TCC justica restaurativa_MARIAEDUARDA

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 18

MARIA EDUARDA SCHMITZ

JUSTIÇA RESTAURATIVA

SÃO JOSÉ,
2024
MARIA EDUARDA SCHMITZ

JUSTIÇA RESTAURATIVA

Projeto apresentado ao Curso de Direito da


Instituição Anhanguera / SJ.

Orientador: Cristiane Cordeiro Machado

SÃO JOSÉ,
2024
3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 5

1.1 Problema de Pesquisa.................................................................................................................. 6

2 OBJETIVOS........................................................................................................................................ 6

2.1 Objetivo Geral............................................................................................................................... 6

2.2 Objetivos Específicos.................................................................................................................... 6

3 JUSTIFICATIVA.................................................................................................................................. 7

4 METODOLOGIA................................................................................................................................ 7

5 CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO.......................................................................................8

6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................................................... 9

6.1 Conceito e Origem........................................................................................................................ 9

6.2 Princípios da Justiça Restaurativa.............................................................................................. 10

6.3 O papel da vítima, do ofensor e da comunidade.........................................................................11

6.4. Considerações jurídicas e legislativas no Brasil........................................................................12

7. APLICAÇÕES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NA PRÁTICA........................................................13

7.1 Mediação e Conciliação.............................................................................................................. 14

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................................. 16

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................... 17
4
1 INTRODUÇÃO
A Justiça Restaurativa possui numerosas definições. Pode ser definida pela
negação que realça o que a JR não é; pela definição que a qualifica como a
justiça boa em referência ao sistema de justiça penal vigente; bem como à
definição que excluem, por seu caráter amplo e abrangente, outros sistemas de
justiça.
Zher (2012, p.49) define a Justiça Restaurativa por sua vertente processual.
Segundo o autor, a justiça restaurativa trata-se de um processo que envolve
(conforme as disponibilidades), as pessoas que têm interesse, por alguma razão
direta ou indireta, por meio de determinada ofensa, em um processo que,
coletivamente, “‘identifica e trata os danos, necessidades e obrigações
decorrentes da ofensa, a fim de promover o restabelecimento das pessoas e
endireitar as coisas, na medida do possível”.
Segundo definição da ONU, a justiça restaurativa é um processo por meio
do qual todas as partes envolvidas em um ato que causou ofensa se reúnem para
coletivamente decidir como lidar com as circunstâncias decorrentes desse ato e
suas implicações para o futuro. Contudo, dado ao seu caráter prático e aos
diferentes modos em que a justiça restaurativa é aplicada em diversos países,
trata-se de um conceito aberto e fluido, sendo modificado constantemente,
conforme os interesses e possibilidades de cada sistema jurídico.
O Conselho Nacional de Justiça, ao editar a Resolução nº 225, de 31 de
maio de 2016, fez emergir uma norma que passou a ser referência nacional para
a Justiça Restaurativa no país. No artigo 1º, é destacado que a Justiça
Restaurativa se constitui como um conjunto ordenado e sistêmico de princípios,
métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os
fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflito e violência
através do qual os conflitos que causam danos, concreto ou abstrato.
Na Justiça Restaurativa, os conflitos são solucionados de modo estruturado,
contando com a participação do ofensor, da vítima e, quando oportuno, da
comunidade, através de práticas restaurativas coordenadas por facilitadores,
focalizando a responsabilização do autor do ato danoso e a satisfação das
necessidades de todos os envolvidos.
6

Sendo assim, a Justiça Restaurativa é uma abordagem que busca


solucionar conflitos através do diálogo e da negociação, contando com a
participação tanto da vítima quanto do agressor. Seu objetivo é facilitar a
reconciliação e a recuperação entre as partes, permitindo que a vítima ultrapasse
o trauma e receba compensação pelos prejuízos enfrentados.

1.1 Problema de Pesquisa

Partindo dos pressupostos apontados, tem-se como problemática de


pesquisa o questionamento quanto à metodologia da justiça restaurativa: seria ela
efetiva na prevenção de conflitos e violência?

2 OBJETIVOS
Neste tópico serão apresentados o objetivo geral e os objetivos específicos
para a realização deste trabalho.

2.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo principal analisar a metodologia da justiça


restaurativa em relação à prevenção de conflitos e violência.

2.2 Objetivos Específicos

Visando alcançar o objetivo acima, necessita-se alcançar os seguintes


objetivos específicos:

● identificar quais os objetivos dos programas da justiça restaurativa;


● analisar o processo da justiça restaurativa;
● discutir os resultados das ações da vítima e do ofensor em relação à justiça
restaurativa.
7

3 JUSTIFICATIVA
A justiça restaurativa visa resolver um conflito sem que precise de uma
condenação judicial, para que seja reduzida a prática do crime e que não aconteça
novamente.

Ela ajuda o infrator, a vítima e a sociedade a se colocarem no lugar do outro


e entenderem o por que o fato ter acontecido e como podem ressocializar o ofensor,
mostrando desse modo, a ele o sofrimento da pessoa atingida e consequentemente
dando-lhe uma nova chance. A vítima, por sua vez, também tem o apoio para
conseguir se recuperar e fica bem, pois sabe que foi uma decisão justa e que o
ofensor vai responder, e vai conseguir mudar sua conduta.
Atualmente, faz-se entender para toda a sociedade que a medida de culpar
alguém e fazer com que ele pague na prisão, traz um risco muito maior para a
mesma, visto que provavelmente o ofensor após o cumprimento de sua pena na
prisão, volte para a sociedade cometendo crimes por diversas vezes não conseguir
se socializar novamente.
Com a justiça restaurativa, todos ficam a par dos fatos que motivaram o
conflito, e acabam entrando num acordo que todas as partes ficam satisfeitas e
principalmente toda a sociedade, por conseguir mostrar o outro lado para cada um, e
se colocarem no lugar do outro e assim não precisar usar o procedimento normal
judicial.
Sendo assim, nesta pesquisa busca-se analisar a metodologia da justiça
restaurativa e verificar se sua efetivação funciona na prática, ou seja, se de fato a
justiça restaurativa, através de acordos entre as partes previne os conflitos e a
violência.

Desse modo, este estudo tem como justificativa mostrar a real eficácia da
aplicação da justiça restaurativa na resolução de conflitos e violência.

4 METODOLOGIA
O presente estudo se classifica como uma pesquisa qualitativa, pois busca
explorar e compreender em profundidade as experiências, percepções e significados
atribuídos pelos indivíduos envolvidos.
Em relação aos objetivos, classifica-se como uma pesquisa exploratória e
descritiva. A pesquisa exploratória representa um estágio primordial no processo de
8

investigação, desempenhando um papel fundamental na familiarização dos


pesquisadores com o problema em estudo. A pesquisa descritiva, por sua vez, visa
descrever as características, comportamentos ou fenômenos de uma população ou
contexto específico sem interferir nas variáveis estudadas.
Para o presente estudo, a coleta de dados teve início com pesquisas
bibliográficas em plataformas e bibliotecas virtuais, que continham teses,
dissertações, artigos científicos e livros. Após a coleta dos dados, os mesmos foram
tratados e alinhados conforme os objetivos da pesquisa.

5 CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
No quadro abaixo temos o cronograma de desenvolvimento da pesquisa.

Quadro 1: Cronograma
Fon
2024/1 2024/2
te: ATIVIDADES AG
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL SET OUT NOV DEZ
O
Escolha do tema. Definição do problema de
X X X X
pesquisa

Definição dos objetivos, justificativa. X X X X

Pesquisa bibliográfica e elaboração da


X X
fundamentação teórica.

Definição da metodologia. X X

Entrega da primeira versão do projeto. X

Entrega da versão final do projeto. X X

Revisão das referências para elaboração


X X X X X X
do TCC.

Elaboração da Introdução X X X X X X

Revisão e reestruturação da Introdução e


X X X X X X
elaboração do Desenvolvimento

Revisão e reestruturação do
X X X X X X
Desenvolvimento

Elaboração da Conclusão X X X X X X

Reestruturação e revisão de todo o texto.


X X X X X X
Verificação das referências utilizadas.
Elaboração de todos os elementos pré e
X X X X X X
pós-textuais.

Entrega do TCC-Artigo X X X X X X

Defesa do TCC-Artigo X X X X X X

elaborado pela autora (2024)


9

6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesta seção será realizada uma análise teórica com as perspectivas de
diversos autores, obras e principais teorias sobre a justiça restaurativa.

6.1 Conceito e Origem

A Justiça Restaurativa constitui uma alternativa ao modelo tradicional de


justiça, centrando-se na reparação dos danos ocasionados pelo crime, com a
participação ativa da vítima, do agressor e da comunidade. Em vez de punir, essa
abordagem visa restaurar as relações prejudicadas pelo conflito e facilitar um
processo de responsabilização e reconciliação.
De acordo com Zehr (2002), um dos principais pesquisadores na área, a
Justiça Restaurativa apresenta uma nova forma de abordar crimes e disputas,
fundamentando-se em princípios como reparação, inclusão e diálogo.
As origens da Justiça Restaurativa remontam a práticas ancestrais de
resolução de conflitos, utilizadas por comunidades indígenas ao redor do mundo,
que valorizavam a restauração da harmonia social em lugar da penalização. Essas
abordagens, adaptadas ao cenário contemporâneo, se fortaleceram a partir da
década de 1970, especialmente em nações como o Canadá e a Nova Zelândia.
A Justiça Restaurativa possui um conceito aberto complexo e fluído que vem
se modificando desde seus primeiros estudos e práticas. A etimologia da palavra
“restaurar” do latim restauro, as, avi, atum, are, tem o sentido de reparar, consertar,
renovar, restaurar.
Segundo Aguiar (2012, p.30)
[...] podemos entender a Justiça Restaurativa com uma
reformulação de nossa concepção de justiça, tendo como
objetivos trabalhar a compreensão das pessoas sobre a
situação conflituosa para que haja a humanização dos
envolvidos, possibilitando a identificação das necessidades
geradas pelo conflito/crime e a consequente responsabilização
de todos os afetos, direta ou indiretamente, para que, de uma
forma ou de outra, se comprometam e contribuam para sua
resolução [...]

A Justiça Restaurativa:” [...] é um processo onde todas as partes ligadas de


alguma forma a uma particular ofensa vêm discutir e resolver coletivamente as
10

consequências práticas da mesma e suas implicações futuras [...] (MARSHALL apud


FERREIRA, 2006, p. 24)”.
Em suma, a justiça restaurativa é um método de solução de conflitos e
também uma medida a viabilizar o acesso à ordem jurídica justa, que visa “punir” o
infrator, mas na medida certa, na qual o mesmo tem a possibilidade de reinserção
na sociedade, garantindo assim a este uma nova oportunidade de vida.

6.2 Princípios da Justiça Restaurativa

A Justiça Restaurativa possui como princípios essenciais: a


responsabilização, na qual o infrator deve reconhecer o impacto de suas ações e
aceitar a responsabilidade pelo prejuízo que causou; a reparação, na qual a ênfase
não está na punição, mas na compensação dos danos, tanto materiais quanto
emocionais, sofridos pela vítima; a participação voluntária, incentivo da participação
ativa de todas as partes envolvidas, prezando pela autonomia e pelo consentimento;
restauração das relações, na qual o objetivo principal é restabelecer as relações
sociais e comunitárias que foram rompidas pelo ato ilícito, em vez de buscar
somente a vingança.
A resolução 2002/12 do Conselho Econômico e Social da Organização das
Nações Unidas destacou os princípios básicos da Justiça Restaurativa.
São eles:
1. princípio do voluntarismo: estabelece que o processo restaurativo não pode
ser impositivo e unilateral, que as partes envolvidas no conflito sejam
cooperativas e que as mesmas tenham autonomia e ciência sobre seus
direitos;
2. princípio de consensualismo: seu objetivo é a celebração de um acordo, no
qual as regras de conduta são fixadas e respeitadas. Neste acordo devem
estar presentes o equilíbrio e os benefícios devem ser proporcionais para
ambas às partes. Os acordos devem ser pormenorizados, os detalhes de
quem fará o que, como e durante quanto tempo, devem estar bem claros.
3. princípio da complementaridade: o processo restaurativo complementa a
sanção imposta ao ofensor, o agressor aqui poderá reparar extrajudicialmente
a vítima.
11

4. princípio da confidencialidade: adjudica às partes a necessária confiança


para, de forma honesta, lidarem com seus interesses sem constrangimentos,
pois caso o processo de mediação fracassar, as declarações não devem ser
comunicáveis em juízo, por isso, nos debates, as declarações não devem ser
reduzidas em termo, prevalecendo o princípio da oralidade, que beneficia a
expressão dos sentimentos dos envolvidos.
5. princípio da celeridade: a justiça restaurativa dá ao problema jurídico um
revide rápido, célere, eficaz, tal como impõem o próprio sentido da justiça.
6. A necessidade de se respeitar a disciplina atinge o agressor e a vítima. A
ideia de disciplina liga-se a uma estratégia de responsabilização dos sujeitos
implicados no processo em causa e favorece a confiança social desta
atividade

6.3 O papel da vítima, do ofensor e da comunidade

Um dos principais aspectos que diferencia a Justiça Restaurativa do sistema


de justiça tradicional é a centralidade da vítima. Ao contrário do modelo punitivo,
onde o Estado lidera o processo, na Justiça Restaurativa a vítima pode expressar
suas necessidades, relatar sua experiência e ter influência direta na resolução do
conflito.
O agressor, por sua vez, é incentivado a reconhecer sua falta e a se
envolver ativamente na reparação, em um processo que busca sua reintegração à
sociedade.
Além disso, a comunidade desempenha um papel crucial, pois o crime é
considerado uma quebra das relações sociais, e a recuperação dessa conexão
depende da restauração dos vínculos afetados.
A justiça restaurativa tenta incluir a sociedade local representada como parte
no processo, pelo seu interesse e impacto sofrido em tal causa, porque em certa
parte a sociedade também é vítima. O caso é, o ofensor integra a sociedade, comete
crime dentro da sociedade, volta da prisão reingressando na sociedade, portanto
nada mais justo a participação da sociedade nos processos restaurativos.
Zehr (2018, p. 236) relata que apesar de muitos pensadores argumentarem
que a comunidade está traumatizada e não seria confiável atribuir a ela tal
12

responsabilidade, considerando ainda que o governo representa de forma legítima


os interesses da comunidade, outros pensadores dão a maior força e afirmam até
que a comunidade deveria gerenciar os processos restaurativos e que seria uma
forma mais participativa de democracia no âmbito da comunidade.
Nascimento (2019, s.p.) destaca que:
A importância da Justiça Restaurativa reflete não somente na
possibilidade de restaurarmos as relações interpessoais como
também na diminuição dos números de processos distribuídos nos
fóruns no país. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça
levantados no ano de 2018, há pelo menos 80 milhões de processos
aguardando solução definitiva. A associação dos magistrados
brasileiros acredita que 40% dos processos existentes no país
poderiam ser resolvidos por meio de outra forma de resolução de
conflitos, tais como mediação, conciliação e arbitragem. Ademais,
importante mencionar que a economia gerada com os custos
relativos a esses processos chegaria a R$ 63 bilhões aos cofres
públicos. Dessa forma, a Justiça Restaurativa, além de cumprir seu
papel na resolução de conflitos, reparação de danos e
responsabilização dos respectivos envolvidos, também pode ser vista
como uma forma de contribuir com a desjudicialização do Poder
Judiciário, ou seja, buscar resolução de conflitos fora da esfera
judicial, assegurando sobretudo o direito fundamental do cidadão
tanto com relação ao acesso à justiça quanto com a celeridade dos
procedimentos
.

6.4. Considerações jurídicas e legislativas no Brasil

A Justiça Restaurativa é um movimento recente no Brasil, como também em


outros países latino-americanos, mas vem despertando interesse de importantes
entidades jurídicas, por ser ela uma “válvula de escape” para a resolução de
inúmeras lides tratadas no poder judiciário.
No contexto brasileiro, a Justiça Restaurativa está alicerçada no artigo 1º,
inciso III, da Constituição Federal, que reconhece a dignidade da pessoa humana
como um dos fundamentos do Estado. Ademais, o artigo 5º, inciso V, que assegura
o direito à compensação por danos morais e materiais, estabelece uma conexão
direta com a abordagem restaurativa, que tem como objetivo a reparação dos danos
sofridos pela vítima.
Segundo Nascimento (2019, s.p)

A Justiça Restaurativa no Brasil passou a ser aplicada no Brasil após


a edição da Resolução n º 225 do CNJ em razão de uma
13

recomendação do Conselho Econômico e Social da Organização das


Nações Unidas nas Resoluções de nº 1999/26, 2000/14 e 2002/12
onde são estabelecidos além dos princípios que a norteiam,
conforme descrito em seu artigo 2º, quer sejam os de
corresponsabilidade, reparação dos danos, atendimento às
necessidades de todos os envolvidos, informalidade, voluntariedade,
imparcialidade, participação, empoderamento, consensualidade,
confidencialidade, celeridade e urbanidade, a forma como a Justiça
Restaurativa deverá ser aplicada

Apesar da ausência de uma legislação que regule de forma completa a


Justiça Restaurativa no Brasil, existem iniciativas significativas que incentivam sua
aplicação em diferentes contextos. São elas:
• A Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais) já incorpora a ideia de
conciliação e transação penal, que se alinha com a filosofia restaurativa, oferecendo
uma abordagem menos punitiva para infrações de menor gravidade;
• A Lei nº 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo -
SINASE) estabelece que o atendimento socioeducativo de adolescentes em conflito
com a lei pode incluir medidas restaurativas, conforme indicado no artigo 35;
• A Resolução nº 225/2016 do CNJ ressalta o reconhecimento do Conselho
Nacional de Justiça sobre a relevância da Justiça Restaurativa na resolução de
conflitos, especialmente no contexto da Justiça Criminal e nas execuções penais.

7. APLICAÇÕES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NA PRÁTICA


No Brasil, a aplicação da Justiça Restaurativa tem crescido, principalmente
em situações que envolvem jovens infratores, conforme estipulado pelo ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente), vigorado através da Lei nº 8069/90. Essa
abordagem restaurativa está sendo adotada em diversos estados, através de
círculos restaurativos e processos de mediação. A implementação de Núcleos de
Justiça Restaurativa em vários Tribunais de Justiça tem contribuído para a
disseminação dessa metodologia tanto na esfera judicial quanto na comunitária.
Além de abordar questões de jovens em conflito com a lei, a Justiça
Restaurativa também é utilizada em casos relacionados à violência doméstica,
crimes contra o patrimônio e até em contextos escolares, onde o objetivo é resolver
14

desavenças de maneira dialogada, evitando o uso automático de sanções punitivas


tradicionais.

7.1 Mediação e Conciliação

A mediação, em seu modelo tradicional, caracteriza-se pela intervenção de


um terceiro imparcial, ou seja, se baseia na lógica que um ganha e o outro perde, a
mediação e a conciliação de conflitos procedem a lógica da parceria, buscando uma
solução para todos de forma que saiam todos ganhando.
A conciliação é um meio que um terceiro imparcial, intervêm no conflito por
meio de uma posição ativa para que as partes façam concessões recíprocas, e
cheguem na resolução do conflito. Constitui-se assim, um instrumento de
pacificação social dos conflitos, que induz as pessoas envolvidas a rever suas
posições buscando soluções com ganhos mútuos.
Segundo Sales (2010, p.1)
A mediação é um mecanismo consensual de solução de conflitos por
meio do qual uma terceira pessoa imparcial –escolhida ou aceita
pelas partes –age no sentido de encorajar e facilitar a resolução de
uma divergência. As pessoas envolvidas nesse conflito são as
responsáveis pela decisão que melhor as satisfaça. A mediação
representa assim um mecanismo de solução dos conflitos pelas
próprias partes, as quais, movidas pelo diálogo, encontram uma
alternativa ponderada, eficaz e satisfatória, sendo o mediador a
pessoa que auxilia na construção do diálogo.

Vasconcelos (2012, p.42) defende que a

mediação é um meio geralmente não hierarquizado de solução de


disputas em que duas ou mais pessoas, em ambiente seguro e de
serenidade, com a colaboração de um terceiro, o mediador- que deve
ser apto, imparcial, independente e livremente escolhido ou aceito-,
expõem o problema, são escutadas e questionadas, dialogam
construtivamente e procuram identificar os interesses comuns,
opções e, eventualmente, firmar um acordo.

O mediador passa a ter papel fundamental no processo de comunicação,


uma vez que, ajuda as partes a definir de forma clara seus problemas, compreender
os interesses de cada parte e gerar opções para solucionar a disputa; o mediador
não impõe a solução ao problema, pois são as partes que mantêm a
responsabilidade de fazer sua própria decisão (MARTÍN, 2015, p.104 apud.
SPOSATO, 2019).
15

Contudo há um ponto de distinção entre a conciliação e a mediação, na qual


a conciliação busca diretamente o acordo, enquanto a mediação o almeja
indiretamente, já que tem o foco primordial o restabelecimento da comunicação.
Mesmo que não haja acordo, a medição é considerada um êxito.
Diante da semelhança, a mediação e a conciliação são disciplinadas
conjuntamente, no artigo 334 do novo Código de Processo Civil - CPC (2015), que
dispõe a respeito da audiência de conciliação ou mediação. Todavia, este diploma
normativo - ao definir estes institutos no art. 165, §§ 2º e 3º - destaca as diferenças
ao expressar in verbis:
§ 2º O conciliador, que atuará preferencial- mente nos casos em que
não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções
para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de
constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
§ 3º O mediador, que atuará preferencialmente te nos casos em que
houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a
compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que
eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por
si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.

É nesse sentido que Warat (2004, p. 34) afirma que "a mediação não é uma
ciência que pode ser explicada, ela é uma arte que tem que ser experimentada".
Esse mecanismo de solução de conflito visa fornecer ao mediador a possibilidade de
rever seus padrões de conduta, e cabe portanto, ao mediador um papel de “ajudar
as partes, fazer com que olhem a si mesmas e não ao conflito”.
Focando no princípio da responsabilidade, a mediação começou a ser
utilizada em casos de violência, promovendo a ideia de que os participantes do
conflito são protagonistas responsáveis por suas ações. Em vez de simplesmente
classificá-los como vítimas ou agressores, busca-se proporcionar a eles
oportunidades de autodeterminação e de resolução de conflitos através de uma
abordagem cooperativa.
Dessa forma, a mediação de conflitos entre vítima e ofensor, como uma
ferramenta da Justiça Restaurativa, tem se expandido, penetrando no âmbito penal.
Apesar da resistência inicial que enfrentou, esse método ganhou destaque por
oferecer uma abordagem eficiente para a prevenção.
16

A justiça restaurativa, portanto, é um procedimento alternativo para tratar o


delito, diferente do sistema tradicional de justiça criminal que é centrado na ideia de
culpa e punição (o delito gera culpa; o Estado determina a culpado e impõe a
punição).
Vale ressaltar ainda que,

para que a Justiça Restaurativa e a mediação não sejam meros


paliativos para a crise do sistema de justiça, nem entendidas
apenas como instrumentos de alívio dos tribunais, de extensão da
burocracia judiciária ou de indulgência, devem ser implementadas
sobre dois fundamentos bastante claros: ampliação dos espaços
democráticos e construção de novas modalidades de regulação
social ( SICA, 2007 р. 26).

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto nota-se que a Justiça Restaurativa vem conquistando
espaço na sociedade brasileira, quebrando paradigmas no sistema judiciário e o
aproximando da comunidade. Visto que ela trouxe um outro olhar para a forma de se
olhar o crime, o criminoso e a vítima, que agora são vistos de uma forma mais digna,
mais humana e isso reflete na comunidade, enfatizando assim os valores,
sentimentos e o impacto do comportamento para com o outro, refletindo desse modo
no meio em que se vive, proporcionado assim um ambiente melhor, de paz e
tranquilidade.
Pode-se perceber ainda que a Justiça Restaurativa supõe uma concepção
aberta, forte e positiva do se humano, da sociedade e das comunidades. Ela busca
atender as necessidades das vítimas, que são por elas mesmas expressadas e
permite um diálogo direto ou indireto entre os protagonistas do fato delituoso.
Por fim, a reflexão que se tem da justiça restaurativa sobre a sociedade, é
de que a mesma torna um novo jeito de viver, em que as pessoas deixam de lado a
ignorância e saibam enxergar o próximo como a si mesmos, respeitando as suas
diferenças, reconhecendo as suas falhas e sempre buscando se tornarem pessoas
melhores. Ela ainda nos faz lembrar da importância dos relacionamentos, nos
incitando a considerar o impacto do nosso comportamento sobre os outros e as
obrigações geradas pelas nossas ações
17

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Carla Zamith Boin. Mediação e Justiça Restaurativa: a humanização do


sistema processual como forma de realização dos princípios constitucionais. São
Paulo: Quartier Latin, 2009.

Código de Processo Civil e normas correlatas (2015). Brasília: Senado Federal,


2015.

FERREIRA, Francisco Amado. Justiça Restaurativa: natureza, finalidades e


instrumentos. Coimbra:Coimbra Editora,2006.

MARSHALL, Tony. The Evolution of Restorative Justice in Britain.European Journal


on Criminal Policy Research, Heidelberg,v. 4, n. 4,springer, 1996.

NASCIMENTO, Priscila de Miranda. Justiça Restaurativa no Brasil: novos


caminhos para a resolução de conflitos e a desjudicialização. Conteúdo Jurídico,
2019.

ONU. Conselho Econômico e Social. Basic principles on the use of restorative


justice programmes in criminal matters. 2002

ORTH, Glaucia Mayara Niedermeyer; GRAF, Paloma Machado (org.). Sulear a


justiça restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
movimento restaurativo. Ponta Grossa: Texto e Contexto, 2020. 292p. (Coleção
Singularis, v.8). ISBN 978-65-88461-17-4.

SICA, Leonardo. Bases para o modelo brasileiro de justiça restaurativa. Novas


direções na governança da Justiça e da segurança, p. 455-490, 2006.

SPOSATO, Karyna Batista; DA SILVA, Luciana Aboim Machado Gonçalves. Justiça


Juvenil Restaurativa e novas formas de solução de conflitos. Editora CLA
Cultural, 2019.

TARTUCE, Flávio. O novo CPC e o direito civil. Rio de Janeiro: Forense, p. 34,
2015.

UNITED NATIONS. Basic principles on the use of restorative justice programmes in


criminal matters. 2002.
18

VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de conflitos e práticas


restaurativas. São Paulo: Método, 2012.

WARAT. Surfando na pororoca: ofício do mediador. Vol III. Coordenadores:


Orides Mezzaroba, Arno Dal Ri Júnior, Aires José Rover, Cláudia Servilha Monteiro.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004c

ZEHR, H. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. Trad. Tônia
Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2008.

Você também pode gostar