Texto contracultura

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ISSN 2177-3548

Uma Análise do Comportamento Contracultural: Perspectivas e


Desafios
A Countercultural Behavior Analysis: Perspectives and Challenges
Un Análisis del Comportamiento Contracultural: Perspectivas y Retos

Carolina Laurenti1,2, Carlos Eduardo Lopes1,2

[1] Universidade Estadual de Maringá [2] Universidade Estadual de Londrina | Título abreviado: Análise do Comportamento Contracultural | Endereço para
correspondência: Carolina Laurenti – Departamento de Psicologia (bloco 118, sala 04) – Universidade Estadual de Maringá – Avenida Colombo, 5790, Jardim
Universitário. CEP: 87020-900 – Maringá/PR | Email: claurenti@uem.br | doi: org/10.18761/DH00024.jan22

Resumo: Um grupo pode ser considerado contracultural quando suas ações contestam ex-
plicitamente valores e práticas culturais dominantes de uma sociedade, com o intuito de
construir uma nova forma de organização social. O objetivo deste ensaio é mostrar que a
Análise do Comportamento tem um potencial contracultural que pode ser explorado no
enfrentamento de práticas culturais opressivas e excludentes que vigoram no Brasil. O po-
tencial contracultural da Análise do Comportamento decorre da concepção multidimensio-
nal, antiessencialista e antimentalista de ser humano, defendida pelo Comportamentalismo
Radical. Esses elementos ganham relevo quando redescritos em uma análise política, desta-
cando que práticas opressivas (e,g., sexismo, LGBTfobia, racismo) e práticas de ocultamento
das opressões são parte da cultura dominante em nossa sociedade. Concluímos defendendo a
necessidade de abandono da neutralidade política, o que não significa abdicar da objetividade
e da busca por um conhecimento confiável, mas opor-se a práticas científico-profissionais
indulgentes com projetos de sociedade exploratórios e injustos.
Palavras-chave: Análise do Comportamento; neutralidade científica; culturas; contracultu-
ra; compromisso social.

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Abstract: A group can be considered countercultural when its actions explicitly contest dom-
inant values and cultural practices, to build a new form of social organization. This essay
aims to show that Behavior Analysis has a countercultural potential that can be explored in
confronting oppressive cultural practices that prevail in Brazil. The countercultural potential
of Behavior Analysis is found in the multidimensional, anti-essentialist and anti-mentalist
conception of the human being, defended by Radical Behaviorism. These elements have
more prominence when analyzed politically, considering oppressive practices (e.g., sexism,
LGBTphobia, and racism) and practices of concealment of oppression that are part of the
dominant culture in our country. We conclude by defending the need to abandon political
neutrality, which does not mean abdicating objectivity and the search for reliable knowledge,
but opposing scientific and professional practices that are compatible with exploitative and
unfair society projects.
Keywords: Behavior Analysis; scientific neutrality; cultures; counterculture; social commitment.

Resumen: Un grupo puede ser considerado contracultural cuando sus acciones cuestionan
explícitamente los valores y prácticas culturales dominantes de una sociedad, con el fin de
construir una nueva forma de organización social. Este ensayo tiene como objetivo mos-
trar que el Análisis del Comportamiento tiene un potencial contracultural que puede ex-
plorarse al enfrentar las prácticas culturales opresivas que prevalecen en Brasil. El potencial
contracultural del Análisis del Comportamiento surge de la concepción multidimensional,
anti-esencialista y anti-mentalista del ser humano, defendida por el Conductismo Radical.
Estos elementos tienen más protagonismo cuando se analizan políticamente, considerando
las prácticas opresivas (p. Ej., Sexismo, LGBTfobia y racismo) y prácticas de ocultación de la
opresión que son parte de la cultura dominante en nuestro país. Concluimos defendiendo la
necesidad de abandonar la neutralidad política, que no significa abdicar de la objetividad y la
búsqueda de un conocimiento confiable, sino oponerse a las prácticas científico-profesionales
que son indulgentes con proyectos de sociedad explotadora e injusta.
Palabras clave: Análisis de la conducta; neutralidad científica; culturas; contracultura; com-
promiso social.

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Uma ciência que reproduz, com linguagem pura, que motivaria os cientistas a buscar o co-
erudita ou jargão técnico ou estatístico (am- nhecimento pelo conhecimento, sem qualquer
bos destinados a causar no leitor a aparência “contaminação” contextual. Em recente publica-
de cientificidade), os clichês do senso comum ção, Bast (2020) compara essa curiosidade cien-
não é ciência. Ao contrário, ela funciona como tífica à curiosidade de crianças, enfatizando, com
um suporte ideológico às relações injustas e de- isso, a “pureza” dessa motivação: “A ciência em sua
siguais do senso comum que são reafirmadas forma básica mais pura é, de fato, impulsionada
agora com a “autoridade” da ciência. (Souza, pela curiosidade e desejo inato do ser humano de
2020, p. 61) conhecer as maravilhas da natureza. Essa curiosi-
dade científica é semelhante à curiosidade de uma
Desde as primeiras formulações epistemológicas criança” (p. 21).
modernas, a ciência tem sido caracterizada pelo Narrativas históricas anedóticas sobre a ciên-
emprego de um método que visa garantir a ob- cia moderna consolidaram essa visão. Um exem-
jetividade do conhecimento produzido. Bacon plo é a famosa estória de que Newton descobriu a
(1620/1944), por exemplo, defendia que o método lei da gravitação universal observando a queda de
era necessário porque “o intelecto humano não se uma maçã (às vezes acrescida do detalhe pitores-
assemelha a uma luz pura, pois admite uma mistura co de que a maçã teria caído na cabeça do “distra-
da vontade e das paixões, que gera um sistema pró- ído” cientista). Contrariando essa imagem neutra
prio ajustado a elas; daí o homem sempre acreditar da descoberta científica, Cohen (1981) defende
mais prontamente no que ele prefere” (§ 49). Em que a estória pode ter sido inventada pelo próprio
outras palavras, as “vontades e paixões” humanas Newton com uma motivação bem pouco nobre:
interferem no conhecimento das coisas, tornando “provar” que ele teria chegado à lei da gravitação
altamente provável que as pessoas confundam o universal 20 anos antes de Robert Hooke ter lhe
que gostaria que fosse pelo que é. O método ajuda- enviado uma carta, na qual indicava que “a força
ria a superar essa limitação humana, “neutralizan- centrípeta que atrai um planeta em direção ao sol
do” as vontades e as paixões, gerando, assim, um varia inversamente com o quadrado da separação
conhecimento o mais objetivo possível, em con- [entre eles]” (p. 167). De acordo com Cohen, as
traste com os vieses subjetivos do conhecimento anotações e correspondências de Newton mostram
comum e ametódico. que ele não estava no caminho correto antes de ter
O caráter objetivo do conhecimento científico recebido a carta de Hooke. A indicação de Hooke
é, por vezes, tratado como sinônimo de neutrali- foi crucial para que Newton chegasse a uma nova
dade política. De acordo com essa concepção, a compreensão do movimento celeste, que culminou
ciência seria isenta de valores sociais, “definidos na lei da gravitação universal (dois corpos atraem-
como aqueles que podem variar de cultura para -se com força diretamente proporcional ao produ-
cultura, de época para época, ao longo da histó- to de suas massas e inversamente proporcional ao
ria de cada cultura, e de grupo social para grupo quadrado da distância entre os seus centros de gra-
social, nas sociedades marcadas por contradições vidade). O exemplo de Newton sugere que a pura
internas” (Oliveira, 2008, p. 98). O raciocínio para curiosidade e, consequentemente, a independência
essa identificação entre objetividade e neutralidade do contexto social, é mais um recurso retórico de
política parece ser o seguinte: se o método neutrali- cientistas (por muito tempo reforçado por historia-
za as vontades e paixões de pesquisadores, os valo- dores da ciência), do que uma descrição acurada do
res sociais também seriam eliminados no processo processo de produção de conhecimento (Alfonso-
de produção de conhecimento científico, tornando Goldfarb, 2004).
esse conhecimento independente de seu contexto Uma objeção ainda mais direta à tese da neu-
sócio-histórico. tralidade política da ciência pode ser encontrada
Essa suposta descontextualização do fazer na história da ciência moderna. Geralmente em-
científico é acentuada pela defesa de que a pes- pregada para tratar das mudanças sócio-históricas
quisa científica é movida por uma curiosidade ocorridas a partir do século 17 na Europa, a expres-

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são revolução científica indica o caráter político do não produz uma cultura alternativa à cultura que
projeto científico moderno. A ciência moderna foi ele denuncia” (Cuche, 1996/1999, p. 102).
uma das principais facetas de uma revolta contra Sem desconsiderar a pertinência dessas críticas,
os valores de uma cultura medieval, pautados no a noção de contracultura pode ser revigorada com
princípio de autoridade e na imposição de dogmas estudos sociológicos recentes que têm apresentado
religiosos (Mariconda, 2006). A defesa dos fatos uma revisão crítica da sociedade brasileira enfatizan-
(em contraposição aos valores religiosos), como o do, justamente, sua dimensão cultural (e.g., Souza,
árbitro para a tomada de decisão, deve ser enten- 2018, 2020). Sob esse novo lume, o termo contracul-
dida nesse contexto social. Mesmo aquelas partes tura é empregado, aqui, em um sentido mais amplo,
mais “básicas” da ciência moderna, como a astro- para designar ações de um grupo organizado que
nomia, não eram motivadas simplesmente por uma contestam explicitamente os valores e práticas cul-
curiosidade em relação aos corpos celestes, mas turais dominantes, com o intuito de construir uma
eram parte de um movimento cultural de ataque à sociedade menos opressiva e mais justa.
cosmologia sustentada pela Escolástica (Laurenti, A Análise do Comportamento é composta
Lopes & Abib, 2020). pelos comportamentos (e produtos dos com-
A ciência moderna também contava com um portamentos) de professores, pesquisadores,
novo projeto de sociedade, no qual a fé e o medo terapeutas, estudantes, modelados e mantidos
seriam substituídos pela razão e pelo conhecimen- por contingências e regras difundidas por uma
to do verdadeiro funcionamento da natureza, e os comunidade verbal autodenominada analítico-
problemas humanos seriam resolvidos pelo de- -comportamental. Essa comunidade verbal é, por
senvolvimento científico e tecnológico (Bauman, sua vez, parte de uma sociedade, compartilhando
2006/2008). Ao considerar que o projeto científi- algumas de suas práticas culturais. Isso nos leva
co moderno estava em franca oposição aos valores a uma ilação carregada de consequências políti-
vigentes na sociedade da época, a conclusão mais cas: analistas do comportamento sempre estão
adequada é de que a ciência moderna nasce como trabalhando em uma sociedade. As decorrências
um movimento contracultural, comprometida, políticas dessa tese aparecem quando se pergunta
portanto, com valores sociais específicos (Laurenti, como é a sociedade na qual analistas do compor-
Lopes, & Abib, 2020). tamento desempenham suas atividades científico-
A noção de contracultura ganhou força a par- -profissionais, e, principalmente, se tais atividades
tir dos anos 1960, sendo utilizada predominante- estão orientadas para a transformação ou manu-
mente para descrever os movimentos de protesto, tenção dessa sociedade.
protagonizados por jovens, que estavam ocorrendo O objetivo deste ensaio é mostrar o potencial
nessa época, ao redor do mundo (Hirsch Jr., Kett, contracultural da Análise do Comportamento,
& Trefil, 2002). O prefixo contra torna evidente o decorrente de um compromisso com o
caráter de contestação da cultura dominante da- Comportamentalismo Radical. Essa tese é de espe-
quele período, caracterizada pelo consumismo, au- cial importância quando se constata que na socie-
toritarismo e conservadorismo. Ao mesmo tempo, dade brasileira vigoram práticas culturais sexistas,
a oposição explícita à dimensão cultural afastaria LGBTfóbicas e racistas. Trata-se, portanto, de indi-
os movimentos contraculturais de discursos políti- car que alguns elementos do Comportamentalismo
cos “tradicionais”, que viam a dimensão econômica Radical permitem uma atuação de analistas do
como a principal fonte dos problemas sociais (ver comportamento antitética a essas práticas culturais
Roszak, 1969). Justamente por isso, a noção de con- excludentes e opressivas, além de poderem balizar
tracultura tem sofrido críticas que destacam o cará- um engajamento na construção de uma sociedade
ter “alienado” dos movimentos assim qualificados, mais igualitária e justa.
na medida em que “longe de enfraquecer o sistema O texto inicia com a caracterização de dois tipos
cultural, eles [os movimentos contraculturais] con- de práticas culturais dominantes em nosso país, que
tribuem para renová-lo e para desenvolver sua di- operam em conjunto na manutenção da iniquidade
nâmica própria. Um movimento de ‘contracultura’ social: práticas opressivas e práticas de ocultamen-

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to das opressões. Na sequência, são indicados três ouvidas, de ter seus direitos reconhecidos, de dei-
elementos do Comportamentalismo Radical (mul- xar suas marcas na história, forjando, assim, uma
tidimensionalidade, antiessencialismo e antimen- noção de ser humano à sua imagem e semelhança
talismo), que tornam essa filosofia eminentemente (Bandeira & Batista, 2002; Collins, 2000). Em so-
contracultural. Por fim, são indicados desafios para ciedades ocidentais, incluindo a brasileira, a con-
a consolidação de uma Análise do Comportamento cepção de humanidade tem o “centro” ocupado por
contracultural, que envolvem, sobretudo, o abando- um tipo de indivíduo bem específico: o homem
no da neutralidade política e o estabelecimento de branco, cisgênero, heterossexual, instruído, rico. A
uma prática transformadora na área. proximidade com esse centro, ou seja, a identifica-
ção com a maioria dessas características, torna-se o
critério, mais ou menos explícito, para a avaliação
Práticas culturais dominantes na do “grau de humanidade” de um indivíduo.
sociedade brasileira Por conseguinte, grupos como mulheres,
transgêneros, negros(as), indígenas, pesso-
A proposta de uma Análise do Comportamento as que mantêm relações homoafetivas, pobres,
contracultural depende, primordialmente, de uma analfabetos(as) são ontologicamente desumani-
análise “realista” e concreta da sociedade brasileira. zados em nossa sociedade. Isso não é uma ques-
Seguindo por esse caminho, serão destacados dois tão puramente teórica ou semântica, mas a base
conjuntos de práticas culturais dominantes nessa de práticas culturais de exclusão, opressão e pre-
sociedade. O primeiro diz respeito a práticas opres- conceito. Pertencer a um desses grupos retira do
sivas responsáveis por altos índices de violência e indivíduo direitos considerados básicos para um
desigualdade em relação a certos grupos sociais. O ser humano, ao mesmo tempo em que legitima
segundo conjunto de práticas culturais dominantes comportamentos que não seriam tolerados em re-
são aquelas responsáveis pelo “apagamento” dessa lação ao “ser humano padrão”, colocando-o, assim,
realidade social, tornando a maioria das pessoas em uma situação de vulnerabilidade social (ver
insensíveis a ela. Mendes & Silva, 2020; Wanzinack, Signorelli, &
Reis, 2018). Quanto mais distante do “centro” de
Práticas culturais opressivas humanidade, menores as chances de um indivíduo
ter acesso a condições econômicas, educacionais,
Quando dizemos que a Análise do Comportamento legais, sanitárias, culturais que promovem reper-
estuda o ‘comportamento humano’ é comum des- tórios que são valorizados em nossa sociedade.
tacar que se trata de uma concepção específica de Um círculo vicioso é, assim, gerado: esses indiví-
comportamento, que afasta o Comportamentalismo duos não estão expostos ao processo de aprendi-
Radical de outras propostas psicológicas, incluindo zagem que os torna sensíveis às práticas culturais
outros comportamentalismos (Abib, 2004; Lopes, dominantes e são excluídos justamente por não se
2008). Menos comum, mas igualmente importante, comportarem em função de tais práticas.
é a pergunta sobre a visão de ‘humano’ que subjaz a Essa diferença entre grupos e indivíduos mais
essa expressão. A resposta não se encontra em uma ou menos humanos também influencia nosso jul-
concepção taxonômica de humanidade, que desig- gamento sobre o comportamento. Do lado do “ser
na como ‘humano’ os membros da espécie homo humano padrão”, encontram-se os comportamen-
sapiens. Quando examinada no âmbito de nossa tos realmente humanos e, por isso, valorados posi-
sociedade, a noção de humanidade tem caracterís- tivamente, sendo qualificados como bons, corretos,
ticas mais concretas e é bem menos inclusiva. interessantes, desejáveis, importantes, invejáveis,
Historicamente, a noção de humanidade tem morais, refinados. Já os comportamentos que se
sido constituída nas sociedades modernas por afastam desse modelo são considerados menos hu-
práticas de exclusão e desigualdade (Souza, 2018). manos ou proto-humanos, comumente classificados
Indivíduos e grupos com mais poder (financeiro como ruins, incorretos, inadequados, irrelevantes,
e simbólico) têm mais chances de ter suas vozes indesejáveis, imorais, toscos.

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Em nossa sociedade as práticas opressivas que tâncias e suicídio em comparação com heterosse-
constroem essa noção excludente de humanidade xuais. Indivíduos que fazem parte de populações
são predominantemente sexistas (ver Alves, 2021; LGBTQIA+ têm de lidar com fatores estressores
CEPAL-ONU, s.d.), LGBTfóbicas (ver Gonçalves et associados a um ambiente hostil de intolerância a
al., 2020; Mendes & Silva, 2020; TGEU & Carsten não-heterossexualidade (e.g., preconceito, discri-
Balzer, 2021) e racistas (ver CFP, 2017; Engel, 2015; minação, violência), que constituem um impor-
Souza, 20201). Conhecer, examinar e discutir essas tante fator preditor de problemas de saúde mental.
práticas é crucial não apenas porque pode condu- Zucchi et al. (2019) demonstram que “processos de
zir a uma formação de analistas do comportamen- marginalização socioeconômica, estigma e discri-
to sensíveis às mazelas da sociedade brasileira, mas minação” (p. 2) estão entre os fatores responsáveis
também porque sexismo, LGBTfobia e racismo es- pelos altos indicadores de iniquidades em saúde em
tão na base de muitos problemas comportamentais, travestis e mulheres transexuais, estando associa-
alvos de pesquisa e, principalmente, de intervenção dos a aspectos que denotam um “pior bem-estar
da área. psicológico” (p. 10).
Pautando-se em diferentes estudos, Santos e No Brasil, como os parâmetros de um modo
Diniz (2018) destacam, por exemplo, que “as mu- de vida ideal estão associados à população bran-
lheres são mais acometidas por transtornos afetivos, ca, a “população negra é comumente assolada por
ansiosos, dissociativos e alimentares que os homens” uma luta constante e, às vezes, inglória, contra o
(p. 39). Violência doméstica, repressão sexual, sub- sentimento de inferioridade e, junto com ele, o de
missão, restrição ao papel materno são condições culpa por não corresponder àquele suposto ideal,
favorecedoras do desenvolvimento de problemas bem como pelo sentimento de angústia por per-
psicológicos específicos (e.g., transtornos de humor, sistentemente passar por situações de opressão”
ansiedade, transtornos somatoformes, depressão) (CFP, 2017, p. 11). Estudos transversais sobre
(Santos & Diniz, 2018). Ludermir (2008) ressalta que transtornos mentais e raça, que incluíram variá-
“as desigualdades sociais envolvem os principais sen- veis socioeconômicas (e.g., escolaridade, renda),
timentos relacionados à depressão e a outros trans- sugerem “que a prevalência de transtornos men-
tornos mentais [em mulheres], como humilhação, tais é maior na população negra que na população
inferioridade, percepção de falta de controle sobre o branca”, e que esses achados não podem ser eluci-
meio e impotência” (p. 461). dados por variáveis biológicas (Smolen & Araújo,
A violência homofóbica pode ser considerada 2017, p. 4026).
“um importante estressor social, que resulta em O caráter pervasivo das práticas sexistas,
vários impactos negativos na saúde mental e na LGBTfóbicas e racistas, no Brasil, sugere que,
qualidade de vida de homossexuais” (Mendanha muitas vezes, o sofrimento de indivíduos perten-
& Bernardes, 2018, p. 141). Paveltchuck e Borsa centes a grupos marginalizados está atrelado a
(2019) citam estudos que mostram, por exemplo, um sofrimento político. Carneiro e Santos (2021)
como lésbicas, gays e bissexuais exibem níveis destacaram esse ponto ao defenderem que “é im-
mais altos de depressão, ansiedade, abuso de subs- prescindível notar a implicação do contexto polí-
tico e cultural sobre a história comportamental do
sujeito e como eles, formados por contingências
1 Souza (2018) adota uma concepção ampliada de racismo, entrelaçadas, são produtos de indivíduos compor-
que ele define como “não apenas a separação dos seres hu-
manos por raças distintas, mas qualquer separação que cons-
tando-se coordenadamente” (p. 74). Caberia, en-
trua uma distinção ontológica, independente da experiência tão, à comunidade de analistas do comportamento
concreta, entre seres humanos” (p. 10). Isso significa que o estar sensível a essas iniquidades em seus diferen-
racismo explícito da cor da pele pode ser complementado por tes contextos de atuação. No entanto, um segun-
um racismo implícito, relacionado ao “estoque cultural” (p. do conjunto de práticas culturais dominantes em
10) e, portanto, à posição social dos indivíduos. Essa concep-
ção ampliada opera um recorte de classe para compreender o
nossa sociedade opera justamente dificultando
racismo no Brasil, que inclui como fator mais evidente a cor essa sensibilidade.
da pele, embora não se restrinja a ele.

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Práticas culturais de ocultamento das Uma das expressões do mito da brasilidade é a


opressões noção de “democracia racial”, que por muito tempo
ensejou práticas de silenciamento e proibição para
Skinner (1953) chamou a atenção para o fato de se tratar do racismo no Brasil. De acordo com essa
que “ver” é comportamento operante. Para os pro- noção, não haveria conflitos de raças no nosso país
pósitos deste ensaio, isso significa que as práticas porque, em última instância, somos todos mestiços
opressivas dependem de contingências para que (ver Sales Jr, 2006). Com isso, criou-se uma ilusão
possam ser “vistas” e reconhecidas como tais. Em de que todos vivem harmonicamente, invisibilizan-
outras palavras, a realidade social não é espontane- do situações de violência racial e enfraquecendo
amente apreendida por nós: é preciso aprender a pautas antirracistas no país.
vê-la. No Brasil, essa “percepção” é dificultada por Graças às conquistas políticas decorrentes da
algumas práticas culturais dominantes que têm a articulação de movimentos antirracistas, a ideia de
função de ocultar conflitos e contradições que es- democracia racial vem perdendo força. No entanto,
tão na base das desigualdades de nossa sociedade. o mito da brasilidade tem ensejado outra forma de
Essas práticas de ocultamento se dão por meio da apagamento dos conflitos raciais, a ilusão do “mul-
difusão cultural de alguns mitos sociais. ticulturalismo”, que se expressa em uma glamouri-
O primeiro deles é o “mito da brasilidade” que zação e idealização dos subalternos de nossa socie-
tem servido, há décadas, como pedra de toque para dade (Rocha, 2020). Essa visão é sistematicamente
a construção de uma identidade nacional no Brasil disseminada pela indústria do entretenimento, com
(Souza, 2020). Esse mito assenta-se no filmes, séries e novelas, assentados no elogio às ma-
nifestações culturais e potencialidades criativas das
elogio da unidade, da homogeneidade, da ‘índo- classes mais baixas:
le pacífica do povo brasileiro’, do encobrimento
e da negação de conflitos de toda espécie, assim O culto à criatividade do artista da favela, que
como, no outro polo, a demonização da crítica insiste a despeito de tudo em criar. O culto à
e da explicitação de conflitos e das diferenças, simplicidade dos humildes que, a despeito de
ganham . . . sua articulação máxima. (Souza, tudo, insistem em sorrir; todos esses cultos
2020, p. 45) embalam o novo conteúdo da nossa mítica na-
cional que afirmará agora que o problema fun-
O mito da brasilidade é nosso “senso comum”, damental da população miserável brasileira é a
no sentido de ser o tipo de “autoconhecimen- falta de apreço pelas suas “manifestações cul-
to” compartilhado por praticamente todos(as) turais” específicas, e não a sua miséria. (Rocha,
aqueles(as) que nasceram e se desenvolveram em 2020, p. 416)
nossa sociedade (Souza, 2020). A família, a mídia,
a indústria do entretenimento, e outras instituições Paralelamente, a violência contra os subalternos
culturais transmitem esse mito de forma quase da sociedade, a maioria deles negros, é explícita.
uníssona, tornando-o uma prática cultural domi- Chacinas são noticiadas por meios de comunica-
nante. A permeabilidade do mito da brasilidade ção em massa como “ocorrências” justificadas, as-
apaga ou, pelo menos, dificulta enormemente o re- sassinatos em favelas são relativizados, vítimas são
conhecimento de que nossa sociedade é bastante convertidas em estatísticas sem rosto (Souza, 2020).
desigual e injusta, e de que essa desigualdade não é O mito das causas internas é outro conjunto de
“natural”, mas socialmente construída (dados sobre práticas “descontextualizadoras” em nossa socieda-
essa desigualdade são relativamente fáceis de se- de, que contribui para eclipsar os condicionantes
rem encontrados em estatísticas oficiais como, por sócio-históricos do comportamento humano (ver
exemplo, IBGE (2019), e em estudos acadêmicos, Carvalho Neto, Alves & Baptista, 2007). Esse mito
como de Souza (2020), com destaque para o Anexo ganha concretude em práticas verbais mentalistas
1 do livro). que, por meio de teorias internalistas, difundem
uma visão de indivíduo autossuficiente, “encapsu-

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lado” dentro de si mesmo e, por isso, independente da metade (44,4%) da renda obtida pelos homens
do contexto social (Tourinho, 2006a). Como de- brancos (IBGE, 2019). Em que pesem os desafios
corrência, os problemas humanos são concebidos de mensurar a população LGBTQIA+ no Brasil,
não apenas como problemas individuais, mas como relatórios têm indicado que, “em alguns casos, [as
algo interno, subjetivo, “psíquico”. pessoas LGBT] estão mais propensas a viver em si-
Nesse processo de “interiorização”, o indivíduo tuações de pobreza do que as pessoas não-LGBT”
passa a ser considerado o único culpado quando (Itaborahy, 2014, p. 9), sendo que transexuais e tra-
não é capaz de resolver seus problemas por si pró- vestis são mais expostas a situações de vulnerabili-
prio, fortalecendo-se a prática de “culpabilização dade (ver Itaborahy, 2014, cap. 3).
da vítima”. Por outro lado, o sucesso é reconhecido Seriam motivação, interesse e inteligência ina-
como mérito individual, produto do esforço que tos? O sucesso seria determinado por uma essência,
independe de variáveis contextuais. O mito das ou gene, presente apenas em homens brancos, he-
causas internas está, portanto, na base do discurso terossexuais e cisgênero? Um informativo do IBGE
da meritocracia, que pode ser considerada “a ideo- (2019) de um estudo sobre desigualdades sociais por
logia principal do mundo moderno” (Souza, 2020, cor e raça no Brasil sustenta que as discrepâncias em
p. 49). Holland (1978) já tinha indicado esse ponto termos de raça ou cor verificadas nos rendimentos
ao destacar que causas internas são utilizadas pelos auferidos são explicadas “por fatores como segrega-
que “estão no topo para convencer aos que estão ção ocupacional, menores oportunidades educacio-
em posições inferiores que eles próprios são os cul- nais e recebimento de remunerações inferiores em
pados pelas suas dificuldades” (p. 170). Aos ditos ocupações semelhantes” (p. 3). A falta de apoio da
bem-sucedidos é reservado um conjunto de causas família, o abandono da escola, o acesso limitado a
internas (e.g., vontade, determinação, motivação, oportunidades de emprego, a discriminação no tra-
inteligência), e aos pobres e não-poderosos outro balho, a desconfiança de bancos e de outras institui-
(e.g., preguiça, falta de ambição e de talento). ções financeiras são fatores que levam grande parte
O discurso da meritocracia é a forma de as so- da população LGBTQIA+ à situação de pobreza e
ciedades modernas ocultarem a manutenção de vulnerabilidade social (Itaborahy, 2014).
privilégios de classe, subscrevendo a narrativa de Esses elementos, tomados em conjunto, endos-
que se trata de um sistema que rompeu com a in- sam o argumento de Souza (2020), de que o dis-
justiça das sociedades pré-modernas, cuja desigual- curso da meritocracia é uma falácia: “O que vai ser
dade era justificada naturalmente pelo simples fato chamado de ‘mérito individual’ mais tarde e legiti-
de alguns serem “bem-nascidos”. De acordo com a mar todo tipo de privilégio, não é um milagre que
retórica da meritocracia, a desigualdade em socie- ‘cai do céu’, mas é produzido por heranças afetivas
dades modernas seria justa, pois estaria assentada de ‘culturas de classe’ distintas, passadas de pais
em conquistas decorrentes de um esforço individu- para filhos” (pp. 28-29). Essas heranças são precon-
al diferencial (Souza, 2020). dições sociais presentes desde a tenra infância para
Não por acaso, os “mais esforçados” são geral- os “bem-nascidos modernos”, em uma transmis-
mente homens brancos, cis, heterossexuais, advin- são de valores e no ensino de repertórios que são
dos de famílias ricas ou, ao menos, de classe média. fundamentais para o sucesso em nossa sociedade.
Dados do IBGE (2019) mostram que, em 2018, as Alguns desses repertórios estão diretamente ligados
mulheres receberam 78,7% do valor dos rendimen- ao sucesso econômico:
tos dos homens. As desigualdades são ainda maio-
res quando se considera cor ou raça: pessoas negras O que a classe média ensina aos filhos é comer
(pretas e pardas) receberam apenas 57,5% dos ren- nas horas certas, estudar e fazer os deveres de
dimentos de pessoas brancas. Quando combinado casa, arrumar o quarto, evitar que os conflitos
sexo com raça ou cor, o grupo mais privilegiado é com amigos cheguem às vias de fato, chegar em
o de homens brancos; no outro extremo, o grupo casa na hora certa, evitar formas de sexualidade
com menos vantagens econômicas é composto pe- prematuras, saber se portar em ambientes so-
las mulheres pretas ou pardas, que recebem menos ciais etc. As famílias de classe média ensinam,

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Carolina Laurenti, Carlos Eduardo Lopes 025-040

portanto, os “valores” de uma dada “classe”, que Elementos contraculturais do


são os valores da autodisciplina, do autocontro- Comportamentalismo Radical
le, do pensamento prospectivo, do respeito ao
espaço alheio etc. (p. 51) Um grupo pode ser considerado contracultural
quando suas ações contestam explicitamente valo-
Outros repertórios são importantes para o “su- res e práticas culturais dominantes, contribuindo,
cesso emocional”, ou seja, para lidar melhor ou até assim, para a construção de uma nova forma de or-
mesmo evitar eventuais problemas psicológicos: ganização social. O Comportamentalismo Radical
exibe aspectos que, se examinados de uma perspec-
Existe um número considerável de famílias de tiva política, dão relevo ao caráter contracultural
classe média em que as crianças, além de apren- dessa filosofia do comportamento.
derem ‘como devem se comportar’, aprendem Um dos elementos contraculturais do
também que elas são ‘um fim em si mesmas’ por- Comportamentalismo Radical encontra-se em sua
que são amadas de modo incondicional pelos concepção multidimensional e antiessencialista de
pais. Este último elemento permite acrescentar, ser humano, balizada pelo modelo de seleção pe-
além do mecanismo disciplinar indispensável ao las consequências (Lopes & Laurenti, 2014; Lopes,
sucesso nas condições de trabalho capitalistas, Laurenti & Abib, 2018). É uma visão multidimen-
um elemento invisível para muitos, mas funda- sional porque o Comportamentalismo Radical in-
mental tanto na competição social quanto no siste que a dimensão ontogenética (pessoa) precisa
desafio de levar uma vida com sentido, que é a ser articulada com a biológica (organismo) e a cul-
‘autoconfiança’. (Souza, 2020, pp. 51-51) tural (eu), compondo uma trama epistemológica
complexa e transdisciplinar para entender o com-
O ponto destacado por Souza (2020) é que esse portamento humano (Lopes & Laurenti, 2014).
tipo de aprendizado segue um recorte de classe, Primordialmente, o comportamento humano
o que significa que as classes baixas no Brasil não depende da história da espécie, que constitui um
transmitem os mesmos valores e, por vezes, ensi- organismo dotado não apenas de estruturas ana-
nam o oposto do que é “valorizado” na sociedade. tomofisiológicas, mas de suscetibilidades ao am-
Por exemplo, em relação à sexualidade, nas classes biente que permitiram formas complexas de com-
mais baixas é comum que as mulheres sejam es- portamento, incluindo o comportamento verbal
timuladas a iniciar precocemente sua vida sexual. (Skinner, 1981). Além disso, os organismos huma-
Com isso, elas podem ser “usadas” por pais, padras- nos nascem em uma sociedade composta por uma
tos, tios e irmãos mais velhos como objetos sexu- série de práticas culturais que tornam mais prová-
ais (Souza 2020). Nesse cenário, “qual o sentido de vel a aprendizagem (seja por instrução verbal ex-
autoconfiança que é possível para esses seres hu- plícita, seja por modelação) de certos repertórios
manos que só aprenderam a usar e serem usados? comportamentais (Skinner, 1981). Essa sociedade
Que tipo de relação consigo mesmos? Que tipo de não é homogênea, mas composta por diferentes
relação com os ‘outros’?” (Souza, 2020, p. 53). grupos com mais ou menos poder na organização
O mito das causas internas contribui, assim, e manutenção de contingências sociais. Isso signi-
para o apagamento dos condicionantes sociais da fica que contingências mantidas por grupos mais
vida individual, fazendo com que as iniquidades da poderosos (sobretudo agências controladoras) têm
sociedade e os problemas psicológicos decorrentes mais chances de vigorarem como práticas culturais
sejam concebidos como produtos da falta de esfor- dominantes em uma sociedade (Skinner, 1953). É
ço daqueles que estão privados, desde o início, das nessa sociedade, dominada por certos grupos, que
condições para o sucesso financeiro e emocional. A a história do indivíduo se constrói. Quanto mais
redução de problemas sociais a questões individuais próximo estiver (anatômica e comportamental-
é afiançada com a noção de uma “interioridade” que mente) de membros dos grupos dominantes, o in-
seria tanto a fonte quanto a possível solução para as divíduo terá mais chances de obter os reforçadores
dificuldades da vida (Tourinho, 2006a, 2006b).

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Uma Análise do Comportamento Contracultural: Perspectivas e Desafios 025-040

fornecidos por esses grupos – reforçadores que são ponto, afirmando que o produto da seleção natural
fundamentais para a vida nessa sociedade. não foi uma única espécie, “mas milhões de espé-
A concepção de ser humano do Comportamen- cies diferentes, competindo entre si por um lugar
talismo Radical também é antiessencialista porque no mundo” (p. 1207). Semelhantemente, “o produto
os aspectos biológicos, pessoais e culturais carac- do condicionamento operante não é um repertório
terísticos do ser humano são entendidos como fe- único e coerente, mas milhares de repertórios me-
nômenos históricos, que, como tais, constituem-se nores, que se confrontam e cujos conflitos terão de
ao longo do tempo (Lopes & Laurenti, 2014). Não ser resolvidos de alguma maneira” (p. 1207). Com
há, portanto, um “tipo ideal”, uma essência humana respeito à cultura, “a evolução de ambientes sociais
dada naturalmente que deveria pautar o julgamento produziu não uma única cultura, mas muitas que,
em “graus de humanidade” dos membros da espé- frequentemente, entram em conflito” (p. 1207).
cie humana. Essa hierarquia é um produto social, Não cabe, portanto, questionar a existência de di-
construída por práticas culturais que se mantêm versidade e conflito, mas de explicitá-los e construir
porque beneficiam grupos que detêm mais poder maneiras de lidar com essa condição, individual e
de controle do comportamento e, por extensão, coletivamente.
mais acesso a reforçadores importantes em uma Outro componente contracultural do Compor-
dada sociedade2. tamentalismo Radical é o antimentalismo (ver Car-
A multidimensionalidade e o antiessencialis- valho Neto, Tourinho, Zilio & Strapasson, 2012).
mo do Comportamentalismo Radical conduzem à Ao criticar uma concepção mentalista dos fenôme-
conclusão de que a diversidade e a possibilidade de nos psicológicos, essa filosofia do comportamento
conflito são próprias dos processos de variação e sugere uma ruptura com a visão de ser humano fo-
seleção que integram as diferentes dimensões histó- mentada pela cultura psicológica tradicional, que
ricas do ser humano. Skinner (1990) destacou esse surgiu pari passu com as demandas das sociedades
modernas capitalistas, levando à “emergência e ao
refinamento de processos de individuação” (Touri-
2 O Comportamentalismo Radical é um naturalismo, cujo
sentido requer elucidação. O ser humano é natural na acepção
nho, 2006a, p. 21).
de que é um produto da evolução por seleção natural, assim Em uma visada contracultural, “a abordagem
como as demais espécies. Mesmo reconhecendo que o ser hu- analítico-comportamental viola a norma cultural”
mano exibe características singulares (e.g., comportamento (Chiesa, 1994, p. 42) de descrever fenômenos psi-
verbal), as condições para o surgimento delas também foram cológicos como “coisas” localizadas no interior dos
propiciadas pela seleção natural. Contudo, isso não significa
a defesa de um reducionismo biológico, pois Skinner (1981)
indivíduos. A filosofia comportamentalista radical
indica, na proposição do modelo de seleção por consequên- situa esses fenômenos no comportamento, isto é,
cias, que cada um dos níveis (filogênese, ontogênese e cultura) no âmbito das relações entre indivíduo e contexto
exibe propriedades próprias, que não podem ser explicadas (Tourinho, 2006b). Como relações, e não coisas, os
por meio de uma redução às propriedades pertencentes a ou- fenômenos comportamentais não estão nem den-
tros níveis. Além de apresentar temporalidades distintas, cada
nível é regulado por consequências diferentes, e, não raro, en-
tro nem fora, mas entre o indivíduo e o contexto
tram em conflito. Vale destacar ainda que o naturalismo da fi- (Lopes & Abib, 2003).
losofia skinneriana também é histórico, o que significa que as Essa perspectiva relacional opera uma “recon-
características de cada nível precisam ser entendidas de modo textualização” do indivíduo começando por suas
processual, sendo constituídas ao longo do tempo, e abertas à ações. Não basta descrever como o indivíduo age
mudança. Portanto, o naturalismo do Comportamentalismo
Radical opõe-se a uma determinada “naturalização” dos fe-
(topografia); sempre é preciso considerar o contex-
nômenos sociais, a saber, aquela que incorre em um reducio- to em que ele age para explicar por que o compor-
nismo biológico, apela a essências, ou oculta a condição his- tamento ocorre dessa maneira (função). O mesmo
tórico-cultural desses fenômenos, bem como as contradições raciocínio deve ser aplicado ao corpo, ou mais pre-
a ela associadas. Assim, problemas sociais são “naturais” no cisamente às condições corporais sentidas. O que
sentido de não serem sobrenaturais e, por isso, precisam ser
entendidos sem o apelo a instâncias transcendentes ou trans-
é sentido não são ocorrências descontextualizadas
cendentais, mas recorrendo a processos “naturais” históricos ou “um fim em si mesmo”, mas mudanças corporais
e simbólicos, típicos do terceiro nível de variação e seleção. que só ganham elucidação quando inseridas em

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Carolina Laurenti, Carlos Eduardo Lopes 025-040

um contexto sócio-histórico específico. Por isso, de jetivo de controle social, e que têm como efeito a
uma perspectiva comportamentalista, o importan- exclusão de indivíduos e grupos que se afastam da
te não é uma descrição detalhada do que o indiví- “norma” instituída por essas agências3.
duo sente (até porque isso é impossível), mas uma Ao destacar a dimensão conflituosa dos pro-
compreensão do porquê ele sente, o que inclui as dutos dos processos de variação e seleção, o
respostas verbais emitidas quando ele está sentindo. Comportamentalismo Radical obriga a Análise do
Além disso, a relação comportamental tem uma Comportamento a considerar que o conflito é um
dinâmica de “enriquecimento mútuo” que inviabi- aspecto indelével dos fenômenos comportamentais:
liza um início absoluto. Isso significa que as ações o próprio indivíduo não é um todo harmônico e
são produto de um contexto, mas também são, por coerente, como também não o são a espécie e a cul-
sua vez, produtoras do contexto. Nas palavras de tura (Skinner, 1990). A explicitação do conflito, e
Skinner (1971), “o próprio homem [sic] pode ser não seu ocultamento, é uma ocasião para a constru-
controlado pelo seu ambiente, mas é um ambiente ção de uma Análise do Comportamento compro-
quase inteiramente feito por ele” (pp. 205-206). O metida com os desafios de encontrar formas não-
reconhecimento dessa dinâmica dá relevo ao cará- -opressivas de enfrentar as contradições de nossa
ter antiessencialista e histórico da explicação com- sociedade.
portamentalista, pois ser humano e contexto vão se O antimentalismo não subscreve a prática de
construindo mutuamente ao longo do tempo. culpabilizar a vítima e tampouco o discurso meri-
O antimentalismo do Comportamentalismo tocrático que explica conquistas pessoais com base
Radical enseja, portanto, uma perspectiva relacio- na noção de esforço individual. Na medida em que
nal, contextual e histórica de explicação do com- estão centradas no indivíduo, as noções de culpa e
portamento humano que se opõe a uma concep- mérito são incompatíveis com a perspectiva relacio-
ção centrada no indivíduo. Essa não é uma questão nal, contextual e histórica do Comportamentalismo
meramente “teórica”, pois afeta explicitamente o Radical. Como já alertava Holland (1978), “os com-
modo de atuação do(a) analista do comportamento portamentalistas (e reformadores radicais) sabem
(Chiesa, 1994). Como ressaltou Tourinho (2006b), que o crédito ou a culpa é do sistema” (p. 170).
“a intervenção pautada por uma concepção rela- Dessa forma, “se as pessoas de uma sociedade são
cional dos problemas psicológicos não tem como infelizes, se são pobres, se são miseráveis, então são
foco o que se passa com o (ou no) indivíduo” (p. as contingências incorporadas nas instituições, no
6). Embora cada indivíduo seja único, “o que está sistema econômico e no governo é que devem mu-
sendo considerado particular não são ocorrências dar” (p. 170).
internas e pessoais de um indivíduo, mas suas re- Em suma, uma concepção multidimensional,
lações com o mundo. Não são particularidades de antiessencialista e antimentalista de ser humano
cada um, mas particularidades de relações” (p. 6). são características do Comportamento Radical,
Do ponto de vista político, esses pressupostos que, redescritas de uma perspectiva política, dão
indicam que a atuação de analistas do comporta- relevo ao potencial contracultural da comunidade
mento não deveria compactuar com as práticas brasileira de analistas do comportamento. No en-
opressivas e de ocultamento das contradições e tanto, para que esse potencial seja realizado, alguns
conflitos sociais. A noção de diversidade atrelada desafios precisam ser enfrentados.
à perspectiva multidimensional e antiessencialista
afasta o Comportamentalismo Radical de concep-
ções reducionistas e essencialistas de gênero, orien-
tação sexual e raça que, não raro, servem de base
para respaldar discursos normatizadores e justificar 3 Uma táctica de agências controladoras para promover a
opressões e desigualdades sociais (Louro, 1997). De adesão a esse sistema ético é “naturalizar” essas designações
tratando-as como descrições de essências. Novamente, isso
uma perspectiva comportamentalista, “normal” e não encontra guarida nas teses do Comportamentalismo
“anormal” são valores que integram sistemas éticos Radical, permitindo uma análise crítica do controle institu-
mantidos por agências controladoras, com o ob- cional (ver Skinner, 1953, 1971).

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Uma Análise do Comportamento Contracultural: Perspectivas e Desafios 025-040

Desafios a uma Análise do fissional de analistas do comportamento, fazendo


Comportamento Contracultural com que compromissos teórico-filosóficos (multi-
dimensionalidade, antiessencialismo e antimenta-
Como mencionado anteriormente, a comunida- lismo) apareçam na “prática” e não apenas como
de de analistas do comportamento está inserida teses abstratas e inócuas. Assim, não basta invocar
na sociedade brasileira, o que significa que seus o modelo de seleção pelas consequências sem, de
membros respondem a muitas das contingências fato, considerar a dimensão cultural concretamen-
culturais dominantes nessa sociedade. O primei- te; não basta criticar o mentalismo, é preciso avan-
ro desafio para realizar o potencial contracultu- çar na crítica à sociedade que tem o mentalismo
ral dessa comunidade é questionar se analistas como uma de suas ferramentas de dominação; ao
do comportamento não estão “vendo” a realidade fazer uma análise funcional do comportamento de
social do país de posições de privilégio material e um indivíduo, não basta olhar para variáveis on-
simbólico. Por mais que a análise funcional seja togenéticas ignorando que elas estão entrelaçadas
uma ferramenta que induz analistas do compor- com práticas culturais excludentes e opressivas de
tamento a olhar para o contexto e, em particular, nossa sociedade.
para o contexto cultural, “a análise funcional não O terceiro desafio consiste no autorreconhe-
garante por si só que estamos imunes às nossas cimento da comunidade brasileira de analistas do
próprias suposições culturais” (Bolling, 2002, p. comportamento como um grupo que se afasta ra-
24). É preciso, portanto, discutir ostensivamente dicalmente dos valores da cultura dominante em
as práticas culturais que podem estar controlando nossa sociedade. Isso significa assumir e explorar
o comportamento de analistas do comportamento as potencialidades do caráter “marginal” da teoria
de fazer análise funcional (Terry, Bolling, Ruiz, & comportamentalista radical ao invés de tentar ajus-
Brown, 2010). Sem isso, fatores importantes atre- tar-se ao sistema. Por conseguinte, o trabalho teo-
lados a marcadores sociais podem ser desconside- ricamente coerente de analistas do comportamento
rados na análise, aumentando as chances de que o será, na maioria das vezes, oposto ao que é prescrito
planejamento e a execução de práticas de pesqui- por práticas culturais vigentes. Não há, portanto,
sa e de intervenção sirvam de “suporte ideológico um caminho fácil de aceitação desse trabalho nesta
às relações injustas e desiguais do senso comum” sociedade, pelo contrário, a tendência é que tenha-
(Souza, 2020, p. 61). mos poucos reforçadores fornecidos por agências
O segundo desafio é garantir que a comunida- controladoras.
de brasileira de analistas do comportamento re- O quarto e último desafio é uma decorrência
almente adote uma explicação multidimensional, dos pontos anteriores. Trata-se de abandonar de-
antiessencialista e antimentalista, estabelecida pelo finitivamente a neutralidade política nas diferen-
Comportamentalismo Radical. Mais precisamen- tes formas de trabalho da área. Isso significa que
te, é necessário organizar contingências para que analistas do comportamento não apenas precisam
tais pressupostos controlem o comportamento de discriminar as práticas culturais opressivas e de
analistas do comportamento. Isso demanda a cons- ocultamento das desigualdades que configuram
trução de um consenso na área de que esse tipo de a cultura dominante na sociedade brasileira, mas
explicação é parte fundamental da identidade da que devem se posicionar em relação a essa cultu-
cultura analítico-comportamental brasileira. Desse ra, discutindo mais sistemática e explicitamente
modo, análises descontextualizadas, a-históricas e se estão combatendo ou fomentando tais práticas.
unidimensionais do comportamento deveriam ser Uma forma de viabilizar esse aspecto é delinear,
encaradas como falhas em pesquisas e intervenções, de modo programático, estratégias coletivas de
tal como já se faz com os erros de procedimento combate a diferentes formas de opressão, tanto
e problemas no controle de variáveis. Para tanto, dentro quanto fora da comunidade de analistas
discussões que deem visibilidade aos conflitos e do comportamento. Simultaneamente, é necessá-
contradições de nossa sociedade devem ser consi- rio promover estudos que revisem as atividades
deradas parte crucial da formação científico-pro- científico-profissionais de analistas do comporta-

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Carolina Laurenti, Carlos Eduardo Lopes 025-040

mento brasileiros(as) em relação à responsabilida- Esse potencial contracultural exige, no entanto,


de social e ao compromisso político de construir o abandono da noção de neutralidade política na
uma sociedade mais justa e igualitária. comunidade analítico-comportamental brasileira.
A visão de uma ciência politicamente neutra deixa
incólume práticas culturais opressivas que podem
Considerações finais inclusive controlar o comportamento de analistas
do comportamento. Abandonando esse mito, a
Como uma atividade humana, a ciência está sem- análise funcional pode se converter em um meio
pre contextualizada em uma sociedade. Logo, a para descortinar formas de controle social exclu-
compreensão da ciência e, mais especificamente, do dentes e injustas, e que são responsáveis por muitos
fazer científico, exige um exame do contexto social problemas investigados e tratados por analistas do
em que essa atividade se dá. Isso não significa, no comportamento.
entanto, afirmar que a ciência necessariamente tra- Por fim, vale ressaltar que a defesa de uma
balha para a sociedade em que ela está inserida. O Análise do Comportamento contracultural não
caso da ciência moderna é ilustrativo do ethos con- significa uma renúncia à ciência. A aplicação do
tracultural da atividade científica: mesmo surgindo método científico deve continuar cumprindo o seu
em uma sociedade pautada por valores medievais, papel de detecção e correção de erros instrumen-
o projeto científico moderno não estava orientado tais, procedimentais e de má conduta no processo
pela manutenção dessa sociedade. de produção de conhecimento científico. Trata-se,
Raciocínio semelhante pode ser aplicado à isto sim, de buscar estratégias para que o rigor e
Análise do Comportamento brasileira. As diferen- a objetividade da ciência não sejam fomentadores
tes formas de atuação dessa comunidade se dão em ou indulgentes com práticas opressivas em nossa
uma sociedade marcada por práticas sexistas, racis- sociedade, e que a curiosidade científica seja “con-
tas e LGBTfóbicas, e também por práticas de ocul- taminada” pelas possibilidades de se conhecer a na-
tamento dos conflitos, contradições e desigualdades tureza e o comportamento humano em um mundo
(e.g., mito da brasilidade, mito das causas internas, mais justo e igualitário.
ideologia da meritocracia). Embora esteja inseri-
da nesta sociedade, a Análise do Comportamento
brasileira não precisa trabalhar para esta socieda- Referências
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Informações do Artigo

Histórico do artigo:
Submetido em: 08/07/2021
Aceito em: 14/12/2021
Editor Associado: Liane Dahás

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