos Espíritos para que publi-
casse o livro "A Gênese" ainda em 1867, obra esta
que praticamente completava o seu trabalho.
Ora, uma previsão que se demonstrou correta
permite inferir que os Espíritos podem falar do
tempo de maneira objetiva. Mas, ao esclarecer que
o "prazo de dez anos" não era absoluto, o Espírito
Verdade deixava patente a possibilidade de inter-
ferência de fatores incontroláveis, o que levaria a
prolongar o prazo. Poderiam os Espíritos prolon-

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gar, também, a vida de Kardec? Essa é uma ou-


tra discussão, certamente longa, de um assunto
que não pode ser analisado de afogadilho e fica,
portanto, para apreciação futura. De qualquer
forma, a questão tempo pede sempre, em se tra-
tando de revelações mediúnicas, que se analise
com critério o assunto.

NOVA REFERÊNCIA AO
RETORNO DE KARDEC

Estava Kardec reunido em sua casa, em 1O de


junho de 1860, com alguns amigos, servindo de
médium a Sra. Schmidt, quando se manifestou o
Espírito Verdade. O Codificador desejou saber sua
opinião sobre a informação que acabara de rece-
ber, vinda de Marselha, dando conta de que num
seminário católico local o Espiritismo estava sen-
do estudado. O Espírito confirmou a informação,
mas alertou para o fato de que o estudo era feito
em busca de encontrar meios para combater a
doutrina, e não por simpatia. Kardec deveria se
preparar para os duros tempos que se avizinha-
vam.
De fato, pouco mais de um ano depois, em 21
setembro de 1861, um acontecimento doloroso
marcava a guerra em andamento promovida pela
Igreja contra o Espiritismo: em Barcelona,
Espanha, os padres católicos mandaram queimar
em praça pública um carregamento de livros es-
píritas encomendados pelo livreiro Lachâtre, para
venda. O fato ficou conhecido como "Auto-de-fé
de Barcelona" e, mais do que um prejuízo causa-

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do ao movimento espírita era, de fato, um atenta-


do à liberdade de pensamento e expressão.
Na referida mensagem, o Espírito Verdade faz
nova referência a uma possível reencarnação de
Kardec na Terra. Vejamos como a coisa aconte-
ceu. Ao falar dos duros tempos que se aproxima-
vam, o Espírito fez a seguinte exortação: "Pros-
. segue em teu caminho sem temor; ele está juncado
de espinhos, mas eu te afirmo que terás grandes
satisfações, antes de voltares para junto de nós
"por um pouco". Kardec ficou intrigado com esse
"por um pouco" e quis saber do Espírito o que
significava. Recebeu a seguinte explicação, que
destacamos em virtude de representar certamente
o principal argumento para os partidários da idéia
de que Kardec já reencarnou:

"Não permanecerás longo tempo entre nós.


Terás que volver à Terra para concluir a tua
missão, que não podes terminar nesta exis-
tência. Se fosse possível, absolutamente não
sairias daí; mas, é preciso que se cumpra a
lei da Natureza. Ausentar-te-ás por alguns
anos e, quando voltares, será em condições
que te permitam trabalhar desde cedo. En-
tretanto, há trabalhos que convém que os
acabe·s antes de partires; por isso, dar-te-
emos o tempo que for necessário a concluí-
los."8

Kardec não colocou em dúvida a predição do


Espírito. Antes, fez alguns cálculos e anotou:
"Calculando aproximadamente a duração

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dos trabalhos que ainda tenho de fazer e le-


vando em conta o tempo da minha ausência
e os anos da infância e dajuventude em que
um homem pode desempenhar no mundo
um papel, a minha volta deverá ser forçosa-
mente no fim deste século ou no princípio
do outro."

Algumas questões podem ser levantadas aí,


para uma apreciação futura. Não paira nenhu-
ma dúvida de que o Espírito confirmo1:1 o que ha-
via dito com "por um pouco", ou seja, que haveria
um tempo de certa forma curto entre a
desencarnação de Kardec e seu retorno. Com base
na questão controvertida do tempo, pode-se per-
guntar: quanto é "por um pouco" e o que significa
"não permanecerás longo tempo entre nós"? Es-
távamos em 1860 e, segundo as informações que
depois se confirmaram, Kardec dispunha de um
período aproximado de 1O anos ainda para per-
manecer, daí ter o Espírito afirmado: "se fosse
possível não sairias daí". A questão temporal po-
deria ficar solucionada se levarmos · em conside-
ração a afirmativa: "ausentar-te-ás por alguns
anos", pois, parece que o Espírito fala de um pe-
ríodo de tempo familiar aos encarnados. Alguns
anos, embora indefinido, diz respeito a vários
períodos de 12 meses, conforme conhecemos:
Outra questão se refere à colocação: "quando
voltares, será em condições que te permitam tra-
balhar desde cedo". Com certeza, há uma alusão
aí à infância e juventude de Kardec, quando não
esteve ele diretamente vinculado ao trabalho es-

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pírita. Essa vinculação se iniciou quando já esta-


va com 50 anos (1854). Se as previsões fossem
confirmadas, Kardec deveria trabalhar desde a
infância ou, no mínimo, desde a juventude.
O Espírito deixou claro que era preciso cum-
prir "a lei da Natureza", ou seja, Kardec deveria
retornar ao mundo dos Espíritos, uma vez que a
vitalidade do seu corpo físico caminhava inevita-
velmente para o esgotamento. Em razão disso,
fica razoavelmente elu_cidada a afirmativa final de
que seria dado a ele o tempo necessário para con-
cluir os trabalhos em andamento, conclusão essa
importante. Não seria razoável acreditar que os
Espíritos Superiores poderiam prorrogar sua vida
física indefinidamente; há limites para tudo, in-
clusive, para as ações dos seres mais evoluídos.
O pico seria conseguir que o corpo físico do
Codificador suportasse a presença do Espírito
encarnado até o limite extremo; com a colabora-
ção de Kardec, isso poderia significar algo em tor-
no de 65 anos, pouco mais. Se os cuidados com a
saúde não fossem levados devidamente a sério, o
resultado seria certamente sua desencarnação
antes dessa idade, portanto, em prejuízo de um
tempo considerado necessário para que o traba-
lho assumido chegasse ao seu ponto ideal.
A nota de Kardec sobre a revelação de seu re-
torno ao corpo físico e os cálculos aí apresenta-
dos são curiosos. Para ele, parecia claro que
reencarnaria no final do século XIX ou, no máxi-
mo, no princípio do século XX. Considerou os 1O
anos que ainda possuía pela frente, ·que termina-
riam por volta de 1870, um período entre uma

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encarnação e outra (algo em torno de trinta anos


pouco mais) e a necessidade de vencer o espaço
formado pela infância e juventude (mais ou me-
nos 20 anos) para então estar em condições de
prosseguir o trabalho.
Em que teria se baseado Kardec para obteres-
ses números não se sabe, mas, certamente, esta-
va considerando o período que passaria no mun-
do dos Espíritos, que não deveria ser "longo tem-
po"; mais precisamente, seria de "alguns anos".

A SUCESSÃO DE KARDEC E A OBRA


COMPLEMENTAR

Uma vez que estamos analisando a questão da


reencarnação de Kardec, parece oportuno juntar
aí a do seu sucessor, ou seja, aquele que deveria
substituí-lo no comando do trabalho depois de
sua partida. Não obrigatoriamente para saber
quem seria este substituto, mas pelo menos para
verificar as ligações entre uma coisa e outra e as
conseqüências de um possível retorno seu. A dis-
cussão do tema havia sido lançada. Alguns se
perguntavam quem seria o seu sucessor e o pró-
prio Kardec se viu questionado mais de uma vez,
de modo que, quando houve oportunidade, levou
o assunto aos Espíritos, via mediunidade. A opor-
tunidade surgiu no dia 22 de dezembro de 1861,
em reunião realizada em sua residência, através
da intermediação do Sr. D'Ambel, um médium
bastante ativo e, sem dúvida, confiável.
O Espírito que abordou o assunto confirmou
as próprias palavras de Kardec, dizendo que ele

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não era insubstituível, como também não era o


único ser humano capaz de desempenhar a mis-
são. "Se o seu desempenho se interrompesse por
uma causa qualquer, não faltariam a Deus ou-
tros que te substituíssem", afirmou. Dizendo que
o substituto surgiria no momento oportuno, o
Espírito deu duas declarações interessantes: 1 -
.a tarefa do substituto seria penosa em outro sen-
tido, uma vez que teria "de sustentar lutas mais
rudes", acrescentando: "A ti te incumbe o encar-
go da COl)Cepção, a ele o da execução, pelo que
terá de ser homem de energia e de ação"; 2- se-
riam duas situações diferentes, com a participa-
ção de personalidades também diferentes: "tu
possuis as qualidades que eram necessárias ao
trabalho que tens a realizar, porém não possuis
as que serão necessárias ao teu sucessor".
A quem se referia o Espírito jamais se soube.
Após sua desencarnação, Kardec foi sucedido pelo
Sr. P.-G. Leymarie que, juntamente com Madame
Amélie Gabrielle Boudan, viúva de Kardec, diri-
giu a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
a revista e a divulgação das obras deixadas pelo
Codificador.
De qualquer maneira, parece claro que entre
sua partida e seu possível regresso, Kardec deve-
ria contar com alguma segurança em matéria de
prosseguimento do trabalho realizado. Se sua
volta deveria se concretizar, nas circunstâncias
previstas e com a finalidade de dar continuidade
à doutrina, qualquer acontecimento que pusesse
em risco o trabalho iria, fatalmente, alcançá-lQ
mais adiante. A previsão de que retornaria ao cor-

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po físico estava feita. Resta, portanto, trabalhar


em cima desta hipótese para ver até onde ela se
realizou ou não.

O QUE SE PENSA SOBRE


O ASSUNTO

O livro "Obras Póstumas", de Allan Kardec, foi,


como seu título deixa claro, lançado após seu re-
torno à vida invisível e pr~parado a partir da reu-
nião de escritos que deixou, a maioria ~ntão des-
conhecidos. Assim, a questão da sua reencarna-
ção em novo corpo físico foi abordada com mais
ênfase depois da partida do Codificador e justa-
mente no livro referido. Desde então, porém, ela
vem sendo objeto de estudos e discussões, com
os homens se dividindo em dois grupos: o dos
que sustentam a sua volta e o dos que descrêem
da interpretação dada aos textos.
A primeira vez, contudo, que o assunto veio a
público foi através do livro "O Céu e o Inferno",
que o Codificador lançou em 1865, quatro anos
antes do retorno à espiritualidade do seu autor.
Ali, o Espírito então há pouco desencarnado, que
gozava de grande estima por parte de Kardec,
Antoine Demeure, se refere ao Codificador em três
ocasiões distintas. Médico de grande conceito,
quase imediatamente à desencarnação retomou
o controle da consciência e prosseguiu ativo, em
boa parte na condição de médico. Cuidou de
Kardec nessa condição, conforme atesta nas co-
municações, evitando que a fadiga resultante do
trabalho pudesse abreviar-lhe a existência. En-

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tre um conselho e uma advertência para que


Kardec cuidasse do corpo fisico, o Dr. Demeure
aduziu a seguinte informação:

"De acordo com as minhas observações e


com os informes colhidos em boa fonte , é
evidente para mim que, quanto mais cedo
se der a sua desencarnação, tanto mais bre-
ve reencarnará para completar a sua obra. "9

A fim de evitar mal-entendido, o bom médico


esclareceu que:

"Se, portanto, por excesso de trabalho, não


atendendo à imperfeição do seu organismo,
antecipar a partida para aqui, será passível
da pena de homicídio voluntário."

A revelação do Dr. Demeure sobre o retorno de


Kardec aparece de forma normal no texto da men-
sagem, sem destaque e sem ênfase. Havia muito
pouco tempo que tinha deixado o corpo fisico: seu
passamento se deu no dia 25 de janeiro de 1865
e a comunicação a dois de fevereiro seguinte. Es-
sas datas podem ser importantes para uma aná-
lise mais acurada da situação que nos interessa
aqui. De qualquer modo, a informação estava
lançada ao público: segundo o Dr. Demeure, o
retorno ao plano da matéria do Codificador se
confirmava, o que validaria as predições antece-
dentes, feitas pelo Espírito Verdade e por Zéfiro.
Até aqui, contudo, a questão se situa no plano
das revelações mediúnicas e a volta de Kardec,

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caso se confirmasse, mereceria estudos e pesqui-


sas mais aprofundadas. Isso é, pelo menos, o que
pensaria um severo pesquisador da reencarna-
ção. As mensagens do·s Espíritos sobre o assunto
mereciam crédito, especialmente pela reconheci-
da competência moral de seus autores, valendo,
pois, como um ponto de partida caso houvesse
interesse de alguém em prosseguir no estudo.
Como mensagens, valem pela informação, porém
não são conclusivas, mesmo porque Kardec po-
deria voltar ao corpo tisico, mas então hão se sa-
beria onde, como e revestido de que personali-
dade.
Para uma análise mais acurada, será preciso
levar em consideração outros fatores como: ca-
racterísticas dos três Espíritos comunicantes -
Zéfiro, Verdade e Demeure - suas palavras e o
contexto em que deram as mensagens.

O RETORNO SEGUNDO
OS BIÓGRAFOS

O primeiro escrito biográfico sobre Allan Kardec


foi publicado na "Revista Espírita" e não aborda
a questão. Trata-se de um relato resumido sobre
a figura do Codificador, publicado para registrar
sua desencarnação. O segundo resulta de uma
conferência realizada por Henri Sausse no dia 31
de março de 1896, em Lião, na França, marcan-
do a comemoração do 27º aniversário da passa-
gem do Codificador. Também não fala do as-
sunto.
A terceira biografia já data do nosso século e

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possui um conteúdo mais denso. Foi escrita por


André Moreil e publicada em 1961, em Paris. A
edição brasileira foi publicada pelo saudoso li-
vreiro Frederico Geaninni, proprietário da Edicel,
com prefácio do escritor, jornalista e filósofo José
Herculano Pires, que ressaltou o valor do livro.
Moreil se refere às mensagens de "Obras Póstu-
mas" relativas ao retorno de Kardec. Sobre a pri-
meira, faz a seguinte anotação: "Em 17 de janei-
ro, durante uma sessão em casa do senhor
Baudin, sendo médium a Srta. Baudin, o Espíri-
to ralha-com ele". Parece que Moreil entende que
o Espírito Zéfiro, autor da primeira mensagem,
deseja tranqüilizar Kardec, diante de sua ansie-
dade de realizar o trabalho mais rápido e o fato
de referir-se a uma possível volta ao corpo físico
não teria sido relevante. A respeito da segunda
menção sobre a volta de Kardec, Moreil apenas a
reproduz, sem nenhum comentário.
A mais completa (embora questionável sob o
ângulo ideológico) obra sobre Allan Kardec foi es-
crita a quatro mãos pelos brasileiros Zêus Wantuil
e Francisco Thiesen, este então presidente da Fe-
deração Espírita Brasileira, hoje desencarnado, e
aquele filho do ex-presidente da instituição,
Wantuil de Freitas. Trata-se de obra em três vo-
lumes, intitulada "Allan Kardec (Pesquisa
biobibliográfica e ensaios de interpretação)". Seus
autores analisam o assunto no capítulo II do se-
gundo tomo, retomando as informações contidas
em "Obras Póstumas". São de opinião que o anun-
ciado retorno de Kardec poderia ser compreendi-
do como ao plano físico e não ao corpo físico, o

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que tem um significado diferente porque não im-


plicaria em reencarnação e sim numa continui-
dade de trabalho por meios invisíveis aos olhos
humanos, o que não deixa de ter sentido, embora
seja de fato uma conclusão pessoal.
Levantam, também, a hipótese de que o retor-
no não implica necessariamente em vir de forma
imediata, poucos anos depois da desencarnação,
podendo acontecer ao longo dos séculos, dentro
daquele sentido a que nos referimos atrás, em
relação ao tempo. Como acentuam: "Há õbras que
são retomadas pelos Espíritos para elas escolhi-
dos, no curso dos milénios, e ante as quais al-
guns anos, pouco tempo, por um pouco podem sig-
nificar e geralmente significam o tempo necessá-
rio, que jamais será considerado longo ou dema-
siado por Espíritos superiores desencarnados". 10
Wantuil e Thiesen são de parecer que os ter-
mos do anunciado retorno de Kardec "têm o sa-
bor das (palavras) do Cristo e desvelam o estilo
dos antigos escribas do Evangelho, como Lucas e
João". Esta referência nos remete a passagens
como (apresentadas pelos autores referidos):" Um
pouco e já não me vereis e outra vez um pouco e
ver-me-eis", contidas em João, 16. Por fim, resu-
mem eles da seguinte forma o seu pensamento
quanto ao assunto:

"1) A volta de Kardec processar-se-á, no


porvir, como a vinda de Jesus, anunciada
no Evangelho, quando necessária, no tempo
certo, que não sabemos avaliar; 2) Nesse as-
sunto, cada adepto do Espiritismo decidirá

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por si mesmo, em consequencia, segundo


suas luzes que houver alcançado, convindo
que todos os cuidados sejam diligenciados e
o máximo de consideração respeitosa seja
mantido." 11

Um pouco antes, contudo, dessas conclusões,


os autores deixam claro que consideram o assunto
espinhoso, exigindo responsabilidade: "As reve-
lações envolvendo personalidades, de um modo
geral, devem ser tratadas com a máxima cautela
e severidade nas conclusões e se dizem respeito a
Enviados do Alto - como é o caso do Codificador -
todas as reservas serão sempre poucas, mesmo
após haverem sido submetidas ao critério
kardequiand'. 12
Os mesmos autores ainda argumentam contra
os que querem a volta de Kardec muito rápida,
referindo-se às palavras de Zéfiro e Demeure, se-
gundo as quais "Kardec veria em plena frutificação
a semente: mas, se hoje ainda, mais de um sécu-
lo decorrido, encontramo-nos no tempo da
florescência, que precede e anuncia a frutificação,
como poderia Kardec, ao reencarnar no período
por ele esperado e por alguns aguardado, topar
com a frutificação? Não significa isto que a inter-
pretação deve ser jungida a um tempo em escala
assaz diversa da comum?".
Toda a questão não se resume aos argumentos
acima, porque há implicações outras que devem
ser analisadas, o que será feito mais à frente para
melhor compreensão do assunto. O que importa
salientar agora é o fato de os biógrafos de Kardec

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que tocaram no assunto de seu retorno ao plano


físico entenderem de modo diverso esse retorno,
descaracterizando-o como um processo
reencarnatório de breve execução.

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CAPÍTULO 11

O passado suscita curiosidades e


conduz a pesquisas

~~Q INTERESSE QUE CEGA UNS É A LUZ DOS


OUTROS.,,
LA RocHEFOUCAULD

A reencarnação suscita tantos interesses e tan-


ta curiosidade que diariamente aparecem aque-
les que apresentam o desejo de saber quem foi
quem em vidas passadas. Há mesmo, entre os
mais simples mortais adeptos da reencarnação,
uma espécie de desejo íntimo de descobrir sua
personalidade passada, senão para que isso faci-
lite sua vida atual, pelo menos para satisfazer o
próprio ego. A vida moderna facilita a procura de
respostas às dúvidas dessa natureza, oferecendo
um verdadeiro mercado de produtos diversos, com
os quais se pode, aparentemente, resolver o pro-
blema. Podem não ter credibilidade muitos des-
ses médiuns e videntes que anunciam nos jor-

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nais os seus serviços, mas nem por isso a multi-


dão de interessados deixa de procurá-los , na ân-
.sia de obter respostas.
A doutrina espírita informa que o esquecimen-
to do passado e, portanto, das personalidades que
cada um viveu em outras vidas traz benefícios
para o homem. Certamente por isso, a maioria,
mesmo pagando os serviços de terceiros ou então
ouvindo médiuns sérios, não consegue a menor
informação precisa sobre as suas vidas pas-
sadas . Alguns poucos têm insights mais ou me-
nos claros, outros conseguem se lembrar de fa-
tos que, através de pesquisas, acabam levando a
vidas anteriores e alguns outros, quando isso
parece ter relativo significado para as experiênci-
as da vida atual, se lembram de detalhes genéri-
cos de outras existências e as personalidades que
encarnaram. A questão se complica às vezes por
conta da imaginação de cada um, ou seja, mui-:
tas "lembranças", bem como diversas experiênci-
as cotidianas se confundem e passam a impres-
são de coisas vividas, enganando as pessoas.
Todos os autores clássicos do Espiritismo se
propuseram a estudar o assunto reencarnação,
tal a importância dele para a compreensão da vida
e do universo. Flammarion, Delanne , Denis,
Aksakof, Bozzano e outros escreveram obras de
estudo e pesquisa, nas quais o tema foi o objetivo
principal ou secundário. Em qualquer época, a
volta à vida física se constituirá de relevante sen-
tido para o homem e quando mais nada da reen-
carnação houver a extrair, ainda assim ela será
um ponto importante da história.

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A literatura brasileira está repleta de obras em


que o homem busca o liame existente entre as
vidas presentes e passadas, nessa ânsia de es-
clarecer as razões dos fatos e entender o porquê
dos comportamentos humanos ou resolver con-
flitos e traumas atuais. Nada mais compreensi-
vo, portanto, que se queira descobrir quem foi
este ou aquele personagem de destaque em suas
outras existências. Os Espíritos que participaram
da elaboração da doutrina espírita p.ão se furta-
ram a dar informações sobre o assunto, revelan-
do de modo espontâneo ou provocado algumas
personalidades passadas e suas encarnações
posteriores.
O Codificador teria sido um sacerdote druida
ao tempo do Imperador romano Júlio César. Com
base nisso, o professor Rivail adotou o pseudõni-
mo de Allan Kardec e com ele assinou as obras
da doutrina que coordenou a estruturação teóri-
ca. A história registra um incontável número de
informações semelhantes relativas a outras per-
sonalidades. O Cristo se referiu a João Batista
como sendo a reencarnação de Elias, o que de-
monstra a antigüidade da questão, corroborada
pela presença de conhecimentos sobre as vidas
pregressas em doutrinas muito antigas, como as
orientais na Índia, na Pérsia, na Grécia, etc.
Entre os pesquisadores contemporâneos que
estudaram o assunto, como já salientamos, dois
se destacaram: o americano Ian Stevenson e o
indiano Banerjee. Das centenas de casos estuda-
dos por Stevenson, vários lhes pareceram
indicativos de reencarnação. A partir daí elabo-

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rou alguns livros, entre os quais "Vinte Casos


Sugestivos de Reencarnação".
Outros autores estrangeiros, Como Brian Weiss
e Carol Bowman, se utilizaram dos conhecimen-
tos sobre o assunto e, às vezes, de informações
de várias fontes, para referendar a sua convicção
de que determinada personalidade foi este ou
aquele em vidas anteriores.
O engenheiro Ernani Guimarães Andrade de-
senvolveu estudos no Brasil e escreveu várias
monografias específicas de personalidades
reencarnadas. Sendo o que é para o Espiritismo,
a reencarnação não poderia suscitar menor inte-
resse entre os seus adeptos e isto fica muito claro
quando se analisam as dezenas de casos com-
pondo os livros que traçam a biografia das perso-
nalidades marcantes do movimento espírita.
Na obra "A Extraordinária Vida de Jésus Gon-
çalves", Eduardo Carvalho Monteiro liga o bio-
grafado às personalidades de Alarico e Richelieu;
em "Eurípedes Barsanulfo, o Apóstolo da Carida-
de", Jorge Rizzini diz que Eurípedes havia sido o
conhecido santo católico Francisco de Assis; para
Léon Denis, Joana D'Arc era não só uma grande
médium como também a reencarnação de Judas
Iscariotes, aquele que teria entregue Jesus aos
judeus. Hermínio Miranda faz ligação entre a fi-
gura de John Kennedy e Abrahão Lincoln, ambos
ex-presidentes dos Estados Unidos da América.
André Luiz e Emmanuel, os Espíritos mais pre-
sentes na obra de Chico Xavier, teriam sido, res-
pectivamente, o médico sanitarista Oswaldo Cruz
e o senador romano Públio Lêntulus. José Luiz

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Antônio de Paula, em seu livro "Um minuto com


Chico Xavier" afirma que André Luiz teria sido
um médico, sim, mas de nome José Medeiros.
Como se vê, a relação é muito extensa e faria so-
zinha muitos volumes.
Eduardo Carvalho Monteiro, agora no livro
"Allan Kardec, o Druida Reencarnado", revela que
"de acordo com a pesquisa do Dr. Canuto de Abreu
sobre os primórdios do Espiritismo, além da in-
formação da encarnação de Kardec como druida
em 1856, no ano seguinte, através da psicografia
de Ermance Dufaux, os Espíritos revelaram ou-
tra encarnação do professor Rivail como John
Huss". 13 Por conta do interesse contido no seu
livro, voltado à personalidade do Codificador,
Monteiro começa a ajustar as peças de um que-
bra-cabeça, dizendo: "Kardec como John Huss;
Jerónimo de Praga na espiritualidade orientando
o trabalho de solidificação da Doutrina Espírita;
Léon Denis - por que não? - a reencarnação de
John Wycliffe. É o que sugere Wallace Leal
Rodrigues, na bela introdução que fez à edição
brasileira de Léon Denis na Intimidade, da Sra.
Claire Baumard". E conclui: "Atribuir reencarna-
ções sem provas cabais pode ser temerário, mas
o caro confrade embasou-se em estudos e argu-
mentos que, se não provam a afirmação,
descortinam um encadeamento lógico de idéias". 14
A questão da volta de Allan Kardec ao corpo
tisico tem sido objeto de questionamento há mui-
tos anos e já surgiram mais de uma dezena de
pessoas que seriam, supostamente, a reencarna-
ção do Codificador. Algumas, sem nenhuma

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credibilidade, se revelaram a si próprias como


sendo Kardec; outras, por ação de terceiros, fo-
ram reveladas. Foi assim que desejaram um dia
fosse o jornalista José Herculano Pires a prova
do retorno do mestre francês. Herculano achava
graça disso e não dava a menor atenção para as
pessoas do seu círculo ou de outros, que queri-
am-no Kardec reencarnado. Oswaldo Polidoro,
neste momento ainda no corpo físico, segundo o
relato de pessoas fidedignas, se dizia ser não só
Kardec mas, também, Moisés e outros.
Em Niterói, o professor Eras to de Carvalho Pres-
tes tinha certeza de que conhecera, e muito bem,
o Codificador de volta. Era seu pai! Sobre isso,
escreveu um pequeno livro, que ele mesmo pu-
blicou à falta de editor. Denominou-o "Eu conhe-
ci Allan Kardec Reencarnado". Poucos argumen-
tos e nenhuma prova.
Alguns Espíritos arriscam opiniões sobre as
vidas de Kardec, como o faz Ramatis. Afirma ele
que na Caldéia, Kardec foi Shiranosostri, tendo
ainda reencarnado na Atlântida, no Egito (com o
nome de Amenófis), h a Índia, na Grécia, na
Assíria, na Pérsia e na Escócia.
Na cidade de Birigüi, Estado de São Paulo, um
senhor de nome João Lopes Hidalgo, lavrador, fora
tido como a reencarnação de Kardec. Não tendo
oportunidade de ir à escola, aprendeu a ler e a
escrever tendo por mestre o próprio Cristo. Es-
creveu um · volumoso livro intitulado "Profecia
Natural Mediante Humano" em 1933 e, em 1939,
criou a Irmandade do Puro Cristianismo. A expli-
cação sobre a personalidade do Sr. Hidalgo rela-

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dona-o ao passado: "A primeira revelação foi fei-


ta com Moisés, a segunda com Nosso Senhor Je-
sus Cristo e a terceira com o Espírito de Elias,
que reencarnou com o nome de João Batista e
agora veio duas vezes para poder completar o seu
trabalho. Na primeira mensagem da terceira re-
velação ele veio com o nome de Hipolite Leon
Denizard Rivail, sendo o nome espiritual "Allan
Kardec", e na segunda mensagem com o nome de
João Lopes Hidalgo, sendo o seu nome espiritual
"Humano", o Consolador do mundo". Trata-se de
um livro muito confuso, que não pode ser levado
a sério.
A notícia mais antiga que possuímos a respei-
to de uma suposta reencarnação de Allan Kardec
é fornecida por Léon Denis, em seu livro "O Gê-
nio Céltico e o Mundo Invisível". Refere-se ele a
um francês de 30 anos de idade, natural da re-
gião do Havre, que teria nascido em 1897, por-
tanto , seguindo à risca o raciocínio do próprio
Codificador quanto à época do seu possível retor-
no. Denis não deu crédito à notícia, como vere-
mos mais adiante no item referente às mensa-
gens med.iúnicas transmitidas por Kardec.

O PONTO DE PARTIDA PARA LIGAR CHICO


XAVIER A KARDEC

Nascido em 1910 na cidade mineira de Pedro


Leopoldo, o médium Francisco Cândido Xavier se
tornou a maior expressão do Espiritismo no Bra-
sil e um dos maiores nomes no cenário literário
mundial. Os cjue defendem ser ele a reencarna-

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ção de Allan Kardec formam um grupo conside-


rável e suas opiniões têm mais ou menos os mes-
mos argumentos. São classificados como
"chiquistas" e assumem esse jargão, alguns atê
com certa ironia. Desse grupo despontam pes-
soas como a Dra. Marlene Rossi Severino Nobre,
Weimar Muniz de Oliveira, Adelino da Silveira,
Arthur Massena, Dr. Jarbas Leone Varanda e
outros. Conhecer o seu pensamento e analisá-lo
ê um imperativo para o tipo de trabalho aqui pro-
posto. Se quisermos seguir uma ordem cronoló-
gica de manifestação pública da opinião dos que
acreditam ser Chico Xavier Allan Kardec
reencarnado, deveremos começar por Arthur
Massena, passando a seguir por Adelino da
Silveira, Jarbas Varanda e Marlene Nobre. Com
isso, formamos um quadro que reúne os princi-
pais argumentos a favor da tese, todos eles com o
mesmo ponto em comum: nenhuma preocupa-
ção com qualquer tipo de comprovação técnica
do fato. A estes nomes precisa ser juntado o do
médico-médium Antônio Baduy Filho, responsá-
vel por uma página escrita pelo Espírito de Hilário
Silva, considerada por todos os que compõem o
grq.po de defesa da tese como prova espiritual da
relação Chico/Kardec.
Arthur Massena, que não era médico mas jor-
nalista, presidiu a Sociedade de Medicina e Espi-
ritismo do Rio de Janeiro. Escreveu um artigo
publicado no jornal "Desobsessão" de Porto Ale-
gre, em outubro de 1972 e, posteriormente, em
maio de 1978, reforçou sua opinião sobre a rela-
ção Chico/Kardec. O primeiro trabalho tem por

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título "Allan Kardec


está reencarnado no
Brasil como Chico
Xavier"· e o outro,
'
"Chico Xavier, o
grande evangeli-
zador".
Segundo Jarbas
Varanda, no primei-
ro artigo "Massena
informa-nos que a
afirmativa de que
Chico Xavier seria a
reencarnação de
Allan Kardec estava
numa mensagem re-
cebida por Levindo Chico Xavier começou
Mello, no dia 1 O de suas atividades
maio, às 16 horas, mediúnicas bastante
jovem.
deixando de dar pu-
blicidade à mesma
por falta de maiores
informações conclusivas". Massena argumenta
com uma pergunta: "Se ele, Kardec, voltaria (... )
quem teria mais gabarito espiritual, dentre os mai-
ores médiuns do Globo, do que Chico Xavier para
ser Allan Kardec reencarnado?" Tem também um
parecer sobre a grandiosidade da obra que o novo
Kardec deveria realizar, proporcional à da
Codificação: "Se a obra de Allan Kardec, no sécu-
lo passado, o Espiritismo, é algo de monumental,
não voltaria ele, evidentemente, para realizar, no
século atual missão de proporções discretas, pró-

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pria de Espírito de menor evolução, mas outra


que com ela pelo menos ombreasse, e a obra de
Chico Xavier, de evangelização mundial, em pro-
porções ciclópicas, é a única que pode com ela
emparelhar".
No artigo publicado em maio de 1978, Massena
retoma os mesmos argumentos do anterior, ba-
seado em conclusões pessoais e na referida men-
sagem espiritual recolhida por Levindo Mello.
Aduz, também, uma opinião que lhe parece res-
ponder àqueles que contra-argumentam dizendo
que "Allan Kardec era do tipo paternal e Chico
Xavier do tipo maternal". Ei-lo: "1 - O Espírito
reencarna tanto como homem quanto como mu-
lher, pois precisa evolver sob esses dois aspectos
do ser humano". Relaciona ainda outros dados
nessa mesma linha de raciocínio que não são re-
levantes, para concluir: "Quando Kardec elabo-
rou "O Evangelho Segundo o Espiritismo", há de
ter começado a escrever com ar paternal (severo,
durão, intransigente), mas, ao terminar, já deve-
ria estar com ar maternal (de condescendência,
compreensão, meiguice), tal a magia da reforma
interior que a obra promove em quem a lê de ponta
a ·p onta, meditadamente ... ".
O pronunciamento de Massena funcionou como
um abre-alas para outras manifestações nomes-
mo sentido. Aqui e ali apareceram opiniões con-
tra e a favor, mas as que eram a favor se viram
fortalecidas. Em 1990, o Sr. Adelino da Silveira
externou sua opinião favorável através do livro
"Kardec Prossegue", publicado em São Paulo, cuja
capa apresenta uma fusão fotográfica dos dois

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personagens. O livro se tornou, também, um


paradigma para os defensores da tese, sendo ci-
tado em várias ocasiões como obra importante
para a questão.

KARDEC PROSSEGUE, NA OPINIÃO DE


ADELINO DA SILVEIRA

O livro de
ADELINO DA SILVEIRA
Adelino da Sil-
veira, publicado
pela Cultura Espí-
rita União em
1991, está dividi-
do em três partes.
Na primeira delas,
KARDEC
o autor narra di- PROSSEGUE
versos casos rela-
. cionados a Chico
Xavier; na segun-
da, apresenta res-
postas de Chico às
questões que lhe
foram colocadas e,
na terceira, em
apenas 9 páginas, Na capa do livro de Adelino
da Silveira a fusão
os argumentos fotográfica unindo Chico
que o levaram a ao Codificador
entender ser o
médium a reencarnação do Codificador do Espi-
ritismo.
Adelino encaminha o assunto a partir de uma
pergunta "sobre a reencarnação de Allan Kardec"

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que ele teria feito ao médium: "Chico, Allan Kardec


realmente reencarnou no início do século como
está previsto no livro "Obras Póstumas"?" A se-
guir, transcreve a dedicatória feita pelo Dr.
Denizard Souza, no seu livro "O Protocolo de
Makalou": "Dedicamos esta obra a Chico Xavier
(Francisco Cândido Xavier), aquele que veio com-
pletar a Obra de Allan Kardec, a Sua Obra", se-
guida do currículo do Dr. Denizard.
Em nova página, Adelino registra uma pas-
sagem ocorrida na casa de Chico Xavier, quando
conversavam na ausência do médium sobre
"quem teria sido ele no passado . Uns achavam
que ele teria sido um dos apóstolos; outros Flá-
via, a filha de Emmanuel, no livro "Há Dois Mil
Anos"; outros Lívia, do livro "Ave Cristo"; outros
Alcíone, do livro "Renúncia"; outros Sócrates, João
Evangelista, Francisco de Assis, etc.". A seguir,
diz Adelino: "Um deles, voltando-se para mim,
perguntou-me: -E você, quem acha que ele é?-
Para mim ele é Kardec reencarnado". A página
termina com a revelação de que "com a chegada
do querido amigo e mestre, o assunto ficou en-
cerrado, porque ninguém se atreve a falar disso
perto dele".
Nas páginas seguintes, Adelino faz um breve
resumo comentado das passagens sobre a reen-
carnação de Allan Kardec, contidas em "Obras
Póstumas", apresentando uma pequena relação
de fatos que considera coincidências na vida de
Chico Xavier e do Codificador, e um comentário
feito por um casal de amigos do médium: "Ou
Chico Xavier é Allan Kardec, ou o Espírito da Ver-

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dade se enganou". E encerra o livro com uma fra-


se com a qual pretende esclarecer as razões para
sua convicção acerca da suposta reencarnação
de Kardec como Chico Xavier: "A esses responde-
rei: eu me lembro e somente Jesus poderá anular
a minha memória".

A MENSAGEM DO ESPÍRITO
HILÁRIO SILVA

Com o título "A


Volta de Allan
Kardec", o j ornai
"Espírita Mineiro,
na edição abril/
maio de 1998 pu-
blicou mensagem
psicografada por
Antônio Baduy Fi-
lho", cuja autoria
é atribuída ao Es-
pírito de Hilário
Silva, recebida no
dia 31 de outubro
do ano ante rio r
durante a realiza- O Dr. Jarbas Varanda viu na
ção da Confrater- mensagem "uma pá de cal"
nização de Moci- jogada na questão Chico/
Kardec
dades e Madure-
zas Espíritas do
Triângulo Mineiro, na cidade de ltuiutaba, ames-
ma onde reside e trabalha o médium e também
médico. Eis os termos da mensagem:

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"Início do século XX. Nas regiões mais eleva-


das da Espiritualidade, acontecia importante reu-
nião. Encontro significativo. Decisões de relevân-
cia. Presença marcante de Allan Kardec.
Discutia-se a volta do apóstolo espiritista às
lides terrenas. Época difícil na Doutrina Espírita.
Controvérsia estéril entre os adeptos . Idéia de
exclusividade da investigação científica e filosófi-
ca. O cientificismo , atuante no meio doutrinário,
negava o aspecto religioso.
Urgia, pois, o testemunho do Espiritismo, com-
prometido com as lições da Boa Nova, semeando
no coração dos homens o amor e a caridade.
Clima de emoção. Recolhimento. Expectativa.
Venerável preposto de Jesus, envolto de luz
alvinitente, dirigiu-se a Kardec e falou com bon-
dade:
-Chegou a hora, meu filho ...
O Codificador respondeu, firme e respeitoso:
-Estou pronto e confiante.
Consta, nos registras do mundo espiritual, que
ocorreu, a partir daí, sublime e emocionante diá-
logo, do qual transcrevemos, palidamente, alguns
fragmentos:
- Renascerás em condições adversas ...
-Obedecerei à vontade do Senhor.
-Começarás muito novo, entre aflições e difi-
culdades, e trabalharás com sacrifício e renúncia
por longo tempo ...
-Dedicarei cada minuto à seara do Bem.
-Não possuirás títulos acadêmicos ...
- O único título que almejo é o de fiel servidor
do Cristo.

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-Encontrarás desconfianças e agressões ...


- Buscarei na fé e na humildade a força para
resistir.
-Terás a dor por cqmpanhia constante ...
-Saberei aceitá-la com o amparo do Alto.
-Companheiros não te entenderão e se volta-
rão contra ti...
-Cumprirei meu dever e guardarei a consciên-
cia em paz.
-Não farás nada por ti mesmo, serás apenas
instrumento ...
- Agradecerei a Deus a oportunidade de servir.
-Não gozarás as alegrias e o aconchego do lar
constituído ...
- A Humanidade será minha família.
-Assumirás espinhosa missão no desdobra-
mento da Codificação Espírita ...
-Serei leal aos princípios doutrinários, ciente
de que o Espiritismo é o Consolador prometido
por Jesus.
-A tarefa te exigirá devotamento e abnegação ...
-Não hesitarei viver em plenitude o Evangelho
e a Dou_trina Espírita.

***

O iluminado benfeitor interrompeu o colóquio


e, após elucidativos comentários sobre a nova eta-
pa de trabalho, rogou as bênçãos do Senhor ao
missionário de partida.
Seguiram-se calorosas demonstrações de soli-
dariedade e, no final da primeira década deste
século, em doce atmosfera de esperança, Allan

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Kardec retornou ao plano físico, renascendo em


pequena cidade do interior brasileiro."

CHICO/KARDEC NA VISÃO DO
DR. JARBAS VARANDA

Com o propósito de ouvir


a opinião do Dr. Jarbas
Leone Varanda sobre a men-
sagem acima, "A Volta de
Allan Kardec", a revista
"Goiás Espírita" publicou
entrevista por ele concedida,
na edição de março I maio de
1998. A entrevista foi feita
pelo então presidente da Fe-
deração Espírita do Estado
A revista da
de Goiás, Weimar Muniz de Federação
Oliveira. Espírita de Goiás
Segundo o Dr. Jarbas, a deu destaque à
mensagem de
mensagem teria sido "a ma- Baduy Filho e à
!lifestação do Alto acerca da entrevista do Dr.
tese levantada por Adelino Jarbas Varanda
da Silveira, de Miras sol (SP),
de que Chico Xavier seria a reencarnação de Allan
Kardec, confirmando-a e colocando uma "pá de
cal" na polémica questão!". Entende ele que há
uma correlação da mensagem com o livro "Kardec
Prossegue", escrito pelo Adelino, no qual o autor
"sustenta a tese de que Chico Xavier é a reencar-
nação do Codificador, fundamentando-a em de-
poimentos dos Espíritos( ... ), constantes de "O Céu
e o Inferno" (... ) e "Obras Póstumas".

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Para responder às questões estabelecidas de


modo contrário à tese da relação ChicojKardec,
o Dr. Jarbas reúne argumentos e opiniões. Sobre
as diferenças apontadas quanto ao perfil psicoló-
gico de Kardec e Chico Xavier, afirma que são
"apenas aparentes, se levarmos em consideração
que os Espíritos Superiores podem, na
multiplicidade de suas missões, limitar ou
exteriorizar características já conquistadas em
outras existências. (... ) Chico Xavier é um Espíri-
to Superior, ninguém pode duvidar, pois sua vida
e seus exemplos demonstram à saciedade sua
condição de superioridade ao meio em que vive.
(... ) Negar essa condição de Espírito Superior a
Chico Xavier, pelo fato de sua vida ter sido ponte-
ada de sofrimentos - características comuns de
Espíritos imperfeitos- é esquecer a lição de André
Luiz quando classifica a Dor como originária de
três fontes: evolução, expiação e missão".
Sobre o fato, por alguns levantado, de que
Kardec teria dado ênfase aos aspectos filosófico e
científico durante a elaboração da doutrina espí-
rita, contrariando aquilo que se convencionou
classificar de aspecto religioso, que seria a maior
necessidade da atual humanidade terrena, o Dr.
Jarbas acredita que o aspecto religioso "seria de-
senvolvido, como foi, nas vestes de Chico Xavier,
desdobrando e complementando o pensamento
dos Espíritos ... ". A isto, aduz: "Assim, o
Codificador veio completar a sua obra, dando
ênfase ao aspecto religioso. Aliás, a obra
mediúnica de Chico Xavier é Jesus e Kardec de
ponta a ponta".

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O Dr. Jarbas endossn ns idéias do jornalista


Arthur Massena sobre a re lação Chico/Kardec,
acrescentando aquilo qu e d enomina "argumento
irrespondível": inexistên c i8 ck comunicações de
Kardec-Espírito. Diz ele: "nn verdade, de longa
data, registra-se a ausênci a de comunicações do
Codificador, princi palme n I c a I ravés de Chi c o
Xavier, a maior "antena psíquicn" do século XX ... ".
Aponta, então, para três qu s tões que lhe pare-
cem importantes: "Por que ta l s ilê n cio? Por que a
ausência do Codificado r d es de a sua
desencarnação? Não deveri a e l continuar, na
Espiritualidade, a sua obra, dita ndo livros visan-
do desenvolver os ensinos dos E s píritos, princi-
palmente através da mediunid a d mi s sionária de
Chico Xavier, que melhor reuniu, orno reúne, as
condições espirituais de credibilida d e na Terra
para recebê-la?".
Cabe destacar ainda uma afirm açã o do Dr.
Jarbas sobre a tese. Deduz el qu "se Chico
Xavier não for a reencarnação d Alla n Ka rdec,
então o Codificador, lamentavelm n te, foi omisso
no desdobramento da Codificação, d ixando de
oferecer sua contribuição atra vés da obra
mediúnica do médium de Pedro L opoldo".
Estes são os argumentos do Dr. Jarbas Leone
Varanda, que refletem, também, a s idéias do ex-
presidente da Federação Espírita do Estado de
Goiás, segundo se pode deduzir das perguntas
que fez na entrevista acima r eferida, todas elas
conduzindo claramente a respos tas que parecia
conhecer antecipadamente.

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SEI QUANDO O
._... ...,. __ .,....,. ADMIRO MAIS, SE COMO
KARDEC OU CHICO"

Também na Folha Espírita a mensagem mediúnica ganha


destaque de primeira página, ao lado da manchete da
entrevista em que a Dra. Marlene expôs sua opinião sobre
Chico/Kardec. A foto mostra, como na capa do livro do
Adelino da Silveira, uma fusão com as imagens dos dois
personagens

A MÉDICA MARLENE NOBRE E A TESE


CHICO/KARDEC

As opiniões da Dra. Marlene Nobre estão na


entrevista por ela dada ao jornal "Folha Espírita",
edição 291, de junho de 1998, do qual é a Edito-
ra-chefe. Médica, preside a Associação Médico-
Espírita do Brasil. Como no caso anterior, do Dr.
Jarbas, a Dra. Marlene deu a entrevista também
para falar do assunto em decorrência da mensa-
gem "A Volta de Allan Kardec", recebida pelo Dr.
Antônio Baduy Filho. Convém, portanto, conhe-
cer suas observações e as conclusões a que che-
gou.

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A mensagem foi recebida pela médica "com


naturalidade e, porque não dizer, com um misto
de alegria e alívio. Naturalidade, porque há 40
anos tenho certeza de que Chi c o Xavier é a reen-
carnação de Allan Kardec (... ). Alegria e alívio pelo
fato de poder exprimir-me abertamente sobre o
assunto, expondo com clareza minhas convicções
íntimas". Esta certeza sobre a relação Chico/
Kardec é oriunda, segundo a entrevistada, "de
uma experiência pessoal e intransferível". Por
quatro anos, enquanto estudava em Uberaba, ci-
dade em que reside o médium Xavier, participou
das atividades que ele ali desenvolve, tendo com
Chi c o uma convivência de certa forma íntima,
juntamente com outras pessoas. Diz ela: " ... mui-
tos dos companheiros de Uberaba e de outras
regiões, que conviviam conosco, (... ) tinham cer-
teza de que Chico Xavier era Allan Kardec".
A Dra. Marlene relata, então, as experiências
que viveu na ocasião, as quais fortaleceram sua
convicção. Em uma noite de 1959, quando auxi-
liava o médium a atender as pessoas que se
enfileiravam para falar com ele, teve um "insight".
Ao voltar-se para Chico, a fim de atender o seu
chamado, diz: "Não o vi. Era Allan Kardec que eu
via e, com naturalidade, respondi-lhe: - Profes-
sor! O que o senhor deseja? Se não disse isso, foi
algo assim. Em questão de segundos, o ambiente
de Uberaba havia desaparecido e eu parecia
reviver uma cena do século passado. Em reforço,
a Dra. Marlene junta uma passagem que teria
ocorrido em 1976, quando da visita do médium
Luís Antônio Gasparetto a Uberaba. Através des-

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te, o Espírito de Toulouse Lautrec, em diálogo


mantido com Chico Xavier, disse: "Merci, Allan"
(Obrigado, Allan). Esta passagem, segundo a en-
trevistada, foi publicada em reportagem da "Fo-
lha Espírita" de outubro de 1976 e se encontra
no livro "Lições de Sabedoria".
De uma obsessão sofrida pela irmã de Chico
Xavier, Maria Pena Xavier, Dra. Marlene tira ou-
tra informação que reforça sua convicção: Chico
lhe teria dito que o Espírito obsessor de sua irmã
falava: "Eu odeio a família de Allan Kardec".. O
fato ocorrera muito antes do médium conhecer o
Espiritismo, sendo que sua família era católica e
jamais havia lido, na época da obsessão, as obras
de Kardec. Diz a médica: "Tudo indica que esse
Espírito acompanhava a vida da família há muito
tempo".
Há um detalhe para o qual a médica chama a
atenção, parecendo-lhe importante: "Não tenho
visto ninguém, nas inúmeras instituições que te-
nho visitado, fazer preces dirigindo-se diretamente
a Allan Kardec, pedindo proteção a ele, como fa-
zem ao Espírito de Bezerra de Menezes ou a ou-
tro Benféitor Espiritual. Acredito que, inconsci-
entemente, todos saibamos que Kardec está
reencarnado".
E o Chico, o que é que diz? Não confirma nada,
objetivamente. "Chico sempre foi muito discreto
- diz ela. Aos que lhe perguntavam sobre suas
vidas anteriores, afirmava ser "cisco" e nada sa-
ber a respeito". Mas, íridiretamente, para ela
muitas referências de Chico apontam para esta
verdade: ele é Karcrec de ~ofta. Eis uma: Chico

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contou a ela e a outros companheiros "detalhes


curiosos sobre a correspondência de Allan Kardec
com a escritora francesa George Sand. Ele sabia
de cor períodos inteiros das cartas do Codificador
e as respectivas resposta s. Na ocasião, perguntei
ao Dr. Canuto de Abr u, hoje desencarnado, o
maior colecionador do qu restou do acervo de
Allan Kardec, após a duas guerras mundiais, se
ele tinha essas cart 1 me respondeu negati-
vamente. Não sabia da existência delas. De onde
o Chico tirava tudo isso?".
Numa festividade que teria acontecido no pla-
no espiritual, para comemorar o centenário de
lançamento de "O Livro dos Espíritos", segundo
Chico Xavier teria contado à Dra. Marlene, "to-
dos os trabalhadores do Brasil e de outros países
foram festejar, em um Grande Encontro (... ). O
mêdium falou da comoção de toda a assembléia
com a comemoração. Diante do relato, eu quis
saber quem presidira tão importante conclave.
Chico respondeu-me, simplesmente: "Lêon Denis
presidiu a reunião". Mais um indicativo de que
Kardec está reencarnado, se não estivesse, evi-
dentemente, a direção do conclave seria dele".
Muitas informações, portanto, dadas pelo mé-
dium mineiro seriam, segundo a mêdica,
indicativos de que Chico é a reencarnação de
Kardec. Refere-se ela ao seguinte acontecimento:
O Dr. Canuto de Abreu ter-lhe-ia mostrado um
documento escrito de próprio punho por Kardec,
onde está relatado "mais ou menos o seguinte:
depois que Zéfiro me contou que eu fui Platão é
que pude compreender melhor minha missão".

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Ao contar isso para o Chico, Dra. Marlene notou


sua naturalidade, como quem conhece o assunto
há muito tempo, tendo o médium lhe recomen-
dado ler "O Banquete", de Platão, para melhor
compreender a veracidade da informação.
Posteriormente, atendendo ao desejo manifes-
to por Chico, ela e seu marido, Freitas Nobre,
acompanhados do casal Nena e Francisco Galves,
foram com o médium visitar o Dr. Canuto de
Abreu. Lá, teria Dra. Marlene se perguntado: "Se
Platão não se casou, se Chico não se casou, por
que teria Allan Kardec se casado?". Ao reencon-
trar-se com Chico mais tarde, teria recebido dele
a seguinte informação: : Anan Kardec não foi ca-:
sado, de fato, com Amélie Boudet. Houve um acor:
do tácito entre os dois: Amélie, mais·velha que ele
nove anos, cuidaria de todos os afazeres domés-
ticos e administrativos, enquanto ele ficaria in-
teiramente livre para trabalhar pela doutrina.
Como você sabe, eles não tiveram filhos".
Referendando a opinião expressa pelo Dr.
Jarbas, a médica pergunta: "Não é curioso que,
sendo a antena psíquica mais apurada do mun-
do, Emmanuel não nos dê notícias de Allan
Kardec, por seu intermédio?". Sobre a questão
da diferença de perfil psicológico entre Kardec e
Chico Xavier, ela afirma: "Não creio que, na Ter-
ra, sejamos peritos em perfil psicológico e plane-
jamento de reencarnação. Creio que muitos vul-
tos do Cristianismo já voltaram à Terra, em ou-
tros tempos, e não os reconhecemos". Para ela, a
dificuldade que existe para a aceitação de Chico
como a reencarnação de Kardec "está no total

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despojamento com que Chico se apresenta na


atual encarnação. É difícil visualizar Kardec em
uma criatura pobre, que [I z somente o curso pri-
mário, que trabalhou e s aposentou como sim-
ples escriturário de uma r p rtição pública e apa-
gou-se para que os Benfi itores Espirituais fos-
sem exaltados".

MENSAGEM DE KARDEC INDICARIA SEU


RETORNO PRÓXIMO

Maria Gertrudes Co-


elho, em livro que escre-
veu e publicou em
Araguari, Minas Gerais,
afirma que em mensa-
gem datada de 1907 ,
dada em Portugal,
Kardec prognosticou o
seu retorno próximo ao
corpo físico, com todas
as indicações de que vi-
ria de fato como Fran-
cisco Cândido Xavier.
O médium português
Assim escreve a autora: Fernando de Lacerda,
"No livro "Obras Póstu- envolvido
mas", de Allan Kardec, indevidamente na
questão Chico/lrardec
há uma frase que diz so-
bre a possibilidade de
seu retorno, no final daquele século, ou no prin-
cípio deste. No começo deste século, o conceitua-
do médium português, Fernando de Lacerda re-
cebeu uma mensagem de Allan Kardec, anunci-

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ando que estava próxima a sua volta e que aque-


la era uma de suas últimas comunicações. As
mensagens do espírito Allan Kardec foram encer-
radas e logo depois nasceu Chico Xavier, com a
mesma seriedade que Kardec viveu sua existên-
cia e a Doutrina Espírita. Tenho plena convicção
de que ele realmente é a reencarnação de Allan
Kardec. Não temos notícia de outro médium que
tenha desdobrado, como ele, o pensamento do
Codificador". 15
A autora, como se vê, demonstra não conhecer
bem o assunto. Utiliza-se visivelmente de infor-
mações recebidas de alguma fonte verbal. Em uma
nota de rodapé ela explica o seguinte: "Mensa-
gem XXIX do médium Fernando de Lacerda, em
Lisboa em 06 I OS I 1907, do livro: "Do País da Luz",
editado pela FEB".
Em sua biografia "Fernando de Lacerda, o Mé-
dium Português", Manuela Vasconcelos registra
alguns trechos do documento citado, sem nenhu-
ma menção à possível parte de anúncio de um
retorno. Mas no livro "Do País da Luz" a mensa-
gem aparece por inteiro e contrariamente ao que
diz Maria Gertrudes, não há nela nenhuma alu-
são, nem direta nem indireta, ao possível retorno
ao corpo físico do Codificador. Cuida ele, apenas,
de dar informações de ordem geral sobre o traba-
lho do médium português, através de conselhos
voltados ao equilíbrio de sua vida íntima e do tra-
balho mediúnico, colocando-se ao dispor de
Fernando de Lacerda, caso desejasse utilizar-se
de seus préstimos. Kardec encerra a mensagem
com as seguintes palavras: "Ponho-me à tua dis-

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posição, para te utilizares do meu préstimo e da


minha experiência, se nisso vires alguma vanta-
gem; mas não me magoarei se me não utiliza-
res".16
Pode ter acontecido que a autora, Maria
Gertrudes, tenha se informado mal com alguém
ou, então, feito confusão por conta de uma leitu-
ra rápida e sem a devida acuidade. Há um pará-
grafo na mensagem em que o autor espiritual re-
gistra o seguinte: "Francisco Xavier, só e humil-
de, conquistou mais almas para o Cri-stianismo
do que todos os cruzados, com os seus aguer-
ridos exércitos e as suas poderosas armadas". Te-
ria, por acaso, o nome de Francisco Xavier ocasi-
onado confusão com o do médium mineiro, que é
também Francisco Xavier, apenas com Cândido
ao meio? Seria um engano imperdoável para uma
escritora, sem dúvida, mas perfeitamente expli-
cável.
À vista disso, não consideraremos o livro de
Maria Gertrudes Coelho para fins de estudo no
presente trabalho, deixando apenas registrado o
fato. Quem quiser se inteirar da mensagem po-
derá consultar a obra do médium português, dis-
ponível nas livrarias especializadas.

***

Chegamos assim ao final deste capítulo. As


principais opiniões e os argumentos mais fortes
favoráveis à tese da reencarnação de Kardec como
Chico Xavier foram colocados. Cabe-nos, agora,
ouvir as opiniões contrárias e fazer uma análise

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de tudo o que foi colocado. Importa, ainda, trazer


as considerações doutrinárias das obras básicas,
já que a elas foram feitas referências por todos
aqueles que opinaram.

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CAPÍTULO III

A opinião contrária das lideranças espíritas

"Qs HOMENS DEVEM ESCOLHER ENTRE A


VIDA E A MORTE. A VIDA ESTÁ NO ESPÍRI-
TO/ A MORTEJ NA CARNE. JJ

L. ToLSTOI

Os pensamentos expressos em livro e pela im-


prensa por aqueles que defendem a tese de que
Chico Xavier é Allan Kardec reencarnado encon-
traram forte oposição. Este é um dado concreto.
Contra Arthur Massena, Adelino da Silveira,
Jarbas Leone Varanda e Marlene Nobre se levan-
taram nomes como José Herculano Pires, Ary Lex,
Nazareno Tourinho, Jorge Rizzini e muitos ou-
tros. Já em 1972, José Herculano Pires debateu
o assunto em seu programa, "No Limiar do Ama-
nhã", da Rádio Mulher, apresentando um depoi-
mento por escrito de Chico Xavier. Foi naquele

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ano que Arthur Massena divulgou, pela primeira


vez, a opinião: Chico seria Kardec. O depoimento
do Chico é o seguinte:

"Até hoje, pessoalmente, eu nunca recebi


qualquer notícia positiva a respeito da pre-
sença de Allan Kardec, reencarnado no Bra-
sil ou alhures. Entretanto, eu devo dizer que
em se tratando de vultos veneráveis do nos-
so movimento, tenho muito receio de rece-
ber qualquer notícia, porque teme pela mi-
nha fragilidade e estimaria não ser médium
de notícias tão altas. Quando Allan Kardec
surgir ou ressurgir, ele dará notícias de si
mesmo pela sua grandeza, na presença que
venha mostrar". 17

A opinião de Chico Xavier tem dois aspectos


importantes: 1°) Foi dada por escrito ao jornalis-
ta e escritor Herculano Pires. Grande parte das
informações sobre uma possível reencarnação de
Allan Kardec, atribuídas a Chico Xavier, são me-
ramente verbais. O mesmo acontece quando par-
tidários da tese Chico/Kardec atribuem a ele,
Chico, indicações que supostamente vão na dire-
ção da confirmação d e que ele é o próprio Kardec.
São informações baseadas em lembranças e qua-
se sempre se transformam em fonte de deduções
e hipóteses, mas como documento legítimo não
possuem qualquer valor.
2°) O fato de Herculano Pires ter levado o as-
sunto ao ar em seu programa de rádio revela a
sua preocupação. Herculano era, como ainda é,

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uma autoridade incontestável em matéria de dou-


trina espírita, autoridade essa reconhecida tam-
bém, e de forma enfática, por Chico Xavier. O
médium mineiro tinha por Herculano um respei-
to e uma admiração pouco vista em relação a
outros intelectuais espíritas e tamanha era sua
confiança no professor que deu-lhe, mais de uma
vez, carta branca na condução de estudos e aná-
lises do seu trabalho mediúnico.
As posições do Dr. Ary Lex, do escritor Nazareno
Tourinho, do jornalista e escritor Jorge Rizzini e
de Ariston Santana Telles sobre ChicojKardec
estão na edição de agosto de 1998 do "Jornal
Espírita", da Federação Espírita do Estado de São
Paulo, publicadas , respectivamente, sob os se-
guintes títulos: 1º) "Francisco Cândido Xavier-
reencarnação de Allan Kardec?"; 2º) "Uma tese
insustentável"; 3º) "Chico Xavier desabafa: "A con- .
dição humana é uma bênção, mas a mitologia é
dura de agüentar"; 4º) "Duas personalidades bem
distintas". .
O Dr. Ary Lex, médico, é ex-fundador e ex-pre-
sidente da Associação Médico-Espírita de São
Paulo (AME), como a Dra. Marlene Nobre, e sua
larga experiência no campo espírita é reconheci-
da publicamente. Nazareno Tourinho, escritor e
dramaturgo premiado, tem, além de longa expe-
riência em pesquisas mediúnicas, a seu favor tam-
bém o fato de conhecer de perto o médium minei-
ro e com ele haver partilhado várias experiên-
cias. Rizzini é conhecido por sua verve polémica,
sua atuação jornalística em casos de grande re-
percussão na imprensa, premiado escritor e mé-

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dium com obras elogiadas pela crítica.


Todos os quatro autores escreveram seus arti-
gos de maneira fatual, isto é, em cima da entre-
vista da Dra. Marlene, motivados por sua publi-
cação no mês de junho de 1998 e atendendo pe-
dido do "Jornal Espírita". Como se viu, a posição
dos quatro apare lo o m seguida, em agosto
do mesmo ano. Não tiv ram, portanto, tempo para
aprofundamento da análise, o que explica o fato
de tratarem o assunto sem preocupações de or-
dem científica. Nem por isso suas opiniões têm
menor valor; ao contrário, podem ser analisadas
sob o crivo do bom senso e da lógica, entre outros
aspectos. Além do mais, oferecem a possibilidade
de um cotejamento doutrinário, permitindo que
a questão seja vista também segundo as inter-
pretações do pensamento dos Espíritos que dita-
ram a Codificação.
O Dr. Ary Lex anota logo na abertura do artigo:
"Já há décadas, vimos notando a preocupação de
alguns espíritas fanáticos em procurar quem é a
reencarnação de Allan Kardec, o grande
codificador. Vários Espíritos desencarnados têm
sido apontados; outros ainda vivos". Nazareno
Tourinho, a seu turno, viu no p nsamento da Dra.
Marlene uma única "virtud ": "a de suscitar en-
tre nós polémicas apaixonadas sem nenhum pro-
veito doutrinário", no qu é seguido por Rizzini,
que classifica essas declarações de fantasiosas
"que não ridicularizam, ap nas, a reencarnação,
que é uma lei divina, mas o próprio movimento
espírita".
Logo depois de Adelino da Silveira entregar seu

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livro ao público, em Uberaba, a cidade em que


reside o médium Chico Xavier, o Sr. Antônio
Corrêa de Paiva publicou o livro "Será Chico Xavier
a Reencarnação de Allan Kardec?", com o seguinte
subtítulo: "Refutação ao livro "Kardec Prossegue".
O Sr. Antônio é, também, um dos amigos do mé-
dium mineiro que há mais de 40 anos priva de
sua intimidade, colocando-se, portanto, no lado
contrário daqueles que defendem a tese Chico /
Kardec.

ANÁLISE DOS ARGUMENTOS PRÓS E


CONTRAS

Ao que tudo indica, o primeiro a tratar publi-


camente da questão foi o jornalista Arthur
Massena, do Rio de Janeiro, em 1972, quando
presidia a Associação de Medicina e Espiritismo.
Tomando por base uma mensagem mediúnica que
teria sido recebida pelo Dr. Levindo Mello, con-
tendo hipotética confirmação da reencarnação de
Kardec na figura de Chico Xavier, não a publi-
cou. Pelo menos é o que se tem notícia. 18 Isso não
invalida: contudo, suas opiniões nem reduz o
nosso trabalho de análise. Caso a mensagem fos-
se do conhecimento público, poderíamos tentar
obter ali indícios que pudessem levar à pesquisa
e, então, comprovar ou não a informação, como
fizeram os pesquisadores Ian Stevensson e
· Banerjee com os casos semelhantes que analisa-
ram.
Aliás, esta seria a melhor e mais importante
providência, especialmente diante das repercus-

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sões do caso e em vista da figura pública que é o


médium Francisco Cândido Xavier. Não há, no
momento, outro meio mais capaz de oferecer um
resultado seguro sobre assunto dessa natureza,
que não seja através de um estudo profundo
acompanhado de uma pesquisa que possibilite
confrontar as informações. Trabalham contra isso
duas coisas: a ausência de indicações precisas
dos Espíritos desencarnados nas manifestações
que vieram a público e a própria postura do mé-
dium, contrária à opinião dos seus amigos e ad-
miradores.
As informações sobre o druida Allan Kardec,
que aparecem na literatura espírita, não foram
fornecidas no sentido de encaminhar pesquisas;
são apenas informativas, indicando a Kardec, que
no início do seu trabalho tinha dúvidas sobre a
realidade da reencarnação, uma sua existência
antiga. Levando em consideração uma quantida-
de muito grande de outras informações concor-
dantes e da conclusão a que chegou, sobre a se-
riedade dos informantes e o grau de interesse
público que apresentavam, o Codificador utilizou-
se da indicação e adotou o pseudõnimo.
Eduardo Carvalho Monteiro seguiu aquelas
indicações e elaborou um interessante trabalho
sobre o druidismo e suas relações com o Espiri-
tismo, confrontando, inclusive, a doutrina
druídica com a espírita. Tudo isso está no livro
por ele escrito, de título "Allan Kardec, o Druida
Reencarnado". Além de descobrir pontos de can-
tata interessantes, Eduardo mostra que a rela-
ção com os druidas não se limitaria a Kardec,

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estendendo-se a outros personagens ligados ao


grupo do Codificador, como Léon Denis. Indica,
também, fatores coincidentes, como o nome
Denizard, constante no nome civil de Allan Kardec:
Denizard Hippolyte Léon Rivail. Enfim, se o livro
não serve como prova cabal e definitiva da exis-
tência anterior de Kardec, vale como uma tenta-
tiva de aprofundar o assunto.
No presente caso da tentativa de ligação entre
Chico Xavier e Kardec, não há indicações claras.
Como vimos, a primeira mensagem, que teria sido
recebida por Levindo Mello na Sociedade de Me-
dicina do Rio de Janeiro e foi mencionada por
Arthur Massena, é desconhecida do público. So-
bre a segunda, recebida por Antõnio Baduy Fi-
lho, conforme se deduz de seu texto, também não
apresenta indicações. Pode-se, é verdade, fazer
uma análise dela, à luz dos fatos, na tentativa de
extrair o melhor.
É isto o que faremos, a seguir.

A MENSAGEM "A VOLTA DE ALLAN


KARDEC"

A interpretação literal do texto deste documento


poderia ser feita da seguinte forma: trata-se de
um relato sobre uma hipotética reunião havida
numa região elevada do espaço, na qual estaria
presente o Codificador, Allan Kardec. O objetivo
era este: tratar do seu retorno ao corpo físico. O
cenário mostrava que havia no movimento espí-
rita brasileiro muitas disputas, com forte presen-
ça dos adeptos que defendiam os aspectos filosó-

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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ficos e científicos da doutrina, negando o aspecto


religioso. Isto nos leva ao final do século pas-
sado, pois, como se sabe, naquela época aconte-
ceram fatos dessa natureza.
Diante disso, era necessária uma ação forte
para recolocar o Espiritismo no seu lugar e esta-
belecer providências que pudessem unir os adep-
tos. Kardec recebe a notícia, pela voz do repre-
sentante de Jesus, de que chegara o momento do
seu retorno à Terra, ao que responde positiva-
mente. Daí para a frente, desenvolve-~e um diá-
...
logo entre os dois grandes Espíritos, em que o
primeiro apontava as dificuldades do trabalho e
o outro respondia com segurança, dizendo estar
preparado e disposto a enfrentá-lo.
Depois do diálogo, o representante do Cristo
teceu considerações sobre os acontecimentos fu-
turos, pedindo para Kardec as bênçãos do Alto. A
reunião se encerra com Kardec recebendo o apoio
e a solidariedade dos presentes. E a mensagem
termina com a indicação de que o Espírito do
Codificador renasceu no fim da primeira década
deste século, ou seja, por volta de 1910.
Vamos, agora, analisar o assunto.
Mensagens desse teor não permitem senão dois
caminhos: aceitar ou não o seu conteúdo. Não há
como garantir, de fato, que aquela reunião acon-
teceu. A única prova que temos disso é o teste-
munho do Espírito que deu a informação. Sequer
o médium pode entrar aí para reforçar essa cer-
teza, porque não esteve presente na referida reu-
nião. Por uma questão pessoal, de foro íntimo,
podemos acreditar que ela aconteceu. Mas, em

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termos probatórios, não há garantia disso.


Temos, ainda, dois detalhes: o nome do Espíri-
to e a credibilidade do médium. Hilário Silva é
um nome conhecido e suas páginas escritas atra-
vés de Chico Xavier e Waldo Vieira tiveram gran-
de aceitação pública. Ninguém poderá dizer que
não se trata de um Espírito sério. Ainda assim,
pode-se questionar se foi ele quem transmitiu a
mensagem ou se foi de fato o mesmo Hilário Silva
que se conhece. Não há nenhum problema nesse
questionamento e não será nenhuma
desconsideração para com o Espírito de Hilário
Silva apresentar essa dúvida. Como se sabe, o
próprio Allan Kardec declarou que os Espíritos
elevados não ficam contrariados com
questionamentos dessa natureza, tendo em vista
saberem que o que se quer é conhecer a verdade.
Ele afirma em "O Livro dos Médiuns", capítulo da
identidade dos Espíritos: " ... não há má comuni-
cação que possa resistir a uma crítica rigorosa.
Os bons Espíritos com isso não se ofendem ja-
mais, uma vez que eles mesmos a aconselham, e
porque nada têm a temer do exame; somente os
maus se melindram e a desaconselham, porque
têm tudo a perder, e por isso mesmo provam o
que são".
Juntem-se aí outros detalhes de ordem doutri-
nária e um deles diz respeito àquilo que de fato o
Espírito sabe, ou seja, a condição de Espírito não
confere sabedoria e a pessoa nesta condição só
fala do que pode e segundo sua própria capaci-
dade. Pois bem, o nome do Espírito não é sufici-
ente para dar foros de verdade ao conteúdo da

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mensagem.
Quanto ao médium, a questão se reveste de
iguais dificuldades. Nada conhecemos que
desabone a vida do Sr. Antônio Baduy Filho, seja
sua vida particular, seja sua atuação como mé-
dium. Portanto, não podemos colocar em cheque
sua credibilidade. Pelo contrário, todas as infor-
mações que nos foram passadas revelam que se
trata de um homem íntegro. Mas, assim como
acontece com o Espírito que assinou a mensa-
gem, o médium não pode dar por si mesmo ga-
rantia do ont údo da mensagem. Sendo apenas
o intermediário na sua recepção, pode dar o seu
testemunho e esse testemunho tem valor, mas
não é suficiente para uma conclusão definitiva
acerca dos fatos ali apresentados. Todos sabem
das dificuldades que se apresentam no terreno
da mediunidade, para Espíritos, médiuns e des-
tinatários das mensagens.
Não podendo ter a garantia sobre a realização
da aludida reunião, fica também eliminada qual-
quer tentativa de comprovar a presença de Kardec
e dos demais Espíritos nela, bem como de outros
detalhes anotados. Resta analisar o conteúdo
geral.
Desde já, é preciso destacar um fato incontes-
tável: todos os dados apresentados na mensagem
já eram do conhecimento público. Não se trata de
informações novas, totalmente desconhecidas.
Quando a mensagem foi recebida, em 31 de ou-
tubro de 1997, todos sabíamos que Chico Xavier
nascera em 191 O, tinha então 8 7 anos e sua vida
estava repleta de exemplos extraordinários. Sa-

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bia-se, também, conforme destacamos, da parte


da história do Espiritismo no Brasil mostrando
as dificuldades de entendimento entre as lideran-
ças do final do século passado e início deste, de
tal modo que a sua presença no texto conduz à
conclusão que se trata de uma crónica com in-
formações de época, acrescidas de detalhes nas-
cidos da imaginação criadora do autor.
Afora a realização da reunião, cuja veracidade
está posta em dúvida, nenhum outro dado obje-
tivo há na mensagem do qual se possa dizer: isso
era desconhecido ou podemos trabalhar sobre
esse dado e procurar comprovação. Haveremos
de convergir numa coisa: qualquer cronista, en-
carnado ou desencarnado, poderia escrever um
texto semelhante. De maneira que a parte das
informações existente no texto se mostra como
fator contrário à aceitação do conteúdo da men-
sagem. Se nos limitássemos somente a isso é fora
de dúvida que a mensagem seria descartada. Sob
este aspecto, o diálogo que se desenrola entre o
Espírito dito representante do Cristo e Kardec
procura conduzir o leitor numa direção determi-
nada, além de estabelecer um "link" entre o que
iria reencarnar com alguém já ligado ao corpo fí-
sico, e aí a maior probabilidade é de que este al-
guém seria Chico Xavier. Esta intenção é eviden-
te e não contém em si nenhum mal desde que
seja verdadeiro o que está sendo revelado. Caso
contrário, terá de ser condenada, porque seria
reveladora de outros objetivos, indignos.
Temos, ainda, a questão da qualidade para
analisar.

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Seria o texto mediúnico uma peça à altura de


um bom Espírito? Esta foi uma das perguntas
freqüentemente feita por Kardec para selecionar
mensagens ditadas através dos médiuns e auferir
sua qualidade. Não foi um critério único, é verda-
de, mas foi dos mais importantes, porque, por ele
podia-se eliminar de imediato trabalhos cuja lin-
guagem não fosse compatível com o que se pode
esperar de uma inteligência séria e desenvolvida.
No capítulo sobre a identidade dos Espíritos do
"Livro dos Médiuns", Kardec coloca a questão com
clareza: "Julgam-se os Espíritos, como os homens,
pela sua linguagem; se um Espírito se apresenta
sob o nome de Fénelon, por exemplo, e diz trivi-
alidades e puerilidades, é bem certo que esse não
pode ser ele; mas se não diz senão coisas dignas
do caráter de Fénelon, e que este não desaprova-
ria, há, senão uma prova material, pelo menos
toda a probabilidade moral de que deve ser ele". 19
Outro detalhe da linguagem refere-se às inten-
ções contidas na mensagem. É possível que um
Espírito bem intencionado produza um texto cuja
linguagem não seja a melhor, e nem por isto me-
reça reprovação total. Tal não ocorre, porém, se
este mesmo Espírito toma de um nome respeitá-
vel para se fazer aceito no meio em que se intro-
duz, visando disseminar certas idéias para pro-
vocar confusões. É para o que procura chamar a
atenção Kardec, no mesmo capítulo do "Livro dos
Médiuns":

"A posição é diferente quando um Espíri-


to, de ordem inferior, se adorna de um nome

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respeitável para dar crédito às suas palavras,


e esse caso é tão freqüente que não seria de-
masiado ter-se em guarda contra essas es-
pécies de substituições; porque é graças a
esses nomes emprestados e com a ajuda,
sobretudo, da fascinação que certos Espíri-
tos sistemáticos, mais orgulhosos do que
sábios, procuram dar crédito às idéias mais
ridículas". 20

Até aqui, não pusemos em dúvida a autoria da


mensagem em foco, assinada com o nome de
Hilário Silva, Espírito que tem trazido páginas pela
pena de Chico Xavier e Waldo Vieira de indiscutí-
vel teor moral. Mas não podemos deixar de colo-
car a questão na pauta da análise, visto ser ela
necessária. E para não alongar aqui o assunto,
estudemos mais estas palavras de Kardec, no
mesmo capítulo e livro citado:

"Não é preciso julgar os Espíritos pela for-


ma material e nem pela correção do seu es-
tilo, mas sondar-lhe o sentido íntimo, esqua-
drinhar suas palavras, pesá-las friamente,
maduramente e sem prevenção. Todo desvio
de lógica, de razão e de sabedoria não pode
deixar dúvida quanto à sua origem, qualquer
que seja o nome com o qual se vista o Espí-
rito". 21

Vejamos, pois, o assunto observando o sentido


do texto. Se, como já dissemos, a mensagem não
traz nenhuma informação nova e se não pode-

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mos ter certeza da realização da reunião a que se


refere, mas fica, porém, ressaltada uma intenção
de conduzir o leitor para uma determinada dire-
ção, a qual levaria indiscutivelmente a Chico
Xavier, estamos claramente diante de um diálogo
de mau gosto e literariamente ruim. O autor usa
de uma linguagem "piedosa", pondo na boca do
suposto representante de Jesus colocações cla-
ramente destinadas a validar o pbjeto da mensa-
gem, que seria a volta de Kardec no corpo de Chico
Xavier, e na boca de Kardec respostas·"melosas".
Tudo se passa como se os dois personagens esti-
vessem incapacitados para desenvolver um diá-
logo inteligente e elevado, o que, em última análi-
se, pode também nivelar com eles os próprios lei-
tores. É um diálogo extremamente infantil e, do
ponto de vista de seu desenvolvimento, ridículo,
capaz de deixar agastado o leitor que quisesse
esquadrinhar as palavras, "pesá-las friamente",
como orientou Kardec, o Codificador.
O Espírito representante de Jesus fala como
se o seu interlocutor não pudesse saber nada do
futuro que lhe estava reservado, e este responde
como se o outro desconhecesse as disposições
íntimas de alguém que deveria renascer em mis-
são de alta envergadura. Tudo começa assim:
"Chegou a hora, meu filho ... - Estou pronto e con-
fiante". O diálogo, daí para a frente, se desenrola
a fim de ressaltar detalhes de uma futura vida
que, por evidentes, já estão presentes na história
de Chico Xavier, como se pode relacionar:
a) condições adversas no nascimento (Chico
nasceu em lar muito pobre, perdeu cedo a mãe,

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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viveu com uma madrasta que o maltratava, etc.);


b) início do trabalho cedo e com saci-ificios (foi
o que ocorreu com o médium);
c) ausência de títulos acadêmicos (Chico só fez
o primário);
d) desconfianças, falta de fidelidade de compa-
nheiros, sofrimentos físicos (são inúmeros os pro-
blemas de saúde de Chico e já passou ele por
decepções com amigos);
e) mediunidade- "serás instrumento" (foi o que
notabilizou a sua vida);
f) celibato (Chico sempre foi solteiro);
g) trabalho espírita (Chico assumiu o Espiritis-
mo muito jovem e se dedicou a ele com
devotamento e abnegação).
Há outros ingredientes no texto que valem a
pena destacar, além da exploração de fatos co-
nhecidos como se ainda fossem acontecer, como,
por exemplo, a situação criada para demonstrar
que o Espírito que se dirigia a Kardec era supe-
rior ("preposto de Jesus, iluminado benfeitor"), e
para isso ele fala a Kardec "com bondade", num
clima de emoção, em que todos os presentes (se-
ria preciso que eles existissem) se encontravam
recolhidos e em expectativa. Tudo isso acontecia
numa das regwes "mais elevadas da
Espiritualidade", com a "presença marcante de
Kardec". A reunião termina com uma rogativa de
bênçãos ao Senhor, para o missionário que, "no
final da primeira década deste século", renasceu
"em pequena cidade do interior brasileiro". Não
fora preciso ser mais explícito e dizer: "do interior
mineiro". Tudo estava montado para atingir os

87
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fins desejados.
Resumindo, temos o seguinte quadro em rela-
ção à mensagem "A Volta de Allan Kardec":

a) não há garantias de que a reunião refe-


rida no documento tenha de fato aconteci-
do;
b) a linguagem da mensagem, apesar de
gramaticalmente correta, não é própria de
um Espírito superior, bem como do Espírito
Hilário Silva que estamos habituados a ler,
especialmente através de Chico Xavier;
c) é totalmente improvável que Espíritos
de ordem elevada se expressem segundo os
pensamentos contidos no diálogo desenvol-
vido na mensagem;
d) havendo sido a mensagem escrita já com
a vida de Chico Xavier conhecida publica-
mente, os dados ali apresentados não po-
dem ser levados à conta de previsão ou pro-
fecia;
e) o documento todo é de uma pobreza
muito grande, com ênfase para o diálogo que
mostra dois Espíritos, aos quais se quer atri-
buir superioridade, conversando com
infantilidade sobre assunto de grande im-
portância.
Por tudo isso, devemos rechaçar a tentativa de
validar a mensagem como documento
comprobatório da reencarnação de Allan Kardec
como Chico Xavier.

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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DUAS OUTRAS MENSAGENS DE


HILÁRIO SILVA

Juntamente com o estudo da linguagem e do


conteúdo das mensagens mediúnicas, bem como
das personalidades que as assinam, a análise
comparativa é também um excelente instrumen-
to para aferição de seu verdadeiro valor. Kardec a
utilizou com clareza em várias ocasiões no senti-
do de verificar semelhanças e controvérsias para
uma possível conclusão posterior. Trata-se, po-
rém, de um trabalho difícil, pois o terreno é bas-
tante perigoso e propício a enganos. Ao estabele-
cer a análise de três mensagens atribuídas ao
mesmo autor espiritual, no caso São Vicente de
Paulo, Kardec mostra isso. As referidas mensa-
gens tinham uma linguagem com muitas seme-
lhanças e correção gramatical. Aparentemente,
eram todas de elevado nível. Quando, porém, o
Codificador fez ver os detalhes contidos no senti-
do de certas frases e aquilo que surgia de, suas
entrelinhas, ficamos sabendo que apenas uma
delas poderia ser realmente atribuída ao Espíri-
to. Até chegar a esta conclusão, muita gente pode
se enganar.
Outros autores e pesquisadores das fontes
mediúnicas utilizaram-se desse expediente, tam-
bém. Seja no sentido de comparar informações,
seja para fins de análise de conteúdo. Dessa for-
ma, e como o assunto aqui está a exigir nosso
cuidado, vamos reproduzir outras duas mensa-
gens atribuídas ao mesmo Espírito e recebidas,
respectivamente, por Waldo Vieira e Chico Xavier.

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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Estas duas últimas estão publicadas, respectiva-


mente, no "Anuário Espírita 1966" e no livro "A
Vida Escreve", em que Chico e Waldo dividem a
autoria psicográfica. O leitor poderá fazer suas
análises e tirar as devidas conclusões.
Antes porém, não deixe de considerar os pro-
blemas inerentes à recepção mediúnica, sempre
muito complexos, que podem dificultar ao Espí-
rito a expressão clara de suas idéias, entre os
quais se situam os fatores do relacionamento
fluídico entre médiuns e comunicaderes. Isto
porque, segundo Kardec em "O Livro dos Mé-
diuns", não é preciso "julgar os Espíritos pela for-
ma material e nem pela correção do seu estilo,
mas sondar-lhe o sentido íntimo, esquadrinhar
suas palavras, pesá-las friamente, maduramente
e sem prevenção. Todo desvio de lógica, de razão
e de sabedoria não pode deixar dúvida quanto à
sua origem, qualquer que seja o nome com o qual
se vista o Espírito".

APENAS COM VISÃO DE


ÁGUA EURÍPEDES

Espírito: Hilário Espírito: Hilário


Silva Silva
Médium: Waldo Vieira Médium: Chico Xavier

o Dr. Paulo Começara Eurí-pe-


Abrantes e senhora des Barsanulfo, o
terminavam o culto do apóstolo da
Evangelho no Lar, em mediunidade, em Sa-
companhia de Tárcia, cramento, no Estado

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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a filhinha de seis anos, de Minas Gerais, a ob-


e o chefe da casa re- servar-se fora do cor-
matou os comentári- po físico, em admirá-
os, falando sobre a ne- vel desdobramento,
cessidade de pureza quando, certa feita, à
nos costumes domés- noite, viu a si próprio
ticos. em prodigiosa
Logo após, o distin- volitação. Embora in-
to casal espírita con- quieto, como que ar-
duziu a pequenina, rastado pela vontade
pela primeira vez, aos de alguém num torve-
serviços de assistên- linho de amor, subia,
cia. subia ...
Tratava-se de visita Subia sempre.
fraterna aos irmãos Queria parar, e des-
internados na cadeia cer, reavendo o veícu-
pública. lo carnal, mas não
Na rua, formou-se o conseguia. Braços in-
grupo maior dos com- tangíveis tutelavam-
panheiros de ideal e, a lhe a sublime excur-
breve tempo, estavam são. Respirava outro
todos no grande casa- ambiente. Envergava
rão, distribuindo li- forma leve, respirando
vros e cobertores. num oceano de ar
Numa cela estreita, mais leve ainda ... Via-
um homem franca- jou, viajou, à maneira
mente embriagado pe- de pássaro teleguiado,
dia socorro em alta até que se reconheceu
voz. em campina ver-
A menina condoída, dejante. Reparava na
puxou o braço pater- formosa paisagem,
no e indagou: quando, não longe,
- Papai, por que avistou um homem
***
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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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prenderam um ho- que meditava, envolvido


mem que chora por doce luz.
tanto? Como que magnetiza-
E o Dr. Abrantes, do pelo desconhecido,
conciso: aproximou -se ...
- Filhinha, o juiz Houve, porém, um
mandou trazer este momento em que esta-
homem para a ca- cou, trémulo.
deia porque ele vive Algo lhe dizia no ínti-
bebendo ... mo para que não avan-
A pequena em- çasse mais ... .
palideceu, levando E num deslumbra-
as mãos ao coração mento de júbilo, reco-
e estava a ponto de nheceu-se na presença
cair, quando o Dr. do Cristo.
Paulo perguntou Baixou a cabeça, es-
preocupado: magado pela honra im-
-Mas, o que tem prevista, e ficou em silên-
você, minha filha? cio, sentindo-se como in-
A menina, con- truso, incapaz de voltar
tudo, respondeu ou seguir adiante .
receosa: Recordou as lições do
- Ah! papai, es- Cristianismo, os templos
tou com medo do do mundo, as homena-
juiz mandar pren- gens prestadas ao Se-
der o senhor e ma- nhor , na literatura e nas
mãe, pelas bebidas art e s, e a mensagem
que o senhor e ela d'Ele a ecoar entre os
estão sempre be- homens, no curso de
bendo lá em casa. quase vinte séculos ...
- Os espíritas Ofuscado pela grande-
entrefitaram-se za do momento, começou
mudos, e daquele a chorar ...

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dia em diante o Dr. Grossas lágrimas


Paulo e senhora deter- banhavam-lhe o rosto,
minaram que a mesa quando adquiriu cora-
do próprio lar fosse gem e ergueu os olhos,
servida apenas com humilde.
água. Viu, porém, que Je-
sus também chora-
va ...
Traspassado de sú-
bito sofrimento, por
ver-lhe o pranto, dese-
jou fazer algo que pu-
desse reconfortar o
Amigo Sublime ... Afa-
gar-lhe as mãos ou
estirar-se à maneira
de um cão leal aos
seus pés ...
Mas estava como
que chumbado ao solo
estranho ...
Recordou, no en-
tanto, os tormentos do
Cristo, a se perpetua-
rem nas criaturas que
até hoje, na Terra, lhe
atiram incompreensão
e sarcasmo ...
Nessa linha de pen-
sarnento, não se con-
teve. Abriu a boca e fa-
lou, suplicante:
- Senhor, por que

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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choras?
O interpelado não respondeu.
Mas desejando certificar-se de que era ouvido,
Eurípedes reiterou:
-Choras pelos descrentes do mundo?
Enlevado, o missionário de Sacramento notou
que o Cristo lhe correspondia agora ao olhar. E,
após um instante de atenção, respondeu em voz
dulcíssima:
- Não, meu filho, não sofro pelos descrentes
aos quais devemos amor. Choro por todos os que
conhecem o Evangelho, mas não o praticam ...
Eurípedes não saberia descrever o que se pas-
sou então.
Como se caísse em profunda sombra, ante a
dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu ...
E acordou no corpo de carne.
Era madrugada.
Levantou-se e não mais dormiu.
E desde aquele dia, sem comunicar a ninguém
a divina revelação que lhe vibrava na consciên-
cia, entregou-se aos necessitados e aos doentes,
sem repouso sequer de um dia, servindo até à
morte.

Alguns fatores sobressaltam claramente das


duas mensagens acima, em relação à primeira. A
narrativa, em Chico e Waldo, flui solta, leve, ima-
ginativa. Há um sentido de concisão que não fere
em nada a beleza do texto, nem o torna endureci-
do. O diálogo é também imaginativo e fértil nas
duas outras mensagens, enquanto na primeira

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prima pela ingenui-


dade.
Leve-se ainda em
consideração outro
fator: as manifesta-
ções de Hilário Silva
através de Waldo
Vieira e Chico Xavier
se caracterizam por
peças em que o coti-
diano fornece os in-
gredientes para o au-
tor, que os transfor-
ma em mensagens
de fundo moral com
um fino espírito de
otimismo. Não é co- Waldo Vieira e Chico
Xavier fizeram uma
mum a este Espírito parceria mediúnica que
abordagens polêmi- proporcionou o
aparecimento de diversos
cas, do tipo "A Volta livros importantes
de Allan Kardec".
Mesmo quando utili-
za, como fez na última mensagem, de um exem-
plo dado por um nome de expressão como
Eurípedes Barsanulfo, mantém-se coerente com
sua linha de utilizar os exemplos para ilustrar
um ensinamento que deseja passar. Hilário é as-
sim em Waldo e em Chico, É de estranhar, pois,
que altere o estilo que adotou e escreva um texto
totalmente oposto e pleno de contradições consi-
go mesmo, revelando um empobrecimento nos di-
álogos e sabendo, de antemão, que pisaria num
terreno movediço, onde as disputas auxiliam em

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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demasia a expressão das vaidades humanas. Com


um agravante, que nenhum Espírito de escol, até
hoje, forneceu: sem nenhuma preocupação com
os fatos.
O Hilário Silva que se conhece por Waldo e
Chico não oferece nenhum precedente do mesmo
teor. Talvez por isso (bem como a pobreza do con-
teúdo) foi que Jorge Rizzini o classificou como
"mistificador"; não Hilário Silva, mas aquele "que
se faz passar por ele". Rizzini é, aliás, incisivo tam-
bém quanto ao médium e ao teor da mensagem,
dizendo que "uma informação de tamanha gravi-
dade, se verdadeira fosse, jamais a Espiritualidade
Superior incumbiria um Espírito evoluído, mas
de menor expressão, de divulgá-la. E, note-se,
através de um médium cujo nome é hoje desco-
nhecido no movimento doutrinário".
A "revelação" deste Hilário, bombástica, foge
de fato das que são comuns a Espíritos sérios e
compenetrados de sua missão.

TODOS OS RIOS CAMINHAM


PARA O MAR

"NADA~ EM SUMA, DESCARTA O RISCO DE QUE ESTEJAMOS


ENGANADOS NÃO APENAS EM DETA LHES, MAS NO ESSENCIAL,
TRANSFORMANDO A TRAMA DAS RELA ÇÕES ENTRE OS SERES
VIVOS NUMA ESPÉCIE DE DoM CASMURRO SEM CAPITU. "
EDUARDO GIANNETTI

Antes de entrarmos na análise do pensamento


de defensores e condenadores da tese de que Allan
Kardec está reencarnado como Chico Xavier, tor-

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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na-se necessano esclarecer o seguinte: todos


aqueles que até aqui tornaram público seu pen-
samento através de matérias na imprensa ou de
livros específicos, defendendo a tese, formam um
grupo de pessoas comprometidas com a idéia há
muitos anos e que começaram juntos bem jovens.
A informação é do conhecimento público e foi con-
firmada pela Dra. Marlene Nobre, na entrevista
que fez publicar no jornal que dirige, "Folha Es-
pírita", edição citada. Diz ela: " ... muitos dos com-
panheiros de Uberaba e de outras regiões, que
conviviam conosco, tomando parte nessas reu-
niões dos primeiros tempos da CEC (Comunhão
Espírita Cristã), tinham certeza de que Chico
Xavier era Allan Kardec. Cito alguns deles: Corina
Novelino, Maria da Cruz e Heigorina Cunha, de
Sacramento; Isabel Bueno, Dora Vilela, Lygia
Alonso Andrade, Cleuza e Weimar Muniz de Oli-
veira, Gabriel, Jarbas Leone Varanda, Eurípedes
Tahan Vieira e eu mesma, da turma de Uberaba".
Dos que aqui estamos analisando, o único que
parece não fazer parte do grupo é Arthur Massena,
do Rio de Janeiro. Adelino da Silveira, não citado
na entrevista, faz parte também do grupo. Assim
como o meio influencia as pessoas, também as
pessoas se influenciam dentro de um grupo, seja
para o bem seja para o mal, nas boas e nas más
idéias.
Esta informação é importante para o nosso es-
tudo, mas é preciso deixar claro que se há no
grupo quem interprete os fatos a favor da tese
ChicojKardec, há também os que não os acei-
tam. A este respeito, as informações mostram que

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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o assunto sempre foi um divisor de águas entre


os colaboradores diretos do médium, os quais
poderiam ser reunidos em três subgrupos: Ós que
aceitavam Chico como a reencarnação de Kardec,
os que acreditavam ser ele a reencarnação de
outras personalidades apontadas e, finalmente,
os que não se afinavam com as discussões do
assunto, assumindo uma postura prudente. Cla-
ro, Chico terá de ser a reencarnação de alguém,
isto é fora de dúvida.
Para que se tenha uma idéia razoável de como
a questão interessava a muitos do círculo de re-
lacionamento de Chico Xavier e, ao que tudo in-
dica, não interessava ao próprio médium, veja-
mos os seguintes casos que recolhemos em de-
poimentos diretos ou na imprensa.
Entre os componentes do grupo, corriam mui-
tas informações contraditórias; uns diziam que
Chico era uma personalidade do passado, outros
diziam que era outra. Assim, foi tido como are-
encarnação de uma das irmãs Baudin, Caroline
ou Japhet, conforme depoimento de Antônio César
Perri de Carvalho. A relação aí parece clara: um
médium ligado a outro. As irmãs Baudin, como
se sabe, tiveram participação direta na recepção
mediúnica das questões que compõem "O Livro
dos Espíritos" e trabalharam com Allan Kardec.
Rizzini cita a edição de julho de 1997, do jornal
"O Imortal", onde aparece dito que "na época de
Kardec, Chico encontrava-se reencarnado em
Paris e teve, como médium, participação decisiva
na elaboração da primeira versão de "O Livro dos
Espíritos".

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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~egundo ainda Perri, corria outra informação:


Chico teria dito ser a reencarnação de uma religi-
osa na França do 'século XVIII (anterior, portan-
to, à vida de Allan Kardec) . Por outro lado, dizia-
se, também, que ele seria a reencarnação da po-
etisa inglesa Elizabeth Barrett, a qual tivera con-
tato com médiuns, à sua época.
O jornalista e escritor Jorge Rizzini, em depoi-
mento a mim e registrado no meu livro "Uma Ja-
nela .para Kardec", afirma que foi testemunha -:
juntamente coni D. Orquídea, esposa do editor
Batista Lino, fundador da LAKE-Livraria Allan
Kardec Editora, e do parapsicólogo Henrique
Rodrigues (este nos confirmou também o fato) -
de uma conversa entre Chico Xavier e o professor
José Herculano Pires , na qual o médium mineiro
teria afirmado ser a reencarnação de Maria, a lou-
ca, mãe de D. João VI, rei de Portugal. O mesmo
Herculano, çontra sua vontade e opinião, era tido,
por algumas pessoas como sendo ele a reencar-
nação de Allan Kardec. Como se vê, a questão
parece interminável.
A partir de 1991, os depoimentos relacionando
a figura de Chico Xavier com Allan Kardec pas-
saram a surgir na imprensa com mais insistên-
cia, através de uma orquestração mais ou menos
afinada que teve início com o livro "Kardec Pros-
segue", de Adelino da Silveira, editado pelo Fran-
cisco Galves, do Centro Espírita União, de São
Paulo, o qual, juntamente com sua esposa, Nena,
integra o grupo do círculo do médium mineiro. O
desdobramento se deu com a mensagem "A Volta
de Allan Kardec", do médium Antônio Baduy Fi-

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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lho, e, na sequencia, com as entrevistas dadas


pela Dra. Marlene Nobre e pelo Dr. Jarbas Leone
Varanda.

A LÓGICA DA EMOÇÃO E A
EMOÇÃO DA LÓGICA

Como vimos no capítulo II, o Dr. Jarbas afir-


mou, incisivo, que a mensagem do médium Baduy
era uma manifestação do Alto e colocava uma pá
de cal na questão. Isto, entretanto, não se confir-
ma, seja pelas várias manifestações contrárias a
ela, seja pela análise da referida mensagem. O
mesmo argumento serve para as demais opini-
ões, que colocam aquela mensagem como um
documento favorável à tese Chico/Kardec. Na
edição do jornal "Folha Espírita", em que foi
publicada a entrevista da Dra. Marlene, a men-
sagem foi estampada na primeira página, como
matéria de fundo, o que demonstra a importân-
cia dada a ela também pela equipe do jornal diri-
gido pela entrevistada. Disse ela na ocasião que
recebia a mensagem "com naturalidade (... ),um
misto de alegria e alívio".
Ocorreu o mesmo com a revista "Goiás Espíri-
ta", publicando a mensagem na edição em que
estampou a entrevista do Dr. Jarbas, entrevista
feita, como se viu, pelo presidente da Federação
daquele Estado. Este é também um caso típico
de adesão à mensagem e às opiniões do entrevis-
tado, não sendo demais assinalar, ainda, que a
revista deu à matéria destaque de capa. Weimar
é um dos componentes do grupo citado pela Dra.

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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Marlene, daí o seu interesse no assunto e o am-


plo apoio às idéias favoráveis à tese ChicojKardec.
Finalmente, podem ser colocados neste rol os in-
tegrantes da direção da União Espírita Mineira,
em cujo jornal a mensagem do médium Baduy foi
publicada pela primeira vez, com certo destaque.
Está claro que todos os que se manifestaram
favoravelmente à mensagem "A Volta de Kardec"
estavam sob o domínio de uma forte emoção, na
razão direta de uma aparente confirmação que
ela dava à tese Chico j Kardec. Esqueceram mes-
mo de uma condição básica apontada pelo
Codificador na introdução de "O Evangelho Se-
gundo o Espiritismo", onde Kardec afirma que "a
única garantia segura do ensino dos Espíritos está
na concordãncia das revelações feitas esponta-
neamente, através de um grande número de mé-
diuns, estranhos uns aos outros e em diversos
lugares".

***

Normalmente, quando se tem embasamento


seguro para defender uma tese as idéias costu-
mam acompanhar a consistência das informa-
ções, mas se isto não acontece corre-se o perigo
da cair no ridículo e na ingenuidade. Massena
parte de uma premissa certa e tropeça na inge-
nuidade quando afirma: "Se Kardec voltaria (... ),
quem teria mais gabarito espiritual, dentre os
maiores médiuns do Globo, do que Chico Xavier
para ser Allan Kardec?". Ou seja, Kardec deveria
voltar na pele de um médium e este não poderia

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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ser outro senão Chico. Nada, porém, valida tal


argumento e o que mais impressiona é que
Massena era presidente de uma sociedade médi-
ca, em nome da qual falava. Falhou duplamente:
esqueceu -se de que uma sociedade desse nível
deveria ser mais criteriosa em seus pareceres e
de que não tinha nenhuma base técnica para suas
idéias.
A questão ChicofKardec passou do campo da
razão para o da emoção, deixando à mostra a
pouca disposição dos defensores da tese de bus-
car embasamento científico. A Dra. Marlene, que
também preside uma sociedade médica, deixa cla-
ro que não se importa muito com isso, dizendo
que a certeza que tinha de que Chico era Kardec
foi adquirida havia 40 anos e era proveniente de
"uma experiência pessoal e intransferível", seguin-
do Adelino da Silveira no encerramento do seu
livro "Kardec Prossegue", quando disse aos que
quisessem saber a razão de sua certeza: "eu me
lembro e somente Jesus poderá anular a minha
memória". Marlene teve, portanto, 40 anos para
sedimentar a certeza em bases racionais, mas
nada fez para isso. Sua entrevista comprova.
A especulação da presidente da AME carreou-
lhe o dissabor das opiniões contrárias, opiniões
às vezes duras, como ocorreu no artigo publica-
do no "Jornal Espírita" pelo Dr. Ary Lex, funda-
dor e ex-presidente da AME. Primeiramente, anota
ele o seu espanto: "Para surpresa de todo o meio
espírita paulista, vem a brilhante escritora Dra.
Marlene Rossi Severino Nobre declarar que Fran-
cisco Cândido Xavier é a reencarnação de Allan

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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Kardec". A seguir, diz, enfático: "A autora usa afir-


mações que não pode provar, permanece no cam-
po das expressões emocionais e, para desaponta-
mento nosso, faz sua autopromoção de ponta a
ponta".
A autopromoção, pelo que se pode depreender,
está ligada diretamente a uma espécie de
endeusamento que fazem do médium Chico Xavier
muitos dos seus admiradores. Herculano Pires
diria, conforme seu livro "Na Hora do Testemu-
nho", com muita ênfase: "Os que pretendem apre-
sentar um médium como Chico Xavier, aos olhos
do povo, como uma espécie de semideus, pertur-
bam a própria missão do médium, que sempre se
esforçou para mostrar-se como um simples ho-
mem, sujeito às deficiências humanas. A auten-
ticidade de Chico Xavier e de sua mediunidade
ressaltam de suas constantes declarações públi-
cas, sempre marcadas por uma consciência níti-
da, jamais disfarçada, de sua fragilidade huma-
na". Ele mesmo concluiria: "No fundo, os
endeusadores do médium nada mais fazem do
que endeusar-se a si mesmos. É a tendência na-
tural da criatura humana de querer engrande-
cer-se à custa da grandeza alheia: do mestre, do
chefe, do sacerdote, do pastor ou do médium". 22
Herculano foi, a seu tempo, um severo crítico
do comportamento liberal irresponsável dentro do
movimento espírita. Em diversas ocasiões, levan-
tou-se para defender o respeito aos textos da
Codificação e os procedimentos compatíveis com
o espírito da doutrina. Foi, assim, uma penares-
peitada; todos sabiam que ele estava sempre a

103
Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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postos, numa prontidão senão intimidativa, pelo


menos preocupante. Após sua desencarnação,
coincidentemente ou não, ocorreram fatos que não
ficariam sem sua intervenção se ainda .estivesse
no corpo físico, como traduções de obras de
Kardec com supressão de textos e alteração de
sentido de pensamentos. Inclua-se aí a tese
Chico I Kardec. Aqueles que estão envolvidos com
esses fatos- não todos, é óbvio, mas boa parte-
foram ou são contemporãneos de Herculano Pi-
res. Não foi sem razão que alguns daqueles que o
criticavam sentiram-se mais livres com sua par-
tida para o mundo espiritual. Podiam, agora, ex-
pressar-se sem preocupação.

***

Nas palavras do Dr. Ary está implícita toda a


sua insatisfação com a ausência de critérios ci-
entíficos no pronunciamento de sua colega de
profissão, especialmente porque ocupa ela um
cargo que, a rigor, exigiria uma postura mais
concernente com os objetivos da instituição. Mas,
aos olhos do crítico agravou-se a situação ante o
desejo da Dra. Marlene, embutido nas entrelinhas,
de se autopromover com a publicação da entre-
vista. O Dr. Ary não poupou sequer a forma como
a matéria foi apresentada no jornal: "Esse artigo
-diz ele- ela o publica como se fosse uma entre-
vista dada a Conrado Gonçalves Dan tas, que nin-
guém conhecia como jornalista, pois é funcioná-
rio da Dra. Marlene, incumbido da composição
gráfica do seu jornal, a Folha Espírita".

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Ao especular em torno da tese da reencarna.,.


ção de Allan Kardec como Chico Xavier, a Dra.
Marlene eximiu-se do dever de examinar com
atenção, averiguar minuciosamente, como seria
de se esperar de alguém com sua responsabilida-
de pública. Ela especulou no sentido mais
criticável, ou seja, valendo-se "de certa posição,
de circunstância, de qualquer coisa para auferir
vantagens", conforme anotam nossos melhores
dicionários. É o que se depreende das colocações
feitas pelo médico Ary Lex e das declarações da
presidente da AME, como se pode ver.
Essa ambigüidade curiosa tem desafiado as
inteligências mais destacadas. Como médica e
presidente da AME, Marlene Nobre sabe que está
comprometida com a busca da evidência nos fa-
tos, mas como crente da reencarnação de Kardec
como Chico Xavier, opta pelo caminho das afir-
mações sem provas. Vai em sentido contrário até
mesmo às observações de seu marido, o ex-de-
putado Freitas Nobre, que no prefácio do livro "A
Reencarnação no Brasil" afirma: "Mesmo quando
todas as evidências saltam, revelando um qua-
dro rear e reforçando hipóteses já estudadas, o
pesquisador exigente, o cientista rigoroso não
assume o risco de afirmar: esta é a verdade'. O
livro é de autoria de Hernani Guimarães Andrade,
articulista permanente do jornal "Folha Espírita"
que Marlene dirige, onde mantém uma seção vol-
tada exatamente para assuntos científicos.
Aliás, no prefácio de outro livro do mesmo au-
tor- "Renasceu por Amor", editado pela "Fé" - a
própria Dra. Marlene reconhece a importância da

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pesquisa feita com método ao afirmar: "Pesqui-


sadores criteriosos da reencarnação, como Ian
Stevenson e Hernani Guimarães Andrade, têm
enorme contribuição a dar para a mudança do
paradigma materialista em que a ciência se fun-
damenta". Portanto, as posições divergentes que
assume, de um lado destacando o valor da pes-
quisa em reencarnação e, de outro, apresentan-
do a tese Chico I Kardec sem provas, evidencia a
ambigüidade.

***

Puxando pela memória, ela se lembrou de uma


noite do distante ano de 1959, quando estava em
trabalho de atendimento público com Chico
Xavier. Ao virar-se para atender seu chamado,
diz: "Não o vi. Era Allan Kardec que eu via". Cha-
mou-o de professor, utilizando-se de palavras das
quais não tinha certeza: "Se não disse isso, foi
algo assim". É o caso de perguntar: não estaria
vendo apenas o que queria ver? Não se conten-
tando com o que "viu", busca reforço num fato
que teria acontecido em 1976, ocasião em que
Toulouse Lautrec, por intermédio do médium Luís
Antônio Gasparetto, teria agradecido a Chico, di-
zendo: "Merci, Allan". É coincidência demais para
alguém que há 40 anos tem certeza do incerto. E
a certeza é tamanha que dispensa provas mais
consistentes, mesmo que a interessada seja pre-
sidente de uma instituição da área científica.
Adelino da Silveira, no caso, tem a atenuante
de ser um simples admirador do médium minei-

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ro, o que dá às suas opiniões uma responsabili-


dade menor do que à da presidente da AME. Essa
condição fica, também, esclarecida pelo próprio
Adelino, que se declara, no livro referido, um
"chiquista", ou seja, um seguidor incondicional
de Chico Xavier e deveras ligado a ele por laços
emotivos muito fortes. Diz ele: "Cristão, kardecista
e chiquista. É o que tento ser todos os dias de
minha vida, com a graça de Deus". Não é rele-
vante a constatação nesta declaração de uma dose
de ironia e desabafo, que deve ser creditada a essa
profunda ligação emocional existente. Mas é im-
portante saber que o aspecto emotivo funciona
como anestesiante da razão quando se trata de
efetuar julgamentos.
O Dr. Ary Lex reconhece que a presidente da
AME "usa afirmações que não pode provar, per-
manece no campo das expressões emocionais e,
para desapontamento nosso, faz sua
autopromoção de ponta a ponta". Segue ela, por-
tanto, os passos do seu colega Arthur Massena,
da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de
Janeiro.
A linha de raciocínio para sustentação da tese
ChicofKardec apresenta, por parte dos seus di-
ferentes defensores, argumentos semelhantes e,
portanto, eivados do mesmo vício. Tomemos de
volta Arthur Massena, quando diz: "Se a obra de
Allan Kardec, no século passado, o Espiritismo, é
algo monumental, não voltaria ele, evidentemen-
te, para realizar, no século atual missão de pro-
porções discretas, próprias de Espírito de menor
evolução, mas outra que com ela pelo menos

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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ombreasse, e a obra de
Chi c o Xavier, de
evangelização mundial,
em proporções
ciclópicas, é a única que
pode com ela empare-
lhar". O Dr. Jarbas Va-
randa se junta aí, ao di-
zer: "A obra mediúnica
de Chico Xavier é Jesus
e Kardec de ponta a
ponta". Seria necessário
perguntar o que O médium, aos 72
anos de idade,
Massena entende "mis- psicografando
são de proporções dis- mensagens
cretas" e se não haveria
outra atividade missionária na qual Espíritos
como o de Kardec pudessem prosseguir seu tra-
balho? Por que deveria ser como médium e na
pele de Chico Xavier? Varanda deveria, também,
responder se o fato de Chico Xavier ser "Kardec
de ponta a ponta" é indicativo seguro para com-
provar que é ele a reençarnação do Codificador.
Ou será que Léon Denis, Herculano Pires e
Deolindo Amorim, para citar apenas estes, não
são?

NA BERLINDA, CHICO NADA


CONFIRMA

Curiosamente, Adelino da Silveira e outros de-


fensores da tese ChicojKardec, ao que tudo indi-
ca, buscaram constantemente formas de envere-

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dar o médium mineiro para o caminho da confir-


mação de que seria ele a reencarnação do
Codificador. A Dra. Marlene demonstra quando
diz: "Em nossa convivência mais íntima, porém,
no período das atividades iniciais da CEC, tive-
mos muitas respostas veladas". Ou seja, o mé-
dium estaria sugerindo que era o Codificador
reencarnado.
Um dos mais entusiastas admiradores de Chico
Xavier, R.A. Ranieri, em seu livro "Chico Xavier,
o Santo dos Nossos Dias", declara com honesti-
dade: "Nunca ouvimos o Chico dizer que ele era
Allan Kardec e nem ouvimos dizer que ele afir-
masse isso". Jorge Rizzini, com base em suas ob-
servações e experiências, diz o mesmo: "Chico
Xavier, ao longo de sua vida, jamais proclamou
ser Allan Kardec reencarnado. Interrogado, sem-
pre negou ... ".
Quando Adelino pergunta a Chico se "Kardec
reencarnou realmente no início do século" está,
com certeza, fazendo a tentativa de obter uma
resposta positiva. O raciocínio de Kardec sobre a
possibi_lidade de voltar ao corpo físico é uma
conjectura sobre vir em fins do século XIX ou prin-
cípio do século XX. Como Adelino parte do prin-
cípio de que Chico é Kardec, esquece parte da
conjectura e define que Kardec reencarnou no
princípio do século.
Chico poderia responder de duas maneiras:
confirmando a sua volta nos termos da interpela-
ção feita, ou não. É de se crer que Adelino ansi-
asse por uma resposta afirmativa, para resolver
de vez seu dilema e, aí sim, por uma pá de cal na

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questão. Se Chico díssesse que Kardec havia vol-


tado no início do século soaria como uma confir-
mação de que ele próprio era Kardec (pois
reencarnara em 191 O) e Adelino ficaria livre para
proclamar a sua crença, utilizando-se do próprio
médium como a fonte da confirmação da tese.
Afinal, era consenso entre seus pares que nin-
guém, jamais, em parte alguma do mundo, reu-
nia então tantas qualidades para ser a reencar-
nação de Kardec. (Estranhamente, não percebi-
am que era também quem mais reunia atributos
contrários à tese.)
Tudo o que Chico dissesse nessa direção tra-
ria, ainda, a chancela de Emmanuel, seu guia
espiritual, uma vez que as duas personalidades,
Chico e Emmanuel, se confundem ao longo de
todo o trabalho mediúnico desenvolvido pelo mé-
dium mineiro nos últimos setenta anos. Essa es-
pécie de fusão de duas personalidades tem leva-
do a que se imagine que tudo o que Chico diz
expressa o que Emmanuel pensa, de tal maneira
que nunca o Chico pensa e decide sozinho coisa
alguma. Funciona também como se Chico tives-
se Emmanuel sempre a tiracolo, podendo sacá-lo
para resolver seus problemas ou atender as von-
tades dos consulentes a qualquer momento. For-
ma-se um paradoxo curioso: ora é Chico que do-
mina Emmanuel, mais adiante dá-se o inverso, é
Emmanuel o dominador de Chico. Sabe-se, po-
rém, pela experiência, que o processo de domina-
ção costuma envolver personalidades de conduta
moral reprovável, seja entre nós, encarnados, seja
no mundo dos Espíritos.

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Tudo isso se completa no fato de Emmanuel


ser visto como um Espírito Superior que, portan-
to, tudo sabe e tudo pode. Os discípulos do Chico
dirão, ainda, que de um Espírito Superior como
Chico, somente outro Espírito Superior poderia
ser guia. Estes excessos são compreensíveis, mas
põem por terra o bom senso quando estabelecem
parãmetros discutíveis pàra definir quem é Espí-
rito Superior.
O Dr. Jarbas Varanda é, nesse ponto, enfático,
dizendo que "Chico Xavier é um Espírito Supe-
rior, ninguém pode duvidar, pois sua vida e seus
exemplos demonstram à saciedade sua condição
de superioridade ao meio em que vive". Uma coi-
sa é ser superior ao meio em que se vive e outra,
bem diferente, é poder afirmar que este ou aque-
le é um Espírito Superior, especialmente porque
essa condição deverá levar em consideração os
valores utilizados por Kardec na escala espírita.
O jogo de palavras aí é um fator complicador.
A Dra. Marlene Nobre também se utiliza da
postura responsável de Chico ante o assunto para
reforçar sua convicção. Diz ela: "Chico sempre foi
muito discreto. Aos que lhe perguntavam sobre
suas vidas anteriores, afirmava ser "cisco" e nada
saber sobre o assunto", confirmando o que dis-
semos, ou seja, os partidários da tese Chicof
Kardec sempre procuraram ocasião para obter do
médium pareceres favoráveis sobre o assunto. A
presidente da AME, entre espantada e feliz, ain-
da aduz: "Não é curioso que, sendo a antena psí-
quica mais apurada do mundo, Emmanuel não
nos dê notícias de Allan Kardec, por seu intermé-

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dio?"
Como se viu, a resposta do Chico não confir-
mou a vinda de Kardec "no início do século". Afi-
nal, Chico não tomaria uma posição cabotina,
contrária a tudo o que vem fazendo e pregando
pela vida afora. Assim, Adelino e seus pares se
valem desse fato para alardear que este é mais
um fator favorável à classificação do médium como
Espírito Superior o que, em última análise, é tam-
bém ponto positivo para os defensores da tese
Chico/Kardec. Mais adiante se verá o contrário.
Na resposta do médium estaria subentendido que
Emmanuel não fala que Chico é Kardec por ra-
zões íntimas, porém, se algum dia falou a Chico
sobre isso, confirmou ser ele Kardec, mas orde-
nou que não revelasse absolutamente nada. As-
sim, tudo o que acontece vale para referendar a
tese, segundo o raciocínio que serve aos interes-
ses do grupo em que Adelino está situado.
Uma prova disso são os argumentos utilizados
por Adelino em seu livro, especificamente nas
páginas 122 e 123, quando relaciona 13 itens
sobre Kardec e os compara com Chico Xavier, com
finalidades óbvias. Vejamos o texto (os grifos são
meus):

"Allan Kardec foi sepultado no dia 2 de


abril.
Chico Xavier nasce no dia 2 de abril.
Kardec codificou o espiritismo.
Chico Xavier explica-nos a Codificação.
Kardec pesquisou o fenõmeno.
Chico Xavier traz o fenômeno até o povo.

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Kardec consolou milhares de pessoas.


Chico Xavier estende a consolação a mi-
lhões. -
Kardec trouxe Jesus de volta.
Chico Xavier nos ensina a estarmos com
ele.
Kardec reacendeu a lâmpada da fé.
Chico Xavier ilumina os nossos caminhos.
Kardec disse que a fé pode encarar a r a-
zâo.
Chico Xavier alia a fé à razão.
Kardec afirmou que fora da caridade nâo
há salvação.
Chico Xavier vive a caridade em sua pleni-
tude.
Kardec explicou-nos a lógica da reencar-
. nação.
Chico Xavier prova-nos a reencarnação.
Kardec elucidou as manifestações dos Es-
píritos .
Chico Xavier recebe milhares de Espíritos.
Kardec foi considerado o bom senso en-
carnado.
Chico Xavier é o discernimento em pessoa.
Kardec veio para pesquisar.
Chico Xavier veio para demonstrar.
Kardec é o começo.
ChicoXavieré o complemento."

Com base nestas observações, Adelino conclui,


depois de citar a frase de Jesus dizendo "que Elias
já veio e não o conheceram": "Para mim, também
Kardec já veio e não o conheceram". Eras to de

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Carvalho Prestes, que entendeu ser seu pai are-


encarnação de Kardec, também diria a mesma
coisa. O leitor poderá fazer sua análise das com-
parações acima e observar que vários pontos dela
poderiam ser discutidos, o que não faremos aqui
por não julgar importante, já que se trata de opi-
niões pessoais apresentadas por alguém que de-
seja apenas validar idéias com as quais está com-
prometido.
Há que registrar, contudo, a postura muito forte
do Sr. Antônio Corrêa de Paiva no livro de refuta-
ção ao do Sr. Adelino da Silveira, acusando-o de
plágio. No que tem razão, como o leitor verá. Está
em discussão a mensagem "O Mestre e o Apósto-
lo", de Emmanuel, ditada através de Chico. Ei-la:

Jesus, o Mestre.
Kardec, o Professor.
Jesus refere-se a Deus, junto da fé sem
obras .
Kardec fala de Deus, rente às obras s em
fé .
Jesus é combatido, desde a primeira hora
do Evangelho, pelos que se acomodam na
sombra.
Kardec é impugnado desde o primeiro dia
do Espiritismo pelos que fogem da luz.
Jesus caminha sem convenções.
Kardec age sem preconceitos.
Jesus exige coragem de atitudes .
Kardec reclama independência mental.
Jesus convida ao amor.
Kardec impele à caridade.

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Jesus consola a multidão.


Kardec esclarece o povo .
Jesus acorda o sentimento.
Kardec desperta a razão.
Jesus constrói.
Kardec consolida.
Jesus revela.
Kardec descortina.
Jesus propõe .
Kardec expõe.
Jesus lança as bases do Cristianismo en-
tre fenômenos mediúnicos.
Kardec recebe os princípios da Doutrina
Espírita, através da mediunidade.
Jesus afirma que é preciso nascer de novo.
Kardec explica a reencarnação.
Jesus reporta-se a outras moradas .
Kardec menciona outros mundos.
Jesus espera que a verdade emancipe os
homens; ensina que ajustiça atribui a cada
um pelas próprias obras e anuncia que o
Criador será adorado, na Terra, em espírito.
K~rdec esculpe na consciência as leis do
Universo.
Em suma, diante do nosso acesso aos mais
altos valores da vida, Jesus e Kardec estão
perfeitamente conjugados pela Sabedoria
Divina.
Jesus, a porta.
Kardec, a chave.
Após mostrar essa mensagem de Emmanuel,
que teve ampla repercussão nos meios espíritas
do Brasil, o Sr. Antônio aduz: "é oportuno já dei-

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xar, aqui, esclarecido que, com estes conceitos


de Emmanuel, referentes a Jesus e Kardec, fica
refutado, pelo próprio Emmanuel, o plágio mal-
feito, sem sentido, distorcido, absolutamente in-
conseqüente, com que o Sr. Adelino da Silveira
forçou a deturpação da personalidade impoluta
de Allan Kardec, assim como desvalorizou o mais
grandioso trabalho já realizado, em todos os tem-
pos, pelo progresso da humanidade". 23 Tem o Sr.
Antônio razão? É o que parece.

DE PRECES E OUTROS ARGUMENTOS


INCONSISTENTES

Maria Pena Xavier, irmã do médium Chico


Xavier, sofria de terrível obsessão. De família ca-
tólica, ela e seus familiares nunca haviam lido
qualquer obra de Kardec, e o próprio Chico, mui-
to moço, não tinha conhecido a doutrina na épo-
ca. Conversando sobre o assunto com a Dra.
Marlene, segundo as palavras desta, o médium
mineiro lhe teria revelado que o Espírito obsessor
da irmã falava: "Eu odeio a família de Allan
Kardec".
Este detalhe chama a atenção da médica, es-
pecialmente porque ninguém na família era espí-
rita ainda e o fato só poderia significar que o Es-
pírito estava se referindo à figura de Allan Kardec
presente na pessoa de Chico Xavier. E mais: que
não só Chico era Kardec, mas, também, que a .
família toda estava ligada ao Codificador. Daí,
conclui: "Tudo indica que esse Espírito acompa-
nhava a vida da família havia muito tempo".

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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Não lhe ocorreu que o obsessor só poderia ser


um Espírito inferior e que, sendo inferior, teria
poucas condições de obter tal informação; sequer
imaginou que, ao perturbar a vida de um mem-
bro da suposta família de Allan Kardec revelava,
ipso facto, o grau de comprometimento dos fami-
liares e, portanto, do próprio Codificador, retiran-
do-lhe a condição de Espírito Superior. Também
não cogitou ela que, em sendo verdadeira a afir-
mação do Espírito obsessor, poderia estar sere-
ferindo à própria assistência dada por espíritas à
irmã do Chico, o que, por si só, colocava os espí-
ritas na condição de membros da família de Allan
Kardec. Não, evidentemente, da família carnal,
mas da numerosa família formada pelos adeptos
da Doutrina Espírita, que então se espalhavam
por diversas regiões do Brasil praticando os prin-
cípios doutrinários e exercendo atividades em fa-
vor dos necessitados. Ninguém, em sã consciên-
cia, negará a existência deste agrupamento de
pessoas em torno de um ideal e que, por isso
mesmo, pode ser classificado como a família de
Allan Kardec.
Entretanto, se a referência do Espírito obsessor
não é argumento suficiente para validar a tese, a
Dra. Marlene tem outros na algibeira, para uso
que imagina eficiente. Em suas andanças e nas
atividades espíritas que desenvolve, notou que
muitos Espíritos são requisitados nas preces,
como intermediários da Espiritualidade Maior,
mas ninguém, jamais, solicitou de Allan Kardec
tal procedimento. Eis, então, que afirma: "Não
tenho visto ninguém (... ) fazendo preces direta-

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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mente a Allan Kardec". É de se acreditar em sua


sinceridade, mas é, também, preciso dizer que se
observar melhor há de encontrar em diversos lo-
cais essa solicitação. Como não assistiu a nenhu-
ma cena desse tipo, acredita que não exista nin-
guém fazendo preces a Kardec porque inconsci-
entemente, todos sabemos "que Kardec está
reencarnado". A isto, o Dr. Ary Lex classifica de
"argumento infantil".
Prosseguindo, a Dra. Marlene cita que o Chico
lhe revelara detalhes e frases inteiras de pos-
síveis correspondências que Kardec mantivera
com George Sand, escritora francesa, dizendo que
Canuto de Abreu, que conseguira colecionar mui-
tos documentos de Kardec, "não sabia da exis-
tência" dessas correspondências. Portanto, se os
documentos existiram um dia, estavam agora
perdidos. Ora, como Chico sabia disso, ou, como
pergunta a médica, "de onde tirava tudo isso?",
dando a entender que, se sabia, sabia por si mes-
mo porque era ele próprio Allan Kardec. Vemos,
portanto, que entre todas as virtudes de Chico
Xavier, tem ele uma a mais: a de se lembrar da
vida anterior e com tal requinte de detalhes que
faria a alegria dos investigadores da reencarna-
ção, como, por exemplo, o Dr. Hernani Guima-
rães Andrade, colunista do próprio jornal dirigi-
do pela presidente da AME. Não consta, porém,
que Hernani e qualquer outro tenha dirigido pes-
quisas sobre o médium mineiro, direcionadas para
sua reencarnação, o que é uma pena neste caso.
É interessante, também, anotar o seguinte: ao
mesmo tempo que se atribui a maioria das coisas

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que Chico diz aos Espíritos, se quer utilizar su-


postas declarações suas como prova de que é Allan
Kardec, sem nenhum espírito científico.
É preciso esclarecer que não coloco em discus-
são a credibilidade de Chico Xavier. Portanto, o
fato de ter ou não dito o que a Dra. Marlene lhe
atribui é uma questão de menor importãncia.
Mesmo porque, para tratar disso seria preciso
verificar, também, a qualidade das memórias da
presidente da AME. Não se _Qode, todavia, ficar
apenas nas argumentações verbais. No caso da
--escrrtõraGeorge Sand, sabe-se, _Relo menos, de
uma carta gue lhe endereçara Allan Kardec, con-
forme t anscriç- feita no segi:ill21.o volume a o ra
"Allan rdec", de Zêus Wantuil e Francisco
-- -- - -
Thiesell.L página 17. Encimando a transcri ão,
aparece a foto ~e George ~ ande a seguin~ legel}:-
a : "Cartª- de Allan Kardec à célebre escritora fran-

-cesa George Sand, "la bonne dame de Nohant",


c arta extraída do artigo de Suzanne Misset-Ho12ês
- "George Sand, spiritualiste", publicads> em "La
Tn une Psyc 1que , e Paris, 4º trimestre, 1976~.
Datada de 20 ae maio â e 857, um mês, portan-
to a ós ·o lançamento de"õ lliro dos Espíritos",
com ci;Karde~Cãm.inha ~xemplar d ãõbra:-
à escritora, observandõSer importãríte conhecer
a sua opinião acerca do livro e de seu co:rlteúdo
Rizzini, porém, tem mais informações a respei-
to, colocando em cheque as palavras da Dra.
Marlene. Reproduz ele uma declaração da médi-
ca, dizendo: "Ficamos sabendo (através de Chico)
que em uma de suas cartas George Sand disse a
Allan Kardec que ela e Chopin viviam como duas

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freiras e mais, que ela havia se tornado espírita,


mas preferia manter-se em silêncio, para não pre-
judicar o desenvolvimento da doutrina iniciante"
etc. Rizzini faz o seguinte questionamento: "Teria
Chico Xavier, realmente, cometido dois equívo-
cos em tão curto parágrafo? O primeiro aqui está.
O genial Chopin e sua bela amante George Sand ·
(pseudónimo da célebre escritora francesa baro-
nesa Dudevant) não viviam como freiras. Ao con-
trário. Chopin, não obstante moço franzino e
tuberculoso, jamais foi, sexualmente, abstêmio.
(... ) Chopin e Sand só deixaram de ter relações
íntimas quando ela regressou a Paris, abando-
k~~ando o compositor em uma das ilhas espanho-
~1\~ las. O fato é histórico".
%~1 Sobre o segundo equívoco referente ao silêncio
~1 de Sand sobre suas convicções espíritas, diz
Rizzini: "Essa notável mulher jamais ocultou sua
conversão ao Espiritismo. O mundo inteiro sa-
bia". E Rizzini relaciona fatos a esse respeito, in-
clusive correspondência trocada entre Sand e
Victor Hugo sobre o assunto, sendo que Hugo era
declaradamente espírita.
Conforme se pode constatar, as conclusões da
Dra. Marlene aparecem, sempre, de forma preci-
pitada, sem nenhum cuidado de ordem documen-
tal. É o que se pode ver, também, no seguinte
caso. Baseando-se, ainda uma vez, nas informa-
ções que Chico lhe teria passado e na sua capaci-
dade de recordar fatos ocorridos há muitos anos,
já que, apesar da importância do assunto não ti-
vera o cuidado de fazer as devidas anotações, re-
fere-se ela a uma festividade que teria acontecido ·

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no plano espiritual, em comemoração ao cente-


nário de lançamento de "O Livro dos Espíritos".
Na ocasião, "todos os trabalhadores do Brasil e
de outros países foram festejar, em um Grande
Encontro. (... )O médium falou da comoção de toda
a assembléia com a comemoração. Diante do re-
lato, eu quis saber quem presidira tão importan-
te conclave. Chico respondeu-me simplesmente:
"Léon Denis presidiu a reunião". Por que Denis, e
não Kardec, se indaga Marlene. Mas, refeita do
impacto da notícia, logo se recorda que quem lhe
estava dando a informação era o próprio Kardec
reencarnado. Com isso, conclui: "Mais um
indicativo de que Kardec está reencarnado, se não
estivesse, evidentemente, a direção do conclave
seria dele". E somou essa "prova" ao seu já exten-
so acervo de recordações. Por oportuno: se todos
os trabalhadores do Brasil e de outros países fo-
ram participar, sob a responsabilidade de quem
permaneceram os trabalhos e compromissos de-
les aqui na Terra enquanto lá estavam? Essas
coisas ilógicas perturbam tanto quanto as idéias
estapafúrdias.

TERIA SIDO UMA FARSA O CASAMENTO


DE KARDEC?

Continuemos com as colocações da Dra. Mar-


lene. Em documento que o Dr. Canuto de Abreu
lhe teria mostrado estava escrito do próprio pu-
nho de Kardec "mais ou menos o seguinte: de-
pois que Zéfiro me contou que eu fui Platão é que
pude compreender melhor a minha missão". Veja

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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bem, a médica não se lembra perfeitamente dos


dizeres da carta, mas utiliza a informação como
fato favorável às suas convicções. Mais tarde,
atendendo a um pedido de Chico, ela levou-o à
casa do Dr. Canuto, onde trocaram idéias e gen-
tilezas por um bom tempo, mas, por estranho que
pareça, o importante documento não foi mostra-
do ao médium. Ainda lá, a Dra. Marlene se per-
guntou mentalmente: "Se Platão não se casou, se
Chico não se casou, por que teria Allan Kardec se
casado?". Ou seja, admitiu que Kardec fora mes-
mo Platão, era agora Chico e permitiu-se ilações
coincidentes.
Numa ocasião posterior, ao reencontrar-se com
o médium, este ter-lhe-ia dito de forma espontâ-
nea e inesperada: "Allan Kardec não foi casado,
de fato, com Amélie Boudet. Houve um acordo
tácito entre os dois: Amélie, mais velha que ele
nove anos, cuidaria de todos os afazeres domés-
ticos e administrativos, enquanto ele ficaria in-
teiramente livre para trabalhar pela doutrina".
Foi tal a indignação do Dr. Ary Lex ao tomar
ciência da afirmação da Dra. Marlene que excla-
mou: "Esta invenção não merece qualquer comen-
tário". Mas, Nazareno Tourinho foi mais longe e
classificou a afirmação de "mirabolante e etica-
mente condenável". E disse: "basta lembrarmos
um pormenor (aliás, pormaior... ) esquecido pela
Dra. Marlene ou pelo Chico, ou por ambos: o ho-
mem que adotou no fim da vida o pseudõnimo de
Allan Kardec casou legalmente com Amélie-
Gabrielle Boudet no dia 6 de fevereiro de 1832,
vinte e cinco anos antes do surgimento da Dou-

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trina Espírita". A data


do casamento é confir-
mada pelos biógrafos
de Kardec.
Nazareno apresen-
ta, ainda, uma obser-
vação seguida de um
questionamento que
não pode ser deixado
de lado, pela lógica do
seu raciocínio. Diz ele
que "Marlene Nobre
nos revela, ou preten-
de nos revelar em sua
entrevista, não somen-
te que Francisco Cân- Amélie-Gabrielle Boudet,
que se casou com Allan
dido Xavier é Allan Kardec em 1832, época
Kardec, mas ainda que em que ele ainda não
Allan Kardec foi sabia que um dia faria
a obra espírita
Platão". Diante disso,
indaga: "como ela ex-
plica o fato de que a mais importante mensagem
de "O Livro dos Espíritos" (vide o capítulo
Prolegômenos) foi assinada também por Platão,
se o próprio Kardec era Platão?" Surge daí uma
trama curiosa, possivelmente explicada da seguin-
te forma pelos partidários do ChicojKardec: ora,
ora, em estado de vigília ele assinava como Kardec
(ou Rivail), mas durante o sono podia ser Platão
(e assinar como Platão). E eu acrescento: e as-
sassinar o bom senso!
Rizzini entra também aí, classificando a afir-
mação de "historieta das arábias posta por Mar-

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Iene na boca de Chico". Raciocina ele com base


nos dados historicamente comprovados referen-
tes ao casamento de Kardec com Amélie em 1832,
acrescentando: o "fato de o casal não haver pro-
criado não significa que Kardec e Amélie dormis-
sem em quartos separados. A vida sexual é natu-
ral e faz bem à saúde". E porque é importante
reunir todos os argumentos possíveis para com-
preender a situação, Rizzini afirma: "Só os que
guardam no inconsciente saudade dos velhos con-
ventos medievais é que sentem repugnância pelo
sexo, consideram-no "imundície", "pecado" ... ".
A respeito da afirmação sobre o "passado pla-
tónico" de Kardec (Nazareno bem lembrou a assi-
natura do filósofo grego nos Prolegômenos}, Rizzini
aponta outro detalhe que a isto se soma. Diz: "na
obra básica inseriu Allan Kardec na questão
1.009, sobre a "Duração das penas futuras" uma
mensagem enviada por Platão. Ora, se Kardec era
a reencarnação de Platão, logo a referida mensa-
gem não é mediúnica ... E não sendo mediúnica,
é mistificação. Na verdade, Platão é uma indivi-
dualidade e Kardec é outra. E Chico Xavier, ou-
tra ainda".
O fato lembrado por Rizzini é bastante grave.
Se a assinatura de Platão nos Prolegômenos pode
deixar alguma dúvida, a questão 1.009 derruba-
a totalmente. Para se ter uma idéia de sua mag-
nitude, vejamos o seguinte: trata-se de uma per-
gunta feita por Kardec aos Espíritos, assim for-
mulada: "Segundo isso, as penas impostas jamais
seriam eternas?" A resposta é longa, ocupa mais
de três páginas e, fato curioso, metade dela é de

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Platão e a outra metade de Paulo de Tarso, duas


personalidades históricas. A resposta de Platão é
direta, feita ao interlocutor, não deixando mar-
gem à dúvida sobre se falava com Kardec ou não.
Como se pode observar em sua formulação:
"Consultai o vosso bom senso, a vossa razão e
perguntai se uma condenação perpétua, em con-
seqüência de alguns momentos de erro, não se-
ria a negação da bondade de Deus( ... )". Lembre-
se, ainda, que a figura de Platão é expressiva na
doutrina espírita, estando colocada por Kardec
como um precursor dela. Assim, quando a ela
Kardec se refere, fala do filósofo grego que nos
deu a conhecer Sócrates e não de qualquer ou-
tro. Foi este mesmo Platão que assinou os
Prolegômenos e parte da resposta da questão
1.009. É, também, a este Platão que se refere a
Dra. Marlene quando pretende ligá-lo a Kardec.
Fica-se, portanto, diante de um novo impasse:
ou Kardec não foi Platão ou, se foi- o que preci-
saria ser provado - atestou a autoria de uma men-
sagem que não era de Platão. O impasse na ver-
dade não existe; é apenas aparente. Por uma sim-
ples questão de lógica, à qual já nos referimos
acima: Kardec, como Codificador, contou com a,
participação de Platão na elaboração da doutri-
na. Isso é indubitável. Rizzini, pois, está certo ao
enfatizar que Kardec é uma personalidade e Platão
outra.

***

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Entrando na
discussão, as-
sinala Hercula-
no Pires, confor-
me seu livro "Na
Hora do Teste-
munho": "Chico
Xavier é um ho-
mem, um mé-
dium, com mis-
são mediúnica
específica, e não
um líder, um di-
rigente, um orá- ..
culo grego. Tendo sido amigo de Chico
Compreenda- Xavier, Herculano Pires
mos isso e pro- dividiu com o médium a
autoria de livros e saiu em
curemos poupá- sua defesa em 1972,
lo, para que ele quando Massena declarou,
possa concluir pela primeira vez, que
acreditava ser Chico a
sua missão em reencarnação de lrardec
paz". 24 Não se
trata de uma
resposta direta
à Marlene; o "oráculo grego" no texto de Hercula-
no é apenas ocasional. Ocasional? Bem, continu-
em os.
O escritor e dramaturgo paraense Nazareno
Tourinho vai além. A hipótese que "transforma
em farsa o casamento de Allan Kardec, como se
uma vida conjugal desqualificasse um homem ou
uma mulher para exercer elevada missão
espiritualizante neste mundo"- afirma, não pode

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ser vista com bons olhos. E, referindo-se ainda


ao filósofo grego, diz: "Platão não casou, mas
Sócrates, maior que ele, pois foi seu mestre, teve
esposa".
De fato, é absolutamente impossível dar crédi-
to às afirmações da Dra. Marlene. Senão porque
lhe faltam provas, também porque jamais houve
quem quer que seja que fizesse qualquer alusão
a um acontecimento dessa natureza. As exausti-
vas pesquisas dos biógrafos de Kardec mostram
exatamente o contrário.
André Moreil, já citado, assim se refere ao ca-
sal que viveu uma união de trinta e sete anos:
"No mundo da literatura e do professorado que
freqüentava em Paris - escreve Henri Sausse -
Rivail encontrou a senhorita Amélie Boudet, pro-
fessora com diploma de primeira classe. Peque-
na, muito bem-feita de corpo, gentil e graciosa,
filha única de pais ricos, inteligente e viva, seus
sorrisos e seus dotes atraíram Rivail. Percebeu a
jovem que as maneiras finas, a grande dignida-
de, o espírito amável, franco e comunicativo de
Rivail encobriam um pensador sábio e profun-
do".2s
Moreil não deixa de anotar o seguinte: "Esse
retrato lisonjeiro é destinado a fazer esquecer que
a esposa tinha nove anos mais que Rivail. O esta-
do civil de Amélie-Gabrielle Boudet revela que era
filha de Julien Luis Boudet, proprietário e antigo
tabelião e de Julie Louise Seigneat de Lacombe,
tendo nascido em Thiais, no departamento do
Sena, em "2 de frimário do ano IV", isto é, em 23
de novembro de 1795". A seguir, informa sobre o

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AS DIFERENÇAS PSICOLÓGICAS DE
KARDEC E CHICO XAVIER

Quem levantou, pela vez primeira, a questão


das diferenças profundas entre as personalida-
des do Codificador e Chico Xavier não se sabe. É
certo, porém, que o argumento surgiu tão logo
apareceu a tese ChicojKardec. Isto levou os de-
fensores da tese a apresentar seus contra-argu-
mentos, como faz a Dra. Marlene Nobre, quando
rebate: "Não creio que , na Terra, sejamos peritos
em perfil psicológico e planejamento de reencar-
nação . Creio que muitos vultos do Cristianismo
já voltaram à Terra, em outros tempos, e não o
reconhecemos".
Por sua vez, o Dr. Ary Lex assim pondera: "A
Dra. Marlene não traz uma prova, um argumen-
to forte em favor de suas idéias. Apenas, quase
no fim do artigo, procura refutar o argumento de
que Chico "não tem o perfil psicológico de Allan
Kardec" e o faz de maneira não convincente". Está
clara, para ele, a imensa diferença existente en-
tre as duas personalidades: "Kardec foi um pen-
sador e pedagogo ilustre, com numerosas obras,
antes de se tornar espírita. Em todos os livros da
Codificação e em todos os volumes da Revista
Espírita, é com enorme brilhantismo que expõe
suas idéias e que refuta as objeções mais perigo-
sas. Foi um organizador, um esclarecedor, um
líder nato, escolhido a dedo pelos mentores espi-
rituais. Cultura invulgar, clareza de pensamen-
to, expositor cristalino".
Por aí também segue o pensamento de Ariston

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Santana Teles: "Entre Chico Xavier e Allan Kardec


vamos encontrar, ao fazermos uma comparação,
duas personalidades bem distintas : uma, a per-
sonificação do racionalismo clássico, pesquisa-
dor introspectivo, metódico e perspicaz; a outra,
alma sensível, sonhadora, bondosa, quase ingé-
nua. Cérebro e coração". Rizzini diria que "o cor-
po de Chico abriga uma alma feminina de
altíssimo nível evolutivo, cuja capacidade de amar
transcende a de nós outros . Ele irradia a pura
luz do amor. Do amor maternal pelo próximo".
E Chico, como é visto por Ary Lex? "Chico Xavier
nenhuma dessas qualidades possui de si mes-
mo . Tudo de grandioso e profundo que saiu de
sua pena proveio de luminares da Espiritualidade;
mas é um médium portentoso . As idéias dele
mesmo são expressas sem conteúdo filosófico ou
científico".
Nesta mesma posição se coloca Nazareno
Tourinho. Para ele, "todos os traços psicológicos
de Allan Kardec, todas as características da sua
personalidade diferem profundamente daquilo que
vemos em Francisco Cãndido Xavier, sendo im-
possível alguém mudar tanto em tão pouco tem-
po".
Arthur Massena não se contenta com a lógica
dos fatos e busca meios de explicar as diferenças
psicológicas, deixando implícita sua percepção de
que Chico Xavier tem um perfil feminino. Assim,
em vez de negar, explora o aspecto com o seguin-
te argumento: "O Espírito reencarna tanto como
homem quanto como mulher, pois precisa evolver
sob esses dois aspectos do ser humano". Até aí,

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nada a contestar; trata-se de um ponto doutriná-


rio evidente e conhecido dos estudiosos. O mes-
mo não se pode dizer das explicações seguintes.
Diz o jornalista: "Quando Kardec elaborou "O
Evangelho Segundo o Espiritismo", há de ter co-
meçado com ar paternal (severo, durão, intransi-
gente), mas, ao terminar, já deveria estar com ar
maternal (de condescendência, compreensão,
meiguice) tal a magia da reforma interior que a
obra promove em quem a lê de ponta a ponta,
meditadamente ... ". Como se vê, são suposições
nascidas a partir de um raciocínio infantil, medí-
ocre mesmo.
Mais difícil ainda é responder em termos raci-
onais e lógicos à pergunta feita pelo diretor do
jornal "Flama Espírita", de Uberaba, que desfru-
ta, também, de longa experiência no convívio com
Chico Xavier. Questiona ele: "não parece ao leitor
que 40 anos de intervalo (de 1869 a 1910 menos
9 meses) seriam insuficientes para uma tão radi-
cal mudança da feição individual do espírito?".30
Em pronunciamento feito durante o VIII Con-
gresso da USE, União das Sociedades Espíritas
do Estado de São Paulo, o médium e tribuno
Divaldo Pereira Franco também se posicionou a
respeito do assunto, mostrando as diferenças de
personalidade: "A personalidade de Chico, em
uma análise dos próprios conteúdos doutrinári-
os, difere frontalmente da linha direcional do ca-
ráter e do comportamento de Kardec. A tarefa do
Chico foi desdobrar as informações da
Codificação, ampliando-lhes o significado. Quan-
do Kardec disse que logo mais reencarnaria, não

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quer dizer que seja


ainda neste século. A
questão de tempo é
relativa. Não podemos
anuir que ele seja a
reencarnação de
Kardec. Isso não o
tornaria maior ou me-
nor".31
As referências a
respeito do homem
Allan Kardec mos-
tram-no como uma
criatura dotada de
sentimentos admirá- Divaldo Pereira
veis e elevada estatu- Franco, reconhecido
tribuno, também
ra moral. Diz Henri reconhece as
Sausse em seu estu- diferenças de
do biográfico que "er- personalidade entre
Chico e Kardec
raria quem acreditas-
se que, em virtude
dos seus trabalhos, Allan Kardec devia ser uma
personagc:m sempre fria e austera. Não era, en-
tretanto, assim. Esse grave filósofo, depois de
haver discutido pontos mais difíceis da psicolo-
gia e da metafisica transcendental, mostrava-se
expansivo, esforçando-se por distrair os convida-
dos que ele freqüentemente recebia na Vila Ségur;
conservando-se sempre digno e sóbrio em suas
expressões, sabia adubá-los com o nosso velho
sal gaulês em rasgos de causticante e afetuosa
bonomia. Gostava de rir com esse belo riso fran-
co, largo e comunicativo, e possuía um talento

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particular em fazer os outros partilharem do seu


bom humor". Wantuil e Thiesen afirmam que "o
grande missionário da doutrina era muito polido,
de fina educação, sério, mas não sisudo,
circunspecto e moralista por excelência". 32
O retrato que Deolindo Amorim faz de Allan
Kardec, inserto nos "Anais do Instituto de Cultu-
ra Espírita do Brasil", ano 1964 I 1970, é de gran-
de valia, pela agudeza de raciocínio: "Os Espíri-
tos que ditaram as bases da doutrina viram n:ele
o instrumento capaz e, por isso, na França culta
do século XIX, onde havia tantos outros homens
de valor intelectual, foram escolher, como que "a
dedo", como se costuma dizer, exatamente aque-
le que sintetizava em sua formação moral e inte-
lectual tudo quanto se pudesse exigir para uma
obra verdadeiramente missionária: honestidade,
humildade, perseverança, espírito analítico, de-
sinteresse material". Deolindo vai além, afirman-
do que "Allan Kardec era humanista, isto é, um
homem de grande cultura humana: conhecia lín-
guas, literatura, história, ciências básicas. (... )Era
um espírito frio no raciocínio crítico, não era frio
no sentimento ... ".
Um outro retrato do homem Allan Kardec é
apresentado pela Sra. Anna Blackwell e pode ser
encontrado no livro "História do Espiritismo", es-
crito pelo conhecido criador de Sherlock Holme,
Arthur Conan Doyle. Blackwell conheceu Kardec
pessoalmente e foi a primeira tradutora de seus
livros para o idioma inglês. Eis como ela se refere
ao Codificador:

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"Pessoalmente
Allan Kardec era
de estatura mé-
dia. Compleição
forte, com uma
cabeça grande,
redonda, macia,
feições bem
marcadas, olhos
pardos, claros,
mais se asseme-
lhando a um ale-
mão do que a um
francês. Enérgi-
co e perseveran-
Sir Arthur Conan
te, mas de tem- Doyle, autor de obras
peramento cal- espíritas, registrou o
mo, cauteloso e depoimento de Anna
Blackwell sobre a
não imaginoso figura de Allan Kardec
até a frieza, in-
crédulo por na-
tureza e por educação, pensador seguro e
lógico, e eminentemente prático no pensa-
mento e na ação. Era igualmente emancipa-
do do misticismo e do entusiasmo. Grave,
lento no falar, modesto nas maneiras, em-
bora não lhe faltasse uma certa calma dig-
nidade, resultante da seriedade e da segu-
rança mental, que eram traços distintos de
seu caráter. Nem provocava nem evitava dis-
cussão mas nunca fazia voluntariamente ob-
servações sobre o assunto a que havia devo-
tado toda a sua vida. Recebia com afabilida-

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de os inúmeros visitantes de toda a parte do


mundo que vinham conversar com éle a res-
peito dos pontos de vista nos quais o reco-
nheciam um expoente, respondendo à per-
guntas e objeções, explanando as dificulda-
des, e dando informações a todos os investi-
gadores sérios, com os quais falava com li-
berdade e animação. De rosto ocasionalmen-
te iluminado por um sorriso genial e agra-
dável, conquanto tal fosse a sua habitual se-
riedade de conduta que nunca se ouvia dele
uma gargalhada. Entre milhares de pessoas
por quem era visitado, estavam inúmeras
pessoas de alta posição social, literária, ar-
tística e científica. O Imperador Napoleão III,
cujo interesse pelos fenômenos espíritas não
era mistério para ninguém, procurou-o vári-
as vezes e teve longas palestras com ele nas
Tulleries, sobre a doutrina de "O Livro dos
Espíritos."

Apesar de tudo, o Dr. Jarbas Varanda consi-


dera que as diferenças de perfil psicológico "são
apenas aparentes, se levarmos em consideração
que os Espíritos Superiores podem, na
multiplicidade de suas missões, limitar ou
exteriorizar características já conquistadas em
outras existências". Como ele parte do princípio
de que Chico Xavier é um Espírito Superior, ape-
ga-se a este aspecto para justificar o fato eviden-
te. Nazareno Tourinho alcança, porém, o ponto
nevrálgico ao perguntar se é possível uma mu-
dança tão profunda no curto espaço de uma

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encarnaÇão e outra. Mas poderíamos perguntar


também: se seria necessária essa mudança. Não
é mais fácil acreditar que um outro Espírito que
não fosse Kardec poderia realizar trabalho idên-.
tico ao que Chico Xavier desenvolve?
A Dra. Marlene Nobre não se dá por vencida e
afirma que a dificuldade à aceitação de Chico
como Kardec "está no total despojamento com que
Chico se apresenta na atual reencarnação. É di-
fícil visualizar Kardec em uma criatura pobre, que
fez somente o curso primário, que trabalhou e se
aposentou como simples escriturário de uma re-
partição pública e apagou-se para que os Benfei-
tores Espirituais fossem exaltados". Enfim, são
argumentos que não conferem com as objeções
apresentadas, porque não representam o cerne
da questão.
Talvez, por tudo isto e alguma coisa mais foi
que Antônio César Perri de Carvalho, em seu li-
vro "Chico Xavier, o Homem e a Obra" resolveu
dizer: "A figura de Chico Xavier como p essoa é
muito pouco conhecida. Tende-se a idolatrá-lo,
esquecendo-se de reações mais simples e natu-
rais do ser humano ... ". 33

AS MENSAGENS QUE KARDEC


NÃO TERIA ENVIADO

Um dos argumentos utilizados a favor da reen-


carnação de Kardec como Chico Xavier é a hipo-
tética ausência do Codificador nas psicografias,
ou seja, Kardec não teria se manifestado
mediunicamente após seu retorno à

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Espiritualidade. Considera-se que se ele está de


fato na Espiritualidade deveria, forçosamente,
estar acompanhando o desenvolvimento de sua
obra e opinando; e se manifestaria, sem nenhu-
ma dúvida, através do médium mineiro, o mais
indicado para recebê-lo.
O Dr. Jarbas Varanda coloca o assunto: "Na
verdade, de longa data, registra-se a ausência de
comunicações do Codificador, principalmente
através de Chico Xavier, a maior "antena psíqui-
ca" do século XX". Parece implícito que os nomes
mais destacados deveriam utilizar-se de Chico
para suas possíveis manifestações; Kardec, po-
rém, não poderia jamais se omitir, já que é a figu-
ra central da Codificação e o maior interessado
no seu sucesso. Mesmo correndo o risco de não
sermos levados em consideração, por razões ób-
vias, é preciso assinalar que a extraordinária re-
lação de personalidades que já se manifestaram
através do Chico, acima de mil, não contempla
todos os nomes importantes do Espiritismo, nem
mesmo alguns que tiveram presença acentuada
ao lado de Kardec. Não se conhece, por exemplo,
manifestações pelo Chico, de Léon Denis, Camille
Flamarion, Gabriel Delanne e tantos outros .. As-
sim, a questão colocada para Kardec deverá valer
para outros. Estariam todos eles, necessariamen-
te, reencarnados pelo simples fato de não se te-
rem manifestado? A resposta é: não! Uma coisa
não tem que ver com outra.
Mas, ao mesmo tempo em que figuras expres-
sivas não se manifestaram e possivelmente não
se manifestem, dezenas há que o fizeram cujo

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nome não figura em nenhuma lista de notória


importância pública. Há até mesmo aqueles que
só se tornaram conhecidos e admirados depois
que surgiram pelas vias mediúnicas. Quem era
André Luiz, por exemplo, antes de apresentar suas
obras psicografadas pelo Chico? Analisando seus
livros, fica fácil, hoje, determinar o valor de sua
inteligência e, portanto, considerar a importãn-
cia de sua presença no contexto teórico do Espi-
ritismo, na era pós-Kardec. Antes, porém, era um
desconhecido. Das razões verdadeiras que deter-
minam a presença de uns e a ausência de outros,
pouco ou nada se sabe. Pode-se especular e pode-
se, mesmo, inferir as informações contidas na li-
teratura doutrinária, mas não há como garantir
que seja por esta ou aquela razão que fulano se
apresenta e sicrano não, afora os casos explíci-
tos.
Pela expressão "longa data" poderíamos enten-
der que o Dr. Jarbas estivesse se referindo à
inexistência de comunicações mediúnicas de
Kardec somente no período relativo ao trabalho
do Chico e realizadas através deste. Mas, logo se
vê que o· referido médico fala do período que vai
da sua desencarnação até os dias atuais. É o que
se constata: "Por que tal silêncio? Por que a au-
sência do Codificador desde sua desencarnação?
Não deveria ele continuar, na Espiritualidade, a
sua obra, ditando livros visando desenvolver os
ensinos dos Espíritos, principalmente através da
mediunidade missionária de Chico Xavier, que
melhor reuniu, como reúne, as condições espiri-
tuais de credibilidade na Terra para recebê-la?"

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O texto conduz a diversas observações. Em


primeiro lugar, dev mos perguntar: por que
Kardec teria de continuar escrevendo livros? De
onde o Dr. Jarb tirou essa .conclusão? Onde
está a exigên ia p r qu isso acontecesse? Não
se sabe, não b porque inexistem razões
claras qu d t rmin m a Kardec o prossegui-
mento da sua obr por ta via, e apenas por esta
via. M smo qu houv razão para tanto po-
der-s -ia ind p r unt r: por que deveria ser
atrav ' s d Chi o? O fato d ser ele um e~traordi­
nário m · di um, d grand credibilidade, será
determinante para que faça inevitavelmente a
intermediação entre o Espírito do Codificador e o
nosso plano? Seria forçoso vir através do Chico?
Se se manifestasse por outra via estaria
desconsiderando de alguma maneira o valoroso
trabalho do médium mineiro? A conclusão do Dr.
Jarbas, logo se vê, demonstra certo grau de su-
perficialidade, tanto em relação ao bom senso
quanto aos princípios e mecanismos da
mediunidade, tão amplamente desenvolvidos por
Kardec. E confirma o que asseverou Descartes
no Discurso do Método: o bom senso é a coisa
mais bem repartida que existe, porque cada um
tem dele uma parcela tal que julga não precisar
de mais.
Vemos, pois, que Kardec poderia prosseguir na
Espiritualidade o seu trabalho por numerosas
outras vias, sem que uma delas fosse obrigatori-
amente a mediúnica. Do estudo e da observação
resulta claro que os Espíritos, e com muito mais
razão os mais evoluídos, possuem um vastíssimo

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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campo de atuação na Espiritualidade e mesmo


quando se tra ta d e influírem objetivamente na
sociedade terren a, possuem variados meios. Um
deles é, s em dúvid a, a mediunidad e.
Passemos à questão d a "ausência" de Kardec
no desenvolvimento da doutrina . Será mesmo
verdadeiro que ele não transmitiu nenhuma men-
sagem após seu retorno ao plano espiritual? É
uma questão a ser analisada e para tanto vamos
recorrer aos documentos, a fim de que cada um
tire sua conclusão.
Comecemos por André Moreil e seu livro "Vida
e Obra de Allan Kardec". Está lá escrito: "Na se-
gunda-feira da Páscoa de 1910 (note bem o lei-
tor, 191 O), no centro "Esperança" de Lião , por
intermédio da Srta. Bernadette em estado de so-
nambulismo, Allan Kardec manifestou-se para
agradecer ao que fora até então o seu único bió-
grafo, o espírita Henri Sausse". 34 A Páscoa de 191 O
coincide exatamente com o retorno ao corpo físi-
co do Espírito que hoje conhecemos por Chico
Xavier. Como se sabe, Chico nasceu em 2 de abril
de 1910. Se André Moreil merece crédito e, na
opinião de José Herculano Pires, que prefaciou o
livro, merece, então teremos que esclarecer a se-
guinte questão: no mesmo período em que Chico
preparava seus primeiros vagidos, Alla n Kardec
se manifestava mediunicamente p a ra agradecer
seu amigo e primeiro biógrafo Henri Sausse. Se
ainda assim considerarmos seja possível uma
coisa e outra ao m esmo tempo, temos outra ques-
tão tão importante qua n to: será crível que um
Espírito possa, no período mais crítico de seu re-

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Chico, Você é Kardec? PENSE - Pensamento Social Espírita
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torno à matéria, aquele em que todas as suas fa-


culdades obscurecem, ainda assim se manter ple-
namente lúcido a ponto de acompanhar o que se
passa longe dali e opinar com plena lucidez?
De qualquer modo antes mesmo de chegar a
uma conclusão, d v mos analisar o que disse-
ram os Espírito n qu stão 351 de "O Livro dos
Espíritos". Lá stá: "Desde o instante da concep-
ção, a perturb m ça a envolver o Espírito,
advertido, assim, d qu chegou o momento de
tomar uma nov xistência; essa perturbação vai
crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu
estado é mais ou menos o de um Espírito encar-
nado, durante o sono do corpo . À medida que o
momento do nascimento se aproxima, suas idéi-
as se apagam, assim como a lembrança do pas-
sado se apaga desde que entrou na vida".
Mas, voltemos a André Moreil. Dá-nos ele a
conhecer um trecho da mensagem ao biógrafo
Henri Sausse: "Sabeis que a minha tarefa está
longe de haver terminado; considerada em seu
foco verdadeiro, não é mais que imperfeito esbo-
ço; pois o infinito nos penetra e nos confunde;
mas a bondade do Pai recompensa nossos esfor-
ços muito além do que podíamos esperar. Agra-
deço o zelo amigo e consciencioso de que usastes
para escrever a minha biografia. Aprovo-a total-
mente; os retoques não seriam mais que insigni-
ficantes; agrada-me tal como está. Muito obriga-
do!". 3s
Vamos em frente. Em seu livro "Allan Kardec",
volume III, Wantuil e Thiesen falam de várias
mensagens transmitidas por Kardec pouco após

142
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sua desencarnação, todas elas publicadas na


"Revue Spirite" de 1869, muitas recebidas na
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas por
diferentes médiuns e outras em locais diversos .
Em uma delas , er a m édium a conhecida espírita
Miss Anna Blackwell e estava presente o Sr.
Peebles , redator do "Banner of Light", jornal
espiritualista de Boston (EUA). Kardec pede que
suas obras sejam traduzidas para o inglês e
lançadas nos Estados Unidos, tendo sido atendi-
do pela própria Sra. Blackwell. Uma das mensa-
gens foi dada em novembro de 1869 e está trans-
crita no livro "Obras Póstumas". Dizem, então, os
biógrafos : "Muitas outras instruções foram pos-
teriormente ditadas pelo Espírito de Allan Kardec,
e os que o conheceram na existência terrena tive-
ram assim mais uma indubitável confirmação de
que a vida continua".
Os registros de comunicações dadas por Kardec
já na condição de Espírito fora do corpo físico não
ficam apenas no período imediatamente posteri-
or à sua desencarnação. Avançam no tempo e uma
dessas mensagens merece destaque, apesar de
ser bem conhecida dos estudiosos. Foi dirigida
ao extraordinário filósofo Léon Denis no ano de
1925 (mais uma vez, anote o leitor a data), con-
tendo um veemente apelo de Kardec para que
comparecesse ao congresso espiritualista daque-
le ano, em virtude da importâ ncia do evento para
o Espiritismo. As informações davam conta de que
a doutrina precisava então de um defensor lúci-
do e enérgico, para evitar prejuízos futuros à sua
disseminação. Denis era o homem. Apesar de sua

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idade avançada, pois tinha mais de 80 anos, e


dos problemas físicos que a idade acarretava,
Denis aquiesceu ao chamado, tendo sido, de fato,
a figura de maior expressão do congresso, por sua
atuação, o que lhe valeu inúmeras homenagens
prestadas pelas destacadas personalidades pre-
sentes.
José Herculano Pires se refere a essa mensa-
gem remetida a Denis, em seu livro "Na Hora do
Testemunho", dizendo: "Em 1925, quando se reu-
niu em Paris o Congresso Espiritualista Interna-
cional, o próprio Kardec, através de comunica-
ções mediúnicas, teve de forçar Léon Denis, já
velho e cego, a sair de Tours, na província, para
defender o Espiritismo dos enxertos que lhe pre-
tendiam fazer os representantes de várias ten-
dências, com a aceitação ingênua de ilustres mas
desprevenidos militantes espíritas". 36
Dois documentos importantes, no caso, são os
livros "Léon Denis, Vida e Obra", de Gaston Luce,
e "O Gênio Céltico e o Mundo Invisível", do pró-
prio Léon Denis. No primeiro, o biógrafo refere-se
à manifestação mediúnica de Kardec estimulan-
do Denis a ir ao Congresso de 1925. O registro
fica apenas nesta menção. Já em "O Gênio Céltico
e o Mundo Invisível", derradeira obra de Denis, o
famoso filósofo transcreve outras mensagens do
mesmo Espírito, dadas na época em que Chico já
passava dos 15 anos de idade, o que torna ainda
mais improvável fossem ele e Kardec a mesma
personalidade. Mesmo que se queira utilizar o
argumento de que o Espírito encarnado não está
totalmente impossibilitado de se manifestar

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mediunicamente, o que é verdadeiro em certa


medida, uma análise das referidas mensagens vai
demonstrar que as preocupações ali anotadas pelo
manifestante são próprias de quem está acompa-
nhando os acontecimentos de um posto de ob-
servação diferente de um Espírito preso ao corpo
físico.
Devemos registrar um outro fato. Denis faz uma
anotação interessante no livro, a respeito de uma
notícia que então se divulgava, dando conta de
que Kardec estaria na época reencarnado. Ora,
isso demonstra como a questão é antiga. Denis
escreveu o livro em 1927, quando Chico estava
com 17 anos de idade e dava início à sua tarefa
mediúnica. Já havia na ocasião aqueles que ad-
mitiam estar Kardec reencarnado mas não como
Chico, note-se! Era ele um francês, com cerca de
30 anos de idade, portanto, teria reencarnado
antes do novo século. Eis o registro de Denis:
"Uma outra objeção consiste em pretender que
Allan Kardec está reencarnado no Havre, desde
1897. Trinta anos teriam passado de sua nova
existência terrestre. Ora, pode-se admitir que um
espírito deste valor tenha esperado tão longo tem-
po para se revelar por o bras ou ações adequa-
das? Além disso , Allan Kardec não se comunica
unicamente em Tours , mas também em muitos
outros grupos espíritas da França e da Bélgica.
Em todos esses lugares ele se afirma pela autori-
dade de sua palavra e a sabedoria de seus conhe-
cimentos".37
Como se observa, Denis não só não aceitava a
informação que dava conta da reencarnação de

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Kardec como, também, informava que o


Codificador vinha se manifestando ali, em seu
grupo, e em outros da França e da Bélgica. E mais:
acreditava nestas manifestações, em que via pre-
sente a "autoridade de sua palavra (do Codificador)
e a sabedoria de seus conhecimentos".

***

Wantuil e Thiesen reproduzem, ainda, na mes-


ma obra, uma mensagem transmitida por Kardec
nb dia 14 de junho de 1979, no Grupo Espírita
Ismael, do Rio de Janeiro. A íntegra do documen-
to aparece ao final do volume III, fechando a bio-
grafia. Como se vê, há uma farta documentação
tratando das manifestações do Espírito de Allan
Kardec ao longo dos últimos 140 anos.
Ao supor a ausência do Codificador e concluir
que ele deveria, forçosamente, continuar sua obra
transmitindo mediunicamente outros livros (atra-
vés de Chico Xavier) caso estivesse ainda na
Espiritualidade, o Dr. Jarbas demonstra que não
tem conhecimento histórico ou, então, entende
que os documentos são destituídos de valor, o
que seria o mesmo que dizer que todos os mé-
diuns que os receberam e todos os homens que
os analisaram e aceitaram estão equivocados. É
lícito, entretanto, acreditar que um homem cul-
to, como o Dr. Jarbas, com sua experiência e ta-
lento não desconhece, em absoluto, aqueles do-
cumentos, seja porque estão amplamente divul-
gados, seja porque dizem respeito diretamente à
questão que ele preza e apóia. Assim, resta-nos

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admitir a segunda hipótese, a un1ca que pode


justificar o enfático posicionamento tomado por
ele, quando declara que "se Chico Xavier não for
a reencarnação de Allan Kardec, então o
Codificador, lamentavelmente, foi omisso nodes-
dobramento da Codificação, deixando de oferecer
sua contribuição através da obra mediúnica do
médium de Pedro Leopoldo".
É preciso não esquecer outro detalhe: a posi-
ção do Dr. Jarbas Varanda conta, com certeza,
com o apoio do ex-presidente da Federação Espí-
rita do Estado de Goiás, Weimar Muniz de Souza,
o qual, como se viu, ainda na condição de presi-
dente daquela instituição, fez com ele a entrevis-
ta e a publicou na revista "Goiás Espírita", colo-
cando ao lado a mensagem "A Volta de Allan
Kardec", do médium Baduy Filho, e dando desta-
que de capa. Com isso, não só o Dr. Jarbas fica
em uma situação difícil de resolver como o pró-
prio Weimar que, como autoridade naquele Esta-
do e relacionado intimamente coi:n a Federação
Espírita Brasileira, que publicou os documentos
referentes às mensagens póstumas de Kardec,
certamente conhece de sobejo.
Finalmente, é oportuno recordar a mensagem
atribuída a Allan Kardec, recebida pelo médium
português Fernando de Lacerda, em Lisboa, em
1907, conforme mencionamos no segundo capí-
tulo, incorretamente utilizada a favor da tese
ChicojKardec por Maria Gertrudes Coelho. Ao
aceitar a mensagem como profética em relação
ao retorno do Codificador, a autora do livro "Chico
Xavier, Coração do Brasil" atribuiu-lhe

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credibilidade e, por conseguinte, estendeu essa


credibilidade ao médium português. Resta saber
se ela mantém a posição. De qualquer maneira,
trata-se de mais um fato prejudicial à opinião de
que Kardec não transmitiu nenhuma mensagem
depois de sua des n arnação.

NO CLIMA DO PASSADO, UMA OPINIÃO E


UMA DECLARAÇAO DISCUTÍVEIS

O conjunto da m nifestações favoráveis à tese


Chico/Kard constitui uma peça repleta de in-
formações amplamente discutíveis e em grande
parte nulas. Outro argumento utilizado pelo Dr.
J arbas Varanda a favor de Chi c o/ Kardec é o de
que os sofrimentos físicos por que passou e pas-
sa ele na vida são inerentes à sua condição de
Espírito encarnado, o que, de modo geral, ocorre
com qualquer um. Para firmar esse ponto ele diz:
"Negar essa condição de Espírito Superior a Chico
Xavier, pelo fato de sua vida ter sido ponteada de
sofrimentos -características comuns de Espíri-
tos imperfeitos - é esquecer a lição de André Luiz
quando classifica a Dor como originária de três
fontes: evolução, expiação e missão". Esta clas-
sificação da dor faz sentido, mas não podemos
incorrer em outro tipo de confusão: misturar tudo
num mesmo saco. Há muita diferença na dor re-
sultante da vida de um Espírito em processo de
expiação e na que sofre o Espírito em missão na
Terra. Não vai aqui nenhuma alusão a Chico ou a
quem quer que seja, porque esse tipo de situação
não deve entrar em julgamento. Assinale-se, con-

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tudo, que a dor que sofr m Espírito imperfeito,


em razão de causas div r nas quais entra a
expiação, e até mesmo a pr v ão, é diferente da
que se submete um Espíri qu vem ao planeta
para realizar trabalho em prol do progresso hu-
mano simplesmente. Nest aso, diz o bom senso
que o Espírito se submete às vicissitudes do cor-
po fisico e fica à mercê da imperfeição da maté-
ria, embora se saiba que em boa parte consegue
superar muitas dessas vicissitudes.
Vejamos, por exemplo, a vida de Allan Kardec:
não há nela sinais evidentes de dores resultantes
de outras causas , senão daquelas a que não po-
deria se furtar e que resultaram na necessidade
de cuidados naturais, até que, num dado momen-
to, o corpo sucumbiu. O que ocorre com os Espí-
ritos em provação é, entre outras coisas, um
somatório de causas , ou seja, aquelas que pro-
vêm de suas imperfeições e as que são naturais à
vida material. Estas causas se juntam e fixam
uma situação comprometida com o passado e o
presente. Em ambos os casos, as dores serão de
ordem fisica e de ordem moral, mas refletirão si-
tuações completamente diferentes.
Este olhar sobre a questão da Dor, elemento
tão destacado nas especulações filosóficas e hoje
em dia muito valorizado pela ciência médica e
psicológica, oferece outros elementos de análise
e possibilita melhores condições para um resul-
tado final.

***
Observando ainda as declarações da Dra. Mar-

149
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Iene Nobre em sua entrevista na "Folha Espírita",


o Dr. Ary anota o seguinte texto e em seguida o
comenta: "Era como se o Chico nos devolvesse o
clima dos primeiros tempos do Cristianismo na
Galiléia distante" . Devolver quer dizer restituir,
reenviar. Chico estava, portanto, trazendo, ao vivo,
a Marlene daqu I primeiros tempos do Cristia-
nismo". O Dr. Ary d monstra assim, com certa
ironia, a intenção contida na declaração, de ten-
tar passar a id ·ia qu ela, Marlene, estivera pre-
sente nos saudo o t mpos da missão de Jesus e
tinha, portanto, saudades daquela época. Análi-
ses dessa natureza não são, ao contrário do que
se possa pensar, sem importância para o contex-
to geral do assunto, uma vez que ajudam a en-
tender que há outros interesses por trás das in-
tenções declaradas.
Por isso, o Dr. Ary continua, ainda na coloca-
ção da Dra. Marlene, dizendo que, como Chico
Xavier "Kardec superou-se a si mesmo", temos a
seguinte "tradução: Chico é Kardec mais evoluí-
do; Chico superou a Kardec". E fecha com uma
exclamação que é ao mesmo tempo um verdadei-
ro desabafo: "Precisa a Dra. Marlene possuir alta
dose de irresponsabilidade para dizer isso".
É ainda o Dr. Ary quem afirma: "Na última co-
luna de seu infeliz artigo declara (a Dra. Marlene)
que Chico Xavier "possui um património intelec-
tual e sentimental extraordinário, próprio de Es-
pírito Puro ... ". Esta afirmação é uma verdadeira
aberração, que afronta o conceito de Espírito Puro
explicitado na Codificação Espírita. Chico Xavier
é, a nosso ver, o melhor médium que o Brasil já

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teve, em todos os tempos. Suas qualidades mo-


rais são inexcedíveis e desempenhou-se
magnificamente das tarefas a ele confiadas. Mas,
considerá-lo Espírito Puro vai uma distãncia
muito grande".
Como se observa, submetidos ao domínio da
emoção, os adeptos da tese reencarnacionista de
Kardec como Chico Xavier ora classificam o mé-
dium mineiro de Espírito Superior, ora de Espíri-
to Puro e nos dois casos cometem imprudência.
Mas é de fato quando o classificam como Espírito
Puro que mais agridem as informações de "O Li-
vro dos Espíritos", conforme observa Ary Lex. Vale,
pois, conferir na fonte se o Dr. Ary Lex tem ou
não razão. Na questão 111 do referido livro apa-
rece a seguinte definição de Espírito Superior:

"Reúnem a ciência, a sabedoria e a bon-


dade. Sua linguagem, que só transpira be-
nevolência, é sempre digna, elevada, e
freqüentemente sublime. Sua superioridade
os torna, mais que os outros, aptos a nos
proporcionar as mais justas noções sobre as
coisas do mundo incorpóreo, dentro dos li-
mites do que é dado conhecer. Comunicam-
se voluntariamente com os que procuram de
boa fê a verdade e cujas almas estejam bas-
tante libertas dos liames terrenos, para com-
preender; mas afastam-se dos que são mo-
vidos apenas pela curiosidade ou que, pela
influência da matéria, se desviam da prática
do bem. Quando, por exceção, se encarnam
na Terra, é para cumprir uma missão de pro-

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gresso, e então nos oferecem o tipo de per-


feição a que a humanidade pode aspirar nes-
te mundo."

Dentro das limitaçõ s dos nossos conhecimen-


tos, a classificaç - o d Espírito Superior atribuída
a Chico Xavier p d ria ser relevada, embora dis-
cutível sob div r os ângulos. Afinal, até onde vai
a nossa ap i d entender o que é reunir "a
ciência, a s b d ri e a bondade" num grau tão
elevado, m r · d esperar de um Espírito que
foi àlçad • ' gunda ela se , ou seja, a segunda
em importância na escala dos Espíritos. A forma
magistral como Chico vem se desincumbindo de
seus compromissos e superando todo tipo de pro-
vação física e moral é compatível com essa clas-
sificação? Em sã consciência, não há como ga-
rantir, o que não diminui em nada a extraordiná-
ria vida do médium mineiro.
A classe imediatamente acima dos Espíritos
Superiores é a dos Espíritos Puros, a mais alta de
todas, e para essa Kardec apresenta a seguinte
concei tuação:

"Percorreram todos os graus da escala e


se despojaram de todas as impurezas da
matéria. Havendo atingido a soma de perfei-
ções de que é suscetível a criatura, não têm
mais provas nem expiações a sofrer. Não
estando mais sujeitos à reencarnação em
corpos perecíveis , vivem a vida eterna, que
desfrutam no seio de Deus."

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Como se pode observar, a Ora. Marlene se ex-


cedeu incrivelmente ao atribuir a Chico Xavier a
condição de Espírito Puro. Mas tudo is os rela-
ciona com outros detalhes de ordem p s icológica,
como se depreende das observações feitas pelo
Dr. Ary Lex. Segundo ele, a Dra. Marlene procura
mostrar. "a grande intimidade que tem com o
médium de Uberaba, recebendo dele as maiores
atenções e acompanhando de perto os seus tra-
balhos. Se Chico é Kardec, sua intimidade é tam-
bém com Kardec e, como este, tem ela "imensa
responsabilidade perante Jesus". Ora, se Kardec
é Chico e Chico é um Espírito Puro, logo a Dra.
Marlene e os demais íntimos do Chico estão mui-
to bem acompanhados. Esta é a conclusão a que
se pode chegar.

***
Na edição de setembro de 1998 da "Folha Es-
pírita", a Dra. Marlene fez publicar matéria con-
tendo respostas aos questionamentos contrários
suscitados pela sua entrevista, a maioria deles
aqui apresentados. Reafirma ela sua posição em
relação à tese Chico/Kardec e tenta elucidar al-
guns aspectos doutrinários, sem, no entanto,
apresentar argumentos convincentes e, menos
ainda, provas efetivas ou documentos que ampa-
rassem suas opiniões. Permaneceu no terreno das
emoções e dos sentimentos, joga ndo com eles in-
clusive para desmerecer aqueles que se opuse-
ram de maneira con tundente. Sequer se deu ao
trabalho de apreciar com meridiana serenidade
as opiniões contrárias, preferindo tomá-las a priori

153
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por errôneas e inconvenientes, agressivas e des-


respeitosas.
Convém registrar que a mesma "Folha Espíri-
ta", nos números posteriores à publicação da en-
trevista da Dra. Marlene, continuou falando do
tema, mas apenas através de matérias assinadas
por articulistas favoráveis à tese, com destaque
para Fernando Ós e João Cuim. Apesar disso,
nada de novo foi apresentado; os trabalhos bus-
caram unicamente reforçar os argumentos que
analisamos aqui. Em vista disso, dispensamo-nos
de apreciá-los.

***
Poderíamos concluir este capítulo apresentan-
do um resumo geral de tudo o que foi levantado,
mas acreditamos que isso seja perfeitamente dis-
pensável. Há aspectos que não podem ser nega-
dos, como, por exemplo, o fato de não haver ne-
nhuma prova concreta a favor da tese da reen-
camação de Kardec como Chico Xavier. Como
também não há em relação a qualquer outra pes-
soa e isso deveria ser suficiente para colocar o
assunto no seu devido lugar perante a doutrina
espírita. Entretanto, de tudo o que foi dito uma
coisa nos parece certa: para ser grande, Chico
Xavier não precisa necessariamente ter sido
Kardec.

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CAPÍTULO IV

O que Chico de fato disse a seu respeito

A FAMILIARIDADE CEGA.
EDUARDO GIANNETTI

Ninguém desconhece que muitas coisas atri-


buídas a Chico Xavier fazem parte de uma espé-
cie de folclore criado em torno de sua figura la-
mentavelmente mitificada ainda em vida. Mas, o
que ele de fato disse? Essa é uma questão a ser
respondida. Inúmeros registras são feitos, em li-
vros, na imprensa espírita e através de depoimen-
tos pessoais, tendo por fonte única a memória. E,
diga-se de passagem, em boa parte baseadas em
relatos de fontes secundárias, distantes do foco
dos acontecimentos, dando margem a que se cum-
pra o dito popular: "quem conta um conto au-
menta um ponto".
Algumas vezes, ao Chico se imputou determi-
nadas idéias que geraram tremendos dissabores
ao movimento espírita. "O Chico disse" virou ex-
pressão para validar desejos de médiuns de pu-

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blicar livros psicografados, de pessoas para jus-


tificar problemas reencarnatórios e, até, de insti-
tuições para alterar textos da Codificação. Diri-
gentes de todo o Brasil passaram a se dirigir a
Pedro Leopoldo e depois a Uberaba à procura do
médium. Queriam ouvir sua palavra e não pou-
cos retornaram às suas casas decididos a esta-
belecer mudanças por conta de "revelações·" do
médium mineiro. Perri afirma em seu livro: "No
período em que Chico Xavier atendia numeroso
público, sempre notamos que muitos dirigentes e
médiuns procuravam-no para que ele referendas-
se suas ações e propostas". 38
Alguns do grupo mais chegados valeram-se de
sua intimidade para obter informações dessa con-
vivência em dois mundos de Chico e utilizá-las
como moeda de troca num mercado extremamente
desfavorável ao consumidor. Ganharam a admi-
ração de muitos, especialmente daqueles que não
alcançavam o médium senão depois de horas
numa fila interminável. Abastardaram as infor-
mações e as meteram na bolsa da memória, para
dali sacá-las sempre que precisavam se livrar de
situações inoportunas ou satisfazer vaidades.
Vimos como isso ocorre de maneira acentuada
nas declarações dos partidários da tese Chico /
Kardec, com a agravante das informações virem
destituídas de bom senso e aparecerem aos olhos
mais exigentes como ridículas ou que ridiculari-
zam o médium e, quando não, o movimento espí-
rita. Adelino da Silveira, como lembra Antônio de
Paiva em seu livro de refutação, refere-se às res-
postas que o Chico lhe teria dado. Em uma delas,

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obtivera uma preciosa revelação: o fumante, após


a morte, teria a oportunidade d e deixar o vício de
uma forma branda. Eis a nota: "Se uma pessoa
desencarna com o hábito de fumar, no Mundo
Espiritual ela recebe cinco cigarros por dia por
mais um ano; depois, passa a receber dois cigar-
ros por dia por mais um ano. Decorrido esse pra-
zo, ela já está com forças e é convidada a deixar o
hábito inconveniente".
Assustado com tão mirabolante revelação, Paiva
não se contém: "Coisas assim não deviam ser
publicadas, ainda mais tratando-se de Chico
Xavier, que, para muitos, é um ídolo, cuja pala-
vra acaba tendo mais peso que os próprios
ensinamentos da Doutrina Espírita ... ". É o que
realmente acontece. Muitos espíritas, com o re-
forço de afirmações atribuídas a Chico Xavier, se
permitem dispensar as obras básicas onde estão
de fato os estudos que deveriam nortear o seu
conhecimento.
Precisamos ouvir Chico, sim. Não apenas o que
dizem que ele disse. Preferencialmente, o que de
fato afirmou por escrito ou em gravações de fita
ou vídeo. O testemunho de outras pessoas é im-
portante, mas o que vem do próprio médium é
indiscutível do ponto de vista tanto do que ele
pensa como, também, do que pensam os Espíri-
tos. Claro, não vamos nos permitir o mesmo en-
gano dos que se deixam envolver emocionalmen-
te em excesso e dos defensores da tese Chico I
Kardec, que lançam mão de tudo o que o médium
mineiro diz como se o Emmanuel estivesse sem-
pre por detrás dele, quando não falando direta-

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mente.
Kardec, o Codificador, ensina que uma das for-
mas de conhecer como agem os Espíritos fora do
corpo físico é analisar a própria sociedade huma-
na. E o que sabemos dela? Por mais que se possa
contar com os conselhos e as orientações dos
amigos sempre presentes, temos nossas próprias
convicções, tomamos decisões por nossa conta
consoante o livre-arbítrio, o que nos dá a respon-
sabilidade dos nossos atos e permite colher os
resultados. Não é diferente no mundo dGs Espíri-
tos. Também não é na relação dos médiuns com
seus mentores. Chico Xavier, portanto, quando
opina pode e deve ser visto como uma pessoa
normal que expressa os seus pensamentos.
A questão da tese Chico / Kardec acaba por en-
volver outros aspectos ligados ou não à reencar-
nação. É por isso que as manifestações do mé-
dium mineiro são também importantes. Vamos,
pois, ouvi-lo.
Chico sempre se mostrou uma pessoa comum.
Quando os críticos o classificam de ingénuo em
alguns episódios, não o fazem com o fim de o de-
negrir. Absolutamente. Desejam apenas mostrar
essa faceta humana do médium, natural e em
nada desmerecedora de sua atividade. Isso es-
tende o raciocínio para outros focos, como, por
exemplo, os sofrimentos pelos quais passa desde
a infância, próprios de Espíritos comprometidos
em outras existências, na vida particular e na vida
pública. Espíritos missionários e Espíritos em
provação estão submetidos às mesmas dificulda-
des em termos físicos quando reencarnam, como

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se depreende de "O Livro dos Espíritos". A maté-


ria possui sua própria realidade, da qual não pode
fugir nenhum Espírito ao contato com ela. Os mais
adiantados conseguem sobrepujar, por seus co-
nhecimentos, grande parte das dificuldades que
o corpo oferece, mas ainda assim estão submeti-
dos às leis da matéria e às condições do planeta.
Espíritos de menor condição, além de não conse-
guirem o mesmo intento, sofrem o agravante de
seus laços anteriores e por isso é natural sofre-
rem em grau diferente. A dor, portanto, deve ser
analisada sob estes e outros ângulos mais, ten-
do-se por analogia a vida dos grandes homens
que já passaram por aqui. Kardec não fugiu à
regra e sua vida esteve submetida às condições
impostas pelo corpo físico, mas não há registras
de sofrimentos em grau relativo aos Espíritos em
provação. O mesmo não se pode dizer de Chico
Xavier, que passa por grandes dificuldades des-
de a infáncia e aos vinte e um anos de idade já
padecia de grave enfermidade no olho esquerdo.
São marcantes os episódios em que esteve sub-
metido a uma condição duríssima, moral e fisica-
mente, inexplicável em muitos dos seus lances
para as necessidades de um Espírito que viria
apenas em missão.
Vemos, assim, o homem em sua realidade. Uma
realidade ainda mais admirável à medida que ele
se constitui em exemplo de como pode a criatura,
diante das mais adversas situações, desenvolver
um trabalho magistral de superação pessoal, de
maneira a poder, em meio às provas ingentes,
consagrar-se ao próximo no sentido mais profun-

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do do termo: ao homem comum e à coletividade.


É, pois, altamente benéfico vé-lo por este espelho
que ele mesmo revela em suas declarações, para
compreender o homem, o médium e o mito.
Em entrevista a Elias Barbosa (Anuário Espíri-
ta 1968) Chico é abordado da seguinte maneira:

"- De que modo o casal Perácio iniciou você


no Espiritismo?"

Ele responde:

"- Explicando-me o que eu sentia, em


matéria de mediunidade, desde a infância,
quando fiquei órfão de mãe, aos cinco anos
de idade, amparando-me em minhas neces-
sidades espirituais, ensinando-me a orar e
presenteando-me com o "Evangelho Segun-
do o Espiritismo" e "O Livro dos Espíritos",
de Allan Kardec, os dois livros que me de-
ram os alicerces de minha fé espírita-cristã
e me orientaram para aceitar a mediunidade
e respeitar os Bons Espíritos."

Eis o Espírito, simples em sua verdade, since-


ro em sua humildade, revelando-se numa foto-
grafia que bem lembra centenas de milhares de
vidas comuns, que permaneceram no anonimato
em grande parte, mas que, numa outra parcela,
conseguiram inscrever seu nome na galeria dos
grandes homens.
Em seguida, vai ele desmistificar qualquer pos-
sibilidade de virem classificá-lo além de sua pró-

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pria realidade, ao falar do seu trabalho como


médium. Elias Barbosa questiona:

"-Durante esse tempo, você foi vítima de


mistificação alguma vez?
-Muitas.
-E até hoje isso acontece ou pode aconte-
cer?
-Sim.
- Por que sucede isso a você, que já
psicografou quase cem livros?
-Decerto que o Mundo Espiritual permite
que eu passe por essas provações para mos-
trar-me que receber livros dos Instrutores
Espirituais não me cria privilégio algum, que
estou apenas cumprindo um dever e que sou
um médium tão falível quanto qualquer ou-
tro, com necessidade constante de oração e
trabalho, boa vontade e vigilãncia."

Chico não fala por falar, não dá respostas em


cima de interesses preestabelecidos, não cuida
de construir uma imagem irreal. Enfim, não é
humilde por conveniência. Vejamo-lo como ho-
mem 011 como médium, como Chico ou como
Kardec, vamos encontrá-lo usando de sincerida-
de para consigo mesmo, porque não pode e não
quer se enganar. É por isto que diz, ainda, a Elias
Barbosa:

"Cada amigo faz de nós um retrato para


uso próprio e cada inimigo faz outro. Mas
diante do Mundo Espiritual não somos aquilo

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que os outros imaginam e sim o que somos


verdadeiramente. Desse modo, sei que sou
um espírito muito imperfeito e muito endivi-
dado, com necessidade constante de apren-
der, trabalhar, dominar-me e burilar-me,
perante as leis de Deus."

Com estas palavras, Chico confirma o retrato


que dele fez Herculano Pires, no livro "Na Hora
do Testemunho", dizendo:

"Chico Xavier, à revelia dos que desejam


endeusá-lo, reconhece de público a sua fra-
gilidade humana e não pretende passar por
criatura privilegiada. Longe dele essa preten-
são orgulhosa. Chico, nosso irmão, nosso
companheiro, marcha conosco nas provas do
mundo." 3 9

A visão de Herculano, contudo, tinha por base


seus estudos pessoais acerca do médium minei-
ro e sua produção psicográfica, como também a
imensa correspondência trocada entre os dois,
onde Chico lhe revelava muitas intimidades e re-
forçava sua admiração e seu respeito pelo profes-
sor, a quem definiu como "o metro que melhor
mediu Kardec", consoante palavras de Emmanuel.
Desta correspondência vêm à tona trechos im-
portantes, como este, publicado no livro "Na Hora
do Testemunho", em que Chico f~la de si:

"Na mediunidade, mesmo naquelas


exercidas por longo tempo, o médium pode

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ser acometido por acessos de invigilância,


de vaidade, de orgulho, de intromissão na
obra dos Bons Espíritos, e criar muitas fai-
xas de sombras. Médium falível e talvez até
mais falível que outros de minha singela con-
dição, se estou bem, isso se deve à presença
dos Benfeitores Espirituais em meus passos
e se estou mal, o que acontece muitas vezes,
é que estou em mim mesmo e por mim mes-
mo."4o

Ainda no "Anuário Espírita", edição 1967, em


entrevista constante dos Arquivos da Exposição
Espírita Permanente, encontramos o médium em
auto-retrato:

"- Qual a sua missão pessoal?


- Sinto-me na maravilhosa máquina do
serviço espírita à feição de insignificante peça
de emergência, precisando repelões e con-
sertos constantes pelas imperfeições que
traz." 41

***

Chico fala a Ubiratan Machado, autor do livro


"Chico Xavier, Uma Vida de Amor". E diz:

" ... a meu ver, tive três períodos distintos


em minha vida mediúnica. O primeiro, de
completa incompreensão para mim, é aque-
le dos cinco anos de idade, quando via mi-
nha mãe desencarnada, a proteger-me, até

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os dezessete anos, época em que me via sob


a influência de entidades felizes e infelizes,
até que a misericórdia do Senhor penetrou
nossa casa, em maio de 1927."4 1

Aí está o homem, acossado por Espíritos de


baixa categoria, incapaz de fugir por si próprio,
mas merecedor do apoio espiritual em face dos
compromissos reencarnatórios e, acima de tudo,
por sua condição humana, porque todo ser, in-
dependentemente de ter ou não trabalho especí-
fico, de menor ou maior grandeza, recebe assis-
tência espiritual. Chico é conduzido a um casal
espírita, que o acolhe, orienta e coloca em suas
mãos duas obras por ele desconhecidas, prepa-
radas por um senhor francês há quase sessenta
anos: Allan Kardec.
Em tais condições, Chico não poderia ser Allan
Kardec, pois Allan Kardec foi um mestre na arte
de conviver com os Espíritos de variadas catego-
rias morais e intelectuais. Ele os estudou, anali-
sou, pesquisou e classificou. Foi ele quem os re-
velou em obras tão profundas que quase cento e
cinqüenta anos depois permanecem como uma
instituição construída sobre as pedras da verda-
de. Todo este cabedal, toda esta competência não
dormiria a sono solto na memória profunda, to-
talmente impedida de vir à tona, mesmo que em
doses inconscientes e diminutas. No corpo de
Chico, estaria ele sendo vítima daqueles mesmos
Espíritos atrasados que desmascarou e utilizou
para reforçar a filosofia construída.
O médium mineiro revela que aprendeu a vida

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toda. E aprendeu como um aluno insciente. Um


doença em 1940, diagnosticada como uremia,
podendo provocar um colapso cardíaco, leva Chico
a imaginar que vai morrer. Recorre ele a
Emmanuel, que o repreende: "Não posso auxiliá-
lo. Mas se você acha mesmo que chegou a sua
hora, então recorra aos amigos do Luís Gonzaga.
Você não é melhor do que ninguém". 42 É o Chico
quem reproduz a história. Emmanuel, o mentor,
o manda procurar os dirigentes do centro que fre-
qüentava em Pedro Leopoldo. Emotivo, receoso,
Chico teme estar próximo do fim. Como um ho-
mem comum.
Em outra oportunidade, Chico quis estudar a
sua própria psicografia. Queria descobrir a inti-
midade dela. Disse: "Perguntei ao Emmanuel o
que ele pensava. E ele me respondeu: "Se a la-
ranjeira quisesse estudar pormenorizadamente o
que se passa com ela, na produção de laranjas,
com certeza não produziria fruto algum. Não que-
remos dizer, com isso, que o estudo para assun-
tos .de classificação em medi unidade deva ser
desprezado. Desejamos tão-só afirmar que, as-
sim como as laranjeiras contam com pomicultores
e botânicos que as definem, assim também ·os
médiuns contam com autoridades humanas que
os analisam pelo tipo de serviço que oferecem.
Para nós, o que interessa agora é trabalhar". 43
Chico imaginava poder auxiliar os pesquisa-
dores e estudiosos, analisando as ocorrências
mediúnicas que se passavam na sua própria in-
timidade física e espiritual. Kardec já o havia fei-
to, com método, a seu tempo e todo pesquisador

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que desejar utilizar dos estudos que deixou, os


tem à mão, a tempo e a hora. Chico, não o fizera!
Emmanuel o dissuadiu. Não era competência dele.

CHICO NÃO ACEITA SER CONFUNDIDO


COM ALLAN KARDEC

Há um ponto m comum entre vários dos de-


fensores da t s d que
Chico Xavier · Allan
Kardec: a honestidade.
Há que destacar este as-
pecto. Embora digam
que acreditam ser ele o
Codificador de volta, em
alguns de seus doeu-
mentos registram aspa-
lavras do médium em
que nega ser Allan
Kardec. Pois é justa-
mente neles que pode-
mos encontrar parte do
material que coloca o
assunto no seu verda- Foto de Chico Xavier
constante de um
deiro contexto. "site" na Internet
Carlos A. Bacelli, cla-
ramente partidário da
tese e um dos maiores
divulgadores de casos do médium mineiro, no li-
vro "Chico Xavier, Setenta Anos de Mediunidade",
reproduz entrevista estampada no jornal "Diário
da Manhã", de Goiânia, no dia 28 de agosto de
1998, na qual Chico responde enfaticamente à

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pergunta se era Allan Kardec. Ei r p ta:

"Não, não sou. Não fico "brabo",


digo isso com serenidade. Não sou .
to a minha vida psicológica, as minhas t n -
dências . Tudo aquilo que tenho dentro do
meu coração é eu. Não tenho nenhuma s e-
melhança com aquele homem corajoso e forte
que em 12 anos deixou 18 livros maravilho-
sos . Acho que o exemplo de trabalho dele é
tão grande, que devia comover mesmo os não
espíritas, porque os 12 volumes da Revista
Espírita eram todos escritos por ele, fora os
livros clássicos do Espiritismo . De maneira
que ele exerce realmente sobre mim uma
influência muito grande. Não por ele, por-
que não o conheci, mas pelas idéias que dei-
xou gravadas. Acho extraordinário como um
homem trabalha tanto, durante 16 anos, pois
ele começou em 1853 , mas desencarnou em
1869, e deixou esta bagagem imensa que a
cada dia fica mais atual. É interessante: a
cada dia é mais atual. A verdade é como o
diamante: não se quebra. "

Ou seja, Chico confirma o que já h avia dito:


qualquer um pode vê-lo como quiser, lassificá-
lo de gênio ou medíocre, mas som nt le sab e o
que de fato é.
Na mesma linha, o apr ntador de televisão,
Gugu Liberato, em entrevista que fez com Chico
pelo SBT, r eproduzida nas páginas da revista
"IstoÉ", de outubro de 1995, perguntou-lhe se

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sabia dizer quem foi em outras vidas. Chico res-


pondeu:

"Ah ... não sei cxatamente. Tenho idéias


relampejantes , mns n ã o tenho certeza. Devo
ter tido uma. exi s tência de pouco destaque e
nenhum poder ou força. Naturalmente eu era
dos menores. Des ta vez voltei para a
mediunidad e que representou um serviço
para mim. A mediunidade sempre foi a mi-
nha tarefa diária durante 68 anos."

Há quem diga que Chico, por humildade, e


apenas por isso, jamais iria responder afirmati-
vamente a uma pergunta desta natureza. Esta
colocação implica em admitirmos que, furtando-
se a confirmar ser Allan Kardec, estaria mentin-
do ao dizer que não é. Não há possibilidade de
imaginarmos o contrário. Sua resposta a Hercu-
lano Pires, afirmando: "até hoje, pessoalmente,
eu nunca recebi qualquer notícia positiva a res-
peito da presença de Allan Kardec, reencarnado
no Brasil ou alhures" também incorreria no mes-
mo tipo de erro. O que, convenhamos, não é
admissível. Se fosse e soubesse que era o próprio
Kardec, até poderia silenciar. Mas não mentiria,
dizendo o contrário, nem para dissimular, nem
com a finalidade de fugir do assunto. Este com-
portamento sério e honesto é da natureza de um
homem que cresce dia a dia no conceito moral.
Mais correto, portanto, é ficar definitivamente
esclarecido que Chico Xavier não aceita ser con-
fundido com Allan Kardec e se essa confusão

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acontece, ocorre por conta exclusivumcntc de seus


admiradores mais entusiastas, cuj o s olhos
emotivos conseguem ver além daquil o quf: de félto
ele é. Isso é muito natural. A partir do momento
em que o mito é projetado, escapa de qualquer
controle e acaba se tornando um ente com vida
própria. Em torno dele vão se formando camadas
repletas de verdades e lendas, o que contribui para
estimular gerações e ao mesmo tempo manter sob
o véu o aspecto humano do ente que gerou o mito.
Se o mito é necessário, como admitimos histori-
camente, com apoio em historiadores atuais, in-
clusive, devemos convir que não menos impor-
tante é tentar conhecer o homem, para que a be-
leza de um não subtraia a razão do outro.
Chico põe por terra a tese e as tentativas de
incriminá -lo com ela. E dá razão àqueles que con-
trapõem as diferenças psicológicas entre ele e
Kardec, como elemento fundamental da impossi-
bilidade de ser o mesmo espírito que encarnou o
Codificador. "Não tenho nenhuma semelhança
com aquele homem corajoso e forte que em 12
anos deixou 18 livros maravilhosos", afirmou.
Quem rrielhor do que ele para chegar a essa con-
clusão? Quem mais do que ele poderia afirmar
com tanta segurança: "Não, não sou"? Nenhum
admirador, por mais íntimo e por mais vigilante
em termos emocionais e racionais, observando-
o, seria capaz de alcançar o íntimo dele e de lá,
do fundo de sua alma mist riosa cujas vidas se
perdem no tempo, arrancar as raízes delas. Um
pesquisador, talvez! Mas Chico jamais demons-
trou desejar isso, dando a entender que teria mais

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e melhores coisas a fazer. Uma opção, que exer-


ceu no pleno domínio de suas faculdades, mes-
mo que tenha sido estimulado a tomá-la por
Emmanuel ou outro Espírito qualquer. É por isso
que se compreend Adelino da Silveira dizendo
que sabia que el ra Kardec, enfatizando o seu
desabafo: "só o Cri to pode apagar minha memó-
ria". Ou esta outr firmação, reproduzida pelo
mesmo Ad lino, qu t ria sido feita por um casal:
"Ou Chico X vi r · Allan Kardec, ou o Espírito de
Verdade se en anou". Na superfície subcutânea
da emoção a v rv racional costuma absorver as
dores das picadas. E como só é possível em dou-
trina espírita crer por saber, tais frases surgem
afrontando o bom senso e colocando a lógica sob
os calcanhares. Ao ser arrancada dali, vai ela ex-
por o ridículo destas posições.
Enquanto isso não ocorre, é preciso contrapor
os fatos aos argumentos. Os testemunhos secun-
dários têm sua validade, mas não se sobrepõem
ao valor das provas. A palavra de Chico é uma
prova contrária à tese. Caso venha a ser refutada
por outras provas cabais, deixará de ter o mesmo
valor. E então ele terá que admitir ser Allan Kardec
reencarnado. Até aqui, estas provas não apare-
ceram, não importa se por desinteresse dos de-
fensores da tese de produzi-las, não importa mes-
mo que as desdenhem a favor de suas convic-
ções, nem mesmo que entre os seus pares se en-
contrem figuras de destaque no plano das ciên-
cias. Porque estes, quando se pronunciaram, re-
legaram aquela condição e testemunharam como
homens desprovidos de formação técnica, embo-

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ra amparados pelos
títulos obtidos nas
instituições que di-
rigem. Maeterlinck,
citado por Gabriel
Delanne no fecho
do livro "A Reencar-
nação" , lamenta
que uma teoria im-
portante como a
das vidas suces-
sivas não tivesse no
seu tempo ~' argu­
mentos peremptó-
rios" que pudessem
prová-la definitiva- Chíco Xavier em foto
mente. Diz ele que recente: "Eu não sou Allan
a "doutrina das ex- Kardec reencarnado
piações e das puri-
ficações sucessivas
explica todas as desigualdades sociais , todas as
injustiças abomináveis do destino". E faz o se-
guinte destaque: "Mas a qualidade de uma cren-
ça não lhe atesta a verdade".
o ónus da prova sempre cabe ao acusador, mas
aqui deu-se o inverso. Por isso m esmo, têm mais
valor as provas empíricas produzidas p elos "pro-
motores de justiça" que encabeçaram a d efesa da
lógica da doutrina da reencarnação, expondo com
firmeza a impossibilidade de Chico ser Allan
Kardec. Seus argu m entos e testemunhos, basea-
dos em informações históricas, nas tradições e
nos conhecimentos c ontidos nas obras do

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Codificador, formam um conjunto de admirável


raciocínio, conduzindo-nos à seguinte conclusão:

Francisco Cândido Xavier,


mineiro, médium e figura des-
tacada do Espiritismo no Bra-
sil, não é Allan Kardec
reencarnado!

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NOTAS

1. Em "As Vid as d e Ch ico Xavier" , o jornalista


Marcel Souto Ma ior pr senta estes e outros aspec-
tos em torno do t m d a r eencarnação do biografado.
Revela, ta mbém , a l uns d a queles que possuíam inte-
resse em pr di z r o qu fora Chico Xavier em vidas
anterior es .
2 . Tod as as inform ções d ã o conta de que Chico
sempre n gou ndossar qualquer opinião ares-
p eito d e suas vid as p a ssad a s. Os defensores da tese
segundo a qua l é ele a r een carnação de Allan Kardec
a credita m que esse comporta m ento é revelador de sua
superioridade. O que é estranho. Quando Kardec as-
sumiu sua vida anterior como um sacerdote druida
que vivera nas gálias francesas teve atitude contrária
a essa.
3. Notícia publicada no "Anuário Espírita 1966",
editado pelo Instituto de Difusão Espírita de Araras,
São Paulo.
4. Informações complementares sobre este livro
estão na bibliografia. Esta foi uma das primeiras obras
a retratar o médium mineiro que, em 1972, data de
seu lançamento, aparecia com destaque na mídia
naciona l.
5. Em "Obras Póstuma s", página 243 , 12ª edição,
FEB.
6 . Idem, página 262.
7. Idem, ibidem, pág. 266.
8. Ibidem, pág. 270.
9. Em "O Céu e o Inferno" , Segunda parte, edição
Lake, 1973, pág. 158.
10. Obra referida, vol. III , 1a edição, FEB, pág. 83.
11 . Idem, pág. 85.
12. Idem, ibidem, pág. 85.

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13. Em "Allan Kardec, o Druida Reencarnado", 1ª


edição, Eldorado/EME, pág. 19.
14. Idem, pág. 20.
15. Em "Chico Xavier Coração do Brasil", pág. 144.
16. Em "Do País da Luz", pág. 180.
17. O jornal "Correio Fraterno do ABC" publicou
está informação em sua edição de novembro de 1972,
com destaque de primeira página. De fato, o assunto
suscitava então fortes discussões, especialmente por
causa das declarações de Arthur Massena.
18. Foram infrutíferas as tentativas para localizar
a referida mensagem. Tudo indica que se de fato exis-
tiu, foi transmitida psicofonicamente, em círculo res-
trito. Outro detalhe: além de Arthur Massena, nin-
guém mais a divulgou pela imprensa e, mesmo hoje,
27 anos depois, . não se encontra registro dela, nem
mesmo quem possa testemunhar a sua veracidade.
19. "O Livro dos Médiuns", pág. 294.
20. Idem, pág. 296.
21. Idem, ibidem pág. 302 .
22. Em "Na Hora do Testemunho", pág. 63 .
23. Em "Será Chico Xavier a Reencarnação de Allan
Kardec?", pág. 25.
24. Obra citada, pág. 55.
25. Em "Vida e Obra de Allan Kardec", pág. 41.
26. Idem.
27. Idem, ibidem.
28. Vol. I, pág. 115.
29. Idem.
30. Em "Será Chico Xavier a Reencanração ... ", pre-
fácio.
31. Anais do VIII Congresso Estadual da USE, São
Paulo.
32. Em "O Principiante Espírita", pág. 7.
33. Em "O Homem e a Obra", pág. 10.
34. Obra citada, pág. 239.

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Wilson Garcia www.viasantos.com/pense

35. Idem.
36. Obra citada, pág. 13.
37. Obra citada, pág. 22 0.
38. Obra cita da, pág. 19.
39. Obra citada, pág. 64.
40. Idem, p ág.
41. Obra cit d , pág. 29.
42. Em "Chi o Xavier, Uma Vida de Amor", pág.
62.
43. Idem, pág.

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Obras do Autor

1 - O Centro Espírita
1ª edição, 19 7 8, E di tora Nova Ação
2ª edição, 1990, co-edição USE/Correio
Fraterno do ABC

2 - O Corpo Fluídico
1ª edição, 1982, Correio Fraterno do ABC
2ª edição, 1995, Editora Eldorado/EME

3 -Médicos Médiuns (opúsculo)


1ª edição, 1983, Correio Fraterno do ABC

4 - O Centro Espírita e suas Histórias


1ª edição, 1992, USE, São Paulo
2ª edição, 1995, USE , São Paulo

5 -Você e os Espíritos
1ª edição, 1993, co-edição Eldorado/ EME
2ª edição, 1994, co-edição Eldorado/ EME
3ª edição, 1996, co-edição Eldorado/EME
4ª edição , 1997, co-edição Eldorado/EME

6 - Cairbar Schutel. o Bandeirante do Espiritismo


Parceria com Eduardo Carvalho Monteiro
1ª edição, 1986, Editora "O Clarim"

7 - VINICIUS - Educador de Almas


Parceria com Eduardo Carvalho Monteiro
1ª edição, 1995, Eldorado/EME

8 -Você e o Passe
Parceria com Wilson Francisco
1ª edição, 1995, Eldorado/EME
2ª edição, 1997, Eldorado/EME

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9- Uma Janela para Kardec


1ª edição, 1996, Eldorado/EME

10 -Você e a Obsessão
1ª edição, 1 7 , Eldorado/EME

13 - Você e a Reforma Íntima


11.1 edição, 1998, Eldorado/EME

14 - Nosso Centro
Casa de Serviços e Cultura Espírita
1ª edição, 1999, Eldorado/EME

15 - Mensagens de Saúde Espiritual


(Antologia)
1ª edição (a sair), Editora EME

16 - Chico,
1ª edição, 1999, Eldorado/EME

Livros traduzidos

17 - Herculano Pires. Filósofo e Poeta (Humberto


Mariotti I Clóvis Ramos)
1ª edição, 1986, Correio Fraterno do ABC

18 -Victor Hugo Espírita (Humberto Mariotti)


1ª edição, 1988, Correio Fraterno do ABC
2ª edição, 1996, Eldorado/EME

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19 - Cérebro e Pensamento (e outras monografias)


(Ernesto Bozzano)
1ª edição - IDEBA (a sair)
Lançamento previsto: 1999

Livros traduzidos e complementados

20 - O Fantasma de Canterville (0. Wilde)


1ª edição, 1992, Correio Fraterno do ABC
2ª edição, 1996, Eldorado/EME

21 - O Destino de Lorde Arthur Saville (0. Wilde)


1ª edição, 1994, Eldorado/EME
2ª edição, 1995, Eldorado/EME

Participação .

22 - Centros e Dirigentes Espíritas


1ª edição, 1996, Editora USE

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Vocô va i encontrar amplo material informativo sobre o início
do ce ntro espírita, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
(SPEE) , ol óm de uma ampla reflexão sobre a inte rpretação
do utrinário-espírita que faci litará o entendimento e a realização
de prática s na centro espírita. Este é um livro que pode ser lid o
·Carl) faci lidade por dirigentes, traba lha dores e freqüentadores
dos centros espíritas.
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Este livro va le como valoroso passatempo, mas vale, acima de
tudo, coma instrumento de informação, permitindo ao leitor
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ver e sentir o vida com sua riqueza material e espiritual, esses
dois ele mentos que, juntos, esclarecem e, separadas, impedem
a boa comp reensão do universo.
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' O livro pretende oferecer sugestões práticas paro que sua vida
tenha equi líbrio. Ensina que, com esforço consciente, você pode
encontrar o segurança na educação de crianças e jovens, motivo
; pe lo qual se recomendo o obra para pais, educadores e
evangelizodpres.

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