HC

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

DIEGO FERNANDES BESERRA DE BRITO, advogado regularmente


inscrito na OAB/MS no 19.169, com endereço profissional vide rodapé, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5o, LXVIII da
Constituição Federal, impetrar a presente ordem de:
HABEAS CORPUS c.c PEDIDO DE SUBSTITUIÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA E
CONCESSÃO DE LIMINAR
Em favor do paciente XXX , atualmente recolhido em uma cela do
complexo prisional – EPPar.
1. DOS FATOS
O paciente foi preso na data de xxxx, em pseudoflagrância delitiva pelo
crime capitulado no Artigo 33, da Lei no 11.343/06, sendo preso pela polícia militar
local, que, o encaminhou para a Delegacia de Polícia para os devidos procedimentos,
sendo posteriormente, autuado em flagrante delito pelo Delegado de Plantão.
Resta consignado no auto de prisão em flagrante que uma guarnição da
polícia militar, em patrulha de rotina, próximo ao Mercado Costa, visualizaram o
paciente dirigindo o veículo xxx, quando deram ordem de parada, por estar em um
cruzado, o paciente não parou deimediato, seguindo por 10 metros para estacionar o
veículo em segurança. Após revista pessoal foi encontrado em posse do paciente duas
trouxas de cocaína pesando aproximadamente 6 gramas.
Diante dos fatos, diligências sem mandado judicial foram realizadas em
sua residência e na residência de sua genitora, sem autorização da sua esposa que se
encontrava juntamente com sua filha de xx anos de idade, sendo encontrado uma
porção de maconha pesando aproximadamente 21 gramas. Em depoimento, o paciente
confessou ser usuário de drogas e nada mais.
Na data de xxxx, às 13h45min a autoridade coatora, em Audiência de
Custódia, decidiu em converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, conforme
documentos em anexos, mesmo tendo este subscritor pugnado pelo relaxamento da
prisão que se deu de forma ilegal o qual foi negado na mesma decisão.
Assim, desde a data da prisão em flagrante, o paciente se acha recolhido
a uma cela do complexo prisional EPPar, em atenção ao decreto preventivo odiado, o
que não se aceita ante o evidente constrangimento ilegal desnecessário e abusivo em
face da liberdade do paciente.
Resta consignar que a verdade dos fatos é que o autor é usuário de
drogas, fato que justifica a pequena quantidade de entorpecentes encontrado em sua
posse. No momento do fato, o paciente havia buscado sua esposa na escola, pois a
mesma trabalha durante o dia e estuda anoite, e, estavam retornando para sua
residência quando a polícia militar os abordaram, fizeram a revista e encontram os
entorpecentes.
Nota-se que não houve nenhuma atitude suspeita por parte do paciente
ou indícios que demonstre que o mesmo estaria traficando naquela região.
2. DO CONSTRANGIMENTO ILEGAL E DESNECESSÁRIO
A prisão preventiva é flagrantemente ilegal, em razão da ausência de
elementos fáticos que pudessem justificá-la. Ademais, a autoridade a quo, escora a
mantença do paciente preso de forma vaga e num juízo sumário de suposta
necessidade de enclausurá-lo preventivamente, ante a possível ocorrência de abalo à
ordem pública, conveniência da instrução criminal e garantia de aplicação da lei penal.
Exmo. Sr. Des. Relator: O caso comporta, inclusive, o deferimento de
Medida Liminar - inaudita altera pars. Como bem se denota da Decisão objurgada, o D.
Magistrado, de forma sucinta e sem a fundamentação concreta que os requisitos
legais exigem, impingiu ao paciente o constrangimento à liberdade, na forma de prisão
cautelar, na verdade, impondo-lhe a antecipação de uma possível pena a ser
porventura aplicada.
É que, de concreto, não se vislumbra a possibilidade comprovada de que,
posto solto, o paciente iria afrontar a “garantia da ordem pública”, a conveniência de
instrução criminal ou a garantia de aplicação da Lei Penal, como alegou o Magistrado
em sua Decisão.
Como, Senhor Relator, se pode afirmar de forma superficial e sem lastro
concreto que o paciente posto solto, causaria a instabilidade da ordem pública (apenas
com o fim de assegurar a credibilidade das instituições públicas, ou a tranquilidade
social, considerando a periculosidade do paciente). Ora onde consta que o mesmo se
trata de pessoa perigosa? Como visto, o paciente não possui ficha criminal tão pouco
antecedentes. É homem trabalhador, com emprego fixo à 04 anos no mesmo
estabelecimento, possui família, esposa e filha pequena, em resumo é uma pessoa de
bem que cometeu um erro em sua vida, e vislumbra seu arrependimento através de
seu depoimento em juízo.
De onde se pode constatar que o mesmo seja membro de algum grupo
criminoso ou qualquer facção criminosa que poderia ser visto como um agente tão
nocivo à sociedade a ponto de (mesmo em sede de cognição sumária) autorizar a
clausura discutida?
De onde o D. Magistrado coator extraiu fatos concretos suficientes para
fundamentar que o paciente, estando solto, atrapalhará a instrução criminal? O que se
vê é que, de forma superficial e com meras alusões destituídas de substâncias
concretas, o Magistrado, sem a devida fundamentação exigida, impôs ao paciente a
prisão odiada, sem razão de ser.
É sabido que a prisão preventiva, sendo para garantia da ordem pública,
por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da Lei Penal é
ilegítima quando não devidamente fundamentada; segundo Ministro do STF Celso de
Mello:“Todos sabemos que a privação cautelar da liberdade individual é sempre
qualificada pela nota da excepcionalidade, eis que a supressão meramente processual
do ‘jus libertatis’ [direito à liberdade] não pode ocorrer em um contexto caracterizado
por julgamentos sem defesa ou por condenações sem processo”. (in
Liminar concedida no H.C. 118580).
Da decisão objurgada, não se tem um lastro concreto de provas que
indique a sua real necessidade, devendo ser afastadas alegações vagas e destituídas
de fundamentação idônea. Apenas a gravidade em abstrato, ou alegações de que posto
solto o paciente poderá causar isso ou aquilo, não servem de substratos aptos a
escorar um decreto constrangedor de sua liberdade.
Como se denota, o D. Magistrado, a uma, fundamenta o decreto prisional
preventivo do paciente tão somente em alegações destituídas de cunho concreto e que,
mesmo em sede de cognição sumária, não estão a autorizar a clausura odiada.
É necessário, também, considerar que o paciente possui residência fixa
na comarca de Paranaíba-MS, possuía emprego fixo mais de 04 anos na mesma
empresa até o início do mês de janeiro, quando a empresa sem justo motivo encerrou
seu contrato de trabalho, portanto, atualmente está recebendo seguro-desemprego.
Ainda sim, o paciente possui esposa e filha pequena que dependem de si.
Independentemente da situação de flagrância, o paciente confessou ser usuário de
droga, e pela quantidade ínfima de entorpecentes que foram encontrados em sua
posse está mais que evidente que se trata de posse para uso, vinculado ao artigo 28 da
Lei de Drogas e não tráfico como imposto pelo delegado de polícia.
Até o Supremo Tribunal Federal, em sessão datada de 10/05/2012,
reconheceu a inconstitucionalidade do disposto no artigo 44 da Lei no 11.343/06, que
vedava a concessão de liberdade provisória em favor dos acusados da prática do
crime de tráfico de drogas, por entender que o referido dispositivo legal afronta os
princípios da presunção de não culpabilidade e da dignidade humana e, como tal, tem
sido concedido aos referidos acusados, o direito de responder ao processo em
liberdade, o que não pode ser diferente do tratamento dado ao paciente.

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança.

A Jurisprudência dominante no C. STF, em casos análogos, é no seguinte sentido,


verbis:
19/06/2012 PRIMEIRA TURMA. HABEAS CORPUS 107.903 SÃO PAULO
RELATOR : MIN. LUIZ FUX PACTE.(S) :JOSÉ ALEXANDRE DA
SILVAACTE.(S) :ERIVELTON DORNELAS DA SILVA IMPTE.(S) :ROBERTO
BENETTI FILHO COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS . TRÁFICO E
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE ENTORPECENTES (ARTS. 33 E 35 DA
LEI N . 11.343/2006). GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE BASE EMPÍRICA IDÔNEA. VEDAÇÃO À LIBERDADE
PROVISÓRIA PREVISTA NO ART. 44 DA LEI N. 11.343/2006. DECLARAÇÃO
INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. 1. A prisão
cautelar para garantia da ordem pública é ilegítima quando fundamentada
tão somente na gravidade in abstracto do crime. 2. In casu, a liberdade
provisória foi indeferida sob duplo fundamento: (i) vedação do art. 44 da
Lei de Drogas e (ii) necessidade da prisão cautelar com supedâneo no
artigo 312 do Código de Processo Penal, aludindo-se à gravidade in
abstracto, ínsita ao tipo penal, sem declinar qualquer elemento fático
subsumível às hipóteses legais do art. 312 do CPP. 3. É mister considerar
que os pacientes são primários, possuem residência fixa e foram presos
em flagrante com pequena quantidade deentorpecentes, impondo-se, por
isso, reconhecer o constrangimento ilegal a que submetidos. 4. O
Supremo Tribunal Federal declarou, incidentalmente, a
inconstitucionalidade do art. 44 da Lei n. 11.343/2006, afastando a vedação
legal à liberdade provisória ao preso em flagrante por tráfico de
entorpecentes. 5. Ordem concedida para revogar a prisão preventiva.

A Corte Superior de Justiça esposa o mesmo pensamento em situações deste jaez, in


verbis:
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO
O
RECURSO ESPECIAL CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO
AO
SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO
CONHECIMENTO. 1. (...). 3. No caso, a segregação antecipada
mostra-se desproporcional, revelando-se devida e
suficiente a imposição de medidas cautelares alternativas,
dada a apreensão de reduzida quantidade de estupefaciente,
a demonstrar que não se trata de tráfico de grande
proporção, e às condições pessoais da agente, jovem com
apenas 19 (dezenove) anos ao tempo do delito e primária. 4.
Condições pessoais favoráveis, mesmo não sendo
garantidoras de eventual direito à soltura, merecem ser
devidamente valoradas, quando demonstrada a
possibilidade de substituição da prisão por cautelares
diversas, adequadas e suficientes aos fins a que se
propõem. 5. Habeas corpus não conhecido, concedendo-se,
contudo, a ordem de ofício, para revogar a custódia
preventiva da paciente, mediante a imposição das medidas
alternativas à prisão previstas no art. 319, I, IV e V, do Código
de Processo Penal, expedindo-se alvará de soltura em seu
favor, salvo se por outro motivo estiver presa,
recomendando-se ao Juízo singular celeridade no
processamento da ação penal, diante das restrições ora
impostas. (STJ.HC 295385 / MG.5T.REL.
MIN.JORGE MUSSI.DJ.20/11/14).
HABEAS CORPUS. SEGREGAÇÃO CAUTELAR. GARANTIA DA
ORDEMPÚBLICA. NÃO EVIDENCIADO O PERICULUM
LIBERTATIS DOS
AGENTES. EVENTUAL CONDENAÇÃO QUE DIFICILMENTE
CULMINARÁ
EM CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME FECHADO.
PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
Ordemconcedida.
(Habeas Corpus No 70047725098, Sexta Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do
RS, Relator: João Batista Marques Tovo, Julgado em
22/03/2012)”
“HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. TENTATIVA DE ESTUPRO.
PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
REQUISITOS AUTORIZADORES DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR
NÃO EVIDENCIADOS.
RÉU PRIMÁRIO. FATO QUE NÃO AUTORIZA A PRISÃO.
IMPOSIÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR DIVERSA. Ordem
concedida. (Habeas Corpus No 70047675178, Sexta Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Batista
Marques Tovo, Julgado em 22/03/2012)”
Logo, não há perder de vista que a concessão da LIBERDADE PROVISÓRIA ao
paciente deve ser aplicada ao caso em discussão, porquanto o mesmo possui os
pressupostos aptos ao deferimento, tanto de ordem objetiva, quanto subjetivamente
falando.
A uma, porque os requisitos do artigo 312, do CPP, não se acham
presentes, devendo ser dada a devida observância ao Mandamento Maior insculpido no
art. 5o, inc. LXVI, bem como, no inciso, LXVIII, que dispõe que: “conceder-se-á habeas
corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
3. DO PEDIDO LIMINAR
Mostra-se de facilidade o reconhecimento da presença dos requisitos
autorizadores do deferimento dos pedidos. Veja-se que o paciente está enfrentando a
prisão cautelar sem que estejam presentes, desde logo, fatos concretos suficientes o
bastante para autorizar tamanho constrangimento ilegal.
Tem-se, a ínfima quantidade de droga apreendida e ainda, apenas
supondo que o mesmo estivesse traficando naquele local, o que deverá ser apurado ao
longo da instrução, mediante a observância do devido processo legal, bem assim, o
princípio da ampla defesa e o contraditório, assegurados constitucionalmente.
Igualmente, não há sequer indícios de que, posto solto, o paciente viria a
cometer atos atentatórios à dignidade da Justiça, abalo à paz pública ou à ordem
econômica e social; que iria atrapalhar de alguma forma a instrução criminal, ou
mesmo que frustraria a aplicação futura da Lei Penal. Logo, a falta cabal da presença
desses requisitos enseja a cassação do Decreto de Prisão monocrático, na forma com
bem prevê o art. 316, do CPP, ipsis litteris:
Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no
correr do processo, verificar a falta de motivo para que
subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem
razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei no 5.349,
de 3.11.1967).
Assim, a presença do primeiro pressuposto autorizador do deferimento
da medida liminar resta evidenciado no direito a gozar do benefício da Liberdade
Provisória, ou substituição da prisão pelas chamadas Medidas Cautelares Diversas,
uma vez que a Constituição Federal, bem como, o Diploma Adjetivo Penal não dispõem
de forma diversa.
De notar ainda que o constrangimento ilegal decorrente da custódia
preventiva desnecessária, sem dúvida, quanto mais se prolonga no tempo, mais ilegal
e violenta se torna à pessoa do paciente, numa clara imposição antecipada de uma
reprimenda que sequer se sabe poderá vir a ser aplicada no final da instrução
processual. A prisão ora em comento, passou a ser objeto de tortura e cerceamento
ao direito à liberdade pessoal do paciente.
Assim, quanto mais o Poder Judiciário demorar em prover-lhe o
restabelecimento do livre ir e vir (ainda que na forma de liberdade provisória
vinculada, ou de aplicação de Medidas Cautelares diversas da Prisão preventiva) se
estará prorrogando no tempo uma reprimenda antecipada, indevida e angustiante ao
paciente que poderá, muito bem, responder ao processo em liberdade, uma vez que a
Lei vigente e Jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores assim determinam.
Está-se, pois, diante do segundo pressuposto autorizador do deferimento
da Medida Liminar rogada, qual seja, “o perigo da demora”.
Neste diapasão, roga-se a Vossa Excelência, ainda que, mesmo em sede de cognição
sumária e inaudita altera pars, seja deferido ao paciente Medida Liminar no sentido de
livrá-lo solto, até decisão final do presente HC. Veja-se a forma como decidiu este E.
Tribunal, verbis:
EMENTA – HABEAS CORPUS – TRÁFICO DE DROGAS – PRISÃO
PREVENTIVA – REVOGADA – PEQUENA QUANTIDADE – 1 G DE
ENTORPECENTE –SUBSTITUIÇÃO DO CÁRCERE POR MEDIDAS
CAUTELARES MENOS GRAVOSAS – ORDEM CONCEDIDA. As medidas
alternativas tem aplicação quando, embora preenchidos formalmente os
requisitos da prisão preventiva, seja possível e necessário, em obséquio
ao princípio da proporcionalidade, a utilização de restrições menos
onerosas que igualmente cumpram com as finalidades cautelares a que
se destinam. Ordem concedida.
Decisão contra o parecer. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos
estes autos,
acordam os juízes da 2a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, na
conformidade da
ata de julgamentos, por unanimidade, conceder em parte a ordem. (TJMS.
1411297-
24.2014.8.12.0000-DJ.29/9/14. REL. DES. Ruy Celso Florence).”
Ementa: HABEAS CORPUS". TRÁFICO ILÍCITO DEDROGAS. ART. 33 DA LEI
DE TÓXICOS - PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PRISÃO
PREVENTIVA – PACIENTE PRIMÁRIO.PEQUENA QUANTIDADE DE
DROGA APREENDIDA. - POSSIBILIDADE CONCRETA DE APLICAÇÃO DO
§ 4°, DA LEI N° 11.343/2006 - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DO ART. 312 DO
CPP - CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO - LIBERDADE
PROVISÓRIA – POSSIBILIDADE - ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. A
prisão cautelar só pode ser decretada ou mantida se demonstrada a
necessidade da
segregação provisória, mediante elementos idôneos constantes dos
autos.Sendo
possível estimar que o paciente, se efetivamente condenado pelo
cometimento do
delito de tráficodedrogas, poderá vir a ser agraciado pelas benesses do §
4°, da Lei n°
11.343/2006, podendo sua pena, ao final, ser substituída por penas
restritivas de
direito, desproporcional se afigura a imposição da prisão preventiva,
principalmente
se as circunstâncias pessoais do acusado lhe forem favoráveis. Além
disso a
quantidadededroga encontrada 10,7 g de pasta base de cocaína não foi
localizada
junto ao paciente, mas sim, em um terreno baldio.Ordem parcialmente
concedida
(TJMS. 1405571-69.2014.8.12.0000 Habeas Corpus-C.Grande. DJ.02/6/14. 1a
Cam.Criminal. REl. Des. Francisco Gerardo de Souza).
Pois, efetivamente, tratou a lei da concessão da liminar, para que se suspendam os
efeitos do ato abusivo e ilegal, praticados em face do paciente, em decorrência da
Prisão Preventiva decretada, ou não se o pratique, conforme o caso, até que Este E.
Tribunal, cumprindo os trâmites procedimentais subsequentes, recolha os elementos
necessários ao julgamento da ordem impetrada, concedendo-a e, destarte, ratificando
a liminar, com a concessão de forma definitiva da ordem impetrada.
A Constituição Federal tem por fundamentos a promoção do bem estar de todos sem
qualquer forma de discriminação, além disso, garante o estabelecimento da dignidade
humana, em seu art. 1o, inciso III.
No mesmo sentido, o art. 196 dispõe que a saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido por meio de políticas sociais e econômicas que visem a redução do
risco e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.
A liberdade é a regra em nosso ordenamento jurídico e a segregação cautelar medida
de exceção. Com o advento da Lei 12.403, de 4 de maio de 2011, a prisão preventiva
deve ser evitada ao máximo, tendo em vista a possibilidade da mesma ser substituída
por medidas cautelares.
Portanto, "A prisão cautelar deve ser imposta somente como ultima ratio, sendo
ilegal a sua determinação quando suficiente a aplicação de medidas cautelares
alternativas.
(STJ - HC: 293300 MG 2014/0094320-2, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data
de Julgamento: 26/08/2014, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/11/2014)".
No caso concreto, verifica-se que o paciente é primário, possui bons antecedentes e
se apresentou espontaneamente, colaborando com a justiça.
Assim, no caso concreto, as medidas cautelares são suficientes ainda mais levando-se
em conta o princípio da princípio da homogeneidade, consequência direta da aplicação
do princípio da proporcionalidade, uma vez que em caso de eventual condenação o
paciente dificilmente iniciará o cumprimento da pena no regime fechado.
Não se mostra razoável manter alguém preso cautelarmente em "regime" muito
mais gravoso do que aquele que, ao final do processo, será eventualmente imposto.
4. DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DE PRISÃO
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei no 12.403,
de 2011).
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz,
para informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei no 12.403, de 2011).
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante
desses locais para evitar o risco de novas infrações; (Redação dada pela Lei no
12.403, de 2011).
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
(Redação dada pela Lei no 12.403, de 2011).
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei no 12.403, de 2011).
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica
ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais; (Incluído pela Lei no 12.403, de 2011).
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei
no 12.403, de 2011).
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei no 12.403, de 2011).
IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei no 12.403, de 2011).
Portanto, amalgamando todo o contexto discursivo, conclui-se que o decreto prisional
discutido ultrapassou os princípios da razoabilidade e proporcionalidade entre a
situação fática de flagrante e a necessidade da clausura com o fim de garantir a ordem
pública, a instrução processual ou mesmo a aplicação da Lei Penal no futuro, o que
exige a revogação do Decreto coator, livrando solto o paciente, para que possa
responder ao processo em liberdade.
Como já exposto, o acusado possui emprego fixo, residência fixa, família e não
possui antecedentes criminais. Não há vestígio algum de que possua vinculo com
organização criminosa ou que seja criminoso e tenha alta periculosidade.
5. DA CAPITULAÇÃO DO ARTIGO 28 DA LEI 11.343.06
A lei 11.343/06, em seu art. 33, caput, determina que aquele que “transportar e trazer
consigo” substância em desacordo com a determinação legal ou regulamentar estará
tipificado no crime de tráfico ilícito de entorpecentes, devendo sofrer as sanções
previstas no dispositivo legal supracitado;
A lei 11.343/06 ainda determina em seu art. 28 caput, que aquele que “transportar
ou trouxer consigo para uso pessoal drogas, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal”, estará tipificado no crime de consumo de entorpecentes ilícitos, e
sofrera as sanções a ele cominada;
No caso em debate, o flagrante bem como a autoridade coatora imputaram ao
acusado o crime de tráfico ilícito de entorpecentes, mas a defesa não entende qual o
fator predominante para a caracterização da tipificação;
O §2o do art. 28 da Lei 11.343/06, determina a que o magistrado avaliará à
natureza da droga, a quantidade da substância apreendida, local e as condições da
apreensão, a conduta e os antecedentes do agente;
Ora excelência, este processado não merece prosperar, pois, se analisarmos as
provas carreadas nos autos, verifica-se tratar-se apenas de droga para consumo
pessoal que não tinha finalidade de comercialização, isso porque o acusado em
momento algum reagiu a abordagem policial e forneceu seu documentos e respondeu
as indagações feitas de prontidão. Ademais, como já dito, o acusado é usuário de
entorpecentes e tinha acabado de buscar sua esposa na escola e direcionando-se
para sua residência.
Nesse passo, percebe-se que a conduta imputada ao acusado é distinta da
realidade dos fatos, razão pela qual merece a desqualificação, do ilícito penal
qualificado no art. 33 da Lei 11.343/06 para a prevista no art. 28 da Lei 11.343/06,
conforme determinação do art. 383, caput e §2o do código de Processo Penal, com o
consequente encaminhamento dos autos para o Juizado Especial Criminal, por se
tratar de crime de menor potencial ofensivo;
No que pese ao dinheiro em seu bolso, como já explicado pelo paciente em
interrogatório policial, é proveniente de sua rescisão contratual de prestação de
serviço, de modo que, junta-se neste ato o Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho
e guias do Ministério do Trabalho, além de recibo de saque referente as suas verbas
trabalhistas.
Portanto, a origem do dinheiro encontrado está mais que provada sendo resultado do
acerto salarial que fez com a empresa em que trabalhava. Da mesma forma, junta-se
neste ato, orçamento e extrato do cartão de crédito demonstrando a origem licita da
pulseira de ouro encontrada em sua posse.
Tendo em vista que o acusado não registra condenação criminal definitiva, bem
como diante da possibilidade de eventual condenação não implicar a imposição de
pena de prisão, não se mostram presentes os requisitos que autorizam a prisão
preventiva, notadamente, pela suficiência das medidas cautelares diversas da prisão.
6. DO PEDIDO
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:
A) Seja, monocraticamente, DEFERIDA A MEDIDA LIMINAR - inaudita altera pars-
concedendo-se a soltura do paciente, ainda que aplicando Medida Cautelar Diversa da
prisão, até o julgamento final do presente Habeas Corpus.
B) Não sendo este o entendimento desta Colenda Corte, seja, após devidamente
processado, JULGADO PROCEDENTE o pedido, com o deferimento da ORDEM DE
HABEAS CORPUS LIBERATÓRIA ao paciente, para que possa, livre, responder ao
processo em liberdade vinculada ou, Num último entendimento, não sendo de todo
liberado o paciente, que sejam, então, aplicadas as Medidas Cautelares diversas da
prisão preventiva, art. 319, do CPP, determinando-se a soltura do mesmo, onde estiver
enclausurado, por ser esta a medida de justiça mais acertada que o presente caso
reclama.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Paranaíba-MS,

Você também pode gostar