SEDUZIDA PELO FAZENDEIRO ARROGANTE - Valderes F. S
SEDUZIDA PELO FAZENDEIRO ARROGANTE - Valderes F. S
SEDUZIDA PELO FAZENDEIRO ARROGANTE - Valderes F. S
SANTOS
Todos os direitos reservados.
Criado no Brasil.
DANTE
Bufo irritado ao saber por um dos poucos funcionários que ainda
estão por aqui que os mecânicos não virão amanhã continuar o trabalho da
manutenção no maquinário, pois irão até a fazenda vizinha.
― Então, ela chega em casa e os mecânicos correm para fazer o que
ela pede? ― pergunto irritado e o homem me olha dando de ombros.
― A dona Leão é bem exigente, patrão ― o homem diz apertando a
aba do chapéu com os dedos calejados. ― Tudo o que ela fala é lei aqui em
Preciosa.
Torço a boca e solto o ar pelo nariz.
― Típica mulher que sempre teve de tudo... deve pisotear sobre os
funcionários.
― Mas quem trabalha lá na Florescer diz que ela é muito boa...
― Claro. Devem ter medo de perder os empregos. ― Coço a cabeça
com raiva. ― Amanhã eu mesmo irei até lá para tirar satisfações e saber o
porquê de ela mandar e todos correrem para fazer.
O homem assente e se despede de mim indo até o galpão onde fica o
alojamento dos funcionários.
Entro em casa e bato a porta com raiva.
Um pedaço do reboco da parede cai no chão e eu solto um riso sem
humor.
― Ah, velho! Como deixou a casa chegar nesse estado?
Olho ao redor e há muita coisa a se fazer.
Sofá rasgado, paredes encardidas, cortinas puídas, tapete e chão
sujos...
Balanço a cabeça em negação e sigo até o quarto que era dele que
por incrível que pareça é um dos únicos que estava habitável, já que era
aqui que ele dormia.
Lembro que quando cheguei tudo estava sujo e empoeirado e levei
quase um dia inteiro para conseguir limpar. Joguei fora lençóis, cobertas e
cortinas velhas. Lavei o chão e o banheiro e somente quando a noite caiu é
que consegui deixá-lo limpo para que eu pudesse dormir.
O restante da casa está igual ao quarto. Tudo sujo e abandonado e na
cozinha tinha até galinhas, já que o vidro da janela estava quebrado.
Respiro fundo soltando o ar pela boca e me encaminho para o
banheiro pensando no confronto de amanhã com a herdeira do Leão.
Fiquei muito irado em saber que ela mandou que os mecânicos que
estavam aqui fossem até a fazenda dela.
Quem ela pensa que é? Só porque o marido morreu, pode assumir o
lugar dele? Se essa velha acha que pode conseguir tudo o que quer, está
redondamente enganada.
Ela não é tudo isso para simplesmente ordenar e todos obedecerem e
amanhã quando estiver cara a cara com ela, vou dizer umas boas verdades
já que ninguém nessa cidade é homem suficiente para isso.
CAPÍTULO 03
DANTE
Me levanto bem cedo antes mesmo do sol nascer e bufo irritado
depois de sair do banheiro e me vestir.
Quando morava em São Paulo, tinha tudo à mão. Um apartamento
de alto padrão, água quente, cafeteira, uma diarista que deixava tudo limpo
e organizado e, principalmente tinha restaurantes e fast-foods em todo lugar
que eu fosse e eles estavam a um toque de tela no meu celular e aqui? Bem,
faz exatamente uma semana que estou aqui e em todos esses dias tomei
banho em água morna para fria, estou me alimentando muito mal, vivendo
numa casa imunda e mesmo sendo filho de um dos maiores produtores de
café do país, não consegui tomar uma xícara de café que preste.
Ironia não é mesmo?
Rúbia rolaria no chão de tanto rir da minha desgraça e decadência,
já que nossas últimas conversas não foram nada boas e terminaram em
discussão.
Ao me lembrar dela, olho para meu celular juntando poeira sobre a
mesa de cabeceira e até sinto falta de escutar o toque insistente dele
avisando que ela está ligando pela milésima vez no dia apenas para
perturbar meu juízo.
Aqui na fazenda não tem internet, pois meu pai deixou de pagar a
rede e ela foi cortada. Fecho meus olhos por alguns segundos.
São tantas coisas para resolver!
As palavras do advogado me aconselhando a vender as terras me
vem à mente e, eu respiro fundo pensando se essa não seria mesmo uma
ótima opção para me ver livre de tudo isso. Com o dinheiro que sobraria
depois de pagar todas as dívidas, poderia ir embora daqui e me fixar em
qualquer lugar, podendo até ir embora do país.
Mas ao mesmo tempo que penso em me livrar da fazenda, penso em
meu bisavô que a comprou e com muito trabalho duro, a fez crescer sendo
sucedido pelo meu avô, que prosperou igualmente...
Respiro fundo e saio do quarto disposto a tentar.
É isso. Vou tentar até que todas as minhas chances se acabem.
Saio de casa sem tomar café já que cada vez que eu o passo, fica
parecendo uma água de batatas e o pão que comprei na cidade já acabou.
Pego meu chapéu, o coloco na cabeça e rumo para o estábulo onde encontro
um funcionário cuidando da alimentação dos cavalos.
― Dia, patrão.
― Bom dia. Sele o Marechal para mim, por favor.
― É para já.
Enquanto ele sela o animal, eu me afasto das baias e ando até a porta
do estábulo que dá para a plantação de pés de café. É lindo demais tudo
isso, sinto algo dentro de mim quando olho para as terras da minha família e
isso só reforça ainda mais o quanto estou disposto a lutar, para que a
fazenda tenha novamente seus dias de glória.
Após o cavalo estar com a sela, monto nele e saio galopando até a
fazenda vizinha disposto a confrontar a mulher que está atrapalhando meus
negócios.
Ao passar pela porteira da Florescer, percebo a diferença enorme
entre as propriedades. Aqui é tudo limpo, bem-organizado, muitos
funcionários ao redor da propriedade mesmo sendo bem cedo e, eu me
admiro com a organização de tudo.
O cavalo anda mais devagar ao se aproximar do casarão majestoso e
na varanda vejo uma mulher mais velha usando um vestido florido e um
coque no alto da cabeça cantarolando uma música antiga, enquanto rega um
vaso de plantas.
― Bom dia ― digo para que ela perceba a minha presença.
Ela se vira sorrindo e o sorriso morre em sua boca. Um mau sinal.
― Bom dia ― ela responde educadamente, coloca o regador sobre o
banco de madeira que há na varanda e espera que eu fale.
Limpo a garganta antes de continuar.
― Eu vim falar com a senhora Leão...
― Ah, que pena, ela saiu agorinha...
― E onde ela foi?
― Foi no galpão onde ficam as máquinas... ― aponta com a mão
para o lado e ao longe vejo o tal galpão que ela falou. ― Eu posso pedir
para que um dos meninos vá chamar ela, se o senhor quiser esperar aqui.
― Não. Eu vou até lá ― digo. ― Obrigado.
― Disponha ― ela diz baixinho e cruza os braços na frente do
peito.
Olho mais uma vez para a varanda de piso bruto e brilhante e a
escada de piso igual e não posso deixar de observar nas flores bem cuidadas
do pequeno jardim em frente à casa.
A mulher pode até ser arrogante, mas tem bom gosto já que tanto a
propriedade quanto o casarão estão muito bem cuidados.
Guio o cavalo pela estrada de pedras bem conservada e assim que
me aproximo, já vejo a caminhonete da oficina da cidade e os mesmos
rapazes que estavam em minha fazenda ontem, estão trabalhando em uma
das colheitadeiras que está no galpão.
― Bom dia ― digo alto e alguns deles me olham, mas outros nem
se viram para me ver. ― Eu quero falar com a senhora Leão.
Uma mulher sai de trás da máquina e olha na minha direção. Ela
tem um chapéu na cabeça que cobre parte do seu rosto, usa jeans, botas e
camisa de flanela. Suas roupas simples são iguais a da maioria dos
funcionários e, eu imagino que ela deva ser assistente ou algo assim da
herdeira Leão.
― Pois, não? ― ela diz e eu franzo minhas sobrancelhas, eu já a vi
antes, mas onde?
― Eu vim para falar com a senhora Leão ― repito e com o canto do
olho percebo um dos peões se aproximar da mulher e se posicionar ao lado
dela.
Ela olha para o homem sem entender, depois olha ao redor para
todos que estão parados assistindo à cena e volta a me encarar.
― Sou eu ― ela diz levantando a aba do seu chapéu para que eu
tenha uma visão clara do seu rosto. ― Larissa Leão.
Puta merda!
Aperto o cabresto em minhas mãos até meus dedos doerem me
trazendo de volta à realidade.
Não pode ser!
É a mulher com quem eu me encontrei na praça.
Agora ela não está usando seu vestido e seus sapatos de salto alto,
mas ainda assim está linda e usando roupas comuns de dia a dia, meus olhos
insistem em se fixar nela. Ela tinha mesmo que ser a herdeira Leão?!
Um pouco mais adiante vejo o homem que estava com ela ontem e,
a caminhonete branca estacionada no canto do galpão.
Respiro fundo tentando me segurar para não rir desse destino filho
da puta que está zombando da minha cara e limpo a garganta.
― E então? ― ela pergunta. ― No que posso ajudá-lo?
Toda educadinha. Nem parece a mesma mulher que me passou um
sermão ontem, na frente de praticamente toda a cidade.
― Eu quero conversar com você... em particular.
― Claro ― ela diz e olha para o homem ao seu lado. ― Cuida de
tudo aqui enquanto converso com o senhor Castellamare. ― O homem
assente e ela caminha na minha direção.
Ela me conhece?
Larissa faz um sinal para que eu a siga e quando coloco o cavalo em
movimento, ela para e me encara.
― Pode deixar o cavalo aqui mesmo. Um dos rapazes irá cuidar
dele. ― Sua voz é calma e doce e, eu contenho o riso ao descer do cavalo.
Com ela falando assim, nem parece a mesma de ontem, que só
faltou me arrancar do cavalo com as próprias mãos.
― Então me conhece? ― pergunto andando ao seu lado na direção
do casarão.
― É claro ― ela afirma. ― Conheço todos aqui em Preciosa e fica
fácil conhecer cada pessoa que chega.
― Como sabia quem eu era?
Ela respira fundo.
― Fui informada que você havia chegado na cidade e estava na
fazenda do seu pai. E eu te conheço desde quando ainda estudávamos na
mesma escola.
― Estudamos juntos? ― pergunto achando estranho, pois não me
lembro dela.
― Na mesma escola, mas em séries diferentes... ― chegamos em
frente ao casarão e ela faz sinal com a mão para que eu prossiga.
― Eu não me lembro de você ― digo chegando à varanda.
Ela morde o canto da boca e me encara.
― Você tinha outras prioridades na época ― ela diz tirando o
chapéu da sua cabeça e entra em casa me convidando para entrar. ―
Verinha? ― Ela chama por alguém e logo a mesma mulher que me recebeu
quando cheguei aparece. ― Pode levar uma bandeja com café até o
escritório, por favor? Eu vou conversar com o senhor Castellamare.
― Claro que sim, querida ― a mulher diz com um sorriso amável
no rosto, mas igual da outra vez, ele morre ao olhar para mim. Seu olhar me
percorre de cima a baixo antes de ela se virar e voltar para onde imagino
que seja a cozinha.
Larissa remexe os fios do seu cabelo para que eles se ajeitem e passa
por mim deixando um rastro de perfume doce e marcante. Engulo em seco
quando meu pau pulsa ao vê-la se movimentar pela casa. Enquanto eu a
sigo, procuro observar a decoração da casa me distraindo e tentando
acalmar meu pau traiçoeiro. Noto o chão de madeira brilhando, sofás de
couro, mesa de centro de madeira polida e cortinas de renda nas janelas de
madeira.
Entramos no escritório e ela se encaminha para trás da mesa de
madeira escura onde se senta em uma cadeira imponente de couro preto e
aponta para a cadeira almofadada e confortável a minha frente.
― O que quis dizer com “eu tinha outras prioridades na época” ―
pergunto curioso.
Larissa leva o polegar à boca e o prende entre os dentes.
― Me desculpe... ― ela diz colocando as mãos pequenas sobre a
mesa ― eu não quis ser indelicada. ― Limpa a garganta. ― Me referi à
época em que sua mãe foi embora, a cidade toda só falava disso e quase
todos os dias você brigava com um ou outro menino na escola.
Baixo a cabeça e encaro minhas botas. Engulo em seco e penso que
ela irá fazer um comentário ácido sobre minha mãe ter fugido com o
capataz da fazenda do meu pai, mas ao olhar em seus olhos novamente, não
é isso que vejo.
― Eu sinto muito ― ela diz me parecendo sincera.
― Eu não preciso da sua falsa piedade ― digo e ela parece se
assustar com minhas palavras. ― Não precisa fingir que se compadece com
a minha história. Sei bem como você age. ― Ela franze as sobrancelhas. ―
Na frente dos seus empregados é toda delicadinha, boazinha e de fala
mansa, mas longe deles mostra quem realmente é. Uma mulher arrogante,
mesquinha e que acha que o dinheiro pode comprar tudo, mas a mim você
não me engana Larissa Leão.
― Baixe o tom para falar comigo, pois, além de estar sendo mal-
educado, você ainda está na minha casa e não pode chegar aqui e me
ofender! ― Ela se levanta da sua cadeira e fica em pé com as mãos
apoiadas na mesa. ― O que eu lhe fiz para que viesse até aqui e me dissesse
essas palavras?
― Está tentando comprar a minha fazenda, mas vou logo avisando,
no que depender de mim, não irá conseguir! Pode parar com esses seus
joguinhos de poder, tentando comprar todo mundo, pois nem todos aqui de
Preciosa fazem o que você manda.
― Do que está falando?
― Conheço o seu tipo. ― Aponto o dedo para ela. ― Acha que é só
abanar um leque de dinheiro para que corram para fazer o que pede, como
fez com os mecânicos da oficina da cidade. Eles estavam trabalhando para
mim, mas foi só a poderosa baronesa do café chegar, para que eles
largassem o que estavam fazendo lá e corressem para a sua fazenda.
― Saia já da minha casa! ― ela diz em voz alta e eu me levanto. ―
Se colocar os pés aqui novamente irá se arrepender!
― Vai fazer o quê? ― Cruzo os braços enfrentando-a. ― Mandar
um dos seus empregados me tirar daqui a pontapés?
― Não ouviu o que ela falou? ― Uma voz masculina e bastante
irada surge atrás de mim. ― O que deu na sua cabeça ao entrar aqui e
agredi-la com palavras desse jeito?
Engulo em seco quando o homem visivelmente transtornado vem
até mim e me agarra pelo colarinho da camisa. Seguro seus punhos tentando
me livrar dele, mas então ele começa a me arrastar para fora do escritório,
enquanto eu tento lutar contra ele.
― Me solte! ― digo, mas ele só faz isso quando estamos na
varanda onde cambaleio para trás quase caindo escada abaixo.
― Suma daqui seu playboy metido à besta e nunca mais se atreva a
pôr os pés aqui de novo. Entendeu?
― Isso não vai ficar assim ― grito apontando o dedo na direção
dela que ainda me encara assustada praticamente escondida atrás do
homem. ― Você vai se arrepender de ter feito isso!
Bufo irritado e desço as escadas indo até meu cavalo que bebe água
num balde de metal que foi servido a ele.
Desamarro a corda que o prende à cerca e monto nele na velocidade
da luz saindo o mais depressa dali.
Mesmo sem a conhecer eu sabia exatamente como ela era e pelo
visto não me enganei a seu respeito.
Se prepare Larissa Leão, se é briga que quer, é briga que terá!
CAPÍTULO 04
DANTE
Depois de andar com Marechal por quase toda Preciosa tentando me
acalmar em vão, desço do cavalo em frente à loja responsável pela venda e
manutenção das máquinas colheitadeiras de café e procuro pelo gerente.
― Bom dia, senhor Castellamare...
O tal Milton vem falar comigo todo sorridente e a minha vontade é
de dizer umas verdades na cara dele, mas por fim me controlo.
― Bom dia, Milton ― respondo. ― Eu vim até aqui para saber o
porquê que os mecânicos não foram trabalhar hoje na minha fazenda.
― Eles foram na fazenda Florescer hoje, senhor.
― Quero fazer mais uma pergunta, Milton.
― Diga, senhor. ― Ele se aproxima um pouco mais de mim e passa
a mão pelo cabelo loiro coberto de gel.
― O dinheiro da senhora Leão vale mais do que o meu? ― Seu
rosto fica pálido e ele claramente fica desconcertado e começa a gaguejar
procurando por uma resposta.
― De forma alguma, senhor Castellamare... é que a nossa loja tem
um contrato com a fazenda Florescer, desde quando o senhor Leão ainda era
vivo... o contrato é que nós prestaremos toda a manutenção antes das
colheitas de café na fazenda e eles compram as máquinas e os acessórios
conosco como se fosse um contrato de fidelidade, entende?
― E quanto as outras fazendas que também compram com vocês?
Eles também precisam de assistência, não?
― Sim... é que... veja bem, senhor, nós estamos com pouca mão de
obra aqui na oficina e como a colheita se aproxima, estamos tentando dar
conta de tudo sozinhos...
― E por que não contratam mais pessoas? Agora deixaram de ir
trabalhar para mim para irem até a fazenda vizinha, e amanhã? Irão para
onde?
― Os mecânicos trabalharão até terminar o serviço na fazenda da
senhora Leão e assim que isso acontecer, eles voltarão até a fazenda do
senhor para finalizar o que eles começaram.
Lembro de ter visto maquinário somente da loja de Milton na
fazenda Florescer e agora vejo o porquê dessa fidelidade deles com a
Larissa.
― Meu pai comprava de outras marcas também, não é?
― Sim, senhor.
― E diante disso não tinham um contrato de fidelidade?
― Isso mesmo ― ele diz meio envergonhado.
― Entendi. ― Afirmo com a cabeça e ele sorri sem jeito. ― Tudo
bem, Milton. Vou aguardar o pessoal lá na fazenda amanhã.
Ele concorda e eu me afasto. Minha barriga ronca de fome e eu me
volto para ele.
― Sabe onde tem um bom restaurante aqui na cidade?
― Tem o restaurante na estrada na saída da cidade apenas, senhor.
― Sabe se eles fazem serviço de entrega?
― Entrega?
― Delivery, nas fazendas...
― Ah, não. Não fazem, senhor.
― Tudo bem, então. Obrigado, Milton.
Saio da loja com mais raiva do que quando entrei.
A maldita tem um contrato de exclusividade com a loja que fornece
implementos agrícolas aqui de Preciosa.
De todo jeito ela tem a cidade nas mãos.
Cerro meus punhos ao lembrar que ela usou a minha mãe para me
desestabilizar e, fico ainda mais irado ao me lembrar dela.
Tiro meu chapéu e coço a cabeça ao atravessar a rua.
Paro por um instante em frente a praça e vejo o pipoqueiro
entregando pipoca às crianças e suas mães. Ele não recebe quando entrega o
alimento e isso de certo modo me deixa curioso.
Me aproximo lentamente e vejo que ele já é um senhor de idade, usa
roupas simples, sandálias de couro nos pés e tem a pele bronzeada.
Sorridente, puxa conversa com as crianças e elas parecem gostar dele.
― Aceita uma pipoquinha, senhor? ― ele pergunta para mim e eu
aceito já que estou morrendo de fome.
― Sim. ― Me aproximo dele um pouco mais e assim que ele me
entrega o pacote de pipoca vejo que ele me reconhece, pois solta um sorriso
mostrando um dente de ouro.
― Como vai, Dante?
― O senhor me conhece?
― Todo mundo conhece todo mundo aqui em Preciosa.
― Isso eu percebi ― digo ranzinza enquanto como a pipoca que por
sinal está muito gostosa.
Mais uma criança chega, pega pipoca e sai correndo na direção da
mãe.
― O senhor cobra por mês das crianças? ― pergunto por
curiosidade.
― Não entendi.
― Estou aqui há um tempo observando e vi as crianças vindo,
pegam a pipoca e não lhe pagam... o senhor vende por um preço fixo por
mês ou algo assim?
― Ah, não. ― Ele ri com gosto. ― Eu não cobro as pipocas.
― E por que não?
― Faço porque gosto. ― Franzo as minhas sobrancelhas. ― Eu
trabalhava nas fazendas da região... e acabei indo trabalhar para o seu
Inácio, que Deus o tenha. Ele me deu um terreno e me aposentou já tem
quase dez anos. Pra não ficar sem fazer nada, comprei esse carrinho de
pipoca e passo os dias aqui enquanto a muié fica em casa. Ela faz pão, bolo
e biscoitos para vender. ― Aponta uma cesta sobre um banco de madeira ao
lado do carrinho de pipoca onde há pães e pacotes com biscoitos que fazem
a minha boca salivar. ― Mas fazemos mais pra passar o tempo mesmo,
sabe?
― Entendi.
― Aceita mais um saquinho? ― ele pergunta ao perceber que eu já
comi toda a pipoca que ele me deu e me entrega mais um saquinho de
pipoca.
― Obrigado. ― Limpo a garganta. ― Qual é o nome do senhor?
― José da Silva ― ele responde orgulhoso.
― Então, o senhor trabalhou na fazenda do Inácio Leão?
― Por muitos anos. ― Ele sorri. ― Seu Inácio foi o melhor homem
que já pisou nessa terra. Pense num homem bom. E a menina dele? Uma
moça bonita, estudada, querida que só... ela sempre vem aqui comer pipoca
e conversar comigo, nem que seja por uns minutinhos. Formei meus três
filhos trabalhando na Florescer.
Engulo em seco ao ouvir ele tecer elogios para os Leão.
Eles são muito bem-vistos pela cidade de Preciosa e, todos têm algo
de bom a falar deles.
― O senhor entende de café, então... ― constato e ele ri.
― Nasci e me criei plantando e colhendo café. Se tem alguém que
conhece de café em Preciosa sou eu ― ele diz orgulhoso e eu sorrio.
― Eu acho que o senhor ouviu por aí que eu vim para assumir a
fazenda do meu pai. ― Ele fica em silêncio como se estivesse me
estudando.
― E tem coisa pro senhor fazer lá, hein?! ― Ele solta a
exclamação.
― Acha que eu consigo, seu José?
― Depende... ― me olha no fundo dos meus olhos ― o que o
senhor quer fazer com a Castellamare?
Respiro fundo e penso que estava prestes a vendê-la para Larissa
Leão, mas depois da discussão de hoje, ela não terá as minhas terras e então
sou sincero.
― Quero que ela volte a ser como era antes de meu pai afundá-la.
Seu sorriso é verdadeiro.
― Ela não tá afundada não, senhor Dante. Tá só descuidada. Precisa
de alguém que cuide dela.
Me aproximo mais dele.
― Ela tem muitas dívidas.
― Mas também tem muito pé de café. ― Ele solta o ar. ― Eu
trabalhei pro seu avô por muitos anos... ainda era menino. Conheço bem a
Castellamare e me desculpe se estiver sendo grosso com o senhor, mas a
fazenda só está assim por má administração do seu pai.
― Eu vim disposto a vendê-la...
― Venda não, seu Dante. O senhor consegue levantar ela e
rapidinho...
Respiro fundo e solto o ar pela boca.
Seu José parece ser um homem bom, trabalhou para meu avô e com
certeza conheceu bem meu pai, pois ele mesmo disse que meu pai não
soube administrar o que era dele e ainda assim está sendo gentil comigo.
― Eu sei tudo de administração, mas não entendo nada de café. ―
Solto e seus olhos brilham de forma diferente.
― Mas eu entendo. ― Ele ri. ― E se quiser a minha ajuda... faço
muito gosto em ajudar o senhor.
― Eu não tenho dinheiro para lhe pagar...
― Não tô pedindo dinheiro seu Dante... ― ele parece ofendido ―
só quero ajudar. O senhor não está mais em São Paulo, a terra que nunca
para. Aqui todos são unidos e ajudamos os nossos. Por ter ficado anos fora,
o senhor desaprendeu, mas... aqui em Preciosa levamos a sério o ditado de
“fazer o bem sem olhar a quem”. ― Ele ri e eu o acompanho.
Pela primeira vez desde que coloquei meus pés em Preciosa
novamente, sinto minhas forças se renovarem e uma ponta de esperança de
que logo tudo ficará bem, pois conseguirei reerguer a fazenda.
CAPÍTULO 05
Depois de conversar por mais de uma hora com o seu José, volto
para a fazenda e simplesmente espero, pois ele me garantiu que me faria
uma visita a fim de conversarmos como deveremos agir de agora em diante.
Suspiro irritado ao parar na varanda onde coloco as mãos na cintura
e olho ao redor para a bagunça que está a propriedade. Completamente
diferente da fazenda vizinha onde tudo é limpo e organizado.
E ao lembrar da vizinha, lembro dela levando o polegar até a boca e
o mordendo.
― Puta que pariu! Tinha que ser tão gostosa? ― Solto o ar irritado e
entro em casa.
Tento ajeitar como posso a bagunça da sala juntando papéis velhos,
varrendo a sujeira e minutos depois ouço o barulho de um carro chegando.
Saio na varanda para ver quem é, e vejo uma caminhonete antiga
estacionando em frente à casa de onde descem seu José e uma senhorinha
que eu imagino que seja a sua esposa.
Ele sorri para mim e olha ao redor com a mão na cintura. Respiro
fundo envergonhado em receber ele e a esposa com a casa e, a propriedade
nesse estado deplorável.
Seu José caminha até os degraus da varanda e a mulher o
acompanha, assim que eles sobem os degraus e ficam a minha frente, seu
José a apresenta para mim.
― Seu Dante, essa é Esmeralda, minha muié. ― Ela sorri e estende
a mão para mim.
A cumprimento e então os convido para entrar.
― Bem, meu pai deixou a casa numa situação um tanto caótica e
estou tentando ajeitar como posso com o meu tempo livre, entendem?
― Claro que sim, meu fio... ― dona Esmeralda diz passando por
mim e entrando na casa ― nem se preocupe.
Quando passo pela porta a vejo com um terço numa das mãos e
passando a outra pela parede enquanto anda pela sala. Da parede ela vai
para o sofá e continua a andar pelo cômodo e a passar as mãos pelos
móveis.
― ... Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós pecadores...
― Ela faz parte do grupo das senhoras que se reúnem toda semana
para rezarem o terço... ― seu José me explica ― aonde ela vai, ela leva
junto e reza.
Observo a senhorinha de pele morena, magrinha e baixinha andando
por minha casa e sorrio. Ela usa um vestido florido pouco abaixo do joelho,
sapatilhas nos pés e um lenço na cabeça que esconde quase todo o seu
cabelo já branco.
― Eu nem me lembro qual foi a última vez que ouvi alguém
rezando...
― O senhor se importa?
― De forma alguma, seu José ― digo e olho em seus olhos. ― É
bom que alguém faça isso aqui em casa, assim deve espantar a energia
negativa que meu pai deixou.
Comento e ele concorda comigo.
― Vamos lá ver seus pés de café e o que podemos fazer para
começar? ― ele pergunta e eu assinto.
Deixamos dona Esmeralda em minha casa e saímos em direção ao
galpão com o teto quase caindo em cima das máquinas. Respiro fundo e
fecho meus olhos por alguns segundos.
― Mas o senhor tem bastante maquinário, que nem vai ser usado,
senhor Dante ― Seu José comenta. ― Por que não vende esses e fica só
com as colheitadeiras mais novas?
― Mas não será preciso as outras máquinas?
― Não... o senhor pode ficar só com essa mais nova. ― Ele aponta
para uma colheitadeira. ― Assim terá que fazer uma manutenção só e as
outras o senhor pode vender e juntar um dinheiro...
Pode funcionar, penso.
― E onde eu as venderia? ― pergunto, pois aqui todos têm seus
próprios maquinários.
― Coloca nessa internet que o povo fala. Lá vende de tudo, fruta,
grãos e até galinha... acho que vende rapidinho umas máquinas dessas.
Sorrio com a simplicidade de seu José e mesmo sendo um homem
humilde, é sincero, verdadeiro e disposto a tudo para me ajudar.
― Eu vim pensando no caminho para cá e então me dei conta... por
que o senhor não vende o seu café um pouco mais barato para os grandes
produtores? ― Ele continua.
― Mas eu poderia lucrar mais se o vendesse direto, não?
― Sim... mas o senhor tem que ver se os clientes ainda são os
mesmos que seu pai tinha. Tem que se reunir com produtores, se inteirar
dos assuntos e preços do mercado... bem, se o senhor quiser meu conselho...
conserta a máquina mais nova e colha os grãos... venda eles mais barato e
com venda garantida para os grandes produtores. Enquanto isso vende as
outras máquinas, e com o dinheiro paga um tanto das suas dívidas, e assim
o senhor vai se reerguer rapidinho.
Engulo em seco com medo do novo e olho ao redor pensando em
tudo o que ele me falou.
Por fim dou de ombros e o encaro.
― Vamos tentar então, seu José ― digo e ele sorri tocando em meu
ombro.
Ao voltarmos para casa, sinto um cheiro de comida sendo preparada
assim que passamos pela porta da entrada.
― Sabia que minha véia tava preparando uma comidinha caseira. ―
Seu José comenta enquanto seguimos para a cozinha.
― Ah, ocês voltaram. ― Dona Esmeralda comenta olhando por
cima do ombro quando entramos na cozinha. ― Seu Dante, revirei seus
armários e não encontrei nada que estivesse bom. Joguei tudo fora e já
limpei tudo. A maioria das coisas foi pro lixo. Ainda bem que eu trouxe
uma comidinha lá de casa. O Zé disse que tem bastante coisa pra fazer aqui
na fazenda, então trouxe comida pronta, porque saco vazio não para em pé,
não é? ― Ela sorri e eu acompanho.
Engulo o nó que se forma em minha garganta ao tê-los aqui fazendo
tudo isso por um completo estranho.
― Obrigado ― digo olhando de um para o outro. ― Muito
obrigado por tudo o que estão fazendo aqui.
― O senhor chegou aqui perdido, seu Dante ― seu José diz. ― Mas
nós vamos ajudar o senhor a se encontrar.
Respiro fundo totalmente agradecido por eles estarem fazendo tudo
isso por mim e, agora mais do que nunca sei que vou conseguir o que quero.
LARISSA
Já é quase noite e a manutenção está quase no fim.
― É, vai precisar de mais um cilindro de gás para a solda. ― Um
dos mecânicos diz.
― Vou pegar na caminhonete. ― Ele sai do galpão e volta segundos
depois.
― Hein, chefe, duas notícias ruins. ― Olhamos todos para ele. ―
Tem um pneu furado e não tem um cilindro de gás para a solda.
― Certo, troquem o pneu e busquem o cilindro na oficina.
― Eu ia fazer isso, mas estamos sem estepe.
― Mas e onde está o estepe?
Eles se entreolham e um deles coça a cabeça.
― Eu acho que foi tirado para colocar a máquina de solda...
― E não foi colocado de novo? ― Outro mecânico fala.
― É que era muita coisa para colocar na caçamba e...
― E agora, o que fazemos?
Observo a pequena discussão entre eles e limpo a garganta.
― Eu posso levá-los até a cidade ― digo e Josué olha para mim.
― Eu levo, patroa.
― Você fica e ajuda no que pode, enquanto vamos rápido. É só
pegarmos o estepe e o cilindro de gás, enquanto isso vocês podem adiantar
outra coisa. Já está ficando tarde e assim terminamos as manutenções ainda
hoje.
Josué solta o ar e apenas concorda.
Sigo com um dos mecânicos até a minha caminhonete e segundos
depois, estamos deixando a fazenda.
Em um curto espaço de tempo chegamos em frente à oficina e
enquanto o rapaz desce e corre para lá, eu fico esperando na caminhonete.
Ele volta segundos depois com o semblante preocupado.
― Senhora Leão, vai demorar um pouco, estão enchendo o cilindro
de gás.
― Não tem problema ― digo. ― Enquanto isso vou ali no mercado
conversar com a Amanda.
― Quando ficar pronto, vou lá chamar a senhora.
Sorrio e desço da caminhonete. Atravesso a praça, cumprimento um
ou outro morador que está por ali e entro no mercado procurando pela
Amanda que trabalha no caixa. Ela estava grávida e a data do parto estava
próxima.
Ao entrar no mercado o proprietário vem ao meu encontro e me
informa que Amanda teve o bebê e está em casa de licença maternidade.
Fico feliz em saber que correu tudo bem e que ambos estão em casa e como
ela não está aqui, decido andar pelos corredores do estabelecimento. Ficar
sem fazer nada me deixa entediada e andando talvez o tempo passe mais
rápido.
Ao virar no corredor das bebidas, distraída observando rótulos, me
choco com um corpo alto e forte e por pouco não caio de bunda no chão já
que o homem estava vindo rápido na direção contrária. Por sorte ele me
segura firme em seus braços.
― Me desculpe... ― digo, mas ao levantar meus olhos, cruzo com
Dante Castellamare.
― Olha só, se não é a poderosa baronesa do café fazendo compras
no mercado da cidade ― ele diz de forma ácida e eu me solto dos seus
braços. ― Pensei que mandasse seus funcionários fazerem compras para
você, enquanto ficasse somente ditando ordens em seu trono.
Abro a boca para retrucar, mas sei que ele não merece um segundo
do meu tempo já que sempre vai ter algo de ruim a falar ao meu respeito,
então por fim decido sair dali e deixá-lo sozinho com a sua amargura.
Ao me virar para sair, ele segura meu braço e me puxa para ele.
― Não vai retrucar? ― pergunta olhando em meus olhos. ― Pensei
que tivesse a língua afiada para me ofender, mas pelo visto gosta de fazer
isso somente quando tem plateia.
― Me solte! ― digo entredentes e ele continua segurando
firmemente em meu braço. ― Me diga o que eu te fiz para que seja tão rude
comigo?
Ele apenas continua me encarando e desce o olhar para a minha
boca. Minhas pernas fraquejam e eu me seguro nele, pois o ar aqui fica
denso demais e difícil de respirar com ele me encarando assim.
Minha respiração acelera e seu toque em meu braço queima a minha
pele.
Dante se aproxima ficando a centímetros do meu rosto e quando
entreabro meus lábios, ele desce os seus e então me beija.
O seu beijo é quente e úmido e sua língua explora a minha boca de
forma sensual. Minhas mãos seguram firme em sua camiseta, enquanto as
suas rodeiam meu corpo e me puxam ainda mais para ele. O beijo se torna
mais profundo em questão de segundos, como se fosse a mais pura reação
de gasolina sendo jogada no fogo.
Dante desliza a mão por minhas costas na direção da minha bunda e
a aperta de forma descarada. Subo a mão por seu peito e pescoço chegando
em seguida até seu cabelo e por debaixo do chapéu, pego uma porção dos
fios sedosos em minhas mãos e puxo. Dante ri e geme com meu gesto e eu
sinto minha boceta pulsar ao ouvir seu gemido rouco no meio do nosso
beijo.
Esquecemos completamente onde estamos e só saio do meu transe
de puro desejo e luxúria, quando ele me encosta na prateleira e ela se move
para trás fazendo com que várias garrafas caiam no chão num barulho
estrondoso.
Abro meus olhos assustada e o empurro. Nos afastamos e nos
encaramos com a respiração acelerada. No corredor aparecem algumas
pessoas e eu engulo em seco.
Será que alguém nos viu?
― O que aconteceu, senhora Leão? ― O rapaz com a camiseta com
a logo do mercado chega até onde estou e eu umedeço meus lábios sem
saber o que dizer.
― Eu... é... ― Limpo a garganta ― esbarrei sem querer na
prateleira e ela acabou caindo ― digo e quando olho para Dante, vejo ele se
divertindo com a situação enquanto tem as mãos à frente do corpo
escondendo o volume em sua calça.
Meu rosto queima de vergonha em quase ser pega aos beijos com
um homem que está visivelmente excitado nos corredores do mercado.
― Deve ter baixado a sua pressão, senhora Leão ― Dante diz e
todos me encaram. O fuzilo com os olhos sem perceber que ele está
zombando da minha cara.
― Está tudo bem, senhora? ― Uma mulher pergunta.
― Si... sim ― digo gaguejando.
― Mas que prejuízo! ― Ouço um senhor de idade dizer baixinho e
engulo em seco.
― Eu pago! ― digo tentando sair daqui o mais depressa possível.
― Podemos ir até o caixa e...
― Tudo bem. Não se preocupe... ― O funcionário diz olhando de
mim para Dante. ― Eu vou pedir para alguém limpar aqui e, a senhora
pode me acompanhar...
― Claro ― digo o seguindo rapidamente pelo corredor, mas antes
de sumir de vista, olho para trás e Dante está parado no mesmo lugar me
olhando ir embora. A minha vontade é de dizer umas boas para ele, mas se
eu fizer isso, o mercado inteiro ficará sabendo sobre o beijo.
Depois de pagar pelas garrafas de bebidas que quebrei, me desculpo
com o pessoal do mercado e saio de lá a tempo de ver o mecânico
colocando o estepe e o cilindro de gás na caçamba da caminhonete.
― Podemos ir? ― pergunto a ele quando me aproximo.
― Sim, senhora. ― Ele limpa as mãos na calça e eu sigo para o lado
do motorista onde subo e espero que ele entre, para que possamos voltar
para a fazenda.
CAPÍTULO 06
DANTE
Seu José falou ontem sobre o Congresso de cafeicultores que terá na
cidade vizinha no final da semana e, disse que acha uma ótima ideia que eu
participe, já que pretendo assumir de vez a fazenda Castellamare.
― Pensou sobre o Congresso? ― ele pergunta enquanto
organizamos o galpão das ferramentas e insumos da fazenda.
― Pensei ― digo juntando todos os sacos vazios numa pilha só. ―
Eu vou. Vai ser bom conversar com outros produtores, trocar ideias, ver o
que eles fazem em suas plantações...
― Claro. ― Ele faz uma pausa depois de empilhar três caixas no
canto do galpão. ― A Lari sempre vai.
― Quem?
― Larissa Leão. ― Ele repete e só de ouvir o nome dela já entro em
alerta.
― Vai, é?
― Sim, mas... ― ele pensa um pouco ― encontrei o Ferreira na
estrada e ele disse que começam a colheita no final de semana. A Lari gosta
de estar perto quando colhem, então não sei se ela vai nesse. Mas o senhor
deve ir, seu Dante, é bom que sempre aprende uma coisa nova.
― Isso é verdade, seu José.
― A Lari dá até palestra nesses Congressos...
― Sabe se ela vai palestrar nesse Congresso? ― pergunto já
imaginando que poderei assisti-la demoradamente enquanto palestra sem
que ela saia e me deixe sozinho como quis fazer no mercado.
― Não sei, pois é como disse, né, seu Dante... ela gosta de estar
perto quando a colheita começa...
― O senhor consegue descobrir se ela vai?
Ele ajeita o chapéu de palha na cabeça e cruza os braços me
encarando com o cenho franzido.
― O senhor até que tá bem interessado se ela vai mesmo, seu
Dante... ― engulo em seco e limpo a garganta, ele sorri de canto e continua
― se eu encontrar algum peão da fazenda pela estrada ou na cidade, eu
pergunto ― ele diz em voz baixa antes de voltar ao trabalho.
Mas para que demonstrar tanto interesse assim nela, Dante?
Me repreendo mentalmente.
Que merda!
Preciso me conter e não deixar transparecer tão na cara assim.
Se eu não a tivesse beijado, não estaria pensando tanto nela assim.
Vou é enfiar a cara no trabalho, isso sim, vai me fazer esquecer dela.
DIAS DEPOIS
Dona Esmeralda tem vindo todos os dias até a minha fazenda com
as mulheres que rezam o terço na igreja e, juntas têm cuidado da minha
casa, fizeram jardim e até plantaram uma horta.
Sei que eu quase não sou um morador de Preciosa, pois passei boa
parte da minha vida morando fora, e me ofereci para pagar a elas, mas todas
disseram que fazem isso como caridade e se eu realmente quero pagar,
posso fazer uma doação para a igreja.
A minha propriedade está completamente diferente de quando eu
cheguei e me surpreendo a cada dia com a beleza que está ficando. Irei
comprar tinta para pintar a casa na próxima semana e materiais para
reformar a varanda e a cerca de madeira.
Ainda há muito a se fazer no local, mas aos poucos temos
conseguido dar conta de tudo.
Os grãos de café ainda não estão no ponto para serem colhidos, mas
a colheitadeira já está com a manutenção feita e pronta para quando a
colheita começar.
Coloquei as máquinas que não usarei à venda na internet como seu
José sugeriu e até já negociei algumas.
Confesso que pensei que seria difícil começar a cuidar de tudo sem
saber nada de fazenda e plantação de café, mas com a ajuda do seu José e a
esposa, até que tenho me saído bem.
Saio ainda de madrugada da minha casa e mais uma vez tomei
apenas leite pela manhã, pois não consegui fazer um café que prestasse.
Dona Esmeralda passa um café delicioso quando vem pela manhã e eu o
bebo admirado em como ela consegue e eu não, sendo que ela usa as
mesmas coisas que eu, já que está na minha cozinha.
Já desisti de aprender a fazer um café decente e me contendo em
beber leite e suco pela manhã.
Hoje é sábado e estou seguindo para a cidade vizinha para
comparecer ao tal Congresso de cafeicultores a fim de aprender alguma
coisa que me ajude a entrar de vez nesse meio.
Em Preciosa a única grande produtora de café é a Larissa Leão e,
Deus me livre ter que conversar com ela para tentar entender algo sobre o
café.
Entro no estacionamento do local onde será o evento e a primeira
coisa que vejo é a caminhonete dela estacionada próxima à porta.
Solto um riso irônico e desço da minha caminhonete.
Até pensei que esse seria um evento chato e sem graça, mas agora
começo a pensar o contrário já que Larissa estará nele e, eu vou gostar de
provocá-la em um lugar em que ela se sente à vontade.
LARISSA
Estou conversando com Romário Montenegro e a esposa quando o
vejo passar pela porta.
Respiro fundo e solto o ar devagar enquanto sorrio de algo que a
senhora Montenegro comenta.
Dante adentra o local devagar, analisando tudo e todos e ao me ver,
vejo um pequeno sorriso brotar em seus lábios e, é em minha direção que
ele vem.
Droga! Precisava estar tão bonito?
Botas escuras, jeans claro e camisa preta com os punhos arregaçados
até os cotovelos e por incrível que pareça, hoje ele está sem o seu
inseparável chapéu e isso o deixa ainda mais bonito, já que seu rosto não
está escondido.
Desvio o olhar dele e continuo a conversar com os Montenegro, mas
então ele para ao meu lado e nos cumprimenta.
― Bom dia. ― O encaro e respondo de forma polida e o senhor
Romário espera que eu os apresente. ― Senhor e senhora Montenegro, esse
é Dante Castellamare, as nossas fazendas são vizinhas em Preciosa.
― Ah, é mesmo? ― A esposa de Romário diz sorrindo. ― É um
prazer conhecê-lo, Dante... é a primeira vez que o vejo em um evento de
cafeicultores...
― Sim, assumi a fazenda que era do meu pai, depois da sua morte.
― Ah eu sinto muito pela sua perda ― ela diz tocando em seu braço
e eu franzo o cenho achando estranho a sua atitude. ― Meu marido é
produtor de café há muitos anos e eu posso te ajudar no que precisar... vou
passar meu contato a você e se quiser pode me ligar a qualquer hora do dia
para sanar qualquer dúvida... estarei a sua inteira disposição...
Levanto as sobrancelhas completamente perplexa ao vê-la flertar
com Dante na frente do marido e, ele não fazer absolutamente nada para
impedir a mulher.
Limpo a garganta e peço licença dizendo que preciso ir ao banheiro
e saio dali o mais depressa possível.
No caminho, Sérgio Medeiros me cerca para me parabenizar pelo
prêmio que ganhei no ano anterior como melhor café do estado e, então
engatamos uma conversa sobre quem ganhará o prêmio desse ano, já que
ele está investindo num novo tipo de grão em sua fazenda.
― Pretendo ganhar esse ano, Larissa. Estou investindo pesado para
que isso aconteça. ― Ele sorri. ― A única coisa que me consola é ter
perdido para uma mulher tão bela como você. ― Sorrio com seu elogio e
sei que ele o faz de forma carinhosa, já que era muito amigo do meu pai e
ele me trata como uma das suas filhas.
― Posso apostar que está fazendo o seu melhor, Sérgio ― digo a ele
que ri com gosto.
― Isso é papo de vencedora nata. Só falta me dar um tapinha nas
costas e dizer “na próxima você tenta de novo”.
Dou risada e nego.
― Eu nunca tripudiaria sobre os meus concorrentes.
― Não mesmo... ― ele me garante ― seu pai a criou muito bem e
isso você jamais faria.
Sinto uma presença do meu lado e sei perfeitamente de quem se
trata. Me viro somente para ver Dante encarando Sérgio e então os
apresento. Sérgio troca algumas palavras conosco e então o anfitrião do
evento sobe no palco chamando a nossa atenção.
Nos encaminhamos para lá e, Dante caminha atrás de mim. Me viro
irritada e ele quase se choca contra meu corpo.
― Quer parar de me seguir?! ― digo entredentes.
― Não estou te seguindo.
― Ah, não? E o que está fazendo ao chegar junto a mim com cada
pessoa que estou conversando?
Ele abre um sorriso de canto e eu engulo em seco.
― Isso te incomoda?
― E por que me incomodaria?
― Não sei... percebi que você não gostou quando a senhora
Montenegro tocou o meu braço...
― Você é louco! ― Reviro os olhos e me viro para deixá-lo
sozinho, mas ele segura meu braço.
― Você fica brava muito fácil, Larissa Leão... seu nome faz jus a
sua personalidade... parece uma fera quando eu a provoco. ― Engulo em
seco e olho para sua boca por um milésimo de segundos. Ele não vai ter
coragem de me beijar aqui. Não na frente de todas essas pessoas. ― Está
pensando se irei te beijar, leoazinha?
― Do que me chamou? ― pergunto com raiva em vê-lo usar meu
sobrenome de forma depreciativa.
― Leoazinha... ― ele repete ― seu sobrenome é Leão e ele
combina perfeitamente com você.
― Babaca! ― digo em voz alta chamando a atenção de algumas
pessoas.
Me livro do seu toque e adianto meus passos me afastando dele.
Ando pelas fileiras de cadeiras e me sento onde quase todas estão
ocupadas, sem deixar chance de que ele se sente ao meu lado para me
perturbar o resto do dia.
Respiro fundo diversas vezes tentando me acalmar. Dante
Castellamare me tira do sério somente com poucas palavras.
Agora já está passando dos limites em me dar apelido.
Mordo meu polegar tentando fazer com que a raiva passe e
conforme o anfitrião fala ao microfone, ela vai se dissipando.
Disfarçadamente olho ao redor e vejo Dante sentado algumas
fileiras atrás com os olhos cravados em mim. Me viro para frente
novamente e peço a Deus que não tenhamos que nos cruzar pelo resto do
dia, pois não sei se serei forte o bastante para aguentar suas provocações.
CAPÍTULO 08
Antes mesmo de abrir os olhos, já sei que ela não está mais na cama
comigo e ao abri-los e levantar a cabeça do travesseiro, constato que ela não
está no quarto.
Me sento na cama e olho ao redor. O dia já está claro, pois o sol
adentra o quarto pela fresta da cortina. Vejo minhas roupas dobradas numa
pilha ao pé da cama e me levanto.
Onde será que ela foi?
Após ir ao banheiro, volto para o quarto onde me visto e como ela
ainda não apareceu, saio a sua procura.
Caminho pelo corredor indo na direção do saguão onde é servido o
café da manhã e de onde ouço barulho de louça e vozes e ao adentrar o
ambiente, eu a vejo.
Tão linda com os cabelos presos numa trança lateral e sentada tão
elegantemente à mesa.
Juro que se não a tivesse visto usando roupas simples enquanto está
compenetrada nos afazeres da sua fazenda, poderia dizer que ela passasse o
dia assim, em cima dos seus saltos e usando vestidos elegantes.
Me aproximo devagar da sua mesa e quando ela percebe a minha
presença, seu rosto cora violentamente e isso tem uma reação imediata em
meu corpo, pois lembro dela ofegante chamando pelo meu nome enquanto
gozava no meu pau.
― Bom dia, leoazinha. ― Puxo uma cadeira e me sento ao lado
dela.
A observo sussurrar um bom dia enquanto tenta disfarçadamente se
concentrar no café a sua frente.
― Josué me mandou uma mensagem e disse que está quase
chegando. ― Sua voz é baixa e eu me inclino um pouco mais para perto
dela.
― Fiquei magoado em acordar sozinho... não me esperou, nem
depois da nossa noite...
― Esquece isso, Dante! ― Me olha com os olhos arregalados e eu
me divirto em vê-la envergonhada.
O tal Josué entra no saguão acompanhado da dona da pousada e ela
aponta para onde nós estamos.
Larissa quase salta da cadeira ao vê-lo e se ela não estivesse tão
tensa, seria até engraçado.
― Como vou esquecer dos arranhões que deixou em minhas costas?
― digo.
Seu rosto fica branco e ela perde a fala.
― Tudo bem por aqui? ― Josué pergunta olhando dela para mim.
― Melhor impossível, não é, Larissa? ― digo e ela se engasga
tossindo em seguida.
Nós a olhamos preocupados e ela faz sinal com a mão dizendo que
está tudo bem.
― Vocês já estão prontos? ― Josué pergunta depois de vê-la
melhor.
― Estou terminando e Dante ainda não tomou o café da manhã ―
Larissa fala. ― Pode nos esperar alguns minutos, Josué?
― Claro ― ele diz e sorri para ela. ― Espero lá fora. ― Ele pede
licença e sai nos deixando a sós.
― Eu vou tomar meu café bem rápido para podermos ir, mas... você
sabe que eu não gosto de fazer as coisas de forma apressada, não é? Gosto
mesmo é de degustar bem devagar...
― Pode por favor parar com essas piadinhas? ― Ela se vira para
mim dizendo entredentes e eu rio.
― Se acalme, leoazinha ― digo passando o polegar por seu rosto,
mas ela se esquiva do meu toque. ― Você tem algo com ele?
― Com quem? Josué? ― ela pergunta e eu aguardo a sua resposta.
― Não acha que deveria ter me perguntado isso ontem? Acha mesmo que
se eu tivesse um namorado, noivo ou marido iria para cama com você? ―
Fico em silêncio. ― É bom tomar o seu café logo, Dante ― ela diz e leva a
xícara aos lábios.
É a minha deixa para que eu me levante e siga até a mesa para me
servir.
Mas é claro que ela não teria ninguém. Conhecendo Larissa mesmo
que por pouco tempo sei o quão certa ela é e não iria para cama comigo
tendo compromisso com outro homem.
LARISSA
Deixo Dante tomando café no saguão e sigo até a recepção para
acertar a conta e após pagar tudo, agradeço e me despeço da dona e digo
que irei aguardar lá fora.
― Eu trouxe uma cinta rebocadora para rebocar a caminhonete do
playboy ― Josué diz de braços cruzados quando me aproximo.
― Não o chame assim ― falo parando do seu lado e seu semblante
muda.
Josué apenas me encara em silêncio e eu respiro fundo.
― Sei que não é da minha conta, mas... vocês passaram a noite
juntos? ― Levo o polegar à boca e o mordo. ― Está tudo bem, Lari. Não
precisa me responder se não quiser... é só... bem, a gente não conhece ele,
não é? Soube pelos peões que ele era casado em São Paulo e se tratando de
ser um Castellamare, precisamos ter a atenção redobrada.
Umedeço os lábios e limpo a garganta quando Dante passa pela
porta da pensão.
― É como você disse, não é mesmo da sua conta ― digo e limpo a
garganta. Não devia ter dito isso, pois sei que só está preocupado com meu
bem. ― Me desculpe por ter sido grossa com você... eu vou me cuidar.
Podemos ir? ― pergunto a Dante e ele concorda.
― Podia ter deixado para que eu pagasse a pensão... ― diz de forma
enfezada.
― Está tudo bem ― digo me encaminhando para a minha
caminhonete enquanto Josué segue para a caminhonete da fazenda.
Dante vem atrás de mim e entramos juntos no veículo.
― Por que gosta de esfregar na cara dos outros quão rica você é? ―
Estranho a sua pergunta.
― Não entendi.
― No mercado assumiu o prejuízo das bebidas sozinha e hoje pagou
a pensão sem nem me perguntar se queria ao menos dividir...
― Pelo que me lembre, no mercado você ficou mudo quando eu
disse que pagaria tudo e dividir o quarto e dormir aqui a noite passada foi
uma ideia mais minha do que sua...
― Eu sei, mas eu sou homem e deveria ser eu a pagar por tudo.
O encaro e percebo que ele está falando sério.
Ligo a caminhonete e a coloco em movimento seguindo Josué pela
estrada.
― Estamos no século XXI, Dante Castellamare. E se eu tenho
dinheiro, por que não pagar?
― Eu sei, mas...
― Você era casado? ― Mudo de assunto e ele solta o ar pela boca
visivelmente incomodado.
― Sim. ― Silêncio. Tenho vontade de perguntar por quanto tempo,
como foi e porque terminou, mas me calo, pois acredito que isso não seja
um assunto que ele goste de falar. ― Fui casado por quase quinze anos...
― É muito tempo ― digo e ele fica em silêncio apenas olhando
para a paisagem pelo vidro. ― Posso perguntar o por que de ter acabado?
Dante continua calado e não diz nada.
E eu me arrependo de ter feito a pergunta.
Só quando estamos chegando na sua caminhonete é que ele fala.
― Tudo nessa vida acaba, Larissa. Nada dura para sempre. ―
Finaliza de forma amarga quando eu desligo o motor, olha para mim e
quando eu penso que ele dirá algo mais, ele abre a porta e desce.
DIAS DEPOIS
A colheita do café da fazenda Florescer está atrasada pois começou
a chover no domingo à tarde e até agora não deu trégua, então não podemos
fazer nada que não seja esperar e essa espera sem previsão de parada, me
deixa nervosa e estressada.
No meio disso tudo resolvi dar um pouco mais de atenção à cidade e
tudo o que ela precisa e tenho me reunido com o prefeito e os líderes da
comunidade durante esses dias, buscando melhorias para a cidade e também
para a população, pois como meu pai fazia, procuro auxiliar a todos e sendo
uma figura pública aqui, muitos me pedem ajuda e não vejo o porquê não
ajudar sendo que tenho condições para isso.
Hoje é sexta-feira já no fim da tarde e pelo visto a chuva deu uma
trégua já que a última gota caiu do céu perto da hora do almoço.
Josué e eu descemos da caminhonete em frente à minha casa e
caminhamos conversando e desviando das poças de água até os degraus da
varanda. Assim que coloco meus pés na sala, vejo uma cesta de produtos
sobre a mesa de centro.
Franzo as minhas sobrancelhas e caminho lentamente até ela curiosa
para saber quem mandou e assim que me abaixo, vejo a pelúcia de leão com
laço rosa no pescoço e então eu sorrio, pois sei imediatamente quem
mandou.
― Uma cesta de frutas, vinho, queijos e um urso de pelúcia? ―
Josué pergunta do meu lado. ― Quem mandou?
― É um leão ― digo apontando para a pelúcia.
― Uma leoazinha, na verdade, não? ― Meu rosto cora.
― O que disse?
― O laço é rosa, Lari... é uma leoa.
― É... ― Limpo a garganta e endireito o corpo.
― Tem ideia de quem te mandou isso? ― Umedeço os lábios e
desvio o olhar dele. ― Eu faço uma ideia de quem seja ― ele diz de forma
zangada, mas não diz mais nada. ― Eu vou procurar a Vera.
Fala e sai da sala me deixando sozinha de frente a cesta cheia de
coisas.
Desfaço o laço e pego a leoazinha nas mãos.
Um sorriso brota em meus lábios e eu me sinto uma adolescente
recebendo uma cartinha do menino que gosto. Respiro fundo e a levo até o
escritório onde pego o telefone e ligo para ele.
Eu e Dante estivemos juntos na terça-feira e combinamos de passar
o sábado juntos, acaso ainda estivesse chovendo, o que acredito que não
seja possível já que parou de chover hoje e provavelmente a colheita
começará amanhã se o tempo continuar firme.
Depois que saí da sua casa na terça à noite, não nos falamos mais,
pois ele deve estar ocupado com os assuntos da sua fazenda assim como eu
também me ocupei a semana toda.
Combinamos e nos vermos amanhã, mas como o tempo melhorou e
a cesta que ele me mandou chegou hoje, resolvo ligar para sua casa e assim
marcarmos um jantar, talvez.
― Alô. ― Ele me atende no final do quarto toque e pelo visto algo o
está preocupando, pois a sua voz está bem irritada.
― Te liguei em uma má hora? ― pergunto e ele solta o ar.
― Oi... ― silêncio e segundos depois ele volta a falar ― eu preciso
conversar com você...
― Estou ouvindo ― digo já com o coração batendo na garganta
preocupada com o que possa estar acontecendo com ele. ― Aconteceu
alguma coisa?
― Sim...
― Eu posso ajudar?
― Não...
― O que está acontecendo, Dante?
― Larissa, eu... ― ouço uma voz feminina próxima dele e penso
estar ouvindo coisas.
Eu liguei para o telefone fixo da sua casa... então é lá que ele está.
― Tem alguém com você em sua casa, Dante? ― pergunto num fio
de voz e do outro lado há apenas silêncio.
Penso que a ligação talvez possa ter caído, mas então ele volta a
falar.
― Aconteceram muitas coisas desde a última vez que nos vimos,
mas eu vou te explicar tudo...
― Por telefone, Dante? É sério isso?!
Silêncio.
― A minha ex-mulher apareceu aqui em minha casa na quarta-feira
e...
― E? ― pergunto com o coração batendo na garganta.
― Ela está grávida. ― Ele solta como se fosse um suspiro cansado.
Engulo em seco e me sento na cadeira atrás da minha mesa.
― E o filho é seu?! ― digo e ele apenas fica em silêncio. Respiro
fundo soltando o ar devagar. ― Tudo bem... ― digo mordendo o polegar
com força. ― Que bom para você, não é? ― Meus olhos ardem. ― Desejo
tudo de bom para vocês e para o bebê...
― Larissa, espera... ― ele me chama desesperado.
― Tchau, Dante. ― Encerro a ligação e olho para a pelúcia sobre a
mesa.
Mordo meu lábio e meu corpo todo é tomado por um frio repentino.
Pego a pelúcia, volto para a sala, a coloco na cesta novamente e levo
tudo para a cozinha.
Vera, Ferreira e Josué estão conversando sobre a colheita quando
entro e eles se calam.
― Ferreira, leve essa cesta para o alojamento e partilhe com os
meninos.
― Nuu, patroa... fico muito agradecido. ― Ele sorri pegando a cesta
das minhas mãos. ― E esse ursinho?
― Pode dá-lo para qualquer um deles que tenha uma filhinha... ―
digo e ele continua a olhar para a cesta com os olhos brilhando.
― O Godói tem uma menininha... ela vai gostar de ganhar um
ursinho... ― ele diz se encaminhando para a porta dos fundos. ―
Agradecido, patroa... ― Ele diz e sai da cozinha levando o presente que
Dante me deu.
― Ótimo ― digo já com o ar me faltando dentro do peito. ― Vera,
se por um acaso o senhor Castellamare ligar e pedir para falar comigo, diga
a ele que eu não estou e se por acaso ele vier até a fazenda, pode recebê-lo,
Josué?
― Claro que sim ― ele diz de cara fechada e cruza os braços de
forma defensiva.
― Obrigada. ― Umedeço meus lábios e engulo em seco. ― Eu vou
tomar banho e me deitar... estou com um pouco de dor de cabeça... não
precisa me chamar para jantar.
― Está tudo bem, menina? ― Vera me pergunta com semblante
preocupado.
― Vai ficar ― digo e saio da cozinha antes que me debulhe em
lágrimas.
Subo as escadas correndo e entro em meu quarto fechando a porta
em seguida.
Mas que droga!
Por que fui me interessar logo por um homem que não tinha o
passado resolvido?
E tinha que ser logo Dante Castellamare?
E tínhamos que ser vizinhos?
Uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Morando na mesma cidade, com nossas propriedades fazendo divisa
com a outra, eu sempre vou vê-lo por aí... com a mulher e o filho deles...
Olho para o teto.
Por que tinha que terminar assim?
DANTE
DIAS ANTES
Já é quarta-feira e a chuva continua a cair forte sem sinais de parar.
Estou pensando em Larissa desde que acordei e então resolvo fazer
uma surpresa para ela.
Entro no escritório e ligo para a casa do seu José, com a ajuda dele e
dona Esmeralda, encontro um presente personalizado e que ela irá gostar.
Uma moça faz cestas de café da manhã aqui em Preciosa, então ligo
no contato que eles me passaram e peço a ela que entregue uma cesta
personalizada na fazenda Florescer.
Depois de finalizar o pedido, me sento e sorrio ao imaginar Larissa
recebendo e vendo o bichinho de pelúcia que fiz questão de que tivesse um
significado especial.
Dou risada sozinho no escritório que era do meu pai e balanço a
cabeça me dando conta de que estou completamente caidinho pela
leoazinha.
Uma buzina soa lá fora me tirando dos meus devaneios e eu saio do
escritório indo ver quem possa ser.
Ao abrir a porta da frente e sair na varanda, vejo o carro de Sálvio
Costa, um dos três taxistas que prestam serviços aqui em Preciosa.
― Bom dia, seu Dante Castellamare... ― ele grita para ser ouvido
em meio a chuva saindo do carro e indo até a porta de trás onde abre um
guarda-chuvas. ― O senhor tem visita ― diz de forma animada.
Assim que a porta se abre e eu vejo os cabelos platinados de Rúbia,
sinto o chão sendo tirado debaixo dos meus pés.
― Mas que porra... ― murmuro sem entender o que está
acontecendo.
― Oi, querido... ― Rúbia fala subindo os degraus da varanda
enquanto limpa as gotas de chuva da sua roupa.
― Rúbia?! O que está fazendo aqui?
― Você não atende os meus telefonemas e não responde as minhas
mensagens... então vim pessoalmente. ― Ela sorri e se afasta para que
Sálvio coloque as duas malas dela ao seu lado na varanda. ― Pode pagar a
corrida a ele, por favor? ― Ela pede com a voz manhosa e eu solto o ar sem
reação nenhuma.
Pago a corrida para Sálvio e assim que ele sobe em seu carro, me
viro e ela não está mais aqui. Penso que talvez tenha sido apenas minha
imaginação, mas as duas malas dela estão aqui, então é mesmo verdade.
Entro em minha casa e ela está fazendo um tour pela minha sala
olhando atentamente para tudo. Rúbia olha de relance para mim e revira os
olhos como sempre fez quando está entediada.
― As minhas malas, querido... ― ela diz em tom de deboche e eu
me obrigo a voltar para fora e pegar as malas dela.
Assim que fecho as portas da casa, cruzo meus braços a frente do
peito.
― O que veio fazer aqui, Rúbia?!
― Eu já disse... tentei falar com você, mas como não me atendia...
― Corta essa! ― Ela se cala. ― O que é tão importante que fez
você se arrancar de São Paulo e vir parar aqui em Preciosa?
― Nossa, por Deus! ― Ela muda de assunto. ― Essa cidade
precisava de um aeroporto, não acha? Onde já se viu, ter que passar mais de
cinco horas sacolejando dentro de um ônibus desde Belo Horizonte até esse
fim de mundo? E quase meia hora dentro de um carro minúsculo igual esse
que me trouxe que ainda se diz ser um táxi...
― Eu vou te perguntar novamente... o que veio fazer aqui, Rúbia?
― Ela se cala e levanta o queixo como se estivesse me desafiando. Por fim,
seu semblante se suaviza e ela sorri.
― Eu estou grávida ― ela diz e agora sim parece que o chão foi
tirado debaixo dos meus pés.
― Como é?
― É... ― ela diz vindo até mim e para a apenas alguns centímetros
de distância de onde estou. ― Tem um bebezinho aqui dentro... nosso filho,
Dante... não está feliz?
― Rúbia, eu... como isso é possível? ― pergunto sem acreditar.
― Ora, Dante! ― Ela ri. ― Não quer que eu te explique a essa
altura como os bebês são feitos, não é mesmo.
Sua mão vem até a minha e ela me puxa para que eu toque sua
barriga.
― É claro que ele ainda é bem pequenininho e tem cerca de doze
semanas, mas... eu fiquei radiante. Não está feliz, meu amor?
― Rúbia... depois que você perdeu nosso bebê logo que nos
casamos... sempre tentamos, mas você nunca engravidou...
― E você mais do que ninguém sabe que sempre fizemos exames
anuais que comprovavam que tanto você quanto eu éramos saudáveis e
aptos a termos um bebê.
― Nós não estamos mais juntos, Rúbia...
― Eu sei, mas ... não é uma coisa do destino? Quer dizer, nós
dormimos juntos e logo depois você veio com a ideia do divórcio...
― Você disse que iria passar uma temporada na casa dos seus pais!
Eu era casado com você, mas quase não te via.
― Mas isso agora irá mudar. ― Ela ri emocionada. ― Parece que
estamos tendo mais uma chance... ― Vem até mim e me abraça.
Só me faltava essa.
Rúbia me olha e se afasta.
― Você odiou saber, não é? ― Me acusa. ― Sempre quis ter um
filho e agora que isso aconteceu, é assim que reage?!
― Não é isso. É que bem... eu fui pego completamente de surpresa.
De todas as notícias do mundo, essa era a menos provável de acontecer...
Rúbia, você tem ideia de tudo o que está acontecendo? ― pergunto chocado
sem acreditar.
― Sim, meu amor. ― Ela sorri, pega meu rosto entre as suas mãos e
me beija. ― Não é um milagre? ― Me abraça. ― Agora... a mãe do seu
bebê precisa descansar, pode me mostrar onde fica seu quarto?
― Meu quarto?
― Sim... preciso me deitar, pôr os pés para cima... de São Paulo até
aqui foram longas horas e eu estou exausta.
― Tudo bem ― digo suspirando enquanto me encaminho para o
corredor com ela em meu encalço. ― Você pode ficar aqui ― digo abrindo
a porta do meu quarto. ― Esse é o melhor quarto da casa, único que é
suíte... vai ficar bem confortável aqui.
― É bem... pitoresco, mas vai ter que servir... afinal serão só alguns
dias, não é mesmo?
― Você vai voltar para São Paulo? ― O medo de crescer longe do
meu filho começa a se formar dentro do meu peito.
― Nós vamos, querido. ― Ela se enlaça em meu pescoço. ― Não
quero que meu filho cresça numa cidadezinha que precise dar zoom para ser
encontrada no mapa.
― Mas Rúbia... ― tiro suas mãos de mim ― a minha fazenda fica
aqui e eu não posso ficar longe.
― É só colocar alguém para administrar... ― dá de ombros.
― Porque não pensa melhor... vai ser bom ficar aqui... Preciosa é
uma cidade boa, com pessoas boas... passar a gravidez aqui pode ser bom...
― Mas nem morta, Dante! ― Ela ri. ― Olhe para mim... acha
mesmo que eu ficarei enfurnada no meio do mato? Essa cidade não tem
sequer uma boutique, quem dirá um shopping. ― Gargalha. ― Acredito
que se perguntar para as pessoas daqui o que é um shopping, a maioria nem
vai saber responder...
― Está sendo preconceituosa na escolha das suas palavras! ― A
repreendo e ela se cala ficando séria.
― Desculpe, não quis ofender o lugarzinho que você nasceu ― diz
passando as mãos pela minha camisa. ― Mas está fora de cogitação que eu
tenha a minha gravidez aqui e nem em hipótese alguma, meu filho nascerá
aqui.
― Rúbia...
― Está decidido, Dante. ― Ela finaliza. ― Ficaremos aqui até que
você encontre alguém para cuidar de tudo para você e assim que tudo
estiver encaminhado, voltaremos para São Paulo.
A encaro sem piscar e minha cabeça dá um nó.
Justo agora que estava tudo se encaminhando?
Estou conseguindo administrar a minha fazenda... a casa e a
propriedade estavam tomando forma e estava até começando a ter um
relacionamento com a Larissa.
Penso nela e fecho meus olhos.
Puta merda!
Como ela reagirá diante dessa notícia?
Quero muito ter um filho... sempre foi meu sonho, mas nas
condições que Rúbia está impondo fica impossível!
Eu preciso encontrar um modo de conciliar tudo isso. Administrar a
fazenda sem ter que ir embora de Preciosa e ter meu filho e Larissa comigo.
CAPÍTULO 13
LARISSA
Estou sentada em minha cama lendo os folders que Charles me deu
no sábado, sobre os novos grãos de café criados em laboratório quando
alguém bate à porta.
― Entre ― digo prestando atenção em quem está do outro lado.
― Lari... ― Vera aparece na porta. ― O Josué quer falar com você.
― Já estou descendo, Vera.
Ela sai e eu me levanto. Passo as mãos pelos cabelos e ajeito as
minhas roupas.
Saio do quarto e quando estou descendo os últimos degraus da
escada, vejo Josué parado na porta do escritório. Sigo para lá e assim que
entro, percebo que o assunto é sério, pois Josué está com a cara fechada.
― O que aconteceu? ― pergunto dando a volta na mesa e me
sentando na cadeira. Josué se senta na cadeira a minha frente e limpa a
garganta.
― O playboy esteve aqui. ― Meu coração acelera.
― O Dante? ― Josué confirma. ― Quando?
― Faz uns cinco minutos.
― O que ele queria? ― pergunto apoiando meus cotovelos sobre a
mesa.
― Falar com você. ― Fico em silêncio e baixo o olhar. ― O que
aconteceu entre vocês?
Respiro fundo e o encaro. Josué sempre foi um irmão mais velho
para mim e nós sempre conversamos sobre todos os assuntos. Nós dois
sabemos tudo da vida um do outro e sinto que ele precisa saber o que está
acontecendo.
― A ex-mulher do Dante está na casa dele. ― Solto e Josué levanta
as sobrancelhas impressionado com o que acabou de ouvir. ― Ela veio até
aqui porque está esperando um filho dele.
Josué se recosta em sua cadeira e assovia baixinho.
― Mas isso foi de zero a cem muito rápido Lari ― diz e eu dou de
ombros concordando mordendo o polegar. ― Vocês estavam tendo algo,
não é? ― Concordo. ― Estava gostando dele? ― Fico em silêncio e vejo
Josué engolir em seco e fechar os punhos com raiva. ― E agora você vai
retirar o seu time de campo. ― Ele constata e eu afirmo.
― Eu não tenho nada a fazer que não me retirar, Josué ― falo
sinceramente. ― Eu não posso ficar no meio disso tudo. A ex-mulher dele
está aqui e grávida... imagina só ele a deixar em casa para sair comigo? Isso
está fora de cogitação... não quero ser a mulher que cause brigas na relação
deles... e quando a criança nascer? Ele vai ter que se dedicar à família que
está formando e o que tivemos acabou. Simples assim.
― Eu só não sei se ele vai entender... o homem parecia disposto a
plantar os pés aqui e não sair até que você o recebesse.
― Ele vai ter que entender, Josué! ― digo com autoridade. ―
Somos adultos e devemos agir como tal. ― Respiro fundo. ― E a colheita?
― pergunto mudando de assunto.
― Bem, agora temos que esperar e ver se a chuva não vai voltar.
― Esperamos o fim de semana todo e se o sol permanecer,
começaremos na segunda-feira bem cedo.
― Está certo.
Ele se levanta e encaminha para a porta, mas para ao me ouvir
chamá-lo.
― Obrigada. ― Agradeço por ele ter cuidado do assunto de Dante.
― Sempre às ordens, patroa. ― Sorri e me deixa no escritório.
Olho para o telefone e suspiro. Mordo o polegar. Como queria que
tudo isso fosse um sonho ruim apenas.
DANTE
Chego em casa irritado e sigo direto para o quarto de hóspedes onde
estou desde que Rúbia chegou e ficou com o quarto principal. Entro e fecho
a porta com força.
Caminho até a janela, apoio as mãos no parapeito e encaro a
plantação de café alguns metros aos fundos da casa com o céu já
escurecendo.
Segundo seu José, assim que a chuva cessar, poderemos começar a
colheita e eu estou muito ansioso para que isso aconteça.
Ele veio até aqui com a mulher e conversamos a respeito da
contratação de mão de obra e me tranquilizou dizendo que é ele quem vai
cuidar de tudo, mas eu tenho que acompanhar cada passo, já que como ele
mesmo disse “vai me ensinar uma vez apenas”.
Sorrio ao me lembrar dele e de como ele e dona Esmeralda têm me
ajudado desde que cheguei aqui. É notável a melhora que eles fizeram em
minha propriedade e simplesmente sem eu pedir.
Sou muito grato por ter encontrado pessoas boas em meu caminho
logo que coloquei meus pés de volta em Preciosa.
Uma batida na porta me tira dos meus pensamentos e quando me
viro, vejo Rúbia entrando em meu quarto.
― E então? ― ela pergunta e eu a encaro sem entender. ―
Conseguiu encontrar o tal administrador?
― Eu nem fui atrás disso Rúbia ― digo irritado me voltando para a
janela.
― E onde foi então? ― Respiro fundo soltando o ar com força. ―
Foi atrás dela, não foi? ― Fecho meus olhos tentando me controlar para
não retrucar e acabar gritando com ela. ― Você não pode me deixar aqui
nesse fim de mundo esperando um filho seu enquanto vai se encontrar com
essazinha...
Me viro lentamente e acredito que eu tenha um semblante nada
amigável, já que ela se cala imediatamente.
― Nós não somos mais casados, Rúbia e eu não lhe devo mais
satisfações da minha vida a você.
― Mas eu estou grávida de um filho seu... precisamos ficar juntos
para que nosso filho cresça num lar cheio de amor e...
― Um lar cheio de amor? ― Zombo das suas palavras. ― Ficamos
casados por quinze anos e nosso lar tinha de tudo, menos amor! Eram dias e
dias de discussões sem cessar, dormíamos em quartos separados, pois
segundo você, eu roncava e não te deixava dormir. E sem falar quando você
ia para a casa dos seus pais e ficava meses sem aparecer em casa e quando
aparecia as discussões e brigas recomeçavam... nós vivíamos sempre em pé
de guerra, Rúbia.
― Mas quando fazíamos as pazes era bom, não era? ― ela pergunta
se referindo ao sexo que fazíamos. ― E por algumas vezes tivemos alarmes
falsos de gravidezes... e era tão boa a nossa expectativa esperando que fosse
para valer, mas então fazíamos o teste e era jogado um balde de água fria
sobre as nossas cabeças, mas agora Dante, é real. Podemos tentar mais uma
vez. ― Sorri com os olhos cheios de lágrimas.
― O divórcio e a assinatura nos papéis foi só um jeito formal de
dizer que chegou ao fim, mas acredito que o nosso casamento já tenha
acabado tão logo como começou, Rúbia ― digo com os ombros caídos.
― Não, Dante! ― ela grita. ― Eu me recuso a entregar os pontos
assim. ― Respira fundo repetidas vezes e coloca as mãos na barriga. ―
Nós vamos voltar para São Paulo e reataremos nosso casamento. Nosso
filho nascerá e tudo então vai entrar nos eixos.
― Não vai, Rúbia. ― Nego com a cabeça e seu rosto fica vermelho
de raiva. ― Sabe que não vamos voltar a ser o que éramos, até porque
nenhum de nós tem vontade de que isso aconteça. Ninguém quer viver um
inferno com brigas todos os dias.
― Mas isso vai mudar! A partir do momento em que colocarmos os
pés em nosso apartamento, tudo vai ser diferente...
― Sabemos que não vai.
― Eu não vou ficar aqui nesse lixo de cidade para o resto da minha
vida Dante Castellamare! ― Soa ameaçadora.
― A minha vida agora é aqui. Tenho a fazenda para cuidar, pessoas
que dependem de que isso dê certo, funcionários e amigos que estão
confiando em mim. ― Sou sincero com ela e vejo suas narinas delicadas se
dilatarem. ― Não posso te prender aqui, Rúbia... se quiser voltar para São
Paulo, pode ir. Sei que ficar afastado de você durante a sua gravidez e ter
meu filho ou filha crescendo a quilômetros de distância de mim vai ser
doloroso demais, mas ... vocês precisarão de coisas, daqui a algum tempo
terá escola, cursos, viagens... em seguida a faculdade e eu preciso trabalhar
para que ele ou ela tenha esse conforto. Pois assim como meu pai pagou
meus estudos e me manteve em São Paulo até que eu pudesse caminhar
com as minhas próprias pernas, também quero proporcionar isso ao meu
filho.
― É a sua palavra final? ― ela pergunta e eu assinto. ― Tudo
bem... se é assim que quer, assim será! Amanhã mesmo eu vou embora e
você nunca mais vai ter notícias minhas ou dessa criança.
― Não pode fazer isso! Eu sou o pai dessa criança e tenho o direito
de acompanhar já que irei dar toda a assistência a ela.
― Isso se eu ainda continuar com essa gravidez!
― Não diga loucuras, Rúbia!
― Digo, sim! ― ela grita. ― Me recuso a cuidar de uma criança
para o resto da minha vida em São Paulo, enquanto o pai dela brinca de
fazendeiro aqui nesse buraco. E quando ele perguntar por que você não está
presente na vida dele sabe o que vou dizer? Que escolheu ficar enfurnado
nesse fim de mundo só porque conheceu uma piranha roceira que virou a
sua cabeça e que o trocou por ela.
― Cala a boca, Rúbia! ― grito perdendo o pouco de paciência que
me resta. ― Não tem o direito de falar assim comigo, pois está em minha
casa e eu exijo respeito!
― Sempre enchendo a boca para dizer que tudo o que tínhamos é
seu! Sempre foi um arrogante e metido a besta. Mas não passa de um
ignorante que não sabe nem como tratar uma mulher já que nunca teve uma
em sua vida!
― Saia daqui Rúbia. ― Grito e avanço sobre ela que dá alguns
passos para trás indo parar na porta.
― Sabe como será o seu fim, Dante Castellamare? ― Ela pergunta
num fio de voz. ― Terminará igual ao seu pai. Sozinho e sem ninguém para
chorar sobre o seu caixão quando morrer.
A empurro para fora do quarto e bato a porta com força, fazendo a
parede tremer.
― Maldita! ― grito com raiva e ando até a cômoda varrendo tudo o
que está sobre ela com o braço.
Em seguida ando até a mesa de cabeceira e repito o gesto, depois me
jogo na cama e fecho meus olhos com as mãos.
Respiro fundo soltando o ar pela boca por diversas vezes tentando
me acalmar.
Olho para o teto e passo as mãos pelos meus cabelos negando com a
cabeça repetida vezes.
― Eu não vou ser igual meu pai ― digo afirmando. ― Farei tudo
diferente e meu filho se orgulhará de mim.
A imagem de Larissa tentando esconder o riso das minhas piadas
sem graça aparece em minha mente e, a minha vontade de estar com ela só
aumenta.
Eu preciso encontrar com ela e preciso que ela me ouça... quem sabe
seu José não possa me ajudar?
― É isso! ― Me sento na cama e um sorriso brota em meus lábios e
tenho a certeza de que tudo irá se resolver.
CAPÍTULO 14
DANTE
DIAS DEPOIS
Sorrio satisfeito com a colheita quase chegando ao fim e segundo
seu José, ela tem sido ótima, mesmo que a fazenda tenha sido negligenciada
por tanto tempo, ainda está tendo um bom desempenho.
Devido ao trabalho intenso de colher os grãos de café, tenho saído
de madrugada de casa e chegado ao anoitecer. Não tenho tido tanto contato
com Rúbia, mas pelo tanto de caixas que tem chegado até a fazenda, ela
arrumou um hobby: o das compras.
São compras de diversas coisas, que vão de roupas e sapatos a
produtos importados. Comprando, ela me deixa em paz para poder
trabalhar, mas o único problema é que ela está gastando o dinheiro da venda
das máquinas que está na minha conta de forma desenfreada, e até que a
colheita termine, preciso economizar, pois tenho funcionários, empréstimos
e outras coisas para pagar.
Hoje está sendo um dia como todos os outros e assim que
encerramos o expediente, me despeço dos rapazes e me encaminho para
casa.
Ao entrar, vejo mais algumas caixas sobre o sofá e por curiosidade
me aproximo de uma delas e leio o remetente.
Todas elas são de produtos femininos.
Rúbia aparece vinda do corredor usando um vestido vermelho justo
ao corpo e com decote que chega quase ao seu umbigo e para ao me ver.
― Ah, já chegou. ― Sorri.
― Que bom que tem estado ocupada ― digo apontando para as
caixas.
― São apenas algumas comprinhas... ficar o dia todo aqui me deixa
entediada...
― Deixei meu cartão com você para que comprasse o que
precisasse enquanto estivesse aqui e você não precisa de sapatos de salto
morando aqui na fazenda se nem sai de casa. Precisa frear seus impulsos...
não pode sair gastando como se não houvesse amanhã, pois agora tenho que
usar o dinheiro para honrar meus compromissos.
― Ah, Dante... já disse que são poucas coisas...
― Mas até que a colheita acabe, peço que pare. Já tem compras
suficientes para o restante do ano. ― Ela fecha a cara e eu cruzo os braços.
― Uma ideia me ocorreu hoje.
― Que ideia? ― ela pergunta se apoiando no braço do sofá.
― Não acha que já está na hora de irmos ao médico?
― Médico? ― pergunta sem entender.
― Sim... um ginecologista obstetra... você está aqui já tem alguns
dias e segundo você me disse já tinha mais de doze semanas de gravidez
quando chegou aqui...
― Sim, mas... não acho necessário.
― Como não, Rúbia? É estritamente necessário que faça visitas
mensais ao obstetra para verificar se está tudo bem com o bebê...
― Ora, Dante. Está tudo bem com o bebê. ― Ela me garante.
― Rúbia, você já passou dos trinta e cinco anos. Uma gravidez na
sua idade precisa ter mais atenção... ainda mais se já tenha tido um aborto
anterior como sabemos que já aconteceu anos atrás...
― Não é necessário, Dante! ― ela diz nervosa e eu franzo minhas
sobrancelhas diante ao seu nervosismo exagerado. ― O meu obstetra me
garantiu que estava tudo bem e que meu útero é capaz de gerar nosso filho
sem complicações.
― Tem certeza?
― Sim.
― Trouxe os exames para que eu possa ver?
Ela engole em seco e nega.
― Esqueci em São Paulo...
― Podemos ligar para seu obstetra e pedir a ele... queria ao menos
ver meu filho, Rúbia já que senti-lo em sua barriga você não deixa.
― Se te deixa calmo, posso marcar uma consulta com o médico
daqui. Fazemos um ultrassom e você pode tirar todas as suas dúvidas...
― Por mim está ótimo. ― Limpo a garganta. ― Não posso me
ausentar agora da fazenda, mas assim que a colheita acabar, iremos sim ao
médico.
― Perfeito.
― Enquanto isso... ― olho para as caixas ― não acha que já pode
comprar coisas para o bebê?
― Ainda é cedo, Dante.
― Rúbia, o tempo passa rápido. Ainda mais aqui em Preciosa...
encomendas demoram a chegar e é preciso comprar tudo com calma.
― Eu vou começar a comprar coisas para o bebê... assim que
soubermos o sexo. ― Sorri. ― Não acha melhor? Aí podemos comprar
tudo com a cor que escolhi para o enxoval... ainda precisamos ver a cor que
pintaremos o quarto em que ele vai ficar aqui...
― Então irá tê-lo aqui em Preciosa?
― Bem... ainda não me decidi. ― Engole em seco. ― Preciso
visitar o hospital, equipe de médicos... é o nosso filho. Quero dar a ele tudo
do bom e do melhor...
Concordo com a cabeça.
― Aqui não temos hospital. Somente uma clínica. Casos mais
graves e nascimento de bebês são feitos na cidade mais próxima. ―
Informo e ela arregala os olhos.
― Como é?!
Uma batida na porta desvia a minha atenção e eu sigo até lá para ver
quem é.
Assim que abro a porta, Ulisses está na varanda e me olha com
semblante preocupado.
― Seu Dante, desculpe incomodar, mas fui verificar a colheitadeira
agora e uma mangueira hidráulica está partida.
― Está vazando óleo? ― pergunto.
― Com ela desligada não, mas... se ligar, ela pode esguichar óleo e
se trabalhar sem lubrificar pode ter um prejuízo grande.
― Já ligou na oficina?
― Sim. ― Ele afirma. ― O Milton disse que estão sem essa
mangueira no estoque, mas vai pedir com o fornecedor amanhã bem cedo.
― Quanto tempo pra chegar até Preciosa?
― Um ou dois dias.
― Mas que merda! Não podemos ficar com a colheitadeira parada
todo esse tempo.
― Na Florescer talvez tenham uma mangueira hidráulica para
emprestar... o senhor podia ligar lá e falar com o Josué... ― ele diz e eu
cerro os punhos ao me lembrar da última conversa que tive com o capataz
da Larissa.
― Eu vou fazer isso ― digo por fim. ― Obrigado por avisar
Ulisses.
Ele se vai e eu entro em casa. Rúbia já sumiu de vista e então sigo
direto para o escritório.
Me sento na cadeira e pego o telefone em minhas mãos, teclo o
número da casa de Larissa e aguardo.
― Fazenda Florescer. ― A voz dela soa do outro lado e é como se
ela estivesse em minha frente.
― Lari...
― Oi, Dante. ― Sua voz é suave e meu coração acelera, pois da
última vez que nos falamos, ela foi hostil comigo.
― Eu preciso da sua ajuda... ― digo.
― Diga. ― Ela solta o ar e eu consigo me lembrar do seu perfume.
― Uma mangueira hidráulica da colheitadeira partiu agora a tarde, o
Milton disse que outra igual só chega em Preciosa daqui um ou dois dias...
então quero perguntar se pode me emprestar uma até que a nova chegue.
― Claro ― ela diz. ― Vou pedir ao Josué para que entre em
contato com você e pode tratar com ele sobre esse assunto.
Faço uma longa pausa e ela continua na linha.
― Larissa? ― Chamo por ela e me dou conta de que tenho tanto
para lhe falar.
― Sim? ― ela pergunta do outro lado.
― Obrigado. ― Agradeço somente, pois o que preciso dizer, tem
que ser dito pessoalmente.
― Por nada, Dante. Até mais.
Ela desliga e um sorriso idiota brota em meus lábios.
“Até mais.”
Ela não foi sucinta e nem rude comigo como das outras vezes e isso
de certa forma me reconforta, pois sei que nem tudo está perdido, afinal.
DIAS DEPOIS
Encerro minha conversa com Milton e caminho até a caminhonete
estacionada na frente da loja.
A colheita está quase no fim e assim que ela terminar, já quero
deixar agendada a revisão das colheitadeiras, pois não gosto de deixar tudo
para a última hora.
Assim que abro a porta do motorista, ouço meu nome sendo
chamado de longe.
Paro e me viro e então vejo Dante cruzar a praça correndo na minha
direção.
Droga!
Não estava preparada para vê-lo.
Não tão lindo assim.
Com seus jeans, botas, camisa de flanela e chapéu.
Um fazendeiro que me tira o fôlego.
Engulo em seco, fecho a porta da caminhonete e continuo plantada
no mesmo lugar, esperando que ele atravesse a rua para falar comigo.
A minha vontade é de sumir, mas... não posso fugir dele por muito
tempo e é claro que morando no mesmo lugar, uma hora ou outra nossos
caminhos iriam se cruzar.
― Oi ― ele diz parando na minha frente. Seus olhos passeiam pelo
meu rosto e em seus lábios está um pequeno sorriso que me desarma
completamente.
― Oi ― respondo num fio de voz.
― Já faz três semanas que não nos vemos... ― ele diz e eu desvio
meus olhos ― aconteceram tantas coisas e... porra, Larissa! ― O encaro.
Sua mão alcança a minha e nossos dedos se entrelaçam. Imediatamente é
como se ondas eletrizantes fossem transmitidas através do nosso toque. ―
Eu senti sua falta. ― Ele confessa e a minha respiração se acelera.
Dante dá um passo à frente e imediatamente meu corpo acende.
Antes que o pouco de razão vá embora, ergo a mão e coloco em seu
peito mantendo-o afastado.
― Não, Dante ― digo num sussurro e abaixo a cabeça.
Seu polegar levanta meu queixo para que eu o encare e eu engulo
em seco olhando para o azul dos seus olhos.
― Precisamos conversar, leoazinha... ― ele diz e meu peito se
aperta ao ouvi-lo chamar pelo apelido que me deu.
― Não temos nada para conversar, Dante ― digo de forma firme,
mas por dentro estou me despedaçando.
Ele segura a minha mão em seu peito e meu coração bate ainda mais
forte.
― Não me afaste. ― Ele pede. ― Não agora que estávamos tendo
algo bom entre a gente...
― Coisas aconteceram, Dante... e não podemos mais continuar.
― Por quê?
― Sua ex-mulher está em sua casa e ela está esperando um filho
seu.
― Você disse certo, ex-mulher. Ela não significa mais nada para
mim. Nosso casamento nunca foi um mar de rosas...
― Eu não quero saber sobre isso.
― Precisa sim saber! ― ele diz de um jeito brusco. ― Ela nunca foi
uma doce esposa como deve estar pensando e, eu só preciso que me dê uma
chance e me ouça... podemos continuar de onde paramos...
― Não me peça para ficar com você, pois eu não quero estar no
meio disso tudo... e quando seu filho nascer? Você vai ter que fazer a sua
escolha e um filho é muito importante para se deixar de lado.
― Não sabe o quanto está acabando comigo ouvir você dizer isso.
Meus olhos se enchem de lágrimas e sorrio a fim de afastá-las.
― É melhor assim, Dante... vai ver não era para ser...
― Nem parece a leoazinha que eu conheço dizendo isso... ― Dou
risada. ― Por favor, Lari...
Nego com a cabeça.
― Acabou, Dante ― digo firme. ― Vai ser melhor para todos.
Ele afirma com a cabeça e solta minhas mãos.
Vejo-o engolir em seco e seus olhos se tornam tristes.
― E agora? Como fazemos? ― ele pergunta. ― Quando te
encontrar na rua, no mercado... no corredor das bebidas...
Pressiono os lábios contendo um riso.
― Agimos normalmente como duas pessoas civilizadas... nos
cumprimentamos e seguimos nossas vidas ― digo, limpo a garganta e dou
um passo para trás. ― Até mais, Dante.
Finalizo e ele se afasta para que eu entre na caminhonete.
Ligo o motor e olho uma última vez para ele antes de sair dali o
mais depressa possível.
Faço o caminho até a Florescer da forma mais lenta o possível já
que as minhas lágrimas não param de rolar pelo meu rosto e assim que
minha fazenda se aproxima, tento me controlar ao máximo para que chegue
em casa sem essa cara de velório.
Respiro fundo assim que passo pela porteira e quando estaciono a
caminhonete no galpão agradeço aos céus por não ter ninguém por perto.
Assim que coloco meus pés para fora do galpão, Josué aparece e
estranha ao olhar para mim.
― O que aconteceu, Lari?
― Nada ― digo desviando o olhar.
― Seus olhos...
― É a poeira da estrada... vim com os vidros abertos.
― Sei ― ele diz cruzando os braços sem acreditar no que eu disse
enquanto caminha ao meu lado na direção da casa.
― Eu vou ficar no escritório pelo resto da tarde. Pode ficar de olho
em tudo para mim, por favor? ― pergunto subindo os degraus da varanda.
― Claro. ― Entramos em casa e eu o deixo sozinho na sala.
Me tranco no escritório e me recosto na porta.
Mordo o polegar com tanta força que sinto o gosto de sangue na
boca.
Por que dói tanto?
Limpo as lágrimas que insistem em cair.
Preciso me concentrar e enfiar a cara no trabalho. Só assim vou
esquecer tudo o que aconteceu...
Passo as mãos pelo rosto e ajeito o cabelo.
Dou a volta na mesa e ligo o computador. Vou checar os e-mails,
responder quem entrou em contato comigo, retornar ligações... se me
mantiver bastante ocupada tenho a certeza de que esquecerei de Dante
Castellamare.
DANTE
Não consigo me conformar de que a Larissa terminou tudo comigo.
Justo agora que tudo estava indo tão bem entre a gente?
Pensei que após esse tempo separados, ela voltaria atrás e nós
continuaríamos de onde paramos, mas não... ela bateu o pé e manteve a
mesma opinião de que é melhor deixar tudo como está.
Respiro fundo cansado enquanto reviro a comida em meu prato.
― Está tendo problemas? ― Rúbia pergunta e eu lanço um rápido
olhar para ela. ― Já é a quinta vez que respira fundo desde que nos
sentamos para jantar.
― Está contabilizando minha respiração? ― pergunto com raiva em
não poder sofrer em paz dentro da minha própria casa.
― Não precisa me atacar! ― Ela retruca. ― Se está com problemas,
então os resolva. Eu não tenho culpa de estar tendo um dia ruim!
― É só não se meter onde não é chamada.
― Grosso! ― Ela se irrita e lá está a mesma Rúbia de sempre. ―
Quando saiu estava tudo bem e quando voltou, chegou assim. Mas eu sei o
que aconteceu quando esteve fora.
― Ah, sabe? ― pergunto afastando o prato com o meu jantar quase
intocado. ― Então me diga o que aconteceu!
― Com certeza se encontrou com a roceira e o encontro não foi
como pensava, por isso está aí todo bravo. Simplesmente porque não
conseguiu o que queria!
― Ah, cale a boca, Rúbia! ― Me levanto e pego o prato em minhas
mãos para levá-lo até a cozinha.
― Ficou nervoso porque sabe que é verdade! ― Ela ri. ― Eu só
queria conhecer essa mulher! Queria saber o tipinho que te atraiu e fez você
virar a cabeça. Com certeza é uma piranhazinha que está acostumada com
esses roceiros daqui e está fazendo de tudo para te prender na teia dela.
― Chega, Rúbia ― grito atirando o prato contra a parede fazendo a
comida se espalhar por todo lugar. ― Eu não admito que esteja em minha
casa e fale assim.
― Por que defende tanto essa mulher?! ― ela pergunta se
levantando depressa fazendo a cadeira que estava sentada, cair para trás. ―
O que ela fez para que ficasse cego desse jeito? Você costumava ser mais
inteligente, Dante. Não vê que ela está te envolvendo só porque está de olho
no que você tem?
― Assim como você fez anos atrás? Ficou comigo só pelo que eu
tinha! Eu estava em ascensão na minha carreira e já tinha um apartamento
em meu nome e carro próprio...
― Está ficando louco? ― ela pergunta com a voz esganiçada e eu
rio sem humor, pois sei que atingi seu ponto fraco. ― Fiquei com você
porque te amava.
Dou risada.
― Que conveniente. E já te ocorreu que ela talvez goste de mim?
― Fala sério, Dante... olhe só para você... um fazendeiro falido que
mal sabe diferenciar um pé de café no meio do mato alto.
― Foi você mesma que disse que talvez ela esteja interessada no
que eu tenho...
― Mas é a verdade e você como todos os homens burros caem no
papinho dessas piranhas só porque abrem as pernas para vocês e dizem que
são os homens mais importantes das vidas delas, mas todos sabemos que o
que elas querem mesmo é dinheiro!
― Se está generalizando, então é só se olhar no espelho, Rúbia.
Quem foi que veio de São Paulo para esse buraco como você mesma disse
só para ter de volta todo o luxo que tinha quando ainda éramos casados?
― Mas eu estou grávida!
― Está mesmo Rúbia? ― pergunto e a cor do seu rosto some.
― Como ousa duvidar da minha palavra?!
― Eu não sei... ― dou de ombros ― até agora não vi exame
nenhum e nem sinal da sua barriga começar a aparecer, coisa que já devia
ter acontecido já que me disse que estava de doze semanas quando chegou
aqui... já se passaram mais quatro semanas... a sua barriga já devia estar em
evidência, mas até agora nada.
― Você não entende nada desse assunto... nenhuma gravidez é igual
e...
― A colheita termina no final dessa semana. ― A corto. ― E
quando ela acabar, nós iremos ao médico.
― Mas eu tenho meu médico em São Paulo...
― Que seja até no quinto dos infernos! ― Explodo. ― Por mim
tanto faz se for aqui em Preciosa, Belo Horizonte ou São Paulo... assim que
finalizar o processo da colheita, nós iremos ao obstetra e isso já está
decidido.
A deixo sozinha e sigo para meu quarto.
O dia de hoje teve muitas emoções e eu preciso esquecer que ele
existiu, pois foi um dos piores da minha vida.
CAPÍTULO 17
Levanto antes do sol raiar, pois tive uma noite de merda onde nem
dormi direito.
Assim que chego na cozinha e começo a preparar o café da manhã,
Rúbia aparece e isso me causa estranheza já que eu nunca a vi acordar tão
cedo assim.
― Aconteceu alguma coisa? ― pergunto quando ela se senta à mesa
sem dizer nada.
― Você vai até a cidade hoje? ― pergunta com a voz mansa e nem
parece a mesma mulher que me disse um milhão de insultos dias atrás.
― Não. Por quê? Precisa de algo?
― Sim. Quero ir até a farmácia, pois preciso de itens de higiene
feminina.
― Não pode pedir pela internet como tem feito com as muitas
coisas que têm chegado aqui na fazenda?
Ela revira os olhos entediada.
― É urgente... ― franzo o cenho e ela limpa a garganta. ― Meus
pés estão ressecados e eu quero um hidratante específico...
― Pede pela internet ― digo dando as costas a ela.
― Custa me levar até a cidade?
― Sabe que estou ocupado com a colheita.
― Serão só algumas horas, o mundo não vai acabar!
― Está bem ― digo suspirando cansado. ― Te levo lá. Mas se
apresse, pois não quero demorar e quanto antes sairmos, antes voltamos.
― Mas agora?!
― Se quiser ir...
― Eu quero... ― ela diz saindo correndo da cozinha.
Tomo meu café de forma tranquila e bufo irritado em passar mais
um dia sem beber café, pois não me atrevo mais em preparar a bebida já
que ela sempre fica ruim. Então me contento apenas em beber leite ou suco
pela manhã.
Meu pensamento voa para o dia em que trouxe Larissa até a minha
casa e ela preparou café para nós dois.
Deslizo a mão sobre a bancada onde a coloquei sentada e o cheiro
da sua pele ainda está guardado em minha memória como se ela estivesse
acabado de sair daqui...
― Estou pronta. Vamos?! ― A voz de Rúbia ecoa na cozinha me
tirando dos meus pensamentos.
― Sim ― digo a contragosto me encaminhando para o corredor que
leva até a sala onde pego meu chapéu e o coloco sobre a cabeça.
― Vai usar isso? ― Rúbia pergunta me seguindo para fora da casa.
― Sim. Alguma coisa contra?
― Não. ― Ela faz uma careta.
Ando de forma apressada até o galpão, pois não quero perder tanto
tempo e Rúbia me chama.
― Pode andar mais devagar? ― Ela pede.
― Espere aí que vou pegar a caminhonete e quando passar por aqui
você sobe.
Ela bufa, mas concorda.
Balanço a cabeça e conto até dez tentando me acalmar.
Odeio ter uma noite maldormida, pois o dia seguinte fico
insuportável.
Saio do galpão com a caminhonete e pego Rúbia no caminho. Ela
olha para tudo com cara enojada e a minha vontade é de explodir, mas me
controlo.
Durante o trajeto ela reclama da poeira, do sol quente mesmo sendo
de manhã, dos buracos na estrada e até dos insetos que entram dentro do
veículo.
Finjo não a ouvir e apenas bloqueio o som da sua voz como aprendi
a fazer com o passar do tempo em que ficamos casados.
Nunca uma viagem até a cidade foi tão longa como essa e assim que
contorno a praça e encosto em frente a farmácia, dou graças a Deus, pois
agora só temos a viagem de volta.
Rúbia salta da caminhonete e segue até a farmácia e eu fico parado
apenas observando o comércio local abrir as portas e os habitantes andando
de um lado para o outro.
Vejo seu José começar a preparar a sua pipoca e saio da
caminhonete para conversar com ele.
Desde que Rúbia chegou em minha casa e eles se encontraram, seu
José nunca mais foi até a fazenda e nem sua esposa.
Me sinto envergonhado em saber que ela foi mal-educada com o
casal que me estendeu a mão e quando me aproximo de seu José, ele me
olha e lança um dos seus maiores sorrisos.
― Ah, seu Dante... arrumou um tempinho no meio da colheita para
visitar os amigos.
― Bom dia, seu José... como vai?
― Eu vou bem. ― Ele volta a atenção para a pipoqueira. ― E a
colheita?
― A todo vapor. ― Seu José me encara sério.
― Parece meio desanimado...
― É que eu imaginava que a colheita seria um pouco melhor.
― Mas vai ser, seu Dante. O cafezal tava abandonado no meio do
mato, uai. Alguns pés tavam secos, outros sem produzir... agora aprendeu
como cuidar deles, garanto que a próxima colheita vai ser maior. ― Ele
pigarreia. ― E sua esposa?
Respiro fundo e tenho vontade de corrigi-lo, mas por fim acabo
respondendo.
― Eu a trouxe até a farmácia... ela precisava de um produto
específico.
― Entendo.
― Dona Esmeralda como está? ― pergunto pela mulher que trouxe
vida à minha casa junto com as amigas.
― Ela foi para a casa do nosso filho mais velho. A mãe da nossa
nora fez uma cirurgia e a muié foi lá ficar com nossos netos, enquanto a
Priscila cuida da mãe... por que, seu Dante? Tá precisando de alguma coisa
na sua casa? Aqui em Preciosa tem as mulheres que fazem faxina... se o
senhor quiser posso ver com alguma delas...
― Não, não é isso, seu José ― digo sem jeito. ― Eu tenho cuidado
de tudo na medida do possível. Me viro bem preparando as refeições e
cuidando para que a casa não fique como estava quando dona Esmeralda
chegou lá com as amigas. ― Sorrio. ― Era só para saber dela mesmo, pois
senti falta dela lá. ― Seu José dá risada. ― E o senhor não tem vontade de
acompanhá-la?
― Ah, não, uai. ― Ele ri com gosto. ― Minha raiz é aqui em
Preciosa. Acho que morro se ficar longe, nem que seja por uns dias.
Sorrio e quando me viro, eu a vejo.
Tão linda.
Jeans, botas de salto e camisa azul-marinho. Cabelos soltos e com
seu chapéu preto na cabeça.
Puta que pariu!
Seus lábios vermelhos e lindos, estão sorrindo e quando vejo o tal
sujeito ao seu lado, percebo que ela está rindo de algo que ele disse.
A raiva me domina e a minha vontade é de partir para cima dele e
acabar com esse risinho idiota que ele tem no rosto enquanto fala com ela.
― Ah, deve ser o tal imperador que Preciosa inteira está falando. ―
Ouço seu José comentar ao meu lado. ― Estão dizendo que ele faz uns
chocolates diferentes e agora quer colocar o café da Larissa junto. Pode
isso, seu Dante? ― ele pergunta sem acreditar que a mistura possa dar
certo.
― É. ― Engulo em seco. ― Eu soube ― digo entredentes.
― Vai ser bom pra menina, uai. ― Seu José fala voltando a prestar
atenção na pipoqueira. ― Dizem que ele vende até lá fora... imagina só, seu
Dante. O café aqui de Preciosa lá pra fora do Brasil?
Engulo em seco quando o vejo colocar a mão nas costas dela ao
atravessarem a rua e quando dou por mim, já estou de frente para os dois.
― Oi, Larissa ― digo e quando ela olha para mim, a cor some do
seu rosto.
― Dante ― ela diz depois de um tempo. ― Leo, esse é Dante
Castellamare, nossas propriedades são vizinhas e ele também é produtor de
café aqui de Preciosa.
― É um prazer, senhor Castellamare, meu nome é Leônidas
Guimarães ― ele diz estendendo a mão para mim.
O cumprimento com meu peito dominado pela raiva em ver Larissa
me tratando com tanta frieza, que nem me dou conta de que ela não está
olhando para mim, mas sim para algo atrás de onde estou.
― Ah, você está aí, querido... ― ouço a voz melosa de Rúbia e
meus olhos cravam em Larissa que somente observa a cena calada e sem
mover um músculo.
Nem ela e nem o tal imperador se movem quando Rúbia se
posiciona do meu lado e coloca a mão em meu braço. Me afasto alguns
centímetros como se o seu toque me queimasse.
― Não vai me apresentar, Dante? ― Rúbia pergunta e observo
Larissa engolir em seco.
― Esses são Leônidas Guimarães e Larissa Leão... e essa é Rúbia
Novaes. Minha ex-mulher. ― Friso a última frase, mas acho que ninguém
ouviu.
― Larissa Leão. ― Rúbia diz pausadamente e então Larissa a
encara e seus olhos vão direto para a barriga de Rúbia. ― Ah... Dante te
falou que estamos esperando um filho?!
― É. Ele me falou ― Larissa responde. ― Por telefone inclusive.
― Sua voz é carregada de amargura, mas por incrível que possa parecer, ela
sorri. ― Desejo felicidades a vocês e muita saúde para o bebê. Agora se nos
derem licença, precisamos ir. Vamos, Leo?!
― Claro. Foi um prazer conhecer vocês e também desejo saúde para
o bebê. Com licença. ― O tal imperador diz sorrindo e acompanha Larissa
com a mão cheia de dedos pousada em suas costas enquanto caminham pela
praça.
― Podia ao menos disfarçar seu ciúme ridículo! ― Rúbia diz em
voz alta e isso chama a atenção de algumas mães que estão na praça.
A seguro pelo braço e praticamente a puxo pela praça na direção da
caminhonete.
― Não diga bobagens, Rúbia!
― Eu dizendo bobagens?! ― ela grita quando chegamos até a
caminhonete. ― Eu vi a hora que atravessou bufando a praça e foi até onde
aquela vagabunda estava...
― Se não calar essa sua boca agora, te deixo aqui sozinha e irá ter
que voltar a pé para a fazenda, ou pode ir para São Paulo daqui mesmo! ―
digo segurando firme em seu braço, enquanto a encaro de forma
ameaçadora com nossos rostos a centímetros de distância.
Ela não fala nada e eu agradeço aos céus por isso.
Abro a porta da caminhonete, ela sobe e eu bato a porta com força.
Enquanto dou a volta na caminhonete para assumir o volante, me
xingo mentalmente de todos os nomes possíveis e a minha vontade é de
sumir daqui, depois do papel ridículo que fiz.
Assim que me posiciono atrás do volante, vejo Larissa e o tal
imperador conversando com seu José e aperto o volante com força.
― Então era com ela que estava tendo um caso? ― Rúbia pergunta.
― Não começa! ― A ameaço e ligo o motor para sair daqui o mais
depressa possível.
CAPÍTULO 19
LARISSA
Logo após o almoço, Leo se despede de nós na pista da fazenda e
assim que ele embarca em seu avião, Josué chama pelo meu nome e eu o
encaro.
― O que aconteceu na cidade? ― ele pergunta preocupado.
― Não entendi.
― Você saiu daqui bem animada, ansiosa em mostrar ao Leônidas
toda Preciosa, e quando voltou estava quieta... ele disse alguma coisa para
você?
― Não. ― Nego enquanto caminhamos até a caminhonete. ― Leo é
um homem bom e muito respeitador... não fez nenhum comentário ou
conversa de duplo sentido comigo.
― Então por que está assim, Lari?
Subimos na caminhonete e como ele está dirigindo, abro o vidro e
coloco meu braço na janela enquanto olho para fora.
― Nós encontramos com o Dante...
― Tinha que ser! ― Josué bufa.
― Ele estava junto com a mulher e ela é tão bonita. ― Mordo meu
polegar. ― Loira, bem-vestida, parece uma modelo...
― Esquece isso, Lari.
― Eu sei que preciso esquecer, Josué. Mas só em pensar que de
agora em diante nos veremos sempre... ele ao lado da mulher e do filho que
terão...
Respiro fundo e assim que ele encosta a caminhonete dentro do
galpão, eu desço e ele me encara sem saber o que dizer, por fim lanço a ele
um sorriso triste.
― Eu vou superar. ― Garanto a ele. ― Vamos para a colheita?
― Claro ― ele diz caminhando do meu lado, enquanto seguimos
para o cafezal.
DANTE
Chego em casa e sigo direto para o quarto que Rúbia está ocupando.
Abro a porta e entro sem bater, ela pula de susto na cama onde está
sentada passando uma espécie de geleia branca em seu rosto e me olha
assustada fechando o roupão até o pescoço.
― Poucos meses vivendo nesse fim de mundo te tiraram a educação
que não bate mais antes de entrar?
― Me disseram que viram você comprando absorventes na farmácia
hoje de manhã. Que história é essa, Rúbia?
Ela arregala os olhos e abre a boca tentando articular as palavras.
― O quê? ― ela pergunta.
― Isso o que ouviu. ― Coloco as mãos na cintura esperando por
uma resposta.
― Eu não estava comprando absorventes...
― Então a pessoa que viu, mentiu?
― Eu não sei. ― Ela dá de ombros e começa a tirar a geleia do
rosto com uma toalha úmida como se eu não estivesse aqui. ― Não faço
ideia de quem possa ter falado isso a você, mas não devia acreditar em
fofoca de cidade pequena, Dante.
― E o que comprou na farmácia?
Ela ri e revira os olhos.
― Isso é sério? ― Como continuo a olhando firmemente, ela vai até
o armário e pega a sacola da farmácia e joga no meu peito. ― Foi isso que
eu fui comprar na farmácia.
Abro a sacola e lá dentro estão vários vidros de produtos específicos
para cuidados com o rosto.
― Não sei com quem anda conversando, mas devia rever essas suas
amizades já que estão fazendo fofoca sobre a mãe do seu filho. Agora se me
der licença, eu preciso dormir!
Jogo a sacola sobre a cama e sigo para a porta.
― Não me deve um pedido de desculpas, por ter entrado aqui e me
acusado?
Apenas saio do seu quarto e ela grita que sou sem educação antes de
bater à porta com força.
Sigo para meu quarto onde entro e fecho a porta.
Passo as mãos pelos meus cabelos e balanço a cabeça.
O que está acontecendo?
Por que tudo terminou tão errado hoje?
Fui até a casa de Larissa e de uma hora para outra tudo desandou e
quando chego aqui para confrontar, Rúbia, pois acreditei no que Larissa me
disse, ela me prova que eu estava errado.
Preciso o quanto antes que essa colheita acabe para que eu leve
Rúbia até o ginecologista e, assim prove de uma vez por todas que ela esteja
esperando mesmo um filho meu.
Engulo em seco e me lembro do olhar de raiva que Larissa me
lançou.
Eu fui longe demais em dizer aquilo.
Fui burro e estava dominado pela raiva.
Agora mesmo que ela não quer nem me ver, quem dirá falar comigo.
Eu tinha a oportunidade perfeita e estraguei tudo.
CAPÍTULO 20
DIAS DEPOIS
Assim que Ulisses manobra a colheitadeira para enfim guardarmos
dentro do galpão após uma revisão rápida feita por nós, acompanho com o
olhar para um grupo de rapazes que estão conversando e pelos seus
semblantes preocupados, o assunto é grave.
Me aproximo lentamente e franzo o cenho ao pegar o final da
conversa.
― ... deve ser a mesma doença do pai dela, coitada.
― Diacho! Tão nova e ter que passar por tudo isso. ― Outro
comenta.
― Mas é pra você ver que o pior acontece com qualquer pessoa, até
as melhores...
― Do que estão falando? ― pergunto curioso.
― A dona Leão... ― minha vista escurece temendo que algo possa
ter acontecido com a Larissa.
― O que aconteceu com a Larissa? ― pergunto sentindo o coração
bater na garganta.
― Uai! Ela desmaiou hoje lá no meio da colheita. ― Um dos
rapazes fala. ― O Josué levou ela correndo pra clínica. A cidade inteira tá
falando disso...
― Tão falando que ela pode ter a mesma doença que levou o seu
Inácio...
― A Larissa pode estar doente? ― Minha voz não passa de um
sussurro.
― É uai! O seu Inácio também começou assim. Primeiro foram uns
desmaios e eles falavam que era porque ele tava trabalhando demais... e
quando foram ver o que era, já não dava pra fazer mais nada... ― A voz
deles vai ficando cada vez mais longe e tudo o que ouço é meu coração
batendo forte dentro do peito. Tão forte que está difícil até para respirar.
Quando dou por mim, já estou dentro da caminhonete saindo a toda
velocidade da minha fazenda na direção da Florescer.
Preciso ver Larissa com meus próprios olhos, falar com ela,
perguntar o que aconteceu e nada nem ninguém vai me impedir de vê-la
hoje.
LARISSA
Observo a colheitadeira fazer a volta no último lote da colheita e um
sorriso brota em meus lábios.
― Mais animada agora que está acabando? ― Josué pergunta e eu
concordo.
― Foi uma boa colheita ― digo e ele assente. ― Mas ainda não
acabou. Agora vem o processo de secagem e despolpação. E eu estou me
sentindo tão cansada ultimamente...
― Foram semanas trabalhando sem parar, Lari. Normal que esteja
se sentindo assim. Você trabalha mais do que nós, principalmente nos
últimos dias. ― Umedeço os lábios e ele continua. ― Nós temos visto que
tem trabalhado de dia aqui na colheita e a noite trabalha na frente do
computador se reunindo com o Leônidas para acertar todos os detalhes da
parceria. A Vera até está preocupada com a sua saúde...
― Agradeço a preocupação de vocês, mas eu estou bem. ― Respiro
fundo sentindo minha cabeça pesada. Talvez Josué tenha razão de eu estar
trabalhando pesado, mas eu precisava focar nisso para esquecer de Dante e
da nossa última conversa...
― Você ainda é jovem, Lari... não pode trabalhar tanto assim. Uma
hora a cobrança por tanto trabalho chega. ― Fecho meus olhos por um
instante sentindo meu mundo rodar. ― Está se sentindo bem?
― Você fica falando tudo isso e acho que meu subconsciente está
dando ouvidos a você. ― Forço um sorriso e olho para o horizonte.
― Quer um copo de água? ― ele pergunta e eu assinto. ― Vem, é
melhor sair desse sol. Mesmo estando de manhã, ele está forte o bastante
para fazer qualquer um passar mal.
Nos viramos e quando vou dar um passo, meu corpo não obedece e
eu me seguro em Josué. Tento falar, mas a minha língua embola dentro da
boca. Minha vista escurece e a última coisa que me lembro é de Josué
chamando meu nome, enquanto segura firme em minha cintura para que eu
não caia igual uma fruta madura no chão.
DANTE
Chego em minha fazenda, guardo a caminhonete no galpão e assim
que entro em casa, encontro Rúbia sentada no sofá me esperando.
― Onde você estava? ― ela pergunta com raiva.
― Fui à casa de uns amigos ― digo e sua boca se torna uma linha
fina.
― Foi na casa dela, não foi? ― Respiro fundo e coloco meu chapéu
pendurado ao lado da porta.
― Não te devo satisfações, Rúbia.
― Ah, não me deve satisfações?! ― Ela se levanta do sofá e bate
seus saltos no chão. ― E o que diria se eu pegasse minhas malas agora
mesmo e fosse embora daqui?
Dou de ombros e a encaro já entediado desse mesmo jogo em que
quando ela se sente acuada, ameaça ir embora.
― Faça como achar melhor, Rúbia ― digo e me encaminho para o
corredor que dá acesso aos quartos.
― Eu ainda não terminei de falar, Dante!
― Mas eu já, Rúbia. Estou exausto. O dia de hoje foi cansativo e eu
preciso descansar, pois apesar da colheita ter acabado, o serviço ainda não
terminou e acaso não tenha percebido já que vive enfurnada aqui dentro, o
trabalho de uma fazenda nunca tem fim. ― Ela cruza os braços a frente do
peito. ― A propósito, amanhã bem cedo iremos ao médico.
― Médico? Por quê?
― Porque acaso tenha se esquecido, você está grávida e precisa de
um acompanhamento profissional.
― Mas eu já tenho um médico...
― Em São Paulo e não estamos lá. Se vai parar de dar ataque
dizendo que vai embora a cada vez que conversarmos, precisa se consultar e
ver como está o bebê.
― Mas eu não quero ir!
Solto um riso sem humor já cansado de suas atitudes infantis.
― Criança que faz o que quer, Rúbia. Adultos fazem o que precisa
ser feito. Amanhã saímos daqui às 7h da manhã.
Me viro e começo a andar pelo corredor.
― Volte aqui, Dante Castellamare! Ainda estamos discutindo.
― Fique você aí discutindo sozinha, Rúbia. Eu vou dormir e
amanhã se ainda estiver disposta a continuar com a discussão recomeçamos
de onde paramos. ― Entro em meu quarto e fecho a porta.
Segundos depois ouço a porta do seu quarto bater com força.
Respiro fundo e esfrego o rosto com as mãos.
― Só queria um pouco de paz! ― resmungo. ― Não é pedir muito.
Enquanto pego a toalha para ir tomar banho, me lembro do jantar
que tive na casa de Larissa. Todos conversamos de forma civilizada à mesa
e mesmo não gostando muito de mim, Josué e Vera me trataram com
respeito.
Na última conversa que tive com Larissa, os ânimos se alteraram e
hoje depois de ela ter descoberto a gravidez, me tratou com consideração
quando a visitei, pois agora temos um bebê vindo aí e precisamos agir
civilizadamente.
Ela é muito evoluída e sabe que apesar de não estarmos juntos,
devemos nos tratar com respeito a partir de agora.
Ainda sinto o cheiro e a maciez da sua pele em meus lábios quando
a beijei agora pouco.
Me olho no espelho do banheiro, enquanto desabotoo a camisa.
Por mim ficaria grudado nela dia e noite, mas sei que não posso,
pois além dela, tenho que honrar meu compromisso com Rúbia.
Sorrio ao me lembrar de que Larissa prometeu não se desfazer de
nada que eu mande para ela ou para nosso filho de agora em diante.
― Ah, leoazinha... saiba que a primeira coisa que irá receber será
uma pelúcia de leão e ai de você se desfazer dela.
Entro debaixo do jato do chuveiro dando risada, pois sei que ela
odeia ser chamada assim por mim.
CAPÍTULO 23
LARISSA
Depois do jantar, sigo para o escritório, pois recebi uma mensagem
de Leônidas pedindo uma reunião urgente e estou ansiosa para saber do que
se trata.
Leo aparece do outro lado da tela do computador e sua expressão é
de alegria.
― Boa noite, Larissa. Tenho aqui em minhas mãos o primeiro
chocolate feito com o meu cacau e o café da sua fazenda.
Ele levanta o tablete de chocolate para a câmera e eu sorrio
animada.
― Ah, meu Deus, Leo ― digo emocionada. ― E ficou bom?
― É claro! ― Ele finge estar ofendido. ― Nunca em toda a minha
vida produzi um chocolate ruim, senhora Leão. ― Dou risada dele, pois sei
que ele tem um enorme senso de humor. ― Você mesma comprovou nos
gráficos de vendas no Brasil inteiro.
― Sim. É verdade ― digo me recostando na cadeira. ― Queria
experimentar.
― Seu desejo é uma ordem. ― Ele diz e sorri. ― Amanhã mesmo
vou mandá-lo para Preciosa e poderá provar.
― Durante esse final de semana acontecerá uma festa aqui em
Preciosa já que é feriado...
― Feriado? ― ele pergunta surpreso.
― Sim. Feriado nacional.
― Droga! Me esqueci completamente. ― Leo passa a mão pelo
cabelo. ― Não vou poder trabalhar sem uma equipe... minha cabeça está
fervilhando de ideias e não vou conseguir pô-las em prática.
― E o que acha de descansar? ― Ele espera. ― Venha até Preciosa,
me traga o chocolate pessoalmente e fique aqui durante esse final de
semana. Assim pode descansar e conversamos pessoalmente.
― Até que não é uma má ideia. ― Ele sorri. ― Então amanhã pela
manhã saio da minha casa e em poucas horas pousarei na Florescer.
― Ótimo ― digo satisfeita. ― Esperarei ansiosa pela sua chegada.
― Até amanhã, Larissa. Boa noite.
― Boa noite, Leo.
Encerramos nossa chamada de vídeo e eu me levanto devagar.
Vera já foi se deitar, pois todas as luzes estão apagadas e somente a
da sala está acesa. Apago a luz e subo as escadas. Entro no quarto e após
escovar os dentes em meu banheiro, me deito e adormeço imediatamente
pois o dia de hoje foi exaustivo.
Me levanto bem cedo e sigo direto para o banheiro, pois uma onda
de náuseas me atinge de forma avassaladora e depois delas passarem, tomo
um banho rápido e volto para o quarto para me vestir.
Enquanto me visto, faço uma prece silenciosa pedindo a Deus para
que eu não passe mal na festa na frente de todos.
Depois de vestir um vestido florido e soltinho e fazer uma trança
lateral em meus cabelos, calço minhas botas e saio do quarto. Desço as
escadas e sigo para a cozinha onde encontro Vera preparando o café da
manhã. Ela olha para mim e se assusta.
― Valha-me Nossa Senhora! O que aconteceu com você, Lari?
― Enjoo matinal, Vera.
― Misericórdia ― ela exclama. ― Senta aí que vou preparar um
chá de gengibre que ajuda com enjoo de gravidez.
Faço cara feia e ela ri.
― Não quero chá, Verinha... apenas uma xícara de café.
― Então vou trazer uma fatia de bolo de fubá que eu fiz ontem à
tardinha.
― Eu não quero comer...
― Não tem que querer, Lari... precisa comer. ― Me repreende. ―
Agora com esse bebezinho aí dentro, precisa se alimentar direito.
Fecho meus olhos por alguns segundos.
― Pode preparar dois quartos de hóspedes, por favor?
― Vai receber visita?
― O Leônidas e o piloto do seu avião virão passar o feriado aqui. ―
Informo. ― Nos falamos ontem à noite e o convidei para vir. Ele disse que
já tem o primeiro chocolate feito com o nosso café.
― É mesmo? E ele vai trazer? ― Assinto e ela sorri. ― Tô doidinha
pra experimentar.
― Eu também, Vera. ― Sorrio me sentando à mesa.
LARISSA
Eu e Leo caminhamos pela praça conversando com os moradores da
cidade e como aqui são todos como se fossem uma enorme família, buscam
por novidades e querem saber da parceria que estamos fazendo.
Deixo que ele responda, já que entende bem mais do assunto dos
chocolates do que eu e entre um morador e outro, vejo a caminhonete de
Dante contornando a praça.
Ele não está sozinho, Rúbia está com ele e começo a pedir a Deus
para que nossos caminhos não se cruzem, pois pelo pouco que pude
conhecer dela, pude ver o quanto é amarga na escolha das palavras.
― Aconteceu alguma coisa? ― Leo pergunta colocando a mão em
meu ombro enquanto andamos lado a lado.
― Não...
― Percebi que você ficou tensa.
― Está tudo bem. ― Sorrio fracamente e voltamos a caminhar.
― Oi, Larissa. ― Ouço a sua voz antes de vê-lo e fecho os olhos
por alguns milésimos de segundos antes de me virar com a cara mais neutra
que consigo fazer.
― Dante. ― Solto o ar e percebo o quanto sua expressão é fechada
e ele olha diretamente para a mão de Leo em meu ombro.
― Ah, senhor Castellamare ― Leo diz sorrindo. ― Como vai? ―
Estende a mão e Dante o cumprimenta a contragosto.
― Vejo que gostou de Preciosa ― Dante fala cruzando os braços.
― A cidade me encantou ― Leo responde olhando para mim e eu
sinto vontade de sair correndo.
― Só a cidade? ― Olho para Dante com os olhos arregalados e
então vejo Rúbia se posicionar ao seu lado e se agarrar nele.
Ela usa um vestido tão justo que a primeira coisa que me vem à
cabeça é se ele não fará mal ao bebê visto que ele pode ficar apertado...
― Na verdade, é um misto de coisas que me chamaram a atenção.
― Leo continua a responder. ― A localização, o clima, as pessoas, a
hospitalidade de todos... e quando Larissa e eu conversamos ontem e ela me
convidou para passar o feriado e final de semana aqui, não pude recusar.
― Ela o convidou. ― Dante afirma olhando para mim.
― Sim. Então aproveitei para trazer o primeiro teste da nossa
parceria.
― Você foi bem rápido ― Dante diz e Leo sorri.
― Sim. Tudo estava na minha cabeça, apenas precisei de pouco
tempo para colocar em prática.
O silêncio toma conta da conversa e eu olho para Rúbia que está
com o semblante totalmente entediado.
― E como vai a sua gestação, Rúbia? ― pergunto, ela desperta e
me encara pressionando os lábios numa linha fina.
― Ótima ― ela diz e olha para Dante enquanto desliza a mão pelo
seu braço. ― Não é, querido?
Vejo Dante dilatar as narinas e respirar fundo.
― Que bom ― digo.
― Estão ansiosos? ― Leo pergunta.
― Muito. ― Rúbia ri de forma escandalosa. ― É o que mais
queríamos não é, Dante? ― Ele não diz nada, apenas tem os olhos presos a
mim. ― Não poderíamos estar mais radiantes. ― Ela diz e Leo ri. ― E
você tem filhos? ― Ela pergunta e eu olho imediatamente para Leo que
assume um semblante triste.
― Não tive essa sorte. ― Sua voz é amarga. ― Minha esposa
faleceu antes que tivéssemos filhos.
Engulo em seco.
― Mas ainda pode tentar, não acha? ― Ela aponta o dedo de Leo
para mim e o sangue todo parece ter sido drenado do meu corpo.
― Rúbia! ― Dante a repreende e ela dá de ombros.
― Ah, não... ― Leo sorri ― não somos um casal, senhora.
― Que pena ― ela diz de forma ardilosa. ― Vocês são tão
bonitinhos juntos.
― Peço licença a vocês, pois preciso falar com seu José ― Dante
diz com raiva e sai apressado levando Rúbia com ele.
― Me desculpe, Leo ― digo num fio de voz. ― Sei que esse
assunto é delicado para você e...
― Está tudo bem, Lari. ― Ele diz sorrindo. ― Não se preocupe.
Vamos? ― Ele estende o braço para mim e voltamos a andar pela praça,
agora na direção das barracas de comida, já que o horário do almoço se
aproxima.
DANTE
Ando irritado pela calçada e então sinto um puxão em meu braço.
― Quer andar mais devagar?! ― Rúbia reclama e eu paro de andar
quando estamos em frente aos degraus da igreja. ― Não adianta ficar
nervosinho por ter visto a sua amante com outro homem.
― Não diga bobagens, Rúbia.
― Ah, estou dizendo bobagens? ― Ela debocha. ― Desde que os
viu, sua expressão mudou. Olha só para seus punhos fechados! Sabe que
isso é ridículo, já que você está comigo.
― Não estamos juntos! ― digo com raiva e algumas pessoas me
olham. ― Estamos morando na mesma casa simplesmente porque está
esperando um filho meu.
― Obrigada pela sua sinceridade, seu arrogante! ― ela bufa e com
os olhos procuro por Lari pela praça e a vejo na fila de uma barraca de
comida com aquele cara que parece estar grudado nela. ― Quero ir para
casa ― Rúbia diz irritada.
― Acabamos de chegar.
― Eu quero ir para casa. ― Ela diz pausadamente com raiva na voz.
― Isso aqui está cheio de gente, eu estou com calor e a sua companhia me
deixou cansada. Sem falar que estou começando a ficar com fome.
― Vou comprar algo para você comer...
― Mas nem morta que como qualquer coisa nessas barracas. Tudo
parece ser feito sem higiene e...
― Você precisa comer. Está grávida, porra! ― digo entredentes
perdendo a paciência e ela se cala. ― Me espere aqui.
Digo e saio de perto dela.
Procuro por uma barraca que está servindo sanduíches naturais e
compro um de peito de peru e uma garrafa de água e volto para perto de
Rúbia.
Andamos pela praça e visualizo um banco na sombra de uma árvore
e peço que ela se sente.
― Não vou me sentar aí ― ela diz. ― Está todo sujo e...
― Vai comer em pé? ― Ela dá de ombros.
― Não comprou nada para você?
― Não estou com fome ― digo de braços cruzados só observando a
interação de Larissa com o imperador do cacau.
Eles compraram algo que está sendo servido em pequenos
refratários e foram se sentar.
Rúbia geme do meu lado e eu a olho.
― Isso tem maionese... ― ela reclama ― sabe que não como
maionese e nem pão branco, Dante.
Respiro fundo e reviro os olhos pegando o sanduíche das suas mãos.
Ela abre a garrafa de água e bebe um gole.
― Poderia ter ao menos comprado água com gás...
― Você não cansa de reclamar? ― A corto e ela se assusta. ―
Desde que saímos de casa está reclamando sem parar.
― Você só tem olhos para a sua amante desde que chegamos aqui.
Está todo nervosinho, pois a viu com o imperador do cacau.
― Como sabe quem ele é?
― Internet, queridinho ― ela diz revirando os olhos.
Me irrito com suas palavras.
― Já disse para parar de falar essas coisas! ― digo em voz alta e
por sorte estamos próximos da igreja e, aqui não há muitas pessoas quanto
em volta da barraca.
― Ficou bravo de ver o cara com quem ela está transando?
― O que disse?
― Isso que você ouviu! Ficou bravo de ter visto que a sua ex-
amante está dormindo com outro cara e anda desfilando pela cidade
abraçada a ele... você perdeu, Dante. Olhe só para os dois, parecem
apaixonados... não posso negar, essa caipira é esperta. Estava com você só
até aparecer alguém mais interessante, mais bonito, mais rico...
― Vamos embora ― digo com raiva e começo a andar.
Ela segura meu braço, mas acaba se desequilibrando, dá um passo
para trás e tropeça no degrau da escada da igreja.
Em seguida cai de lado no chão em cima do seu braço e solta um
grito agudo.
Me abaixo imediatamente em seu socorro e ela me bate no ombro.
― Grosso! ― Ela grita. ― Não aguenta ouvir umas verdades, não é
mesmo?
― Está tudo bem, seu Dante? ― Alguém pergunta e eu movo a
minha cabeça para ver de onde está vindo a voz e me assusto com muitas
pessoas do nosso lado.
― Aiii meu braço. ― Rúbia grita e eu a encaro chocado, pois
segundos atrás, ela estava me batendo com o mesmo braço que ela diz estar
doendo.
― Oxe, mas o que foi que aconteceu? ― Uma mulher pergunta
assustada com as mãos no rosto.
― Ela caiu? ― Outra pergunta.
― Ela tá grávida! Um tombo desse pode fazer mal pro bebê. ―
Ouço uma outra voz falando em meio as pessoas.
― Precisamos ir para a clínica ― digo olhando para Rúbia que está
choramingando e ela me encara assustada.
― Eu não vou!
― Rúbia, não tem que querer. Você vai.
― Dante...
Me levanto e a pego no colo com cuidado enquanto ela grita que seu
braço está doendo.
As pessoas abrem passagem e eu caminho rapidamente com ela nos
braços até a rua atrás da igreja onde fica a clínica.
Assim que passo pelos portões da clínica já vejo um dos rapazes que
trabalham em minha fazenda sair de lá correndo juntamente com um
médico baixinho, careca, que usa óculos e ele carrega uma cadeira de rodas.
― Doutor... ela está grávida! ― digo e Rúbia grita levando a mão
ao braço, ele assente com a cabeça e a coloco sentada na cadeira de rodas.
Ele empurra com agilidade pela rampa de acesso que leva para
dentro da clínica e eu sigo de perto com a minha respiração acelerada pelo
exercício e pelo desespero.
― Por favor, doutor... ― suplico ― ela está esperando meu filho e
caiu... está reclamando de dor no braço, mas deve fazer um ultrassom para
ver se está tudo bem com meu filho...
― Senhor. ― Ele pede me encarando enquanto entra na sala comigo
em seu encalço. ― Peço que se acalme. Farei o que tem que ser feito. Fique
calmo e aguarde aqui.
― Dante! ― Rúbia grita e eu avanço até ela. ― Não me deixe aqui
sozinha. ― Ela choraminga com a mão na barriga e meu coração parece se
rasgar ao meio com medo de que algo aconteça a nosso filho.
― Eu estou aqui, Rúbia. Não vou a lugar nenhum ― digo
encarando o médico.
― Pode se levantar, senhora? ― O médico pede e ela nega
choramingando. ― Precisa se deitar na maca para que eu a examine.
― Eu não quero ser examinada! ― ela grita e o médico dá um passo
para trás.
― Vem, Rúbia. ― Me abaixo e a pego no colo colocando
delicadamente sobre a maca.
Ela se agarra ao meu braço.
― Dante. Não deixe que ele encoste em mim...
― Mas por quê? ― pergunto horrorizado sem entender o porquê de
ela não deixar o médico se aproximar.
― Eu já disse que não quero! ― ela grita e lágrimas escorrem pelo
seu rosto.
― Senhora, se acalme, por favor. ― O médico toma frente. ― Eu
preciso fazer meu trabalho... se a senhora quiser, seu marido pode esperar lá
fora. Ficamos só nós dois aqui se ficar mais confortável para a senhora...
― Não quero ninguém aqui ― ela grita. ― Não quero ser
examinada por ninguém.
― Mas e o bebê? ― Imploro. ― Não pode ficar sem saber se está
tudo bem com ele...
― Eu já disse para você que não quero ser consultada aqui! Quero ir
para São Paulo! ― ela grita e eu perco a paciência.
― Cale a boca, Rúbia! ― Ela se cala e respira fundo várias vezes
me olhando com ódio. ― Você caiu, machucou o braço e está grávida. O
doutor vai te examinar e você vai deixar porque se formos até São Paulo
pode ser tarde demais! Eu vou esperar aqui no corredor.
Digo, saio da sala e fecho a porta atrás de mim. Coloco a mão na
parede e abaixo a cabeça fechando os olhos.
― Dante? ― A voz calma e serena de Larissa chega até meus
ouvidos e eu levanto a cabeça para vê-la ao meu lado. O tal imperador do
cacau espera alguns passos distante. ― Nós estamos aqui e vimos tudo o
que aconteceu na praça e também aqui no consultório. Eu disponibilizo meu
avião para vocês se acaso preferirem ir para São Paulo para que ela se
consulte com o seu médico de confiança.
Respiro fundo e deixo meus braços caírem ao lado do corpo.
Um desespero toma conta de mim e lágrimas me inundam os olhos
com medo de perder meu filho.
Ela une as sobrancelhas e morde o polegar de forma preocupada.
― Obrigado, Lari, por estar aqui.
Sinto vontade de abraçá-la, sentir seu cheiro, mas... não posso. Não
aqui e não com Rúbia precisando de mim do outro lado da parede.
CAPÍTULO 26
LARISSA
Respiro fundo olhando Dante sair de perto de nós. As pessoas abrem
caminho para que ele passe e só quando ele vira a esquina é que eu me
movo.
Olho para Rúbia e a única coisa que sinto é pena.
― Eu posso levar você até a fazenda Castellamare, para pegar suas
coisas... ― começo a dizer, mas ela me corta dando uma risada quase
histérica.
― Sério? De todos os moradores desse buraco você é a única que
vai me oferecer ajuda?
Dou de ombros e me viro para deixá-la. Já que não quer a minha
ajuda, então que arrume um jeito de ir para a casa do Dante sozinha.
― Espera. ― Ela pede e eu me viro novamente para encará-la. ―
Vou aceitar a sua carona. A fazenda daquele troglodita fica a quilômetros
daqui e eu não vou poder ir sozinha até lá.
― Tudo bem ― digo. ― Então vamos.
Digo me encaminhando para a rua lateral da igreja e ela me segue de
perto, pois escuto o barulho dos seus saltos no calçamento.
Entramos na caminhonete e nos acomodamos. Leônidas vai ficar
aqui a meu pedido para tentar ir atrás de Dante. Do jeito que ele está
nervoso, é capaz de cometer uma loucura e não quero que nada aconteça
com ele.
Queria muito estar ao seu lado agora, mas entendo que ele precisa
de espaço já que sofreu emoções demais por hoje.
Cerca de metade do nosso trajeto é feita em silêncio, mas a minha
vontade é de perguntar a Rúbia o porquê de ela ter feito isso já que
convivendo com Dante por anos, sempre soube que o sonho dele sempre foi
ser pai.
― Pode perguntar. ― A ouço dizer enquanto olha para fora da
janela.
― Não entendi... ― digo e ela ri recostando a cabeça no encosto do
banco da caminhonete.
― Quer saber o porquê me sujeitei a isso, não quer?
― Esse é um assunto que diz respeito somente a vocês dois...
― Você é a amante do meu marido... não se faça de sonsa pois eu
bem sei o que está pensando.
Respiro fundo contendo a minha raiva.
― Ele não é mais seu marido e você não sabe nada a meu respeito
― digo a ela. ― Então por favor, meça as suas palavras, pois está me
atacando sem motivos.
Ela fica em silêncio por alguns segundos.
― Conheci o Dante quando estávamos na faculdade. ― Rúbia
começa e eu fico quieta esperando que ela continue. ― Ele era bonito, bem,
ainda é... forte, alto, olhos azuis e com sobrenome diferente. Conversando
com nossos colegas, soube que ele era de Minhas Gerais onde a família era
produtora de café, pesquisei mais sobre as suas origens e então vi que ele
vinha de família rica. Começamos a conversar, saímos algumas vezes e em
poucos meses ele estava completamente apaixonado por mim. Todo o
desejo e paixão que ele sentia foi se desfazendo assim que ele montou a
empresa em sociedade com o amigo. A partir de então ele virou um
workaholic e só tinha cabeça para o seu futuro. Foi me deixando de lado e
eu percebi que estava perdendo-o, então disse a ele que estava grávida.
― E você estava? ― Ela revira os olhos e bufa num sinal claro de
que era mais uma mentira. ― Ele sabe que mentiu para se casar com ele?
― O que acha? ― ela pergunta de forma debochada. ― É claro que
não. ― Suspira. ― Como a mãe o abandonou, Dante sempre quis ter uma
família e tinha uma fixação em ser pai, então apenas usei isso como forma
de conseguir prendê-lo... semanas depois do nosso casamento disse a ele
que perdi o nosso filho e lá estava o velho Dante focado no trabalho e na
vontade de ser rico a qualquer custo de volta, já que ele tinha perdido o
apoio do pai...
― Como assim perdeu o apoio do pai? ― pergunto sem entender.
― A fazenda começou a falir e o velho deixou de mandar dinheiro
para o Dante. Consequentemente, ele deixou de investir na empresa que
havia sido aberta recentemente já que o dinheiro investido era vindo do pai
que mandava todos os meses. Dante não queria gastá-lo, já que conseguia
se manter sozinho com o seu trabalho, como deixou de ser o principal
investidor, o sócio ficou com tudo e desfez a sociedade.
― E Dante perdeu tudo?! ― digo sentindo meu sangue gelar ao
saber do golpe que ele levou.
― Ele não contou a você? ― Ela ri zombando. ― Há muito que não
sabe sobe o passado dele.
― Por que você não separou dele nessa época?
Ela ri de forma amarga.
― Na família Novaes não existem mulheres separadas. Não ia pegar
bem para a sociedade paulistana se tivesse uma mulher divorciada na
família. Então quando discutíamos e ele ameaçava pedir o divórcio, eu
inventava a suspeita de uma gravidez e ele se acalmava ― ela diz de um
jeito amargo. ― Consegui por anos a fio. Sempre dizia que estava grávida
quando via que iria o perder... então seu pai morreu e deixou a porcaria
dessa fazenda afundada em dívidas. Tivemos uma discussão horrível e no
dia seguinte, ele deu a entrada no divórcio. Assinei na hora da raiva, mas
ainda ficamos morando no mesmo apartamento, pois eu me recusava a sair
dali já que era meu por direito de ficar casada com ele por tantos anos.
― E de onde surgiu essa ideia de gravidez? ― pergunto pois não
faz sentido já que eles estavam brigando sem parar.
― Dante sempre foi um homem muito quente, mas isso você já
deve ter notado... ― ela debocha ― bastava só me insinuar para ele que ele
esquecia completamente de tudo e a gente acabava na cama. Então o
maldito advogado deu um ultimato nele e ele simplesmente decidiu me
deixar em São Paulo e vir para esse fim de mundo. Pensei que fosse apenas
uma visita, mas quando percebi que ele não iria voltar, resolvi agir.
― E não pensou em chegar aqui e tentar reconquistá-lo? ―
pergunto, pois para mim parece o caminho mais óbvio.
― Ele não ia nem sequer me ouvir... então simplesmente usei o que
fiz por muitos anos. A desculpa de que estava grávida.
Entramos na propriedade de Dante e, eu ainda estou sem acreditar
em tudo o que acabei de ouvir.
― E não passou pela sua cabeça que mais dia, menos dia ele iria
descobrir?
― Usaria a desculpa de um aborto espontâneo como sempre usei.
Encosto a caminhonete em frente à casa de Dante e desligo o motor.
O silêncio toma conta de tudo ao redor de nós duas e ela ri sem
humor.
― O que eu não imaginava é que ele estaria obcecado por duas
coisas: essa maldita fazenda e você. ― Fico em silêncio apenas escutando.
― Tentei a todo custo que ele me quisesse de volta, mas algo dentro dele
mudou. Agora ele parece outro homem, totalmente diferente do Dante que
eu conheci.
Ela abre a porta da caminhonete e desce.
― Rúbia? ― A chamo e ela me encara. ― Eu não sei se sabe, mas
como é feriado, a rodoviária de Preciosa deve estar fechada e o aeroporto
mais próximo onde conseguirá um voo é o de Belo Horizonte. Daqui a
pouco irá anoitecer... eu tenho meu jato particular, se quiser posso pedir ao
piloto que te leve para São Paulo...
― Quer mesmo se livrar de mim o mais rápido possível, não é? ―
ela pergunta rindo e depois fica séria me encarando. ― Eu percebi o modo
como ele te olha. Mesmo que eu estivesse realmente grávida coisa que
nunca vai acontecer pois tenho horror a crianças, ainda assim eu não teria
Dante para mim. O olhar dele é completamente diferente quando lançado a
você e eu odiaria cada segundo aqui tendo que ver vocês dois juntinhos.
Vou aceitar a ajuda que está me dando. ― Ela se afasta da caminhonete. ―
Quero ir embora dessa droga de lugar o mais rápido possível e esquecer que
fiquei por semanas presa aqui.
Respiro fundo contendo a vontade de retrucar suas palavras e
simplesmente aceno com a cabeça.
― Meu capataz, Josué virá te buscar em uma hora e a levará até a
pista de pousos e decolagens da minha fazenda. ― Lanço um último olhar
para ela. ― Adeus, Rúbia.
Ligo o motor, manobro a caminhonete e vou embora.
Pelo retrovisor a vejo entrando na casa de Dante.
Espero que um dia ela se arrependa de tudo o que fez.
A única coisa que me consola é saber que agora Dante está livre
dela.
Ao mesmo tempo que sinto alívio, fico angustiada por ele ter caído
mais uma vez na mentira de Rúbia.
Ela foi cruel e mesquinha com ele desde que o conheceu, mas agora
ele poderá seguir em frente, já que se libertou de vez das garras dela.
CAPÍTULO 27
LARISSA
Caminho de um lado para outro na sala de casa e quando Josué
passa pela porta de entrada, me viro para ele.
― A levou até a pista? ― pergunto, pois ele ficou de pegar Rúbia
na casa de Dante e levá-la até a pista da fazenda para embarcar em meu
jato.
― Sim. E fiquei esperando até ele decolar para ter a certeza de que
ela foi mesmo embora ― ele diz se sentando no sofá.
― Obrigada. ― Agradeço a ele e volto a andar enquanto levo o
polegar até a boca e o mordo.
― Por que está preocupada? ― Josué pergunta e eu paro de andar
me virando para ele.
― Leônidas foi atrás do Dante depois do escândalo na praça e eles
sumiram...
― Não aconteceu nada, Lari ― ele diz. ― Fique tranquila.
― Como sabe?
― As notícias ruins sempre chegam primeiro. ― Josué é frio na
escolha das palavras e eu mordo meu dedo. ― Já vai anoitecer, vai ver eles
estão conversando em algum lugar. Os dois têm o seu número de celular e o
fixo, se precisarem ou se acontecer qualquer coisa irão te ligar.
Respiro fundo e solto o ar, cansada.
― Eu sei, mas... ― Não termino de falar pois Leo bate à porta de
entrada e passa por ela. ― Leo! ― Corro até ele. ― Onde se meteu? Estava
com o Dante? ― pergunto preocupada e ele sorri me tranquilizando.
― Estava com o Dante sim, fomos até um restaurante tomar uma
cerveja e conversar.
― E como ele está? ― pergunto ansiosa.
― Ele está bem ― Leo diz. ― Dante me deixou na entrada da sua
fazenda e foi para casa. Ele vai ficar bem, Lari. Só precisa de um tempo
para processar tudo o que aconteceu.
Engulo em seco e a minha vontade é de ir correndo até sua casa para
ficar com ele, mas então apenas assinto e sigo até o sofá onde me sento.
Imagino pelo que ele está passando e eu no lugar dele também
preferiria ficar sozinha remoendo o que aconteceu. Se Dante precisa de um
tempo para absorver tudo o que sofreu, eu darei esse tempo a ele.
CAPÍTULO 28
DANTE
Contorno a praça do centro de Preciosa com a caminhonete e entro
na rua de trás da igreja, assim que paro no estacionamento da clínica, me
viro para Larissa.
― Quer entrar sozinha? ― Ela franze o cenho sem entender. ―
Talvez não queira ser vista junto comigo...
― De forma alguma, Dante. ― Ela solta o cinto de segurança e se
inclina na minha direção. ― Sei que a Rúbia foi embora recentemente e
você ainda deve estar pensando que as pessoas irão comentar, mas os
cidadãos de Preciosa não são assim. Quer dizer, a fofoca corre rápido, mas
ninguém vai ser grosseiro com você. Tenho certeza.
― Eles podem comentar que a Rúbia mentiu estar grávida de mim,
ao mesmo tempo em que você também está... não quero que falem de você,
leoazinha.
― Eu não me importo, Dante...
― Mas eu me importo. ― Ela engole em seco. ― Façamos o
seguinte, você entra e em seguida eu entro. Ao menos por enquanto. ― Ela
umedece os lábios e em seguida leva o polegar à boca e o morde. ― Vamos
esperar por alguns dias... depois contamos para todos.
Larissa concorda a contragosto.
― Se eu quisesse esconder a minha gravidez e o pai do meu filho,
nunca teria te contado. Simplesmente me afastaria de Preciosa até que o
bebê nascesse e depois voltaria e inventaria uma desculpa qualquer... diria
que o adotei e pronto. O problema, Dante Castellamare, é que eu lhe contei
e ainda por cima quis que você participasse da minha primeira consulta
porque além de você ser o pai, ainda me pediu em casamento no dia de
ontem, então desculpe se eu entendi tudo errado e não queira ser visto
comigo para não parecer para a cidade toda que engravidou duas mulheres
ao mesmo tempo sendo que uma delas nem estava grávida de verdade e
mentiu para você e a cidade inteira ficou sabendo! Na realidade você talvez
nem esteja se importando com o fato de todos falarem de mim, mas sim de
você. ― Ela solta a bomba e desce da caminhonete.
Sem me esperar, ela segue andando pelo estacionamento e eu a vejo
entrar na clínica.
Respiro fundo e solto o ar pela boca.
Eu mereci ouvir tudo isso. Não queria que ela ficasse mal falada,
mas nem sequer perguntei o que ela achava de tudo isso.
Devia ter perguntado a ela como queria que agíssemos daqui para
frente.
Saio da caminhonete e ando devagar até a clínica, quando entro a
vejo entrando numa sala acompanhada de uma médica. Sigo até lá e antes
que a médica feche a porta, eu coloco a mão a impedindo.
― Pois não, senhor? ― A médica pergunta.
― Eu estou com ela ― digo e tanto Larissa quanto a médica me
olham surpresas.
― Mas senhor, essa é uma consulta de... ― a médica começa e eu a
impeço de continuar.
― Eu sou o pai do bebê que a Larissa está esperando ― digo em
voz alta e vejo um pequeno sorriso se abrir nos lábios da minha leoazinha.
A médica me deixa entrar e pede para que nós nos sentemos nas
cadeiras a sua frente.
Ela começa fazendo perguntas de rotina para Larissa e quando a
vejo ficar nervosa, pego sua mão e a seguro entre as minhas transmitindo-
lhe segurança.
Agi errado querendo esconder de todos que ela estava grávida até o
assunto Rúbia ser esquecido, mas não posso negligenciar a sua gravidez e é
como ela mesma disse, agora vamos nos casar e acho melhor todos já irem
se acostumando.
Quando Larissa se deita na maca e a médica começa a se preparar
para o ultrassom, eu sinto meu corpo todo gelar.
Engulo em seco e meus olhos focam a tela ao lado da maca. Meus
ouvidos zunem e depois só há o silêncio... vejo elas conversarem, mas não
consigo ouvir nada, apenas as suas bocas mexendo... então eu escuto as
batidas apressadas do coração do meu filho e o mundo parece parar de girar.
Larissa olha para mim com os olhos marejados e eu continuo parado
em pé alguns passos mais atrás, como se tivesse me transformado numa
estátua.
― Está tudo bem com o senhor? ― Ouço a voz da médica ao longe
e só então é que saio do meu transe.
― Sim ― balbucio e sorrio para minha leoazinha.
Me aproximo e puxo uma cadeira me sentando ao seu lado.
Seguro a mão da Lari e vejo as lágrimas dela escorrerem por seu
rosto delicado.
Acredito que serei outro homem de hoje em diante.
Procurarei ser o melhor em tudo, para que diferente de mim, meu
filho se sinta orgulhoso de carregar o sobrenome Castellamare.
CAPÍTULO 33
DIAS DEPOIS
A semana passou voando e no mesmo dia em que eu e Larissa
fomos até a clínica, Leônidas mandou a sua equipe de agrônomos para
fazerem uma análise do solo e do clima.
Eles levaram amostras até o laboratório para analisar e Leônidas
entrou em contato comigo no dia seguinte dizendo que até o final dessa
semana, ele teria resultados precisos, mas até agora nada de notícias dele.
Fiquei a semana toda focado na construção do alojamento dos
funcionários e também em melhorias por toda a fazenda e nesse meio-
tempo, procurei dar o máximo de atenção a minha irmã, pois ela voltará
para sua casa na semana que vem.
Seu José e dona Esmeralda vieram até a fazenda e minha irmã
gostou muito do casal. Dona Esmeralda até voltou mais vezes durante a
semana para fazer visitas a Ana e a levou até sua casa e também a escola já
que soube que ela é professora.
As duas se deram muito bem e, Ana é tratada como filha por eles
assim como eu fui quando os conheci.
Tenho um orgulho imenso em ter feito amigos tão bons em Preciosa
e então me lembro dos colegas que tinha em São Paulo, que nunca mais
entraram em contato para saber como eu estava.
Falei com Larissa todos os dias dessa semana, mas devido aos
nossos compromissos, não consegui vê-la.
Ela dará um jantar em sua casa hoje para comemorar a parceria com
Leônidas, eu e Ana fomos convidados e minha irmã não fala em outra coisa
a não ser nesse jantar.
No final da tarde vejo o jatinho de Leônidas chegar na fazenda
Florescer, então sigo para casa para tomar banho e trocar de roupa e
encontro Ana já pronta.
Ela usa seus tradicionais jeans, mas dessa vez está com uma
sandália de salto, uma camisa azul com bordados de flores e borboletas nos
ombros e seus cabelos estão presos com uma presilha que brilha conforme
ela mexe a cabeça.
― Estou apresentável para conhecer a família da sua noiva? ― Fico
em silêncio apenas observando o fato de que ela se arrumou especialmente
para conhecer Lari e as pessoas que importam para ela. Ana passa as mãos
pela roupa num gesto nervoso. ― Se eu soubesse teria trazido um vestido
ou algo mais apropriado...
― Você está linda, Ana. ― Ela sorri e eu respiro fundo. Queria
muito estar junto dela em cada passo importante que ela deu em sua vida.
― Larissa e os outros irão gostar de você.
― Tomara. ― Ela sorri nervosamente.
― Só vou tomar um banho e trocar de roupa. Já volto para irmos.
Ela concorda e se senta no sofá para me esperar.
Corro até meu quarto onde me apresso para tomar um banho e
enquanto me visto, meu telefone toca com o código de área de São Paulo.
― Ah, meu Deus... ― pego o aparelho nas mãos e me sento na
cama, pois a única pessoa que me lembro é Rúbia. ― Alô?
― Dante? ― Uma voz masculina soa do outro lado.
― Sim.
― Oi, Dante, aqui é Hélio Novaes, pai da Rúbia.
― Oi, seu Hélio, tudo bem?
― Sim... na medida do possível. ― Meu corpo todo gela de receio
sem saber o que ele quer. ― Estou te ligando para conversar com você por
alguns minutos... está podendo falar?
― Claro. ― Acabo dizendo. Não posso simplesmente falar a ele
que estou indo para um jantar, pois estou curioso com a sua ligação.
― Dante, eu e minha esposa ficamos sabendo o que Rúbia aprontou
quando foi te visitar em Minas Gerais e tudo o que ela fez durante todos
esses anos que ficou casada com você. ― Engulo em seco e fico em
silêncio esperando que ele continue. ― Eu sinto muito, Dante. Por tudo o
que minha filha fez você passar...
― Está tudo bem, seu Hélio. Tudo ficou no passado.
― Você é um bom homem, Dante. Uma pena a minha filha ter feito
o que fez com você...
― Fique tranquilo, senhor ― digo sincero. ― Como disse
anteriormente, já é passado.
― Eu sei, mas de alguma forma sinto pelo que passou... a Rúbia foi
com a mãe para a Europa para passar uma temporada por lá. Quem sabe
assim, ela areje a cabeça e pense no mal que causou.
Como é? A Rúbia faz o inferno em minha vida e me faz passar uma
vergonha sem tamanho na frente da cidade inteira e como punição, vai para
a Europa para “arejar a cabeça”?
Respiro fundo e solto o ar irritado.
― Sei que ela fez você deixar tudo o que compraram no tempo de
casados para ela, Dante, mas como sou justo, vendi o apartamento e os
carros e a sua parte coloquei em sua conta hoje de manhã.
― Mas seu Hélio...
― Não se preocupe, filho. Já tomei conta de tudo, inclusive da
Rúbia e prometo a você que ela não vai te incomodar nunca mais.
― Não precisava ter vendido tudo o que deixei para ela...
― É injusto e mesquinho da parte dela ficar com tudo depois de ter
feito um inferno na sua vida. Mas agora ela vai aprender e irá crescer na
marra. Nós nos vimos poucas vezes em todos esses anos e agora entendo
que foi Rúbia quem cuidou para que nós não nos encontrássemos e eu
acabasse descobrindo o que ela vinha fazendo com você, mas quero que
saiba que o considerei e ainda o considero como filho e espero que você
seja feliz em sua vida.
― Obrigado, seu Hélio. ― Consigo articular as palavras depois de
tentar assimilar o que acabei de ouvir.
― Agora tem meu número, Dante e se precisar de algo, pode contar
comigo. Muito obrigado por ter cuidado da Rúbia, mesmo ela não
merecendo e... espero que realize seus sonhos, rapaz. Tenha um bom final
de semana.
― Para o senhor também. ― Ele encerra a ligação e eu encaro o
vazio.
― Mas que diabos acabou de acontecer?
Me levanto e antes de sair do quarto verifico o aplicativo do banco e
vejo a transferência de quase oitocentos mil reais feita por Hélio Novaes e
acabo me sentando na cama novamente sem acreditar.
Rúbia foi infantil e completamente manipuladora desde sempre
comigo, e como não queria e ainda não quero problemas para mim, acabei
deixando tudo com ela, mesmo sem ter a necessidade já que ela vem de
família rica.
E agora fico sabendo que o pai dela descobriu tudo o que ela
aprontou e se desfez de tudo o que deixei para ela e me deu a metade!
Balanço a cabeça sem acreditar.
Ela deve ter ficado muito brava com o que o pai fez.
Ou talvez não, já que está na Europa para colocar a cabeça no lugar.
Acabo rindo da situação inacreditável que acabou de acontecer e me
dou conta de que Rúbia nunca vai mudar, já que os pais sempre acobertam
tudo o que ela faz.
Descobriram que ela mentiu para mim por anos e veio para Minas
Gerais para mentir mais ainda e o que eles fazem? Dão a ela uma viagem
para a Europa como “castigo”.
É inacreditável!
Termino de me arrumar, saio do quarto e encontro com Ana na sala.
― Vamos?
― Sim. ― Ela me encara de cenho franzido. ― Aconteceu alguma
coisa?
― No caminho eu te conto.
Saímos de casa e nos encaminhamos para o galpão onde guardo a
caminhonete e depois que subimos no veículo, começo a contar sobre a
ligação que recebi de Hélio, enquanto seguimos para casa da Larissa.
Assim que estaciono em frente à casa de Larissa, Ana me olha
chocada.
― É bem o que dizem, que há certas coisas que você não perde e,
sim, se livra. ― Sorrio. ― Agora, vamos esquecer tudo isso, está bem?
― Eu já esqueci ― digo e ela sorri ao descer pela porta do
passageiro.
― Esta fazenda é maravilhosa, Dandan. Me lembre de dar os
parabéns para quem cuida de tudo ― Ana diz entusiasmada enquanto olha
para atentamente para todos os lados.
― Eu fico muito agradecida que você tenha gostado. ― Ouvimos
uma voz vinda da casa e nos viramos para ver Vera parada na porta.
Me apresso para apresentá-las.
― Ana, essa é a Vera, a mulher mais importante da vida da Larissa.
Vera, essa é a Ana, minha irmã.
― Você é a carinha da sua mãe. ― Vera diz abraçando-a. ― Tão
linda quanto a dona Graça era. Sinto muito pela sua perda, saiba que ela era
uma mulher muito boa e nós nunca esquecemos dela aqui em Preciosa.
― Obrigada, dona Vera ― Ana diz com os olhos cheios de
lágrimas.
― Pode me chamar de Vera, menina. ― Ri enquanto passa a mão
enrugada pelo rosto de Ana. ― Esse menino aqui disse que você é muito
boa na cozinha.
― Ah, disse? ― Ana pergunta envergonhada.
― Disse sim. Tenho um monte de receitas pra te passar.
― Eu vou adorar, Vera.
― Venham, entrem. Tá todo mundo aqui na sala esperando vocês.
Assim que entramos na casa, vejo Larissa que se levanta do sofá
para nos receber.
Ao lado dela estavam dona Esmeralda e seu José e no outro sofá,
Leônidas e Josué que se levantam para nos recepcionar.
― Ana, essa é a Larissa. Lari, Ana, minha irmã.
― Que prazer poder finalmente te conhecer direito ― Lari diz
abraçando Ana. ― Me desculpe pelo que fiz na sua frente na segunda-feira.
― Lari diz baixinho só para Ana ouvir.
― Está tudo bem. ― Ana sorri. ― Olhando agora, qualquer pessoa
pensaria o que você pensou. Eu é que tenho que te pedir desculpa por não
ter esclarecido tudo na hora.
― Mas no fim tudo terminou bem, não foi? ― pergunto e elas riem.
Apresento Ana a Leônidas já que os outros ela já conhece, então só
os cumprimenta e eu faço o mesmo.
Quando Ana cumprimenta Josué, percebo que ela fica vermelha e
baixa o olhar. Acho estranho, pois é a primeira vez que a vejo retraída perto
de alguém desde que chegou aqui.
Lari diz que o jantar está pronto para ser servido e nos encaminha
para a sala de jantar onde uma mesa grande está preparada para todos nós.
Vejo Ana pedir para trocar de lugar com seu José pois segundo ela
quer ficar ao lado de dona Esmeralda para conversarem. Meus olhos vão
direto para Josué que já estava sentado em seu lugar e ele olha para Ana de
um jeito diferente.
Mas o que está acontecendo? Tenho que me lembrar de conversar
com ela e perguntar o que acha de Josué. Talvez ela não tenha gostado do
jeito dele por ele ser direto com palavras e soe meio amedrontador. Não
quero que minha irmã fique desconfortável na sua presença e preciso
entender o que está deixando-a assim.
Assim que nos acomodamos, Lari que ainda está em pé, chama a
nossa atenção e olha para mim antes de continuar.
― Bem, eu quero agradecer a presença de todos vocês aqui essa
noite e antes que comecemos a comer, quero falar o porquê desse jantar. ―
Ela faz uma pausa. ― Eu e Leo finalmente assinamos o contrato e agora o
café da fazenda Florescer estará presente nos chocolates de Leônidas
Guimarães. ― Todos damos os parabéns e assim que o burburinho cessa,
Lari continua. ― Mas as novidades não param por aí. ― Ela está nervosa,
pois começa a esfregar as mãos uma na outra. ― Bem, como a maioria de
vocês já sabem, eu e Dante estamos juntos e no começo dessa semana ele
me pediu em casamento e eu aceitei. ― Ela sorri mostrando o anel
enquanto todos dão os parabéns, só que dessa vez para nós dois e quando
percebem que ela ainda tem mais a falar, todos ficam em silêncio
esperando. ― E agora a última novidade da noite, ao menos da minha parte
já que o Leo também tem algo a dizer... ― Ela respira fundo e sorri ― eu e
Dante estamos esperando um bebê.
Agora sim há uma confusão de vozes, risadas e choro por parte das
mulheres.
Todos nos levantamos dos nossos lugares e recebemos os parabéns,
votos de felicidade e saúde para nosso filho.
Vera nos traz uma jarra com água e uma garrafa de espumante, que
Leônidas trouxe de um dos seus clientes do Sul e quando estamos todos
servidos, Leônidas olha para mim.
― Antes que todos brindemos, tenho um comunicado para fazer. ―
Ele diz. ― Eu e Dante conversamos dias atrás e eu lhe confidenciei que
estava interessado em abrir uma filial aqui no estado. Ele então me sugeriu
que eu também plantasse o cacau aqui, para a matéria-prima ficar mais
próxima da fábrica. Conversamos por mais algum tempo e como ele
ofereceu uma parte da sua fazenda para o plantio das árvores, mandei a
minha equipe aqui para fazer uma análise do solo da sua fazenda, e hoje
vim a pedido da Larissa para esse jantar de comemoração e também para
dizer que sim, o solo da fazenda Castellamare e o clima de Preciosa são
ideais para o plantio do cacau.
Nem acredito nas palavras que saem da boca de Leônidas e só me
dou conta de que tudo é real quando Lari e Ana me abraçam enquanto me
parabenizam.
Ainda estou anestesiado quando Leônidas vem até mim e me
estende a mão. Em seguida seu José vem me cumprimentar com um abraço
forte. Ele que é meu principal incentivador, desde que botei meus pés em
Preciosa.
Depois de fazermos o brinde nos sentamos para jantar e enquanto
conversamos animados durante a refeição me dou conta de que quando
cheguei aqui, era somente eu e a fazenda quase falida e por muitas vezes
tive medo achando que morreria igual meu pai, sozinho sem ter uma pessoa
que me ame de verdade para chorar sobre meu caixão quando partisse desse
mundo.
E hoje aqui sentado à mesa com meus amigos, minha irmã e a
mulher que amo que está à espera de um filho meu, tenho a certeza de que
não poderia estar mais errado em pensamentos, pois finalmente sei que não
terminarei meus dias sozinho.
FIM
EPÍLOGO
MESES DEPOIS
Ando de um lado para outro dentro do meu quarto visivelmente
nervoso e então a porta se abre e Leônidas passa por ela.
― O que está acontecendo? ― ele pergunta assim que me vê.
― Eu estou nervoso.
― E por quê?
― Sei lá, estou com medo de que a Larissa não apareça. ― Ele ri.
― E por que não apareceria? ― Ele cruza os braços. ― Vocês estão
morando juntos na casa dela desde antes do filho de vocês nascer.
― Mas é diferente. ― Caminho até a janela e olho para a plantação
de café e os pés de cacau um pouco mais adiante. ― Eu reformei a casa e
toda a fazenda que era do meu pai, agora ela está exatamente como eu me
lembro dela. Bonita, produzindo e com funcionários satisfeitos, mas eu
ainda sinto que está faltando algo...
― Talvez seja o casamento entre vocês dois? ― Ele dá de ombros.
― É, mas seria muito egoísta da minha parte pedir ainda mais
depois de ter recebido tanto da vida?
― E o que seria esse “mais”?
― Queria que as minhas irmãs viessem para Preciosa em definitivo.
Poderiam morar aqui já que agora moro com a Lari na Florescer e essa casa
acabou ficando para visitas, clientes e pessoas que vêm até Preciosa para
fechar negócios conosco e precisam ficar por mais de um dia por aqui. A
fazenda Castellamare também é delas de alguma forma já que são minhas
irmãs e tem direito. ― Solto o ar. ― A Ana gosta daqui, quando vem passar
uns dias conosco, sinto que ela não quer mais voltar, mas acredito que ela
só não tenha vindo por causa da Raquel...
― Mas a Raquel não está morando com o namorado no Sul?
― Sim, mas ela meio que controla a Ana, talvez por ser a mais
nova... eu a conheci e a vi uma vez apenas quando fui a Juiz de Fora, assim
que soube por Ana que ela estava lá... percebi que a Raquel tem um
temperamento que é totalmente difícil de lidar.
― Mas se ela quase nem vai para a casa de Juiz de Fora, por que
Ana não vem para cá morar com vocês? Assim ela não fica sozinha lá e
você pode ter sua irmã por perto.
― Não foi por falta de convite, Leo. ― Apoio a mão no batente da
janela. ― Ana estava indecisa sobre vir ou não e de tanto eu quanto Larissa
insistirmos muito na mudança dela para cá, ela nos deu a desculpa do
contrato com a escola que ela leciona...
― E quando acaba esse contrato?
― No final do ano.
― Bem, ainda tem algumas semanas, não? ― Dou de ombros e
respiro fundo. ― Quem sabe ela não se mude de vez para cá, quando esse
contrato acabar.
― Seria uma maravilha.
Volto a andar pelo quarto e Leo ri.
― Vai abrir um buraco no chão que acabou de passar por uma
restauração?
― Pode ir até lá fora e conferir se a Larissa e o José Rafael já
chegaram?
Leo respira fundo e assente saindo do quarto e me deixando sozinho
com meus pensamentos. Somente Ana e Vera para terem tido a ideia maluca
de fazer Larissa se arrumar na casa dela.
Ele volta minutos depois e abre a porta sorrindo.
― Já chegaram. Então já pode ir.
Ele diz e eu me olho no espelho uma última vez. Ajeito a gravata e
saio do quarto o seguindo até a parte de trás da casa, onde arrumamos um
espaço grande para o nosso casamento.
Ao ir até lá, passo por diversos convidados e os cumprimento.
Todos nossos amigos estão presentes e também os funcionários das
duas fazendas e bem, na verdade, Preciosa inteira está aqui já que tanto eu
quanto Larissa conhecemos a todos.
Me posiciono no altar ao lado do padre e devagar todos vão se
acomodando nas cadeiras decoradas com flores e assim que está tudo
pronto, ouvimos uma música suave começar a tocar e então vejo Ana
carregando José Rafael nos braços entrar pelo corredor.
Sorrio ao ver meu filho nos braços da minha irmã e ele abre um
pequeno sorriso banguela ao me ver. Fico surpreso ao me dar conta de que
eles entraram carregando as alianças. Ana se posiciona ao lado de Vera que
está ao lado de Ferreira e de seu José com dona Esmeralda e, por um
segundo lembro dos meus pais e queria muito tê-los aqui comigo nesse
momento especial.
Não é a primeira vez que me caso, mas desta vez é completamente
diferente do que assinar os papéis num cartório frio somente com as
testemunhas presentes e depois voltar para casa.
Hoje é um dia que ficará marcado para sempre em minha memória.
A música muda e então todos se viram para trás. Minha respiração
acelera e eu a vejo.
Larissa está sorridente e linda demais. Caminha ao lado de Josué na
minha direção e ela parece flutuar.
Seu vestido é rendado e justo ao seu corpo que ficou ainda mais
lindo depois da gravidez. Seus cabelos estão cacheados e penteados para o
lado e deles saem pequenas flores brancas que a deixam ainda mais
deslumbrante.
Nas suas mãos está um buquê com lírios brancos e juro que se
pudesse eternizar uma memória, essa seria perfeita.
Quando eles chegam até mim, cumprimento Josué com um aperto
de mão firme e beijo a testa da minha leoazinha.
Nos viramos para o padre e ele então começa a cerimônia.
Capítulo 01
Elena Vasconcelos
Sorrio enquanto vejo Vinícius entrar no banheiro, depois de termos
feito o sexo mais selvagem das nossas vidas.
Me jogo na cama, puxo o lençol sobre meu corpo, fecho os olhos
por alguns segundos e então o celular dele apita com a notificação de que
uma mensagem chegou.
Como nunca tivemos segredos entre nós e ele está prestes a sair para
o trabalho, resolvo desbloquear o aparelho e verificar a mensagem torcendo
do fundo do meu coração para que seja o chefe dele avisando que Vini não
precisa ir trabalhar, já que hoje é domingo.
Enquanto me sento na cama, penso no look que usarei quando
sairmos para passear no shopping e já me imagino comendo um delicioso
hambúrguer e uma porção de batata frita com refrigerante.
Desde que compramos o apartamento no ano passado, evitamos ao
máximo sair de casa para economizar, ele além de trabalhar em uma fábrica
de produtos químicos no segundo turno, ainda pegou o terceiro turno em
outra empresa como vigia e eu tenho feito muitas campanhas para diversas
empresas para nos livrarmos das dívidas o mais rápido possível.
Não tem sido fácil, eu trabalho das 7h da manhã até quase 23h todos
os dias, tirando apenas o domingo de folga, enquanto Vini trabalha os sete
dias da semana.
Faz meses que não saímos juntos, e eu nem sei mais o que é passear
de mãos dadas com meu noivo.
Pego o celular em minhas mãos e desbloqueio a tela. Vini nunca foi
adepto a tecnologia e por ele, ainda teria um celular que só fizesse ligações,
se eu não tivesse dado esse aparelho para ele.
Abro o aplicativo de mensagens e não é seu chefe. Vini trabalha na
mesma fábrica desde que saímos da faculdade e eu conheço todas as
pessoas que trabalham lá. Quanto a outra empresa, eu não conheço
ninguém, pois o serviço dele é recente. Quem mandou mensagem não é
nenhum dos chefes e sim um número que não está salvo em seus contatos.
A foto é de uma mulher desconhecida por mim ao lado de Vini. A
minha vista fica escura por alguns segundos e meu corpo todo gela.
Olho para a porta do banheiro fechada e escuto o barulho do
chuveiro. Minhas mãos tremem e então eu faço o óbvio, clico na mensagem
para ver do que se trata.
“Oi, amor. Já comprei os ingressos para a sessão das 20h, depois
do filme podemos ir até o mercado? Preciso comprar algumas coisas aqui
para casa.”
Como é?
Minha cabeça dá um nó e eu sinto o coração bater na garganta.
Meu Deus...
Que não seja o que eu estou pensando.
Clico na foto do perfil e eles dois estão abraçados com a praia ao
fundo.
A foto é recente, pois essa camisa que ele está usando na foto foi
dada por mim a cerca de dois meses atrás, quando ele reclamou que não
tinha uma roupa elegante para sair.
Sair com ela? Já que fazia quase um ano que não saíamos mais?
Meu Deus!
Saio da mensagem, seleciono ela e marco como não lida.
O chuveiro é desligado e então eu decoro o número rapidamente e
quando ele volta para o quarto enrolado na toalha branca, eu olho no fundo
dos seus olhos.
― Nós bem que podíamos sair hoje, né? ― digo ainda sentindo o
coração batendo no pescoço.
― Eu tenho que ir para o trabalho, Lena...
― Podia dizer ao Celso que está passando mal e está indo para o
Pronto Atendimento... na internet há várias fotos de pessoas tomando soro...
podia pegar uma delas e enviar para ele e amanhã você leva um atestado. ―
Dou de ombros, pois quem nunca fez isso, não é mesmo?
― Não posso, Lena... é fim de mês e a empresa fica uma loucura
essa época.
― Tudo bem, então. ― Me levanto e sigo até o banheiro.
Enquanto tomo banho, mentalizo o número de celular e traço um
plano em minha cabeça.
Assim que ele sair de casa, eu vou montar a estratégia perfeita para
descobrir tudo e desmascará-lo.
Farei isso amanhã mesmo.
***
Depois que preparo sanduíches para comer, ele sai do quarto todo
arrumado e eu o encaro por alguns segundos.
Vinícius sempre foi lindo. Loiro, alto, olhos verdes, corpo atlético e
com um sorriso que me deixa de pernas bambas, mas depois daquela
mensagem, é como se ele se transformasse em outra pessoa e ele perdeu
todo o encanto.
― Fiz sanduíches ― digo com um sorriso congelado no rosto,
enquanto aponto para a mesa.
― Ah... eu não vou comer ― ele diz se desculpando. ― Já estou
atrasado, na verdade. ― Ele fala olhando para o relógio. ― Preciso ir.
Tchau, amor.
Vem até mim, me dá um beijo rápido nos lábios e sai me deixando
sozinha em casa.
Agora no silêncio, a minha mente fervilha, corro até o quarto e me
sento na frente do meu notebook.
Trabalho em uma empresa de marketing e propaganda, fazemos as
melhores e mais encantadoras propagandas para as mais diversas marcas
presentes no mercado, e como meu trabalho não exige a minha presença
sempre na empresa, de vez em quando trabalho em home office e posso
muito bem ligar para o número da mulher que mandou mensagem e
perguntar algumas coisas.
Como não posso ligar agora, já que segundo ela, eles irão sair, pego
a minha agenda e anoto o número dela para não esquecer.
Me recosto na cadeira e fecho meus olhos respirando fundo.
― Ah, Vinícius... se você estiver me enganando, vai se arrepender
amargamente de ter feito isso.
***
Passei a noite toda acordada e quando o celular desperta, eu apenas
o desligo e me levanto. Tomo meu banho relaxante, visto a minha melhor
roupa e depois de tomar um delicioso café da manhã, me sento em frente à
minha área de trabalho no quarto extra que temos no apartamento, quarto
esse que seria do nosso futuro bebê.
Balanço a cabeça lembrando dos nossos planos e sorrio
amargamente.
Imagina só, ter a vida toda planejada, namoro, noivado, compra de
um apartamento, economizar para o futuro, depois casamento, filhos,
estabilidade financeira...
Porra, Elena!
Para tudo isso ser arrancado de mim com uma mensagem de texto?
Uma lágrima solitária escorre por meu rosto e então ouço o barulho
da porta da entrada sendo destrancada. Vinícius chega às 8h30 da manhã,
sua hora habitual de chegar em casa, finjo já estar trabalhando, ele vai para
o quarto e logo escuto seu ronco, um sinal claro de que dormiu
imediatamente. Por mais que eu tente ser um ser humano evoluído,
confesso que ainda fico pensando nos mais diversos tipos de vingança.
Por fim, finalmente ligo o notebook, encontro o número da dita cuja
e ligo. Não me preocupo em acordá-lo já que ele praticamente desmaia toda
vez que chega do trabalho.
Aguardo e ela atende. Entro no modo profissional e falo com voz
amistosa fingindo ser uma vendedora de planos de saúde.
― Olá, bom dia. Com quem eu falo?
― Bom dia. Juliana.
― Oi, senhora Juliana, meu nome é Ana e trabalho na empresa
Planos de Saúde Vida Mais e eu estou entrando em contato para oferecer
planos de saúde. ― Invento nome e empresa falsos para que ela não
desconfie.
― Ah, eu não quero não, moça.
― Senhora Juliana, as estatísticas mostram que muitos acidentes
acontecem todos os dias e muitas doenças são descobertas... a senhora tem
marido e filhos?
― Sim, tenho marido, mas não temos filhos.
― E vocês são casados há muito tempo?
― Menos de seis meses. ― Puxo o ar com força e mordo a minha
mão contendo a vontade de gritar.
― Uau, ainda estão em lua de mel. ― Rio falsamente depois de me
recompor e ela me acompanha. ― E que tal eu oferecer um plano para
vocês dois? Posso pegar seus dados e fazer um orçamento sem
compromisso. Preciso somente do nome completo de vocês dois e as
idades...
― É... pode ser ― ela diz depois de uma pausa. ― Ele trabalha em
dois turnos e eu fico preocupada em casa...
― Nossa e esse mundo anda tão perigoso, não é? ― Solto uma
preocupação falsa e ela concorda. ― Não se sabe o que pode acontecer, não
é mesmo?
― Sim... meu nome é Juliana Oliveira, tenho vinte e dois anos e ele
é Vinícius Soares de Souza e tem trinta e dois anos.
― Anotado aqui, senhora Juliana... vou preparar um plano de saúde
ótimo e em conta e entro em contato novamente para passar o orçamento
para a senhora. Tudo bem?
― Sim. Fico no aguardo.
― Muito obrigada e tenha um bom dia.
Desligo e corro para o banheiro para vomitar.
Filho da puta!
A minha vontade é de matá-lo com as minhas próprias mãos.
Vontade de ir até a cozinha, esquentar uma panela enorme de água e
jogar na cara dele.
Convidá-lo para passear no parque, matá-lo e deixar o corpo lá
mesmo.
Empurrá-lo da janela da área de serviço, forjar uma carta de suicídio
e dizer que ele se matou.
As lágrimas grossas rolam pelo meu rosto, e eu choro feito uma
desesperada ao lembrar de tudo que eu abdiquei por causa dele.
Minha família tem uma vida confortável, eu tinha uma vida
confortável..., mas não, me encantei por ele que segundo meus pais, não
tinha futuro nenhum.
Eles queriam que eu fosse médica, advogada ou qualquer profissão
de sucesso, mas não, me entreguei para um homem que não tem nenhuma
perspectiva de vida e agora estou aqui. Com dívidas, trabalhando feito uma
condenada para juntar o mais que puder de dinheiro e morando junto com
um canalha que está casado com outra mulher além de mim.
Meu Deus...
Se eu pudesse voltar no tempo.
Teria ouvido meus pais.
Ou as minhas amigas...
Verônica e Marcela estudaram comigo desde o ensino médio e
sempre fomos inseparáveis.
Elas fizeram faculdade e estão maravilhosamente casadas com seus
belos maridos e felizes com seus filhos.
Verônica fez tecnologia da informação e hoje tem uma empresa de
sucesso na área da tecnologia com o marido e sócio.
Já Marcela fez medicina e se especializou em cirurgias plásticas.
Tem uma clínica especializada em procedimentos de estética e, é conhecida
no mundo todo por suas pesquisas.
E eu?
Pensei que tinha encontrado o amor da minha vida ainda na
faculdade, então nos juntamos, fomos morar de aluguel, terminamos a
faculdade e encontramos empregos que pagam nossas muitas contas. Não
posso reclamar da empresa em que trabalho, seria uma ingrata se fizesse
isso, a InovAção é a melhor empresa de publicidade e propaganda do estado
de São Paulo e uma das melhores do Brasil. Amo o meu trabalho e não me
vejo fazendo outra coisa que não seja o marketing de propaganda.
Não tive apoio da minha família, que achou tudo uma loucura
quando quis me casar ainda estando na faculdade.
Eu administro bem meu dinheiro. Isso é fato.
Sempre fui boa com números e tenho uma reserva boa, além de
algum dinheiro investido em ações.
Quando compramos esse apartamento, eu o mobiliei sozinha e no
decorrer dos meses, consegui reservar uma quantia suficiente para pagar
uns seis meses das parcelas, acaso eu fique desempregada, coisa que nunca
vai acontecer já que além de amar trabalhar lá, eles gostam e muito do meu
serviço.
Me levanto, lavo o rosto e me olho no espelho.
― Chega! Cansei de ser otária. Vou agir, dar a volta por cima e me
vingarei do Vinícius. Ele vai se arrepender de ter me traído e me ter feito de
palhaça.
***
No meu horário de almoço, entro em contato com uma imobiliária e
decido colocar o apartamento para venda.
Ele está no meu nome e sou eu que pago as prestações. Então, ele é
meu.
Depois de marcar um horário com um corretor em que o Vinícius
esteja “trabalhando” para ele vir tirar fotos, fazer vídeo do apartamento,
risco o primeiro item da lista.
Mando uma mensagem para Verônica e Marcela no nosso grupo e
pergunto a elas se topam se encontrar mais tarde comigo.
Preciso desabafar senão vou enlouquecer.
Após as duas me ligarem, explico tudo rapidamente e elas além de
dizerem a famosa frase “eu avisei que ele não prestava” finalmente aceitam
se encontrar comigo.
Passo um bom tempo remoendo o que descobri e quando ele sai do
quarto por volta das 13h, aparece na porta do escritório com a cara mais
deslavada do mundo.
Finjo estar no celular falando com alguém para não ter que falar
com ele, e engulo em seco quando ele tira a camisa, caminha até a minha
cadeira e para do meu lado.
Vinícius desce a cabeça até meu pescoço, afasta meus cabelos para o
lado e deposita um beijo ali.
― Tudo bem então, Cintia... ― digo fingindo encerrar a ligação
imaginária ― vou deixar tudo pronto para amanhã. Até... beijo. ― Coloco
o celular sobre a mesa com a tela para baixo. ― Para Vini... eu preciso
terminar esse trabalho ― digo para ele com a voz irritada e ele se afasta.
― Dia ruim?
― Sim. ― Dou uma resposta curta. ― Preciso terminar esse
cronograma, pois marquei de sair com as meninas hoje à tarde.
― Você vai sair? ― ele pergunta franzindo o cenho e sai de trás de
mim para me encarar.
― Vou.
― Ué, mas não estava atolada de trabalho?
― Pois, é... mas preciso de um descanso. ― Ele suspira irritado. ―
Estive contando, e faz mais de cinco meses que a gente não sai.
― A nossa vida é corrida, Lena.
― Parece que não quer sair comigo... ― digo e ele fica lívido de
raiva.
― Já disse que nosso trabalho não permite e...
― O caralho que não permite, Vinícius... ― me levanto irritada ―
uma saída, uma vez por mês... não vai cair o braço dos seus chefes em não
ter você por um dia durante o mês! Ou será que preciso conversar com eles
e pedir encarecidamente para que lhe deem a porra de um dia de folga?! ―
grito perdendo a compostura e ele fica visivelmente irritado.
― Está ficando louca, Elena? ― Ele explode. ― Você só pode estar
ficando doente se acha que pode ir lá nos meus empregos falar com meus
chefes.
― Está com medo de que eu fale com eles, por quê?
― Eu com medo? ― Ele ri nervoso. ― Você só pode estar
ficando...
― Se falar mais uma vez que estou ficando louca, eu vou partir pra
cima de você! ― Ele se cala, fecho a tela do notebook com força, pego o
meu celular e saio do escritório.
Vinícius vem atrás de mim até nosso quarto e apenas me olha pegar
a minha bolsa.
― Você vai mesmo sair?! A essa hora?
― Eu já estou saindo, Vinícius!
― E vai me deixar sozinho?
― Não tem que tomar banho e trocar de roupa para o seu emprego?
Pelo que sei você já está bem crescidinho e não precisa de ajuda.
― Por que está falando assim comigo, Lena? ― Aí está o vitimismo
de sempre. Agora ele vai tentar me fazer passar por uma pessoa ruim e fazer
de tudo para inverter o jogo. ― Eu não tenho culpa se está tendo um dia
ruim no trabalho. ― Sua voz é mansa e por um lapso de tempo, sinto meu
peito se apertar em perceber que gritei e me descontrolei com ele. ― Sabe
que eu te amo e faço de tudo por você, amor... estou trabalhando duro, em
dois turnos, cansado, para que possamos ter um futuro confortável. E tudo o
que eu queria era ver a minha mulher de bem, mas olha só o que eu
encontro quando venho até aqui? Você me esperando com quatro pedras nas
mãos. ― Seus olhos se enchem de lágrimas e eu deixo meus ombros
caírem.
Vinícius é um ótimo ator.
Qualquer um sentiria pena ao ver a sua atuação.
Até eu fiquei com pena.
Isso se não soubesse que ele se casou com outra mulher.
― Por que a gente não se casa? ― Solto e ele dá um passo para trás.
― Não podemos.
― E por que não? Estamos juntos há quase oito anos...
― Já disse que não podemos, Lena.
― Não precisa ser uma festa de arromba... só uma pequena
comemoração... para nossos amigos e famílias.
― Agora não vai dar.
― E quando então?
― Eu não sei...
― Não quer se casar comigo?
― É a coisa que eu mais quero nessa vida, Lena. Mas eu...
Já tem duas mulheres e vai ficar difícil explicar para a outra que
vai ficar ausente alguns dias para se casar e partir em lua de mel?
Essa é a minha vontade de perguntar.
― Tudo bem ― digo passando por ele. ― Tchau, Vinícius.
― Ei... vai sair assim sem se despedir? Sem nem um beijo?
Ele caminha até mim e me enlaça em seus braços. Fecho a boca e
dou apenas um selinho nele, por fim dou uma última olhada em seu rosto,
pois sinto do fundo do coração que essa vai ser a última vez que eu o vejo.
― Eu te amo, Lena.
O abraço e segundos depois me afasto e saio do quarto deixando-o
sozinho.
Quando entro no elevador, me olho no espelho.
― Acabou ― digo para mim mesma.
O elevador se abre na portaria do prédio e eu saio.
Preciso retomar o rumo da minha vida e conversando com minhas
amigas vou saber por onde começar.
***
RENDIDA PELO ITALIANO ARROGANTE – VALDERÊS F.
SANTOS