ABS 1 MONITORIA T134

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA
MONITORIA ASSISTÊNCIA BÁSICA À SAÚDE I - 2024.1

1. PROCESSO SAÚDE-DOENÇA
O processo saúde-doença refere-se a uma ampla gama de acontecimentos que vão desde a
saúde, definida como, o completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a mera
ausência de doença (definição da OMS), até a doença, passando pela coexistência de ambos
em proporções diversas.

Historicamente, tal processo foi compreendido de maneiras diversas, refletindo


primordialmente os conhecimentos e descobertas da época. Visto isso, podemos dividir o
processo saúde-doença em alguns modelos que serão citados adiante.

● Modelo mágico-religioso ou xamanístico = as doenças eram interpretadas


como castigos divinos
● Modelo holístico = as doenças eram interpretadas como o desequilíbrio entre
corpo, mente e espírito, uma desordem cósmica
● Modelo empírico-racional ou hipocrático = as doenças consistiam no
desequilíbrio de humores.
● Modelo de medicina científica ocidental ou biomédica = utiliza-se do
método de Descartes para compreender a doença. Entende que o homem consiste em
uma máquina e doença em um defeito da máquina.
● Modelo da história natural da doença ou processual

O processo saúde-doença baseado no modelo da História Natural da Doença baseia-se em 2


períodos, um pré-patogênico e um patogênico, o último dividido em duas fase uma
pré-clínica e uma clínica, nos quais as interações entre o agente, o hospedeiro e o ambiente
são centrais no entendimento do processo de adoecimento.

1. Período pré-patogênico
Nesse período, o indivíduo se encontra suscetível à doença, mas está saudável. É, portanto,
antes do aparecimento da enfermidade.

2. Período patogênico
Se trata do início biológico da doença. O indivíduo já interagiu com o agente causador da
doença e já se encontra “doente”, mas pode ou não ter apresentado os sintomas.
a) Fase pré-clínica: Trata-se das primeiras alterações causadas pela patologia. Em
grande parte das vezes, essas mudanças ocorrem a nível microscópico e não causam
sintomas. Se estende da exposição ao patógeno até o aparecimento de sintomas.
Obs.: Período de incubação (infecciosas) / Período de latência (outras doenças).
b) Fase clínica: Surgem os primeiros sintomas. O paciente começa a procurar ajuda
médica. Fatores como a própria patologia, o estado do paciente, a rapidez com a qual
se obteve o diagnóstico, entre outros, irão contribuir para o grau de eficácia do
tratamento. Nesse ponto, a patologia pode ser curada sem muitas consequências,
evoluir para a cronicidade, deixar sequelas, resultar em óbito etc.
Observação:
- Período de Latência: Desde a exposição até o início da infecção.
- Período de Incubação: Desde a exposição até o surgimento de
sintomas.
- Período de Transmissibilidade.
- Período de Manifestações Clínicas.
- Horizonte clínico: acima do horizonte clínico os sinais da doença, ainda
confusos, tornam-se nítidos. Período que divide fase pré-clinica e clínica

2. AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE

Para falarmos sobre ações preventivas em saúde, é necessário a compreensão de que


o processo de adoecimento é resultado da interação entre o agente, o hospedeiro e o
ambiente, sendo, portanto, multifatorial. Desse modo, podemos avaliar esse processo em três
momentos diferentes citados acima. As ações de prevenção, portanto, devem atuar dentro
desses períodos.

2.1. Prevenção primária: Busca evitar o surgimento da doença. Atua, portanto, no período
pré-patogênico.
a) Promoção de saúde
Medidas gerais de saúde que não estão direcionadas à prevenção de uma doença específica,
como moradia adequada, saneamento básico, políticas de educação, alimentação adequada,
conscientização.
b) Proteção Específica
Medidas mais específicas e voltadas para patologias, como imunização, saúde ocupacional,
higiene pessoal e do lar, proteção contra acidentes, aconselhamento genético, controle de
vetores.

2.2. Prevenção secundária: Visa evitar e conter danos e complicações relacionadas à


patologia. Atua, portanto, no período patogênico. Aqui são adotadas medidas como
diagnóstico precoce, exames de rotina, isolamento para evitar transmissão, tratamento para
evitar progressão, etc.

2.3. Prevenção terciária: Conjunto de medidas que visam impedir a incapacidade do


indivíduo, voltadas à reabilitação, como fisioterapia, terapia ocupacional, medidas de
acessibilidade, etc.

2.4. Prevenção quaternária: Medidas para evitar intervenções médicas excessivas e


tratamentos desnecessários, bem como seus possíveis efeitos adversos, visando preservar a
integridade do paciente.
Caso clínico: Paciente JFK, 35 anos, comparece em consulta médica agendada em UBS de
Tururu/CE para “check-up”. Segundo ele, seus pais são portadores de hipertensão arterial
sistêmica e, recentemente, seu pai foi diagnosticado com doença renal secundária à
hipertensão. Durante a anamnese, o paciente relatou estar assintomático, apenas com
preocupação excessiva de estar com doença renal, assim como seu pai. Ele deseja que o
médico solicite exames laboratoriais completos e uma ultrassonografia de vias urinárias para
afastar essa possibilidade.
Ao exame: bom estado geral, PA 125x85mmHg, outros sinais vitais normais.
Pergunta 1: Se você fosse o(a) médico(a) nesse caso, julgaria haver indicação para a
realização dos exames solicitados? Justifique.
Pergunta 2: Baseado na sua resposta acima, em qual nível de prevenção você embasaria sua
decisão? Justifique.
3. HIPERTENSÃO E DIABETES
CASO CLÍNICO: Seu Igor, de 52 anos, foi a uma consulta médica agendada no Posto de
Saúde de sua área. Durante anamnese, o paciente negou sintomas, diagnóstico prévio de
alguma comorbidade e medicamentos de uso diário. Durante exame físico, apresentou
PA de 150/90mmHg e glicemia capilar pós-prandial de 201mg/dL, sem outras
alterações. Preocupado, perguntou à médica, Dra. Carol, se ele tinha pressão alta e
diabetes.

a) No papel de médico(a), o que você responderia ao Seu Igor?

LEMBRAR QUE:
- De maneira geral, não se diagnostica Hipertensão Arterial Sistêmica com apenas uma
aferição;
- Não se pode dar diagnóstico de Diabetes Mellitus tipo 2 com glicemia capilar ("ponta de
dedo").

b) Cite alguns determinantes sociais de saúde relacionados a ambas as doenças


supracitadas (HAS e DM).

LEMBRAR DOS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE:

c) Exemplifique uma ação em saúde para cada nível de prevenção da HAS (Hipertensão
Arterial Sistêmica).
SUGESTÕES:
- Prevenção primária: incentivar a perda de peso, atividade física, dieta regular, higiene do
sono, cessação de tabagismo e alcoolismo;
- Prevenção secundária: aferição de pressão arterial (lembrar sempre de RASTREIO
quando se trata de prevenção secundária);
- Prevenção terciária: controle adequado da pressão arterial de paciente pós-AVC para
prevenir novos episódios;
- Prevenção quaternária: não hipermedicalizar paciente; solicitar exames apenas quando
estritamente necessários, não somente por vontade do paciente.
- Prevenção quinquenária: redução de jornadas de trabalho médico, melhoria da
infraestrutura dos ambientes de trabalho, dentre outras medidas com o intuito de melhorar a
qualidade de vida e de trabalho dos profissionais e, assim, aperfeiçoar os cuidados prestados
ao paciente.

d) Seu Igor falou o seguinte: "Doutora, espero que eu não esteja com nenhuma dessas
doenças, porque assim vou estar saudável". Embasando-se nos conceitos mais atuais
acerca do processo de saúde-doença, você concorda com esse conceito de saúde?
Justifique.

LEMBRAR QUE:
o conceito de saúde vem sofrendo mudanças, por ter sido definido antigamente como “estado
de ausência de doenças”; foi redefinido em 1948, pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), como “estado de completo bem-estar físico, mental e social”, passando de uma visão
mecânica da saúde para uma visão abrangente e não estática do processo saúde-doença. A
definição de saúde presente na Lei Orgânica de Saúde (LOS), n. 8.080, de 19 de setembro de
1990, procura ir além da apresentada pela OMS, ao se mostrar mais ampla, pela explicitação
dos fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença. Esta lei regulamenta o
Sistema Único de Saúde, e é complementada pela Lei n. 8142, de dezembro de 1990. O que
consta na LOS é que
A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, o acesso
a bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e
econômica do país (Brasil, 1990, Art. 3).
ABS 1
Determinantes Sociais da Saúde (DSS)
São fatores sociais, culturais, econômicos, étnicos, psicológicos e comportamentais
que influenciam a ocorrência de problemas de saúde, seus fatores de risco na
população e o bem-estar da comunidade. São as condições de vida e trabalho dos
indivíduos. São fatores não médicos, vão além da intervenção médica tradicional.

Linha do Tempo Década de 1990

Século XIX A compreensão de que a saúde é


influenciada por múltiplos fatores além
Surge a percepção que as condições sociais e
da intervenção médica é consolidada
ambientais influenciam a saúde das
populações. OMS cria a Comissão sobre

Movimentos de saúde pública começam a Determinantes Sociais da Saúde para

abordar questões como moradia, saneamento abordar as desigualdade em saúde,

e pobreza. Século XXI


Década de 1940 Ampliação do foco nos DSS, incluindo
A OMS reconhece a importância dos DSS questões como migração, mudanças
Início dos estudos sobre desigualdades em climáticas e globalização.
saúde e sua relação com fatores Crescente ênfase na necessidade de
socioeconômicos. políticas públicas integradas para reduzir
Década de 1970 as desigualdades em saúde.
Surgimento da interrelação de saúde com Impacto Atual
equidade, abordando as disparidades sociais. Os DSS são vistos como imprescindíveis
Aumento das pesquisas sobre as para a promoção da saúde e prevenção
consequências na saúde da população do DSS. de doenças.
Políticas e intervenções abordando esses
DSS têm o potencial de melhorar
significativamente a qualidade de vida
das populações.
No Brasil Ambiente Físico
Anos 2000 - Ampliação do Programa Qualidade do ar, da água e do ambiente
Bolsa Família e outras políticas de construído afetam diretamente a saúde
transferência de renda para reduzir a das pessoas.
pobreza e as desigualdades sociais. Acesso a alimentos saudáveis e
Fortalecimento das ações de promoção segurança alimentar são essenciais para
da saúde e prevenção de doenças, com uma dieta equilibrada.
enfoque nos DSS. Moradia adequada e condições de
saneamento básico são fundamentais
Anos 2010 - Integração de políticas para a prevenção de doenças.
setoriais, como educação, habitação e
Redes de Apoio Social
segurança alimentar, para abordar os
Relacionamentos familiares e
determinantes sociais da saúde de forma
comunitários contribuem para o suporte
mais ampla.
emocional e social.
Aumento do debate sobre racismo
Suporte social fortalece a resiliência e
estrutural, violência urbana e impactos
ajuda a lidar com situações estressantes.
ambientais na saúde das populações.
Integração social e participação cívica
Atualmente - Enfrentamos desafios promovem o senso de pertencimento e
relacionados às desigualdades sociais, bem-estar.
acesso desigual aos serviços de saúde.
Estilos de Vida e Comportamentos
A atuação integrada entre diferentes
setores e a promoção da equidade são Tabagismo, consumo excessivo de álcool,

fundamentais para enfrentar os alimentação inadequada, sedentarismo e

determinantes sociais da saúde no país. uso de drogas ilícitas estão associados a


várias doenças crônicas.

Principais Determinantes Adoção de hábitos saudáveis, como


prática regular de exercícios e
Sociais da Saúde alimentação balanceada, é essencial para
Fatores Socioeconômicos a promoção da saúde.
Renda e status socioeconômico Acesso aos Serviços de Saúde
influenciam o acesso a recursos e serviços Disponibilidade, acessibilidade
de saúde. geográfica, financeira e qualidade dos
Educação está associada a melhores serviços de saúde influenciam o uso
escolhas de estilo de vida e maior adequado dos mesmos.
compreensão das informações de saúde. Barreiras no acesso aos serviços de saúde
Ocupação e condições de trabalho podem resultar em diagnóstico tardio e
podem impactar a saúde física e mental tratamento inadequado de doenças.
dos trabalhadores.
Tabela de Dahlgren e Nível 3: Condições Socioeconômicas:
Whitehead Engloba fatores como renda, educação,
Representação visual dos diferentes níveis emprego e condições de moradia, que
de influência que os determinantes desempenham um papel fundamental
sociais exercem sobre a saúde das na determinação da saúde das pessoas.
pessoas. Essa tabela é composta por Nível 4: Ambiente Social e Comunitário
cinco camadas concêntricas, cada uma
Inclui aspectos do ambiente social e
representando um nível de influência
comunitário, como redes de apoio social,
crescente sobre a saúde.
acesso a serviços de saúde e segurança
Nível 1: Fatores Biológicos e Genéticos: pública, que podem influenciar a saúde
Representa os fatores biológicos e das pessoas.
genéticos que influenciam a saúde, como Nível 5: Políticas e Intervenções Estruturais
predisposição genética a certas doenças
Representa as políticas governamentais,
ou condições de saúde.
intervenções estruturais e determinantes
Nível 2: Comportamentos Individuais: macroeconômicos que moldam os níveis
Representa comportamentos individuais, anteriores e têm um impacto amplo na
como dieta, atividade física, tabagismo e saúde da população.
consumo de álcool, que têm um impacto
significativo na saúde.
A abordagem em camadas destaca a Caso Clínico
complexidade e a interconexão dos Analise os seguintes gráficos e explique porque
determinantes sociais de saúde, mostrando a taxa de mortalidade específica por
como fatores em diferentes níveis podem homicídios na população de 15 anos e mais
influenciar a saúde individual e coletiva. Ao segundo escolaridade/região sofre variações a
considerar esses diferentes níveis de influência, depender dos locais e escolaridade e como
os profissionais de saúde e os formuladores de você mediaria a situação
políticas podem desenvolver estratégias mais
abrangentes e eficazes para promover a saúde
e prevenir doenças na comunidade

Justificativa
Essa disparidade na mortalidade está diretamente ligada a uma série de determinantes sociais de saúde.
Usualmente, as áreas com taxas mais altas de mortalidade juvenil são caracterizadas por condições
socioeconômicas desfavoráveis, como desemprego generalizado, baixa renda familiar e falta de acesso a
educação de qualidade.
Além disso, o ambiente físico dessas regiões é frequentemente marcado por violência urbana, criminalidade e
falta de espaços seguros para recreação e atividades físicas.
Outro fator importante é o acesso limitado a serviços de saúde adequados e de qualidade nessas
comunidades, devido à falta de infraestrutura de saúde. Isso resulta em dificuldades para os jovens obterem
atendimento médico preventivo, diagnóstico precoce e tratamento oportuno para condições de saúde.
Ademais, a educação desempenha um papel crucial nessa relação, visto que a educação proporciona
conhecimentos e habilidades essenciais para tomar decisões informadas sobre saúde, está diretamente ligada
às oportunidades de emprego e renda, pode ajudar a reduzir comportamentos de risco, promove o
desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, proporciona acesso a recursos e informações que
podem ser essenciais para a promoção da saúde.
Para abordar esse problema de forma eficaz, são necessárias intervenções que vão além do sistema de saúde,
incluindo políticas públicas que promovam equidade socioeconômica, segurança urbana, acesso igualitário à
educação e serviços de saúde, além de programas de prevenção e apoio específicos para os jovens em
situações de maior vulnerabilidade.

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