Ciencias Das Religioes No Campo Da Espir

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Ciências das Religiões no campo


da espiritualidade e saúde
Sciences of Religions in the field
of spirituality and health

Fernanda Pinheiro Cavalcanti*


Recebido: 16/08/2017. Aprovado: 27/11/2017.

Resumo: Este artigo tem o objetivo de analisar as Ciências das Religiões no


campo da Espiritualidade e Saúde, com o intuito de contribuir para um maior
entendimento a respeito da fé, e da conscientização, acerca da espiritualidade,
por meio da compreensão de transcendentalidade, na representação simbólica
do sagrado, por meio das práticas religiosas, no intuito de prevenção e resta-
belecimento da saúde. Mais especificamente na cura de doenças. Através de
um estudo bibliográfico, dialogando com autores da área, buscaremos definir
religião, espiritualidade, e discutiremos ainda acerca das Ciências das Religiões,
no universo da Espiritualidade e Saúde. E, especialmente, a contribuição da
religião em aspectos de promoção à saúde.
Palavras-chave: Religião. Ciências das Religiões. Espiritualidade e Saúde.
Abstract: This article aims to analyze the Sciences of Religions in the field of
Spirituality and Health, with the purpose of contributing to a greater understan-
ding about faith, and awareness, about spirituality, through the understanding of
transcendentality, in the symbolic representation of the sacred, through religious
practices, in order to prevent and restore health. More specifically in curing
diseases. Through a bibliographical study, dialoguing with authors of the area,
we will seek to define religion, spirituality, and we will also discuss the Sciences
of Religions in the universe of Spirituality and Health. And especially, the contri-
bution of religion in aspects of health promotion.
Keywords: Religion. Sciences of Religions. Spirituality and Health.

* Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Univer-


sidade Federal da Paraíba (Área de Concentração: Ciências Sociais das Religiões,
Educação e Saúde. Linha de Pesquisa: Espiritualidade e Saúde). Pós-graduada em
Psicopedagogia (Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa – Cintep, João Pessoa,
2010). Pós-graduada em Naturologia e Terapias Holísticas (Faculdade da Amazônia
– FAAM, João Pessoa, 2016). Graduada em Pedagogia (Universidade Federal da
Paraíba – UFPB, João Pessoa, 2008).
E-mail: fernandapcavalcanti@hotmail.com

Encontros Teológicos | Florianópolis | V.32 | N.3 | Set.-Dez. 2017 | p. 575-592


Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

1 Introdução

Ousaremos levar o estudo das Ciências das Religiões, sobretudo,


dentro do campo da Espiritualidade e Saúde, com a finalidade de um
maior entendimento a respeito da fé, da conscientização, acerca da
espiritualidade, por meio da compreensão de transcendentalidade, na
representação simbólica do sagrado, por meio das práticas religiosas, no
intuito de prevenção e restabelecimento da saúde. Mais especificamente
como já foi mencionado acima, na cura de doenças. Sendo este, portanto,
o nosso objetivo principal.
Analisaremos através de um estudo bibliográfico, a partir de con-
ceitos de grandes autores, acerca do que venha a ser religião, enquanto
termo, já que sabemos que a religião “funciona mais como uma via, para
se compreender, por meio dela, ordens sociais e culturais mais amplas,
nas quais a religião se insere, compõe e articula”.1
Pesquisaremos ainda neste trabalho, a respeito da espiritualidade
como fator preponderante, e que a religião na análise em questão passa a
ser vista como meio social de expressão da fé, caso os sujeitos envolvidos
na busca da cura pertençam a alguma religião específica.
Assim, podemos afirmar que o desejo de ser curado faz parte da
fé, do acreditar no desconhecido. Algo que é próprio do ser humano, in-
dependente de religiosidade. E é através da ligação com o desconhecido,
que o indivíduo tenta entender o mistério da vida e da morte. Precisa da
fé no desconhecido para compreender as doenças numa perspectiva de
desequilíbrio e acreditar em um poder capaz de saná-las.

Talvez seja na capacidade cognitiva do homo sapiens de refletir e hie-


rarquizar valorativamente essa última dualidade – vida e morte – que
resida a essência da relação entre religião e cura... Desde o início, os
homens começaram a criar seus mitos e a adorar seus deuses, no intuito
de expressar sua perplexidade e incorporar esse mistério a sua vida.2

1
CAMURÇA, Marcelo. Ciências sociais e ciências das religiões: polêmicas e interlo-
cuções. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 24.
2
LOPES, Marcelo e ALVES, Robson Medeiros. A cura nas religiões: uma visão histórica
panorâmica. Revista Religare. ISSN: 19826605, v.11, n. 2, set. 2014, p. 304. Disponível
em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/religare/article/view/22269>. Acesso em:
15 Set. 2015.

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Diante disso, o homem necessita simbolizar seus mitos para re-


produzir a compreensão do mistério da vida e morte, doença e cura que
permeiam a existência, e para que sua fé assim possa ser expressa, de
acordo com o que acredita, e que a razão não consegue explicar. Neste
caso, surgem os mitos que “são linguagens para traduzir fenômenos
profundos, indescritíveis pela razão analítica”.3 Levando o indivíduo
a um possível entendimento da relação da integralidade física, mental,
emocional e espiritual.
Compreende-se então, que fé e espiritualidade são recursos intrín-
secos que permeiam o processo de cura deste indivíduo, sendo parte de
uma prática mística pessoal do sujeito, que acredita em uma força que
pode vir a ser sobrenatural ou não, dependendo do significado que este
lhe atribui. Podendo haver vínculo religioso ou não. E sim, a necessidade
tão somente de existir a fé (o acreditar) de que a cura é possível.
Contudo, trataremos a seguir acerca das definições de religião,
segundo alguns autores, quanto ao termo de forma concisa, para que
haja uma melhor compreensão. Falaremos de Ciências das Religiões
como área científica. Um tópico a respeito de Espiritualidade e Saúde.
E ainda ousaremos tratar das Ciências das Religiões, sobretudo, dentro
do campo da Espiritualidade e Saúde, como mencionado anteriormente,
com uma visão direcionada a um maior entendimento sobre fé, e da cons-
cientização, a respeito da espiritualidade, por meio da compreensão de
transcendentalidade, na representação simbólica do sagrado, através das
práticas religiosas, no intuito de prevenção e restabelecimento da saúde.
Mais especificamente como já foi mencionado acima, na cura de doenças.
E com isso, trazer ao palco das Ciências das Religiões, a contri-
buição da religião em aspectos de promoção à saúde.

2 Religião

Falar de fé e religião pareça algo simples, diante do que o cris-


tianismo inseriu em nossa cultura (falando pejorativamente): a estrita
ligação de que só tem fé quem frequenta a igreja. Com isso, classifica-
mos a princípio como algo complexo. Deixaremos então, fé para mais
adiante, quando adentrarmos no tema da espiritualidade. E neste tópico

3
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do mundo – compaixão pela terra. 1. ed. Petró-
polis: Vozes, 1999. p. 37.

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Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

nos deteremos de fato no significado de religião. Sabendo que nunca


será possível uma definição, se não for analisada dentro de um contexto
histórico-cultural exclusivo.
Para iniciarmos uma melhor compreensão, vamos tentar des-
construir a visão imposta, sobretudo pelo cristianismo. E com a ajuda
de alguns autores, trataremos inicialmente em conceituar o termo, espe-
cialmente, como já foi dito, dentro de um contexto histórico – cultural,
de maneira concisa, perante o que é preciso descortinar o que nos foi
infligido por séculos, e buscar o significado, não que aborde uma única
religião, e sim todas que surgiram ao longo da história da humanidade,
e assim traga o real significado do que aqui estamos buscando.
Ao termo

religio os vocabulários latinos atribuem, em geral, significados correntes


entre os autores clássicos: “escrúpulo”, “consciência”, “exatidão”,
“lealdade” e outros afins. Nenhum desses termos, como se pode observar,
corresponde à ideia veiculada na nossa cultura pela palavra “religião”:
religio indicava, no mundo latino pré-cristão, essencialmente um estilo
de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão; no máximo,
evocava as modalidades de execução de um rito, que, pelo caráter da
religião romana, era regido por normas muito rígidas e escrupulosas.4

Remontando aos primórdios da origem do termo, como podemos


observar acima, nada tinha de transcendental. E sim uma sequencia de
atos de culto aos deuses no império romano, onde a prática prevalecia
sobre o crer. Sendo estas somente práticas, e ligava-se a outros termos
tanto por oposição, como por afinidade de acordo com a observação da
prática romana, que vieram assim dar forma e sustentação ao significado
do termo religião.

Já o próprio termo “religião” não é usado de modo uniforme, e até sua


derivação terminológica é disputada. Basicamente, a palavra latina
religio à qual remonta, descreve a “atuação com consideração ou a
observância cuidadosa”. Embora, para os romanos, a palavra religio
trouxesse principalmente o aspecto da exatidão ritual, da atuação cor-
reta no ato religioso, o termo pode ser representado em vários sentidos.

4
PRANDI, Carlo. As religiões: problema de definição e classificação (Apêndices). In:
FILORAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo. As Ciências das Religiões. São Paulo: Paulus,
1999. p. 255.

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Cícero (106-43 a. C.) em seu tratado De natura deorum (Sobre a natureza


dos deuses) define religio como cultus deorum, ou seja, como “culto
aos deuses”, como “cultivo” ou “adoração” dos deuses, estando em
evidência o comportamento ritual correto. Quase como termo oposto
de neglegere, “negligenciar”, relegere, “observar cuidadosamente”, se
refere à realização e à sequencia correta dos atos no culto, no serviço
a deus ou, mais corretamente, no “serviço aos deuses”. Desse modo,
Cícero expressa a compreensão romana de “religião”, conforme a
qual se trata na religião menos de crer corretamente do que de realizar
corretamente os atos dirigidos aos deuses – portanto, a religião romana
caracteriza-se não pela ortodoxia, mas pela ortopraxia.5

Como podemos observar na colocação de Klauss Hock, outros


termos foram colocados na tentativa de explicar o que vem a ser religião.
E como já foi dito anteriormente, não estamos olhando a transcendentali-
dade colocada a posteriori pelo cristianismo, em cima da prática romana
de culto aos deuses. Mas de fato, a origem do termo e suas ligações
etimológicas. Como relegere “a observação cuidadosa”, e a indicação
de outro significado, feito por Lactâncio no século III/IV, onde deriva
“religio de religare – ligar (amarrar) ligar de novo, ligar de volta”. 6
Isso foi prato cheio para a Igreja Católica, com Agostinho (séc.
IVd. C.), ao apropriar-se do termo e enquadrá-lo às conveniências cristãs.

No De civitate Dei, o pensador cristão procura não se opor a Cícero,


talvez reconhecendo a maior correção etimológica do seu étimo; tenta
uma via intermediária: de relegere passa para religere (“reeleger”
como retorno a Deus).7

Ao apropriar-se do termo, Agostinho faz uma interpretação de reli-


gio, como retorno a Deus. Do homem que estava perdido, e se arrepende.
Ele “adota essa definição e descreve a religio vera, a ‘religião verda-
deira’, como aquela que é orientada pelo zelo de reconciliar e ‘ligar de
volta’ a alma que se afastou de Deus ou se desgarrou dele”.8 No caso em
questão, trata-se mais precisamente da total submissão à igreja católica,
que impregnou o imaginário humano de medo, como forma de controle,

5
HOCK, Klauss. O que é religião? In: Introdução à Ciência da Religião. São Paulo:
Loyola, 2010. p. 17-18.
6
Ibidem, p.18.
7
PRANDI, 1999, p. 256.
8 HOCK, 2010, p. 18.

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Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

de detenção do poder, como havia analisado o poeta latino Lucrécio, já


no séc. I a.C., ao referir-se mais precisamente a respeito do cárcere do
medo imposto pela religião, e ao demonstrar total desprezo, que fora
mais tarde retomada através do Iluminismo, podendo assim ser definido:

O modelo de religião que se pode deduzir de Lucrécio é, pois, o seguinte:


a) a religião nasce do medo do incontrolável; b) sua função é induzir
os homens a realizar até coisas nefandas; c) está destinada a extinguir-
-se, com a aquisição de uma mais ampla racionalidade e consciência 9

Ora, já que o modelo de religião proposto por Lucrécio determina


que a religião esteja fadada à extinção devido a um lampejo de racionali-
dade e consciência, por homens que por séculos se dobraram aos ditames
religiosos, seria esta porventura, de fato, a religião o ópio do povo, como
colocado por Karl Marx (1844)?10 Ou seria a religião necessária à sus-
tentação social, ao perpetuar conceitos de valores e crenças? Já que esta
é meio de comunicação e de repetição de conceitos e regras em grande
escala populacional.
Quando a religião em seu discurso deixa de lado o intuito da ma-
nipulação, ao incutir o medo nas pessoas, e se despe ainda de qualquer
sentido místico, se abre a uma compreensão que segundo Bruno Latour
pode vir a ser apresentada de maneira simplificada:

A religião, na tradição que eu gostaria de tornar novamente presente,


nada tem haver com subjetividade, nem com transcendência, nem com
irracionalidade, e a última coisa de que ela necessita é a tolerância dos
intelectuais abertos e caridosos.11

Ou seja, o conceito de religião nasce sem qualquer vínculo com


transcendentalidade, ou de formas para incutir o medo e a opressão, para
manipulação, como vimos anteriormente. E ainda, na citação acima,
Bruno Latour apresenta religião de maneira simplificada. Sem qualquer
amarração com outros aspectos que lhes foram atribuídos ao longo da
história, de ligação com o divino, ou de qualquer outra força sobrenatural.

9
PRANDI, 1999, p. 259.
10
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Cr%C3%ADtica_da_Filosofia_do_Direito_de_Hegel>. Acesso em: 05 Jan. 2017.
11
LATOUR, B. “Não congelarás a imagem”, ou: como não desentender o debate ciência-
-religião. Mana, v.10, n.2,2004, p.358. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/
v10n2/25164.pdf>. Acesso em: 10 Mai. 2017.

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A religião e as religiões estão de fato dentro de processos sistêmicos mais


fortes do que a própria fé, frequentemente reduzidas a ideologias mais ou
menos gratificantes ou a práticas de vida distantes de toda Filosofia da
consciência: as perspectivas de sentido e as práticas de transcendência,
das quais a vida dos homens continua tendo necessidade, não estão mais
ligadas paradigmaticamente à transcendência.12

Este o nosso intuito até aqui: conceituar religião de maneira


simples. De fato, a sua origem quanto ao termo, buscando não vincular
com nenhuma religião, embora no início, mencionamos buscar uma
definição de religião, que atendesse a todas as religiões, e não somente
o cristianismo. Garantindo assim a compreensão do que seja religião,
ao dialogar com brilhantes estudiosos da área.
Contudo, a seguir, nos deteremos em pesquisar acerca das Ciên-
cias das Religiões, propriamente dita, como área de estudo científico.
Que bebeu das demais áreas, sobretudo, nas áreas de ciências humanas,
tornando-se rica metodologicamente, e hoje embora ainda existam bar-
reiras, principalmente no meio acadêmico, pode-se considerar grande e
digna de toda respeitabilidade.

3 Ciências das Religiões

Trataremos neste ponto de alguns possíveis entendimentos sobre


Ciências das Religiões. Mas para isso precisaremos dialogar com alguns
autores acerca das Ciências das Religiões como área científica, que luta
por seu espaço, especialmente, no meio acadêmico, diante das demais
áreas científicas. Que contribui com a gama de possibilidades de desen-
volvimento de pesquisas dentro deste universo em que nos debruçamos,
justamente pela versatilidade em dialogar com várias outras ciências.
Trazendo encantamento por não se deixar moldar por discursos recru-
descidos, sobremaneira daqueles que acreditam fazer teologia cristã.

Em muitas línguas europeias, a palavra latina religio está profundamente


enraizada. Uma vez que a cultura europeia foi marcada pelo cristianismo,
quando europeus ouvem a palavra “religião” pensam, em primeiro lugar,
na religião cristã. Com isso, seguem um impulso de transformar algo
vago em algo concreto. Na árvore do não-conhecimento, palavras cres-

12
GASBARRO, Nicola Maria. Fenomenologia da Religião. In: PASSOS, J. D; USAR-
SKI, F. (Org.) Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas; Paulus,
2013. p. 76.

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Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

cem em grande número, mas são vazias. Pode-se falar com propriedade
apenas a respeito do que não se conhece. Logo, quem quer falar sobre
religião, mas conhece somente a cristã, não tem opção.13

Com isso, trabalharemos aqui religião como ciência. Como já foi


dito anteriormente, sem qualquer amarra a conceitos religiosos.
Quanto à sua formação, o termo Ciências das Religiões surge a
partir de formulações epistemológicas que trouxeram à luz o entendi-
mento de uma ciência, que não se denominasse através de um único
campo de estudo, e sim de vários, que buscassem explicar o que seria o
fenômeno religioso.

Quem fala de Ciência da Religião tende, de um lado, a pressupor a


existência de um método científico e, do outro, também de um objeto
unitário. Quem, ao contrário [...], prefere falar de Ciências das Religiões,
o faz porque está convencido tanto do pluralismo metodológico (e da
impossibilidade de reduzi-lo a um mínimo denominador comum) quanto
do pluralismo do objeto (e da não-liceidade e até impossibilidade, no
plano da investigação empírica, de construir sua unidade).14

Com abertura, portanto, para beber da fonte de várias ciências.


Sendo, deste modo, rica de um pluralismo metodológico. Embora tenha
provocado ao longo de várias décadas debates calorosos e divergentes
entre diversos teóricos das ciências sociais. De tal forma, Ciências das
Religiões entende-se como ciências que estudam fenômenos compreen-
didos não a uma religião, mas às diversas religiões.
Já ao que concerne à substancialidade no universo das Ciências das
Religiões, e que é parte preponderante neste trabalho, adentraremos no
plano da espiritualidade. Mais precisamente acerca de Espiritualidade e
Saúde, para que, logo adiante, tomemos a cabo o nosso ponto principal, que
é o estudo das Ciências das Religiões no campo da Espiritualidade e Saúde.

4 Espiritualidade e saúde

Nosso trabalho envolve um campo que vem ganhando espaço na


área da saúde e que aos poucos também adentra no universo das Ciên-

13
GRESCHAT, Hans-Jurgen. O que é Ciência da Religião? São Paulo: Paulinas, 2005.
p. 17.
14
PRANDI, 1999, p. 12.

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cias das Religiões, uma vez que envolve questões como fé, símbolos e o
sagrado. (Tais fatores serão discutidos mais adiante). E ainda, questões
ligadas ao universo transcendental, ao tentarmos definir espiritualidade.
Contrapondo com a razão, já que se trata da fé diretamente voltada à
saúde. Diante disso, questionamentos científicos são imprescindíveis.
Trataremos aqui não somente de espiritualidade, e sim de espiritua-
lidade e saúde, como já foi dito. Adentrando com sutileza no campo da fé
e de sua importância na cura de doenças, que aos poucos vem ganhando
reconhecimento dentro da área médica. Espiritualidade é um termo que
não se fecha em única definição. Contudo, nesta pesquisa podemos definir
espiritualidade como um dos elementos que integram o ser humano em
sua totalidade, e como fator importante à saúde.

Poderíamos chamar de “espiritualidade” o conjunto de buscas, práticas


e experiências tais como as purificações, as asceses, as renúncias, as con-
versões do olhar, as modificações de existência, etc., que constituem, não
para o conhecimento, mas para o sujeito, para o ser mesmo do sujeito.15

Em todo o mundo várias pesquisas estão sendo feitas através da


união entre ciência e espiritualidade na busca do equilíbrio e cura de
inúmeras doenças.
Como exemplo, temos ciência e espiritualidade, disciplina do curso
de medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universida-
de Federal de Minas Gerais (UFMG). Ainda, várias universidades norte-
americanas oferecem cursos optativos de medicina e espiritualidade.16
Mostram, com isso, que a medicina convencional percebe a importância
do componente espiritual como fator intrínseco à estabilização e cura
dos mais diversos tipos de doenças.
Com este raciocínio, a espiritualidade faz uso de um composto
primordial para a obtenção da cura, que é a fé. A ciência há algum tempo
vem comprovando curas e atribuindo-as à fé.
Portanto para adentrar em espiritualidade, é imprescindível a sua
associação ao conceito de fé.

15
FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito: curso dado no Collège de France
(1981-1982); edição estabelecida sob a direção de Francois Ewald e Alessandro
Fontana, por Fréderic Gros; tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma annus Muchail.
3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. p. 15.
16
COURAS, Raimunda Neves de Almeida. Cirurgia Espiritual como Prática Terapêutica.
João Pessoa: Inbrasilis, 2014. p. 19.

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Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

Logo “ter fé é acreditar firmemente em algo ou em alguém, acre-


ditar que esse algo ou alguém possa satisfazer as suas necessidades.
Todos têm fé, nem que seja em si mesmos”.17 Acreditar no que não se
vê, e não se pode tocar. Que é parte de cada pessoa. Variando apenas
na definição que cada um atribui de acordo com sua cultura, valores e
crenças, sendo estas religiosas ou não.
Mesmo que o crer seja específico do ser humano, a fé não pode
ser embasada exclusivamente em fenômenos sobrenaturais, intangíveis e
invisíveis. A fé precisa da razão para que estes mesmos fenômenos sejam
reconhecidos. Já que a razão independente do tempo, busca sempre a
verdade universal, isenta de qualquer influência.

Ninguém crê ou deixa de crer em Deus por causa da ciência. Da mesma


forma, ninguém deixa de ser cientista por causa da fé ou descrença. O
sujeito do conhecimento científico é o homem em sua racionalidade,
o homem em sua globalidade: razão, coração, sentimento e emoção.
Ciência e fé designam diferentes atividades do ser humano que se com-
pletam mutuamente.18

Com todos estes argumentos acerca da importância da fé na cura


de doenças, e da necessidade da união entre fé e razão, para que haja uma
legitimação da mesma, ainda existem aqueles que não aceitam essa união.

É lamentável que esta separação entre fé e razão ainda persista porque é


extremamente danosa ao progresso humano. Com esse descompasso, há
o predomínio do egoísmo e do orgulho, o que favorece o recrudescimento
do hedonismo, da violência, da ambição sem freios, dos vícios, da into-
lerância religiosa e científica, das grandes desigualdades e calamidades
sociais.19

Entretanto, acreditamos que a fé pode ser apresentada sem qualquer


condicionamento, já que “fé é estar possuído por aquilo que nos toca
incondicionalmente”.20 Ou seja, não são necessários experimentos que

17
TEIXEIRA, Francisca Niédja Barros. Imposição de mãos: um estudo de religiões
comparadas. 2009. p. 75.
18
ZILLES, Urbano. Fé e razão na filosofia e na ciência. Revistas da PUCRS, Porto Alegre,
v. 35, n. 149, p 475, Set. 2005. Disponível em:<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/
index.php/teo/article/viewFile/1697/1230>. Acesso em: 15 Nov. 2016.
19
KOENIG, Harold G. Espiritualidade no cuidado com o paciente: por quê, como, quando
e o quê. 1. ed. São Paulo: Fe, 2005. p. 7.
20
TILLICH, 1996, p. 5.

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venham a mensurar o grau de intensidade da fé de uma pessoa, ou de um


grupo, para que determinado resultado ocorra. Diante disso, entendemos
que a fé não precisa ser colocada à prova, mas descrita.
Logo, podemos afirmar que o desejo de ser curado faz parte da fé,
do acreditar no desconhecido. Que é algo próprio do ser humano inde-
pendente de religiosidade. E é através da ligação com o desconhecido,
que o indivíduo tenta entender o mistério da vida e da morte. Precisa da
fé no desconhecido para compreender as doenças numa perspectiva de
desequilíbrio e acreditar em um poder capaz de saná-las.

Talvez seja na capacidade cognitiva do homo sapiens de refletir e hie-


rarquizar valorativamente essa última dualidade – vida e morte – que
resida a essência da relação entre religião e cura [...] desde o início, os
homens começaram a criar seus mitos e a adorar seus deuses, no intuito
de expressar sua perplexidade e incorporar esse mistério a sua vida.21

Não podemos falar em fé sem deixar de fazer menção a símbolos


que acompanham o homem ao longo da história, trazendo riqueza e
diversidade cultural. Porém, aqui, nos deteremos a tratar do conceito
de símbolos ligados à fé, já que na nossa pesquisa em questão, a sim-
bologia, sobretudo na religião, está carregada de significados ligados à
crença e a fé.

Aquilo que toca o homem incondicionalmente precisa ser expresso


por meio de símbolos, porque apenas a linguagem simbólica consegue
expressar o incondicional. [...] A terceira característica do símbolo
consiste em que ele nos leva a níveis da realidade que, não fosse ele,
nos permaneceriam inacessíveis.22

Símbolos, portanto, são recursos que o homem tem para expressar


a sacralidade presente na sua essência, e que o liga ao transcendental.
Ou seja, poderíamos dizer, então, que são meios onde é materializada a
fé no divino. Podendo vir a se manifestar através da linguagem religio-
sa; imagens de deuses ou santos; quadros na grande maioria das vezes
enigmáticos; cerimônias; vestimentas; objetos utilizados em rituais;
textos sagrados e outros, que são pertinentes às religiões. Cada qual com
sua maneira de simbolizar a fé e identificar fiéis dentro de sua tradição
religiosa. Segundo Mircea Eliade:

21
LOPES e ALVES, 2015, p. 304.
22
TILLICH, Paul. Dinâmica da Fé. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1996. p. 30-31.

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Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

O símbolo não somente torna o Mundo “aberto”, mas também ajuda


o homem religioso a alcançar o universal. Pois é graças aos símbolos
que o homem sai de sua situação particular e se “abre” para o geral e o
universal. Os símbolos despertam a experiência individual e transmutam-
-na em ato espiritual, em compreensão metafísica do Mundo.23

Símbolos aqui são expressões de religiosidade, e que no nosso es-


tudo em questão, levam a compreensão de formas pelas quais indivíduos
podem expressar a sua crença no transcendental, sendo estas ligadas a
alguma religião ou não. E como consequências o ajudarão no processo
de cura de doenças e promoção da saúde.
Observa-se, assim, que fé e espiritualidade são caminhos essenciais
que permeiam o processo de cura, sendo parte de uma prática mística
pessoal do sujeito que acredita em uma força que pode vir a ser sobre-
natural. Podendo haver vínculo religioso ou não, como ainda crença ou
não em algum deus. E, sim, basta a necessidade tão somente de existir
a fé (o acreditar), para a cura ser possível.
A seguir falaremos em aspectos pertinentes ao trabalho que aqui
está sendo desenvolvido, que diz respeito às Ciências das Religiões no
Campo da Espiritualidade e Saúde. Daí então, à luz da compreensão,
buscaremos aspectos que levam o transcendental para dentro do universo
da religião, ao falarmos, sobretudo de fé.

4.1 Ciências das Religiões no Campo da Espiritualidade


e Saúde

Quanto ao estudo das Ciências das Religiões no universo da


Espiritualidade e Saúde, sendo esse o objeto desse trabalho, podemos
ainda falar acerca de religião, quanto definição, a partir da crença em
uma substância, que para alguns estudiosos seria o ponto comum entre
todas as religiões, já que o nosso interesse neste ponto é de adentrar no
universo da transcendentalidade e do sagrado, que também são elementos
constituintes que definem religião, deixando um pouco de lado, neste
momento, a função social que lhe cabe, trazendo à tona a parte essen-
cialista, substancialista de “religião”.

23
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Trad. Rogério
Fernandes. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 101-102.

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O problema estaria resolvido se conseguíssemos identificar aquilo


que é comum a todas as religiões e defini-lo terminologicamente como
“religião”. Até agora, esforços nesse sentido estão sendo desenvolvi-
dos principalmente em duas direções: por um lado, tenta-se procurar
esse comum em determinados conteúdos, numa “substância” comum
(compreensão substancialista, às vezes também substancial); certos
pesquisadores de religião até esperam poder descobrir, desse modo,
a “natureza”, a “essência” da religião que está na base de todas as
religiões distintas [...].
Quanto à compreensão substancialista de “religião”, os conteúdos
que parecem constituir o menor denominador comum das religiões são
definidos de modo mais amplo ou menos amplo.
Dado o vínculo do termo religião com a história cultural e intelectual do
Ocidente, não surpreende que muitas vezes “Deus” seja indicado como
o elemento fundamental constitutivo de tais definições – ocasionalmente
de forma muito concreta, às vezes também na forma de um abstrato
(“divindade”) ou no plural (“deuses”).24

Com todo este discurso, queremos chegar ao ponto que leva o


estudo da espiritualidade para dentro do campo das Ciências das Reli-
giões. Ao tratarmos de conceitos que inevitavelmente trazem aspectos
que remetem ao transcendental e à fé no sagrado.
Quem penetra na esfera da fé, está pisando no Santíssimo da vida.
Onde há fé também se encontra um conhecimento do que é sagrado. [...]
Algo que nos toca incondicionalmente se torna sagrado. A experiência
do sagrado é experiência do divino.25
Já que uma vez que existe a crença no sagrado, em uma determi-
nada força sobre-humana, que foge à nossa compreensão de tangível,
palpável e que nos eleva ao patamar de seres dotados da capacidade de
conexão com a essência existente dentro de nós, que nos eleva à condi-
ção, sim, de sagrados. Capazes de, por meio desta crença, transcender
condições, como estados de enfermidade, ao restabelecermos a saúde.
Embora saúde não signifique ausência de doença. Como bem coloca a
Organização Mundial de Saúde, ao definir saúde como um estado de

24
HOCK, 2010, p. 22-23.
25
TILLICH, 1996, p.13.

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Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

completo desenvolvimento físico, mental e bem-estar social e não me-


ramente a ausência de enfermidade.26
Esta, portanto, é a nuance que queremos dar ao estudo das Ciências
das Religiões no campo da Espiritualidade e Saúde. Através do prisma
científico unido à crença, à fé de cada indivíduo. Onde a religião tem
papel fundamental ao contribuir com suas práticas, que permitem ao
religioso expressar a sua fé. E assim como consequência exercer a sua
espiritualidade, de maneira que lhe traga bem estar e saúde.
A religião faz parte da evolução humana, independente da época na
história. Desde o homem das cavernas, até os dias atuais, o homem traz
em seus sistemas cognitivos uma disposição a ser receptivo à religião,
como cita Eduardo Cruz: “Os seres humanos sempre e necessariamente
produzem religiões (ou coisas que se assemelham a elas), por assim
dizer, o que vale tanto para o ‘homem das cavernas’ como para o nosso
‘homem moderno’”.27
Diante desta perspectiva, podemos entender que essa capacidade
inata que o homem traz em seu sistema cognitivo, de abertura a conven-
ções religiosas, é parte da sua espiritualidade, de expressão da crença
numa força sobrenatural ou não.

Manifestando o sagrado, um objeto qualquer torna-se outra coisa e,


contudo, continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do
meio cósmico envolvente. Uma pedra sagrada nem por isso é menos
uma pedra; aparentemente (para sermos mais exatos, de um ponto de
vista profano) nada a distingue de todas as demais pedras. Para aque-
les a cujos olhos uma pedra se revela sagrada, sua realidade imediata
transmuta-se numa realidade sobrenatural. Em outras palavras, para
aqueles que têm uma experiência religiosa, toda a Natureza é suscetível
de revelar-se como sacralidade cósmica.28

Nesta citação de Eliade podemos compreender que, ao trazer o


sagrado, na representação aqui em questão, uma pedra sagrada, tal re-
presentação simbólica atinge uma realidade sobrenatural. E para tanto,

26
Definição de saúde pela própria Organização Mundial da Saúde contida na sua
constituição, de 15 de setembro de 2005. Disponível em: <http://apps.who.int/gb/bd/
PDF/bd47/EN/constitution-en.pdf>. Acesso em: 20 Jan. 2017. [Tradução da autora].
27
CRUZ, Eduardo R. Estatuto epistemológico da ciência da religião. In: PASSOS, João
Décio; USARSKI, Frank. Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas,
Paulus, 2013. p. 47.
28
ELIADE, 1992, p. 13.

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àqueles que se dão às práticas religiosas, o sagrado se despoja na essência


da natureza, como resposta à busca de uma possível divindade.
No cenário religioso, o homem é apto por natureza a conectar-se
com a transcendentalidade por meio da sua capacidade de representar
o sagrado, através de representações simbólicas, dando sentido ao que
acredita, ou seja, ao manifestar a sua fé. E com isso pode vir a alterar
estados de enfermidades presentes no corpo, trazendo, como consequ-
ência, bem-estar. Que no caso em questão é a cura de doenças.
Podemos entender que a religião, nesta pesquisa, vem contribuir
com aspectos de promoção à saúde.

5 Considerações finais

Neste trabalho, com a ajuda de alguns autores, tratamos em con-


ceituar o termo religião, dentro de um contexto histórico-cultural, de
maneira sucinta, perante o que nos foi imposto por séculos. Buscando o
significado, não na abordagem de uma única religião, mas de todas que
surgiram ao longo da história da humanidade.
Falamos de Ciências das Religiões como área científica, que luta
por seu espaço, especialmente, no meio acadêmico, em presença de outras
áreas. Tendo ela vindo a contribuir com o leque de opções de desenvol-
vimento de pesquisas dentro deste universo do nosso estudo, exatamente
pela possibilidade de abertura em estabelecer diálogos com várias outras
ciências. E que comove, por não se atrelar a discursos fechados, limitados,
especialmente, daqueles que se denominam teólogos cristãos.
Debatemos ainda acerca de espiritualidade e saúde. Entrando com
sutileza em conceitos sobre fé e sua importância na cura de doenças. Tema
que vem ganhando reconhecimento dentro da área médica.
Com esta investigação é possível perceber que espiritualidade,
fator principal deste artigo, pode ser definida como a capacidade inata
que o homem traz em seu sistema cognitivo de abertura a convenções
religiosas. E que a religião, na análise em questão, vem a ser meio social
de expressão da fé, caso os sujeitos envolvidos na busca da cura perten-
çam a alguma religião específica. Já que podemos observar que através
de representações simbólicas do sagrado, o homem conecta-se com a
sua transcendentalidade.

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Ciências das religiões no campo da espiritualidade e saúde

E acendemos o discurso das Ciências das Religiões no universo


da Espiritualidade e Saúde, objeto deste trabalho, adentrando na religião,
a partir da crença em uma substância, que para alguns estudiosos seria
o ponto comum entre todas as religiões, já que o nosso interesse neste
ponto foi entrar no campo da transcendentalidade e do sagrado, que são
elementos constituintes que também definem religião, deixando em se-
gundo plano, a função social da religião, e trazendo à cena o componente
essencialista, substancialista de “religião”.
Concluímos então que fé e espiritualidade são recursos intrín-
secos que permeiam o processo de cura daquele que busca, sendo
parte de uma prática mística pessoal do sujeito, que acredita em uma
força que pode vir a ser sobrenatural ou não, dependendo do signi-
ficado que este lhe atribui. Podendo haver vínculo religioso ou não.
Há, isso sim, a necessidade única de existir a fé (o acreditar), para
que a cura seja possível.
Sabemos que se trata de um diálogo que precisa ser bem mais
aprofundado. E com isso percebemos a necessidade da participação de
outras vozes tanto do campo das Ciências das Religiões, como também
da área da saúde, acerca da importância da espiritualidade e da fé,
na cura de doenças e na promoção da saúde. Para que nossa área em
Ciências das Religiões, com a linha de pesquisa em Espiritualidade
e Saúde contribua com os estudos, que já vêm sendo realizados nas
áreas científicas e acadêmicas, por meio das análises de observações
de práticas religiosas.

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