QUESTOES LITERATURA

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VIDAS SECAS

1. (PUC-SP) O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal,


provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se
nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não
havia comida, seguiam viagem para o Sul. O casal agoniado sonhava
desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o
resto da água queriam matar o gado. (...) Alguns dias antes estava
sossegado preparando látegos, consertando cercas. De repente, um risco
no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor
de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as
fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e
a vermelhidão sinistra das tardes(…)
O trecho acima é de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos. Dele, é
incorreto afirmar-se que:
A) Prenuncia nova seca e relata a luta incessante que os animais e o homem travam
na constante defesa da sobrevivência.
B) Marca- se por fatalismo exagerado, em expressão como “o sertão ia pegar fogo”,
que impede a manifestação poética da linguagem.
C) Atinge um estado de poesia, ao pintar com imagens visuais, em jogo forte de
cores, o quadro da penúria da seca.
D) Explora a gradação, como recurso estilístico, para anunciar a passagem das aves
a caminho do Sul.
E) Confirma, no deslocamento das aves, a desconfiança iminente da tragédia,
indiciada pela “brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes”.

2. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso, a qualquer coisa que


era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes
da prefeitura. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a
casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que
suportasse tanta coisa. Os termos sublinhados no trecho acima, de Vidas
Secas, indicam que, para Fabiano,
A) as opressões da vida não eram invencíveis, já que seu ódio ou sua paciência,
alternando-se, permitiam-lhe enfrentá-las de modo que lhe fosse mais conveniente.
B) tudo era motivo de indignação, uma vez que seu pensamento confuso não
distinguia entre os verdadeiros inimigos e os possíveis aliados.
C) os diferentes antagonismos se misturavam e confundiam-se em sua limitada
capacidade de análise, o que lhe impedia qualquer reação objetiva.
D) nada era especialmente revoltante, porque ele avaliava com acerto as forças de
seus oponentes e acabava adotando uma posição fatalista.
E) a vida dos retirantes na caatinga era uma lição de inconformismo, porém nada faziam contra as
vicissitudes do clima que estará sempre a castigá-los.

3. Como não sabia falar direito, o menino balbuciava expressões


complicadas, repetia as sílabas, imitava os berros dos animais, o barulho
do vento, o som dos galhos que rangiam na catinga, roçando-se. (…) Não
era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições
e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao
discurso ambíguo. O fato de as personagens centrais de Vidas Secas se
expressarem conforme indicam os fragmentos acima levou Graciliano
Ramos, nesse romance, a
A) ocupar-se com cenas basicamente descritivas, como um criador que não tem a
opção dos diálogos, tampouco acesso ao pensamento informe de suas criaturas.
B) compor um conjunto de episódios isolados, desconsiderando a cronologia ou
qualquer outro critério de encadeamento das ações.
C) elaborar seu próprio estilo num registro imitativo, num discurso entrecortado e
vago, que inutilmente procura a expressão das ações.
D) adotar formas de discurso indireto livre toda vez que desejou traduzir o
pensamento nebuloso e fragmentário de suas personagens.
E) criar um narrador que, desvinculado dos desejos e sentimentos das personagens,
busca interpretá-las a partir de seus gestos ou expressões faciais.
Texto para os testes 4 e 5.

RETIRANTES

A vida na fazenda se tornara difícil. Sinha Vitória benzia-se tremendo,


manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas.
Encolhido no banco de copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as
folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os
garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as últimas arribações
tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo
carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre. Mas quando a
fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem
com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne,
largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não poderia nunca
liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava jogar-se no mundo, como
negro fugido. (Graciliano Ramos, Vidas Secas)

4. Assinale a alternativa incorreta sobre o fragmento.


A) Além de sofrerem as consequências da seca, Fabiano e sua família também estão
submetidos a um regime de dominação social comparável ao do escravo.
B) A cor amarela (“catinga”) e o tom avermelhado (“folhas secas”) reiteram a ideia
de seca e articulam-se com o azul do céu (ausência de chuva) e com os “garranchos
negros, torrados” (ausência de água).
C) O primeiro parágrafo inicia-se e termina com o apelo religioso das personagens, o
que enfatiza a ideia de desespero em que se encontram Sinha Vitória e Fabiano.
D) A sugestão da morte está presente em todo o trecho: “folhas secas”, “bichos se
finavam”, “bezerro morrinhento” etc.
E) Apesar de toda a situação adversa, Fabiano resiste com a altivez e confiança de
um típico herói frente aos obstáculos que se lhe apresentam.

5. No trecho “mexia os beiços rezando rezas desperadas”, há


a) aliteração.
b) metáfora.
c) comparação.
d) onomatopeia.
e) antítese.

6. (UFV-MG) – A respeito de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, somente não


podemos afirmar que:
A) As personagens Fabiano, Sinha Vitória e os filhos são convertidos em criaturas
brutalizadas, numa sugestão de que a dureza do solo nordestino aproxima a vida
humana da vida animal.
B) Embora composta de pequenas narrativas isoladas, a obra mantém a estrutura de
um romance pela presença quase constante de seus personagens e por uma
sucessão temporal.
C) A obra insere-se no chamado romance de 30, por uma total fidelidade aos
experimentalismos linguísticos da fase heroica do movimento modernista.
D) O retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios pensamentos, expressa-
se, quase sempre, através do discurso indireto livre de um narrador onisciente.
E) A narrativa denuncia o flagelo do sertão nordestino, onde o homem, fundindo-se
ao seu meio, é arrastado por um destino adverso e inútil.

7. Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes.


Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado na areia do
rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam
uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos
pelados da catinga rala.
(…)
Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou
no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com as unhas,
esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito.
Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que vinham
nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia muitas estrelas, havia mais de
cinco estrelas no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doída
enchia o coração de Fabiano.
(…)
A lua crescia, a sombra leitosa crescia, as estrelas foram esmorecendo
naquela brancura que enchia a noite. Uma, duas, três, agora havia poucas
estrelas no céu. Ali perto a nuvem escurecia o morro.
Os trechos acima pertencem ao primeiro capítulo de Vidas Secas, de
Graciliano Ramos. Escrito em terceira pessoa, apresenta personagens
oprimidas e moldadas pelo meio. A respeito dessa obra, é errado afirmar:
A) É um romance cujos capítulos, independentes, podem ser lidos em ordens
diferentes de seleção. São painéis variados de um mesmo drama.
B) É um romance de estrutura cíclica, já que o começo e o fim se tocam, e o drama
do primeiro capítulo repete-se no último.
C) Fabiano, personagem principal, tem uma incapacidade básica de comunicação
com outras pessoas. Quase não consegue expressar-se verbalmente; por isso, seu
modelo de realização pessoal é Seu Tomás da bolandeira.
D) O romance, por suas características de linguagem extremamente difícil e por
abordar o tema da seca, mostra-se inteiramente desprovido de qualquer estado de
poesia e de sentimento lírico.
E) Revela mais intensamente o sentimento da terra nordestina, e o que marca a
fisionomia e os caracteres de suas personagens é o fenômeno da seca.
8. (Instituto Consulplan -2019) O livro “Vidas Secas”, do escritor alagoano
Graciliano Ramos, publicado pela primeira vez em 1938, continua sendo
uma obra marcante que retrata os dramas cotidianos do sertão nordestino.
O sertão, uma sub-região do nordeste, está localizado entre o agreste e o
meio-norte. Considerando as suas características, analise as afirmativas a
seguir.
I. O clima predominante é o semiárido, caracterizado pelos longos períodos
de seca.
II. Os cursos d’água do sertão são, geralmente, formados por rios
temporários (também chamados de intermitentes), com exceção do rio São
Francisco.
III. É profundamente marcado pela questão da seca e da fome, fator
característico do baixo índice pluviométrico, o que costuma ser
generalizado para todo o Nordeste.
IV. O sertão nordestino é uma grande região que abrange apenas o Ceará.
Estão corretas apenas as afirmativas
A) I e II.
B) I e IV.
C) I, II e III.
D) II, III e IV.

9. (FUVEST 2001- Adaptada) Um escritor classificou Vidas secas como


“romance desmontável” vista sua composição descontínua, feita de
episódios relativamente independentes e sequências parcialmente
truncadas. Essas características da composição do livro:
A) Constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano Ramos e do
Regionalismo nordestino.
B) Indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos, quando este ainda
seguia os ditames do primeiro momento do Modernismo.
C) Diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que dificultam uma visão
adequada da realidade sertaneja.
D) Relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias personagens têm
do mundo.

10. Leia o fragmento abaixo extraído do texto gerador:


“- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai. Não obtendo resultado,
fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou
acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu
algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não
acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.”
Após a leitura do trecho acima, assinale a alternativa que melhor
exemplifica as características dos romances regionalistas de 1930
presentes no trecho:
A) Linguagem coloquial e flagrante da relação homem vs. estruturas sociais.
B) Linguagem erudita e personagens populares.
C) Concisão de linguagem e incorporação de mitos regionais.
D) Experimentalismo formal e crítica social.
E) Caracterização física minuciosa das personagens e representação da vida
nordestina.

11. (FUVEST) Leia o trecho para responder ao teste.


"Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as
mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo
fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera os meninos, que se
adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. A verdade é que não queria
afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava
nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se
resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar
a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar
menos seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas
alheias: o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de
fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras, as panelas de
losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés dele esmoreciam, as
alpercatas calavam-se na escuridão. Seria necessário largar tudo? As
alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos." (Vidas secas,
Graciliano Ramos)
Assinale a alternativa incorreta:
A) O trecho pode ser compreendido como suspensão temporária da dinâmica
narrativa, apresentando uma cena "congelada", que permite focalizar a dimensão
psicológica da personagem.
B) Pertencendo ao último capítulo da obra, o trecho faz referência tanto às
conquistas recentes de Fabiano, quanto à desilusão do personagem ao perceber que
todo seu esforço fora em vão.
C) A resistência de Fabiano em abandonar a fazenda deve-se à sua incapacidade de
articular logicamente o pensamento e, portanto, de perceber a gradual mas
inevitável chegada da seca.
D) A expressão "coisas alheias" reforça a crítica, presente em toda obra, à
marginalização social por meio da exclusão econômica.
E) As referências a "enterro" e "cemitério" radicalizam a caracterização das "vidas
secas" do sertão nordestino, uma vez que limitam as perspectivas do sertanejo
pobre à luta contra a morte.
12. (UFLA) Sobre a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, todas as
alternativas estão corretas, EXCETO:
A) O romance focaliza uma família de retirantes, que vive numa espécie de mudez
introspectiva, em precárias condições físicas e num degradante estado de condição
humana.
B) O relato dos fatos e a análise psicológica dos personagens articulam-se com
grande coesão ao longo da obra, colocando o narrador como decifrador dos
comportamentos animalescos dos personagens.
C) O ambiente seco e retorcido da caatinga é como um personagem presente em
todos os momentos, agindo de forma contínua sobre os seres vivos.
D) A narrativa faz-se em capítulos curtos, quase totalmente independentes e sem
ligação cronológica e o narrador é incisivo, direto, coerente com a realidade que
fixou.
E) O narrador preocupa-se exclusivamente com a tragédia natural (a seca) e a
descrição do espaço não é minuciosa; pelo contrário, revela o espírito de síntese do
autor.
13. (UEL) O texto abaixo apresenta uma passagem do romance Vidas secas,
de Graciliano Ramos, em que Fabiano é focalizado em um momento de
preocupação com sua situação econômica. Escrito em 1938, esta obra
insere-se num momento em que a literatura brasileira centrava seus temas
em questões de natureza social.
"Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça.
Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os
legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por
preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição,
tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco."
(In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991.)
Sobre este trecho do romance, somente está INCORRETO o que se afirma
na alternativa:
A) Este trecho resume a situação de permanente pobreza de Fabiano e revela-se
como uma crítica à economia brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no
sertão nordestino no momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado
pelas orações: "... Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à
gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes...."
B) A oração: "Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça"
tanto pode ser o discurso do narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto
pode ser o próprio pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também
ocorre com as demais personagens do romance.
C) A oração: "... Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os
recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco" indica a voz do narrador em
terceira pessoa, ao mostrar o estado de agonia em que se encontra a personagem.
D) A expressão “Forjara planos”, típica da linguagem culta, é seguida no texto por
um provérbio popular: “quem é do chão não se trepa”. Essa mudança de registro
linguístico é reveladora do método narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das
classes populares à da elite.
E) O texto tem início com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação
econômica; a seguir, passa a focalizar a realidade de pobreza em que a personagem
se encontra, e finaliza com sua revolta e angústia diante da condição de empregado,
sempre em dívida com o patrão.

14. (ACAFE / SC) A vida na fazenda se tornara difícil. Sinha Vitória benzia-se
tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas
desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a catinga
amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos
redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul, as
últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se
finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um
milagre.
De acordo com o fragmento acima, é incorreto o que se afirma em:
A) Tanto Sinha Vitória quanto Fabiano tinham fé na providência divina.
B) O enfoque é narrativo.
C) O que se relata ao longo do parágrafo tem o objetivo de confirmar a afirmação da
primeira frase.
D) Há evidências de que Sinha Vitória e Fabiano estão fragilizados, pois ela "benzia-
se tremendo" e ele estava "encolhido na banco do copiar".
E) O tema predominante é a indagação metafísica sobre a existência (inexistência)
de Deus.

15. (ACAFE / SC) Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de
preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se
espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro
enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. (Graciliano
Ramos)
Sobre o texto acima, é correto afirmar que:
A) há marcas próprias do chamado discurso direto através do qual são reproduzidas
as falas das personagens.
B) o narrador é observador, pois conta a história de fora dela, na terceira pessoa,
sem participar das ações, como quem observou objetivamente os acontecimentos.
C) quem conta a história é uma das personagens, que tem uma relação íntima com
as outras personagens, e, por isso, a maneira de contar é fortemente marcada por
características subjetivas, emocionais.
D) evidencia-se um conflito entre a protagonista Baleia e o antagonista Fabiano, pois
este impede que a cadela possa caçar os preás.
E) o narrador é onisciente, isto é, geralmente ele narra a história na terceira pessoa,
sabe tudo sobre o enredo e sobre as personagens, inclusive sobre suas emoções,
pensamentos mais íntimos, às vezes, até dimensões

16.(ACAFE / SC) Sobre a obra Vidas secas, é correto afirmar que:


A) a preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o
sentimento dramático da vida, habitualmente presente nos poemas do autor.
B) apresenta temática indianista, a exemplo do que fizera Gonçalves Dias em Os
timbiras e Canção do tamoio.
C) as personagens humanas, em razão da seca, da fome, da miséria e das injustiças
sociais, animalizam-se; em contrapartida, os bichos humanizam-se.
D) Chico Bento, antes da seca, não era vagabundo, nem bandido; era um
trabalhador rural. e) narra a história de um burguês, Paulo Honório, que passara da
condição de caixeiro-viajante e guia de cego à de rico proprietário de uma fazenda.
Para atingir seus objetivos, o protagonista elimina todos os empecilhos que se
colocam à sua frente, inclusive pessoas.

17.(ACAFE / SC) Analise as afirmações abaixo.


(I) "Será um romance? É antes uma série de quadros, de gravuras em
madeira, talhadas com precisão e firmeza."
(II) "Construído como uma longa narrativa oral, o romance tem como
personagem-narrador Riobaldo, um velho fazendeiro, que já foi homem de
letras e de armas e que vive às margens do rio São Francisco."
(III) "Com a análise psicológica do universo mental das personagens, que
expõe por meio do discurso indireto livre, o narrador nos vai decifrando a
sua humanidade embotada, confundida com a paisagem áspera do sertão,
neste romance que transcende o regionalismo e seu contexto específico."
(IV) "Emprestando dinheiro a juros, negociando de arma engatilhada no
sertão, passando fome e sede, [o protagonista] consegue acumular algum
capital e com ele volta para a sua terra, no município de Viçosa, Alagoas,
onde ficava a propriedade."
(V) "O tema do poema é o itinerário do retirante nordestino, que parte do
sertão paraibano em direção ao litoral, em busca de sobrevivência, devido
à seca e às precárias, senão insustentáveis, condições de vida da maioria
da população.
Todas as afirmações que se referem à obra Vidas Secas, de Graciliano
Ramos, estão relacionadas em:
a) I - III
b) II - IV - V
c) III - V
d) II - III - IV
e) I - II - IV

18. (UNIARAXÁ - Adaptada) Leia o fragmento abaixo transcrito da obra


Vidas Secas e responda a questão a seguir.
Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros
quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado
confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não
se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto
e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com
que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava
pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava
reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez
perigosas. (Graciliano Ramos)
O texto, no seu conjunto, enfatiza:
A) A pobreza física do personagem.
B) A falta de escolaridade do personagem.
C) A miséria moral do personagem.
D) A identificação do personagem com o mundo animal.

19. (UEG 2013) Observe as imagens.


Em 2008, foi realizada uma homenagem a Graciliano Ramos pelos setenta anos de criação de Vidas
Secas. O fotógrafo Evandro Teixeira realizou um ensaio com locação nos lugares de origem dos
personagens criados pelo escritor alagoano.

A produção incluiu atores com características físicas semelhantes às dos


personagens do romance. O olhar poético do fotógrafo ainda registrou
imagens que nos comunicam as condições dos migrantes, como
A) a alegria pelo abandono da terra e de suas tradições.
B) a felicidade alcançada pelo sucesso da mudança.
C) a aridez da pele das mãos semelhante à dureza do solo.
D) o vigor da vida florescendo nas terras do agreste nordestino.

20. (IBMECRJ 2009) O texto a seguir foi retirado da obra de Graciliano


Ramos, Vidas Secas. Esse romance completou, em agosto de 2008, 70 anos
de sua primeira publicação. É narrado em 3ª pessoa (ao contrário das obras
anteriores de Graciliano) e pertence a um gênero intermediário entre
romance e livro de contos.
Fabiano, uma coisa da fazenda, 1um triste, seria despedido quando menos
esperasse. Ao ser contratado, recebera o cavalo de fábrica, peneiras,
gibão, guarda-peito e sapatões 3de couro, mas ao sair largaria tudo ao
vaqueiro 7que o substituísse. Sinhá Vitória desejava possuir uma cama
igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice.
Não dizia nada para não contrariá-la , mas sabia que era doidice.
Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem.
Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem
rumo, nem teria meio de conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa
amarrada, dormiriam bem debaixo de um pau.
Olhou a caatinga 4amarela, 5que o poente avermelhava. Se a seca
chegasse, não ficaria planta 2verde.
Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que
ele se entendera.
E antes de se entender, antes de nascer, 8sucedera o mesmo - anos bons,
misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse
perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a
ladeira, espalhando 6seixos 9com as alpercatas - ela se avizinhando 10a
galope, com vontade de matá-lo. (Vidas Secas - Graciliano Ramos)
Pode-se dizer do romance, "Vidas Secas", de onde o texto foi retirado, que
é uma grande obra:
A) Pelo tratamento que dá aos conflitos de terra do país.
B). Pois trata da coisificação das relações humanas e da autodestruição.
C). Pelo poder de fixar figuras humanas vivendo sobre o fatalismo das secas da
região nordeste.
D). Pois retrata a riqueza da natureza no interior do Brasil.
E). Pois enaltece a importância da atividade agrícola para as populações rurais.
21. (UFMG 2003) Com base na leitura de "Vidas secas", é CORRETO afirmar
que,
A) no início, as personagens passam fome e, no final, sofrem com o frio.
B). no início, predomina a desgraça da seca e, no final, a desgraça da estação
chuvosa.
C). no início, a família está em fuga e, no final, a mesma situação se repete.
D). no início, a família se encontra íntegra e, no final, se mostra desfeita.

22.(UFRRJ 2003) Leia o fragmento abaixo, retirado do romance "Vidas


secas":
... Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor. Desejava saber o
tamanho da extorsão. Da última vez que fizera contas com o amo o prejuízo
parecia menor. Alarmou-se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera
uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam
palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as.
Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às
vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois
esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica?
Sinhá Terta é que tinha uma ponta de língua terrível. Era: falava tão bem
quanto as pessoas da cidade. Se ele soubesse falar como Sinhá Terta,
procuraria serviço em outra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas
horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino,
coçava os cotovelos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar as
coisas de um infeliz que não tinha nem onde cair morto! Não viam que isso
não estava certo? Que iam ganhar com semelhante procedimento? Hem?
Que iam ganhar? ...
(RAMOS, Graciliano. "Vidas secas". 37ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1977.
p.103.)
Graciliano Ramos apresenta em suas obras problemas do Nordeste do
Brasil e, ao mesmo tempo, desenvolve um trabalho universal por
apresentar uma visão crítica das relações humanas. A partir do trecho
acima, pode-se afirmar que o autor
A) denuncia a opressão social realizada através do abuso de poder político, que está
representado na fala de Fabiano.
B). critica o trabalhador rural nordestino, representado na figura de Fabiano, por sua
ignorância e falta de domínio da língua culta.
C). deixa claro que a incapacidade de usar uma linguagem "boa" não isola Fabiano
do mundo dos que usam "palavras difíceis", pois sua esperteza pode-se concretizar
de outras maneiras.
D). mostra que a sociedade oferece oportunidades iguais para os que possuem o
domínio de uma linguagem culta e para os que não possuem, e as pessoas mais
trabalhadoras atingirão o posto de classe dominante.
E). mostra a relação estreita entre linguagem e poder, denunciando a opressão ao
trabalhador nordestino, transparente nas diferenças entre a língua falada pelo
opressor e a falada pelo oprimido.

23.(UNESP 2011) As questões a seguir tomam por base uma passagem do


romance regionalista Vidas secas, de Graciliano Ramos (1892-1953).
Contas
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos
cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a semear na
vazante uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos
animais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um
cabrito.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara
planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes,
roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo
o produto das sortes.
Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos
minguados, engasgava-se, engolia em seco.
Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas
receava ser expulso da fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia
conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta,
vermelho, o pescoço inchando. De repente estourava: – Conversa. Dinheiro
anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão não se
trepa.
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E
quando não tinha mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao
chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma
ninharia.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se,
enfim deixou a transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha
Vitória mandou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha,
concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou
somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao
fechar o negócio notou que as operações de Sinha Vitória, como de
costume, diferiam das do patrão.
Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de
juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se
perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia
um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os
estribos.
Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão
beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta
de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que, o vaqueiro fosse
procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e
amunhecou. Bem, bem.
Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia desculpa.
Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar.
Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia
respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia
ser ignorância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não
sabia ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia
desculpa e jurava não cair noutra. (Graciliano Ramos. Vidas secas. São
Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.)

Lendo atentamente o fragmento de Vidas secas, percebe-se que o foco


principal é o das transações entre Fabiano e o proprietário da fazenda.
Aponte a alternativa que não corresponde ao que é efetivamente exposto
pelo texto.
A) O proprietário era, na verdade, um benfeitor para Fabiano.
B). Fabiano declarava-se “um bruto” ao proprietário.
C). O proprietário levava sempre vantagem na partilha do gado.
D). Fabiano sabia que era enganado nas contas, mas não conseguia provar.
E). Fabiano aceitava a situação e se resignava, por medo de ficar sem trabalho.

24. (PUCCAMP 2005) No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao


fechar o negócio notou que as operações de Sinha Vitória, como de
costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual:
a diferença era proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se
perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia
um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os
estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de
mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar
carta de alforria! (Graciliano Ramos, Vidas secas)
Em outra passagem de "Vidas secas", Fabiano é assim descrito: "(...) tinha
os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos."
Tendo em vista essa descrição, a frase "havia um erro no papel DO
BRANCO"
A). é um lapso do autor, já que o tipo racial do patrão não é diferente do de Fabiano.
B). demonstra que Fabiano se serve da ironia para tentar desqualificar o patrão.
C). só se justifica pelo desejo que tem Fabiano de ser tratado como um igual.
D). justifica-se quando associada às expressões "era bruto" e "trabalhar como
negro". e. prova que o patrão se valia de fatores raciais para se impor diante do
caboclo.

25. (ITA 2014) Acerca da representação da infância em Vidas secas, de


Graciliano Ramos, é INCORRETO dizer que
A). tanto o menino mais velho como o mais novo encontram pouca alegria no
ambiente inóspito em que vivem.
B). os dois meninos sentem muito afeto pela cachorra Baleia, companheira
inseparável da família.
C). o menino mais velho se rebela contra a situação da família e contra a brutalidade
de Sinhá Vitória.
D). o menino mais novo quer ser igual ao pai e o mais velho entra em conflito com a
mãe quando falam sobre o inferno.
E). quando o menino mais velho associa o lugar em que vive com a ideia de inferno,
começa a deixar de ser criança.
26. (UPE 2015) "No dia seguinte, Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o
negócio, notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume,
diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a
diferença era proveniente de juros. Não se conformou: devia haver engano.
Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a
mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se
descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim
no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo?
Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse
procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e
amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra
à toa, pedia desculpa. [...]
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo. [...]
Sentou-se numa calçada, tirou do bolso o dinheiro, examinou-o, procurando
adivinhar quanto lhe tinham furtado.
Não podia dizer em voz alta que aquilo era um furto, mas era. Tomavam-lhe
o gado quase de graça e ainda inventavam juro. Que juro! O que havia era
safadeza.”
Sobre o fragmento do capítulo Contas, do romance Vidas secas, de
Graciliano Ramos, assinale a alternativa CORRETA.
A). Ao se referir a Sinhá Vitória, Fabiano admite que “a mulher tinha miolo.” Essa
afirmação significa que a esposa era inteligente, tinha frequentado escola, sabia
fazer conta, diferentemente dele, que “era bruto”, pois, também, não sabia ler nem
fazer conta, nunca havia frequentado a escola.
B). Quando o narrador personagem afirma que “O amo abrandou, e Fabiano saiu de
costas, o chapéu varrendo o tijolo,” significa que a personagem percebeu que a
altivez era a única arma que possuía para enfrentar o proprietário das terras onde
trabalhava, por isso resolveu camuflar o orgulho saindo sem dar as costas ao amo.
C) No final do segundo parágrafo, quando se lê: “Passar a vida inteira assim no toco,
entregando o que era dele de mão beijada!
Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!”,
tem-se um discurso direto, pois o narrador se afasta e deixa Fabiano demonstrar, de
forma direta, que tem a consciência da exploração do patrão quando faz uso dos
verbos no presente.
D). Graciliano Ramos cria duas comparações ao usar o vocábulo branco para
designar o patrão e, posteriormente, ao atribuir ao narrador o enunciado: “Trabalhar
como negro e nunca arranjar carta de alforria!” coloca a personagem na condição de
submisso, tal qual a de um escravo sem direito à liberdade, o que contraria os
princípios do romance regionalista de 1930.
E). Há algumas expressões usadas por Graciliano Ramos que quebram a
verossimilhança existente entre a linguagem, a condição social e o nível de
escolaridade de Fabiano, pois são metáforas eruditas, tais como: “perdeu os
estribos”, batendo no chão como cascos” e “baixou a pancada e amunhecou”.

27.(UFRRJ 2004) Escrito por Graciliano Ramos em 1938, "Vidas Secas" é


uma obra-prima do modernismo e mesmo de toda a literatura brasileira.
Trata-se de narrativa pungente, onde o drama do nordestino, tangido de
seu lar pela inclemência da seca, é contado de forma árida, seca e bastante
realista, numa sintonia bastante eficaz entre forma e conteúdo.
O texto a seguir é um excerto de "Vidas Secas":
"Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse,
não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre
tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender,
antes de nascer, sucedera o mesmo - anos bons misturados com anos
ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a
pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando
seixos com as alpercatas - ela se avizinhando a galope, com vontade de
matá-lo."

(RAMOS, Graciliano. "Vidas Secas". São Paulo:


Martins. s/d. 28a ed., p. 59.)

Assinale a afirmativa que indica uma característica do modernismo e do


estilo do autor, tomando por base a leitura do texto.
A). Há um extremo apuro formal, onde se destacam as metáforas, sobretudo as
hipérboles, em absoluta consonância com a prolixidade do texto.
B). O estilo direto do texto está sintonizado com a narrativa, que descreve uma cena
de grande movimentação e presença de personagens.
C). O texto é seco e direto, confrontando um cenário de exuberância natural com um
personagem tímido, reservado e de poucas ambições.
D). O texto é direto, econômico, interessa mais a angústia interior dos personagens
do que seus próprios atos.
E). A fatalidade da situação é explorada ao limite máximo, com a natureza
pactuando com as angústias do personagem, mas, ao final, subjugando-se.

28. (PUC-SP 2015) Vidas Secas, novela de Graciliano Ramos, apesar de ser
uma obra sobre a natureza inóspita e a miséria do nordeste, apresenta um
texto marcadamente estético e lírico, que alcança os limites da poesia.
Assim, indique, nas alternativas abaixo, a que apresenta trecho com
linguagem cuja função é dominantemente poética.
A) Alguns dias antes estava sossegado, preparando látegos, consertando cercas. De
repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o
medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado
vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e
a vermelhidão sinistra das tardes.
B) Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os
infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do
rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da
catinga rala.
C) Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no
chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que
vinham nascendo. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doida enchia o
coração de Fabiano.
D) Deu-se aquilo porque Sinha Vitória não conversou um instante com o menino
mais velho. Ele nunca tinha ouvido falar em inferno. Estranhando a linguagem de
Sinha Terta, pediu informações. Sinha Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo
lugar ruim demais e, como o filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
E) – Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem vergonha, Fabiano. Mata o soldado
amarelo. Os soldados amarelos são uns desgraçados que precisam morrer. Mata o
soldado amarelo e os que mandam nele.

29.(MACKENZIE 2014) A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha


emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num
fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de
moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a
comida e a bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um
princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos
de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas
estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos
sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na
base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel Então Fabiano
resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a
com o saca-trapo e fez tenção de carrega-la bem para a cachorra não sofrer
muito.
Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados,
que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma
pergunta:
— Vão bulir com a Baleia?
Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-
nos, davam-lhes a suspeita de que Baleia corria perigo.
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem
dizer não se diferenciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo
que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Graciliano Ramos, Vidas Secas.
Considere as seguintes afirmações sobre as características da prosa de
Graciliano Ramos.
I. “Tudo nele se concentra no que é homem, no que é a tragédia do ser
humano.” (José Lins do Rego)
II. “Representa o regionalismo baiano da zona rural do cacau e da zona
urbana de Salvador.” (José de Nicola)
III. “Seus personagens são seres oprimidos, moldados pelo meio.” (Ulisses
Infante)
Assinale a alternativa correta.
A) Estão corretas apenas as alternativas I e II.
B). Estão corretas apenas as alternativas I e III.
C). Estão corretas apenas as alternativas II e III.
D). Todas as alternativas estão corretas.
E). Nenhuma das alternativas está correta.

30.(MACKENZIE 2014) A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha


emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num
fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de
moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a
comida e a bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um
princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos
de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas
estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos
sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na
base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel. Então
Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a,
limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carrega-la bem para a cachorra
não sofrer muito. Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os
meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de
repetir a mesma pergunta:
— Vão bulir com a Baleia?
Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-
nos, davam-lhes a suspeita de que Baleia corria perigo.
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem
dizer não se diferenciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo
que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Assinale a alternativa INCORRETA sobre o contexto histórico e literário da
prosa regionalista moderna a que pertence o fragmento de Vidas Secas.
A). No plano internacional, o período reflete um conturbado momento em função da
depressão econômica, do avanço do nazifascismo e da II Guerra Mundial.
B). Experimenta-se um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas
literárias da geração de 1922.
C). A prosa tratou de várias questões, entre elas as econômicas, as sociais, as
políticas e as humanas.
D). No plano nacional, o período reflete um conturbado momento histórico em
função do fim da República Velha, da ascensão de Getúlio Vargas e da Revolução
Constitucionalista.
E). O interesse pela busca de um retrato regional levou a literatura ao plano do
peculiar e do exótico, distanciando-a dos dramas humanos e sociais.

31.(PUC-SP 2016) O crítico Álvaro Lins sobre a obra Vidas Secas, de


Graciliano Ramos, afirma que um de seus defeitos é “o excesso de
introspecção em personagens tão precários e rústicos, estando constituída
quase toda a novela de monólogos interiores”. Assim, indique em que
alternativa ocorre o monólogo interior, também chamado de discurso
indireto livre.
A). Mas irou-se com a comparação, deu murradas na parede. Era bruto, sim senhor,
nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era?
Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia
a brutalidade dele?
B). Sinha Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo lugar ruim demais, e como o
filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
C). Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro
de Fabiano: // – Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?
D). Fabiano dizia que na serra havia tocas de suçuaranas. E nos bancos de
macambira, rendilhados de espinhos, surgiam cabeças chatas de jararacas.

32.(PUC-SP 2016) Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os
três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no
estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro de cabras.
O trecho acima é da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Refere ações
da cachorrinha Baleia. Indique, nas alternativas abaixo, a que NÃO
corresponde à caracterização dela na narrativa.
A) Apresenta-se mais humanizada que os membros da família de Fabiano, apesar de
ser um personagem não humano.
B). Marca-se por espontaneidade e vivacidade e é capaz de vencer as barreiras da
incomunicabilidade ao relacionar-se com outros personagens da história.
C). É acometida por uma doença incurável e acaba morrendo de forma natural, sob o
olhar das crianças e de Fabiano, fantasiando em seus momentos de delírio as
caçadas que fazia aos preás.
D). Acumula importantes funções na narrativa quais sejam as de ser guia, a de ser a
responsável pela sobrevivência do grupo e a de acompanhar as crianças nas
folganças e os adultos no trabalho.

33. (UEMA 2016) [...] Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos,
alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim
senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação
medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
Um bicho, Fabiano. [...] Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde
cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de
mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara.
Fabiano fizera-se desentendido e oferecera seus préstimos, resmungando,
coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão
aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro. Agora Fabiano era vaqueiro, e
ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, mas criara raízes, estava
plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte
que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, a sinhá Vitória,
os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra. [...]
Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015).
Com marcas temporais adequadas, o narrador usa o recurso do flashback
para
A). fazer digressões do narrador, fora do contexto das personagens.
B). fazer valer momentos memoráveis da vida de uma das personagens.
C). focar o cenário onde se passa a história narrada.
D). dar maior dinamismo à fala das personagens.
E). evitar recorrências na tessitura narrativa.

34.(UEMA 2016) No livro Vidas Secas, tanto as dificuldades de interlocução


de Fabiano como o silêncio que lhe é característico, relacionam-se à
condição subalterna que a personagem vivencia em seu meio social. Essa
relação é evidenciada no seguinte fragmento:
A). “Às vezes dizia uma coisa sem intenção de ofender, entendiam outra, e lá
vinham questões. Perigoso entrar na bodega. O único vivente que o compreendia era
a mulher. Nem precisava falar: bastavam gestos.”
B). “Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomes arrevesados, por
embromação. Via perfeitamente que tudo era besteira. Não podia arrumar o que
tinha no interior. Se pudesse... Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos que
espancam as criaturas inofensivas.”
C). “Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se
ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra
ocupado em guardar coisas dos outros.”
D). “Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. Os seus pés duros
quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com
o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e
gutural, que o companheiro entendia.”
E). “Era como se Fabiano tivesse esfolado um animal. A barba ruiva e emaranhada
estava invisível, os olhos azulados e imóveis fixavam-se nos tições, fala dura e rouca
entrecortava-se de silêncios.”

35.(PUC-RS 2016) Leia a passagem a seguir, referente a uma marcante


personagem da literatura brasileira, e preencha as lacunas do texto
relacionado ao excerto. Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a
esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A
cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se
desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando
apenas as pupilas negras.
Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao
longo da cerca do curral, detevesse no mourão do canto e levou de novo a
arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom
alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou
a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos traseiros e
inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a latir desesperadamente. (...)
Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o
chiqueiro das cabras. Demorou-se aí um instante, meio desorientada, saiu
depois sem destino, aos pulos. Na famosa cena da morte de Baleia,
personagem do romance _________, de _________, é nítida a _________ da cadela
numa cena extremamente _________.

A) O quinze – Raquel de Queirós – personificação – vívida


B) Vidas secas – Graciliano Ramos – humanização – realista
C). O quinze – Graciliano Ramos – alegorização – violenta
D) Vidas secas – Graciliano Ramos – metaforização – sutil
E) O quinze – Raquel de Queirós – simbolização – hostil

36. (MACKENZIE 2014) A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha


emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num
fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de
moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a
comida e a bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um
princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos
de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas
estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos
sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na
base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel. Então
Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a,
limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carrega-la bem para a cachorra
não sofrer muito. Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os
meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de
repetir a mesma pergunta:
— Vão bulir com a Baleia?
Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-
nos, davam-lhes a suspeita de que Baleia corria perigo.
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem
dizer não se diferenciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo
que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Graciliano Ramos, Vidas Secas.
A partir do fragmento de Vidas Secas, pode-se afirmar que todas as
afirmações estão corretas, EXCETO:
A) o pai da família de retirantes, diante das características físicas expostas pela
cachorra, busca apoio em crendices populares.
B). as duas crianças, em virtude das atitudes do pai da família, sentem-se aflitas pelo
destino de Baleia.
C). o pai da família de retirantes preparou despretensiosamente a morte de Baleia.
D). Sinhá Vitória, sensível à sucessão dos fatos, recolhe seus filhos com a intenção
de protegê-los do futuro evento.
E). o pai da família de retirantes decide sacrificar Baleia por acreditar que ela esteja
infectada com raiva.

37. (MACKENZIE 2012- Adaptada)

Texto

Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. Os seus pés duros
quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado,
confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.
(Graciliano Ramos, Vidas secas)
No texto, a descrição do personagem Fabiano aponta para as seguintes
características, EXCETO:
A). adaptação do personagem ao meio natural.
B). identificação com o animal.
C). caráter antissocial.
D). comportamento primitivo e espontâneo.
E). revolta devido a sua condição familiar.

38. (UNESPAR 2010) Leia as seguintes afirmações sobre a obra de


Graciliano Ramos e depois assinale a alternativa correta.
I) A sua obra pode ser definida como regionalista, apesar da proximidade
com o romance psicológico. O Nordeste era a região abordada por ele.
II) Como os modernistas de seu tempo, ele mantinha uma atitude de não
respeitar a gramática tradicional, valorizando a liberdade formal como
forma de expressão.
III) Os seus romances apresentam sempre um protagonista em conflito com
o meio, tanto físico quanto social.
Está(ão) correta(s) somente:
A). I e II.
B). II e III.
C). II.
D). I e III.
E) I
39. (UFABC 2007) A temática da fome está presente em um dos mais
expressivos romances de Graciliano Ramos, Vidas Secas. Leia um trecho
dessa obra.
Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada
baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente.
Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se,
somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu
junto do coração de Sinhá Vitória, um abraço cansado aproximou os
farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se
envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de
perder a esperança que os alentava.
Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes
um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as
pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de
Baleia, e como o focinho estava ensanguentado, lambia o sangue e tirava
proveito do beijo.
Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano
queria viver. Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha crescido, agora
cobria o morro inteiro. Fabiano pisou com segurança, esquecendo as
rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares. (Ilustração de
Aldemir Martins, para a 27.ª edição de Vidas Secas, São Paulo, Martins
Fontes, 1970).
A respeito do trecho, observa-se que:
A) A escolha dessa temática, no quadro do romance regionalista de 1930, destaca a
tensão das relações do homem com o ambiente em que vive.
B). A linguagem do romance é marcada por referências simbólicas, adotando sintaxe
de períodos longos, com predomínio de subordinação.
C). Esse romance rompe com a tradição do Regionalismo de 30, ao optar pela
ambientação do romance no espaço urbano.
D). No trecho transcrito mostra-se a predileção do autor pela expressão de juízos de
valor acerca dos fatos narrados.
E). A técnica de narração em primeira pessoa, adotada no romance, com um
narrador personagem, produz, para o leitor, o efeito de sentido de objetividade.

40. Considerando o contexto da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos,


analise as afirmativas a seguir:
I – O narrador de Vidas Secas é onisciente, pois revela os pensamentos
mais profundos de cada membro da família de retirantes.
II – A linguagem utilizada na obra é direta, refletindo a dureza da vida no
sertão nordestino e a falta de recursos de expressão dos personagens.
III – A narrativa segue uma estrutura linear e cronológica, sem saltos
temporais ou flashbacks.
IV – A seca é retratada como a única adversidade enfrentada pelos
personagens, e o livro não aborda questões sociais mais amplas.
É (São) INCORRETA(S) a(s) afirmativa(s)
A. ( ) I e II, apenas.
B. ( ) II e III, apenas.
C. ( ) III e IV, apenas.
D. ( ) I e IV, apenas.

41. Associe corretamente cada uma das seguintes personagens de Vidas


Secas a sua característica.

1) Fabiano
2) Sinhá Vitória
3) Baleia
4) menino mais novo
5) menino mais velho
6) soldado amarelo
7) Tomás da bolandeira

( ) A esposa de Fabiano, uma mulher forte que compartilha a luta pela


sobrevivência no sertão.
( ) O pai de família determinado a enfrentar as adversidades do sertão
nordestino em busca de uma vida melhor para sua família
( )Muitas vezes retratado como ingênuo e curioso em relação ao mundo.
( ) Dono da fazenda em que a família buscou abrigo durante uma
tempestade.
( ) A cadela da família, uma presença constante que demonstra lealdade e
afeto.
( ) Representa a opressão e a injustiça enfrentadas pela família.
( ) Enfrenta desafios e responsabilidades precoces no sertão.
A sequência CORRETA na ordem de cima para baixo é:
A. ( ) 2, 1, 4, 7, 3, 6, 5
B. ( ) 3, 6, 5, 1, 2, 7, 4
C. ( ) 2, 7, 6, 4, 3, 1, 5
D. ( ) 3, 1, 7, 5, 2, 4, 6

42. Em Vidas Secas, a personagem Baleia é por vezes humanizada. Esse


fato é expresso em:
A. ( ) “Nesse ponto Baleia arrebitou as orelhas, arregaçou as ventas, sentiu cheiro de
preás, farejou um minuto, localizou-os no morro próximo e saiu correndo.”
B. ( ) “Baleia, o ouvido atento, o traseiro em repouso e as pernas da frente erguidas,
vigiava, aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do bicho e
talvez o couro.”
C. ( ) “Baleia não podia achar a novilha num banco de macambira, mas era
conveniente que os meninos se acostumassem ao exercício fácil – bater palmas,
expandir-se em gritaria, seguindo os movimentos do animal.”
D. ( ) “Tentaram explicar-lhe que tinham tido susto enorme por causa dela, mas
Baleia não ligou importância à explicação. Achava é que perdiam tempo num lugar
esquisito, cheio de odores desconhecidos.”
43. Graciliano Ramos (1892/1953), jornalista e político, exerceu o cargo de
prefeito da cidade Palmeiras dos Índios, interior de Alagoas. Estreou em
1933, com o romance “Caetés”. “Vidas Secas” – publicado em 1938 – é o
último romance desse autor. Leia um pequeno fragmento dessa obra.
Trata-se de episódio muito importante que caracteriza o protagonista
Fabiano.

TEXTO

— Você é um bicho, Fabiano.


Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer
dificuldades. Chegara naquela situação medonha - e ali estava forte, até
gordo, fumando seu cigarro de palha.
— Um bicho, Fabiano.
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns
dias mastigando raízes de imbu e sementes de mucunã.
Viera a trovoada e, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-
se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os
cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o,
entregara-lhe as marcas de ferro.
[...]
Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se
dirigia aos brutos exclamações, onomatopeias. Na verdade, falava pouco.
Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava
reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez
perigosas.
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2014.)
No trecho “Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua
com que se dirigia aos brutos - exclamações, onomatopeias.”.
A figura de linguagem onomatopeia, usada no trecho acima, significa
A) exagero na expressão de ideias.
B) suavização de um pensamento.
C)imitação de ruídos diversos.
D)repetições para reforçar a mensagem.
E) mistura de impressões sensoriais.

44. Leia o fragmento abaixo transcrito da obra “Vidas Secas” e responda à


questão 44: Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus
pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra.
Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma
linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.
A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado,
cambaio, torto e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a
mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias.
Na verdade falava pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente
da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram
inúteis e talvez perigosas. (Graciliano Ramos)
No texto, a referência aos pés:
A) Constitui um jogo de contrastes entre o mundo cultural e o mundo físico do
personagem.
B) Acentua a rudeza do personagem, em nível físico.
C) Justifica-se como preparação para o fato de que o personagem não estava
preparado para caminhada.
D) Serve para demonstrar a capacidade de pensar do personagem.
E) Caracteriza um personagem sendo “da terra”.

45. Fabiano, ao analisar-se, considera-se, sucessivamente, um homem e um


bicho.
Levando-se em consideração o perfil dessa personagem no contexto da
obra, a melhor explicação é que ele :
A) sente-se desprovido de racionalidade na relação interpessoal com outras
personagens.
B) percebe-se acuado e rejeitado pela sociedade dos homens, seus semelhantes.
C) acha-se inferior aos outros membros da família.
D) reconhece-se bicho e isso o satisfaz, porque bicho é um ser que sabe resolver
problemas práticos.
E) vê-se como animal, já que todos o tratam dessa maneira.

46. De acordo com a leitura do livro Vidas Secas pode-se afirmar que:
A) as lembranças do passado enchem de beleza e ternura a vida de Fabiano.
B) Fabiano mostra-se enfurecido por não viver em outro lugar.
C) Fabiano, assim como os retirantes nordestinos, sente-se apático diante das
adversidades climáticas.
D) depois de muito sofrer, Fabiano e sua família conseguem se instalar em uma
pequena propriedade rural.
E) o retirante Fabiano e sua família viviam rodeados de bichos, em um lugar ermo.

47. Qual é o título do livro escrito por Graciliano Ramos?


A) Vidas Secas
B) Memórias da Emília
C) Macunaíma
D) Dom Casmurro
48. Lei o trecho
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes
tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente
andavam pouco, mas como haviam repousado na areia do rio seco, a viagem
progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem
dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.
(…)
Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no
bebedouro dos animais um pouco de lama.
Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no
chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que
vinham nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia muitas estrelas, havia mais de
cinco estrelas no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doída enchia o
coração de Fabiano.
(…)
A lua crescia, a sombra leitosa crescia, as estrelas foram esmorecendo naquela
brancura que enchia a noite. Uma, duas, três, agora havia poucas estrelas no céu. Ali
perto a nuvem escurecia o morro.”
Os trechos acima pertencem ao primeiro capítulo de Vidas Secas, de Graciliano
Ramos. Escrito em terceira pessoa, apresenta personagens oprimidas e moldadas
pelo meio.
A respeito dessa obra, é incorreto afirmar:
A) É um romance cujos capítulos, independentes, podem ser lidos em ordens
diferentes de seleção. São painéis variados de um mesmo drama.
B) É um romance de estrutura cíclica, já que o começo e o fim se tocam, e o drama
do primeiro capítulo repete-se no último.
C) Fabiano, personagem principal, tem uma incapacidade básica de comunicação
com outras pessoas. Quase não consegue expressar-se verbalmente; por isso, seu
modelo de realização pessoal é Seu Tomás da bolandeira.
D) O romance, por suas características de linguagem extremamente difícil e por
abordar o tema da seca, mostra-se inteiramente desprovido de qualquer estado de
poesia e de sentimento lírico.
E) Revela mais intensamente o sentimento da terra nordestina, e o que marca a
fisionomia e os caracteres de suas personagens é o fenômeno

49. Qual é o nome do cachorro da família Silva?


A) Baleia
B) Fubá
C) Baleiro
D) Fubica

50. Em que região do Brasil se passa a história de "Vidas Secas"?


A) Nordeste
B) Sul
C) Norte
D) Sudeste

51. A respeito de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, somente não se pode


afirmar que:
A) As personagens Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos são convertidos em criaturas
brutalizadas, numa sugestão de que a dureza do solo nordestino aproxima a vida
humana da vida animal.
B) Embora composta de pequenas narrativas isoladas, a obra mantém a estrutura de
um romance pela presença quase constante de seus personagens e por uma
sucessão temporal.
C) A obra insere-se no chamado romance de 30, por uma total fidelidade aos
experimentalismos linguísticos da fase heroica do movimento modernista.
D) O retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios pensamentos, expressa-
se, quase sempre, através do discurso indireto livre de um narrador onisciente.
E) A narrativa denuncia o flagelo do sertão nordestino, onde o homem, fundindo-se
ao seu meio, é arrastado por um destino adverso e inútil.

52.O que o personagem Fabiano faz para sobreviver?


a) Trabalha como professor
b) Cultiva um pequeno pedaço de terra
c) Vende produtos na feira
d) Caça animais na floresta

53. Qual é a principal dificuldade enfrentada pela família Silva durante a


história?
A) A falta de água
B) A falta de comida
C) A falta de abrigo
D) A falta de dinheiro

54. Qual é o significado do título "Vidas Secas"?


A) Refere-se ao ambiente árido onde a história se passa
B) Representa a falta de emoção dos personagens
C) Simboliza a falta de oportunidades para a família
D) Indica a ausência de água na região

55. Como é descrito o final do livro "Vidas Secas"?


A) A família Silva encontra uma nova casa e recomeça sua vida
B) Todos os membros da família morrem de fome
C) A família é resgatada por um grupo de viajantes
D) Fabiano decide abandonar a família e seguir sozinho

56. Qual é o nome da família retratada no livro "Vidas Secas"?


A) Silva
B) Vasconcelos
C) Pereira
D) Santos

57. Vidas Secas é uma das obras marcantes da Segunda Fase do


Modernismo Brasileiro, que tem como autor:
A) Graciliano Ramos
B)Machado de Assis
C)Guimarães Rosa
D)José de Alencar

58. O narrador pode ser um personagem da obra ou o próprio autor. No


caso de Vidas Secas, quem é o narrador?
A) Fabiano
B)Sinhá Vitória
C)O autor
D)Baleia

59. Os nomes de integrantes de uma família, às vezes, têm uma relação


direta do momento em que ela vive. Qual é o nome do menino mais novo da
família?
A) Fabiano
B) Sinhá Vitória
C) Rio Preto
D) O menino não tinha nome
60. Geralmente, as famílias, por mais simples que sejam, possuem um ou
mais animais de estimação. Apesar da luta a qual enfrenta, qual é o animal
de estimação da família?
A) Cavalo
B) Cachorro
C) Gato
D) Galinha
E) Tartaruga

61. Qual é a principal preocupação da família de Fabiano, em Vidas Secas?


A) Entre tantas, encontrar água
B) Entre tantas, conseguir comida
C) Entre tantas, construir uma casa
D) Entre tantas, buscar educação para as crianças

62. Qual é o destino final da família de Fabiano e Sinhá Vitória ao final do


livro?
A)Rio de Janeiro
B)São Paulo
C)Salvador
D)Migram para outra região do Nordeste

63. Muitas vezes, o tema recorrente em uma obra fica evidencia-se direta
ou indiretamente por meio de uma simbologia. Isso acontece em Vidas
Secas. Quem ou o que é considerado o símbolo da seca na narrativa da
obra?
A) Fabiano
B) Sinhá Vitória
C)O menino mais novo
D)A cachorra Baleia

64. Paralelamente ao enredo, as obras literárias acontecem durante algum


período histórico em que vivem as pessoas. No caso de Vidas Secas, em
que contexto histórico está inserida?
A) Primeira Guerra Mundial
B) Revolução Industrial
C) Ditadura Militar no Brasil
D)Período de seca no Nordeste nos anos 1930

65. Em Vidas Secas, possivelmente o papel da educação seria


imprescindível no enfrentamento da seca nordestina. Qual é o papel da
educação na vida da família de Fabiano?
A) É uma prioridade
B) Não é mencionada no livro
C) É rejeitada pelos personagens
D) É a única saída para a situação da família

66. À cadela Baleia é destinada uma função de destaque na história.


Identifique essa função:
A) Representa um símbolo de fartura
B) É um empecilho para a ações da família
C) É como uma espécie de guia na jornada da família
D) Representa uma metáfora para a seca

67. Qual é a relação de Fabiano com o soldado amarelo que aparece no


decorrer da narrativa?
A) São amigos de infância
B) Fabiano é inimigo do soldado
C) O soldado ajuda a família
D) Não há interação entre eles

68. Quem é responsável por narrar o capítulo intitulado "Baleia", um dos


mais importantes da narrativa?
A) Fabiano
B) Sinhá Vitória
C) O soldado amarelo
D) O autor

69. Vidas Secas é obra de destaque na fase literária denominada:


A)Pré-modernismo
B)Primeira fase do modernismo
C)Segunda fase do modernismo
D)Terceira fase do modernismo

70. O que acontece com a família de Fabiano durante a festa de São João,
quando todos vão para a cidade apreciar as festanças?
A) Eles encontram um emprego
B) São expulsos da cidade
C) Conseguem comida suficiente para o ano
D) São convidados para uma festa

71. Geralmente os autores de obras literárias procuram explorar em suas


produções elementos que julgam de excelência como tema. Qual é o tema
principal da obra Vidas Secas?
A) A urbanização no Nordeste
B) A seca e suas consequências
C) A vida rural no Sul do Brasil
D) O crescimento econômico do país

72. O que representa o "inverno" na vida da família de Fabiano tão


castigada pela seca nordestina?
A) Uma estação chuvosa
B) Uma época de fartura
C) Um período de dificuldades
D) Um símbolo de esperança

73. Quem é considerado o chefe da família que protagoniza a obra Vidas


Secas, de Graciliano Ramos?
A) Fabiano
B) Sinhá Vitória
C) O menino mais novo
D) O menino mais velho

74. O texto abaixo apresenta uma passagem do romance Vidas secas, de


Graciliano Ramos, em que Fabiano é focalizado em um momento de
preocupação com sua situação econômica. Escrito em 1938, esta obra
insere - se num momento em que a literatura brasileira centrava seus
temas em questões de natureza social.
"Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça.
Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os
legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por
preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição,
tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco."
(In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991.)
Sobre este trecho do romance, somente está INCORRETO o que se afirma
na alternativa:
A) Este trecho resume a situação de permanente pobreza de Fabiano e revela-se
como uma crítica à economia brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no
sertão nordestino no momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado
pelas orações: "... Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à
gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes..."
B) A oração: "Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça"
tanto pode ser o discurso do narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto
pode ser o próprio pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também
ocorre com as demais personagens do romance.
C) A oração: "... Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os
recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco" indica a voz do narrador em
terceira pessoa, ao mostrar o estado de agonia em que se encontra a personagem.
D) A expressão “Forjara planos”, típica da linguagem culta, é seguida no texto por
um provérbio popular: “quem é do chão não se trepa”. Essa mudança de registro
linguístico é reveladora do método narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das
classes populares à da elite.
E) O texto tem início com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação
econômica; a seguir, passa a focalizar a realidade de pobreza em que a personagem
se encontra, e finaliza com sua revolta e angústia diante da condição de empregado,
sempre em dívida com o patrão.

75. Qual é o papel que o autor reserva ao soldado amarelo na saga


presente na narrativa?
A) Proteger a família de Fabiano
B) Ser um guia na jornada da família
C) Representar a autoridade opressora
D) Oferecer ajuda financeira

76. Ao se fazer uma análise da obra Vidas Secas, pode-se concluir que:
A) O autor faz um uso de um vocabulário rebuscado para retratar a vida da família
com maior precisão.
B) О livro não арrеѕеntа dіѕсurѕо іndіrеtо lіvrе, роіѕ а mеѕсlа dа fаlа dоѕ
реrѕоnаgеnѕ соm о dіѕсurѕо dо nаrrаdоr соnfundіrіа оѕ lеіtоrеѕ, dеіхаndо о rоmаnсе
dіfíсіl dе ѕеr соmрrееndіdо.
C) O romance apresenta uma linearidade clara, já que apresenta começo, meio e
fim.
D) O autor não utiliza muitos adjetivos porque deseja exprimir a aridez do sertão.
O papagaio de estimação da família também sofre as consequências da
seca nordestina. Que fim está destinado a ele?
A) Morre de fome
B) É roubado por outra família
C) É solto para voar livremente
D) É vendido para comprar comida

78. Qual é a relação entre Fabiano e o papagaio de estimação da família?


A) Fabiano odeia o papagaio
B) Fica claro o vínculo de amizade entre eles
C) Fabiano o considera uma ameaça
D) Não há interação entre eles

79. O que simboliza a "terra prometida" mencionada por Sinhá Vitória,


aquela que sonha em ter pelo menos uma cama como aquela do Tomás da
Bolandeira?
A) Uma cidade grande
B) Um lugar com água abundante
C) Uma fazenda próspera
D) A busca por uma vida melhor

80. Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E
lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se
espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro
enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. (Graciliano
Ramos)
Sobre o texto acima, é correto afirmar que:
A) há marcas próprias do chamado discurso direto através do qual são reproduzidas
as falas das personagens.
B) o narrador é observador, pois conta a história de fora dela, na terceira pessoa,
sem participar das ações, como quem observou objetivamente os acontecimentos.
C) quem conta a história é uma das personagens, que tem uma relação íntima com
as outras personagens, e, por isso, a maneira de contar é fortemente marcada por
características subjetivas, emocionais.
D) evidencia-se um conflito entre a protagonista Baleia e o antagonista
Fabiano, pois este impede que a cadela possa caçar os preás.
E) o narrador é onisciente, isto é, geralmente ele narra a história na terceira pessoa,
sabe tudo sobre o enredo e sobre as personagens, inclusive sobre suas emoções,
pensamentos mais íntimos, às vezes, até dimensões inconscientes.

81. Sobre a obra Vidas Secas, é correto afirmar que:


A) a preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o
sentimento dramático da vida, habitualmente presente nos poemas do autor
B) apresenta temática indianista, a exemplo do que fizera Gonçalves Dias em Os
Timbiras e Canção do Tamoio
C) as personagens humanas, em razão da seca, da fome, da miséria e das injustiças
sociais, animalizam-se; em contrapartida, os bichos humanizam-se
D) Chico Bento, antes da seca, não era vagabundo, nem bandido; era um
trabalhador rural
E) narra a história de um burguês, Paulo Honório, que passara da condição de
caixeiro-viajante e guia de cego à de rico proprietário de uma fazenda. Para atingir
seus objetivos, o protagonista elimina todos os empecilhos que se colocam à sua
frente, inclusive pessoas.

82. (ESPM) Fragmento 1:


“Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as
palavras de seu Tomás da Bolandeira:
− Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc.
É conforme.
...
(...) Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se.
Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia
porque ele não sabe falar direito?
Fragmento 2:
(...) Ele nunca tinha ouvido falar em inferno. Estranhando a linguagem de
Sinhá Vitória, pediu informações. Sinhá Vitória, distraída, aludiu
vagamente a certo lugar ruim demais, e como o filho exigisse uma
descrição, encolheu os ombros.
...
(...) Não obteve resposta, voltou à cozinha, foi pendurar-se a saia da mãe:
− Como é?
Sinhá Vitória falou em espetos quentes e fogueiras.− A senhora viu?
Aí Sinhá Vitória se zangou, achou-o insolente e aplicou-lhe um cocorote. O
menino saiu indignado com a injustiça (...).
Os fragmentos são de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. No fragmento 1,
Fabiano foi preso pelo soldado amarelo e, no 2, o menino mais velho é
castigado por querer satisfazer uma curiosidade. A partir dos excertos,
pode - se dizer que a obra aborda a questão da linguagem como:
A) Privilégio de uma elite social que a usa como forma de manter um status dentro
da comunidade na qual está inserida.
B) Representação da cultura oficial e um anseio da população mais carente, ávida de
um instrumento de defesa.
C) Instrumento de poder e repressão, uma vez que quem não a possui évítima da
violência física e psicológica.
D) Manipulação de conceitos abstratos, permitindo a quem domina a linguagem
alterar o significado dos paradigmas.
E) Forma de justificativa à agressão, já que quem detém o conhecimento considera o
ignorante um ser inferior.

83. ’Iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano


estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era
nem onde era. (...) E andavam para o Sul, metidos naquele sonho. Uma
cidade grande cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas,
aprendendo coisas difíceis e necessárias. (...) Chegariam a uma terra
desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a
mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes,
brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos.’
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Martins, 27. ed., s/d, p. 172)
Nessas frases finais do romance Vidas Secas,
A) A família de migrantes anima-se ao ter notícias de que uma vida melhor já lhes
estava reservada.
B) Como que voltando ao ponto inicial da narrativa, a família põe-se em marcha,
tocada pela seca.
C) O temor silencioso que assalta Fabiano e sua família é o de se manterem presos à
terra desconhecida.
D) O narrador faz ver ao leitor quão atípica se tornou a situação daquela família de
nordestinos.
E)Como que insinuando a impossibilidade de Fabiano alcançar seu destino, o
narrador se vale do futuro do pretérito.

84. O livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, se esforça para revelar a


desumanização promovida pela seca nos personagens. Dessa forma, com
relação aos personagens da obra, é correto afirmar que
A) Fabiano, o pai, oscila entre a condição de homem e a de animal.
B) Sinhá Vitória, a mãe, acompanha a condição de seu marido.
C) O filho Menino mais Novo se identifica com a mãe.
D) O filho Menino mais Velho se identifica com o pai.

85. “Iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano


estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era
nem onde era. (...) E andavam para o Sul, metidos naquele sonho. Uma
cidade grande cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas,
aprendendo coisas difíceis e necessárias. (...) Chegariam a uma terra
desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a
mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes,
brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos.”
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Martins, 27. ed., s/d, p. 172)
Publicado em 1938, o romance Vidas Secas tem como contexto histórico e
literário
A) A consagração do movimento modernista, notadamente quanto à nova forma
narrativa que nele se preconizava.
B) Um conjunto de textos ficcionais, os quais se restringiam à análise de caracteres e
à investigação psicológica.
C) Uma sucessão de movimentos locais libertários, provocados sobretudo pelo
descontentamento com a República.
D) A consagração do naturalismo científico, no qual a documentação histórica dava
base à narrativa ficcional.
E) Um conjunto de obras ficcionais pelo qual se revelavam aspectos socioeconômicos
de regiões brasileiras.

86. Vidas Secas, de Graciliano Ramos, obra da segunda fase do


Modernismo brasileiro, conta a saga de uma família de retirantes, marcada
por uma ostensiva exclusão social.
“Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse
percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
-Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor,
um bicho capaz de vencer dificuldades.
Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo,
fumando o seu cigarro de palha.
-Um bicho, Fabiano.
[...]
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara
uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a
trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se
desentendido e oferecera seus préstimos, resmungando, coçando os
cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o,
entregara-lhe as marcas de ferro.
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um
bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus
e os xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e
as baraúnas. Ele, a sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam
agarrados à terra.
[...]
Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia!”
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.)
Com marcas temporais adequadas, o narrador usa o recurso do flashback
para
A) Fazer digressões do narrador, fora do contexto das personagens.
B) Fazer valer momentos memoráveis da vida de uma das personagens.
C) Focar o cenário onde se passa a história narrada.
D) Dar maior dinamismo à fala das personagens.
E) Evitar recorrências na tessitura narrativa.

87. No livro Vidas Secas, tanto as dificuldades de interlocução de Fabiano


como o silêncio que lhe é característico, relacionam-se à condição
subalterna que a personagem vivencia em seu meio social. Essa relação é
evidenciada no seguinte fragmento:
A) “Às vezes dizia uma coisa sem intenção de ofender, entendiam outra, e lá
vinham questões. Perigoso entrar na bodega. O único vivente que o
compreendia era a mulher. Nem precisava falar: bastavam gestos.”
B) “Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomes arrevesados, por
embromação. Via perfeitamente que tudo era besteira. Não podia arrumar o que
tinha no interior. Se pudesse... Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos que
espancam as criaturas inofensivas.”
C) “Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se
ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra
ocupado em guardar coisas dos outros.”
D) “Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. Os seus pés duros
quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com
o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e
gutural, que o companheiro entendia.”
E) “Era como se Fabiano tivesse esfolado um animal. A barba ruiva e emaranhada
estava invisível, os olhos azulados e imóveis fixavam-se nos tições, fala dura e rouca
entrecortava-se de silêncios.”

88. Leia os trechos abaixo, retirados respectivamente do segundo e dos


penúltimos capítulos de Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
“– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar
- se ouvindo-o falar sozinho. E, pensando bem, ele não era um homem; era
apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho,
queimado, tinha olhos azuis e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra
alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença
de brancos e julgava-se cabra. (Capítulo II).
Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e ensinara o caminho. Esfregou a
testa suada e enrugada. Para que recordar a vergonha? Pobre dele. Estava
tão decidido que ele viveria sempre assim? Cabra safado, mole. Se não
fosse tão fraco, teria entrado no cangaço e feito misérias. Depois levaria
um tiro de emboscada ou envelheceria na cadeia, cumprindo sentença, mas
isto não era melhor que acabar-se numa beira de caminho, assando no
calor, a mulher e os filhos acabando-se também. Devia ter furado o pescoço
do amarelo com faca de ponta, devagar. Talvez estivesse preso e
respeitado, um homem respeitado, um homem. Assim como estava,
ninguém podia respeitá-lo. Não era homem, não era nada. Aguentava zinco
no lombo e não se vingava.” (Capítulo XII).
Assinale a alternativa CORRETA sobre os trechos acima.
A) No segundo trecho, Fabiano revela o projeto de virar cangaceiro para ser
respeitado como um homem.
B) No primeiro trecho, Fabiano revela vergonha de se afirmar como homem, por ser
apenas um cabra ocupado em guardar as coisas dos outros.
C) No primeiro e no segundo trechos, a sensação de não ser homem permanece,
apesar de Fabiano ter furado o pescoço do soldado amarelo.
D) Em ambos os trechos, Fabiano revive a vergonha de ter dito que era homem para
o soldado amarelo.
E) Na presença dos meninos, Fabiano luta para superar a vergonha de ser cabra e de
se afirmar como homem.

89. (UFRR)
TEXTO
“As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o
passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele
estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos
rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam
- se e sangravam. Num cotovelo do caminho avistou um canto de cerca,
encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu
- lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.”
“Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira,
chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra. Sinhá Vitória
acomodou os filhos, que arriaram como trouxas, cobriu-os com molambos.
O menino mais velho, passada a vertigem que o derrubara, encolhido sobre
folhas secas, a cabeça encostada a uma raiz, adormecia, acordava. E
quando abria os olhos, distinguia vagamente um monte próximo, algumas
pedras, um carro de bois. A cachorra Baleia foi enroscar-se junto dele.”
“Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro
das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo
anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham
fugido.”
(Vidas Secas. Graciliano Ramos.)
A partir da leitura dos excertos da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos,
mostrados no texto, pode-se observar:
A) Uma linguagem bruta que se sobrepõe a qualquer valor sentimental entre os
personagens da narrativa.
B) Um processo de migração em busca das necessidades básicas de sobrevivência,
ao mesmo tempo em que revela a expressão de relações humanas prejudicadas pela
aridez do ambiente, atenuada pela presença de Baleia.
C) A perspectiva de um narrador em primeira pessoa que revela suas próprias
experiências diante da secura do ambiente e da necessidade de migrar.
D) A seca do Nordeste apresentada numa perspectiva de sofrimento, a partir da
visão de Fabiano, que revela os percalços do caminho em busca de alimento e de
abrigo.
E) A secura do ambiente e a aridez da vida, destacando o otimismo de
Fabiano diante das dificuldades.

90. Entre as principais características de Vidas Secas, fica evidente o que


se segue:
A) Falta de linearidade do tempo.
B) Foco no nordestino, mostrando os problemas como a seca, a migração e a miséria
do trabalhador rural.
C) Presença de figuras de linguagem como metáfora, prosopopeia e zoomorfização.
D) Foco narrativo em terceira pessoa
E) Todas as narrativas estão corretas.

91 “Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso, a qualquer coisa


que era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os
agentes da prefeitura. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado,
tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência
que suportasse tanta coisa.”
Os termos sublinhados no trecho acima, de Vidas Secas, indicam que, para
Fabiano:
A) as opressões da vida não eram invencíveis, já que seu ódio ou sua paciência,
alternando-se, permitiam-lhe enfrentá-las de modo que lhe fosse mais conveniente.
B) tudo era motivo de indignação, uma vez que seu pensamento confuso não
distinguia entre os verdadeiros inimigos e os possíveis aliados.
C) os diferentes antagonismos se misturavam e confundiam-se em sua limitada
capacidade de análise, o que lhe impedia qualquer reação objetiva.
D) nada era especialmente revoltante, porque ele avaliava com acerto as forças de
seus oponentes e acabava adotando uma posição fatalista.
E) a vida dos retirantes na caatinga era uma lição de inconformismo, porém nada
faziam contra as vicissitudes do clima que estará sempre a castiga-los.

92. Leia esse trecho


“Como não sabia falar direito, o menino balbuciava expressões
complicadas, repetia as sílabas, imitava os berros dos animais, o barulho
do vento, o som dos galhos que rangiam na catinga, roçando-se.
(…)
Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com
repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia
ao discurso ambíguo.”
O fato de as personagens centrais de Vidas Secas se expressarem
conforme indicam os fragmentos acima, levou Graciliano Ramos, nesse
romance, a
A) ocupar-se com cenas basicamente descritivas, como um criador que não tem a
opção dos diálogos, tampouco acesso ao pensamento informe de suas criaturas.
B)compor um conjunto de episódios isolados, desconsiderando a cronologia ou
qualquer outro critério de encadeamento das ações.
C) elaborar seu próprio estilo num registro imitativo, num discurso entrecortado e
vago, que inutilmente procura a expressão das ações.
D) adotar formas de discurso indireto livre toda vez que desejou traduzir o
pensamento nebuloso e fragmentário de suas personagens.
E) criar um narrador que, desvinculado dos desejos e sentimentos das personagens,
busca interpretá-las a partir de seus gestos ou expressões faciais.

93. TEXTO

RETIRANTES

“A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo,


manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas.
Encolhido no banco de copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as
folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os
garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul, as últimas arribações
tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo
carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.
Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido,
combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que
possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do
amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava
jogar-se no mundo, como negro fugido.”
(Graciliano Ramos, Vidas Secas)
Assinale a alternativa incorreta sobre o fragmento.
A) Além de sofrerem as consequências da seca, Fabiano e sua família também estão
submetidos a um regime de dominação social comparável ao do escravo.
B) A cor amarela (“caatinga”) e o tom avermelhado (“folhas secas”) reiteram a ideia
de seca e articulam-se com o azul do céu (ausência de chuva) e com os “garranchos
negros, torrados” (ausência de água).
C) O primeiro parágrafo inicia-se e termina com o apelo religioso das personagens, o
que enfatiza a ideia de desespero em que se encontram Sinha Vitória e Fabiano.
D) A sugestão da morte está presente em todo o trecho: “folhas secas”, “bichos se
finavam”, “bezerro morrinhento” etc.
E) Apesar de toda a situação adversa, Fabiano resiste com a altivez e confiança de
um típico herói frente aos obstáculos que se lhe apresentam.

94. A respeito de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, somente não se pode


afirmar que:
A) As personagens Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos são convertidos em criaturas
brutalizadas, numa sugestão de que a dureza do solo nordestino aproxima a vida
humana da vida animal.
B) Embora composta de pequenas narrativas isoladas, a obra mantém a estrutura de
um romance pela presença quase constante de seus personagens e por uma
sucessão temporal.
C) A obra insere-se no chamado romance de 30, por uma total fidelidade aos
experimentalismos linguísticos da fase heroica do movimento modernista.
D) O retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios pensamentos, expressa-
se, quase sempre, através do discurso indireto livre de um narrador onisciente.
E) A narrativa denuncia o flagelo do sertão nordestino, onde o homem, fundindo-se
ao seu meio, é arrastado por um destino adverso e inútil.

95. Na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas manchas


verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como
haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem
três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos
juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.
(Graciliano Ramos, Vidas secas)

Reestruturando-se o terceiro período do texto, mantém-se o sentido original apenas


em:
A) A viagem progredira bem três léguas, uma vez que haviam repousado bastante
na areia do rio seco, dado que ordinariamente andavam pouco.
B) Haviam repousado bastante na areia do rio seco; a viagem progredira bem três
léguas porque ordinariamente andavam pouco.
C) Porque haviam repousado bastante na areia do rio seco, ordinariamente andavam
pouco, e a viagem progredira bem três léguas.
D) Ainda que ordinariamente andassem pouco, a viagem progredira bem três léguas,
pois haviam repousado bastante na areia do rio seco.
E) Em virtude de andarem ordinariamente pouco e de haverem repousado bastante
na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas.

96. (PUC-GO) TEXTO 04

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os


infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na
areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que
procuravam uma sombra. [...]
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo
escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio,
cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao
cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a
cachorra Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho
pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
– Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai. Não obtendo resultado,
fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou
acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu
algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não
acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas
brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em
redor de bichos moribundos.
– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração
grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-
lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 100. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. p.
9-10)
Sobre o trecho “Arrastaram-se para lá, devagar [...] o menino mais velho e
a cachorra Baleia iam atrás”, retirado do texto 04, indique a única
alternativa verdadeira:
A) A palavra devagar exerce o papel de advérbio, pois modifica o verbo,
enriquecendo o significado global do predicado da sentença.
B) O trecho referido constitui-se num parágrafo narrativo, no qual as formas verbais
representam a celeridade das ações das personagens, mostrando a transmutação da
realidade.
C)A expressão “escanchado no quarto” significa “montado nas costas” e é
uma variável linguística muito utilizada no sul do Brasil.
D)Em “presa ao cinturão”, presenciamos um caso de regência verbal, pois o verbo
rege complemento introduzido pela preposição a.

97. Capítulo I – Mudança


Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os
infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na
areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas.
Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros
apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo
escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio,
cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão,
a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra
Baleia iam atrás.

(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 62. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992. p.9)
De acordo com a abertura do romance, é incorreto afirmar que:
A) Os personagens são: sinhá Vitória, Fabiano, o menino mais velho, o menino mais
novo e a cachorra Baleia.
B) Os personagens estão caminhando em busca de um lugar melhor para viver.
C) Os personagens estão há horas procurando uma sombra durante o período da
seca.
D) A cachorra chama-se Baleia em comparação ao maior mamífero marinho por
comer muito e ser obesa.

98. “Cambaio” significa:


a) magreza excessiva.
b) ausência de recursos financeiros.
c) pele seca.
d) pernas arqueadas

99.A obra é tão bem trabalhada que as figuras começam pelo título da
mesma: “VIDAS SECAS”. O primeiro vocábulo dá sentido de abundância
enquanto o segundo dá ideia de vazio, ou seja, há:
a) um paradoxo.
b) uma antítese.
c) um pleonasmo.
d) uma gradação.

100. Os fatos são narrados:


a) em primeira pessoa.
b) em segunda pessoa.
c) em terceira pessoa.
d) não é possível determinar em qual pessoa o texto é narrado.

101. (Enem 2007)

Texto I

"Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a


família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão,
suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não
lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao
pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal
na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando
crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam
pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo." (Graciliano
Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.)
Texto II
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não
há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo
da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que
Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura
romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se
tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece
porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a
despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um
ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter
pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com
pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de
uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes.
(Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n.° 2,
2001, p. 254.)
No texto II, verifica-se que o autor utiliza
A) linguagem predominantemente formal para problematizar, na composição de
Vidas Secas, a relação entre o escritor e o personagem popular.
B) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a linguagem formal, dirige-se
diretamente ao leitor.
C) linguagem coloquial para narrar coerentemente uma história que apresenta o
roceiro pobre de forma pitoresca.
D) linguagem formal com recursos retóricos próprios do texto literário em prosa para
analisar determinado momento da literatura brasileira.
E) linguagem regionalista para transmitir informações sobre literatura, valendo-se de
coloquialismo para facilitar o entendimento do texto.
102. (Enem 2007)

Texto I

"Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a


família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando
ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé
não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar
a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram
uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um
patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado
amarelo." (Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed.,
1969, p. 75.)
Texto II

Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não


há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo
da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que
Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura
romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se
tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece
porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a
despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um
ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter
pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com
pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de
uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes.
(Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n.° 2,
2001, p. 254.)
No texto II, verifica-se que o autor utiliza
A) linguagem predominantemente formal para problematizar, na composição de
Vidas Secas, a relação entre o escritor e o personagem popular.
B) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a linguagem formal, dirige-se
diretamente ao leitor.
C) linguagem coloquial para narrar coerentemente uma história que apresenta o
roceiro pobre de forma pitoresca.
D) linguagem formal com recursos retóricos próprios do texto literário em prosa para
analisar determinado momento da literatura brasileira.
E) linguagem regionalista para transmitir informações sobre literatura, valendo-se de
coloquialismo para facilitar o entendimento do texto.

103. Sobre Graciliano Ramos estão corretas as proposições, exceto:


A) Mais conhecido por seus romances, Graciliano Ramos não foi apenas romancista:
escreveu contos (Histórias incompletas, Insônia, Alexandre e outros heróis), crônicas
(Linhas tortas, Viventes das Alagoas) e impressões de viagens (Viagem).
B) Iniciou sua carreira de escritor com obras de cunho regionalista e de denúncia
social; passou por diferentes fases até chegar à fase em que se voltou para a crônica
de costumes.
C) O autor de Vidas secas sobressai-se sobre os demais de sua época pelas suas
qualidades universalistas e, sobretudo, pela linguagem enxuta, rigorosa e
conscientemente trabalhada.
D) Graciliano Ramos alcançou raro equilíbrio ao reunir análise sociológica e
psicológica, mostrando-se como o legítimo continuador de Machado de Assis na
trajetória do romance brasileiro.

104. Graciliano Ramos faz parte da seguinte fase do modernismo brasileiro:


A) Segunda fase do modernismo, destancando-se entre os poetas da geração de
1930.
B) Geração de 1945, da qual também fizeram parte nomes como Clarice Lispector.
C) Segunda fase do modernismo, em que se destaca a ficção regionalista.
D) Primeira fase, também conhecida como fase heroica, da qual também fizeram
parte Mário e Oswald de Andrade.
E) Pós-modernismo, momento literário em que também se destacaram nomes como
Ferreira Gullar e Augusto de Campos.

1- B 2- C 3- D 4- E 5- A 6- C 7- D 8- C 9- D 10- A
11- C 12- E 13- D 14- E 15- E 16- C 17- A 18- D 19- C 20- C
21- C 22- E 23- A 24- D 25- C 26- A 27- D 28- A 29- B 30- E
31- A 32- C 33- B 34- 35- 36- 37- 38- 39- 40-

CAMPO GERAL
A questão refere-se à obra “Campo Geral”, incluída no livro Manuelzão e
Miguilim, de João Guimarães Rosa. Assinale a alternativa INCORRETA em
relação à narrativa de Guimarães Rosa.
A) A dimensão mítica da estória é acentuada pela presença de seu Aristeu, figura
solar, que reconhece Miguilim como sujeito virtual da aquisição de sua sabedoria.
B) A partir da morte de Dito, Miguilim tem motivação para inventar estórias,
evadindo-se, assim, da triste realidade de pobreza e de perda.
C) O desejo de saber o certo, de separar o bom do mau é um aspecto que pontua a
trajetória psicológica do protagonista Miguilim.
D) Os conflitos entre os pais de Miguilim remetem a aspectos bíblicos e trágicos,
intensificando o caráter universalista da narrativa.

As questões 02 e 03 referem-se ao texto abaixo:

Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se


esconder.
– Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim…
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.
– Olha, agora!
Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo
novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os
grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as
formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali,
meu Deus, tanta coisa, tudo… O senhor tinha retirado dele os óculos, e
Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto.
Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo
mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O
senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo
podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá
dentro, contar à Rosa, à Maria Pretinha, a Mãitina. A Chica veio correndo
atrás, mexeu: – “Miguilim, você é piticego…” E ele respondeu: –
“Donazinha…” Quando voltou, o doutor José Lourenço já tinha ido embora.
(Guimarães Rosa. Manuelzão e Miguilim. “Campo Geral”)
02- (ITA) A narrativa
I. desenvolve-se num universo fantástico, corroborado pela subversão da
linguagem.
II. não retrata as experiências afetivas entre Miguilim e as outras
personagens, pois o foco está nas ações dele.
III. é escrita em terceira pessoa, mas a história é filtrada pela perspectiva
do menino Miguilim.
Está(ão) correta(s)
A) apenas I.
B) apenas I e II.
C) apenas II.
D) apenas III.
E) todas.

03. (ITA) Os diminutivos do segmento contribuem para criar uma linguagem


A) afetada.
B) afetiva.
C) arcaica.
D) objetiva.
E) rebuscada.

04. (EEWB) Leia o trecho abaixo, de Campo Geral, e assinale a alternativa


incorreta:
“Ah, tio Terêz devia de ir embora, de ligeiro, ligeiro, se não o Pai já devia
estar voltando por causa da chuva, podia sair homem morto daquela casa,
Vovó Izidra xingava tio Terêz de “Caim” que matou Abel, Miguilim tremia
receando os desatinos das pessoas grandes, tio Terêz podia correr, sair
escondido, pela porta da cozinha… Que fosse como se já tivesse ido há
muito tempo…”
A) O narrador figura–se como um adulto, a fim de contar efetivamente a história,
mas visualiza os fatos como se pertencesse ao íntimo do universo infantil,
diminuindo a distância entre as duas realidades.
B) A intertextualidade presente no trecho, a repreensão de Vovó Izidra em relação
ao ato do filho, é uma das várias referências à religião feitas ao longo da obra,
justificáveis pelas fortes tradições sertanejas.
C) A expressão de ligeiro, ainda que apresente o modo com o qual Tio Terêz devia de
ir embora, não pode ser considerada um adjunto adverbial do verbo ir, pois tem a
estrutura de locução adjetiva.
D) O que tem funções distintas no trecho: o primeiro é um pronome relativo que
retoma o nome Caim e o segundo é uma partícula expletiva ou de realce, podendo
ser suprimida sem que o sentido se altere.

05. (UFG) – Diversos motivos narrativos compõem a trama de “Campo


Geral”, texto da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. Qual o
motivo narrativo principal para a composição do enredo desse conto?
A) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim.
B) A instabilidade sentimental da mãe de Miguilim.
C) A observação do mundo pela ótica de Miguilim.
D) A rivalidade entre o Tio Terêz e o pai de Miguilim.
E) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim.

06. (UFRGS) – Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes


afirmações sobre sentimentos de personagens de Campo Geral, da obra
Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa.
( ) Miguilim odiava seu Pai, pela violência das surras e castigos que ele lhe
impunha: mandar embora a cadela, ou soltar os passarinhos que estavam
nas gaiolas.
( ) As rezas da avó e os feitiços de Mãitina enfim surtiram efeito: Miguilim
passou a se sentir culpado pela morte do irmão.
( ) Miguilim detestava o Mutum, mas, com a ajuda dos óculos do doutor,
acabou finalmente descobrindo que se tratava de um lugar bonito.
( ) Dito sentiu inveja de Miguilim porque Papaco-o-Paco era capaz de dizer
“ – Miguilim, Miguilim, me dá um beijim”, mas não conseguia pronunciar
“Dito”.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo,
é
A) F – V – F – F.
B) F – V – F – V.
C) V – V – F – V.
D) V – F – V – V.
E) V – F – V – F.

07. Leia o trecho a seguir, retirado da obra Campo Geral, de Guimarães


Rosa.
Chegou, e não falou nada. Não tomou a benção. Pai estava lá. — “O que é
que este menino xixilado está pensando? Tu toma a benção?!” Tomou a
benção, baixinho, surdo. Ficava olhando para o chão. Pai já estava
encostado nele, como um boi bravo. Miguilim desquis de estremecer, ficou
em pau, como estava. Já tinha resolvido: Pai ia bater, ele aguentava, não
chorava, Pai batia até matar. Mas, na hora de morrer, ele rogava praga
sentida. Aí Pai ia ver o que acontecia. Todos se chegaram para perto, até o
tio Osmundo Cessim, Miguilim esperava. Duro.
Mas Pai não bateu em Miguilim. O que ele fez foi sair, foi pegar as gaiolas,
uma por uma, abrindo, soltando embora os passarinhos, os passarinhos de
Miguilim, depois pisava nas gaiolas e espedaçava. Todo o mundo calado.
Miguilim não arredou do lugar. Pai tinha soltado os passarinhos todos, até
o casalzinho de tico-ticos-reis que Miguilim pegara sozinho, por ideia dele
mesmo, com peneira, na porta-da-cozinha, uma vez. Miguilim ainda
esperou para ver se Pai vinha contra ele recomeçado. Mas não veio. Então
Miguilim saiu. Foi ao fundo da horta, onde tinha um brinquedo de rodinha-
d’água —sentou o pé, rebentou. Foi no cajueiro, onde estavam pendurados
os alçapões de pegar passarinhos, e quebrou com todos. Depois veio,
ajuntou os brinquedos que tinha, todas as coisas guardadas —os tentos de
olho-de-boi e maria-preta, a pedra de cristal preto, uma carretilha de
cisterna, um besouro verde com chifres, outro grande, dourado, uma folha
de mica tigrada, a garrafinha vazia, o couro de cobra-pinima, a caixinha de
madeira de cedro, a tesourinha quebrada, os carretéis, a caixa de papelão,
os barbantes, o pedaço de chumbo, e outras coisas, que nem quis espiar —
e jogou tudo fora, no terreiro. E então foi para o paiol. Queria ter mais
raiva. Mas o que não lhe deixava a ideia era o casal de tico-ticos-reis, o
macho tão altaneirozinho bonito — upupava aquele topete vermelho, todo,
quando ia cantar. Miguilim tinha inventado de pôr a peneira meia em pé,
encostada num toquinho de pau, amostrara arroz por debaixo, e pôde ficar
de longe, segurando a pontinha de embira que estava lá amarrada no
toquinho de pau, tico-tico-rei veio comer arroz, coração de Miguilim
também, também, ele tinha puxado a embira... Agora, chorava.
(Campo Geral, Guimarães Rosa)
A narrativa de Campo Geral
I. é escrita em terceira pessoa, mas também permeada por discursos
indiretos livres que colocam o pensamento de Miguilim no meio das falas
do narrador.
II. apresenta uma dificuldade de comunicação entre os adultos e as
crianças, que nem sempre se compreendem ou se relacionam de maneira
boa.
III. tem diferentes momentos em que os animais e a natureza são
fundamentais para a compreensão das relações, como nas duas vezes em
que o pai solta os animais de Miguilim.

Estão corretas as afirmativas


A)I e II.
B)I e III.
C)II e III.
D)nenhuma está correta.
E)todas estão corretas.

08. (UFJF – 2019 - Adaptada) –

TEXTO

Campo Geral

Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe,
longe daqui, muito depois da Veredado-Frango-d'Água e de outras veredas
sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos
Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de
serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali,
pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser
crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou
dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha.
De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha
dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e
muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..."
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de
tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados
meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro,
o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha,
na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava.
Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu
tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e
ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com
um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz
que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho,
um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o
copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água.
Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz
tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma
cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber,
Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e
preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar
o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai. Quando
voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para
dar à mãe: o que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito...
A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada.
Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma
salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o
quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e,
assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe,
estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas
mirou triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá
por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de
mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a mãe
falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não
podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço
que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo
Miguilim visse beleza no Mutúm — nem ele sabia distinguir o que era um
lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha
falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de
sua mãe — agravada de calundú e espalhando suspiros, lastimosa. No
começo de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia, pouco entendendo.
Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.

(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova


Fronteira, 2001.)

No texto, “Campo Geral”, as descrições coincidentes do Mutúm feitas por


dois dos personagens são:

A) as de que no Mutúm chove muito.


B) as de que o Mutúm é um lugar triste.
C) as de que o Mutúm é um lugar longe e escuro.
D) as de que no Mutúm há muito morro e pouca mata.
E) as de que o Mutúm é um lugar bonito, escuro e longe.

09. (UEG) ― “Mãe, que é que fizeram com o resto da roupinha do Dito?” ―
agora ele queria saber. ― “Está guardada, Miguilim. Depois ela ainda vai
servir para Tomezinho.” “― Mãe, e as alpercatinhas do Dito?” “― Também,
Miguilim. Agora descansa.” Miguilim tinha mesmo que descansar, perdera
a força de aluir com um dedo. Suava. Suava.
(ROSA, Guimarães. Manuelzão e Miguilim: (Corpo de baile). 11 ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 143.)
A respeito da prosa de Guimarães Rosa, na obra Manuelzão e Miguilim,
exemplificada pelo trecho citado de “Campo geral”, assinale a alternativa
INCORRETA:

A) O uso de palavras no diminutivo, como “roupinha”, “alpercatinhas”, “Tomezinho”,


nesse trecho, revela o clima de afetividade que permeia o universo infantil da
personagem Miguilim, em meio aos costumes rudes em que ele nasce, cresce e vai
descobrindo o mundo.
B) “A rola fôgo-apagou cantava continuado, o dia, mesmo na calada do calor,
quando dormiam os outros pássaros.” Nesse trecho de “Uma história de amor”,
percebe-se um uso mais convencional e menos inovador da língua, o que se opõe à
narrativa de “Campo geral”.
C) As inovações, no aspecto linguístico, apresentam-se na exploração criativa das
possibilidades da língua, como ocorre na sugestividade sonora da repetição em
“Suava. Suava.” Ou na expressividade sintático semântica do verbo aluir, em
“Miguilim tinha mesmo que descansar, perdera a força de aluir com um dedo.”
D) Ainda na passagem “Miguilim tinha mesmo que descansar, perdera a força de
aluir com um dedo” e em toda a narrativa de “Campo geral” é notória a simpatia que
o narrador tem por seu protagonista.

10. (IFMG) Com base em seus conhecimentos acerca da prosa produzida


por Guimarães Rosa, pode-se afirmar que as características comuns a sua
escrita comparecem nesse trecho, EXCETO:
A) Uso de neologismos e de uma linguagem escrita muito parecida com a linguagem
oral.
B) Escrita sem rigor estético, cheia de erros de português, a fim de criticar a falta de
cultura do homem sertanejo.
C) Narrativa com ideais filosóficos que levam à reflexão da existência humana.
D) Os fatos narrados têm como cenário o sertão mineiro, por isso são retratados
hábitos, paisagens e dialetos típicos dessa região.

11. (Fuvest) Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a Chica,
Tomezinho. Sorriu para Tio Terêz: – “Tio Terêz, o senhor parece com Pai...”
Todos choravam. O doutor limpou a goela, disse: – “Não sei, quando eu tiro
esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d’água...” Miguilim
entregou a ele os óculos outra vez. Um soluçozinho veio. Dito e a Cuca
Pingo-de-Ouro. E o Pai. SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM... SEMPRE ALEGRE,
MIGUILIM... Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o beijava. A Rosa
punha-lhe doces-de-leite nas algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco
falava, alto, falava.
(In: Manuelzão e Miguilim; João Guimarães Rosa.)
Neste trecho de “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, as expressões em
maiúsculo retomam, ao final da narrativa,

A) os versos sertanejos cantados pelo vaqueiro Salúz, em seu desejo de consolar


Miguilim.
B) a mensagem inicial de Tio Terêz, unindo, assim, o princípio e o fim da história.
C) as lições de conformidade e alegria de Mãitina a Miguilim, enraizados no
catolicismo popular.
D) a derradeira lição da sabedoria do Dito, reforçada depois por seu Aristeu.
E) o ensinamento do Grivo, cuja pobreza extrema era, no entanto, fonte de doçura e
alegria.

12. (Fuvest) Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a


novela “Campo geral” (“Miguilim”), de Guimarães Rosa:
I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva para o aprendizado de
Miguilim, seja nas experiências imediatas do cotidiano, seja na
investigação do valor e do sentido profundos dessas experiências.
II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos mostra que a vida rústica
do sertanejo é pobre como experiência - o que pode ser compensado pela
imaginação poética de quem sabe desligar-se daquela vida.
III. No momento final da narrativa, é em sentido literal e simbólico que um
novo mundo se revela para Miguilim - mundo que também se abre para
uma vida de novas experiências.

A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:


A)as afirmações I e III são corretas.
B)as afirmações I e II são corretas.
C)as afirmações II e III são corretas.
D)a afirmação II é correta.
E) a afirmação III é correta.

13.(ENEM) “De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor


de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem
trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um
chapéu diferente, mesmo. – Deus te abençoe, pequenino. Como é teu
nome? – Miguilim. Eu sou irmão do Dito. – E o seu irmão Dito é o dono
daqui? – Não, meu senhor. O Ditinho está em glória. O homem esbarrava o
avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro.
Redizia: – Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que
há, Miguilim? Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para
ele, por isso é que o encarava. – Por que você aperta os olhos assim? Você
não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa? – É Mãe,
e os meninos... Estava Mãe, estava Tio Terez, estavam todos. O senhor alto
e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor
perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele
mesmo: – Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está
enxergando? E agora?”
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.)

Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os


acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do
narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado
em:

A)O homem trouxe o cavalo cá bem junto.


B)Ele era de óculos, corado, alto (...).
C)O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...).
D)Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele (...).
E) Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos.

14. (PUCCamp) Na novela “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, o leitor


compreenderá que as sofridas experiências de menino no Mutum
permitirão que o protagonista, quando adulto,
A) procure esquecê-las, valorizando a vida que passou a ter depois de superar as
privações de sua infância vazia.
B) a elas se refira de modo a compensar aqueles momentos negativos com as
fantasias que agora lhes acrescenta.
C) as retome para valorizar o aprendizado profundo da infância, que inclui as perdas
afetivas e o ganho de quem as descobre.
D) as retome para analisar sua fragilidade de criança, em meio às condições penosas
daquela rotina sem revelações.

15. (UFRGS) Com base no texto Campo Geral, da obra Manuelzão e


Miguilim, de João Guimarães Rosa, associe adequadamente cada uma das
descrições da coluna da esquerda, abaixo, ao respectivo personagem,
citado na coluna da direita.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

A)3 – 4 – 5 – 2
B)4 – 1 – 3 – 5.
C)5 – 2 – 3 – 4.
D)2 – 1 – 5 – 4.
E)2 – 4 – 1 – 3.

16. (Faculdade Ciências Médicas-MG) A questão refere-se à obra “Campo


Geral”, incluída no livro Manuelzão e Miguilim, de João Guimarães Rosa,
indicada para este concurso.
“Resta explicar, rapazes, por que ligo tanto à Medicina. É ainda uma
questão de pachorra, uma espécie de mal-aventurada dor-de-corno.
Ninguém ignora que uma das... pegas infantis mais vulgarizadas no Brasil,
e talvez no mundo, é perguntarem ao rapazinho o que ele vai ser na vida.
Foi o que fizeram também comigo uma vez, eu não teria dez anos. Fiquei
atrapalhado, com muita vergonha de mim, e de repente escapei: – Vou ser
médico. [...] Me tornei médico às avessas, isto é, doente. Mais ou menos
imaginário. Sou duma perfeição perfeccional no descrever os sintomas das
doenças. Das minhas doenças. E finalmente a Medicina entorpeceu minhas
leituras. [...] E quando encontro, em leituras outras, qualquer referência
sobre Medicina, ficho.”
(ANDRADE, Mário de. Namoros com a medicina. São Paulo: Martins;
Brasília, INL, 1972, p.7-8.)
Mário de Andrade certamente ficharia as passagens a seguir, transcritas de
“Campo Geral”, EXCETO:
A)“Mas o Dito, de repente, pegava a fazer caretas sem querer, parecia que ia dar
ataque. Miguilim chamava Vovó Izidra. Não era nada. Era só a cara da doença na
carinha dele.”
B) “Era Vovó Izidra, moendo pó em seu fornilho, que era o moinho-de-mão, de pedra-
sabão, com o pião no meio, mexia com o moente, que era pau cheiroso de
sassafrás.”
C) “Vovó Izidra espremia no corte talo de bálsamo da horta, depois puderam amarrar
um pano em cima de outro, muitos panos, apertados.”
D) “Vovó Izidra fez um pano molhado, com folhas-santas amassadas, amarrou na
cabeça dele.”
17. (UFMG) Leia este texto: “Vede, eis a pedra brilhante dada ao
contemplativo; ela traz um nome novo, que ninguém conhece, a não ser
aquele que a recebe.” (Ruysbroek, o Admirável)
O uso de expressões populares são frequentes em Campo Geral. Assinale a
alternativa em que essa afirmativa NÃO se confirma.
A) “ Vez em quando, comiam, de sal, ou cocadas de buriti, dôce de leite, (...)”
B) “Ter um lugarim, reunir certa quantidade de meninos de por aqui por em volta,
tão precisados, assim é que vale. O bom real é o legal de todos...”
C) “Só Drelina era quem queria gostar: - “Fumaça percura é formosura...”
D) “Tomezinho e o Dito corriam, no pátio, cada um com uma vara de pau, eram
cavalinhos que tinham até nomes dados”

18. (UFMG)

TEXTO 1

A cegueira e o saber
Leio notícia de que foi inaugurado em Paris um restaurante onde as
pessoas têm a oportunidade de viver a experiência da vida de um cego,
pois aí os clientes comem no mais completo escuro. Chama-se,
apropriadamente, Dans Le noir (“No escuro”).
Os garçons são cegos, e não apenas servem, mas atuam como guias
levando os fregueses até suas mesas. O restaurante está na moda. Situa-se
ali perto do Beaubourg e até o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin foi
experimentar comer no escuro. A coisa ocorre assim: “Antes de entrar na
sala totalmente escura, os clientes deixam em armários com cadeados, no
bar do restaurante, relógios, isqueiros, celulares e qualquer outro objeto
que emita a mínima luz. Os pratos também são escolhidos antes de entrar
no recinto. Entre as opções, ‘ menu surpresa’, que só será descoberto
quando o garfo for levado à boca”. A experiência supera qualquer
instalação. As pessoas passam por três ambientes com cortinas nos quais a
luz vai rareando até a sala escura, onde há muito barulho, pois, para
compensar a falta de visão, as pessoas falam alto. A surpresa aumenta
quando o cliente descobre que tem outras pessoas à sua mesa. Foi um ex-
banqueiro e consultor de marketing social quem teve essa ideia. E diz a
matéria veiculada num site da BBC e mandada pela médica brasileira
Mônica Campos, residente nos Estados Unidos, que alguns clientes acham-
se ridículos durante a experiência, outros têm crise de choro e angústia,
mas o fato é que o restaurante está sempre lotado. As pessoas pagam para
não ver. É pitoresco, mas repito: as pessoas pagam para não ver, pagam
para comerem no escuro. Não deixa de ser sintomático que se abra um
restaurante onde os que veem vão experimentar a cegueira, exatamente
numa cultura de hipervisualização. Como se estivéssemos fatigados de ver,
agora queremos não-ver. Que seja por algumas horas, não importa. É como
se a poluição visual tivesse chegado a tal extremo, que se sente a
necessidade de recuperar outros sentidos, experimentando o “desver”
para, quem sabe, ver de novo. Tomo esse restaurante como uma metáfora
paradoxal de nossa época. A modernidade que descobriu e aperfeiçoou a
fotografia, e que, tendo conseguido essa façanha, a criando o cinema e
logo a seguir instalou a televisão dentro de nossas casas para que
víssemos o mundo e o universo 24 horas por dia; a mesma modernidade
que vem com essa enxurrada de letras e palavras em camisetas, vitrines,
anúncios luminosos, que nos manda imagens dos planetas mais distantes e
de detalhes das guerras e misérias mais horrendas; essa modernidade que
é um constante espetáculo de striptease, no qual o público e o privado, ou
melhor, a sala de visitas e a privada se acoplaram, essa modernidade, de
tanto ver, já não vê. O mundo é projetado como clipe de imagens
esfaceladas acompanhadas por um ruído ou ritmo qualquer. E, de repente,
na “Cidade Luz”, pagamos caro para comer no escuro.
(SANTA’NNA, Affonso Romano de. A cegueira e o saber 6. IN_: A cegueira e
o saber. Rio de Janeiro: Rocco, 2006, p. 26-27. (Fragmento).)
Em todas as alternativas abaixo, apresentam-se afirmativas que associam
elementos da narrativa de Campo Geral ao texto 1.
Preencha os parênteses em branco usando V para afirmativas verdadeiras
e F para afirmativas FALSAS.
I - Em ambos os textos, a ação na narrativa ocorre em espaços distintos. ( )
II - O narrador do texto 1 é o mesmo que o narrador de Campo Geral. ( )
III - Em ambos os textos, a ação na narrativa ocorre em um tempo mítico.
()
IV - Em ambos os textos, o ato de comer ultrapassa o paladar. ( )
V - No texto 1, as experiências são fabricadas; em Campo Geral, são
naturais. ( )
Assinale a sequência CORRETA.
A)V F F F V
B)V V F F F
C)F F V F V
D)F V F F F

19. (PUCCAMP) Leia o seguinte trecho de Guimarães Rosa:


"E desse modo ele se doeu no enxergão, muitos meses, porque os ossos
tomavam tempo para se ajuntar, e a fratura exposta criara bicheira. Mas os
pretos cuidavam muito dele, não arrefecendo na dedicação.
– Se eu pudesse ao menos ter absolvição dos meus pecados!...
Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o padre que o
confessou e conversou com ele, muito tempo, dando-lhe conselhos que o
faziam chorar.
– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e
tendo nas costas tanto pecado mortal?
– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé
de arrependimento nenhum...
E por aí a fora foi, com um sermão comprido, que acabou depondo o doente
num desvencido torpor."
O trecho acima representa a seguinte possibilidade entre os caminhos da
literatura contemporânea.
A) ficção regionalista, em que se reelabora o gênero e se revaloriza um universo
cultural localizado.
B) narrativa de cunho jornalístico, em que a linguagem comunicativa retoma e
reinterpreta fatos da história recente.
C) ficção de natureza politizante, em que se dramatizam as condições de classes
entre os protagonistas.
D) prosa intimista, psicologizante, em que o narrador expõe e analisa os movimentos
da consciência reflexiva.
E) prosa de experimentação formal, em que a pesquisa linguística torna secundária a
trama narrativa.

20. Sobre as características da prosa de Guimarães Rosa, é correto afirmar:


I. Observa-se o tratamento estético dado à matéria-prima da literatura: a
palavra. Para Guimarães Rosa, a forma, o metro e o ritmo são elementos
indispensáveis às suas narrativas.
II. A linguagem de Guimarães Rosa é permeada por neologismos, arcaísmos
e pela exploração sonora, sintática e semântica do português.
III. Uma das principais características da obra de Guimarães Rosa é a
reflexão sobre a criação artística. Para o escritor, a poesia é fruto de um
trabalho árduo, racional, que implica fazer e desfazer o texto até que ele
alcance a sua forma mais adequada.
IV. O escritor apresenta momentos de intenso intimismo, apresentados por
meio de uma linguagem elevada e abstrata e com imagens recorrentes,
retomando assim os ideais dos escritores simbolistas.
A) Todas estão corretas.
B) Apenas II está correta.
C) I, III e IV estão corretas.
D) I e II estão corretas.
21. Diversos motivos narrativos compõem a trama de “Campo Geral”, texto
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo
principal para a composição do enredo desse conto?
A) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim.

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