QUESTOES LITERATURA
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RETIRANTES
14. (ACAFE / SC) A vida na fazenda se tornara difícil. Sinha Vitória benzia-se
tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas
desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a catinga
amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos
redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul, as
últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se
finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um
milagre.
De acordo com o fragmento acima, é incorreto o que se afirma em:
A) Tanto Sinha Vitória quanto Fabiano tinham fé na providência divina.
B) O enfoque é narrativo.
C) O que se relata ao longo do parágrafo tem o objetivo de confirmar a afirmação da
primeira frase.
D) Há evidências de que Sinha Vitória e Fabiano estão fragilizados, pois ela "benzia-
se tremendo" e ele estava "encolhido na banco do copiar".
E) O tema predominante é a indagação metafísica sobre a existência (inexistência)
de Deus.
15. (ACAFE / SC) Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de
preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se
espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro
enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. (Graciliano
Ramos)
Sobre o texto acima, é correto afirmar que:
A) há marcas próprias do chamado discurso direto através do qual são reproduzidas
as falas das personagens.
B) o narrador é observador, pois conta a história de fora dela, na terceira pessoa,
sem participar das ações, como quem observou objetivamente os acontecimentos.
C) quem conta a história é uma das personagens, que tem uma relação íntima com
as outras personagens, e, por isso, a maneira de contar é fortemente marcada por
características subjetivas, emocionais.
D) evidencia-se um conflito entre a protagonista Baleia e o antagonista Fabiano, pois
este impede que a cadela possa caçar os preás.
E) o narrador é onisciente, isto é, geralmente ele narra a história na terceira pessoa,
sabe tudo sobre o enredo e sobre as personagens, inclusive sobre suas emoções,
pensamentos mais íntimos, às vezes, até dimensões
28. (PUC-SP 2015) Vidas Secas, novela de Graciliano Ramos, apesar de ser
uma obra sobre a natureza inóspita e a miséria do nordeste, apresenta um
texto marcadamente estético e lírico, que alcança os limites da poesia.
Assim, indique, nas alternativas abaixo, a que apresenta trecho com
linguagem cuja função é dominantemente poética.
A) Alguns dias antes estava sossegado, preparando látegos, consertando cercas. De
repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o
medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado
vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e
a vermelhidão sinistra das tardes.
B) Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os
infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do
rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da
catinga rala.
C) Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no
chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que
vinham nascendo. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doida enchia o
coração de Fabiano.
D) Deu-se aquilo porque Sinha Vitória não conversou um instante com o menino
mais velho. Ele nunca tinha ouvido falar em inferno. Estranhando a linguagem de
Sinha Terta, pediu informações. Sinha Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo
lugar ruim demais e, como o filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
E) – Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem vergonha, Fabiano. Mata o soldado
amarelo. Os soldados amarelos são uns desgraçados que precisam morrer. Mata o
soldado amarelo e os que mandam nele.
32.(PUC-SP 2016) Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os
três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no
estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro de cabras.
O trecho acima é da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Refere ações
da cachorrinha Baleia. Indique, nas alternativas abaixo, a que NÃO
corresponde à caracterização dela na narrativa.
A) Apresenta-se mais humanizada que os membros da família de Fabiano, apesar de
ser um personagem não humano.
B). Marca-se por espontaneidade e vivacidade e é capaz de vencer as barreiras da
incomunicabilidade ao relacionar-se com outros personagens da história.
C). É acometida por uma doença incurável e acaba morrendo de forma natural, sob o
olhar das crianças e de Fabiano, fantasiando em seus momentos de delírio as
caçadas que fazia aos preás.
D). Acumula importantes funções na narrativa quais sejam as de ser guia, a de ser a
responsável pela sobrevivência do grupo e a de acompanhar as crianças nas
folganças e os adultos no trabalho.
33. (UEMA 2016) [...] Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos,
alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim
senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação
medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
Um bicho, Fabiano. [...] Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde
cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de
mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara.
Fabiano fizera-se desentendido e oferecera seus préstimos, resmungando,
coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão
aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro. Agora Fabiano era vaqueiro, e
ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, mas criara raízes, estava
plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte
que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, a sinhá Vitória,
os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra. [...]
Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015).
Com marcas temporais adequadas, o narrador usa o recurso do flashback
para
A). fazer digressões do narrador, fora do contexto das personagens.
B). fazer valer momentos memoráveis da vida de uma das personagens.
C). focar o cenário onde se passa a história narrada.
D). dar maior dinamismo à fala das personagens.
E). evitar recorrências na tessitura narrativa.
Texto
Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. Os seus pés duros
quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado,
confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.
(Graciliano Ramos, Vidas secas)
No texto, a descrição do personagem Fabiano aponta para as seguintes
características, EXCETO:
A). adaptação do personagem ao meio natural.
B). identificação com o animal.
C). caráter antissocial.
D). comportamento primitivo e espontâneo.
E). revolta devido a sua condição familiar.
1) Fabiano
2) Sinhá Vitória
3) Baleia
4) menino mais novo
5) menino mais velho
6) soldado amarelo
7) Tomás da bolandeira
TEXTO
46. De acordo com a leitura do livro Vidas Secas pode-se afirmar que:
A) as lembranças do passado enchem de beleza e ternura a vida de Fabiano.
B) Fabiano mostra-se enfurecido por não viver em outro lugar.
C) Fabiano, assim como os retirantes nordestinos, sente-se apático diante das
adversidades climáticas.
D) depois de muito sofrer, Fabiano e sua família conseguem se instalar em uma
pequena propriedade rural.
E) o retirante Fabiano e sua família viviam rodeados de bichos, em um lugar ermo.
63. Muitas vezes, o tema recorrente em uma obra fica evidencia-se direta
ou indiretamente por meio de uma simbologia. Isso acontece em Vidas
Secas. Quem ou o que é considerado o símbolo da seca na narrativa da
obra?
A) Fabiano
B) Sinhá Vitória
C)O menino mais novo
D)A cachorra Baleia
70. O que acontece com a família de Fabiano durante a festa de São João,
quando todos vão para a cidade apreciar as festanças?
A) Eles encontram um emprego
B) São expulsos da cidade
C) Conseguem comida suficiente para o ano
D) São convidados para uma festa
76. Ao se fazer uma análise da obra Vidas Secas, pode-se concluir que:
A) O autor faz um uso de um vocabulário rebuscado para retratar a vida da família
com maior precisão.
B) О livro não арrеѕеntа dіѕсurѕо іndіrеtо lіvrе, роіѕ а mеѕсlа dа fаlа dоѕ
реrѕоnаgеnѕ соm о dіѕсurѕо dо nаrrаdоr соnfundіrіа оѕ lеіtоrеѕ, dеіхаndо о rоmаnсе
dіfíсіl dе ѕеr соmрrееndіdо.
C) O romance apresenta uma linearidade clara, já que apresenta começo, meio e
fim.
D) O autor não utiliza muitos adjetivos porque deseja exprimir a aridez do sertão.
O papagaio de estimação da família também sofre as consequências da
seca nordestina. Que fim está destinado a ele?
A) Morre de fome
B) É roubado por outra família
C) É solto para voar livremente
D) É vendido para comprar comida
80. Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E
lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se
espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro
enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. (Graciliano
Ramos)
Sobre o texto acima, é correto afirmar que:
A) há marcas próprias do chamado discurso direto através do qual são reproduzidas
as falas das personagens.
B) o narrador é observador, pois conta a história de fora dela, na terceira pessoa,
sem participar das ações, como quem observou objetivamente os acontecimentos.
C) quem conta a história é uma das personagens, que tem uma relação íntima com
as outras personagens, e, por isso, a maneira de contar é fortemente marcada por
características subjetivas, emocionais.
D) evidencia-se um conflito entre a protagonista Baleia e o antagonista
Fabiano, pois este impede que a cadela possa caçar os preás.
E) o narrador é onisciente, isto é, geralmente ele narra a história na terceira pessoa,
sabe tudo sobre o enredo e sobre as personagens, inclusive sobre suas emoções,
pensamentos mais íntimos, às vezes, até dimensões inconscientes.
89. (UFRR)
TEXTO
“As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o
passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele
estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos
rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam
- se e sangravam. Num cotovelo do caminho avistou um canto de cerca,
encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu
- lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.”
“Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira,
chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra. Sinhá Vitória
acomodou os filhos, que arriaram como trouxas, cobriu-os com molambos.
O menino mais velho, passada a vertigem que o derrubara, encolhido sobre
folhas secas, a cabeça encostada a uma raiz, adormecia, acordava. E
quando abria os olhos, distinguia vagamente um monte próximo, algumas
pedras, um carro de bois. A cachorra Baleia foi enroscar-se junto dele.”
“Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro
das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo
anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham
fugido.”
(Vidas Secas. Graciliano Ramos.)
A partir da leitura dos excertos da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos,
mostrados no texto, pode-se observar:
A) Uma linguagem bruta que se sobrepõe a qualquer valor sentimental entre os
personagens da narrativa.
B) Um processo de migração em busca das necessidades básicas de sobrevivência,
ao mesmo tempo em que revela a expressão de relações humanas prejudicadas pela
aridez do ambiente, atenuada pela presença de Baleia.
C) A perspectiva de um narrador em primeira pessoa que revela suas próprias
experiências diante da secura do ambiente e da necessidade de migrar.
D) A seca do Nordeste apresentada numa perspectiva de sofrimento, a partir da
visão de Fabiano, que revela os percalços do caminho em busca de alimento e de
abrigo.
E) A secura do ambiente e a aridez da vida, destacando o otimismo de
Fabiano diante das dificuldades.
93. TEXTO
RETIRANTES
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 62. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992. p.9)
De acordo com a abertura do romance, é incorreto afirmar que:
A) Os personagens são: sinhá Vitória, Fabiano, o menino mais velho, o menino mais
novo e a cachorra Baleia.
B) Os personagens estão caminhando em busca de um lugar melhor para viver.
C) Os personagens estão há horas procurando uma sombra durante o período da
seca.
D) A cachorra chama-se Baleia em comparação ao maior mamífero marinho por
comer muito e ser obesa.
99.A obra é tão bem trabalhada que as figuras começam pelo título da
mesma: “VIDAS SECAS”. O primeiro vocábulo dá sentido de abundância
enquanto o segundo dá ideia de vazio, ou seja, há:
a) um paradoxo.
b) uma antítese.
c) um pleonasmo.
d) uma gradação.
Texto I
Texto I
1- B 2- C 3- D 4- E 5- A 6- C 7- D 8- C 9- D 10- A
11- C 12- E 13- D 14- E 15- E 16- C 17- A 18- D 19- C 20- C
21- C 22- E 23- A 24- D 25- C 26- A 27- D 28- A 29- B 30- E
31- A 32- C 33- B 34- 35- 36- 37- 38- 39- 40-
CAMPO GERAL
A questão refere-se à obra “Campo Geral”, incluída no livro Manuelzão e
Miguilim, de João Guimarães Rosa. Assinale a alternativa INCORRETA em
relação à narrativa de Guimarães Rosa.
A) A dimensão mítica da estória é acentuada pela presença de seu Aristeu, figura
solar, que reconhece Miguilim como sujeito virtual da aquisição de sua sabedoria.
B) A partir da morte de Dito, Miguilim tem motivação para inventar estórias,
evadindo-se, assim, da triste realidade de pobreza e de perda.
C) O desejo de saber o certo, de separar o bom do mau é um aspecto que pontua a
trajetória psicológica do protagonista Miguilim.
D) Os conflitos entre os pais de Miguilim remetem a aspectos bíblicos e trágicos,
intensificando o caráter universalista da narrativa.
TEXTO
Campo Geral
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe,
longe daqui, muito depois da Veredado-Frango-d'Água e de outras veredas
sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos
Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de
serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali,
pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser
crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou
dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha.
De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha
dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e
muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..."
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de
tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados
meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro,
o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha,
na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava.
Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu
tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e
ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com
um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz
que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho,
um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o
copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água.
Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz
tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma
cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber,
Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e
preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar
o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai. Quando
voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para
dar à mãe: o que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito...
A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada.
Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma
salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o
quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e,
assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe,
estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas
mirou triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá
por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de
mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a mãe
falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não
podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço
que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo
Miguilim visse beleza no Mutúm — nem ele sabia distinguir o que era um
lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha
falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de
sua mãe — agravada de calundú e espalhando suspiros, lastimosa. No
começo de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia, pouco entendendo.
Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.
09. (UEG) ― “Mãe, que é que fizeram com o resto da roupinha do Dito?” ―
agora ele queria saber. ― “Está guardada, Miguilim. Depois ela ainda vai
servir para Tomezinho.” “― Mãe, e as alpercatinhas do Dito?” “― Também,
Miguilim. Agora descansa.” Miguilim tinha mesmo que descansar, perdera
a força de aluir com um dedo. Suava. Suava.
(ROSA, Guimarães. Manuelzão e Miguilim: (Corpo de baile). 11 ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 143.)
A respeito da prosa de Guimarães Rosa, na obra Manuelzão e Miguilim,
exemplificada pelo trecho citado de “Campo geral”, assinale a alternativa
INCORRETA:
11. (Fuvest) Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a Chica,
Tomezinho. Sorriu para Tio Terêz: – “Tio Terêz, o senhor parece com Pai...”
Todos choravam. O doutor limpou a goela, disse: – “Não sei, quando eu tiro
esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d’água...” Miguilim
entregou a ele os óculos outra vez. Um soluçozinho veio. Dito e a Cuca
Pingo-de-Ouro. E o Pai. SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM... SEMPRE ALEGRE,
MIGUILIM... Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o beijava. A Rosa
punha-lhe doces-de-leite nas algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco
falava, alto, falava.
(In: Manuelzão e Miguilim; João Guimarães Rosa.)
Neste trecho de “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, as expressões em
maiúsculo retomam, ao final da narrativa,
A)3 – 4 – 5 – 2
B)4 – 1 – 3 – 5.
C)5 – 2 – 3 – 4.
D)2 – 1 – 5 – 4.
E)2 – 4 – 1 – 3.
18. (UFMG)
TEXTO 1
A cegueira e o saber
Leio notícia de que foi inaugurado em Paris um restaurante onde as
pessoas têm a oportunidade de viver a experiência da vida de um cego,
pois aí os clientes comem no mais completo escuro. Chama-se,
apropriadamente, Dans Le noir (“No escuro”).
Os garçons são cegos, e não apenas servem, mas atuam como guias
levando os fregueses até suas mesas. O restaurante está na moda. Situa-se
ali perto do Beaubourg e até o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin foi
experimentar comer no escuro. A coisa ocorre assim: “Antes de entrar na
sala totalmente escura, os clientes deixam em armários com cadeados, no
bar do restaurante, relógios, isqueiros, celulares e qualquer outro objeto
que emita a mínima luz. Os pratos também são escolhidos antes de entrar
no recinto. Entre as opções, ‘ menu surpresa’, que só será descoberto
quando o garfo for levado à boca”. A experiência supera qualquer
instalação. As pessoas passam por três ambientes com cortinas nos quais a
luz vai rareando até a sala escura, onde há muito barulho, pois, para
compensar a falta de visão, as pessoas falam alto. A surpresa aumenta
quando o cliente descobre que tem outras pessoas à sua mesa. Foi um ex-
banqueiro e consultor de marketing social quem teve essa ideia. E diz a
matéria veiculada num site da BBC e mandada pela médica brasileira
Mônica Campos, residente nos Estados Unidos, que alguns clientes acham-
se ridículos durante a experiência, outros têm crise de choro e angústia,
mas o fato é que o restaurante está sempre lotado. As pessoas pagam para
não ver. É pitoresco, mas repito: as pessoas pagam para não ver, pagam
para comerem no escuro. Não deixa de ser sintomático que se abra um
restaurante onde os que veem vão experimentar a cegueira, exatamente
numa cultura de hipervisualização. Como se estivéssemos fatigados de ver,
agora queremos não-ver. Que seja por algumas horas, não importa. É como
se a poluição visual tivesse chegado a tal extremo, que se sente a
necessidade de recuperar outros sentidos, experimentando o “desver”
para, quem sabe, ver de novo. Tomo esse restaurante como uma metáfora
paradoxal de nossa época. A modernidade que descobriu e aperfeiçoou a
fotografia, e que, tendo conseguido essa façanha, a criando o cinema e
logo a seguir instalou a televisão dentro de nossas casas para que
víssemos o mundo e o universo 24 horas por dia; a mesma modernidade
que vem com essa enxurrada de letras e palavras em camisetas, vitrines,
anúncios luminosos, que nos manda imagens dos planetas mais distantes e
de detalhes das guerras e misérias mais horrendas; essa modernidade que
é um constante espetáculo de striptease, no qual o público e o privado, ou
melhor, a sala de visitas e a privada se acoplaram, essa modernidade, de
tanto ver, já não vê. O mundo é projetado como clipe de imagens
esfaceladas acompanhadas por um ruído ou ritmo qualquer. E, de repente,
na “Cidade Luz”, pagamos caro para comer no escuro.
(SANTA’NNA, Affonso Romano de. A cegueira e o saber 6. IN_: A cegueira e
o saber. Rio de Janeiro: Rocco, 2006, p. 26-27. (Fragmento).)
Em todas as alternativas abaixo, apresentam-se afirmativas que associam
elementos da narrativa de Campo Geral ao texto 1.
Preencha os parênteses em branco usando V para afirmativas verdadeiras
e F para afirmativas FALSAS.
I - Em ambos os textos, a ação na narrativa ocorre em espaços distintos. ( )
II - O narrador do texto 1 é o mesmo que o narrador de Campo Geral. ( )
III - Em ambos os textos, a ação na narrativa ocorre em um tempo mítico.
()
IV - Em ambos os textos, o ato de comer ultrapassa o paladar. ( )
V - No texto 1, as experiências são fabricadas; em Campo Geral, são
naturais. ( )
Assinale a sequência CORRETA.
A)V F F F V
B)V V F F F
C)F F V F V
D)F V F F F