Exames - DIPrivado
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Exames - DIPrivado
I
Alberta, brasileira, com residência habitual em Itália, apaixonou-se pelo seu tio,
Bruno, argentino, com residência habitual em Lisboa, e pretendem casar um com o outro
nesta cidade. O Conservador do Registo Civil vem dizer que não os pode casar, pois, de
acordo com a lei brasileira, o parentesco existente entre os nubentes constitui um
impedimento irremovível.
Alberta e Bruno contrapõem que a lei aplicável é a argentina, a da nacionalidade do
nubente, que permite o casamento com a sobrinha. Subsidiariamente, sustentam a aplicação
da lei portuguesa, no caso o art. 1609º, nºs 1 e 2, CC, nos termos do qual o parentesco
existente é um impedimento suscetível de dispensa pelo Conservador.
Admitindo que:
a) A Conservatória do Registo Civil portuguesa é internacionalmente competente;
b) A norma de conflitos brasileira regula a capacidade para contrair casamento pela
lei do domicílio de cada um dos nubentes; a norma de conflitos italiana regula a
capacidade para contrair casamento pela lei da nacionalidade de cada um dos
nubentes; a norma de conflitos argentina regula a capacidade para contrair
casamento pela lei do lugar da celebração do casamento;
c) Os tribunais brasileiros e argentinos praticam nestas matérias referência material;
já os tribunais italianos fazem, neste caso, devolução simples;
d) Todos os ordenamentos em presença consideram Alberta brasileira, com
residência habitual em Itália, e Bruno argentino, com residência habitual em
Lisboa.
e) De acordo com a lei material brasileira, o parentesco existente constitui um
impedimento à celebração do casamento; de acordo com a lei argentina este
parentesco não constitui impedimento matrimonial; de acordo com a lei italiana,
o parentesco entre tio e sobrinha constitui impedimento, mas que poder ser
afastado mediante autorização do tribunal, o que se verificava no presente caso.
II
Comente apenas uma das seguintes afirmações:
1) A aplicação ao contrato obrigacional em matéria civil e comercial da lei do país
da residência habitual daquele que realiza a prestação característica garante
sempre a aplicação da lei que apresenta a conexão mais estreita com a situação e
assegura o respeito pela livre circulação de mercadorias, serviços e capitais entre
os Estados-Membros da União Europeia.
2) O exercício das liberdades europeias, previstas nos Tratados da União Europeia,
pode levar ao afastamento da lei que foi designada competente por aplicação das
normas de conflitos gerais.
A sociedade comercial Arte Visual, Lda. tem sede estatutária em Portugal – onde
também são desenvolvidos os seus atos de gestão corrente –, estabelecimentos comerciais
em Portugal, Espanha e França e dedica-se à compra e venda de obras de arte, em especial
quadros e fotografias.
No exercício desta atividade, o estabelecimento comercial sito na França da
sociedade Arte Visual, Lda. propôs, durante uma exposição de pintura que decorria em
Viena (Áustria), em agosto de 2021, a venda de um quadro original de Júlio Pomar a
Belchior, pelo preço de 250.000 €, que deveria ser integralmente pago até 3 dias após a
celebração do contrato. Belchior aceitou imediatamente a proposta, pois há muito desejava
um quadro de Júlio Pomar.
Belchior tem nacionalidade brasileira e reside habitualmente, sozinho e gerindo os
seus próprios assuntos, na Áustria desde dezembro de 2020, onde trabalha como jogador de
futebol e é famoso e bem pago. À data da celebração do contrato Belchior tinha 16 anos de
idade.
Como Belchior não procedeu ao pagamento nos 3 dias seguintes, a sociedade Arte
Visual, Lda., comunicou-lhe que considerava o contrato resolvido. Belchior intentou ação
junto dos tribunais portugueses contra a sociedade Arte Visual, Lda., pedindo que a cláusula
contratual que estipulava a obrigatoriedade do pagamento no prazo de 3 dias fosse declarada
inválida e a sociedade obrigada a cumprir o contrato, pois considera aplicável ao contrato o
Direito material francês, que, no cas de contratos celebrados fora do estabelecimento
comercial, estabelece uma proibição de o profissional receber qualquer pagamento durante
os primeiros 7 dias após a celebração do contrato. A sociedade Arte Visual, Lda. contesta,
alegando que o Direito material aplicável é o. austríaco, que não prescreve idêntica proibição.
Admitindo que:
a) Os tribunais são internacionalmente competentes;
b) Todos os ordenamentos jurídicos em presença consideram Belchior
domiciliado e residente habitualmente na Áustria;
c) O Direito de conflitos brasileiro prevê que a capacidade da pessoa
singular é regulada pela lei do domicílio; o Direito de conflitos austríaco
regula a mesma questão pela lei da nacionalidade; o Direito de conflitos
francês estabelece, no art. 3º, nº3, do Código Civil, que “As leis francesas
relativas ao estado e capacidade das pessoas regem os franceses, mesmo residindo em
país estrangeiro”:
d) Os tribunais brasileiros praticam a referência material e os franceses e
austríacos aceitam o retorno de competência em termos de devolução
simples:
e) De acordo com os Direitos materiais português, austríaco, brasileiro e
francês, a maioridade atinge-se aos 18 anos; todavia, segundo o Direito
material brasileiro, a incapacidade cessa pela existência de relação de
emprego, desde que, em função dela, o menor com 16 anos completos
tenha economia própria.
Duração: 90 minutos.
Cotações: Questão 1) – 9 valores;
Questão 2) – 9 valores;
Sistematização e domínio da língua portuguesa – 2 valores.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO I
Exame de coincidências da época normal – turma noite
28 de junho de 2019
Admitindo que:
a) Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
b) Todos os ordenamentos jurídicos em presença consideram que Anton e
Berto tinha residência habitual em França à data do casamento e, a partir
de dezembro de 2018, em Portugal;
c) O Reino Unido não tem Direito Interlocal ou Direito Internacional
Privado unificado;
d) De acordo com o Direito material português, Carlos não tinha direito ao
ressarcimento das despesas e aos honorários, de acordo com o Direito
material francês, Carlos tinha direito apenas ao ressarcimento das
despesas; de acordo com o Direito material inglês, Carlos não tinha
direito nem aos ressarcimentos das despesas nem aos honorários;
e) O direito material romeno proíbe o casamento entre pessoas do mesmo
sexo; os Direitos materiais francês e inglês admitem o casamento entre
pessoas do mesmo sexo;
f) O Direito dos conflitos romeno regula a capacidade para contrair
casamento pela lei da nacionalidade de cada um dos nubentes e adita o
sistema de devolução simples;
g) O Direito de conflitos inglês regula a capacidade ara contrair casamento
pela lei do domicílio de cada um dos nubentes e adota o sistema da dupla
devolução;
h) O Direito de conflitos francês regula a capacidade para contrair o
casamento pela lei da nacionalidade de cada um dos nubentes, mas
estabelece que os nubentes do mesmo sexo podem contrair casamento
desde que pelo menos um deles seja nacional ou resida habitualmente em
Estado que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Duração: 90 minutos.
Cotações:
Questão 1 – 9 valores;
Questão 2 – 9 valores.
Sistematização e correção formal do texto – 2 valores.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO I
Exame da época de recurso – turma noite
19 de julho de 2019
Anna e Barnaby, súbditos do Reino Unido, são casados entre si desde 1998, residem
habitualmente em Londres e têm dois filhos, Chadwick e Delmira, ambos nacionais
portugueses e súbditos do Reino Unido, com residência habitual em Lisboa. Em janeiro de
2019, Anna e Barnaby venderam, pelo preço de 300.000€, um apartamento sito em
Albufeira a um dos seus filhos, Chadwick, tendo as partes acordado que a lei reguladora do
contrato seria a inglesa. Delmira, quando soube deste negócio, intentou, junto dos tribunais
portugueses, ação de anulação do mesmo com fundamento no artigo 877º, do Código Civil
português. Anna, Barnaby e Chadwick entendem que não é necessário o consentimento
de Delmira, por ser aplicável a lei inglesa, a título de lei reguladora do negócio.
Delmira, que era comerciante de tabaco e charutos, recebeu pelo correio um charuto
raro enviado por erro pelo seu colega comerciante de tabaco e charutos Edward, súbdito
do Reino Unido, com residência habitual e estabelecimento comercial em França. Quando
este se apercebeu do erro, exigiu a Delmira a restituição do charuto ou pagamento do seu
valor comercial (1.500,00€), apoiando-se, para tal, no Direito material francês. Delmira
recusa-se a pagar invocando (i) que entendeu, legitimamente, tratar-se de uma oferta de
Edward, (ii) que já fumou o charuto, apesar de não consumir habitualmente charutos, razão
pela qual não obteve qualquer benefício efetivo do erro de Edward, e, em consequência, (iii)
que segundo o Direito material português, aplicável ao caso, não tem qualquer obrigação de
restituição ou pagamento a Edward.
Admitindo que:
a) As situações são suscitadas perante órgãos aplicados do Direito
português que se consideram internacionalmente competentes;
b) O Reino Unido tem uma ordem jurídica complexa e não
dispõe de Direito Interlocal ou Direito Internacional Privado
unificados;
c) O Direito de conflitos inglês sujeita as relações entre pais e
filhos à lei do domicílio comum dos pais, considerando Anna
e Barnaby domiciliados em Inglaterra.
d) O Direito material inglês não tem disposição equivalente ao
artigo 877º do Código Civil português;
e) De acordo com o Direito material português, Delmira não
tinha a obrigação de pagar o valor comercial do charuto a
Edward; de acordo com o Direito material francês, Delmira
tinha a obrigação de pagar o valor comercial do charuto a
Edward.
Responda, fundamentadamente e apreciando os argumentos invocados
pelas partes, às seguintes questões:
1. Deve o juiz português anular o contrato de compra e venda celebrado
entre Anna, Barnaby e Chadwick.
2. Delmira tinha a obrigação de pagar o valor comercial do charuto a
Edward?
Duração: 90 minutos.
Cotações: Questão 1 – 9 valores; Questão 2 . 9 valores; Sistematização
e correção formal do texto – 2 valores.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO I – Turma do dia
Considerando que:
1. A estipulação do regime de bens é válida perante todos os sistemas em
presença;
2. O preceito contido no art. 1683.º, n.º 2, do Código Civil português visa evitar
uma perda patrimonial para a sustentação do casal sem o consentimento do outro
cônjuge;
3. Perante o Direito material brasileiro, tal como o uruguaio, o repúdio da
herança não depende no caso concreto de consentimento do outro cônjuge;
4. De acordo com o Direito de Conflitos brasileiro, tal como o uruguaio, as
relações entre os cônjuges estão em princípio submetidas à lei do domicílio conjugal.
5. O Direito de Conflitos brasileiro regula o regime de bens, legal ou
convencional, obedece à lei do país em que os nubentes tiverem domicílio aquando do
casamento ou, se este não for comum, à lei do país do primeiro domicílio conjugal; o
Direito de Conflitos uruguaio regula estas matérias pela lei do primeiro domicílio
conjugal.
8. Perante o todos os sistemas em presença considera-se que o domicílio de
António e Beatriz era, ao tempo da celebração do casamento e até 1999, no Uruguai e
passou a ser, a partir de 2000, em Portugal;
9. Quer o Direito Internacional Privado brasileiro, quer o uruguaio, adotam o
sistema de referência material;
III
Responda sucintamente a duas, e apenas duas, das seguintes questões:
Duração: 2 horas
Cotação: I — 9 valores; II — 5 valores; III — 4 valores;
Sistematização e português — 2 valores.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO I – Turma do dia
Admitindo que:
1. A questão é suscitada perante tribunais portugueses que se consideraram
internacionalmente competentes;
2. O Direito finlandês considera válido o testamento de mão comum. O Direito
francês, tal como o alemão, não consideram válido este testamento de mão comum;
3. A admissibilidade do testamento de mão comum é regulada, no Direito de
Conflitos francês pela lei do lugar da celebração do ato; no Direito de Conflitos alemão
pela lei da nacionalidade de de cuius; no Direito de Conflitos finlandês pela lei do
Estado em que o de cuius tinha o seu domicílio no momento da morte, se aí residisse há
pelo menos 5 anos, caso contrário considera competente a lei nacional;
4. De acordo com o Direito francês, o Estado francês tem um droit régalien que
lhe permite fazer seus os bens das heranças vagas deixados em território francês; o
Direito alemão e finlandês, no caso de falta de parentes sucessíveis, atribuem a herança
ao Estado, a título de sucessor do de cuius;
5. O Direito de conflitos finlandês, tal como o alemão e o francês, regulam os
direitos reais pela lei do lugar da situação dos bens;
6. O Direito de conflitos francês regula a sucessão imobiliária pela lex rei sitae;
o Direito finlandês considera aplicável à sucessão mortis causa a lei do Estado em que o
de cuius tinha o seu domicílio no momento da morte, se aí residisse há pelo menos 5
anos, caso contrário considera competente a lei nacional; o Direito de conflitos alemão
considera competente a lei nacional do autor da sucessão ao tempo da morte;
7. Os tribunais franceses e alemães praticam devolução simples; o Direito
Internacional Privado finlandês adota o sistema da referência material;
8. As ordens jurídicas alemã, francesa e finlandesa resolvem os concursos de
nacionalidades com base em critérios semelhantes aos nossos;
9. Todas as ordens jurídicas em presença consideram que Anna teve o seu último
domicílio na Alemanha.
III
Responda sucintamente a duas, e apenas duas, das seguintes questões:
Duração: 2 horas
Cotação: I — 9 valores; II — 5 valores; III — 4 valores;
Sistematização e português — 2 valores.
Direito Internacional Privado I – Turma do dia
I
A Sociedade Animais e Plantas, Lda. constituiu-se em Portugal, em 2008, como
sociedade por quotas, tendo por objeto a exploração de unidades agropecuárias.
Em 2009 a sociedade transferiu a sede estatutária de Lisboa para Nova Iorque.
A administração central da sociedade sempre funcionou e funciona em Nova
Iorque. A sociedade abriu estabelecimentos em vários países, designadamente em
Portugal e na Itália, país onde se encontra a maioria das explorações.
Em junho de 2014 a Sociedade Animais e Plantas, Lda. adquiriu a Bento,
moçambicano, domiciliado em Itália, um aldeamento turístico situado na Serra da
Estrela. O contrato foi celebrado em Roma, estando ambas as partes presentes. À data
da venda Bento tinha 18 anos.
Em julho de 2014 os pais de Bento, também moçambicanos e domiciliados em
Maputo, propuseram em tribunais portugueses uma ação com vista à declaração da
nulidade da venda, por se tratar de um ato ultra vires que é nulo perante o Direito
nova-iorquino, que consideram ser aplicável ao estatuto pessoal da sociedade.
Para o caso de assim não se entender, pedem a anulação do contrato com
fundamento na incapacidade de Bento à face do Direito moçambicano.
Em contestação, a Sociedade Animais e Plantas, Lda. vem sustentar a validade
do contrato de compra e venda. Neste sentido, alega que o estatuto pessoal da
sociedade é regido, na relação com Bento, pela lei italiana, e que, perante esta lei a
sociedade tem capacidade para celebrar o contrato de compra e venda em causa. Alega
ainda que Bento é maior face à lei italiana, que considera ser a sua lei pessoal.
Admitindo que:
a) O Direito Internacional Privado nova-iorquino submete as sociedades à lei da
constituição (que, no caso concreto, é a lei portuguesa);
b) Os tribunais nova-iorquinos praticam, nesta matéria, dupla devolução ou devolução
integral;
c) Os Estados Unidos da América são um ordenamento jurídico onde vigoram
diferentes sistemas jurídicos válidos para as várias parcelas do território; não
existe, nos Estados Unidos da América, Direito interlocal nem regras de Direito
Internacional Privado unificadas;
d) Perante o Direito Internacional Privado italiano, as sociedades são regidas pela lei
da constituição; aplica-se, porém, a lei italiana às sociedades com sede da
administração situada em Itália ou que aí desenvolvam a sua atividade principal;
e) O contrato de compra e venda é nulo perante o Direito material nova-iorquino, por
se tratar de um ato praticado fora do objeto da sociedade;
f) À face dos Direitos materiais italiano e português a atuação fora do objeto social
não afeta a vinculação da sociedade no caso concreto;
g) O Direito Internacional Privado moçambicano, tal como o italiano, submete a
capacidade de exercício dos indivíduos à lei da sua nacionalidade;
h) O Direito moçambicano tem um sistema de devolução semelhante ao português;
i) O sistema italiano pratica referência material, mas aceita, o retorno de competência
em termos de devolução simples;
j) A maioridade atinge-se aos 21 anos no Direito moçambicano e aos 18 anos no
Direito italiano;
II
Comente a seguinte afirmação:
"Por força do art. 7.º/1 da Convenção de Roma sobre a Lei Aplicável às Obrigações
Contratuais os tribunais portugueses podem aplicar aos contratos internacionais todas as
normas imperativas dos Estados que apresentam uma conexão estreita com o contrato".
III
Responda, sucintamente a duas, e apenas a duas, das seguintes questões:
A) A interpretação dos conceitos previstos nos Regulamentos Europeus deve ser
feita à luz da lei material do foro?
B) A unificação internacional do Direito material aplicável às situações
transnacionais representa ou não uma alternativa à técnica de regulação
conflitual?
C) Diga o que entende por cláusula de exceção e pronuncie-se sobre as suas
vantagens e desvantagens.
Duração: 2 horas
Cotação: I — 9 valores; II — 5 valores; III — 4 valores;
Sistematização e português — 2 valores.