Aula 7

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Disciplina: Mediação Comunitária

Aula 7: Resoluções e leis ligadas à mediação comunitária

Apresentação
Para que, realmente, ocorra uma eficaz democratização da Justiça, ela não pode ficar
restrita apenas à prestação jurisdicional. A Justiça deve estar interligada com todos
os segmentos da sociedade, principalmente aqueles em que as relações sociais são
construídas, estabelecidas e continuadas, e, como consequência, contextos onde os
conflitos surgem na sua maior expressividade.

É claro que a prestação jurisdicional deve existir e ser universal. No entanto, são os
cidadãos, as comunidades e as instituições que realizam um papel fundamental na
construção da paz. Essa ampliação do acesso à Justiça fundamenta a justiça
comunitária, que tem como seus principais fundamentos a mediação comunitária
e a justiça restaurativa. Apesar de considerada uma complementação da atividade
jurisdicional, demonstra com clareza que além dos limites formais do Judiciário
alguns conflitos podem ser solucionados de forma mais célere e efetiva, pela própria
comunidade.

A justiça comunitária transforma as demandas apresentadas por meio de conflitos e


disputas, em materiais para a construção da cidadania e da paz. A comunidade é
protagonista da construção de uma justiça realizada na, para e pela comunidade. É
esse papel de importância ocupado pela comunidade que permite o desenvolvimento
do diálogo, da autonomia, da solidariedade e da cidadania.
Nesta aula, veremos algumas resoluções que, apesar de não ter sido especificamente
criadas para a mediação comunitária, possibilitam, de alguma forma, o seu
desenvolvimento e a sua aplicação.

Objetivos
Compreender as definições previstas na Resolução nº 2002/12, de 24 de julho
de 2002, do Conselho Econômico e Social da ONU;
Estudar o programa de justiça restaurativa do Conselho Nacional de Justiça;
Analisar a Lei da Mediação nº 13.140 (2015) em relação à mediação
comunitária.
Definições previstas na Resolução
nº 2002/12, de 24 de julho de
2002, do Conselho Econômico e
Social da ONU
A Resolução nº 12/2002 1 é, segundo Neves (2012), um documento
importante, pois definiu e demarcou a nomenclatura usada nos procedimentos
restaurativos — por exemplo, programas de justiça restaurativa, processo
restaurativo, resultado restaurativo, partes e acordo.

1
Resolução nº 2002/12

Essa resolução determina os princípios básicos para utilização de programas


de justiça restaurativa em matéria criminal. É dividida em tópicos, estando
expostos da seguinte forma:

terminologia;
utilização de programas de justiça restaurativa;
operação dos programas restaurativos; e
desenvolvimento contínuo de programas de justiça restaurativa.

Essa nomenclatura é fundamental porque serve como


orientação para os países-membros utilizarem em suas

normas legais.

Vamos expor cada um dos tópicos que formam a resolução, delimitando


apenas o que diz respeito às questões ligadas à comunidade.

Terminologia
O programa de justiça restaurativa, de acordo com a Resolução nº
12/2002, é “qualquer programa que use processos restaurativos e
objetive atingir resultados restaurativos”. O processo restaurativo
significa qualquer procedimento onde a vítima e o ofensor, e, quando for
o caso, quaisquer outros indivíduos ou membros da comunidade afetados
por um crime participam objetivamente na resolução das questões
geradas por ele. Em geral, esse processo conta com a participação de um
facilitador. Os processos restaurativos incluem a mediação, a
conciliação, a reunião familiar ou comunitária e os círculos
decisórios.

Os processos restaurativos contam com a participação da vítima e do


ofensor. Essas presenças são fundamentais para que sejam estabelecidas
as condutas a ser tomadas pelo ofensor para a restauração do dano
gerado pelo delito. Quando for pertinente, a comunidade atingida pela
realização do delito poderá tomar parte no processo restaurativo, com o
objetivo de reintegrar o ofensor ao ambiente que sofreu alterações a
partir do crime.

De acordo com a Resolução nº 12/2002, os resultados alcançados por


esse procedimento podem incluir a restituição, a reparação e serviços
comunitários, “objetivando atender necessidades individuais e coletivas
e responsabilidades das partes, bem como promover a reintegração da
vítima e do ofensor”.

Quanto às partes que participam nos processos restaurativos,


encontram-se a vítima, o ofensor e quaisquer outros indivíduos ou
membros da comunidade afetados pelo crime. No que diz respeito às
necessidades da comunidade, Zehr afirma (2008, p. 170-1):

A vítima de crime se sente violada, e essa violação gera necessidades.


Mas as comunidades também se sentem violadas, e têm necessidades
análogas. Uma vez que não se pode ignorar as dimensões públicas do
crime, em muitos casos o processo judicial não pode ser inteiramente
privado. Também a comunidade quer estar segura de que o ocorrido é
errado, algo está sendo feito a respeito, e medidas estão sendo tomadas
para evitar a reincidência.
[...] A reparação da comunidade como um todo requer algum tipo de
ação simbólica que tenha elementos de denúncia da ofensa, vindicação,
restauração da confiança e reparação.
De acordo com Neves (2012), quando pertinente, a participação da
comunidade é importante porque o delito também gera consequências na
vida das pessoas participantes direta ou indiretamente no contexto do
conflito. Essas pessoas, na comunidade, apresentam sentimentos e
percepções que vão desde o medo, a revolta, a impunidade, e buscam
respostas sobre o que aconteceu.

Utilização de programas de justiça restaurativa

A participação nos programas restaurativos não é obrigatória, devendo


partir de um acordo entre as partes envolvidas. Esses acordos
estabelecidos nesses processos deverão ser realizados de forma
voluntária, determinando obrigações possíveis e proporcionais ao delito
cometido.

A justiça restaurativa é diferente da justiça retributiva; naquela, as


partes poderão determinar ações que possibilitarão alguma restituição
para a vítima, tentando diminuir os danos causados com o ato
infracional. Tais ações, conforme a resolução da ONU, podem incluir
reparação, restituição, serviço comunitário ou outras necessidades
identificadas pela vítima, desde que sejam razoáveis e proporcionais ao
dano causado.

É importante lembrar que quando não for adequado ou indicado o


processo restaurativo, os casos deverão ser encaminhados para a justiça
retributiva. Mesmo assim, as autoridades responsáveis pela prestação
jurisdicional deverão incentivar a responsabilização do ofensor em
relação à vítima, e também frente à comunidade. Segundo Neves
(2012), a reintegração da vítima e do ofensor à comunidade também
deve ser estimulada.

Operação de programas de justiça restaurativa


A Resolução nº 12/2002 estabelece que os Estados-membros “devem
estudar o estabelecimento de diretrizes e padrões, na legislação, quando
necessário, que regulem a adoção de programas de Justiça Restaurativa”.
Ressalta Neves (2012) que essas orientações e padronizações, além de
obedecerem à resolução, incluem em quais condições os casos deverão
ser encaminhados para os programas de justiça restaurativa; o
procedimento posterior ao processo restaurativo; a qualificação, o
treinamento e a avaliação dos facilitadores; o gerenciamento dos
programas de justiça restaurativa; e os padrões de competência e
códigos de conduta que regulamentam a realização desses programas.

Desenvolvimento contínuo de programas de justiça


restaurativa

Nesse item da Resolução nº 12/2002 há o estabelecimento da


responsabilidade dos Estados-membros em buscar a construção de
estratégias e políticas nacionais com o objetivo de desenvolver a justiça
restaurativa e uma cultura favorável à sua utilização pelas áreas de
segurança, judiciais e sociais, assim como pelas comunidades.

Aplicação de imagens

 Desde os anos 1960, a justiça restaurativa é aplicada em países que adotam o sistema “common
law 2” / Unspash
Common law 2

“Common law” (do inglês "direito comum") é o direito que se desenvolveu em


certos países por meio das decisões dos tribunais, não mediante atos
legislativos ou executivos. Disponível aqui
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Common_law> . Acesso em: 27 jul.
2018.

“Common Law” é um termo utilizado nas ciências jurídicas para se referir a


um sistema de Direito cuja aplicação de normas e regras não está escrita mas
sancionada pelo costume ou pela jurisprudência. Disponível aqui
<https://www.infoescola.com/direito/common-law/> . Acesso em: 27
jul. 2018.

Tais nações optam pelo princípio da oportunidade, sendo totalmente


relacionado com o sistema restaurativo. Entretanto, no Brasil, prevalece o
princípio da indisponibilidade da ação penal pública, e não há essa liberdade
para medidas conciliatórias ou alternativas. Apesar de existir esse
impedimento para a prática dos métodos alternativos, houve um pequeno
avanço, ainda que não explícito, em nossa Constituição Federal (1988), bem
como na Lei nº 9.099/95 nas ocasiões em que vigora o princípio da
oportunidade 3.

3
Princípio da oportunidade

O fundamento do princípio da oportunidade vincula-se à ideia de que o Estado


não deve cuidar de coisas insignificantes, podendo deixar de promover o ius
puniendi (direito de punir) quando verificar que dele possam advir mais
inconvenientes do que vantagens. Disponível aqui
<https://jus.com.br/artigos/19466/o-principio-da-oportunidade> .
Acesso em: 27 jul. 2018.


Comentário

Em funcionamento há mais de dez anos no Brasil, a prática da justiça


restaurativa tem se ampliado em nosso país. É uma técnica de solução
de conflitos que privilegia a criatividade e sensibilidade na escuta das
vítimas e dos ofensores. Essa prática tem acontecido por meio de
iniciativas cada vez mais diversificadas e já apresenta muitos resultados
positivos.

Histórico de aplicação da justiça


restaurativa no Brasil
Agora, veja como a justiça restaurativa tem sido aplicada em alguns estados
brasileiros:

Em São Paulo, a justiça restaurativa vem sendo aplicada em muitas


escolas públicas e na rede privada, colaborando na prevenção e na
diminuição do aprofundamento de conflitos escolares.

No Rio Grande do Sul, os juízes utilizam a justiça restaurativa para


ajudar nas medidas socioeducativas estabelecidas para os adolescentes
em conflito com a lei, conseguindo, em proporção expressiva, recuperar
para a sociedade jovens que estavam cada vez mais integrados ao
mundo do crime.

No Distrito Federal, o programa de justiça restaurativa é usado em


crimes de pequeno e médio potencial ofensivo, além dos casos de
violência doméstica.

Na Bahia e no Maranhão, esse procedimento tem resolvido os crimes


de pequeno potencial ofensivo, sem a necessidade da continuação dos
processos judiciais.

A justiça restaurativa é incentivada pelo


Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por meio do
protocolo de cooperação para a difusão da
justiça restaurativa, firmado em agosto com a
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).
Processo restaurativo
Nos crimes de ação penal privada, bem como nos de ação penal pública
condicionada à representação, em que aparece a vontade do ofendido para
estabelecer a prestação jurisdicional, é possível que as partes escolham o
procedimento restaurativo para solucionar o conflito, abrindo mão do
Judiciário.

A Lei nº 9.099 (1995) admite o processo restaurativo tanto em sua fase


preliminar como durante o procedimento contencioso, tendo a possibilidade de
realizar a despenalização pela extinção da punibilidade por meio da
4
composição civil nos crimes de ação penal privada e pública
5
condicionada .

4
Ação penal privada

Trata-se de ação de iniciativa da vítima, ou de seu representante legal, se ela


for menor ou incapaz (artigo 100, § 2º, do Código Penal, e artigo 30 do
Código de Processo Penal). Embora o direito de punir continue sendo estatal,
a iniciativa se transfere ao ofendido quando os delitos atingem sua intimidade,
de forma que é possível optar por não levar a questão a juízo. Disponível em:
https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1214/Acao-Penal-
Privada
<https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1214/Acao-
Penal-Privada> . Acesso em: 17 out. 2018.

5
Ação penal pública condicionada à representação

Exige sempre uma representação, que em outras palavras é uma


manifestação de vontade da parte ofendida. Disponível aqui
<https://penalistaninja.jusbrasil.com.br/artigos/302752992/qual-a-
diferenca-entre-acao-penal-publica-condicionada-e-incondicionada> .
Acesso em: 27 jul. 2018.
Não restam dúvidas de que a justiça restaurativa pode ser

atingida na conciliação, bem como na transação penal 6, a


partir de um contexto de consenso entre as partes, que

participam de forma voluntária, possibilitando um diálogo


restaurativo e criativo, englobando, além disso, outras

questões, tais como emocionais.

Transação penal 6

A transação penal é um instituto despenalizador pré-processual inserido pela


Lei nº 9.099/95, em seu art. 76, que se baseia no direito penal consensual.
Disponível aqui
<https://endireitados.jusbrasil.com.br/noticias/189932811/o-que-
e-e-como-funciona-a-transacao-penal> . Acesso em: 27 jul. 2018.


Atenção

O processo restaurativo é possível nos crimes contra o idoso, de acordo


com o que é estabelecido no art. 94 da Lei nº 10.741/03 (Lei do Idoso).
Isso ocorre porque é determinado o procedimento da Lei nº 9.099/95
para os crimes com penas que não ultrapassem quatro anos.

Resultado restaurativo
Relacionado aos encaminhamentos que surgem desse encontro entre as
partes, o termo resultado restaurativo é mais abrangente do que o acordo
restaurativo, sendo que este se relaciona ao que foi estabelecido entre as
partes para a reparação dos danos decorrentes do conflito e aquele abrange,
também, o cumprimento desse acordo e a real restauração das partes.
Desse modo, o programa de justiça restaurativa pode ser integrado no Brasil,
ocupando espaços comunitários ou até mesmo centros integrados de
cidadania. Nesses locais, podem ser instalados núcleos de justiça restaurativa,
sendo compostos por uma coordenação e um conselho multidisciplinar, e cuja
estrutura compreenderia câmaras restaurativas onde se reuniriam as partes e
os mediadores, com o apoio administrativo e da segurança (SICA, 2007, p.
89).


Comentário

É viável usar estruturas já existentes como espaços restaurativos.


Entretanto, é importante o apoio de órgãos governamentais, empresas e
organizações não governamentais, trabalhando em rede e direcionando
as vítimas e os infratores para os programas restaurativos, a fim de
realizar um acordo restaurativo (SICA, 2007, p. 89).

Dada a importância da justiça restaurativa para as partes e para a


comunidade, o CNJ aprovou, em maio de 2016, durante a 232ª Sessão
Plenária, a Resolução nº 225/2016 7, que estabelece diretrizes para a
implementação e a difusão da prática da justiça restaurativa no Poder
Judiciário.

7
Resolução nº 225/2016

A resolução é resultado de uma minuta, desenvolvida desde agosto de 2015


pelo grupo de trabalho instituído pelo presidente do CNJ — na época o
ministro Ricardo Lewandowski, por meio da Portaria nº 74/2015 —,
encaminhada à Comissão Permanente de Acesso à Justiça e Cidadania do CNJ.

Previsão de mediação comunitária


na Lei nº 13.140/2015
Foi a partir da crise que toma conta do Judiciário que o sistema realizou uma
série de reformas, com o objetivo de garantir a assistência judiciária gratuita,
a construção de novos procedimentos que viabilizam a representação em juízo
para os interesses difusos 8 e a instituição de juizados especializados com
ritos especiais, já comentados no programa de justiça restaurativa. Essas
mudanças foram importantes, mas não foram capazes de garantir a
efetividade, principalmente quanto ao acesso à Justiça, para a grande maioria
da população.

De acordo com Cappelletti e Garth (2002), esses fatos levaram à


compreensão de que o Estado não é capaz — como único centro de poder —
de garantir a resolução de conflitos e a realização de direitos e deveres dos
cidadãos, principalmente daqueles que se encontram em comunidades mais
carentes e marginalizadas. Na mediação, ocorre a restauração do diálogo
entre as partes, restabelecendo o relacionamento amistoso em busca de uma
solução consensual.

Em torno dessa situação, segundo Farias (2016, p. 6), foi observado o


aparecimento de duas situações, “um (novo) centro de poder — a sociedade
organizada (ou emancipada) e (novos) instrumentos processuais (que podem
ser manuseados por este novo centro)”, com o objetivo de dar uma solução
aos conflitos, e promover direitos e deveres fundamentais, a partir de ações
legais e pacíficas. A sociedade civil organizada surge, muitas vezes, baseada
na participação comunitária, estabelecida em regiões mais carentes, com o
fim de possibilitar o acesso à justiça, sendo reconhecida pelos centros de
organização comunitária. Os novos processos — como a mediação —
possibilitam o uso de métodos compatíveis com as necessidades dessas
organizações.

8
Interesses difusos

São um tipo de interesse transindividual ou metaindividual, isto é, pertencem


a um grupo, classe ou categoria indeterminável de pessoas, que são reunidas
entre si pela mesma situação de fato. Eles têm natureza indivisível, ou seja,
são compartilhados em igual medida por todos os integrantes do grupo.
Exemplos: os moradores de uma região atingida pela poluição ambiental, ou
os destinatários de uma propaganda enganosa divulgada pela televisão.
Disponível aqui <https://pt.wikipedia.org/wiki/Interesses_difusos> .
Acesso em: 28 jul. 2018.
Como surgiu a mediação
comunitária?
A mediação comunitária surge como um processo paralelo ao processo judicial
— não oposto ou substitutivo — e vem apresentando muitas vantagens. Veja
algumas delas:

Celeridade

Informalidade

Flexibilidade

Baixos custos

Acesso às zonas marginalizadas


Atenção
É importante esclarecer que, embora a mediação tenha iniciado seu
percurso nos meios comunitários e de forma voluntária, segundo Farias
(2016), rapidamente a sua forma de solução através do diálogo se
encaminhou para os conflitos de médio e grande porte, em relação a
matérias diversificadas.

Segundo Tartuce (2015, p. 251), até 2015, a mediação era realizada:

Por meio de programas de acesso à Justiça, desenvolvidos por tribunais que


promoviam a mediação judicial.

Por entidades não governamentais realizadoras de medição comunitária.

Por câmaras de mediação e arbitragem (prestadoras de serviços de


mediação).

Por mediadores privados independentes (profissionais de serviços atuantes


em diversas áreas, como familiar, cível e empresarial).

É importante chamar atenção para o fato de que


esta aula não comporta uma análise detalhada e
profunda de todas as normas estabelecidas até
chegarmos à Lei da Mediação nº 13.140/2015.
(Para esse aprofundamento, é disponibilizado o
material complementar.) Entretanto, merece
destaque a promulgação de uma lei estadual
contemplando a mediação comunitária.
No Mato Grosso do Sul, a Lei nº 2.348/2001 instituiu a justiça comunitária no
Poder Judiciário para possibilitar mais informações ao jurisdicionado e
“intermediar os conflitos sociais junto à própria comunidade”. A lei criou a
figura do “agente comunitário de Justiça”, que deveria desempenhar funções
ligadas à mediação e à informação.

Após vários projetos de lei, visando à padronização de uma política pública no


Poder Judiciário, surge a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010
9, que estabelece os princípios da mediação e da conciliação no âmbito
judicial, um código de ética para mediadores e conciliadores judiciais, bem
como o conteúdo detalhado de um programa pedagógico de cursos de
formação específica de mediadores e conciliadores judiciais.

Essa resolução foi uma inovação, porque estabeleceu, formalmente, outras


formas de administração de conflito, paralelas ao processo judicial, para
efetivar o acesso à Justiça. Nesse documento, a mediação é destacada como
um processo justo, adequado, que garante direitos e deveres, assim como
visa à satisfação do jurisdicionado.

9
Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010

A Resolução nº 125 (2010) do CNJ teve duas emendas (nº 01/2013;


02/2016) até então. A Emenda nº 1, em linhas gerais, objetiva estimular a
busca por soluções extrajudiciais para resolver conflitos. A Emenda nº 2
adequa o Judiciário às novas leis que consolidam o tema no país — a Lei de
Mediação (Lei nº 13.140/2015) e o Novo Código de Processo Civil (Lei nº
13.105/2015). Em 26 de março de 2018, o CNJ, por meio do Provimento nº
67, regulamentou os procedimentos de conciliação e de mediação nos serviços
notariais e de registro.

Em 26 de junho de 2015, foi sancionada a Lei nº 13.140/2015, que tem por


objetivo dispor sobre a mediação entre particulares como meio de solução de
controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública. Na realidade, é importante destacar que a mediação,
por ser um processo fundamentado no diálogo, é permitida para todos os
casos e indivíduos que buscam uma resolução por meio da negociação.

A Lei nº 13.140/2015 estabelece que podem ser solucionados através da


mediação os conflitos que versem sobre direitos disponíveis ou sobre direitos
indisponíveis que admitam transação. Quando existe entre as partes uma
relação jurídica preexistente ao conflito (com permanência no tempo), como
no caso das relações comunitárias, a mediação merece ser aplicada.

 A mediação é um processo fundamentado no


diálogo. | Shutterstock

Nesse contexto, quem realizará a


mediação?

 Selenophile / Shutterstock
A mediação será realizada com o auxílio de um terceiro imparcial, capacitado,
que utilizará técnicas específicas desse procedimento, para facilitar o diálogo
entre os envolvidos. Dessa forma, haverá um trabalho com sentimentos e
emoções, buscando o destaque dos reais interesses e necessidades, desejos e
medos, para que seja possível a construção, pelas partes, de uma solução
possível e sustentável no tempo e no espaço, que promova a satisfação para
todos. Não se busca somente a construção do acordo (culturalmente, mais
representativo), mas também a prevenção de novos conflitos, bem como a
inclusão e a pacificação social.

Por fim, ressalta-se que essa lei será aplicada, no que

couber, às outras formas consensuais de resolução de


conflitos, tais como mediações comunitárias e escolares, e

àquelas realizadas em locais extrajudiciais, desde que

dentro de suas competências.

Atividades
1. Leia a entrevista realizada com o pioneiro na implantação do método
da justiça restaurativa, no país, o juiz Asiel Henrique de Sousa, do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), que
explica, na entrevista, como funciona essa prática e compartilha alguns
bons resultados dessa aplicação no Distrito Federal. CARVALHO, Luiza de.
Justiça restaurativa: o que é e como funciona. Conselho Nacional de
Justiça, 24 nov. 2014. Disponível aqui
<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62272-justica-
restaurativa-o-que-e-e-como-funciona> . Acesso em: 28 jul. 2018.

A partir da leitura dessa entrevista, responda as questões abaixo:

A justiça restaurativa é uma prática realizada pelo juiz?


O fato da realização da justiça restaurativa exclui o devido processo
legal?

Por que, no Brasil, a justiça restaurativa, em geral, é utilizada para


crimes mais leves?
2. (DPE- SP- 2015 – Analista Judiciário) “Alunos rebeldes, que jogam
bombas no recreio, usam drogas ou cometem violência contra o
professor são expulsos da escola. Depois, expulsos novamente de outra
instituição, acabam desistindo de estudar. Continuam cometendo delitos
até que, por fim, são recolhidos à Fundação Casa. A trajetória é muito
conhecida por juízes da Vara da Infância, que sabem que o resgate
desses menores para a sociedade vai se tornando cada vez mais difícil.
No entanto, a aplicação da Justiça Restaurativa nas escolas do Estado de
São Paulo tem rompido esse ciclo de violência e recuperado adolescentes
para o convívio social e escolar sem a necessidade de aplicação de
medidas de caráter meramente punitivo." CARVALHO, Luiz de. Justiça
restaurativa rompe com círculo de violência em escolas de São Paulo.
Conselho Nacional de Justiça, 6 jan. 2015. Disponível aqui
<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62375-justica-
restaurativa-rompe-com-circulo-de-violencia-em-escolas-de-sao-
paulo> .

Em relação à justiça restaurativa, analise as características a seguir:


I — o processo decisório compartilhado com as pessoas envolvidas;
II — a estrita observância do contencioso e do contraditório;
III — a participação voluntária e o procedimento criativo voltado para o
futuro.

Trata-se de característica(s) da justiça restaurativa:

a) somente I;
b) somente II;
c) somente I e III;
d) somente II e III;
e) I, II e III.
3. (Agente de Segurança Socioeducativo – MG-2014) Analise as
seguintes afirmativas, relacionadas à mediação e gestão de conflitos:

I. A justiça restaurativa surgiu nos anos 1960 e tem por propósito


restabelecer a cidadania da vítima ou das vítimas do sistema, sendo um
mecanismo que possibilita a discussão do evento danoso entre o
delinquente, a vítima e a comunidade, permitindo, assim, que as vítimas
também se apropriem devidamente do conflito.
II. A justiça restaurativa se apresenta como uma abordagem próxima à
da justiça penal, eis que se concentra na resposta punitiva aos
transgressores.
III. A justiça restaurativa, definida pelas Nações Unidas em 2002, refere-
se a um processo em que todas as partes envolvidas em um ato que
causou ofensa unem-se para decidir coletivamente como lidar com as
circunstâncias decorrentes desse ato e suas implicações para o futuro.

Está CORRETO o que se afirma em:

a) I apenas.
b) II apenas.
c) I e II apenas.
d) I e III apenas.
e) III apenas.
4. Um recurso alternativo utilizado em situações de litígio para solucionar
ou prevenir a disputa judicial é a chamada mediação. A mediação tem
por objetivo:

a) o solucionamento rápido do litígio, encaminhando o processo civil


diretamente para a decisão do juiz.
b) evitar a revitimização de crianças vítimas de violência, colhendo um
único depoimento com intermediação do psicólogo.
c) a restauração do diálogo entre as partes, restabelecendo o
relacionamento amistoso em busca de uma solução consensual.
d) a amenização de conflitos entre curador e curatelado, trabalhando
com o interdito a sua condição de incapacidade civil.
e) e) a solução do litígio através do juiz que encaminhará as partes
litigantes para a equipe profissional do fórum, para a realização de um
laudo.

Notas
INSERIR TÍTULO AQUI1

INSERIR TEXTO AQUI

Referências

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125, de


29 de novembro de 2010. Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento
adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras
providências. Brasília: Ministério da Justiça, 2010. Disponível aqui
<http://www.cnj.jus.br/images/atos_normativos/resolucao/resolucao_12
5_29112010_11032016162839.pdf> . Acesso em: 28 jul.2018.
______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares
como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no
âmbito da administração pública. Disponível aqui
<http://www.planalto.gov.br/CCiVil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13140.htm> . Acesso em: 28 jul. 2018.

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em: 28 jul. 2018.

SICA, L. Justiça restaurativa e mediação penal: o novo modelo de justiça


criminal e de gestão do crime. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007.

TARTUCE, F. Mediação nos conflitos civis. 2. ed. São Paulo: Método, 2015. p. 251.
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. São
Paulo: Palas Athena, 2008. p. 170-171.

Próximos Passos

O processo de mediação comunitária;


Os princípios da mediação comunitária;
O mediador comunitário.

Explore mais

VÍDEO

Justiça Restaurativa <https://www.youtube.com/watch?


v=C0mSid0LVzg> . Tribunal de Justiça de São Paulo. Acesso em: 08 ago.
2018.

LINK

Resolução nº 2002/12 da ONU. Princípios básicos para utilização de


programas de justiça restaurativa em matéria criminal
<https://www.youtube.com/watch?v=C0mSid0LVzg> . Acesso em: 08
ago. 2018.

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