Fisica Quantica e Espiritismo - Artigo

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ALGUNS COMENTÁRIOS

SOBRE FÍSICA QUÂNTICA E ESPIRITISMO


Alexandre Fontes da Fonseca
afonseca@fc.unesp.br
Volta Redonda, RJ (Brasil)

http://www.aeradoespirito.net/ArtigosAF/
ALGUNS_COMENT_SO_FIS_QUANT_ESPIR_AF.html

http://analisesespiritas.blogspot.com/

Na Revista Espírita de Julho de 1860 [1], no último parágrafo do item “Observação


Geral”, Kardec diz:

Assim, é sobretudo nas teorias científicas que precisa haver muita prudência e
evitar dar precipitadamente como verdades sistemas por vezes mais sedutores
que reais e que, mais cedo ou mais tarde, podem receber um desmentido oficial.
(Grifos nossos).

Em seguida acrescenta:

Diz um provérbio: ‘Nada mais perigoso que um amigo imprudente.’ Ora, é o caso
dos que, no Espiritismo, se deixam levar por um zelo mais ardente que
refletido. (Grifos nossos).

A afirmação acima é de grande importância para o movimento espírita em vista do


interesse atual no desenvolvimento da Ciência e em particular, na Física Quântica.
Uma rápida busca na internet apresenta diversas doutrinas e práticas espiritualistas
que dizem possuir demonstrações de seus conceitos em termos da Física Quântica.
No meio espírita, há obras de autoria de encarnados e desencarnados que se
utilizam de conceitos da Física Quântica na tentativa de explicar ou esclarecer
determinados temas de estudo. Mas, estaria a Física Quântica realmente dando
*contribuições* ao Espiritismo? Será que pode estar havendo o que Kardec
mencionou como tendo zelo mais ardente do que refletido em algumas afirmações
relacionando Física Quântica e Espiritismo?

Um zelo ardente pode ser entendido como uma defesa a um assunto de modo
apaixonado e emocional, por acreditar que isso pode ajudar ou validar aquilo que se
está defendendo. Um exemplo pode ser ilustrado da seguinte maneira. Suponha que
notícias nos chegam de que uma coisa, que é reconhecidamente importante dentro
de uma área do conhecimento humano (como a Ciência, por exemplo), está
ajudando a divulgar uma determinada doutrina ou teoria filosófica. Suponha que não
sabemos bem o que é essa coisa, mas que temos observado pessoas que detém
títulos universitários defenderem a ligação entre a coisa e alguma doutrina
espiritualista, como algo verdadeiro e seguro. Desejosos de ver o Espiritismo mais
*divulgado* e *valorizado* começamos a acreditar e a repetir em discursos no
movimento espírita, que essa coisa também demonstra a validade dos conceitos do
Espiritismo. Isso é um exemplo de zelo ardente. Por quê? Porque nós não
buscamos conhecer em profundidade o que é essa coisa e decidimos confiar na
opinião alheia dos que a defendem, acreditando que isso vai ajudar o Espiritismo.
Portanto, num zelo ardente, agimos apenas pela *emoção* relacionada ao desejo de
ver a nossa doutrina validada por um assunto considerado importante pela
sociedade humana.
Um zelo refletido é uma defesa à nossa doutrina com reflexão. Refletir envolve a
leitura dos conceitos, meditação, comparação de valores e significados, testes,
experimentos e uma conclusão obtida com toda a lógica que o bom senso científico
e filosófico permitem. O comentário acima citado de Kardec de que “... é sobretudo
nas teorias científicas que precisa haver muita prudência e evitar dar
precipitadamente como verdades sistemas por vezes mais sedutores que reais e
que, mais cedo ou mais tarde, podem receber um desmentido oficial” (grifos
nossos) é um exemplo de zelo refletido porque ele sabia que as Ciências se
desenvolvem através de muito rigor e a análise crítica de tudo o que os cientistas
criam e descobrem.

Um outro exemplo de zelo refletido encontramos nas palavras de André Luiz em seu
prefácio da obra Mecanismos da Mediunidade [2]: “Aliás, quanto aos apontamentos
científicos humanos, é preciso reconhecer-lhes o caráter passageiro, no que se
refere à definição e nomenclatura, atentos à circunstância de que a experimentação
constante induz os cientistas de um século a considerar, muitas vezes, como
superado o trabalho dos cientistas que os precederam.” (Grifos nossos). Adiante
ele acrescenta que: “Assim, as notas dessa natureza, neste volume, tomadas
naturalmente ao acervo de informações e deduções dos estudiosos da atualidade
terrestre, valem aqui por vestimenta necessária, mas transitória, da explicação
espírita da mediunidade, que é, no presente livro, o corpo de idéias a ser
apresentado.” (Grifos nossos). Ambos os comentários acima demonstram a reflexão
feita por André Luiz de que a Ciência está sempre evoluindo em seus conceitos e
que por isso não se deve tomar como absolutas as explicações para os mecanismos
da mediunidade contidas na obra. Em outras palavras, André Luiz não considera
que os conceitos da Ciência (nesta obra em particular, os conceitos da Física) estão
demonstrando cientificamente a mediunidade, mas sim utilizando seus conceitos
para tentar traduzir em uma linguagem já acessível a nós encarnados, os
mecanismos do fenômeno da mediunidade. Além disso, não se pode dizer que a
Ciência estaria comprovando o que André Luiz diz nessa obra pois ele foi claro ao
dizer que “...as notas dessa natureza, neste volume, tomadas naturalmente ao
acervo de informações e deduções dos estudiosos da atualidade terrestre...” e por
isso os conceitos que ele utilizou já foram comprovados pela Ciência.

Assim, podemos agora analisar e refletir algumas afirmações feitas no movimento


espírita de que a Física Quântica estaria confirmando alguns conceitos espíritas.
Vamos aproveitar o comentário recente de A. Santiago em seu blog “Análises
Espíritas” [3], em que apresenta uma extensa e detalhada resenha do VI Simpósio
de Estudos e Práticas Espíritas de Pernambuco, ou SIMESPE, com o tema: “A
Ciência a caminho da espiritualização – A importância do Espiritismo no processo
evolutivo do ser”. O VI SIMESPE aconteceu nos dias 15, 16 e 17 de Julho no Centro
de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Em particular, nos interessa a
descrição de A. Santiago de uma palestra do VI SIMESPE intitulada “Contribuição
da Física Quântica no processo de interação mente/corpo – Comprovações
científicas das informações de André Luiz”, realizada pelo Dr. Décio Iandoli.

Primeiramente, devemos fazer a importante ressalva de que os comentários a seguir


se baseiam apenas no que foi postado no blog e que de modo algum significam
crítica ao palestrante a quem devemos todo o respeito e admiração pelos esforços
que tem feito na divulgação da Doutrina Espírita.
Primeiramente, temos o dever de informar que a Física Quântica não está,
formalmente ou profissinalmente falando, contribuindo para a confirmação dos
conceitos espíritas ou espiritualistas. Para a Ciência, incluindo a Física, a mente ou
a consciência nada mais são do que fenômenos que emergem da complexidade da
rede de neurônios que compõem o cérebro. Existem pesquisadores que dentro do
escopo da teoria quântica, buscam identificar o que seria a mente ou a consciência.
Porém, isso não é uma busca pelo Espírito, mas sim pela descoberta de efeitos
quânticos do cérebro que pudessem representar a consciência. Como a teoria
quântica é uma teoria material, ela só se aplica a objetos ou coisas materiais. Por
isso, uma consequência desses estudos é que morto o cérebro, morta a consciência
ou mente quântica. Por serem formados de átomos, o cérebro pode até mesmo
possuir ou manifestar efeitos quânticos. Mas, além de termos que aguardar até que
essas pesquisas forneçam alguma informação confiável, isso ainda não constituirá
uma demonstração do Espírito como agente da vida.

Sobre possíveis "Comprovações científicas das informações de André Luiz", eu


gostaria de fazer um comentário de que tudo o que André Luiz fala com base na
Física, daquilo que não estiver equivocado (ver artigo da Ref. [4]), já havia sido
comprovado.

Sobre a palestra em questão, A. Santiado fez os seguintes comentários: “Tudo bem


que ele falou mais das nossas escolhas, da influência do observador sobre a
realidade, daquilo que está mais próximo da nossa realidade sensível, material e
não da espiritual, querendo forçar conceitos de hiperespaço ou universos paralelos
como se fossem teorias explicativas da realidade espiritual." Nesse tipo de
colocação, percebemos a boa intenção do palestrante em tentar relacionar as
interpretações estranhas e misteriosas da teoria quântica em termos de conceitos
espirituais. Porém, em vista da complexidade e da importância em desenvolvermos
um zelo refletido sobre o assunto, vamos esclarecer os erros nesse tipo de
afirmações em vista da responsabilidade que temos perante os leitores, em
particular os mais jovens. Vamos dividir os pontos importantes por questões:

- A questão da INFLUÊNCIA DO OBSERVADOR sobre a realidade não é bem o que


vários espiritualistas tem afirmado. Não basta *querer* para que a realidade se
altere. A *vontade* é importante mas, conforme orienta o Evangelho, a nossa
influência sobre a realidade depende de realizarmos pelo nosso livre-arbítrio, todo
os esforços ao nosso alcance para o bem geral. Não existe poder especial ou
místico sobre a realidade. A teoria quântica afirma que os resultados possíveis de
uma medida obedecem a leis probabilísticas. Se o cientista pudesse influenciar o
resultado, ele determinaria o resultado de acordo com o seu desejo e não ficaria,
portanto, sujeito à probabilidades. Mais adiante, ao comentar sobre a ESCOLHA DO
OBSERVADOR, o equívoco na interpretação do conceito de INFLUÊNCIA DO
OBSERVADOR na teoria quântica ficará mais claro.

- A questão sobre CONCEITOS DE HIPERESPAÇO E UNIVERSOS PARALELOS é


outra que gera confusão com conceitos espíritas ou espiritualistas relacionados ao
mundo espiritual. Para a Física, o conceito de universos paralelos não implica em
nada de natureza espiritual. Se esses universos paralelos existirem, eles serão
universos materiais, podendo ser quase iguais ou muito diferentes do nosso próprio
universo. A teoria de universos paralelos [5] surgiu de uma idéia proposta nos anos
50 de que o Universo inteiro seria representado por uma função de onda e teria,
assim, possibilidades diferentes. Cada uma dessas possibilidades seria um universo
inteiro com coisas e seres semelhantes ou diferentes de nós, mas cada um com
uma dada probabilidade. Ao fazer-se uma medida, aquilo que em Física Quântica é
conhecido como o colapso da função de onda (a ser comentado adiante) ao invés
de nos fazer pensar que o sistema evoluiu de modo irreversível para o estado final
relacionado com o resultado da medida, o que ocorre é que apenas vemos o
resultado relacionado com o nosso universo próprio, enquanto que os outros
resultados ocorrem em universos paralelos, sem comunicação com os outros ou
conosco. Isso resolve, de certa forma, os problemas filosóficos em torno da questão
da medição em mecânica quântica e o colapso da função de onda. Por exemplo,
diante de uma situação como decidir se ir para a direita ou para esquerda, essa
teoria de universos paralelos prevê existem dois universos relacionados a essa
escolha: um em foi escolhido ir para a direita e outro em que foi escolhido ir para a
esquerda. Na verdade, não escolhemos nada, pois os dois universos existiriam de
modo um independente do outro, e um sem saber o que acontece com o outro. Mas
em cada universo, achamos que nós fizemos a escolha. Nessa teoria, os universos
paralelos quase não interagem ou interferem uns nos outros. Como essa teoria
poderia representar o mundo espiritual se os Espíritos afirmaram a Kardec que o
mundo espiritual nos influencia a todo o momento, mais do que imaginamos
(questão 459 de O Livro dos Espíritos [6])? Como explicar dois ou mais universos
com cópias idênticas ou quase idênticas de nós mesmos nesses universos? Cada
uma dessas cópias tem uma cópia do nosso Espírito, da nossa alma? Essa teoria,
da forma como ela é, não serve para explicar o mundo espiritual que está ao nosso
redor e interage incessantemente conosco.

Adiante, A. Santiago, em sua resenha sobre o VI SIMESPE diz: "Para encerrar os


comentários sobre esta conferência, de acordo com a exposição do Dr. Iandoli, vale
ressaltar que conforme a teoria quântica a realidade como a entendemos surge
como um resultado [colapso] da escolha que fazemos dentro de um leque de
possibilidades." Com todo o respeito, esse também é um equívoco muito comum
que decorre das interpretações da Física Quântica. Comentamos essa questão a
seguir:

- A questão sobre a realidade surgir como resultado DE UMA ESCOLHA QUE


FAZEMOS também é um erro de interpretação da teoria quântica. Nós não temos o
poder de escolher qual será a realidade que se manifestará dentre as possibilidades
que a teoria quântica prevê. Um exemplo ajudará a entebder o que pode acontecer
de acordo com a Física Quântica. Considere o fenômeno do spin de um elétron. O
spin é uma propriedade magnética intrínseca das partículas subatômicas. Uma
medida do spin de um elétron pode apresentar apenas dois resultados
representados pelos valores: +1/2 ou -1/2. A teoria quântica prevê que existe uma
probabilidade de 50% de chance de se obter um valor +1/2 na medida do spin de um
elétron, e 50% de chance de se obter -1/2. Ela não afirma que temos o poder de
escolher para que valor de spin (+ ou - 1/2) um determinado elétron terá. A teoria
apenas prevê que em uma certa quantidade de elétrons, digamos, por exemplo, em
100 (cem) elétrons, aproximadamente metade deles terão spin +1/2 e metade spin
-1/2. Ninguém tem o poder de escolha ou de determinação sobre que elétrons terão
valores positivos ou não de spin. Um pouco dessa confusão surge porque de acordo
com a Física Quântica, o estado do elétron, se tem spin +1/2 ou -1/2, é
indeterminado antes de se fazer uma medida. Ao fazer a medida, um dos valores se
revela e o elétron passa a ter esse valor permanentemente (enquanto outras
interações não ocorrem com ele, é claro). A teoria quântica não responde à questão
sobre *por quê* um determinado elétron manifestou determinado valor de spin.

A idéia da ESCOLHA DO OBSERVADOR só se aplica para o tipo de característica


se deseja medir, de acordo com a chamada dualidade onda-partícula. Por exemplo,
para um elétron, podemos medir propriedades ondulatórias ou corpusculares. Essa
escolha nós temos, isto é, nós escolhemos se desejamos montar um experimento
para medir propriedades ondulatórias, ou um experimento para medir propriedades
corpusculares.

A idéia de que é a consciência que determina a realidade ganhou força no meio


espiritualista com as teses do Prof. Amit Goswami que defende que é uma
Consciência maior que determina a realidade. Porém, as idéias do Prof. Goswami
são induístas e possuem vários conflitos com o que o Espiritismo ensina, conforme
análise já publicada na literatura espírita [7].

Conforme discutido em artigos recentes [8,9], o fato da Física Quântica não estar
comprovando o Espiritismo não é motivo de preocupação. Isso pois ela não está,
por outro lado, contradizendo nenhum conceito da Doutrina Espírita. Aos que
acreditam que a Física Quântica está comprovando o Espiritismo, fica a nossa
compreensão respeitosa de que estão tendo um zelo mais ardente do que refletido,
convidando-os a um estudo mais aprofundado da teoria quântica. Uma sugestão é a
leitura da obra didática “Conceitos de Física Quântica” volumes I e II, do Prof.
Osvaldo Pessoa Jr. [10,11].

Nossos comentários não significam de modo absoluto que a Física nunca poderá
contribuir com o Espiritismo. De fato, em estudos anteriores, mostramos que a
Física ajuda a entender alguns conceitos espíritas [12,13]. Porém, esses estudos
não significam que a Física esteja demonstrando cientificamente o Espiritismo.

Um outro aspecto interessante e importante de ser comentado foi percebido por mim
por ocasião de um seminário intitulado “O que é Física Quântica e Como Relacioná-
la ao Espiritismo?” que apresentamos no Centro Espírita Allan Kardec, de
Campinas, em Abril de 2011. O seminário é dividido em duas partes de 50 minutos,
em que na primeira parte apresentamos vários conceitos básicos da Física Quântica
em linguagem tão acessível quanto possível ao público leigo, e na outra parte,
apresentamos uma análise das possíveis relações entre Física Quântica e
Espiritismo, apresentando alguns dos equívocos comentados neste artigo. O que é
importante comentar é que várias pessoas comentaram comigo que acharam a
Física Quântica bastante difícil e que entenderam melhor a segunda parte, onde
predominantemente, falamos do Espiritismo. Isso mostra que ao contrário do que se
imagina, o estudo da Física Quântica é algo difícil e demanda tempo e dedicação
especiais, e que não é com leituras de obras de divulgação, que aprenderemos de
modo aprofundado essa teoria da Física. Por essa razão, fazemos nossas as
seguintes palavras de recomendação com relação à afirmativas de teor científico
que não podemos avaliar: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única
falsidade, uma só teoria errônea.” (Erasto, no ítem 230 do Cap. XX, de O Livro dos
Médiuns [14]).

Para concluir, chamamos Kardec (Obras Póstumas [15] e Revista Espírita de


dezembro de 1868 [16]): “Se é verdade que a utopia da véspera, frequentemente,
seja a verdade do dia seguinte, deixemos ao dia seguinte o cuidado de realizar a
utopia da véspera, mas não embaracemos a Doutrina com princípios que
seriam considerados quimeras e a fariam rejeitar pelos homens positivos.”
(Grifos nossos).

Referências
[1] A. Kardec, “Observação Geral”, Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos
Julho, p. 229 (1860) Ed. Edicel.
[2] Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Mecanismos da Mediunidade, pelo
Espírito de André Luiz, FEB, 11ª edição, Rio de Janeiro, 1990.
[3] http://analisesespiritas.blogspot.com/2011/07/vi-simespe-impressoes-gerais.html
[4] A. F. da Fonseca, “Um Ensaio sobre Matéria e Energia”, FidelidadESPÍRITA 91
(Abril), p. 6 (2010); e 92 (Maio), p. 20 (2010). Reproduzido em:
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosAF/
UM_ENSAIO_SOBRE_MAT_E_ENER_AF.html
[5] H. Everet III, “Relative State Formulation of Quantum Mechanics”, Reviews of
Modern Physics 29, p. 454 (1957).
[6] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 1ª edição Comemorativa do
Sesquicentenário, Rio de Janeiro, 2006.
[7] A. F. da Fonseca, “A Obra “A Física da Alma” e o Espiritismo”, O Consolador
188, (2010),
http://www.oconsolador.com.br/ano4/188/especial.html
[8] A. F. da Fonseca, “O “Medo” da Ciência e a Atualização do Espiritismo: Parte I”,
Reformador 2188, Julho 2011, pag. 18, (2011).
[9] A. F. da Fonseca, “O “Medo” da Ciência e a Atualização do Espiritismo: Parte II”,
Reformador 2189, Agosto 2011, pag. 18, (2011).
[10] O. Pessoa Jr., Conceitos de Física Quântica Volume I, 1ª Edição, Editora
Livraria da Física, São Paulo (2003).
[11] O. Pessoa Jr., Conceitos de Física Quântica Volume II, 1ª Edição, Editora
Livraria da Física, São Paulo (2006).
[12] A. F. da Fonseca, “Caos, complexidade e a influência dos espíritos sobre os
fenômenos da natureza”, FidelidadESPÍRITA 12 (Setembro), p. 20 (2003).
[13] A. F. da Fonseca, “A Física Quântica e as questões 34 e 34-a de O Livro dos
Espíritos”, Reformador, Dezembro, p. 14 (2008).
[14] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Editora FEB, 62ª Edição, Rio de Janeiro
(1996).
[15] A. Kardec, Obras Póstumas, IDE, 1ª edição, Araras (1993).
[16] A. Kardec, “Constituição Transitória do Espiritismo, III Dos Cismas”, Revista
Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos Dezembro, p. 374 (1868) Ed. Edicel

Artigo publicado no blog


ANÁLISES ESPÍRITAS
Blog para estudo e análise da Doutrina Espírita com atualização periódica.
http://analisesespiritas.blogspot.com/
ALEXANDRE FONTES DA FONSECA
afonseca@puvr.uff.br
Volta Redonda, Rio de Janeiro (Brasil)

A obra “A Física da Alma”


e o Espiritismo
A obra de Amit Goswami contém vários pontos que estão em
desacordo com os principais ensinamentos espíritas

Nos dias 21 e 22 de agosto de 2010, aconteceu no


Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa em
Espiritismo Eduardo Carvalho de Oliveira1, em São
Paulo, o 6º Encontro da Liga de Pesquisadores em
Espiritismo2, com o tema “O Espiritismo visto pelas
áreas de conhecimento atuais”, em que apresentamos
um trabalho intitulado “Uma Análise Espírita da Obra
‘A Física da Alma’ de Amit Goswami”. Nesse trabalho
demonstramos que a referida obra é contrária ao
Espiritismo. Nesta matéria, apresentamos um resumo
dos pontos principais deste estudo para divulgação
junto
ao Movimento Espírita.

O interesse do Movimento Espírita pela


Ciência é antigo e nos últimos 10 anos
vimos bons trabalhos de esclarecimento
sobre o que é Ciência, Ciência Espírita, e
o tríplice aspecto do Espiritismo3-5. A
Física, em particular, tem despertado
muito interesse no público espírita leigo.
Obras como "O Tao da Física"6, “O
Espírito Este Desconhecido”7, “A Cura
Quântica”8 e, mais recentemente, “A
Física da Alma”9, de Amit Goswami (foto),
têm sido lidas e consideradas por muitos espíritas como demonstrações
científicas de conceitos espíritas. Nesta matéria, mostraremos que a teoria
apresentada na obra “A Física da Alma” é contrária ao que ensina o
Espiritismo em alguns dos seus pontos principais. Para isso, apresentaremos
trechos das explicações de Goswami para os conceitos de alma,
reencarnação e mediunidade.
A proposta de Amit sobre a ALMA se baseia numa questão de natureza
filosófica: a dualidade espírito–matéria. Como pode uma “substância” de
natureza diferente da matéria interagir com ela? Kardec não esteve alheio a
esta questão e, no item 17 do cap. XI de A Gênese 10, apresenta uma solução
ao dizer: “Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato,
do Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o
apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos
imponderáveis, (...)”. Goswami, de modo diferente, propõe que a alma seja
uma função de onda (ver aula n. 8 da referência 3) que, segundo a Física,
não é algo fisicamente real, não passando de um método de cálculo das
propriedades físicas de um sistema material. Apesar de sua proposta
também resolver o problema da dualidade, ela traz consequências
diferentes do que ensina o Espiritismo.

Em sua proposta sobre a natureza quântica da alma, Goswami revê o


conceito de consciência dentro de um paradigma diferente. Na pág. 44 do
cap. 2 (daqui em diante o leitor deve subentender que nos referimos à obra
“A Física da Alma”) Goswami, ao analisar a questão do colapso 3 da função
de onda pelo observador, diz: “A resposta do idealismo monista é que há
apenas um a escolher, que a consciência é uma só. O leitor e eu temos
pensamentos, sentimentos, sonhos etc. individuais, MAS NÃO ‘TEMOS’
CONSCIÊNCIA, muito menos consciências, separada; nós ‘somos’ a
consciência. É a mesma consciência, para todos nós.” (grifos em maiúsculas,
nossos).

O conceito novo introduzido por Goswami, e que a Física


não reconhece, é a não-localidade no tempo
A questão 79 de O Livro dos Espíritos 11 diz que os Espíritos são a
individualização do princípio inteligente, e a de número 122 diz que o “livre-
arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si
mesmo” e que “Já não haveria liberdade se a escolha fosse determinada por
uma causa independente da vontade do Espírito”. Na questão 621 é dito que
a Lei de Deus está escrita “Na consciência”. Portanto, o conceito de
consciência que o Espiritismo fornece é inerente à alma, sendo, portanto,
diferente do que Goswami propõe.

A diferença no conceito de consciência se torna mais clara ao lermos as


seguintes palavras de Goswami (cap. 7, pág. 152): “As almas, entendidas,
tal como fazemos aqui, como mônadas quânticas desencarnadas, NÃO
PODEM ter percepção sujeito-objeto, NÃO PODEM crescer espiritualmente de
maneira alguma, e NÃO PODEM se libertar porque fizeram obras espirituais
no Céu ”. (grifos em maiúsculas, nossos). A questão 227 do Livro dos
Espíritos11 deixa claro o equívoco da afirmativa acima. Se essa teoria da
alma estiver correta não poderia existir, por exemplo, Nosso Lar nem a
história de André Luiz.

A ideia de REENCARNAÇÃO segundo Goswami se baseia no conceito de


“não-localidade” da Física Quântica. Ele diz (cap.4, pág. 83) que as
“reencarnações de uma mesma vida (...) estão ligadas pelo fio da não-
localidade quântica...”. Não-localidade é um conceito que surge em sistemas
que são ligados de tal forma que uma ação sobre um afeta
instantaneamente o outro, não importando a distância entre eles. Porém,
Goswami parece criar um conceito novo a partir da não-localidade ao dizer
que (cap. 4, pág. 83) “A correlação se estende tanto para o passado como
para o futuro ...”. O conceito novo introduzido por Goswami, e que a Física
não reconhece, é a não-localidade no tempo, isto é, uma viagem
instantânea no tempo para o passado ou para o futuro. No cap. 4, pág. 82,
ele diz: “Com o tempo, podemos intuir nossa situação específica com
respeito à mônada humana – (...) – e, de forma sincronística, em parte no
TEMPO NÃO LOCAL, em parte na temporalidade, podemos nos tornar
conscientes de como essa mônada-identidade ESTÁ RENASCENDO EM UM
FETO RECÉM-CONSTITUÍDO, ou até partilhar a consciência com ela nos
primeiros anos dessa nova vida...” (grifos em maiúsculas nossos). Goswami
afirma, assim, que no momento da morte uma ligação do tipo não-local no
tempo se forma ligando, instantaneamente, a alma do agonizante a
desencarnar NO PRESENTE ao feto recém-constituído NO FUTURO. Uma
viagem no tempo instantânea equivale a pularmos do passado para o futuro
sem vivermos o período que se passou de um para outro.

Para Goswami, a alma desencarnada não tem


pensamento, não tem consciência independentes de um
corpo físico material
Ainda relacionado ao conceito de reencarnação, um ponto de forte
contradição com os ensinamentos espíritas pode ser percebido na
explicação sobre a escolha de sexo na próxima encarnação. De acordo com
Goswami (cap. 8, pág. 181), “Se ao morrer, você estava consciente e fez
uma revisão da vida, se você se correlacionou e se comunicou com a criança
que será na próxima rodada, no caminho de possibilidades para vocês,
então sua opção já está feita. (...). Talvez você tenha visto seus pais e como
você foi concebido. Você ainda não se identificou com seu feto; você estava
fora do corpo e observava telepaticamente as coisas pelos olhos de seus
pais, por assim dizer, e talvez tenha sentido os anseios do desejo. É ESSE
DESEJO QUE DETERMINARÁ SEU SEXO AO NASCER – o espermatozoide
apropriado encontrará o óvulo, mas isso é secundário. SE SEU DESEJO
ESTAVA DIRIGIDO PARA SUA MÃE, VOCÊ SERÁ UM MENINO; SE, POR OUTRO
LADO, SEU PAI ERA SEU OBJETO DE DESEJO, VOCÊ SERÁ UMA MENINA.”
(grifos em maiúsculas nossos).

Sobre MEDIUNIDADE Goswami afirma que (cap. 7, pág. 156) “... não existe
colapso das ondas de possibilidades quânticas de uma mônada quântica
desencarnada sem a ajuda de um corpo/cérebro físico correlacionado. Por
conseguinte, a mônada quântica desencarnada é desprovida de qualquer
experiência sujeito-objeto”. Ele, assim, confirma que a alma desencarnada
não tem vida, não tem pensamento, não tem consciência independentes de
um corpo físico material. Sendo uma função de onda com possibilidades, um
Espírito só pode “colapsar” em algum “lugar” material: o cérebro de um
médium. Quando um Espírito se manifesta e diz o que sente e o que pensa,
na verdade isso não seria uma manifestação consciente de pensamento e
sentimento, mas sim manifestações aleatórias das diferentes possibilidades
da função de onda (cada uma com uma probabilidade) e não o fruto de um
pensamento contínuo do Espírito. Num instante, o Espírito pode manifestar
uma dessas possibilidades, e em instantes seguintes outras que, inclusive,
podem ser opostas à primeira, já que o fenômeno ocorreria por leis
quânticas probabilísticas. Sem dúvida, isso é bem diferente do que o
Espiritismo ensina e que os companheiros das tarefas mediúnicas nas casas
espíritas vivenciam. Por exemplo, veja-se a questão 459 do Livro dos
Espíritos: “Os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos?
Muito mais do que imaginais, pois frequentemente são eles que vos
dirigem”.

Apesar de se basear em conceitos da Física Quântica, a teoria contida na


obra “A Física da Alma” de Amit Goswami não foi obtida seguindo-se os
rigores formais da área de Física. Ele baseia sua tese em um novo tipo de
paradigma científico, fora do esquema tradicional da Ciência, em que a
unidade fundamental é a consciência e não a matéria.

Segundo Amit Goswami, não é possível termos


experiências sem um corpo físico
Estando fora da Ciência, ele não pode validar suas teorias de modo
científico e, portanto, o conteúdo da obra “A Física da Alma” não pode ser
considerado científico, no sentido profissional dessa palavra, e não se pode
dizer que a Física, de modo formal, o apoie. A utilização dos conceitos da
Física não torna a sua teoria uma teoria da Física ou respaldada por ela.
Dessa forma, nós espíritas não precisamos nos preocupar com o fato de ela
apresentar conceitos contrários ao Espiritismo.

Além disso, a teoria de Goswami tem outra consequência importante que é


contrária ao Espiritismo. Ela supervaloriza a matéria, o que pode ser inferido
da seguinte resposta de Goswami à pergunta do psicólogo Kenneth Ring
(cap. 13, pág. 274): “Você acha que, se um grande desastre atingisse a
Terra, nós poderíamos sobreviver a ele como seres desencarnados? ” A
resposta: “Certamente sobreviveríamos como seres desencarnados, assim
como faz qualquer um que morra hoje em dia (...). Mas, Ken, há um
problema. SEGUNDO MEU MODELO, NÃO É POSSÍVEL TERMOS EXPERIÊNCIAS
SEM UM CORPO FÍSICO. O ESTADO DE CONSCIÊNCIA DE UM SER
DESENCARNADO É COMO O SONO; a onda de possibilidades não entra em
colapso. Assim, como civilização, dificilmente ficaríamos satisfeitos ao
escolher esse estado de limbo.” (grifos em maiúsculas nossos). As questões
de 84 a 86 de O Livro dos Espíritos, por exemplo, mostram o equívoco da
afirmativa acima.

Para concluir, sugerimos ao Movimento Espírita mais cautela contra o


modismo cientificista, em que conceitos da Física Quântica, inacessíveis à
compreensão do público leigo, são, às vezes, erroneamente usados em
teorias espíritas sem o devido rigor científico da área de Física. Kardec, na
Revista Espírita de Julho de 1860, ao final do texto sob o título “Observação
Geral”, comenta: “Diz um provérbio: ‘Nada mais perigoso que um amigo
imprudente’. Ora, é o caso dos que, no Espiritismo, se deixam levar por um
zelo mais ardente que refletido.” Na ânsia de ver o Espiritismo valorizado
pela Ciência, tem havido um zelo mais ARDENTE que REFLETIDO na
divulgação de obras como “A Física da Alma”. Nosso propósito aqui foi o de
apresentar um exemplo de REFLEXÃO a respeito dessa obra, demonstrando
que seus conceitos são contrários ao Espiritismo, exigindo de nossa parte
maior cuidado na sua divulgação.

Se “O Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a


caridade de sua própria divulgação” (Emanuel na obra da Ref. 12), essa
caridade requer que tenhamos, de acordo com Kardec, um zelo REFLETIDO.
E, perante a dúvida sobre as novidades na Ciência, se confirmam ou não
algum conceito espírita, vejamos o que Kardec nos tem a dizer (Obras
Póstumas13 , capítulo “Constituição do Espiritismo. Exposição de motivos. II.
Dos cismas”): “Se é verdade que a utopia da véspera, frequentemente, seja
a verdade do dia seguinte, deixemos ao dia seguinte o cuidado de realizar a
utopia da véspera, mas não embaracemos a Doutrina com princípios que
seriam considerados quimeras e a fariam rejeitar pelos homens positivos.”

Referências:

[1] http://www.ccdpe.org.br

[2] http://www.espiritualidades.com.br/Liga/6_ENLIHPE_2010/liga_6_encontro.htm

[3] A. F. Da Fonseca, “Curso de Ciência e Espiritismo: Aulas 1 a 18”, Boletim do


GEAE números de 483 a 500 (2004 e 2005)

[4] A. Chagas, Introdução à Ciência Espírita, Publicações Lachâtre, 1ª edição,


Bragança Paulista (2004).

[5] S. S. Chibeni, “O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e


religioso” Reformador Agosto, pp. 37-40 (2003); Setembro, pp. 38-40
(2003);Outubro, pp. 39-40 (2003).

[6] F. Capra, O Tao da Física, Editora Cultrix, 16ª edição, São Paulo (1995).

[7] J. E. Charon, O Espírito Este Desconhecido, Editora Melhoramentos, 10ª edição,


São Paulo (1990).

[8] D. Chopra, A Cura Quântica, O Poder da Mente e da Consciência na Busca da


Saúde Integral, Editora Best Seller, 42ª edição, Rio de Janeiro (2004).

[9] A. Goswami, Física da Alma, Editora Aleph, 2ª reimpressão, São Paulo (2005).

[10] A. Kardec, A Gênese, FEB, 34ª edição, Rio de Janeiro (1991).

[11] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 1ª. edição, Rio de Janeiro (2006).

[12] F. C. Xavier e W. Vieira, pelos Espíritos de Emmanuel e André Luiz, Estude e


Viva, 11ª edição, FEB, Rio de Janeiro (2005).

[13] A. Kardec, Obras Póstumas, IDE, 1ª edição, Araras (1993).


Alexandre Fontes da Fonseca é professor de Física na Universidade Federal
Fluminense, em Volta Redonda (RJ).
Autor(es): Alexandre Fontes da Fonseca

Título: UMA ANÁLISE ESPÍRITA DA OBRA “A FÍSICA DA ALMA” DE AMIT


GOSWAMI

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Resumo: As explicações para os conceitos de alma, reencarnação e mediunidade contidas na


obra “A Física da Alma” do professor Amit Goswami são analisadas com base no Espiritismo.

Mostramos a existêmcia de uma enorme discordância entre a teoria de Goswami e o que a


Doutrina Espírita ensina. Uma análise científica do argumento básico de Goswami de que a
alma, a reencarnação e a mediunidade são fenômenos não-locais, em termos do que a Física
considera um fenômeno não-local, mostra que o modo pelo qual esse argumento foi proposto é
arbitrário e não satisfaz os rigores que a Física determina para qualquer trabalho de pesquisa na
área. Dessa forma, a obra “A Física da Alma” não tem respaldo científico da Física. O
Espiritismo, por estar baseado em fatos, tem muito mais valor científico do que a proposta de
Goswami. Alertas de responsabilidade na divulgação de teorias espiritualistas baseadas na
Ciência são feitos ao movimento espírita de modo a preservar a divulgação do Espiritismo de
críticas desnecessárias.

1. Introdução

O século findo é caracterizado pela consolidação da Ciência como detentora da verdade em vista
do bem estar, saúde e desenvolvimento que ela trouxe à sociedade. A Ciência muito contribuiu
para separar o que é essencial do que é acessório ou superstição com relação aos fenômenos
naturais, levando Kardec a dizer, no diálogo com o cético na obra O Que É O Espiritismo, que
“é precisamente o positivismo do nosso século que faz com que adotemos o Espiritismo...” já
que “O Espiritismo repudia, nos limites do que lhe pertence, todo efeito maravilhoso, isto é, fora
das Leis da Natureza; (...) Ele amplia, igualmente, o domínio da Ciência, e é nisto que ele
próprio se torna uma ciência; (...) e como sua teoria do futuro repousa sobre bases positivas e
racionais, ela agrada ao espírito positivo do nosso século.”

Porém, quando não se conhece como a Ciência trabalha e se desenvolve, a crença de que ela é
garantia única da verdade pode gerar confusão e fanatismo. Um exemplo recente de excesso
nesse aspecto foi recentemente relatado em uma carta publicada no número 328 da prestigiada
revista científica Science. Nela, mais de 240 cientistas, todos membros da Academia Nacional de
Ciências dos Estados Unidos, apresentaram um desabafo contra pressões que muitos colegas tem
sentido por causa de erros e controvérsias nas previsões associadas ao clima do nosso planeta. A
idéia de que a Ciência garante a verdade absoluta das coisas gerou, com relaçao ao problema do
clima, pensamentos do tipo “devemos esperar até que os cientistas tenham absoluta certeza antes
de tomar quaisquer providências”, o que é considerado pelos cientistas um equívoco muito
grande já que, pela própria natureza da Ciência, nunca ela terá certeza absoluta. Por causa disso,
alguns cientistas estão sendo processados na Justiça por terem fornecido relatórios incompletos
ou errados, o que demonstra ignorância sobre a Ciência. Alguém condenaria Isaac Newton à
prisão porque a sua mecânica não vale para átomos e partículas subatômicas? No caso do clima,
esperar certezas absolutas para tomar medidas preventivas para a ação do homem sobre a
natureza é que é um “perigoso risco para nosso planeta” em função do que já se sabe.

O deslumbramento pela Ciência teve contribuição forte da Física. Suas teorias modernas tem
atraído muito a atenção das pessoas em função delas tocarem em assuntos que estão no
imaginário das pessoas como se o Universo tem limites, do que é feita a matéria, como são os
mecanismos da vida, etc. A módia e a imprensa também tiveram papeis importantes na
divulgação da Ciência.

O respeito pela Ciência não só é incentivado pelo Espiritismo como foi exemplificado por
Kardec na codificação. Porém, em geral, o espírita não conhece muita coisa a respeito do que
realmente a Ciência é, e de como o conhecimento científico se desenvolve. Uma consequência
disso no movimento espírita é a crença de que se algum conceito não tiver respaldo nas teorias
modernas da Ciência, o mesmo não tem valor científico [3]. Felizmente, temos no movimento
espírita alguns esforços no esclarecimento sobre o que é Ciência, Ciência Espírita, e o tríplice
aspecto do Espiritismo [4-6].

No caso da Física, alguns resultados das suas teorias mais modernas tem exercido uma atração
especial sobre os espiritualistas em geral. Questões como passagem do tempo diferente para
diferentes observadores, impossibilidade de medidas absolutamente precisas de posição e
velocidade de um móvel, a natureza probabilística das partículas subatômicas da matéria, dentre
outras, tem levado alguns espiritualistas a extrapolarem essas teorias modernas da Física, na
formulação de teorias que dêem suporte para conceitos como Deus, a alma, os fenômenos
ligados a ela, saúde e doença, etc. Existe uma literatura não-científica * relativamente vasta e
conhecida sobre o uso de conceitos da Física nessas questões e exemplos de autories conhecidos
são Fritjof Capra, com “O Tao da Física” [7], Jean E. Charon, com “O Espírito Este
Desconhecido” [8], Dr. Deepak Chopra, com “A Cura Quântica” [9], e Ken Wilber, com
“Quantum Questions” [10], este último tendo exposto o pensamento místico ou religioso dos
grandes físicos que fizeram as descobertas das teorias modernas da Física do século passado.
Além desses autores, destacamos mais um que é físico e espiritualista, e que, em particular, se
tornou muito conhecido no meio espírita pelos diversos livros em que emprega conceitos da
Física Quântica nas suas teses sobre reencarnação, alma e mediunidade: Dr. Amit Goswami,
professor de Física aposentado da Universidade de Óregon. Goswami é autor da obra “A Física
da Alma” [11] que será aqui analisada por nós com base no Espiritismo.

* aqui o termo “não-científico” aqui se refere ao fato do conteúdo dessas obras não serem fruto
de trabalho de pesquisa regular dentro da Física, com métodos e rigores usuais que os físicos
empregam em seus trabalhos de pesquisa na Física. Os autores dessas obras apenas utilizaram
conceitos da Física em suas teses e hipóteses, sem terem qualquer respaldo ou reconhecimento
da comunidade de físicos ou da Física.

Neste artigo, discutiremos as explicações de Goswami para os conceitos de alma, reencarnação e


mediunidade, comparando-os com o que o Espiritismo ensina. Mostraremos que a teoria do
professor Goswami é contrária à Doutrina Espírita e que o uso que ele faz da Física Quântica não
é rigoroso a ponto de considerarmos ser isso um problema para o Espiritismo. Nosso propósito é
alertar o movimento espírita para o cuidado e responsabilidade com aquilo que é divulgado como
estando de acordo com o Espiritismo, chamando a atenção para o seu real valor como ciência
que, do ponto de vista filosófico, é maior do que as teorias modernas da Física.
Gostaríamos de mencionar que esse artigo não se propõe a denegrir a imagem pessoal do
professor Amit Goswami que merece todo o nosso respeito pelo esforço que teve em propor uma
teoria para alguns conceitos espiritualistas que ele acredita. Mas, como o Espiritismo deve
caminhar “de par com o progresso” (ítem 55, cap. I da Gênese [12]) é preciso esclarecer o
movimento espírita sobre como o progresso científico de fato ocorre e que a obra de Goswami
não possui o respaldo da Ciência. E mais: a teoria do Prof. Amit é oposta ao que ensina o
Espiritismo e defendê-la significa indiretamente atacar o Espiritismo.

Este artigo está organizado da seguinte maneira: na Seção 2, exporemos alguns pontos da obra
“A Física da Alma”, de Amit Goswami, em que a explicação apresentada para os conceitos de
alma, reencarnação e mediunidade estão claramente em desacordo com o Espiritismo. Na Seção
3, vamos analisar alguns pontos que formam a base da teoria de Goswami, mostrando que o uso
dos conceitos da Física não satisfez o rigor dessa Ciência. Na seção 4, por fim, resumiremos os
pontos principais deste trabalho e apresentaremos nossas conclusões.

abaixo outros trechos da dissertação -

(...)
(...)
(...)

2.2 Reencarnação

Segundo Goswami (cap.4, pag. 83) as “reecarnações de uma mesma vida (...) estão ligadas pelo
fio da não-localidade quântica ...”. O chamado fenômeno de não-localidade da Física Quântica é
a base para a explicação de Goswami para a reencarnação. Antes de prosseguir, vamos
brevemente entender o que seria não-localidade. Em matéria publicada no Jornal Espírita
[15,16], descrevemos um fenômeno de não-localidade entre duas ou mais partículas como aquele
em que são satisfeiras as seguintes condições:

1. Instantaneidade (cuja idéia é diferente de muito rápido);


2. Não depende da distância entre os objetos;
3. Não se utiliza de nenhum meio físico, como o som se utiliza do ar para ser transmitido;
4. Não serve, isoladamente, para enviar informação de um lugar a outro;
5. Somente se verifica em sistemas isolados do resto do mundo.

Um fenômeno de ligação entre dois objetos será não-local se TODOS esses ítens forem
satisfeitos. Se um só deles não se verificar, o fenômeno não será não-local.

(...)
(...)
(...)

3. Valor científico da obra “Física da Alma”

Apesar de se basearem em conceitos da Física Quântica, as teorias contidas na obra “Física da


Alma”, de Amit Gsowami, não foram obtidas seguindo-se rigores formais da área da Física.
Goswami baseia sua tese em outra obra de sua autoria, “O Universo Autoconsciente” [18], onde
Goswami propõe um novo tipo de paradigma científico, fora do esquema tradicional da Ciência,
em que a unidade fundamental é a consciência e não a matéria. Ao propor um novo modo de
pensar, Goswami se afasta da Ciência não podendo assim validar suas teses através da mesma.
Portanto, a obra “Física da Alma” não é científica no sentido profissional dessa palavra, isto é,
no sentido que se dá para as pesquisas próprias realizadas na área de Física. Talvez num ponto de
vista filosófico, se possa considerar a proposta de Goswami como sendo científica, mas isso não
confere a ela nenhum valor equivalente ao que a Física dá para aquilo que é fruto do seu
trabalho. Em outras palavras, o fato de Goswami utilizar conceitos da Física não torna sua teoria
uma teoria da Física.

(...)
(...)
(...)

4. Conclusões

Neste artigo, revisamos a obra “Física da Alma” identificando como seu autor, Prof. Amit
Goswami, apresenta e explica conceitos como alma, reencarnação e mediunidade, em
comparação com os ensinamentos do Espiritismo. Verificamos a discrepância entre a teoria de
Goswami e a Doutrina Espírita e em vista da última ter caráter progressista e dever andar junto
com os progressos da Ciência, analisamos as bases científicas da primeira concluindo que ela
não possui bases verdadeiramente científicas apesar de citar conceitos da Física Quântica.

(...)
(...)
(...)

Para concluir, deixamos dois alertas. O primeiro alerta é sobre o cuidado com o modismo atual
de utilizar conceitos de Ciência, mormente os de Física Quântica, muitos deles bem inacessíveis
à compreensão mais profunda do leigo, para propor teorias espiritualistas. Sempre que não
pudermos analisar com conhecimento de causa, um assunto qualquer que pretenda adentrar o
meio espírita, vale a recomendação de Erasto (considerada regra de ouro por J. Herculano Pires
na sua tradução do Livro dos Médiuns) contida no Livro dos Médiuns (2ª parte, cap. XX, ítem
230): “É melhor repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria
errônea.”

O segundo alerta é sobre a responsabilidade de nós espíritas com a divulgação do Espiritismo.


De tudo que expomos acima verificamos que divulgar a obra “Física da Alma”, de Amit
Goswami, é fazer propaganda contrária ao Espiritismo, ou ao que ele ensina. Cuidemos disso,
pois lembrando Emanuel [20] “O Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade –
a caridade de sua própria divulgação.”

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REFERÊNCIAS

[1] A. Kardec, O Que É O Espirtismo, 1ª edição de bolso, FEB, Rio de Janeiro (2008).
[2] P. H. Gleick et al. “Climate Change and the Integrity of Science”, Science 328, p. 689
(2010).
[3] A. L. Xavier Jr. “Algumas Considerações Oportunas Sobre a Relação Espiritismo- Ciência”,
Reformador Agosto, pp. 244-46 (2005).
[4] A. F. Da Fonseca, “Curso de Ciência e Espiritismo: Aulas 1 a 18”, Boletim do GEAE
números de 483 a 500 (2004 e 2005)
[5] A. Chagas, Introdução à Ciência Espírita, Publicações Lachâtre, 1ª edição, Bragança Paulista
(2004).
[6] S. S. Chibeni, “O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso”
Reformador Agosto, pp. 37-40 (2003); Setembro, pp. 38-40 (2003); Outubro, pp. 39-40 (2003).
[7] F. Capra, O Tao da Física, Editora Cultrix, 16ª edição, São Paulo (1995).
[8] J. E. Charon, O Espírito Este Desconhecido, Editora Melhoramentos, 10ª edição, São Paulo
(1990).
[9] D. Chopra, A Cura Quântica, O Poder da Mente e da Consciência na Busca da Saúde
Integral, Editora Best Seller, 42ª edição, Rio de Janeiro (2004).
[10] K. Wilber, Quantum Questions, Mystical Writings of the World’s Greatest Physicists,
Editora Shambhala, 2ª edição, Boston (2001).
[11] A. Goswami, Física da Alma, Editora Aleph, 2ª reimpressão, São Paulo (2005).
[12] A. Kardec, A Gênese, FEB, 34ª edição, Rio de Janeiro (1991).
[13] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, FEB, 1ª edição, Rio de Janeiro (2008).
[14] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 1ª. edição, Rio de Janeiro (2006).
[15] A. F. Da Fonseca, “O Pensamento é Matéria? É Quântico? Parte I”, Jornal Espírita 361, p. 9
(2005).
[16] A. F. Da Fonseca, “O Pensamento é Matéria? É Quântico? Parte II”, Jornal Espírita 362, p.
3 (2005).
[17] H. F. Saltmarsh, Evidence of Personal Survival from Cross Correspondences, Bell and
Sons, New York (1938).
[18] A. Goswami, O Universo Autoconsciente, Ed. Rosa dos Tempos, 4ª edição, Rio de Janeiro
(2001).
[19] A. Aspect, J. Dalibard e G. Roger, “Experimental test of Bell’s inequalities using time-
varying analysers”, Physical Review Letters 49, pp. 1804-06 (1982).
[20] F. C. Xavier e W. Vieira, pelos Espíritos de Emmanuel e André Luiz, Estude e Viva, 11ª
edição, FEB, Rio de Janeiro (2005).

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VÍDEOS

1a. parte

2a. parte

3a. parte
http://www.espiritualidades.com.br/Liga/6_ENLIHPE_2010/trabalhos/
10_Ademir_Xavier_desenvolvimentos_na_teoria_de_transportes.htm
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Autor(es):

Título: DESENVOLVIMENTOS NA TEORIA DE TRANSPORTE E MANIFESTAÇÕES


FÍSICAS

GEAE
www.geae.inf.br

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Resumo: Desenvolve-se a teoria das manifestações físicas utilizando alguns apontamentos da


teoria dos fluidos físicos como auxiliares na apreensão de algumas características do fenômeno.
Uma nova conjectura a cerca da ocorrência de fenômenos de transporte em condições físicas
especiais será feita.
Os fundamentos do presente trabalho são: existência de um fluido produzido pelo médium que
se exterioriza, fluido de origem desconhecida que parece interagir com radiação
eletromagnética. Esse fluido está provavelmente associado a um tipo de matéria exótica que é
segregada pelo organismo em colaboração com o corpo perispiritual em seres humanos.

Introdução e definições

A foto da Fig. 1 é um instantâneo do fenômeno que deu origem ao movimento espírita em escala
planetária: o famoso fenômeno das mesas girantes. Tomado como evento sobrenatural por
alguns, considerado como diversão por muitos, e, hoje em dia, um tanto esquecido, as mesas
girantes constituem um dos fenômenos mais extraordinários da Natureza.
A explicação para o movimento das mesas forneceram os próprios Espíritos: um fenômeno de
transporte realizado sob a influência de entidades desencarnadas (por eles controlados), sob a
ação promotora de um fluido produzido por um médium de efeitos físicos. A necessidade da
existência de um médium é considerada fato incontestável e um dos requisitos para a
funcionalidade da teoria das manifestações físicas proposta pelos Espíritos [1].
Fig. 1 Levantamento de uma mesa em uma sessão com a médium Eusápia Paladino.

Considerando o movimento da mesa e a necessidade do médium, não é difícil imaginar um


modelo para contabilizar a transferência de uma entidade fundamental também presente em
qualquer fenômeno: a energia. Aqui adentramos em uma área onde é conveniente explicar de
antemão o significado dos termos:

Fluido. No sentido da teoria dos transportes do Livro dos Médiuns, é uma substância produzida
pelo médium e envolvida nos fenômenos de efeitos físicos. O fluido é manipulado ou
manipulável por entidades desencarnadas e pode dar origem ao movimento de objetos nas
manifestações físicas espontâneas.

Ele é produzido em abundância por médiuns de efeitos físicos. É relevante para o estudo aqui
desenvolvido o exposto no parágrafo 98, Capítulo V, página 112 do Livro dos Médiuns [1]:

(...) porque o sistema nervoso facilmente excitável de tais médiuns lhes permite, por meios de
certas vibrações, projetarem abundantemente em torno de si, o fluido animalizado que lhes é
próprio.

Segundo o Livro dos Médiuns, acresce ainda que, na maioria das pessoas, existe um “envoltório
refratário” que não permite a expansão do perispírito.

Fluido físico. Um fluido físico é definido como uma substância que se deforma continuamente
(flui) sob aplicação de uma tensão de cisalhamento, independentemente da amplitude da tensão
aplicada. É um subconjunto das fases da matéria que inclui líquidos, gases, plasmas e, até certo
ponto, sólidos plásticos. Fluidos também são divididos em líquidos e gases. Líquidos formam
uma superfície livre (isto é, que não se prende à superfície do vaso que o contém) enquanto que
gases não fazem isso. Fluidos guardam a propriedade de não resistir à deformação e de
possuírem habilidade de fluir (também descrita como a de se moldarem ao vaso). Essas
propriedades são advindas da incapacidade de suportar tensão de cisalhamento em equilíbrio
estático. [2]

Já a divisão entre sólidos e fluidos não é tão óbvia. A distinção é feita avaliando a viscosidade da
matéria.

Tensão de cisalhamento. Uma tensão que aparece ou é aplicada na direção tangencial ou


paralela a superfície onde se aplica a força.
Energia. Não é uma substância no sentido material, mas uma quantidade de algo que mede a
propensidade para o movimento cinético (mecânico) ou a outras manifestações de ordem
elétrica, magnética, térmica, gravitacional, nuclear etc, sem a qual nenhum fenômeno físico
acontece.

É evidente que o conceito de energia, tal como utilizado pela física, também deve se aplicar aos
fenômenos físicos de natureza psíquica. De qualquer forma, energia aqui não tem outro significa
além do fornecido acima. Balizados nos conceitos de fluido e energia acima apresentados,
aventuramo-nos a ir um pouco além no desenvolvimento da teoria dos transportes de efeitos
físicos: os transportes ocorrem por transferência de energia do médium ao objeto. Mas, não se
trata de ação de um fluido? Não se está a propor uma modificação na explicação original. De
fato, o fenômeno ocorre por meio do fluido, mas há uma transferência de energia do médium
para o objeto, como exigência da lei de conservação de energia.

Fig. 2 Comparação entre o movimento de um pistão pela expansão de um gás e o levantamento


de objetos por um médium de efeitos físicos. Nesse paralelo, tanto o movimento do pistão como
da mesa se dá pela ação de um fluido invisível (no caso A é o gás em expansão). No caso B é o
fluido de que fala o Livro dos Médiuns.

Para tornar claro esse tipo de afirmação, fazemos uso de um paralelo. Na Figura 2 (A)
representa-se um cilindro dotado de um êmbolo sobre o qual se deposita um peso. Um gás é
aquecido e provoca o movimento do êmbolo por meio de um processo termodinâmico de
expansão do gás. Esse gás, ao elevar o peso de uma distância h, realiza trabalho. Energia
proveniente de uma fonte de calor (Q) provoca a expansão do gás. Em (B) representa-se um
médium de efeitos físicos, e a elevação de um objeto de uma altura h. O peso do objeto
multiplicado pela altura fornece uma medida da energia associada ao fenômeno: essa energia é
proveniente do médium e, na ausência de maiores detalhes, trata-se de um fenômeno de
conversão de energia química (do organismo do médium) em energia mecânica. Podemos
imaginar que o organismo do médium – através de nutrientes contidos no alimento – é capaz de
gerar uma substância, o fluido, que é manipulada pelos Espíritos na produção da elevação da
mesa. O paralelo que existe entre (A) e (B) se justifica: tanto em um como em outro efeito, um
fluido não visível está associado na produção do fenômeno. Esse paralelo não passou
despercebido a Kardec [3]:

Quando se produz o vácuo na campânula da máquina pneumática, essa campânula adere com
força tal ao seu suporte, que impossível se torna suspendê-la, devido ao peso da coluna de ar que
sobre ela faz pressão. Deixe-se entrar o ar e a campânula pode ser levantada com a maior
facilidade, porque o ar que lhe fica por baixo contrabalança o ar que, pela parte exterior, a
comprime. Contudo, se ninguém lhe tocar, ela permanecerá assente no suporte, por efeito da lei
de gravidade. Agora, comprima-se-lhe o ar no interior, dê-se-lhe densidade maior que a do que
está por fora, e a campânula se erguerá, apesar da gravidade. Se a corrente de ar for violenta e
rápida, a mesma campânula se manterá suspensa no espaço, sem nenhum
ponto visível de apoio, à guisa desses bonecos que se fazem rodopiar em cima de um repuxo
dágua.

A quantidade de energia necessária para o movimento é proporcional à massa do objeto, bem


como a quantidade de fluido envolvido que é liberado pelo médium [4]:

A massa dos fluidos combinados é proporcional à dos objetos. Numa palavra, a força deve estar
em proporção com a resistência; donde se segue que, se o Espírito apenas traz uma flor ou
objeto leve, é muitas vezes porque não encontra no médium, ou em si mesmo, os lementos
necessários para um esforço mais considerável.

Já se reportou a elevação ou movimentação de objetos da ordem de muitos quilos por médiuns


de efeitos físicos. Para um objeto da ordem de 50 kg, uma elevação da ordem de 2 metros requer
um mínimo de 980 Joules de energia, ou, aproximadamente, 234 calorias. Isso é 1% do
conteúdo energético de um biscoito (Um biscoito salgado contém da ordem de 100 mil Joules,
ou 40 kcal). Como todo sistema de conversão ou transformação de energia, é possível imaginar
médiuns como 'máquinas pouco eficientes', de forma que bem mais energia deve estar envolvida
na produção desses fenômenos, energia essa que é perdida para o ambiente, por conta da
irreversibilidade do fenômeno. A baixa eficiência deve estar provavelmente associada à natureza
bioquímica da fonte de energia envolvida.

A importância de se considerar a eficiência e a quantidade de energia envolvida em um


fenômeno de transportes de efeitos físicos está nos eventuais “rastros” deixados pelo fluido na
produção do fenômeno. De fato, é bastante possível que ocorram modificações mensuráveis nas
propriedades termodinâmicas do ar de uma sala onde se passa um efeito desse tipo. Não sendo
eficiente a conversão energética, é possível que parte da energia seja dissipada no ar (além de,
obviamente, no próprio corpo do médium, fonte do fluido). Se isso acontecer, variações
pequenas na temperatura e densidade do ar podem resultar em pistas importantes da presença do
fluido no início ou durante a realização do fenômeno.

Fluidos físicos, pressão e distribuição estatística de velocidades.

Em todos os desenvolvimentos subseqüentes de fluidodinâmica, fluidos físicos são descritos


como substâncias formadas por partículas de natureza microscópica. É objeto da Física
Estatística [5] determinar as propriedades dos fluidos físicos (como eles se comportam frente a
variações de pressão, densidade, temperatura etc) por meio dessa descrição microscópica.
Assim, as características dos fluidos são propriedades emergentes deriváveis das propriedades
dessas partículas e de como elas se comportam de forma coletiva.

(...)
(...)
(...)
- abaixo outros trechos da dissertação -

(...)
(...)
(...)

Conclusão

Embora nossa tentativa de formulação de uma previsão sobre como se daria o fenômeno possa
parecer estranha, pois mistura elementos matemáticos (alguns diriam „redundante?), não
estamos a dizer que essa descrição é necessária. Nosso objetivo aqui foi tão só a clareza na
compreensão das idéias, tendo como ponto de partida construções teóricas elementares da Física
Estatística. De qualquer forma, inexistem quaisquer garantias de que nossa proposta esteja
correta. Nossa previsão é o resultado da aplicação de algum raciocínio teórico em torno de
conhecidas dessas leis e as descrições típicas dos fenômenos de transporte, mas ela pode muito
bem estar equivocada.

(...)
(...)
(...)

REFERÊNCIAS

1 A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Cap. IV, 74, questão XIV, 58ª Edição, FEB (1944).
2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Fluido
3 Opus cit [1], Capítulo V, parágrafo 79.
4 Opus cit [1], Capítulo V, parágrafo 99, 14ª questão.
5 R. Reif, Fundamentals of Statistical and Thermal Physics, McGraw-Hill (1985)
6 Opus cit [1], Capítulo V, parágrafo 81.
7 A. J. Smits (Editor), T. T. Lim (Editor), Flow Visualization: Techniques and Examples, World
Scientific Publishing Company (2000)

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VÍDEOS

1a. parte
2a. parte
Ademir Xavier

Uma proposta experimental para detecção de movimentos de fluidos nas


cercanias de médiuns de efeitos físicos

6.º ENLIHPE - Trabalhos apresentados


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11_Ademir_Xavier_deteccao_movimentos_de_fluidos_mediuns_efeitos_fisicos.htm

Autor(es):

Título:

UMA PROPOSTA EXPERIMENTAL PARA DETECÇÃO DE MOVIMENTOS DE FLUIDOS


NAS CERCANIAS DE MÉDIUNS DE EFEITOS FÍSICOS

->>> VÍDEOS - os vídeos com parte da apresentação estão ao final do texto abaixo - cliquem
aqui -

-> segue abaixo trecho da apresentação escrita -

- clique aqui e veja a Galeria de Fotos do Encontro -

Resumo:

A palavra “Espírito” deriva do latim “spiritus” que significa sopro. Não seria a origem dessa
palavra ligada a constatações antiqüíssimas de movimento de objetos, provocados por médiuns
de efeitos físicos, sob influências de Espíritos, mas por analogia com a ação intempestiva dos
ventos?

Temos aqui um paralelo que não pode ser meramente acidental. Em princípio, o comportamento
dos fluidos físicos e suas propriedades dinâmicas é objeto de estudo da fluidodinâmica. Neste
trabalho reunimos argumentos físicos a fim de propor um arranjo experimental capaz de
evidenciar modificações no estado termodinâmico do ar que cerca um médium de efeitos físicos.

Introdução

Nossa compreensão acerca da existência dos Espíritos teve como origem a ocorrência de
fenômenos de natureza essencialmente material. Ruídos e movimento de objetos sem causa
física ordinária formaram a base para o movimento espiritualista em países anglo-saxões que
culminou com a edição de O Livro dos Espíritos de A. Kardec na França em 1857. Descobriu-se
que a causa desses fenômenos se deve a integração de dois agentes fundamentais: a existência de
um médium de efeitos físicos e ao controle exercido por agentes inteligentes, capazes de
controlar os movimentos. O papel do médium é o de fornecer um fluido (de natureza e
composição ainda desconhecidos) que serve como meio de transporte de energia que, fluindo do
médium, é capaz de se manifestar como energia cinética de movimento ou da realização de
outros tipos de ocorrências tangíveis.

Embora os detalhes do processo de conversão de energia sejam desconhecidos, é razoável


imaginar que a lei de conservação desse atributo da matéria (a energia) seja igualmente válida
nas manifestações físicas. Portanto, energia do médium (como fonte bioquímica) é transformada
em energia cinética ou potencial (no caso de elevação de objetos, levitação etc). Como em todo
processo de conversão de energia, parte dela é dissipada no ambiente de acordo também com a
2ª lei termodinâmica, que prevê aumento da entropia envolvida no processo. O médium,
entretanto, não é um sistema isolado, de forma que devem ocorrer interações pronunciadas entre
ele e o meio que o cerca.

Espera-se, assim, que a ocorrência das manifestações físicas seja acompanhada por variações
nas propriedades termodinâmicas do ar que cerca o médium. É objetivo deste trabalho sugerir
como seria possível observar e mensurar essas variações de forma não invasiva, sem prejuízo à
ocorrência do fenômeno. Para isso, iniciamos o trabalho colhendo alguns informes a cerca de
fenômenos de ectoplasmias e citando fontes de experimentos realizados por Metapsiquistas.
Embora saibamos que manifestações físicas tenham se dado de forma espontânea, o fenômeno
pode ser controlado, de certa forma, com médiuns bem treinados. Assim, é viável a realização de
experiências com o objetivo de medir as propriedades termodinâmicas da atmosfera que envolve
o fenômeno. Para isso, sugerimos um arranjo experimental, que torna possível a visualização de
variações pequenas no índice de refração do ar. Finalmente, na conclusão, chamamos a atenção
para a importância de se implementarem projetos com o objetivo de se estudar as manifestações
físicas.

Observações colhidas de fenômenos de Ectoplasmias

Charles Richet criou o termo “Ectoplasma” para designar a substância que se observou ser
produzida por médiuns de efeitos físicos na realização de vários fenômenos cinéticos, além de
materializações. Mais recentemente, André Luiz em “Mecanismos da Mediunidade”
[1] afirma sobre essa substância:

O ectoplasma está situado entre a matéria densa e a matéria perispirítica, assim como um
produto de emanações da alma pelo filtro do corpo, e é recurso peculiar não somente ao homem,
mas a todas as formas da Natureza.

André Luiz também confirma que o ectoplasma está sujeito “invariavelmente ao pensamento e à
vontade do médium que o exterioriza ou dos Espíritos desencarnados ou não”. Essa substância
está associada à produção de fenômeno de transporte, sendo produzida por todos os seres vivos.
Em um interessante livro “Um fluido vital chamado Ectoplasma” [2], Mattieu Tubino descreve
experiências de vários anos em torno da tese de que o ectoplasma não precisa necessariamente
ser visível para que possa causar vários sintomas ao organismo de quem o produz. O ectoplasma
de Tubino, Richet e André Luiz corresponde ao fluido magnético animal de que falam os
Espíritos no Livro dos Médiums [3] e são a mesma coisa, em estados diferentes de densidade ou
concentração. A tese principal do livro de Tubino, entretanto, defende a idéia de que o
ectoplasma é produzido continuamente pelo organismo humano e liberado de forma normal em
grande parte dos indivíduos. O acúmulo desse fluido pode provocar, entretanto, manifestações
físicas, conforme narrado no livro através de vários casos. Ainda segundo Tubino, em algumas
pessoas, a liberação é interrompida e, de seu acúmulo, surgem moléstias ou alterações de saúde
(a maior parte delas considerada de natureza 'psicosomática') com sintomas facilmente
identificáveis. Não deixa de ser interessante também a correlação que esse autor faz entre os
sintomas da histeria (que vem do grego 'histerion' ou útero, uma possível alusão ao inchaço
abdominal causado pelo acúmulo do fluido) com aqueles identificados com o 'acúmulo de
ectoplasma'.

- abaixo outros trechos da dissertação -

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Variação de densidade e sua mensuração por meio de processos ópticos especiais

Em seu estado mais comum, o ectoplasma é um fluido invisível, talvez um subproduto da


atividade metabólica do organismo humano. Em um estado concentrado, ele torna-se visível,
inicialmente, como matéria opaca. Há, entretanto, descrições na literatura que este estado de
matéria visível opaca não é único: com o tempo ele pode se tornar luminoso (ou, talvez,
'bioluminoso'). De qualquer forma, algo extraordinário ocorre quando o fluido torna-se material
à custa de esforço do médium. Nesse esforço, energia é gasta para produzir, libera e movimentar
a substância, que também serve de 'alavanca' para a produção de fenômenos de transporte de
objetos.

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Conclusão e perspectivas futuras

O objetivo deste trabalho foi apresentar um projeto viável para futuras pesquisas na área de
ectoplasmias ou estudo de movimentação de fluidos em torno de médiuns de efeitos físicos.
Embora tenhamos frequentemente frisado a necessidade de médiuns dessa categoria, outros
tipos de modalidade mediúnica também podem ser estudados com a mesma técnica. A idéia de
Dalziel, Hughes e Sutherland [9] tornou bastante simples a construção e operação de uma
câmera Schlieren. Esse sistema é capaz de registrar variações sutis na densidade do ar e, por
meio de uma equação, variações térmicas ou de pressão no ar circundante, podem ser
visualmente observadas e medidas. Discutimos a possibilidade, baseado em argumentos
termodinâmicos, de que o ambiente onde se encontre um médium de efeitos físico em transe seja
modificado de forma a se observarem, por meio da técnica sugerida, variações pequenas na
densidade do ar. Em particular, nosso interesse maior é observar variações de densidade
produzidas por meio da emissão de fluidos por parte do médium, o que coincidiria com
observações realizadas por E. Osty durante a década de 30.

(...)
(...)
(...)

REFERÊNCIAS
1 - A. Luiz, Mecanismos da Mediunidade, p. 271, 22ª Edição, FEB (1955).
2 - M. Tubino, Um „Fluido Vital? chamado Ectoplasma, 1ª Edição, Lachâtre (1997).
3 - A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Cap. IV, 74, questão XIV, 58ª Edição, FEB (1944).
4 - R. C. Johnson, Materialisations, Psycho-Kinesis and Poltergeist Phenomena. Em
www.survivalafterdeath.org.uk/articles/johnson/materialisations.htm.
5 - Em www.survivalafterdeath.org.uk/mediums/schneider.htm. Esse texto tem como referência:
E. Osty: Les Pouvoirs inconnus de l'esprit sur la matiere (1932).
6 - G. S. Settles, Schlieren and Shadowgraph Techniques, Springer (2001).
7 - B. H. Pandya, G. S. Settles e J. D. Miller, Schlieren imaging of shock waves from a trumpet,
J. Acoust. Soc. Am. 114 (6).
8 - N. Kudo, H Ouchi, K Yamamoto e H Sekimizu, A simple Schlieren system for visualizing a
sound field of pulsed ultrasound, Journal of Physics: Conference Series 1 (2004) p. 146–149.
9 - S. B. Dalziel G. O. Hughes and B. R. Sutherland, Method and apparatus for obtaining images
and measurements of density fluctuations in transparent media, U.S. Provisional Patent
Application (No. 60/170,928).
10 - S. B. Dalziel, G. O. Hughes, B. R. Sutherland, Whole-field density measurements by
'synthetic schlieren', Experiments in Fluids 28 (2000) p. 322-335. Springer-Verlag (2000).
11 - S. Décamp, C. Kozack and B. R. Sutherland, Three-dimensional schlieren measurements
using inverse tomography, Experiments in Fluids, 44, 5 (2008).
12 - I. Ihrke e M. Magnor, Image-Based Tomographic Reconstruction of Flames, R. Boulic, D.
K. Pai (Editors), Eurographics/ACM SIGGRAPH Symposium on Computer Animation (2004).

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