Questões Literatura Cfsd- Pmmg 2024_unlocked

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CADERNO DE
EXERCÍCIOS.
LITERATURA– CFSd-2024

172 QUESTÕES de acordo com o edital


CFSd-2024 das obras:
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@Focnafarda
https://t.me/preparacaopmmg
Foco na Farda

LITERATURA
A resolução de exercícios é fundamental para a preparação de qualquer
concurso.
Por isso, frente mudança das obras literárias cobradas e a escassez de
material seguro para a preparação elaborei este material atualizado para
que você tenha uma preparação otimizada, segura e ágil para a prova de
.
Estão reunidas, em um material compacto, questões cobradas em certames
e questões inéditas em conformidade com as obras literarias previstas no
edital de LITERATURA.

Vamos seguir juntos rumo a farda!

Bons Estudos!

Profª. Mari Rabelo

1
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Índice
LITERATURA
1. . Vidas Secas ........................................................... 3
2. Campo Geral ............................................. 41

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VIDAS SECAS 2. Aparentemente resignado, sentia um ódio


imenso, a qualquer coisa que era ao mesmo
1. (PUC-SP) O mulungu do bebedouro cobria- tempo a campina seca, o patrão, os soldados
se de arribações. Mau sinal, provavelmente o e os agentes da prefeitura. Tudo na verdade
sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, era contra ele. Estava acostumado, tinha a
arranchavam-se nas árvores da beira do rio, casca muito grossa, mas às vezes se
descansavam, bebiam e, como em redor não arreliava. Não havia paciência que
havia comida, seguiam viagem para o Sul. O suportasse tanta coisa. Os termos sublinhados
casal agoniado sonhava desgraças. O sol no trecho acima, de Vidas Secas, indicam
chupava os poços, e aquelas excomungadas que, para Fabiano,
levavam o resto da água queriam matar o
gado. (...) Alguns dias antes estava A) as opressões da vida não eram invencíveis,
sossegado preparando látegos, consertando já que seu ódio ou sua paciência, alternando-
cercas. De repente, um risco no céu, outros se, permitiam-lhe enfrentá-las de modo que
riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o lhe fosse mais conveniente.
medonho rumor de asas a anunciar
destruição. Ele já andava meio desconfiado B) tudo era motivo de indignação, uma vez
vendo as fontes minguarem. E olhava com que seu pensamento confuso não distinguia
desgosto a brancura das manhãs longas e a entre os verdadeiros inimigos e os possíveis
vermelhidão sinistra das tardes(…) aliados.

O trecho acima é de Vidas Secas, obra de C) os diferentes antagonismos se misturavam


Graciliano Ramos. Dele, é incorreto afirmar-se e confundiam-se em sua limitada
que: capacidade de análise, o que lhe impedia
qualquer reação objetiva.
A) Prenuncia nova seca e relata a luta
incessante que os animais e o homem travam D) nada era especialmente revoltante,
na constante defesa da sobrevivência. porque ele avaliava com acerto as forças de
seus oponentes e acabava adotando uma
B) Marca- se por fatalismo exagerado, em posição fatalista.
expressão como “o sertão ia pegar fogo”,
que impede a manifestação poética da E) a vida dos retirantes na caatinga era uma
linguagem. lição de inconformismo, porém nada faziam
contra as vicissitudes do clima que estará
C) Atinge um estado de poesia, ao pintar sempre a castigá-los.
com imagens visuais, em jogo forte de cores,
o quadro da penúria da seca.

D) Explora a gradação, como recurso 3. Como não sabia falar direito, o menino
estilístico, para anunciar a passagem das balbuciava expressões complicadas, repetia
aves a caminho do Sul. as sílabas, imitava os berros dos animais, o
barulho do vento, o som dos galhos que
E) Confirma, no deslocamento das aves, a rangiam na catinga, roçando-se. (…) Não era
desconfiança iminente da tragédia, propriamente conversa: eram frases soltas,
indiciada pela “brancura das manhãs longas espaçadas, com repetições e
e a vermelhidão sinistra das tardes”. incongruências. Às vezes uma interjeição

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gutural dava energia ao discurso ambíguo. O se despedir do amo. Não poderia nunca
fato de as personagens centrais de Vidas liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe
Secas se expressarem conforme indicam os restava jogar-se no mundo, como negro
fragmentos acima levou Graciliano Ramos, fugido. (Graciliano Ramos, Vidas Secas)
nesse romance, a

A) ocupar-se com cenas basicamente


descritivas, como um criador que não tem a 4. Assinale a alternativa incorreta sobre o
opção dos diálogos, tampouco acesso ao fragmento.
pensamento informe de suas criaturas.
A) Além de sofrerem as consequências da
B) compor um conjunto de episódios isolados, seca, Fabiano e sua família também estão
desconsiderando a cronologia ou qualquer submetidos a um regime de dominação
outro critério de encadeamento das ações. social comparável ao do escravo.

C) elaborar seu próprio estilo num registro B) A cor amarela (“catinga”) e o tom
imitativo, num discurso entrecortado e vago, avermelhado (“folhas secas”) reiteram a idéia
que inutilmente procura a expressão das de seca e articulam-se com o azul do céu
ações. (ausência de chuva) e com os “garranchos
negros, torrados” (ausência de água).
D) adotar formas de discurso indireto livre
toda vez que desejou traduzir o pensamento C) O primeiro parágrafo inicia-se e termina
nebuloso e fragmentário de suas com o apelo religioso das personagens, o que
personagens. enfatiza a ideia de desespero em que se
encontram Sinha Vitória e Fabiano.
E) criar um narrador que, desvinculado dos
desejos e sentimentos das personagens, D) A sugestão da morte está presente em
busca interpretá-las a partir de seus gestos ou todo o trecho: “folhas secas”, “bichos se
expressões faciais. finavam”, “bezerro morrinhento” etc.

E) Apesar de toda a situação adversa,


Fabiano resiste com a altivez e confiança de
Texto para os testes 4 e 5. um típico herói frente aos obstáculos que se
lhe apresentam.
RETIRANTES

A vida na fazenda se tornara difícil. Sinha


Vitória benzia-se tremendo, manejava o 5. No trecho “mexia os beiços rezando rezas
rosário, mexia os beiços rezando rezas desperadas”, há
desesperadas. Encolhido no banco de
copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, a) aliteração.
onde as folhas secas se pulverizavam,
b) metáfora.
trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos
se torciam, negros, torrados. No céu azul as c) comparação.
últimas arribações tinham desaparecido.
Pouco a pouco os bichos se finavam, d) onomatopeia.
devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia,
pedindo a Deus um milagre. Mas quando a e) antítese.
fazenda se despovoou, viu que tudo estava
perdido, combinou a viagem com a mulher,
matou o bezerro morrinhento que possuíam,
salgou a carne, largou-se com a família, sem

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6. (UFV-MG) – A respeito de Vidas Secas, de cima, olhando as estrelas, que vinham


Graciliano Ramos, somente não podemos nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia
afirmar que: muitas estrelas, havia mais de cinco estrelas
no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma
A) As personagens Fabiano, Sinha Vitória e os alegria doída enchia o coração de Fabiano.
filhos são convertidos em criaturas
brutalizadas, numa sugestão de que a dureza (…)
do solo nordestino aproxima a vida humana
da vida animal. A lua crescia, a sombra leitosa crescia, as
estrelas foram esmorecendo naquela
B) Embora composta de pequenas narrativas brancura que enchia a noite. Uma, duas, três,
isoladas, a obra mantém a estrutura de um agora havia poucas estrelas no céu. Ali perto
romance pela presença quase constante de a nuvem escurecia o morro.
seus personagens e por uma sucessão
temporal. Os trechos acima pertencem ao primeiro
capítulo de Vidas Secas, de Graciliano
C) A obra insere-se no chamado romance de Ramos. Escrito em terceira pessoa, apresenta
30, por uma total fidelidade aos personagens oprimidas e moldadas pelo
experimentalismos linguísticos da fase heroica meio. A respeito dessa obra, é errado afirmar:
do movimento modernista.
A) É um romance cujos capítulos,
D) O retirante Fabiano, incapaz de verbalizar independentes, podem ser lidos em ordens
seus próprios pensamentos, expressa-se, diferentes de seleção. São painéis variados
quase sempre, através do discurso indireto de um mesmo drama.
livre de um narrador onisciente.
B) É um romance de estrutura cíclica, já que
E) A narrativa denuncia o flagelo do sertão o começo e o fim se tocam, e o drama do
nordestino, onde o homem, fundindo-se ao primeiro capítulo repete-se no último.
seu meio, é arrastado por um destino adverso
e inútil. C) Fabiano, personagem principal, tem uma
incapacidade básica de comunicação com
outras pessoas. Quase não consegue
expressar-se verbalmente; por isso, seu
7. Na planície avermelhada os juazeiros modelo de realização pessoal é Seu Tomás
alargavam duas manchas verdes. Os infelizes da bolandeira.
tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos. Ordinariamente D) O romance, por suas características de
andavam pouco, mas como haviam linguagem extremamente difícil e por
repousado na areia do rio seco, a viagem abordar o tema da seca, mostra-se
progredira bem três léguas. Fazia horas que inteiramente desprovido de qualquer estado
procuravam uma sombra. A folhagem dos de poesia e de sentimento lírico.
juazeiros apareceu longe, através dos galhos
pelados da catinga rala. E) Revela mais intensamente o sentimento da
terra nordestina, e o que marca a fisionomia
(…) e os caracteres de suas personagens é o
fenômeno da seca.
Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira,
encaminhou-se ao rio seco, achou no
bebedouro dos animais um pouco de lama.
Cavou a areia com as unhas, esperou que a 8. (Instituto Consulplan -2019) O livro “Vidas
água marejasse e, debruçando-se no chão, Secas”, do escritor alagoano Graciliano
bebeu muito. Saciado, caiu de papo para Ramos, publicado pela primeira vez em 1938,

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continua sendo uma obra marcante que C) Diminuem o seu alcance expressivo, na
retrata os dramas cotidianos do sertão medida em que dificultam uma visão
nordestino. O sertão, uma sub-região do adequada da realidade sertaneja.
nordeste, está localizado entre o agreste e o
meio-norte. Considerando as suas D) Relacionam-se à visão limitada e
características, analise as afirmativas a fragmentária que as próprias personagens
seguir. têm do mundo.

I. O clima predominante é o semiárido,


caracterizado pelos longos períodos de seca.
10. Leia o fragmento abaixo extraído do texto
II. Os cursos d’água do sertão são, gerador:
geralmente, formados por rios temporários
(também chamados de intermitentes), com “- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o
pai. Não obtendo resultado, fustigou-o com a
exceção do rio São Francisco.
bainha da faca de ponta. Mas o pequeno
III. É profundamente marcado pela questão esperneou acuado, depois sossegou, deitou-
da seca e da fome, fator característico do se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu
baixo índice pluviométrico, o que costuma ser algumas pancadas e esperou que ele se
generalizado para todo o Nordeste. levantasse. Como isto não acontecesse,
espiou os quatro cantos, zangado,
IV. O sertão nordestino é uma grande região praguejando baixo.”
que abrange apenas o Ceará.
Após a leitura do trecho acima, assinale a
Estão corretas apenas as afirmativas alternativa que melhor exemplifica as
características dos romances regionalistas de
A) I e II. 1930 presentes no trecho:
B) I e IV. A) Linguagem coloquial e flagrante da
C) I, II e III. relação homem vs. estruturas sociais.

D) II, III e IV. B) Linguagem erudita e personagens


populares.

C) Concisão de linguagem e incorporação


9. (FUVEST 2001- Adaptada) Um escritor de mitos regionais.
classificou Vidas secas como “romance
D) Experimentalismo formal e crítica social.
desmontável” vista sua composição
descontínua, feita de episódios relativamente E) Caracterização física minuciosa das
independentes e sequências parcialmente personagens e representação da vida
truncadas. Essas características da nordestina.
composição do livro:

A) Constituem um traço de estilo típico dos


romances de Graciliano Ramos e do 11. (FUVEST) Leia o trecho para responder ao
Regionalismo nordestino. teste.
B) Indicam que ele pertence à fase inicial de "Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte
Graciliano Ramos, quando este ainda seguia da carga, olhou o céu, as mãos em pala na
os ditames do primeiro momento do testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que
Modernismo. aquilo fosse realmente mudança. Retardara-
se e repreendera os meninos, que se

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adiantavam, aconselhara-os a poupar forças.


A verdade é que não queria afastar-se da
fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, 12. (UFLA) Sobre a obra Vidas Secas, de
nem acreditava nela. Preparara-a Graciliano Ramos, todas as alternativas estão
lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e corretas, EXCETO:
só se resolvera a partir quando estava
A) O romance focaliza uma família de
definitivamente perdido. Podia continuar a
viver num cemitério? Nada o prendia àquela retirantes, que vive numa espécie de mudez
introspectiva, em precárias condições físicas
terra dura, acharia um lugar menos seco para
enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, e num degradante estado de condição
pensando em coisas alheias: o chiqueiro e o humana.
curral, que precisavam conserto, o cavalo de B) O relato dos fatos e a análise psicológica
fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as dos personagens articulam-se com grande
catingueiras, as panelas de losna, as pedras coesão ao longo da obra, colocando o
da cozinha, a cama de varas. E os pés dele narrador como decifrador dos
esmoreciam, as alpercatas calavam-se na comportamentos animalescos dos
escuridão. Seria necessário largar tudo? As personagens.
alpercatas chiavam de novo no caminho
coberto de seixos." (Vidas secas, Graciliano C) O ambiente seco e retorcido da caatinga
Ramos) é como um personagem presente em todos
os momentos, agindo de forma contínua
Assinale a alternativa incorreta: sobre os seres vivos.
A) O trecho pode ser compreendido como D) A narrativa faz-se em capítulos curtos,
suspensão temporária da dinâmica narrativa, quase totalmente independentes e sem
apresentando uma cena "congelada", que ligação cronológica e o narrador é incisivo,
permite focalizar a dimensão psicológica da direto, coerente com a realidade que fixou.
personagem.
E) O narrador preocupa-se exclusivamente
B) Pertencendo ao último capítulo da obra, o com a tragédia natural (a seca) e a
trecho faz referência tanto às conquistas descrição do espaço não é minuciosa; pelo
recentes de Fabiano, quanto à desilusão do contrário, revela o espírito de síntese do autor.
personagem ao perceber que todo seu
esforço fora em vão.

C) A resistência de Fabiano em abandonar a 13. (UEL) O texto abaixo apresenta uma


fazenda deve-se à sua incapacidade de passagem do romance Vidas secas, de
articular logicamente o pensamento e, Graciliano Ramos, em que Fabiano é
portanto, de perceber a gradual mas focalizado em um momento de preocupação
inevitável chegada da seca. com sua situação econômica. Escrito em
1938, esta obra insere-se num momento em
D) A expressão "coisas alheias" reforça a
que a literatura brasileira centrava seus temas
crítica, presente em toda obra, à
em questões de natureza social.
marginalização social por meio da exclusão
econômica. "Se pudesse economizar durante alguns
meses, levantaria a cabeça. Forjara planos.
E) As referências a "enterro" e "cemitério"
Tolice, quem é do chão não se trepa.
radicalizam a caracterização das "vidas
Consumidos os legumes, roídas as espigas de
secas" do sertão nordestino, uma vez que
milho, recorria à gaveta do amo, cedia por
limitam as perspectivas do sertanejo pobre à
preço baixo o produto das sortes.
luta contra a morte.
Resmungava, rezingava, numa aflição,

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tentando espichar os recursos minguados, 14. (ACAFE / SC) A vida na fazenda se tornara
engasgava-se, engolia em seco." (In: RAMOS, difícil. Sinha Vitória benzia-se tremendo,
Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de manejava o rosário, mexia os beiços rezando
Janeiro: Record, 1991.) rezas desesperadas. Encolhido no banco do
copiar, Fabiano espiava a catinga amarela,
Sobre este trecho do romance, somente está onde as folhas secas se pulverizavam,
INCORRETO o que se afirma na alternativa: trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos
se torciam, negros, torrados. No céu azul, as
A) Este trecho resume a situação de
últimas arribações tinham desaparecido.
permanente pobreza de Fabiano e revela-se
Pouco a pouco os bichos se finavam,
como uma crítica à economia brasileira e às
devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia,
relações de trabalho que vigoravam no
pedindo a Deus um milagre.
sertão nordestino no momento em que a obra
foi criada. Isso pode ser confirmado pelas De acordo com o fragmento acima, é
orações: "... Consumidos os legumes, roídas as incorreto o que se afirma em:
espigas de milho, recorria à gaveta do amo,
cedia por preço baixo o produto das sortes...." A) Tanto Sinha Vitória quanto Fabiano tinham
fé na providência divina.
B) A oração: "Se pudesse economizar durante
alguns meses, levantaria a cabeça" tanto B) O enfoque é narrativo.
pode ser o discurso do narrador que revela o
pensamento de Fabiano, quanto pode ser o C) O que se relata ao longo do parágrafo tem
próprio pensamento dessa personagem. Esse o objetivo de confirmar a afirmação da
modo de narrar também ocorre com as primeira frase.
demais personagens do romance.
D) Há evidências de que Sinha Vitória e
C) A oração: "... Resmungava, rezingava, Fabiano estão fragilizados, pois ela "benzia-se
numa aflição, tentando espichar os recursos tremendo" e ele estava "encolhido na banco
minguados, engasgava-se, engolia em seco" do copiar".
indica a voz do narrador em terceira pessoa,
E) O tema predominante é a indagação
ao mostrar o estado de agonia em que se
metafísica sobre a existência (inexistência) de
encontra a personagem.
Deus.
D) A expressão “Forjara planos”, típica da
linguagem culta, é seguida no texto por um
provérbio popular: “quem é do chão não se 15. (ACAFE / SC) Baleia queria dormir.
trepa”. Essa mudança de registro lingüístico é Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E
reveladora do método narrativo de Vidas lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano
secas, que subordina a voz das classes enorme. As crianças se espojariam com ela,
populares à da elite. rolariam com ela num pátio enorme, num
E) O texto tem início com a esperança de chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo
Fabiano de mudanças em sua situação cheio de preás, gordos, enormes. (Graciliano
econômica; a seguir, passa a focalizar a Ramos)
realidade de pobreza em que a personagem Sobre o texto acima, é correto afirmar que:
se encontra, e finaliza com sua revolta e
angústia diante da condição de empregado, A) há marcas próprias do chamado discurso
sempre em dívida com o patrão. direto através do qual são reproduzidas as
falas das personagens.

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B) o narrador é observador, pois conta a


história de fora dela, na terceira pessoa, sem
participar das ações, como quem observou 17.(ACAFE / SC) Analise as afirmações
objetivamente os acontecimentos. abaixo.

C) quem conta a história é uma das (I) "Será um romance? É antes uma série de
personagens, que tem uma relação íntima quadros, de gravuras em madeira, talhadas
com as outras personagens, e, por isso, a com precisão e firmeza."
maneira de contar é fortemente marcada
por características subjetivas, emocionais. (II) "Construído como uma longa narrativa
oral, o romance tem como personagem-
D) evidencia-se um conflito entre a narrador Riobaldo, um velho fazendeiro, que
protagonista Baleia e o antagonista Fabiano, já foi homem de letras e de armas e que vive
pois este impede que a cadela possa caçar às margens do rio São Francisco."
os preás.
(III) "Com a análise psicológica do universo
E) o narrador é onisciente, isto é, geralmente mental das personagens, que expõe por meio
ele narra a história na terceira pessoa, sabe do discurso indireto livre, o narrador nos vai
tudo sobre o enredo e sobre as personagens, decifrando a sua humanidade embotada,
inclusive sobre suas emoções, pensamentos confundida com a paisagem áspera do
mais íntimos, às vezes, até dimensões sertão, neste romance que transcende o
regionalismo e seu contexto específico."

(IV) "Emprestando dinheiro a juros,


16.(ACAFE / SC) Sobre a obra Vidas secas, é negociando de arma engatilhada no sertão,
correto afirmar que: passando fome e sede, [o protagonista]
consegue acumular algum capital e com ele
A) a preocupação com a fidedignidade volta para a sua terra, no município de
histórica e com o tom épico atenua o Viçosa, Alagoas, onde ficava a propriedade."
sentimento dramático da vida,
habitualmente presente nos poemas do (V) "O tema do poema é o itinerário do
autor. retirante nordestino, que parte do sertão
paraibano em direção ao litoral, em busca de
B) apresenta temática indianista, a exemplo sobrevivência, devido à seca e às precárias,
do que fizera Gonçalves Dias em Os timbiras senão insustentáveis, condições de vida da
e Canção do tamoio. maioria da população.
C) as personagens humanas, em razão da Todas as afirmações que se referem à obra
seca, da fome, da miséria e das injustiças Vidas Secas, de Graciliano Ramos, estão
sociais, animalizam-se; em contrapartida, os relacionadas em:
bichos humanizam-se.
a) I - III
D) Chico Bento, antes da seca, não era
vagabundo, nem bandido; era um b) II - IV - V
trabalhador rural. e) narra a história de um
burguês, Paulo Honório, que passara da c) III - V
condição de caixeiro-viajante e guia de
d) II - III - IV
cego à de rico proprietário de uma fazenda.
Para atingir seus objetivos, o protagonista e) I - II - IV
elimina todos os empecilhos que se colocam
à sua frente, inclusive pessoas.

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18. (UNIARAXÁ - Adaptada) Leia o fragmento A produção incluiu atores com características
abaixo transcrito da obra Vidas Secas e físicas semelhantes às dos personagens do
responda a questão a seguir. romance. O olhar poético do fotógrafo ainda
registrou imagens que nos comunicam as
Vivia longe dos homens, só se dava bem com condições dos migrantes, como
animais. Os seus pés duros quebravam
espinhos e não sentiam a quentura da terra. A) a alegria pelo abandono da terra e de
Montado confundia-se com o cavalo, suas tradições.
grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o B) a felicidade alcançada pelo sucesso da
companheiro entendia. A pé, não se mudança.
aguentava bem. Pendia para um lado, para o
C) a aridez da pele das mãos semelhante à
outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes,
dureza do solo.
utilizava nas relações com as pessoas a
mesma língua com que se dirigia aos brutos – D) o vigor da vida florescendo nas terras do
exclamações, onomatopeias. Na verdade agreste nordestino.
falava pouco. Admira as palavras compridas
e difíceis da gente da cidade, tentava
reproduzir algumas em vão, mas sabia que
elas eram inúteis e talvez perigosas. 20. (IBMECRJ 2009) O texto a seguir foi retirado
(Graciliano Ramos) da obra de Graciliano Ramos, Vidas Secas.
Esse romance completou, em agosto de 2008,
O texto, no seu conjunto, enfatiza: 70 anos de sua primeira publicação. É
narrado em 3ª pessoa (ao contrário das obras
A) A pobreza física do personagem. anteriores de Graciliano) e pertence a um
gênero intermediário entre romance e livro de
B) A falta de escolaridade do personagem.
contos.
C) A miséria moral do personagem.
Fabiano, uma coisa da fazenda, 1um triste,
D) A identificação do personagem com o seria despedido quando menos esperasse.
mundo animal. Ao ser contratado, recebera o cavalo de
fábrica, peneiras, gibão, guarda-peito e
sapatões 3de couro, mas ao sair largaria tudo
ao vaqueiro 7que o substituísse. Sinhá Vitória
19. (UEG 2013) Observe as imagens. desejava possuir uma cama igual à de seu
Tomás da bolandeira. Doidice.

Não dizia nada para não contrariá-la , mas


sabia que era doidice. Cambembes podiam
ter luxo? E estavam ali de passagem.

Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles


ganhariam o mundo, sem rumo, nem teria
meio de conduzir os cacarecos. Viviam de
trouxa amarrada, dormiriam bem debaixo de
Em 2008, foi realizada uma homenagem a
um pau.
Graciliano Ramos pelos setenta anos de
criação de Vidas Secas. O fotógrafo Evandro Olhou a caatinga 4amarela, 5que o poente
Teixeira realizou um ensaio com locação nos avermelhava. Se a seca chegasse, não
lugares de origem dos personagens criados ficaria planta 2verde.
pelo escritor alagoano.

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Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre 22.(UFRRJ 2003) Leia o fragmento abaixo,


tinha sido assim, desde que ele se entendera. retirado do romance "Vidas secas":

E antes de se entender, antes de nascer, ... Na palma da mão as notas estavam úmidas
8sucedera o mesmo - anos bons, misturados de suor. Desejava saber o tamanho da
com anos ruins. A desgraça estava em extorsão. Da última vez que fizera contas com
caminho, talvez andasse perto. Nem valia a o amo o prejuízo parecia menor. Alarmou-se.
pena trabalhar. Ele marchando para casa, Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe
trepando a ladeira, espalhando 6seixos 9com dera uma impressão bastante penosa:
as alpercatas - ela se avizinhando 10a galope, sempre que os homens sabidos lhe diziam
com vontade de matá-lo. (Vidas Secas - palavras difíceis, ele saía logrado.
Graciliano Ramos) Sobressaltava-se escutando-as.
Evidentemente só serviam para encobrir
Pode-se dizer do romance, "Vidas Secas", de ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes
onde o texto foi retirado, que é uma grande decorava algumas e empregava-as fora de
obra: propósito. Depois esquecia-as. Para que um
pobre da laia dele usar conversa de gente
A) Pelo tratamento que dá aos conflitos de
rica? Sinhá Terta é que tinha uma ponta de
terra do país.
língua terrível. Era: falava tão bem quanto as
B). Pois trata da coisificação das relações pessoas da cidade. Se ele soubesse falar
humanas e da autodestruição. como Sinhá Terta, procuraria serviço em outra
fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia.
C). Pelo poder de fixar figuras humanas Nas horas de aperto dava para gaguejar,
vivendo sobre o fatalismo das secas da região embaraçava-se como um menino, coçava
nordeste. os cotovelos, aperreado. Por isso esfolavam-
no. Safados. Tomar as coisas de um infeliz que
D). Pois retrata a riqueza da natureza no não tinha nem onde cair morto! Não viam que
interior do Brasil. isso não estava certo? Que iam ganhar com
semelhante procedimento? Hem? Que iam
E). Pois enaltece a importância da atividade
ganhar? ...
agrícola para as populações rurais.
(RAMOS, Graciliano. "Vidas secas". 37ª ed. Rio
de Janeiro: Record, 1977. p.103.)
21. (UFMG 2003) Com base na leitura de
Graciliano Ramos apresenta em suas obras
"Vidas secas", é CORRETO afirmar que,
problemas do Nordeste do Brasil e, ao mesmo
A) no início, as personagens passam fome e, tempo, desenvolve um trabalho universal por
no final, sofrem com o frio. apresentar uma visão crítica das relações
humanas. A partir do trecho acima, pode-se
B). no início, predomina a desgraça da seca afirmar que o autor
e, no final, a desgraça da estação chuvosa.
A) denuncia a opressão social realizada
C). no início, a família está em fuga e, no final, através do abuso de poder político, que está
a mesma situação se repete. representado na fala de Fabiano.

D). no início, a família se encontra íntegra e, B). critica o trabalhador rural nordestino,
no final, se mostra desfeita. representado na figura de Fabiano, por sua
ignorância e falta de domínio da língua culta.

C). deixa claro que a incapacidade de usar


uma linguagem "boa" não isola Fabiano do

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mundo dos que usam "palavras difíceis", pois – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e
sua esperteza pode-se concretizar de outras ninguém pode viver sem comer. Quem é do
maneiras. chão não se trepa.

D). mostra que a sociedade oferece Pouco a pouco o ferro do proprietário


oportunidades iguais para os que possuem o queimava os bichos de Fabiano. E quando
domínio de uma linguagem culta e para os não tinha mais nada para vender, o sertanejo
que não possuem, e as pessoas mais endividava-se. Ao chegar a partilha, estava
trabalhadoras atingirão o posto de classe encalacrado, e na hora das contas davam-
dominante. lhe uma ninharia.

E). mostra a relação estreita entre linguagem Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano
e poder, denunciando a opressão ao ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou
trabalhador nordestino, transparente nas a transação meio apalavrada e foi consultar
diferenças entre a língua falada pelo opressor a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos
e a falada pelo oprimido. para o barreiro, sentou-se na cozinha,
concentrou-se, distribuiu no chão sementes
de várias espécies, realizou somas e
diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à
23.(UNESP 2011) As questões a seguir tomam cidade, mas ao fechar o negócio notou que
por base uma passagem do romance as operações de Sinha Vitória, como de
regionalista Vidas secas, de Graciliano Ramos
costume, diferiam das do patrão.
(1892-1953).
Reclamou e obteve a explicação habitual: a
Contas
diferença era proveniente de juros.
Fabiano recebia na partilha a quarta parte
Não se conformou: devia haver engano. Ele
dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente
como não tinha roça e apenas se limitava a que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com
semear na vazante uns punhados de feijão e certeza havia um erro no papel do branco.
milho, comia da feira, desfazia-se dos Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os
animais, não chegava a ferrar um bezerro ou
estribos.
assinar a orelha de um cabrito.
Passar a vida inteira assim no toco,
Se pudesse economizar durante alguns entregando o que era dele de mão beijada!
meses, levantaria a cabeça. Forjara planos.
Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e
Tolice, quem é do chão não se trepa. nunca arranjar carta de alforria!
Consumidos os legumes, roídas as espigas de
milho, recorria à gaveta do amo, cedia por O patrão zangou-se, repeliu a insolência,
preço baixo o produto das sortes. achou bom que, o vaqueiro fosse procurar
serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a
Resmungava, rezingava, numa aflição,
pancada e amunhecou. Bem, bem.
tentando espichar os recursos minguados,
engasgava-se, engolia em seco. Não era preciso barulho não. Se havia dito
palavra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não
Transigindo com outro, não seria roubado tão fora ensinado. Atrevimento não tinha,
descaradamente. Mas receava ser expulso conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar
da fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e
questão com gente rica? Bruto, sim senhor,
ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, mas sabia respeitar os homens. Devia ser
criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, ignorância da mulher, provavelmente devia
o pescoço inchando. De repente estourava: ser ignorância da mulher. Até estranhara as

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contas dela. Enfim, como não sabia ler (um Tendo em vista essa descrição, a frase "havia
bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. um erro no papel DO BRANCO"
Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra.
(Graciliano Ramos. Vidas secas. São Paulo: A). é um lapso do autor, já que o tipo racial
Livraria Martins Editora, 1974.) do patrão não é diferente do de Fabiano.

Lendo atentamente o fragmento de Vidas B). demonstra que Fabiano se serve da ironia
secas, percebe-se que o foco principal é o para tentar desqualificar o patrão.
das transações entre Fabiano e o proprietário
C). só se justifica pelo desejo que tem Fabiano
da fazenda. Aponte a alternativa que não
de ser tratado como um igual.
corresponde ao que é efetivamente exposto
pelo texto. D). justifica-se quando associada às
expressões "era bruto" e "trabalhar como
A) O proprietário era, na verdade, um
negro". e. prova que o patrão se valia de
benfeitor para Fabiano.
fatores raciais para se impor diante do
B). Fabiano declarava-se “um bruto” ao caboclo.
proprietário.

C). O proprietário levava sempre vantagem


na partilha do gado. 25. (ITA 2014) Acerca da representação da
infância em Vidas secas, de Graciliano
D). Fabiano sabia que era enganado nas Ramos, é INCORRETO dizer que
contas, mas não conseguia provar.
A). tanto o menino mais velho como o mais
E). Fabiano aceitava a situação e se novo encontram pouca alegria no ambiente
resignava, por medo de ficar sem trabalho. inóspito em que vivem.

B). os dois meninos sentem muito afeto pela


cachorra Baleia, companheira inseparável
24. (PUCCAMP 2005) No dia seguinte Fabiano da família.
voltou à cidade, mas ao fechar o negócio
notou que as operações de Sinha Vitória, C). o menino mais velho se rebela contra a
como de costume, diferiam das do patrão. situação da família e contra a brutalidade de
Reclamou e obteve a explicação habitual: a Sinhá Vitória.
diferença era proveniente de juros.
D). o menino mais novo quer ser igual ao pai
Não se conformou: devia haver engano. Ele e o mais velho entra em conflito com a mãe
era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente quando falam sobre o inferno.
que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com
E). quando o menino mais velho associa o
certeza havia um erro no papel do branco.
lugar em que vive com a ideia de inferno,
Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os
começa a deixar de ser criança.
estribos. Passar a vida inteira assim no toco,
entregando o que era dele de mão beijada!
Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e
nunca arranjar carta de alforria! (Graciliano 26. (UPE 2015) "No dia seguinte, Fabiano
Ramos, Vidas secas) voltou à cidade, mas ao fechar o negócio,
notou que as operações de Sinhá Vitória,
Em outra passagem de "Vidas secas", Fabiano como de costume, diferiam das do patrão.
é assim descrito: "(...) tinha os olhos azuis, a Reclamou e obteve a explicação habitual: a
barba e os cabelos ruivos." diferença era proveniente de juros. Não se
conformou: devia haver engano. Ele era

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bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e
era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com nunca arranjar carta de alforria!”, tem-se um
certeza havia um erro no papel do branco. discurso direto, pois o narrador se afasta e
Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os deixa Fabiano demonstrar, de forma direta,
estribos. Passar a vida inteira assim no toco, que tem a consciência da exploração do
entregando o que era dele de mão beijada! patrão quando faz uso dos verbos no
Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e presente.
nunca arranjar carta de alforria!
D). Graciliano Ramos cria duas comparações
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, ao usar o vocábulo branco para designar o
achou bom que o vaqueiro fosse procurar patrão e, posteriormente, ao atribuir ao
serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a narrador o enunciado: “Trabalhar como
pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era negro e nunca arranjar carta de alforria!”
preciso barulho não. Se havia dito palavra à coloca a personagem na condição de
toa, pedia desculpa. [...] submisso, tal qual a de um escravo sem direito
à liberdade, o que contraria os princípios do
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o romance regionalista de 1930.
chapéu varrendo o tijolo. [...]
E). Há algumas expressões usadas por
Sentou-se numa calçada, tirou do bolso o Graciliano Ramos que quebram a
dinheiro, examinou-o, procurando adivinhar verossimilhança existente entre a linguagem,
quanto lhe tinham furtado. a condição social e o nível de escolaridade
de Fabiano, pois são metáforas eruditas, tais
Não podia dizer em voz alta que aquilo era
como: “perdeu os estribos”, batendo no chão
um furto, mas era. Tomavam-lhe o gado
como cascos” e “baixou a pancada e
quase de graça e ainda inventavam juro. Que
amunhecou”.
juro! O que havia era safadeza.”

Sobre o fragmento do capítulo Contas, do


romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, 27.(UFRRJ 2004) Escrito por Graciliano Ramos
assinale a alternativa CORRETA. em 1938, "Vidas Secas" é uma obra-prima do
A). Ao se referir a Sinhá Vitória, Fabiano modernismo e mesmo de toda a literatura
admite que “a mulher tinha miolo.” Essa brasileira. Trata-se de narrativa pungente,
afirmação significa que a esposa era onde o drama do nordestino, tangido de seu
inteligente, tinha frequentado escola, sabia lar pela inclemência da seca, é contado de
fazer conta, diferentemente dele, que “era forma árida, seca e bastante realista, numa
bruto”, pois, também, não sabia ler nem fazer sintonia bastante eficaz entre forma e
conta, nunca havia frequentado a escola. conteúdo.

B). Quando o narrador personagem afirma O texto a seguir é um excerto de "Vidas


que “O amo abrandou, e Fabiano saiu de Secas":
costas, o chapéu varrendo o tijolo,” significa "Olhou a catinga amarela, que o poente
que a personagem percebeu que a altivez avermelhava. Se a seca chegasse, não
era a única arma que possuía para enfrentar ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria,
o proprietário das terras onde trabalhava, por naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde
isso resolveu camuflar o orgulho saindo sem que ele se entendera. E antes de se entender,
dar as costas ao amo. antes de nascer, sucedera o mesmo - anos
C) No final do segundo parágrafo, quando se bons misturados com anos ruins. A desgraça
lê: “Passar a vida inteira assim no toco, estava em caminho, talvez andasse perto.
entregando o que era dele de mão beijada! Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando

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para casa, trepando a ladeira, espalhando rumor de asas a anunciar destruição. Ele já
seixos com as alpercatas - ela se avizinhando andava meio desconfiado vendo as fontes
a galope, com vontade de matá-lo." minguarem. E olhava com desgosto a
brancura das manhãs longas e a vermelhidão
(RAMOS, Graciliano. "Vidas Secas". São Paulo: sinistra das tardes.
Martins. s/d. 28a ed., p. 59.) B) Na planície avermelhada os juazeiros
alargavam duas manchas verdes. Os infelizes
Assinale a afirmativa que indica uma
tinham caminhado o dia inteiro, estavam
característica do modernismo e do estilo do
cansados e famintos. Ordinariamente
autor, tomando por base a leitura do texto.
andavam pouco, mas como haviam
A). Há um extremo apuro formal, onde se repousado bastante na areia do rio seco, a
destacam as metáforas, sobretudo as viagem progredira bem três léguas. Fazia
hipérboles, em absoluta consonância com a horas que procuravam uma sombra. A
prolixidade do texto. folhagem dos juazeiros apareceu longe,
através dos galhos pelados da catinga rala.
B). O estilo direto do texto está sintonizado
com a narrativa, que descreve uma cena de C) Cavou a areia com as unhas, esperou que
grande movimentação e presença de a água marejasse e, debruçando-se no chão,
personagens. bebeu muito. Saciado, caiu de papo para
cima, olhando as estrelas, que vinham
C). O texto é seco e direto, confrontando um nascendo. O poente cobria-se de cirros – e
cenário de exuberância natural com um uma alegria doida enchia o coração de
personagem tímido, reservado e de poucas Fabiano.
ambições.
D) Deu-se aquilo porque Sinha Vitória não
D). O texto é direto, econômico, interessa conversou um instante com o menino mais
mais a angústia interior dos personagens do velho. Ele nunca tinha ouvido falar em inferno.
que seus próprios atos. Estranhando a linguagem de Sinha Terta,
pediu informações. Sinha Vitória, distraída,
E). A fatalidade da situação é explorada ao aludiu vagamente a certo lugar ruim demais
limite máximo, com a natureza pactuando e, como o filho exigisse uma descrição,
com as angústias do personagem, mas, ao encolheu os ombros.
final, subjugando-se.
E) – Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem
vergonha, Fabiano. Mata o soldado amarelo.
Os soldados amarelos são uns desgraçados
28. (PUC-SP 2015) Vidas Secas, novela de
que precisam morrer. Mata o soldado
Graciliano Ramos, apesar de ser uma obra
amarelo e os que mandam nele.
sobre a natureza inóspita e a miséria do
nordeste, apresenta um texto marcadamente
estético e lírico, que alcança os limites da
poesia. Assim, indique, nas alternativas 29.(MACKENZIE 2014) A cachorra Baleia
abaixo, a que apresenta trecho com estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo
linguagem cuja função é dominantemente caíra-lhe em vários pontos, as costelas
poética. avultavam num fundo róseo, onde manchas
escuras supuravam e sangravam, cobertas
A) Alguns dias antes estava sossegado, de moscas. As chagas da boca e a inchação
preparando látegos, consertando cercas. De dos beiços dificultavam-lhe a comida e a
repente, um risco no céu, outros riscos, bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela
milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho estivesse com um princípio de hidrofobia e

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amarrara-lhe no pescoço um rosário de C). Estão corretas apenas as alternativas II e


sabugos de milho queimados. Mas Baleia, III.
sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas
do curral ou metia-se no mato, impaciente, D). Todas as alternativas estão corretas.
enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas
E). Nenhuma das alternativas está correta.
murchas, agitando a cauda pelada e curta,
grossa na base, cheia de moscas,
semelhante a uma cauda de cascavel Então
Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a 30.(MACKENZIE 2014) A cachorra Baleia
espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo
com o saca-trapo e fez tenção de carrega-la caíra-lhe em vários pontos, as costelas
bem para a cachorra não sofrer muito. avultavam num fundo róseo, onde manchas
escuras supuravam e sangravam, cobertas
Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, de moscas. As chagas da boca e a inchação
rebocando os meninos assustados, que dos beiços dificultavam-lhe a comida e a
adivinhavam desgraça e não se cansavam bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela
de repetir a mesma pergunta: estivesse com um princípio de hidrofobia e
amarrara-lhe no pescoço um rosário de
— Vão bulir com a Baleia?
sabugos de milho queimados. Mas Baleia,
Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas
modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes do curral ou metia-se no mato, impaciente,
a suspeita de que Baleia corria perigo. enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas
murchas, agitando a cauda pelada e curta,
Ela era como uma pessoa da família: grossa na base, cheia de moscas,
brincavam juntos os três, para bem dizer não semelhante a uma cauda de cascavel. Então
se diferenciavam, rebolavam na areia do rio Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a
e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a
cobrir o chiqueiro das cabras. com o saca-trapo e fez tenção de carrega-la
bem para a cachorra não sofrer muito. Sinhá
Graciliano Ramos, Vidas Secas. Vitória fechou-se na camarinha, rebocando
Considere as seguintes afirmações sobre as os meninos assustados, que adivinhavam
características da prosa de Graciliano Ramos. desgraça e não se cansavam de repetir a
mesma pergunta:
I. “Tudo nele se concentra no que é homem,
no que é a tragédia do ser humano.” (José — Vão bulir com a Baleia?
Lins do Rego) Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os
II. “Representa o regionalismo baiano da zona modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes
rural do cacau e da zona urbana de a suspeita de que Baleia corria perigo.
Salvador.” (José de Nicola) Ela era como uma pessoa da família:
III. “Seus personagens são seres oprimidos, brincavam juntos os três, para bem dizer não
moldados pelo meio.” (Ulisses Infante) se diferenciavam, rebolavam na areia do rio
e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava
Assinale a alternativa correta. cobrir o chiqueiro das cabras.

A) Estão corretas apenas as alternativas I e II. Assinale a alternativa INCORRETA sobre o


contexto histórico e literário da prosa
B). Estão corretas apenas as alternativas I e III. regionalista moderna a que pertence o
fragmento de Vidas Secas.

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A). No plano internacional, o período reflete D). Fabiano dizia que na serra havia tocas de
um conturbado momento em função da suçuaranas. E nos bancos de macambira,
depressão econômica, do avanço do rendilhados de espinhos, surgiam cabeças
nazifascismo e da II Guerra Mundial. chatas de jararacas.

B). Experimenta-se um amadurecimento e um


aprofundamento das conquistas literárias da
geração de 1922. 32.(PUC-SP 2016) Ela era como uma pessoa
da família: brincavam juntos os três, para bem
C). A prosa tratou de várias questões, entre dizer não se diferençavam, rebolavam na
elas as econômicas, as sociais, as políticas e areia do rio e no estrume fofo que ia subindo,
as humanas. ameaçava cobrir o chiqueiro de cabras.
D). No plano nacional, o período reflete um O trecho acima é da obra Vidas Secas, de
conturbado momento histórico em função do Graciliano Ramos. Refere ações da
fim da República Velha, da ascensão de cachorrinha Baleia. Indique, nas alternativas
Getúlio Vargas e da Revolução abaixo, a que NÃO corresponde à
Constitucionalista. caracterização dela na narrativa.
E). O interesse pela busca de um retrato A) Apresenta-se mais humanizada que os
regional levou a literatura ao plano do membros da família de Fabiano, apesar de
peculiar e do exótico, distanciando-a dos ser um personagem não humano.
dramas humanos e sociais.
B). Marca-se por espontaneidade e
vivacidade e é capaz de vencer as barreiras
da incomunicabilidade ao relacionar-se com
31.(PUC-SP 2016) O crítico Álvaro Lins sobre a outros personagens da história.
obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos,
afirma que um de seus defeitos é “o excesso C). É acometida por uma doença incurável e
de introspecção em personagens tão acaba morrendo de forma natural, sob o
precários e rústicos, estando constituída olhar das crianças e de Fabiano, fantasiando
quase toda a novela de monólogos em seus momentos de delírio as caçadas que
interiores”. Assim, indique em que alternativa fazia aos preás.
ocorre o monólogo interior, também
chamado de discurso indireto livre. D). Acumula importantes funções na
narrativa quais sejam as de ser guia, a de ser
A). Mas irou-se com a comparação, deu a responsável pela sobrevivência do grupo e
murradas na parede. Era bruto, sim senhor, a de acompanhar as crianças nas folganças
nunca havia aprendido, não sabia explicar- e os adultos no trabalho.
se. Estava preso por isso? Como era? Então
mete-se um homem na cadeia porque ele
não sabe falar direito? Que mal fazia a
brutalidade dele? 33. (UEMA 2016) [...] Olhou em torno, com
receio de que, fora os meninos, alguém
B). Sinha Vitória, distraída, aludiu vagamente tivesse percebido a frase imprudente.
a certo lugar ruim demais, e como o filho Corrigiu-a, murmurando:
exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
- Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era
C). Nesse ponto um soldado amarelo motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho
aproximou-se e bateu familiarmente no capaz de vencer dificuldades. Chegara
ombro de Fabiano: // – Como é, camarada? naquela situação medonha – e ali estava,
Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro? forte, até gordo, fumando o seu cigarro de

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palha. Um bicho, Fabiano. [...] Era. Apossara- vivente que o compreendia era a mulher.
se da casa porque não tinha onde cair morto, Nem precisava falar: bastavam gestos.”
passara uns dias mastigando raiz de imbu e
sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, B). “Fabiano também não sabia falar. Às
com ela, o fazendeiro, que o expulsara. vezes largava nomes arrevesados, por
Fabiano fizera-se desentendido e oferecera embromação. Via perfeitamente que tudo
seus préstimos, resmungando, coçando os era besteira. Não podia arrumar o que tinha
cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era no interior. Se pudesse... Ah! Se pudesse,
ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as atacaria os soldados amarelos que
marcas de ferro. Agora Fabiano era vaqueiro, espancam as criaturas inofensivas.”
e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um
C). “Conteve-se, notou que os meninos
bicho, mas criara raízes, estava plantado.
estavam perto, com certeza iam admirar-se
Olhou as quipás, os mandacarus e os
ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não
xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era
era homem: era apenas um cabra ocupado
como as catingueiras e as baraúnas. Ele, a
em guardar coisas dos outros.”
sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia
estavam agarrados à terra. [...] Entristeceu. D). “Vivia longe dos homens, só se dava bem
Considerar-se plantado em terra alheia! [...] com os animais. Os seus pés duros quebravam
espinhos e não sentiam a quentura da terra.
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio
Montado, confundia-se com o cavalo,
de Janeiro: Record, 2015).
grudava-se a ele. E falava uma linguagem
Com marcas temporais adequadas, o cantada, monossilábica e gutural, que o
narrador usa o recurso do flashback para companheiro entendia.”

A). fazer digressões do narrador, fora do E). “Era como se Fabiano tivesse esfolado um
contexto das personagens. animal. A barba ruiva e emaranhada estava
invisível, os olhos azulados e imóveis fixavam-
B). fazer valer momentos memoráveis da vida se nos tições, fala dura e rouca entrecortava-
de uma das personagens. se de silêncios.”

C). focar o cenário onde se passa a história


narrada.
35.(PUC-RS 2016) Leia a passagem a seguir,
D). dar maior dinamismo à fala das referente a uma marcante personagem da
personagens. literatura brasileira, e preencha as lacunas do
texto relacionado ao excerto. Examinou o
E). evitar recorrências na tessitura narrativa. terreiro, viu Baleia coçando-se a esfregar as
peladuras no pé de turco, levou a espingarda
ao rosto. A cachorra espiou o dono
34.(UEMA 2016) No livro Vidas Secas, tanto as desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se
dificuldades de interlocução de Fabiano desviando, até ficar no outro lado da árvore,
como o silêncio que lhe é característico, agachada e arisca, mostrando apenas as
relacionam-se à condição subalterna que a pupilas negras.
personagem vivencia em seu meio social.
Aborrecido com esta manobra, Fabiano
Essa relação é evidenciada no seguinte
saltou a janela, esgueirou-se ao longo da
fragmento:
cerca do curral, detevesse no mourão do
A). “Às vezes dizia uma coisa sem intenção de canto e levou de novo a arma ao rosto. Como
ofender, entendiam outra, e lá vinham o animal estivesse de frente e não
questões. Perigoso entrar na bodega. O único apresentasse bom alvo, adiantou-se mais

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alguns passos. Ao chegar às catingueiras, bem para a cachorra não sofrer muito. Sinhá
modificou a pontaria e puxou o gatilho. A Vitória fechou-se na camarinha, rebocando
carga alcançou os quartos traseiros e os meninos assustados, que adivinhavam
inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a desgraça e não se cansavam de repetir a
latir desesperadamente. (...) Dirigiu-se ao mesma pergunta:
copiar, mas temeu encontrar Fabiano e
afastou-se para o chiqueiro das cabras. — Vão bulir com a Baleia?
Demorou-se aí um instante, meio
Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os
desorientada, saiu depois sem destino, aos
modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes
pulos. Na famosa cena da morte de Baleia,
a suspeita de que Baleia corria perigo.
personagem do romance _________, de
_________, é nítida a _________ da cadela Ela era como uma pessoa da família:
numa cena extremamente _________. brincavam juntos os três, para bem dizer não
se diferenciavam, rebolavam na areia do rio
A) O quinze – Raquel de Queirós –
e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava
personificação – vívida
cobrir o chiqueiro das cabras.
B) Vidas secas – Graciliano Ramos –
Graciliano Ramos, Vidas Secas.
humanização – realista
A partir do fragmento de Vidas Secas, pode-
C). O quinze – Graciliano Ramos –
se afirmar que todas as afirmações estão
alegorização – violenta
corretas, EXCETO:
D) Vidas secas – Graciliano Ramos –
A) o pai da família de retirantes, diante das
metaforização – sutil
características físicas expostas pela cachorra,
E) O quinze – Raquel de Queirós – busca apoio em crendices populares.
simbolização – hostil
B). as duas crianças, em virtude das atitudes
do pai da família, sentem-se aflitas pelo
destino de Baleia.
36. (MACKENZIE 2014) A cachorra Baleia
estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo C). o pai da família de retirantes preparou
caíra-lhe em vários pontos, as costelas despretensiosamente a morte de Baleia.
avultavam num fundo róseo, onde manchas D). Sinhá Vitória, sensível à sucessão dos fatos,
escuras supuravam e sangravam, cobertas recolhe seus filhos com a intenção de
de moscas. As chagas da boca e a inchação protegê-los do futuro evento.
dos beiços dificultavam-lhe a comida e a
bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela E). o pai da família de retirantes decide
estivesse com um princípio de hidrofobia e sacrificar Baleia por acreditar que ela esteja
amarrara-lhe no pescoço um rosário de infectada com raiva.
sabugos de milho queimados. Mas Baleia,
sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas
do curral ou metia-se no mato, impaciente,
enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas 37. (MACKENZIE 2012- Adaptada)
murchas, agitando a cauda pelada e curta,
Texto
grossa na base, cheia de moscas,
semelhante a uma cauda de cascavel. Então Vivia longe dos homens, só se dava bem com
Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a os animais. Os seus pés duros quebravam
espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a espinhos e não sentiam a quentura da terra.
com o saca-trapo e fez tenção de carrega-la Montado, confundia-se com o cavalo,

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grudava-se a ele. E falava uma linguagem 39. (UFABC 2007) A temática da fome está
cantada, monossilábica e gutural, que o presente em um dos mais expressivos
companheiro entendia. romances de Graciliano Ramos, Vidas Secas.
Leia um trecho dessa obra.
(Graciliano Ramos, Vidas secas)
Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a
No texto, a descrição do personagem terra de chofre. A tampa anilada baixava,
Fabiano aponta para as seguintes escurecia, quebrada apenas pelas
características, EXCETO: vermelhidões do poente. Miudinhos, perdidos
no deserto queimado, os fugitivos agarraram-
A). adaptação do personagem ao meio
se, somaram as suas desgraças e os seus
natural.
pavores. O coração de Fabiano bateu junto
B). identificação com o animal. do coração de Sinhá Vitória, um abraço
cansado aproximou os farrapos que os
C). caráter antissocial. cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se
envergonhados, sem ânimo de afrontar de
D). comportamento primitivo e espontâneo. novo a luz dura, receosos de perder a
esperança que os alentava.
E). revolta devido a sua condição familiar.
Iam-se amodorrando e foram despertados
por Baleia, que trazia nos dentes um preá.
38. (UNESPAR 2010) Leia as seguintes Levantaram-se todos gritando. O menino mais
afirmações sobre a obra de Graciliano Ramos velho esfregou as pálpebras, afastando
e depois assinale a alternativa correta. pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o
focinho de Baleia, e como o focinho estava
I) A sua obra pode ser definida como ensanguentado, lambia o sangue e tirava
regionalista, apesar da proximidade com o proveito do beijo.
romance psicológico. O Nordeste era a
região abordada por ele. Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria
a morte do grupo. E Fabiano queria viver.
II) Como os modernistas de seu tempo, ele Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha
mantinha uma atitude de não respeitar a crescido, agora cobria o morro inteiro.
gramática tradicional, valorizando a Fabiano pisou com segurança, esquecendo
liberdade formal como forma de expressão. as rachaduras que lhe estragavam os dedos
e os calcanhares. (Ilustração de Aldemir
III) Os seus romances apresentam sempre um Martins, para a 27.ª edição de Vidas Secas,
protagonista em conflito com o meio, tanto São Paulo, Martins Fontes, 1970).
físico quanto social.
A respeito do trecho, observa-se que:
Está(ão) correta(s) somente:
A) A escolha dessa temática, no quadro do
A). I e II. romance regionalista de 1930, destaca a
tensão das relações do homem com o
B). II e III.
ambiente em que vive.
C). II.
B). A linguagem do romance é marcada por
D). I e III. referências simbólicas, adotando sintaxe de
períodos longos, com predomínio de
E) I subordinação.

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C). Esse romance rompe com a tradição do 1) Fabiano


Regionalismo de 30, ao optar pela
ambientação do romance no espaço 2) Sinhá Vitória
urbano.
3) Baleia
D). No trecho transcrito mostra-se a
4) menino mais novo
predileção do autor pela expressão de juízos
de valor acerca dos fatos narrados. 5) menino mais velho
E). A técnica de narração em primeira 6) soldado amarelo
pessoa, adotada no romance, com um
narrador personagem, produz, para o leitor, o 7) Tomás da bolandeira
efeito de sentido de objetividade.
( ) A esposa de Fabiano, uma mulher forte que
compartilha a luta pela sobrevivência no
sertão.
40. Considerando o contexto da obra Vidas
Secas, de Graciliano Ramos, analise as ( ) O pai de família determinado a enfrentar
afirmativas a seguir: as adversidades do sertão nordestino em
busca de uma vida melhor para sua família
I – O narrador de Vidas Secas é onisciente,
pois revela os pensamentos mais profundos ( )Muitas vezes retratado como ingênuo e
de cada membro da família de retirantes. curioso em relação ao mundo.

II – A linguagem utilizada na obra é direta, ( ) Dono da fazenda em que a família buscou


refletindo a dureza da vida no sertão abrigo durante uma tempestade.
nordestino e a falta de recursos de expressão
dos personagens. ( ) A cadela da família, uma presença
constante que demonstra lealdade e afeto.
III – A narrativa segue uma estrutura linear e
( ) Representa a opressão e a injustiça
cronológica, sem saltos temporais ou
flashbacks. enfrentadas pela família.

IV – A seca é retratada como a única ( ) Enfrenta desafios e responsabilidades


adversidade enfrentada pelos personagens, precoces no sertão.
e o livro não aborda questões sociais mais A sequência CORRETA na ordem de cima
amplas. para baixo é:
É (São) INCORRETA(S) a(s) afirmativa(s) A. ( ) 2, 1, 4, 7, 3, 6, 5
A. ( ) I e II, apenas. B. ( ) 3, 6, 5, 1, 2, 7, 4
B. ( ) II e III, apenas. C. ( ) 2, 7, 6, 4, 3, 1, 5
C. ( ) III e IV, apenas. D. ( ) 3, 1, 7, 5, 2, 4, 6
D. ( ) I e IV, apenas.

42. Em Vidas Secas, a personagem Baleia é


41. Associe corretamente cada uma das por vezes humanizada. Esse fato é expresso
seguintes personagens de Vidas Secas a sua em:
característica.

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A. ( ) “Nesse ponto Baleia arrebitou as orelhas, Viera a trovoada e, com ela, o fazendeiro,
arregaçou as ventas, sentiu cheiro de preás, que o expulsara. Fabiano fizera-se
farejou um minuto, localizou-os no morro desentendido e oferecera os seus préstimos,
próximo e saiu correndo.” resmungando, coçando os cotovelos,
sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o
B. ( ) “Baleia, o ouvido atento, o traseiro em patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas
repouso e as pernas da frente erguidas, de ferro.
vigiava, aguardando a parte que lhe iria
tocar, provavelmente os ossos do bicho e [...]
talvez o couro.”
Às vezes utilizava nas relações com as
C. ( ) “Baleia não podia achar a novilha num pessoas a mesma língua com que se dirigia
banco de macambira, mas era conveniente aos brutos exclamações, onomatopeias. Na
que os meninos se acostumassem ao verdade, falava pouco. Admirava as palavras
exercício fácil – bater palmas, expandir-se em compridas e difíceis da gente da cidade,
gritaria, seguindo os movimentos do animal.” tentava reproduzir algumas, em vão, mas
sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.
D. ( ) “Tentaram explicar-lhe que tinham tido
susto enorme por causa dela, mas Baleia não (RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de
ligou importância à explicação. Achava é Janeiro: Record, 2014.)
que perdiam tempo num lugar esquisito,
cheio de odores desconhecidos.” No trecho “Às vezes utilizava nas relações
com as pessoas a mesma língua com que se
dirigia aos brutos - exclamações,
onomatopeias.”.
43. Graciliano Ramos (1892/1953), jornalista e
político, exerceu o cargo de prefeito da A figura de linguagem onomatopeia, usada
cidade Palmeiras dos Índios, interior de no trecho acima, significa
Alagoas. Estreou em 1933, com o romance
“Caetés”. “Vidas Secas” – publicado em 1938 A) exagero na expressão de ideias.
– é o último romance desse autor. Leia um B) suavização de um pensamento.
pequeno fragmento dessa obra. Trata-se de
episódio muito importante que caracteriza o C)imitação de ruídos diversos.
protagonista Fabiano.
D)repetições para reforçar a mensagem.
TEXTO
E) mistura de impressões sensoriais.
— Você é um bicho, Fabiano.

Isto para ele era motivo de orgulho. Sim


senhor, um bicho, capaz de vencer 44. Leia o fragmento abaixo transcrito da obra
dificuldades. Chegara naquela situação “Vidas Secas” e responda à questão 44: Vivia
medonha - e ali estava forte, até gordo, longe dos homens, só se dava bem com
fumando seu cigarro de palha. animais. Os seus pés duros quebravam
espinhos e não sentiam a quentura da terra.
— Um bicho, Fabiano. Montado, confundia-se com o cavalo,
grudava-se a ele. E falava uma linguagem
Era. Apossara-se da casa porque não tinha
cantada, monossilábica e gutural, que o
onde cair morto, passara uns dias mastigando
companheiro entendia. A pé, não se
raízes de imbu e sementes de mucunã.
aguentava bem. Pendia para um lado, para o
outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes,
utilizava nas relações com as pessoas a

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mesma língua com que se dirigia aos brutos –


exclamações, onomatopeias. Na verdade
falava pouco. Admira as palavras compridas 46. De acordo com a leitura do livro Vidas
e difíceis da gente da cidade, tentava Secas pode-se afirmar que:
reproduzir algumas em vão, mas sabia que
elas eram inúteis e talvez perigosas. A) as lembranças do passado enchem de
(Graciliano Ramos) beleza e ternura a vida de Fabiano.

B) Fabiano mostra-se enfurecido por não viver


No texto, a referência aos pés:
em outro lugar.
A) Constitui um jogo de contrastes entre o
mundo cultural e o mundo físico do C) Fabiano, assim como os retirantes
personagem. nordestinos, sente-se apático diante das
adversidades climáticas.
B) Acentua a rudeza do personagem, em
D) depois de muito sofrer, Fabiano e sua
nível físico.
família conseguem se instalar em uma
C) Justifica-se como preparação para o fato pequena propriedade rural.
de que o personagem não estava preparado
E) o retirante Fabiano e sua família viviam
para caminhada.
rodeados de bichos, em um lugar ermo.
D) Serve para demonstrar a capacidade de
pensar do personagem.

E) Caracteriza um personagem sendo “da 47. Qual é o título do livro escrito por
terra”. Graciliano Ramos?

A) Vidas Secas

45. Fabiano, ao analisar-se, considera-se, B) Memórias da Emília


sucessivamente, um homem e um bicho. C) Macunaíma
Levando-se em consideração o perfil dessa D) Dom Casmurro
personagem no contexto da obra, a melhor
explicação é que ele : 48. Lei o trecho
A) sente-se desprovido de racionalidade na “Na planície avermelhada os juazeiros
relação interpessoal com outras alargavam duas manchas verdes. Os infelizes
personagens. tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos. Ordinariamente
B) percebe-se acuado e rejeitado pela
andavam pouco, mas como haviam
sociedade dos homens, seus semelhantes.
repousado na areia do rio seco, a viagem
C) acha-se inferior aos outros membros da progredira bem três léguas. Fazia horas que
família. procuravam uma sombra. A folhagem dos
juazeiros apareceu longe, através dos galhos
D) reconhece-se bicho e isso o satisfaz, pelados da caatinga rala.
porque bicho é um ser que sabe resolver
problemas práticos. (…)

E) vê-se como animal, já que todos o tratam Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira,
dessa maneira. encaminhou-se ao rio seco, achou no
bebedouro dos animais um pouco de lama.

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Cavou a areia com as unhas, esperou que a


água marejasse e, debruçando-se no chão,
bebeu muito. Saciado, caiu de papo para 49. Qual é o nome do cachorro da família
cima, olhando as estrelas, que vinham Silva?
nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia
muitas estrelas, havia mais de cinco estrelas A) Baleia
no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma B) Fubá
alegria doída enchia o coração de Fabiano.
C) Baleiro
(…)
D) Fubica
A lua crescia, a sombra leitosa crescia, as
estrelas foram esmorecendo naquela
brancura que enchia a noite. Uma, duas, três,
agora havia poucas estrelas no céu. Ali perto 50. Em que região do Brasil se passa a história
a nuvem escurecia o morro.” de "Vidas Secas"?

Os trechos acima pertencem ao primeiro A) Nordeste


capítulo de Vidas Secas, de Graciliano
Ramos. Escrito em terceira pessoa, apresenta B) Sul
personagens oprimidas e moldadas pelo
C) Norte
meio.
D) Sudeste
A respeito dessa obra, é incorreto afirmar:

A) É um romance cujos capítulos,


independentes, podem ser lidos em ordens 51. A respeito de Vidas Secas, de Graciliano
diferentes de seleção. São painéis variados Ramos, somente não se pode afirmar que:
de um mesmo drama.
A) As personagens Fabiano, Sinhá Vitória e os
B) É um romance de estrutura cíclica, já que filhos são convertidos em criaturas
o começo e o fim se tocam, e o drama do brutalizadas, numa sugestão de que a dureza
primeiro capítulo repete-se no último. do solo nordestino aproxima a vida humana
da vida animal.
C) Fabiano, personagem principal, tem uma
incapacidade básica de comunicação com B) Embora composta de pequenas narrativas
outras pessoas. Quase não consegue isoladas, a obra mantém a estrutura de um
expressar-se verbalmente; por isso, seu romance pela presença quase constante de
modelo de realização pessoal é Seu Tomás seus personagens e por uma sucessão
da bolandeira. temporal.
D) O romance, por suas características de C) A obra insere-se no chamado romance de
linguagem extremamente difícil e por 30, por uma total fidelidade aos
abordar o tema da seca, mostra-se experimentalismos linguísticos da fase heroica
inteiramente desprovido de qualquer estado do movimento modernista.
de poesia e de sentimento lírico.
D) O retirante Fabiano, incapaz de verbalizar
E) Revela mais intensamente o sentimento da seus próprios pensamentos, expressa-se,
terra nordestina, e o que marca a fisionomia quase sempre, através do discurso indireto
e os caracteres de suas personagens é o livre de um narrador onisciente.
fenômeno

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E) A narrativa denuncia o flagelo do sertão B) Todos os membros da família morrem de


nordestino, onde o homem, fundindo-se ao fome
seu meio, é arrastado por um destino adverso
e inútil. C) A família é resgatada por um grupo de
viajantes

D) Fabiano decide abandonar a família e


52.O que o personagem Fabiano faz para seguir sozinho
sobreviver?

a) Trabalha como professor


56. Qual é o nome da família retratada no livro
b) Cultiva um pequeno pedaço de terra "Vidas Secas"?

c) Vende produtos na feira A) Silva

d) Caça animais na floresta B) Vasconcelos

C) Pereira

53. Qual é a principal dificuldade enfrentada D) Santos


pela família Silva durante a história?

A) A falta de água
57. Vidas Secas é uma das obras marcantes
B) A falta de comida da Segunda Fase do Modernismo Brasileiro,
que tem como autor:
C) A falta de abrigo
A) Graciliano Ramos
D) A falta de dinheiro
B)Machado de Assis

C)Guimarães Rosa
54. Qual é o significado do título "Vidas
Secas"? D)José de Alencar

A) Refere-se ao ambiente árido onde a


história se passa
58. O narrador pode ser um personagem da
B) Representa a falta de emoção dos obra ou o próprio autor. No caso de Vidas
personagens Secas, quem é o narrador?

C) Simboliza a falta de oportunidades para a A) Fabiano


família
B)Sinhá Vitória
D) Indica a ausência de água na região
C)O autor

D)Baleia
55. Como é descrito o final do livro "Vidas
Secas"?

A) A família Silva encontra uma nova casa e 59. Os nomes de integrantes de uma família,
recomeça sua vida às vezes, têm uma relação direta do

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momento em que ela vive. Qual é o nome do


menino mais novo da família?
63. Muitas vezes, o tema recorrente em uma
A) Fabiano obra fica evidencia-se direta ou
indiretamente por meio de uma simbologia.
B) Sinhá Vitória Isso acontece em Vidas Secas. Quem ou o
C) Rio Preto que é considerado o símbolo da seca na
narrativa da obra?
D) O menino não tinha nome
A) Fabiano

B) Sinhá Vitória
60. Geralmente, as famílias, por mais simples
C)O menino mais novo
que sejam, possuem um ou mais animais de
estimação. Apesar da luta a qual enfrenta, D)A cachorra Baleia
qual é o animal de estimação da família?

A) Cavalo
64. Paralelamente ao enredo, as obras
B) Cachorro literárias acontecem durante algum período
C) Gato histórico em que vivem as pessoas. No caso
de Vidas Secas, em que contexto histórico
D) Galinha está inserida?

E) Tartaruga A) Primeira Guerra Mundial

B) Revolução Industrial

61. Qual é a principal preocupação da família C) Ditadura Militar no Brasil


de Fabiano, em Vidas Secas?
D)Período de seca no Nordeste nos anos 1930
A) Entre tantas, encontrar água

B) Entre tantas, conseguir comida


65. Em Vidas Secas, possivelmente o papel da
C) Entre tantas, construir uma casa educação seria imprescindível no
enfrentamento da seca nordestina. Qual é o
D) Entre tantas, buscar educação para as papel da educação na vida da família de
crianças Fabiano?

A) É uma prioridade

62. Qual é o destino final da família de B) Não é mencionada no livro


Fabiano e Sinhá Vitória ao final do livro?
C) É rejeitada pelos personagens
A)Rio de Janeiro
D) É a única saída para a situação da família
B)São Paulo

C)Salvador
66. À cadela Baleia é destinada uma função
D)Migram para outra região do Nordeste de destaque na história. Identifique essa
função:

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A) Representa um símbolo de fartura A) Eles encontram um emprego

B) É um empecilho para a ações da família B) São expulsos da cidade

C) É como uma espécie de guia na jornada C) Conseguem comida suficiente para o ano
da família
D) São convidados para uma festa
D) Representa uma metáfora para a seca

71. Geralmente os autores de obras literárias


67. Qual é a relação de Fabiano com o procuram explorar em suas produções
soldado amarelo que aparece no decorrer elementos que julgam de excelência como
da narrativa? tema. Qual é o tema principal da obra Vidas
Secas?
A) São amigos de infância
A) A urbanização no Nordeste
B) Fabiano é inimigo do soldado
B) A seca e suas consequências
C) O soldado ajuda a família
C) A vida rural no Sul do Brasil
D) Não há interação entre eles
D) O crescimento econômico do país

68. Quem é responsável por narrar o capítulo


intitulado "Baleia", um dos mais importantes 72. O que representa o "inverno" na vida da
da narrativa? família de Fabiano tão castigada pela seca
nordestina?
A) Fabiano
A) Uma estação chuvosa
B) Sinhá Vitória
B) Uma época de fartura
C) O soldado amarelo
C) Um período de dificuldades
D) O autor
D) Um símbolo de esperança

69. Vidas Secas é obra de destaque na fase


literária denominada: 73. Quem é considerado o chefe da família
que protagoniza a obra Vidas Secas, de
A)Pré-modernismo Graciliano Ramos?
B)Primeira fase do modernismo A) Fabiano
C)Segunda fase do modernismo B) Sinhá Vitória
D)Terceira fase do modernismo C) O menino mais novo

D) O menino mais velho


70. O que acontece com a família de Fabiano
durante a festa de São João, quando todos
vão para a cidade apreciar as festanças?

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74. O texto abaixo apresenta uma passagem D) A expressão “Forjara planos”, típica da
do romance Vidas secas, de Graciliano linguagem culta, é seguida no texto por um
Ramos, em que Fabiano é focalizado em um provérbio popular: “quem é do chão não se
momento de preocupação com sua situação trepa”. Essa mudança de registro linguístico é
econômica. Escrito em 1938, esta obra insere reveladora do método narrativo de Vidas
- se num momento em que a literatura secas, que subordina a voz das classes
brasileira centrava seus temas em questões populares à da elite.
de natureza social.
E) O texto tem início com a esperança de
"Se pudesse economizar durante alguns Fabiano de mudanças em sua situação
meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. econômica; a seguir, passa a focalizar a
Tolice, quem é do chão não se trepa. realidade de pobreza em que a personagem
Consumidos os legumes, roídas as espigas de se encontra, e finaliza com sua revolta e
milho, recorria à gaveta do amo, cedia por angústia diante da condição de empregado,
preço baixo o produto das sortes. sempre em dívida com o patrão.
Resmungava, rezingava, numa aflição,
tentando espichar os recursos minguados,
engasgava-se, engolia em seco."
75. Qual é o papel que o autor reserva ao
(In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. soldado amarelo na saga presente na
Rio de Janeiro: Record, 1991.) narrativa?

Sobre este trecho do romance, somente está A) Proteger a família de Fabiano


INCORRETO o que se afirma na alternativa:
B) Ser um guia na jornada da família
A) Este trecho resume a situação de
permanente pobreza de Fabiano e revela-se C) Representar a autoridade opressora
como uma crítica à economia brasileira e às D) Oferecer ajuda financeira
relações de trabalho que vigoravam no
sertão nordestino no momento em que a obra
foi criada. Isso pode ser confirmado pelas
orações: "... Consumidos os legumes, roídas as 76. Ao se fazer uma análise da obra Vidas
espigas de milho, recorria à gaveta do amo, Secas, pode-se concluir que:
cedia por preço baixo o produto das sortes..."
A) O autor faz um uso de um vocabulário
B) A oração: "Se pudesse economizar durante rebuscado para retratar a vida da família
alguns meses, levantaria a cabeça" tanto com maior precisão.
pode ser o discurso do narrador que revela o
pensamento de Fabiano, quanto pode ser o B) О livro não арrеѕеntа dіѕсurѕо іndіrеtо lіvrе,
próprio pensamento dessa personagem. Esse роіѕ а mеѕсlа dа fаlа dоѕ реrѕоnаgеnѕ соm
modo de narrar também ocorre com as о dіѕсurѕо dо nаrrаdоr соnfundіrіа оѕ lеіtоrеѕ,
demais personagens do romance. dеіхаndо о rоmаnсе dіfíсіl dе ѕеr
соmрrееndіdо.
C) A oração: "... Resmungava, rezingava,
numa aflição, tentando espichar os recursos C) O romance apresenta uma linearidade
minguados, engasgava-se, engolia em seco" clara, já que apresenta começo, meio e fim.
indica a voz do narrador em terceira pessoa,
D) O autor não utiliza muitos adjetivos porque
ao mostrar o estado de agonia em que se
deseja exprimir a aridez do sertão.
encontra a personagem.

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77. O papagaio de estimação da família A) há marcas próprias do chamado discurso


também sofre as consequências da seca direto através do qual são reproduzidas as
nordestina. Que fim está destinado a ele? falas das personagens.

A) Morre de fome B) o narrador é observador, pois conta a


história de fora dela, na terceira pessoa, sem
B) É roubado por outra família participar das ações, como quem observou
objetivamente os acontecimentos.
C) É solto para voar livremente
C) quem conta a história é uma das
D) É vendido para comprar comida
personagens, que tem uma relação íntima
com as outras personagens, e, por isso, a
maneira de contar é fortemente marcada
78. Qual é a relação entre Fabiano e o por características subjetivas, emocionais.
papagaio de estimação da família?
D) evidencia-se um conflito entre a
A) Fabiano odeia o papagaio protagonista Baleia e o antagonista

B) Fica claro o vínculo de amizade entre eles Fabiano, pois este impede que a cadela
possa caçar os preás.
C) Fabiano o considera uma ameaça
E) o narrador é onisciente, isto é, geralmente
D) Não há interação entre eles ele narra a história na terceira pessoa, sabe
tudo sobre o enredo e sobre as personagens,
inclusive sobre suas emoções, pensamentos
mais íntimos, às vezes, até dimensões
79. O que simboliza a "terra prometida"
mencionada por Sinhá Vitória, aquela que inconscientes.
sonha em ter pelo menos uma cama como
aquela do Tomás da Bolandeira?
81. Sobre a obra Vidas Secas, é correto
A) Uma cidade grande
afirmar que:
B) Um lugar com água abundante
A) a preocupação com a fidedignidade
C) Uma fazenda próspera histórica e com o tom épico atenua o
sentimento dramático da vida,
D) A busca por uma vida melhor habitualmente presente nos poemas do autor

B) apresenta temática indianista, a exemplo


do que fizera Gonçalves Dias em Os Timbiras
80. Baleia queria dormir. Acordaria feliz num e Canção do Tamoio
mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de
Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se C) as personagens humanas, em razão da
espojariam com ela, rolariam com ela num seca, da fome, da miséria e das injustiças
pátio enorme, num chiqueiro enorme. O sociais, animalizam-se; em contrapartida, os
mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, bichos humanizam-se
enormes. (Graciliano Ramos)
D) Chico Bento, antes da seca, não era
Sobre o texto acima, é correto afirmar que: vagabundo, nem bandido; era um
trabalhador rural

E) narra a história de um burguês, Paulo


Honório, que passara da condição de

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caixeiro-viajante e guia de cego à de rico menino mais velho é castigado por querer
proprietário de uma fazenda. Para atingir seus satisfazer uma curiosidade. A partir dos
objetivos, o protagonista elimina todos os excertos, pode - se dizer que a obra aborda
empecilhos que se colocam à sua frente, a questão da linguagem como:
inclusive pessoas.
A) Privilégio de uma elite social que a usa
como forma de manter um status dentro da
comunidade na qual está inserida.
82. (ESPM) Fragmento 1:
B) Representação da cultura oficial e um
“Fabiano atentou na farda com respeito e anseio da população mais carente, ávida de
gaguejou, procurando as palavras de seu um instrumento de defesa.
Tomás da Bolandeira:
C) Instrumento de poder e repressão, uma vez
− Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. que quem não a possui évítima da violência
Enfim, contanto, etc. física e psicológica.
É conforme. D) Manipulação de conceitos abstratos,
permitindo a quem domina a linguagem
... alterar o significado dos paradigmas.
(...) Era bruto, sim senhor, nunca havia E) Forma de justificativa à agressão, já que
aprendido, não sabia explicar-se. Estava quem detém o conhecimento considera o
preso por isso? Como era? Então mete-se um ignorante um ser inferior.
homem na cadeia porque ele não sabe falar
direito?

Fragmento 2: 83. ’Iriam para diante, alcançariam uma terra


desconhecida. Fabiano estava contente e
(...) Ele nunca tinha ouvido falar em inferno.
acreditava nessa terra, porque não sabia
Estranhando a linguagem de Sinhá Vitória,
como ela era nem onde era. (...) E andavam
pediu informações. Sinhá Vitória, distraída,
para o Sul, metidos naquele sonho. Uma
aludiu vagamente a certo lugar ruim demais,
cidade grande cheia de pessoas fortes. Os
e como o filho exigisse uma descrição,
meninos em escolas, aprendendo coisas
encolheu os ombros.
difíceis e necessárias. (...) Chegariam a uma
... terra desconhecida e civilizada, ficariam
presos nela. E o sertão continuaria a mandar
(...) Não obteve resposta, voltou à cozinha, foi gente para lá. O sertão mandaria para a
pendurar-se a saia da mãe: cidade homens fortes, brutos, como Fabiano,
Sinhá Vitória e os dois meninos.’
− Como é?
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo:
Sinhá Vitória falou em espetos quentes e Martins, 27. ed., s/d, p. 172)
fogueiras.− A senhora viu?
Nessas frases finais do romance Vidas Secas,
Aí Sinhá Vitória se zangou, achou-o insolente
e aplicou-lhe um cocorote. O menino saiu A) A família de migrantes anima-se ao ter
indignado com a injustiça (...). notícias de que uma vida melhor já lhes
estava reservada.
Os fragmentos são de Vidas Secas, de
Graciliano Ramos. No fragmento 1, Fabiano
foi preso pelo soldado amarelo e, no 2, o

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B) Como que voltando ao ponto inicial da (RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo:
narrativa, a família põe-se em marcha, Martins, 27. ed., s/d, p. 172)
tocada pela seca.
Publicado em 1938, o romance Vidas Secas
C) O temor silencioso que assalta Fabiano e tem como contexto histórico e literário
sua família é o de se manterem presos à terra
desconhecida. A) A consagração do movimento modernista,
notadamente quanto à nova forma narrativa
D) O narrador faz ver ao leitor quão atípica se que nele se preconizava.
tornou a situação daquela família de
nordestinos. B) Um conjunto de textos ficcionais, os quais
se restringiam à análise de caracteres e à
E)Como que insinuando a impossibilidade de investigação psicológica.
Fabiano alcançar seu destino, o narrador se
vale do futuro do pretérito. C) Uma sucessão de movimentos locais
libertários, provocados sobretudo pelo
descontentamento com a República.

84. O livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, D) A consagração do naturalismo científico,


se esforça para revelar a desumanização no qual a documentação histórica dava
promovida pela seca nos personagens. Dessa base à narrativa ficcional.
forma, com relação aos personagens da
obra, é correto afirmar que E) Um conjunto de obras ficcionais pelo qual
se revelavam aspectos socioeconômicos de
A) Fabiano, o pai, oscila entre a condição de regiões brasileiras.
homem e a de animal.

B) Sinhá Vitória, a mãe, acompanha a


condição de seu marido. 86. Vidas Secas, de Graciliano Ramos, obra
da segunda fase do Modernismo brasileiro,
C) O filho Menino mais Novo se identifica com conta a saga de uma família de retirantes,
a mãe. marcada por uma ostensiva exclusão social.

D) O filho Menino mais Velho se identifica com “Olhou em torno, com receio de que, fora os
o pai. meninos, alguém tivesse percebido a frase
imprudente. Corrigiu-a, murmurando:

-Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era


85. “Iriam para diante, alcançariam uma terra motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho
desconhecida. Fabiano estava contente e capaz de vencer dificuldades.
acreditava nessa terra, porque não sabia
como ela era nem onde era. (...) E andavam Chegara naquela situação medonha – e ali
para o Sul, metidos naquele sonho. Uma estava, forte, até gordo, fumando o seu
cidade grande cheia de pessoas fortes. Os cigarro de palha.
meninos em escolas, aprendendo coisas
difíceis e necessárias. (...) Chegariam a uma -Um bicho, Fabiano.
terra desconhecida e civilizada, ficariam [...]
presos nela. E o sertão continuaria a mandar
gente para lá. O sertão mandaria para a Era. Apossara-se da casa porque não tinha
cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, onde cair morto, passara uns dias mastigando
Sinhá Vitória e os dois meninos.” raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a
trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o

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expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e vivente que o compreendia era a mulher.


oferecera seus préstimos, resmungando, Nem precisava falar: bastavam gestos.”
coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito
que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, B) “Fabiano também não sabia falar. Às vezes
entregara-lhe as marcas de ferro. largava nomes arrevesados, por
embromação. Via perfeitamente que tudo
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o era besteira. Não podia arrumar o que tinha
tiraria dali. Aparecera como um bicho, mas no interior. Se pudesse... Ah! Se pudesse,
criara raízes, estava plantado. Olhou as atacaria os soldados amarelos que
quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era espancam as criaturas inofensivas.”
mais forte que tudo isso, era como as
catingueiras e as baraúnas. Ele, a sinhá C) “Conteve-se, notou que os meninos
Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam perto, com certeza iam admirar-se
estavam agarrados à terra. ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não
era homem: era apenas um cabra ocupado
[...] em guardar coisas dos outros.”

Entristeceu. Considerar-se plantado em terra D) “Vivia longe dos homens, só se dava bem
alheia!” com os animais. Os seus pés duros quebravam
espinhos e não sentiam a quentura da terra.
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio Montado, confundia-se com o cavalo,
de Janeiro: Record, 2015.) grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o
Com marcas temporais adequadas, o
companheiro entendia.”
narrador usa o recurso do flashback para
E) “Era como se Fabiano tivesse esfolado um
A) Fazer digressões do narrador, fora do
animal. A barba ruiva e emaranhada estava
contexto das personagens.
invisível, os olhos azulados e imóveis fixavam-
B) Fazer valer momentos memoráveis da vida se nos tições, fala dura e rouca entrecortava-
de uma das personagens. se de silêncios.”

C) Focar o cenário onde se passa a história


narrada.
88. Leia os trechos abaixo, retirados
D) Dar maior dinamismo à fala das respectivamente do segundo e dos
personagens. penúltimos capítulos de Vidas Secas, de
Graciliano Ramos.
E) Evitar recorrências na tessitura narrativa.
“– Fabiano, você é um homem, exclamou em
voz alta.

87. No livro Vidas Secas, tanto as dificuldades Conteve-se, notou que os meninos estavam
de interlocução de Fabiano como o silêncio perto, com certeza iam admirar - se ouvindo-
que lhe é característico, relacionam-se à o falar sozinho. E, pensando bem, ele não era
condição subalterna que a personagem um homem; era apenas um cabra ocupado
vivencia em seu meio social. Essa relação é em guardar coisas dos outros. Vermelho,
evidenciada no seguinte fragmento: queimado, tinha olhos azuis e os cabelos
ruivos; mas como vivia em terra alheia,
A) “Às vezes dizia uma coisa sem intenção de cuidava de animais alheios, descobria-se,
ofender, entendiam outra, e lá vinham encolhia-se na presença de brancos e
questões. Perigoso entrar na bodega. O único julgava-se cabra. (Capítulo II).

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Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos.


ensinara o caminho. Esfregou a testa suada e As alpercatas dele estavam gastas nos saltos,
enrugada. Para que recordar a vergonha? e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos
Pobre dele. Estava tão decidido que ele rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares,
viveria sempre assim? Cabra safado, mole. Se duros como cascos, gretavam - se e
não fosse tão fraco, teria entrado no cangaço sangravam. Num cotovelo do caminho
e feito misérias. Depois levaria um tiro de avistou um canto de cerca, encheu-o a
emboscada ou envelheceria na cadeia, esperança de achar comida, sentiu desejo
cumprindo sentença, mas isto não era melhor de cantar. A voz saiu - lhe rouca, medonha.
que acabar-se numa beira de caminho, Calou-se para não estragar força.”
assando no calor, a mulher e os filhos
acabando-se também. Devia ter furado o “Deixaram a margem do rio, acompanharam
pescoço do amarelo com faca de ponta, a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos
devagar. Talvez estivesse preso e respeitado, juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.
um homem respeitado, um homem. Assim Sinhá Vitória acomodou os filhos, que
como estava, ninguém podia respeitá-lo. Não arriaram como trouxas, cobriu-os com
era homem, não era nada. Aguentava zinco molambos. O menino mais velho, passada a
no lombo e não se vingava.” (Capítulo XII). vertigem que o derrubara, encolhido sobre
folhas secas, a cabeça encostada a uma raiz,
Assinale a alternativa CORRETA sobre os adormecia, acordava. E quando abria os
trechos acima. olhos, distinguia vagamente um monte
próximo, algumas pedras, um carro de bois. A
A) No segundo trecho, Fabiano revela o cachorra Baleia foi enroscar-se junto dele.”
projeto de virar cangaceiro para ser
respeitado como um homem. “Estavam no pátio de uma fazenda sem vida.
O curral deserto, o chiqueiro das cabras
B) No primeiro trecho, Fabiano revela arruinado e também deserto, a casa do
vergonha de se afirmar como homem, por ser vaqueiro fechada, tudo anunciava
apenas um cabra ocupado em guardar as abandono. Certamente o gado se finara e os
coisas dos outros. moradores tinham fugido.”
C) No primeiro e no segundo trechos, a (Vidas Secas. Graciliano Ramos.)
sensação de não ser homem permanece,
apesar de Fabiano ter furado o pescoço do A partir da leitura dos excertos da obra Vidas
soldado amarelo. Secas, de Graciliano Ramos, mostrados no
texto, pode-se observar:
D) Em ambos os trechos, Fabiano revive a
vergonha de ter dito que era homem para o A) Uma linguagem bruta que se sobrepõe a
soldado amarelo. qualquer valor sentimental entre os
personagens da narrativa.
E) Na presença dos meninos, Fabiano luta
para superar a vergonha de ser cabra e de se B) Um processo de migração em busca das
afirmar como homem. necessidades básicas de sobrevivência, ao
mesmo tempo em que revela a expressão de
relações humanas prejudicadas pela aridez
do ambiente, atenuada pela presença de
89. (UFRR) Baleia.
TEXTO C) A perspectiva de um narrador em primeira
“As manchas dos juazeiros tornaram a pessoa que revela suas próprias experiências
aparecer, Fabiano aligeirou o passo,

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diante da secura do ambiente e da C) os diferentes antagonismos se misturavam


necessidade de migrar. e confundiam-se em sua limitada
capacidade de análise, o que lhe impedia
D) A seca do Nordeste apresentada numa qualquer reação objetiva.
perspectiva de sofrimento, a partir da visão
de Fabiano, que revela os percalços do D) nada era especialmente revoltante,
caminho em busca de alimento e de abrigo. porque ele avaliava com acerto as forças de
seus oponentes e acabava adotando uma
E) A secura do ambiente e a aridez da vida, posição fatalista.
destacando o otimismo de Fabiano diante
das dificuldades. E) a vida dos retirantes na caatinga era uma
lição de inconformismo, porém nada faziam
contra as vicissitudes do clima que estará
sempre a castiga-los.
90. Entre as principais características de Vidas
Secas, fica evidente o que se segue:

A) Falta de linearidade do tempo. 92. Leia esse trecho


B) Foco no nordestino, mostrando os “Como não sabia falar direito, o menino
problemas como a seca, a migração e a balbuciava expressões complicadas, repetia
miséria do trabalhador rural. as sílabas, imitava os berros dos animais, o
barulho do vento, o som dos galhos que
C) Presença de figuras de linguagem como
rangiam na catinga, roçando-se.
metáfora, prosopopeia e zoomorfização.
(…)
D) Foco narrativo em terceira pessoa
Não era propriamente conversa: eram frases
E) Todas as narrativas estão corretas.
soltas, espaçadas, com repetições e
incongruências. Às vezes uma interjeição
gutural dava energia ao discurso ambíguo.”
91 “Aparentemente resignado, sentia um ódio
imenso, a qualquer coisa que era ao mesmo O fato de as personagens centrais de Vidas
tempo a campina seca, o patrão, os soldados Secas se expressarem conforme indicam os
e os agentes da prefeitura. Tudo na verdade fragmentos acima, levou Graciliano Ramos,
era contra ele. Estava acostumado, tinha a nesse romance, a
casca muito grossa, mas às vezes se A) ocupar-se com cenas basicamente
arreliava. Não havia paciência que descritivas, como um criador que não tem a
suportasse tanta coisa.” opção dos diálogos, tampouco acesso ao
Os termos sublinhados no trecho acima, de pensamento informe de suas criaturas.
Vidas Secas, indicam que, para Fabiano: B)compor um conjunto de episódios isolados,
A) as opressões da vida não eram invencíveis, desconsiderando a cronologia ou qualquer
já que seu ódio ou sua paciência, alternando- outro critério de encadeamento das ações.
se, permitiam-lhe enfrentá-las de modo que C) elaborar seu próprio estilo num registro
lhe fosse mais conveniente. imitativo, num discurso entrecortado e vago,
B) tudo era motivo de indignação, uma vez que inutilmente procura a expressão das
que seu pensamento confuso não distinguia ações.
entre os verdadeiros inimigos e os possíveis D) adotar formas de discurso indireto livre
aliados. toda vez que desejou traduzir o pensamento

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nebuloso e fragmentário de suas C) O primeiro parágrafo inicia-se e termina


personagens. com o apelo religioso das personagens, o que
enfatiza a ideia de desespero em que se
E) criar um narrador que, desvinculado dos encontram Sinha Vitória e Fabiano.
desejos e sentimentos das personagens,
busca interpretá-las a partir de seus gestos ou D) A sugestão da morte está presente em
expressões faciais. todo o trecho: “folhas secas”, “bichos se
finavam”, “bezerro morrinhento” etc.

E) Apesar de toda a situação adversa,


93. TEXTO Fabiano resiste com a altivez e confiança de
um típico herói frente aos obstáculos que se
RETIRANTES lhe apresentam.
“A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá
Vitória benzia-se tremendo, manejava o
rosário, mexia os beiços rezando rezas 94. A respeito de Vidas Secas, de Graciliano
desesperadas. Encolhido no banco de Ramos, somente não se pode afirmar que:
copiar, Fabiano espiava a catinga amarela,
onde as folhas secas se pulverizavam, A) As personagens Fabiano, Sinhá Vitória e os
trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos filhos são convertidos em criaturas
se torciam, negros, torrados. No céu azul, as brutalizadas, numa sugestão de que a dureza
últimas arribações tinham desaparecido. do solo nordestino aproxima a vida humana
Pouco a pouco os bichos se finavam, da vida animal.
devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia,
pedindo a Deus um milagre. B) Embora composta de pequenas narrativas
isoladas, a obra mantém a estrutura de um
Mas quando a fazenda se despovoou, viu que romance pela presença quase constante de
tudo estava perdido, combinou a viagem seus personagens e por uma sucessão
com a mulher, matou o bezerro morrinhento temporal.
que possuíam, salgou a carne, largou-se com
a família, sem se despedir do amo. Não C) A obra insere-se no chamado romance de
poderia nunca liquidar aquela dívida 30, por uma total fidelidade aos
exagerada. Só lhe restava jogar-se no experimentalismos linguísticos da fase heroica
mundo, como negro fugido.” do movimento modernista.

(Graciliano Ramos, Vidas Secas) D) O retirante Fabiano, incapaz de verbalizar


seus próprios pensamentos, expressa-se,
Assinale a alternativa incorreta sobre o quase sempre, através do discurso indireto
fragmento. livre de um narrador onisciente.

A) Além de sofrerem as consequências da E) A narrativa denuncia o flagelo do sertão


seca, Fabiano e sua família também estão nordestino, onde o homem, fundindo-se ao
submetidos a um regime de dominação seu meio, é arrastado por um destino adverso
social comparável ao do escravo. e inútil.

B) A cor amarela (“caatinga”) e o tom


avermelhado (“folhas secas”) reiteram a ideia
de seca e articulam-se com o azul do céu 95. Na planície avermelhada, os juazeiros
(ausência de chuva) e com os “garranchos alargavam duas manchas verdes. Os infelizes
negros, torrados” (ausência de água). tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos. Ordinariamente

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andavam pouco, mas como haviam de pederneira no ombro. O menino mais


repousado bastante na areia do rio seco, a velho e a cachorra Baleia iam atrás.
viagem progredira bem três léguas. Fazia
horas que procuravam uma sombra. A Os juazeiros aproximaram-se, recuaram,
folhagem dos juazeiros apareceu longe, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a
através dos galhos pelados da caatinga rala. chorar, sentou-se no chão.

(Graciliano Ramos, Vidas secas) – Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o


pai. Não obtendo resultado, fustigou-o com a
Reestruturando-se o terceiro período do texto, bainha da faca de ponta. Mas o pequeno
mantém-se o sentido original apenas em: esperneou acuado, depois sossegou, deitou-
se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu
A) A viagem progredira bem três léguas, uma algumas pancadas e esperou que ele se
vez que haviam repousado bastante na areia levantasse. Como isto não acontecesse,
do rio seco, dado que ordinariamente espiou os quatro cantos, zangado,
andavam pouco. praguejando baixo.
B) Haviam repousado bastante na areia do rio A caatinga estendia-se, de um vermelho
seco; a viagem progredira bem três léguas indeciso salpicado de manchas brancas que
porque ordinariamente andavam pouco. eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia
círculos altos em redor de bichos moribundos.
C) Porque haviam repousado bastante na
areia do rio seco, ordinariamente andavam – Anda, excomungado.
pouco, e a viagem progredira bem três
léguas. O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou
matá-lo. Tinha o coração grosso, queria
D) Ainda que ordinariamente andassem responsabilizar alguém pela sua desgraça. A
pouco, a viagem progredira bem três léguas, seca aparecia-lhe como um fato necessário
pois haviam repousado bastante na areia do – e a obstinação da criança irritava-o. [...]
rio seco.
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 100. ed. Rio
E) Em virtude de andarem ordinariamente de Janeiro: Record, 2006. p. 9-10)
pouco e de haverem repousado bastante na
areia do rio seco, a viagem progredira bem Sobre o trecho “Arrastaram-se para lá,
três léguas. devagar [...] o menino mais velho e a
cachorra Baleia iam atrás”, retirado do texto
96. (PUC-GO) TEXTO 04 04, indique a única alternativa verdadeira:
Na planície avermelhada os juazeiros A) A palavra devagar exerce o papel de
alargavam duas manchas verdes. Os infelizes advérbio, pois modifica o verbo,
tinham caminhado o dia inteiro, estavam enriquecendo o significado global do
cansados e famintos. Ordinariamente predicado da sentença.
andavam pouco, mas como haviam
repousado bastante na areia do rio seco, a B) O trecho referido constitui-se num
viagem progredira bem três léguas. Fazia parágrafo narrativo, no qual as formas verbais
horas que procuravam uma sombra. [...] representam a celeridade das ações das
personagens, mostrando a transmutação da
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória realidade.
com o filho mais novo escanchado no quarto
e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, C)A expressão “escanchado no quarto”
cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada significa “montado nas costas” e é uma
numa correia presa ao cinturão, a espingarda

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variável linguística muito utilizada no sul do a) magreza excessiva.


Brasil.
b) ausência de recursos financeiros.
D)Em “presa ao cinturão”, presenciamos um
caso de regência verbal, pois o verbo rege c) pele seca.
complemento introduzido pela preposição a.
d) pernas arqueadas
97. Capítulo I – Mudança

Na planície avermelhada os juazeiros


alargavam duas manchas verdes. Os infelizes 99.A obra é tão bem trabalhada que as
figuras começam pelo título da mesma:
tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos. Ordinariamente “VIDAS SECAS”. O primeiro vocábulo dá
sentido de abundância enquanto o segundo
andavam pouco, mas como haviam
repousado bastante na areia do rio seco, a dá ideia de vazio, ou seja, há:
viagem progredira bem três léguas. a) um paradoxo.
Fazia horas que procuravam uma sombra. A b) uma antítese.
folhagem dos juazeiros apareceu longe,
através dos galhos pelados da catinga rala. c) um pleonasmo.

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória d) uma gradação.


com o filho mais novo escanchado no quarto
e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio,
cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada
numa correia presa ao cinturão, a espingarda 100. Os fatos são narrados:
de pederneira no ombro. O menino mais
a) em primeira pessoa.
velho e a cachorra Baleia iam atrás.
b) em segunda pessoa.
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 62. ed. Rio
de Janeiro: Record, 1992. p.9) c) em terceira pessoa.
De acordo com a abertura do romance, é d) não é possível determinar em qual pessoa
incorreto afirmar que: o texto é narrado.
A) Os personagens são: sinhá Vitória, Fabiano,
o menino mais velho, o menino mais novo e a
cachorra Baleia. 101. (Enem 2007)

B) Os personagens estão caminhando em Texto I


busca de um lugar melhor para viver.
"Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias.
C) Os personagens estão há horas O que o segurava era a família. Vivia preso
procurando uma sombra durante o período como um novilho amarrado ao mourão,
da seca. suportando ferro quente. Se não fosse isso, um
soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...)
D) A cachorra chama-se Baleia em Tinha aqueles cambões pendurados ao
comparação ao maior mamífero marinho por pescoço. Deveria continuar a arrastá-los?
comer muito e ser obesa. Sinha Vitória dormia mal na cama de varas.
Os meninos eram uns brutos, como o pai.
Quando crescessem, guardariam as reses de
98. “Cambaio” significa: um patrão invisível, seriam pisados,

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maltratados, machucados por um soldado E) linguagem regionalista para transmitir


amarelo." (Graciliano Ramos. Vidas Secas. informações sobre literatura, valendo-se de
São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.) coloquialismo para facilitar o entendimento
do texto.
Texto II

Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro,


enigmático, impermeável. Não há solução 102. (Enem 2007)
fácil para uma tentativa de incorporação
dessa figura no campo da ficção. É lidando Texto I
com o impasse, ao invés de fáceis soluções,
"Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias.
que Graciliano vai criar Vidas Secas,
O que o segurava era a família. Vivia preso
elaborando uma linguagem, uma estrutura
como um novilho amarrado ao mourão,
romanesca, uma constituição de narrador em
suportando ferro quente. Se não fosse isso, um
que narrador e criaturas se tocam, mas não
soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...)
se identificam. Em grande medida, o debate
Tinha aqueles cambões pendurados ao
acontece porque, para a intelectualidade
pescoço. Deveria continuar a arrastá-los?
brasileira naquele momento, o pobre, a
Sinha Vitória dormia mal na cama de varas.
despeito de aparecer idealizado em certos
Os meninos eram uns brutos, como o pai.
aspectos, ainda é visto como um ser humano
Quando crescessem, guardariam as reses de
de segunda categoria, simples demais,
um patrão invisível, seriam pisados,
incapaz de ter pensamentos
maltratados, machucados por um soldado
demasiadamente complexos. O que Vidas
amarelo." (Graciliano Ramos. Vidas Secas.
Secas faz é, com pretenso não envolvimento
São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.)
da voz que controla a narrativa, dar conta de
uma riqueza humana de que essas pessoas Texto II
seriam plenamente capazes. (Luís Bueno.
Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro,
Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.) enigmático, impermeável. Não há solução
fácil para uma tentativa de incorporação
No texto II, verifica-se que o autor utiliza dessa figura no campo da ficção. É lidando
com o impasse, ao invés de fáceis soluções,
A) linguagem predominantemente formal
que Graciliano vai criar Vidas Secas,
para problematizar, na composição de Vidas
elaborando uma linguagem, uma estrutura
Secas, a relação entre o escritor e o
romanesca, uma constituição de narrador em
personagem popular.
que narrador e criaturas se tocam, mas não
B) linguagem inovadora, visto que, sem se identificam. Em grande medida, o debate
abandonar a linguagem formal, dirige-se acontece porque, para a intelectualidade
diretamente ao leitor. brasileira naquele momento, o pobre, a
despeito de aparecer idealizado em certos
C) linguagem coloquial para narrar aspectos, ainda é visto como um ser humano
coerentemente uma história que apresenta o de segunda categoria, simples demais,
roceiro pobre de forma pitoresca. incapaz de ter pensamentos
demasiadamente complexos. O que Vidas
D) linguagem formal com recursos retóricos Secas faz é, com pretenso não envolvimento
próprios do texto literário em prosa para da voz que controla a narrativa, dar conta de
analisar determinado momento da literatura uma riqueza humana de que essas pessoas
brasileira. seriam plenamente capazes. (Luís Bueno.
Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São
Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.)

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D) Graciliano Ramos alcançou raro equilíbrio


ao reunir análise sociológica e psicológica,
No texto II, verifica-se que o autor utiliza mostrando-se como o legítimo continuador
de Machado de Assis na trajetória do
A) linguagem predominantemente formal
romance brasileiro.
para problematizar, na composição de Vidas
Secas, a relação entre o escritor e o
personagem popular.
104. Graciliano Ramos faz parte da seguinte
B) linguagem inovadora, visto que, sem fase do modernismo brasileiro:
abandonar a linguagem formal, dirige-se
diretamente ao leitor. A) Segunda fase do modernismo,
destancando-se entre os poetas da geração
C) linguagem coloquial para narrar de 1930.
coerentemente uma história que apresenta o
roceiro pobre de forma pitoresca. B) Geração de 1945, da qual também fizeram
parte nomes como Clarice Lispector.
D) linguagem formal com recursos retóricos
próprios do texto literário em prosa para C) Segunda fase do modernismo, em que se
analisar determinado momento da literatura destaca a ficção regionalista.
brasileira.
D) Primeira fase, também conhecida como
E) linguagem regionalista para transmitir fase heroica, da qual também fizeram parte
informações sobre literatura, valendo-se de Mário e Oswald de Andrade.
coloquialismo para facilitar o entendimento
do texto. E) Pós-modernismo, momento literário em que
também se destacaram nomes como Ferreira
Gullar e Augusto de Campos.

103. Sobre Graciliano Ramos estão corretas as


proposições, exceto:
GABARITO
A) Mais conhecido por seus romances,
Graciliano Ramos não foi apenas romancista: 1.B 2.C 3.D 4.E 5.A
escreveu contos (Histórias incompletas,
Insônia, Alexandre e outros heróis), crônicas 6.C 7.D 8.C 9.D 10.A
(Linhas tortas, Viventes das Alagoas) e
11.C 12.E 13.D 14.E 15.E
impressões de viagens (Viagem).

B) Iniciou sua carreira de escritor com obras 16.C 17.A 18.D 19.C 20.C
de cunho regionalista e de denúncia social; 21.C 22.E 23.A 24.D 25.C
passou por diferentes fases até chegar à fase
em que se voltou para a crônica de 26.A 27.D 28.A 29.B 30.E
costumes.
31.A 32.C 33.B 34.B 35.B
C) O autor de Vidas secas sobressai-se sobre
os demais de sua época pelas suas 36.C 37.E 38.D 39.A 40.C
qualidades universalistas e, sobretudo, pela
linguagem enxuta, rigorosa e 41.A 42.D 43.C 44.B 45.D
conscientemente trabalhada.
46.D 47.A 48.D 49.A 50.A

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51.C 52.B 53.B 54.C 55.B

56.A 57.A 58.C 59.D 60.B

61.B 62.D 63.D 64.D 65.C

66.C 67.D 68.A 69.C 70.B

71.B 72.C 73.A 74.D 75.C

76.B 77.D 78.C 79.D 80.E

81.C 82.C 83.B 84.A 85.E

86.B 87.B 88.B 89.B 90.E

91.C 92.D 93.E 94.C 95.D

96.A 97.D 98.D 99.A 100.C

101.A 102.A 103.B 104.C

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CAMPO GERAL e Miguilim ainda apontava, falava, contava


tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve
01.A questão refere-se à obra “Campo assim assustada; mas o senhor dizia que
Geral”, incluída no livro Manuelzão e aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim
Miguilim, de João Guimarães Rosa. Assinale a também carecia de usar óculos, dali por
alternativa INCORRETA em relação à narrativa diante. O senhor bebia café com eles. Era o
de Guimarães Rosa. doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo
podia. Coração de Miguilim batia
A) A dimensão mítica da estória é acentuada descompassado, ele careceu de ir lá dentro,
pela presença de seu Aristeu, figura solar, que contar à Rosa, à Maria Pretinha, a Mãitina. A
reconhece Miguilim como sujeito virtual da Chica veio correndo atrás, mexeu: –
aquisição de sua sabedoria. “Miguilim, você é piticego…” E ele
respondeu: – “Donazinha…” Quando voltou, o
B) A partir da morte de Dito, Miguilim tem
doutor José Lourenço já tinha ido embora.
motivação para inventar estórias, evadindo-
se, assim, da triste realidade de pobreza e de (Guimarães Rosa. Manuelzão e Miguilim.
perda. “Campo Geral”)
C) O desejo de saber o certo, de separar o
bom do mau é um aspecto que pontua a
trajetória psicológica do protagonista 02- (ITA) A narrativa
Miguilim.
I. desenvolve-se num universo fantástico,
D) Os conflitos entre os pais de Miguilim corroborado pela subversão da linguagem.
remetem a aspectos bíblicos e trágicos,
intensificando o caráter universalista da II. não retrata as experiências afetivas entre
narrativa. Miguilim e as outras personagens, pois o foco
está nas ações dele.

III. é escrita em terceira pessoa, mas a história


As questões 02 e 03 referem-se ao texto é filtrada pela perspectiva do menino
abaixo: Miguilim.

Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica Está(ão) correta(s)


riam. Tomezinho tinha ido se esconder.
A) apenas I.
– Este nosso rapazinho tem a vista curta.
Espera aí, Miguilim… B) apenas I e II.

E o senhor tirava os óculos e punha-os em C) apenas II.


Miguilim, com todo o jeito. D) apenas III.
– Olha, agora! E) todas.
Miguilim olhou. Nem não podia acreditar!
Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e
diferente, as coisas, as árvores, as caras das 03. (ITA) Os diminutivos do segmento
pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da contribuem para criar uma linguagem
terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas
passeando no chão de uma distância. E A) afetada.
tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa,
tudo… O senhor tinha retirado dele os óculos, B) afetiva.

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C) arcaica. A) As desavenças entre Mãitina e a avó de


Miguilim.
D) objetiva.
B) A instabilidade sentimental da mãe de
E) rebuscada. Miguilim.

C) A observação do mundo pela ótica de


Miguilim.
04. (EEWB) Leia o trecho abaixo, de Campo
Geral, e assinale a alternativa incorreta: D) A rivalidade entre o Tio Terêz e o pai de
Miguilim.
“Ah, tio Terêz devia de ir embora, de ligeiro,
ligeiro, se não o Pai já devia estar voltando E) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim.
por causa da chuva, podia sair homem morto
daquela casa, Vovó Izidra xingava tio Terêz
de “Caim” que matou Abel, Miguilim tremia
receando os desatinos das pessoas grandes, 06. (UFRGS) – Assinale com V (verdadeiro) ou
tio Terêz podia correr, sair escondido, pela F (falso) as seguintes afirmações sobre
porta da cozinha… Que fosse como se já sentimentos de personagens de Campo
tivesse ido há muito tempo…” Geral, da obra Manuelzão e Miguilim, de
Guimarães Rosa.
A) O narrador figura–se como um adulto, a
fim de contar efetivamente a história, mas ( ) Miguilim odiava seu Pai, pela violência das
visualiza os fatos como se pertencesse ao surras e castigos que ele lhe impunha:
íntimo do universo infantil, diminuindo a mandar embora a cadela, ou soltar os
distância entre as duas realidades. passarinhos que estavam nas gaiolas.

B) A intertextualidade presente no trecho, a ( ) As rezas da avó e os feitiços de Mãitina


repreensão de Vovó Izidra em relação ao ato enfim surtiram efeito: Miguilim passou a se
do filho, é uma das várias referências à sentir culpado pela morte do irmão.
religião feitas ao longo da obra, justificáveis
( ) Miguilim detestava o Mutum, mas, com a
pelas fortes tradições sertanejas.
ajuda dos óculos do doutor, acabou
C) A expressão de ligeiro, ainda que finalmente descobrindo que se tratava de um
apresente o modo com o qual Tio Terêz devia lugar bonito.
de ir embora, não pode ser considerada um
( ) Dito sentiu inveja de Miguilim porque
adjunto adverbial do verbo ir, pois tem a
Papaco-o-Paco era capaz de dizer “ –
estrutura de locução adjetiva.
Miguilim, Miguilim, me dá um beijim”, mas
D) O que tem funções distintas no trecho: o não conseguia pronunciar “Dito”.
primeiro é um pronome relativo que retoma o
A sequência correta de preenchimento dos
nome Caim e o segundo é uma partícula
parênteses, de cima para baixo, é
expletiva ou de realce, podendo ser
suprimida sem que o sentido se altere. A) F – V – F – F.

B) F – V – F – V.
05. (UFG) – Diversos motivos narrativos C) V – V – F – V.
compõem a trama de “Campo Geral”, texto
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães D) V – F – V – V.
Rosa. Qual o motivo narrativo principal para a
composição do enredo desse conto? E) V – F – V – F.

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altaneirozinho bonito — upupava aquele


topete vermelho, todo, quando ia cantar.
07. Leia o trecho a seguir, retirado da obra Miguilim tinha inventado de pôr a peneira
Campo Geral, de Guimarães Rosa. meia em pé, encostada num toquinho de
pau, amostrara arroz por debaixo, e pôde
Chegou, e não falou nada. Não tomou a ficar de longe, segurando a pontinha de
benção. Pai estava lá. — “O que é que este
embira que estava lá amarrada no toquinho
menino xixilado está pensando? Tu toma a de pau, tico-tico-rei veio comer arroz,
benção?!” Tomou a benção, baixinho, surdo.
coração de Miguilim também, também, ele
Ficava olhando para o chão. Pai já estava tinha puxado a embira... Agora, chorava.
encostado nele, como um boi bravo. Miguilim
desquis de estremecer, ficou em pau, como (Campo Geral, Guimarães Rosa)
estava. Já tinha resolvido: Pai ia bater, ele
aguentava, não chorava, Pai batia até matar. A narrativa de Campo Geral
Mas, na hora de morrer, ele rogava praga
sentida. Aí Pai ia ver o que acontecia. Todos I. é escrita em terceira pessoa, mas também
se chegaram para perto, até o tio Osmundo permeada por discursos indiretos livres que
Cessim, Miguilim esperava. Duro. colocam o pensamento de Miguilim no meio
das falas do narrador.
Mas Pai não bateu em Miguilim. O que ele fez
foi sair, foi pegar as gaiolas, uma por uma, II. apresenta uma dificuldade de
abrindo, soltando embora os passarinhos, os comunicação entre os adultos e as crianças,
passarinhos de Miguilim, depois pisava nas que nem sempre se compreendem ou se
gaiolas e espedaçava. Todo o mundo relacionam de maneira boa.
calado. Miguilim não arredou do lugar. Pai III. tem diferentes momentos em que os
tinha soltado os passarinhos todos, até o animais e a natureza são fundamentais para
casalzinho de tico-ticos-reis que Miguilim a compreensão das relações, como nas duas
pegara sozinho, por ideia dele mesmo, com vezes em que o pai solta os animais de
peneira, na porta-da-cozinha, uma vez. Miguilim.
Miguilim ainda esperou para ver se Pai vinha
contra ele recomeçado. Mas não veio. Então Estão corretas as afirmativas
Miguilim saiu. Foi ao fundo da horta, onde
tinha um brinquedo de rodinha-d’água — A)I e II.
sentou o pé, rebentou. Foi no cajueiro, onde
estavam pendurados os alçapões de pegar B)I e III.
passarinhos, e quebrou com todos. Depois C)II e III.
veio, ajuntou os brinquedos que tinha, todas
as coisas guardadas —os tentos de olho-de- D)nenhuma está correta.
boi e maria-preta, a pedra de cristal preto,
uma carretilha de cisterna, um besouro verde E)todas estão corretas.
com chifres, outro grande, dourado, uma
folha de mica tigrada, a garrafinha vazia, o
couro de cobra-pinima, a caixinha de
08. (UFJF – 2019 - Adaptada) –
madeira de cedro, a tesourinha quebrada, os
carretéis, a caixa de papelão, os barbantes, TEXTO
o pedaço de chumbo, e outras coisas, que
nem quis espiar —e jogou tudo fora, no Campo Geral
terreiro. E então foi para o paiol. Queria ter
mais raiva. Mas o que não lhe deixava a ideia Um certo Miguilim morava com sua mãe,
era o casal de tico-ticos-reis, o macho tão seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui,
muito depois da Veredado-Frango-d'Água e

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de outras veredas sem nome ou pouco Quando voltou para casa, seu maior
conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No pensamento era que tinha a boa notícia para
meio dos Campos Gerais, mas num covão em dar à mãe: o que o homem tinha falado —
trecho de matas, terra preta, pé de serra. que o Mutúm era lugar bonito... A mãe,
Miguilim tinha oito anos. Quando completara quando ouvisse essa certeza, havia de se
sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio alegrar, ficava consolada. Era um presente; e
Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor,
ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo como uma salvação, deixava-o febril até nas
passava. Da viagem, que durou dias, ele pernas. Tão grave, grande, que nem o quis
guardara aturdidas lembranças, dizer à mãe na presença dos outros, mas
embaraçadas em sua cabecinha. De uma, insofria por ter de esperar; e, assim que pôde
nunca pôde se esquecer: alguém, que já estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço
estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar e contou-lhe, estremecido, aquela
bonito, entre morro e morro, com muita revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum,
pedreira e muito mato, distante de qualquer mas mirou triste e apontou o morro; dizia: —
parte; e lá chove sempre..." "Estou sempre pensando que lá por detrás
dele acontecem outras coisas, que o morro
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos está tapando de mim, e que eu nunca hei de
pretos e compridos, se doía de tristeza de ter poder ver..." Era a primeira vez que a mãe
de viver ali. Queixava-se, principalmente nos falava com ele um assunto todo sério. No
demorados meses chuvosos, quando fundo de seu coração, ele não podia, porém,
carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão concordar, por mais que gostasse dela: e
escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na achava que o moço que tinha falado aquilo
estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora era que estava com a razão. Não porque ele
do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — mesmo Miguilim visse beleza no Mutúm —
ela exclamava. Mesmo assim, enquanto nem ele sabia distinguir o que era um lugar
esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira
padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, como o moço tinha falado: de longe, de leve,
que às vezes nem conseguia chorar, e ficava sem interesse nenhum; e pelo modo contrário
sufocado. E foi descobriu, por si, que, de sua mãe — agravada de calundú e
umedecendo as ventas com um tico de espalhando suspiros, lastimosa. No começo
cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia,
pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali
lenço; e tio Terêz, quando davam com um perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe
riacho, um minadouro ou um poço de grota, medo.
sem se apear do cavalo abaixava o copo de
chifre, na ponta de uma correntinha, e subia (ROSA, João Guimarães. Manuelzão e
um punhado d'água. Mas quase sempre Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova Fronteira,
eram secos os caminhos, nas chapadas, 2001.)
então tio Terêz tinha uma cabacinha que
vinha cheia, essa dava para quatro sedes; No texto, “Campo Geral”, as descrições
uma cabacinha entrelaçada com cipós, que coincidentes do Mutúm feitas por dois dos
era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..." personagens são:
— tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria
A) as de que no Mutúm chove muito.
também e preferia não beber a sua parte,
deixava-a para empapar o lenço e refrescar B) as de que o Mutúm é um lugar triste.
o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio
Terêz, irmão de seu pai. C) as de que o Mutúm é um lugar longe e
escuro.

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D) as de que no Mutúm há muito morro e D) Ainda na passagem “Miguilim tinha mesmo


pouca mata. que descansar, perdera a força de aluir com
um dedo” e em toda a narrativa de “Campo
E) as de que o Mutúm é um lugar bonito, geral” é notória a simpatia que o narrador
escuro e longe. tem por seu protagonista.

09. (UEG) ― “Mãe, que é que fizeram com o 10. (IFMG) Com base em seus conhecimentos
resto da roupinha do Dito?” ― agora ele acerca da prosa produzida por Guimarães
queria saber. ― “Está guardada, Miguilim. Rosa, pode-se afirmar que as características
Depois ela ainda vai servir para Tomezinho.” comuns a sua escrita comparecem nesse
“― Mãe, e as alpercatinhas do Dito?” “― trecho, EXCETO:
Também, Miguilim. Agora descansa.”
Miguilim tinha mesmo que descansar, A) Uso de neologismos e de uma linguagem
perdera a força de aluir com um dedo. Suava. escrita muito parecida com a linguagem oral.
Suava.
B) Escrita sem rigor estético, cheia de erros de
(ROSA, Guimarães. Manuelzão e Miguilim: português, a fim de criticar a falta de cultura
(Corpo de baile). 11 ed. Rio de Janeiro: Nova do homem sertanejo.
Fronteira, 2001. p. 143.)
C) Narrativa com ideais filosóficos que levam
A respeito da prosa de Guimarães Rosa, na à reflexão da existência humana.
obra Manuelzão e Miguilim, exemplificada
pelo trecho citado de “Campo geral”, D) Os fatos narrados têm como cenário o
assinale a alternativa INCORRETA: sertão mineiro, por isso são retratados hábitos,
paisagens e dialetos típicos dessa região.
A) O uso de palavras no diminutivo, como
“roupinha”, “alpercatinhas”, “Tomezinho”,
nesse trecho, revela o clima de afetividade
que permeia o universo infantil da 11. (Fuvest) Olhava mais era para Mãe.
Drelina era bonita, a Chica, Tomezinho. Sorriu
personagem Miguilim, em meio aos costumes
rudes em que ele nasce, cresce e vai para Tio Terêz: – “Tio Terêz, o senhor parece
com Pai...” Todos choravam. O doutor limpou
descobrindo o mundo.
a goela, disse: – “Não sei, quando eu tiro esses
B) “A rola fôgo-apagou cantava continuado, óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem
o dia, mesmo na calada do calor, quando d’água...” Miguilim entregou a ele os óculos
dormiam os outros pássaros.” Nesse trecho de outra vez. Um soluçozinho veio. Dito e a Cuca
“Uma história de amor”, percebe-se um uso Pingo-de-Ouro. E o Pai. SEMPRE ALEGRE,
mais convencional e menos inovador da MIGUILIM... SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM... Nem
língua, o que se opõe à narrativa de “Campo sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o
geral”. beijava. A Rosa punha-lhe doces-de-leite nas
algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco
C) As inovações, no aspecto linguístico, falava, alto, falava.
apresentam-se na exploração criativa das
possibilidades da língua, como ocorre na (In: Manuelzão e Miguilim; João Guimarães
sugestividade sonora da repetição em Rosa.)
“Suava. Suava.” Ou na expressividade
sintático semântica do verbo aluir, em Neste trecho de “Campo Geral”, de
“Miguilim tinha mesmo que descansar, Guimarães Rosa, as expressões em maiúsculo
perdera a força de aluir com um dedo.” retomam, ao final da narrativa,

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A) os versos sertanejos cantados pelo E) a afirmação III é correta.


vaqueiro Salúz, em seu desejo de consolar
Miguilim.

B) a mensagem inicial de Tio Terêz, unindo, 13.(ENEM) “De repente lá vinha um homem a
assim, o princípio e o fim da história. cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro
de roupa. Miguilim saudou, pedindo a
C) as lições de conformidade e alegria de bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem
Mãitina a Miguilim, enraizados no catolicismo junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um
popular. chapéu diferente, mesmo. – Deus te abençoe,
pequenino. Como é teu nome? – Miguilim. Eu
D) a derradeira lição da sabedoria do Dito, sou irmão do Dito. – E o seu irmão Dito é o
reforçada depois por seu Aristeu. dono daqui? – Não, meu senhor. O Ditinho
E) o ensinamento do Grivo, cuja pobreza está em glória. O homem esbarrava o avanço
extrema era, no entanto, fonte de doçura e do cavalo, que era zelado, manteúdo,
alegria. formoso como nenhum outro. Redizia: – Ah,
não sabia, não. Deus o tenha em sua
guarda... Mas que é que há, Miguilim?
Miguilim queria ver se o homem estava
12. (Fuvest) Considere atentamente as mesmo sorrindo para ele, por isso é que o
seguintes afirmações sobre a novela “Campo encarava. – Por que você aperta os olhos
geral” (“Miguilim”), de Guimarães Rosa: assim? Você não é limpo de vista? Vamos até
lá. Quem é que está em tua casa? – É Mãe, e
I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é os meninos... Estava Mãe, estava Tio Terez,
decisiva para o aprendizado de Miguilim, seja estavam todos. O senhor alto e claro se
nas experiências imediatas do cotidiano, seja apeou. O outro, que vinha com ele, era um
na investigação do valor e do sentido camarada. O senhor perguntava à Mãe
profundos dessas experiências. muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava
a ele mesmo: – Miguilim, espia daí: quantos
II. Por meio da personagem Miguilim, o autor
dedos da minha mão você está enxergando?
nos mostra que a vida rústica do sertanejo é
E agora?”
pobre como experiência - o que pode ser
compensado pela imaginação poética de (ROSA, João Guimarães. Manuelzão e
quem sabe desligar-se daquela vida. Miguilim. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1984.)
III. No momento final da narrativa, é em
sentido literal e simbólico que um novo Esta história, com narrador observador em
mundo se revela para Miguilim - mundo que terceira pessoa, apresenta os
também se abre para uma vida de novas acontecimentos da perspectiva de Miguilim.
experiências. O fato de o ponto de vista do narrador ter
Miguilim como referência, inclusive espacial,
A leitura atenta da novela permite concluir
fica explicitado em:
que apenas:
A)O homem trouxe o cavalo cá bem junto.
A)as afirmações I e III são corretas.
B)Ele era de óculos, corado, alto (...).
B)as afirmações I e II são corretas.
C)O homem esbarrava o avanço do cavalo,
C)as afirmações II e III são corretas.
(...).
D)a afirmação II é correta.
D)Miguilim queria ver se o homem estava
mesmo sorrindo para ele (...).

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E) Estava Mãe, estava tio Terez, estavam A)3 – 4 – 5 – 2


todos.
B)4 – 1 – 3 – 5.

C)5 – 2 – 3 – 4.
14. (PUCCamp) Na novela “Campo Geral”, de
Guimarães Rosa, o leitor compreenderá que D)2 – 1 – 5 – 4.
as sofridas experiências de menino no Mutum E)2 – 4 – 1 – 3.
permitirão que o protagonista, quando adulto,

A) procure esquecê-las, valorizando a vida


que passou a ter depois de superar as 16. (Faculdade Ciências Médicas-MG) A
privações de sua infância vazia. questão refere-se à obra “Campo Geral”,
incluída no livro Manuelzão e Miguilim, de
B) a elas se refira de modo a compensar
João Guimarães Rosa, indicada para este
aqueles momentos negativos com as
concurso.
fantasias que agora lhes acrescenta.
“Resta explicar, rapazes, por que ligo tanto à
C) as retome para valorizar o aprendizado
Medicina. É ainda uma questão de pachorra,
profundo da infância, que inclui as perdas
uma espécie de mal-aventurada dor-de-
afetivas e o ganho de quem as descobre.
corno. Ninguém ignora que uma das... pegas
D) as retome para analisar sua fragilidade de infantis mais vulgarizadas no Brasil, e talvez no
criança, em meio às condições penosas mundo, é perguntarem ao rapazinho o que
daquela rotina sem revelações. ele vai ser na vida. Foi o que fizeram também
comigo uma vez, eu não teria dez anos. Fiquei
atrapalhado, com muita vergonha de mim, e
de repente escapei: – Vou ser médico. [...] Me
15. (UFRGS) Com base no texto Campo Geral, tornei médico às avessas, isto é, doente. Mais
da obra Manuelzão e Miguilim, de João ou menos imaginário. Sou duma perfeição
Guimarães Rosa, associe adequadamente perfeccional no descrever os sintomas das
cada uma das descrições da coluna da doenças. Das minhas doenças. E finalmente a
esquerda, abaixo, ao respectivo Medicina entorpeceu minhas leituras. [...] E
personagem, citado na coluna da direita. quando encontro, em leituras outras,
qualquer referência sobre Medicina, ficho.”

(ANDRADE, Mário de. Namoros com a


medicina. São Paulo: Martins; Brasília, INL,
1972, p.7-8.)

Mário de Andrade certamente ficharia as


passagens a seguir, transcritas de “Campo
Geral”, EXCETO:

A)“Mas o Dito, de repente, pegava a fazer


caretas sem querer, parecia que ia dar
ataque. Miguilim chamava Vovó Izidra. Não
era nada. Era só a cara da doença na
carinha dele.”
A sequência correta de preenchimento dos
parênteses, de cima para baixo, é B) “Era Vovó Izidra, moendo pó em seu
fornilho, que era o moinho-de-mão, de

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pedra-sabão, com o pião no meio, mexia mais completo escuro. Chama-se,


com o moente, que era pau cheiroso de apropriadamente, Dans Le noir (“No escuro”).
sassafrás.”
Os garçons são cegos, e não apenas servem,
C) “Vovó Izidra espremia no corte talo de mas atuam como guias levando os fregueses
bálsamo da horta, depois puderam amarrar até suas mesas. O restaurante está na moda.
um pano em cima de outro, muitos panos, Situa-se ali perto do Beaubourg e até o
apertados.” primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin foi
experimentar comer no escuro. A coisa
D) “Vovó Izidra fez um pano molhado, com ocorre assim: “Antes de entrar na sala
folhas-santas amassadas, amarrou na totalmente escura, os clientes deixam em
cabeça dele.” armários com cadeados, no bar do
restaurante, relógios, isqueiros, celulares e
qualquer outro objeto que emita a mínima luz.
17. (UFMG) Leia este texto: “Vede, eis a pedra Os pratos também são escolhidos antes de
brilhante dada ao contemplativo; ela traz um entrar no recinto. Entre as opções, ‘ menu
nome novo, que ninguém conhece, a não ser surpresa’, que só será descoberto quando o
aquele que a recebe.” (Ruysbroek, o garfo for levado à boca”. A experiência
Admirável) supera qualquer instalação. As pessoas
passam por três ambientes com cortinas nos
O uso de expressões populares são quais a luz vai rareando até a sala escura,
frequentes em Campo Geral. Assinale a onde há muito barulho, pois, para compensar
alternativa em que essa afirmativa NÃO se a falta de visão, as pessoas falam alto. A
confirma. surpresa aumenta quando o cliente descobre
que tem outras pessoas à sua mesa. Foi um
A) “ Vez em quando, comiam, de sal, ou ex-banqueiro e consultor de marketing social
cocadas de buriti, dôce de leite, (...)” quem teve essa ideia. E diz a matéria
veiculada num site da BBC e mandada pela
B) “Ter um lugarim, reunir certa quantidade
médica brasileira Mônica Campos, residente
de meninos de por aqui por em volta, tão
nos Estados Unidos, que alguns clientes
precisados, assim é que vale. O bom real é o
acham-se ridículos durante a experiência,
legal de todos...”
outros têm crise de choro e angústia, mas o
C) “Só Drelina era quem queria gostar: - fato é que o restaurante está sempre lotado.
“Fumaça percura é formosura...” As pessoas pagam para não ver. É pitoresco,
mas repito: as pessoas pagam para não ver,
D) “Tomezinho e o Dito corriam, no pátio, pagam para comerem no escuro. Não deixa
cada um com uma vara de pau, eram de ser sintomático que se abra um restaurante
cavalinhos que tinham até nomes dados” onde os que veem vão experimentar a
cegueira, exatamente numa cultura de
hipervisualização. Como se estivéssemos
fatigados de ver, agora queremos não-ver.
18. (UFMG) Que seja por algumas horas, não importa. É
TEXTO 1 como se a poluição visual tivesse chegado a
tal extremo, que se sente a necessidade de
A cegueira e o saber recuperar outros sentidos, experimentando o
“desver” para, quem sabe, ver de novo. Tomo
Leio notícia de que foi inaugurado em Paris esse restaurante como uma metáfora
um restaurante onde as pessoas têm a paradoxal de nossa época. A modernidade
oportunidade de viver a experiência da vida que descobriu e aperfeiçoou a fotografia, e
de um cego, pois aí os clientes comem no que, tendo conseguido essa façanha,

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mobilizou-a criando o cinema e logo a seguir D)F V F F F


instalou a televisão dentro de nossas casas
para que víssemos o mundo e o universo 24
horas por dia; a mesma modernidade que
vem com essa enxurrada de letras e palavras 19. (PUCCAMP) Leia o seguinte trecho de
em camisetas, vitrines, anúncios luminosos, Guimarães Rosa:
que nos manda imagens dos planetas mais "E desse modo ele se doeu no enxergão,
distantes e de detalhes das guerras e misérias muitos meses, porque os ossos tomavam
mais horrendas; essa modernidade que é um tempo para se ajuntar, e a fratura exposta
constante espetáculo de striptease, no qual o criara bicheira. Mas os pretos cuidavam muito
público e o privado, ou melhor, a sala de dele, não arrefecendo na dedicação.
visitas e a privada se acoplaram, essa
modernidade, de tanto ver, já não vê. O – Se eu pudesse ao menos ter absolvição dos
mundo é projetado como clipe de imagens meus pecados!...
esfaceladas acompanhadas por um ruído ou
ritmo qualquer. E, de repente, na “Cidade Então eles trouxeram, uma noite, muito à
Luz”, pagamos caro para comer no escuro. escondida, o padre que o confessou e
conversou com ele, muito tempo, dando-lhe
(SANTA’NNA, Affonso Romano de. A cegueira conselhos que o faziam chorar.
e o saber 6. IN_: A cegueira e o saber. Rio de
Janeiro: Rocco, 2006, p. 26-27. (Fragmento).) – Mas, será que Deus vai ter pena de mim,
com tanta ruindade que fiz, e tendo nas
Em todas as alternativas abaixo, apresentam- costas tanto pecado mortal?
se afirmativas que associam elementos da
narrativa de Campo Geral ao texto 1. – Tem, meu filho. Deus mede a espora pela
rédea, e não tira o estribo do pé de
Preencha os parênteses em branco usando V arrependimento nenhum...
para afirmativas verdadeiras e F para
afirmativas FALSAS. E por aí a fora foi, com um sermão comprido,
que acabou depondo o doente num
I - Em ambos os textos, a ação na narrativa desvencido torpor."
ocorre em espaços distintos. ( )
O trecho acima representa a seguinte
II - O narrador do texto 1 é o mesmo que o possibilidade entre os caminhos da literatura
narrador de Campo Geral. ( ) contemporânea.

III - Em ambos os textos, a ação na narrativa A) ficção regionalista, em que se reelabora o


ocorre em um tempo mítico. ( ) gênero e se revaloriza um universo cultural
localizado.
IV - Em ambos os textos, o ato de comer
ultrapassa o paladar. ( ) B) narrativa de cunho jornalístico, em que a
linguagem comunicativa retoma e
V - No texto 1, as experiências são fabricadas; reinterpreta fatos da história recente.
em Campo Geral, são naturais. ( )
C) ficção de natureza politizante, em que se
Assinale a sequência CORRETA. dramatizam as condições de classes entre os
A)V F F F V protagonistas.

D) prosa intimista, psicologizante, em que o


B)V V F F F
narrador expõe e analisa os movimentos da
C)F F V F V consciência reflexiva.

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E) prosa de experimentação formal, em que B) A instabilidade sentimental da mãe de


a pesquisa linguística torna secundária a Miguilim.
trama narrativa.
C) A observação do mundo pela ótica de
Miguilim.

20. Sobre as características da prosa de D) A rivalidade entre o Tio Terêz e o pai de


Guimarães Rosa, é correto afirmar: Miguilim.

I. Observa-se o tratamento estético dado à E) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim.


matéria-prima da literatura: a palavra. Para
Guimarães Rosa, a forma, o metro e o ritmo
são elementos indispensáveis às suas
22. Em qual região do Brasil se passa a maior
narrativas.
parte das histórias narradas em Campo
II. A linguagem de Guimarães Rosa é Geral?
permeada por neologismos, arcaísmos e pela
A) Nordeste
exploração sonora, sintática e semântica do
português. B) Sul
III. Uma das principais características da obra C) Centro-Oeste
de Guimarães Rosa é a reflexão sobre a
criação artística. Para o escritor, a poesia é D) Sudeste
fruto de um trabalho árduo, racional, que
implica fazer e desfazer o texto até que ele
alcance a sua forma mais adequada.
23. O que caracteriza o espaço presente em
IV. O escritor apresenta momentos de intenso Campo Geral, obra de Guimarães Rosa?
intimismo, apresentados por meio de uma
A) Um espaço urbano moderno
linguagem elevada e abstrata e com
imagens recorrentes, retomando assim os B) Uma região de transição entre o cerrado e
ideais dos escritores simbolistas. a caatinga
A) Todas estão corretas. C) Um cenário de guerra
B) Apenas II está correta. D) Um ambiente rural e árido
C) I, III e IV estão corretas.

D) I e II estão corretas. 24. Marque a alternativa incorreta em relação


à obra Campo Geral:

A) Criança que era, Miguilim não consegue


21. Diversos motivos narrativos compõem a
perceber o conflito existente entre seus pais.
trama de “Campo Geral”, texto da obra
Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. B) O relacionando de Miguilim com seu pai é
Qual o motivo narrativo principal para a de total antagonismo.
composição do enredo desse conto?
C) O conflito gerado pelo relacionamento
A) As desavenças entre Mãitina e a avó de entre o pai, a mãe o o Tio Terêz é outro núcleo
Miguilim. que se observa na narrativa.

D) Para Miguilim, seu irmão Dito era um sábio.

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29. Quais são os principais conflitos


abordados na narrativa da obra Campo
25. Qual elemento natural é frequentemente Geral?
mencionado nas descrições do Campo
Geral? A) Conflitos familiares

A) Montanhas B) Conflitos étnicos

B) Rios caudalosos C) Conflitos políticos

C) Chapadões D) Conflitos existenciais

D) Manguezais

30. Em Campo Geral, como os personagens


lidam com as adversidades do ambiente?
26. Qual é o estilo literário predominante nas
narrativas que exploram o Campo Geral? A) Buscam soluções tecnológicas

A) Realismo B) Adaptam-se ao modo de vida local

B) Modernismo C) Mudam-se para áreas urbanas

C) Regionalismo D) Ignoram os desafios

D) Romantismo

31. Os animais merecem lugar de destaque


na obra de Guimarães Rosa. Qual é a
27. Em Campo Geral, quais são os aspectos importância dos animais na ambientação do
da cultura popular retratados por Guimarães Campo Geral?
Rosa?
A) São considerados sagrados
A) Festas de Carnaval
B) São vistos como ameaças constantes
B) Fábulas infantis
C) São utilizados como meios de transporte
C) Superstições e mitos
D) São ignorados pelos personagens
D) Esportes radicais

32. Qual o elemento de destaque pode ser


28. Qual é o papel da natureza na relação observado na narrativa de Campo Geral, de
entre os personagens e o Campo Geral? Guimarães Rosa?
A) Obstáculo intransponível A) A ausência de elementos folclóricos
B) Recurso abundante B) O foco exclusivo na natureza
C) Aliada na sobrevivência C) A linguagem regionalista
D) Ambiente hostil D) A ambientação urbana

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33. Relações familiares e sociais estão


presentes em grande parte dos romances de
destaque na literatura brasileira. Como as 37. Como as questões de gênero, tão
relações sociais são retratadas no Campo discutidas no cenário atual, são abordadas
Geral? nas narrativas ambientadas no Campo Geral?

A) Hierarquizadas e rígidas A) Com igualdade e equidade

B) Igualitárias e democráticas B) Com predominância de personagens


masculinos
C) Conflituosas e violentas
C) Com representação exclusiva de
D) Ausentes e individualistas personagens femininos

D) Com enfoque em estereótipos de gênero

34. Qual é o papel da oralidade, livre das


amarras linguísticas, está presente nas
narrativas do Campo Geral? 38. Qual é a relação entre a cultura urbana e
o Campo Geral nas obras de Guimarães
A) É ignorada pelos personagens Rosa?
B) É uma ferramenta de comunicação vital A) São completamente independentes
C) É considerada ultrapassada B) A cultura urbana influencia positivamente
o Campo Geral
D) É substituída pela escrita formal
C) O Campo Geral influencia negativamente
a cultura urbana
35. O que representa o cenário do Campo D) Há uma relação de interdependência
Geral para os personagens?

A) Um local de exílio
39. Quais são as principais características
B) Um paraíso inexplorado arquitetônicas das habitações presentes que
C) Um desafio a ser superado envolvem o cenário de Campo Geral?

D) Um refúgio tranquilo A) Casas modernas e luxuosas

B) Cabanas rústicas

C) Palacetes coloniais
36. Alguns autores destacam a importância
da religiosidade em suas obras literárias. Qual D) Edifícios multifamiliares
é o papel da religiosidade nas histórias do
Campo Geral?

A) É central na vida dos personagens 40. Como o papel da educação é abordado


nas narrativas ambientadas no Campo Geral?
B) É totalmente desconsiderada
A) Valorizada como prioritária
C) É retratada de forma crítica
B) Desconsiderada e negligenciada
D) É substituída por crenças folclóricas

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C) Limitada às tradições orais B) Com hierarquias rígidas e injustas

D) Focada apenas na educação formal C) Sem a presença de relações de poder

D) Com inversão de papéis tradicionais

41. Quais são os elementos culturais que


permeiam as festividades no Campo Geral?
45. Qual é o papel da memória na construção
A) Danças folclóricas das narrativas do Campo Geral?

B) Desfiles de moda A) É desconsiderada

C) Competições esportivas B) É central na formação das histórias

D) Concertos eruditos C) É negligenciada pelos personagens

D) É substituída por registros escritos

42. Como a obra de Guimarães Rosa contribui


para a preservação da cultura do Campo
Geral? 46. Como as questões ambientais são
abordadas nas narrativas do Campo Geral?
A) Ignorando as tradições locais
A) Com despreocupação e negligência
B) Criticando e questionando as práticas
culturais B) Com consciência ecológica

C) Registrando e valorizando as tradições C) Com destruição desenfreada

D) Substituindo as tradições por elementos D) Com desinteresse total


urbanos

47. Qual é o papel da música nas histórias do


43. Quais são os elementos simbólicos mais Campo Geral?
presentes na obra Campo Geral, de
A) Não tem relevância
Guimarães Rosa?
B) É elemento essencial na cultura local
A) Símbolos religiosos
C) É considerada obsoleta
B) Elementos da natureza
D) É substituída por formas de entretenimento
C) Objetos tecnológicos
modernas
D) Personagens históricos

48. Quais são os principais meios de


44. Relações de poder são desafios presentes transporte utilizados pelos personagens no
em obras no estilo de Campo Geral. Como as Campo Geral?
relações de poder são representadas nas
A) Carros de luxo
histórias do Campo Geral?
B) Cavalos e burros
A) De forma igualitária e justa

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C) Bicicletas elétricas

D) Transporte público 52. (FUNCAB-2013) Campo Geral

Estava Mãe, estava tio Terêz, estavam todos.


O senhor alto e claro se apeou. [...] O senhor
49. Como as narrativas do Campo Geral perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim.
refletem a diversidade cultural brasileira? Depois perguntava a ele mesmo: – “Miguilim,
espia daí: quantos dedos da minha mão você
A) Ignorando as diferenças culturais
está enxergando? E agora?” [...]
B) Celebrando a homogeneidade cultural
E o senhor tirava os óculos e punha-os em
C) Valorizando e representando a Miguilim, com todo o seu jeito.
diversidade
– Olha, agora!
D) Promovendo estereótipos culturais
Miguilim olhou. Nem podia acreditar! Tudo
era uma claridade, tudo novo e lindo e
diferente, as coisas, as árvores, as caras das
50. Em "Campo Geral", como os personagens pessoas. [...] E tonteava. Aqui, ali, meu Deus,
lidam com as transformações sociais e tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado
culturais? dele os óculos, e Miguilim ainda apontava,
falava, contava tudo como era, como tinha
A) Resistindo às mudanças visto. Mãe esteve assim assustada; mas o
senhor dizia que aquilo era do modo mesmo,
B) Adaptando-se e incorporando as
só que Miguilim também carecia de usar
transformações
óculos, dali por diante. O senhor bebia café
C) Ignorando as transformações com eles. Era o doutor José Lourenço, do
Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim
D) Combatendo ativamente as mudanças batia descompassado, ele careceu de ir lá
dentro contar à Rosa, à Maria Pretinha, à
Mãitana. [...]. Quando voltou, o doutor José
Lourenço já tinha ido embora.
51. Diversos motivos narrativos compõem a
trama de Campo Geral, texto da obra – “Você está triste, Miguilim?” – Mãe
Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. perguntou.
Qual o motivo narrativo principal para a
composição do enredo desse conto? Miguilim não sabia. Todos eram maiores do
que ele, as coisas reviravam sempre dum
A) As desavenças entre Mãitina e a avó de modo tão diferente, eram grandes demais.
Miguilim.
– Pra onde ele foi?
B) A instabilidade sentimental da mãe de
Miguilim. – A foi p’ra a Vereda do Tipã, onde os
caçadores estão. Mas amanhã ele volta, de
C) A observação do mundo pela ótica de manhã, antes de ir s'embora para a cidade.
Miguilim. Disse que, você querendo, Miguilim, ele junto
te leva […] – O doutor era homem muito bom,
D) A rivalidade entre o Tio Terêz e o pai de levava o Miguilim, lá ele comprava uns óculos
Miguilim. pequenos, entrava para a escola, depois
E) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim aprendia ofício. – “Você mesmo quer ir?”

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Miguilim não sabia. Fazia peso para não C) lentamente - deixou


soluçar. Sua alma, até ao fundo, se esfriava.
Mas mãe disse: D) barulhento - exigiu

– Vai, meu filho. É a luz dos teus olhos, que só E) arrítmico – precisou
Deus teve poder para te dar. Vai.

O doutor chegou. — “Miguilim, você está


aprontando? Está animoso?” Miguilim 53. por que tio Terêz fugiu ?
abraçava todos, um por um, dizia adeus até A) Matou o pai de Miguilim.
aos cachorros, ao Papaco-o-Paco, ao gato
Sossõe qua lambia as mãozinhas se B) Matou Dito.
asseando. [...] Estava abraçado com Mãe.
Podiam sair. C) Foi descoberta uma traição entre Terêz e a
mãe de Miguilim.
Mas, então, de repente, Miguilim parou em
frente do doutor. Todo tremia, quase sem D) Roubou o gado de Salúz.
coragem de dizer o que tinha vontade. Por
fim, disse. Pediu. O doutor entendeu e achou
graça. Tirou os óculos, pôs na cara de
54. Como o pai de Miguilim morre?
Miguilim.
A) Leva um tiro de Tio Terêz.
E Miguilim olhou para todos, com tanta força.
Saiu lá fora. [...] O Mutum era bonito! Agora B) Se suicida.
ele sabia. [...]
C) Pneumonia.
Olhava mais era para Mãe. [...] Todos
choravam. O doutor limpou a goela, disse: — D) Tétano.
“Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão
fortes, até meus olhos se enchem d ́água [...]”
Miguilim entregou a ele os óculos outra vez.
55. Quem o pai de Miguilim mata?
Um soluçozinho veio. [...] Nem sabia o que era
alegria e tristeza. Mãe o beijava. A Rosa A) Vaqueiro Luizitano.
punha-lhe doces-de-leite nas algibeiras, para
a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto, B) Tio Terêz.
falava.
C) Vaqueiro Salúz.
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e
Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova D) Rosa.
Fronteira,1984. p. 139-142. (Fragmento)

Que opção apresenta, respectivamente e de


56.No fim do livro, Miguilim descobre que tem
acordo com o contexto, os sinônimos das
uma doença, qual era?
palavras destacadas no trecho a seguir? “[...]
Coração de Miguilim batia A) Miopia.
DESCOMPASSADO, ele CARECEU de ir lá
dentro contar à Rosa, à Maria Pretinha, à B) Astigmatismo.
Mãitana. [...].”
C)Tétano
A) harmonioso - necessitou
D) Problemas psicológicos.
B) acelerado - gostou

55
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57.Qual o nome do papagaio da família? A) Ditadura militar de 67

A) Papaco-o-paco B) Estado novo

B) Roberto. C) Redemocratização

C) Brinco-de-ouro. D) Nenhuma das alternativas

D) Sebastião

62.No trecho do livro

58.Quando a obra “Campo Geral” foi – “Pai é dono nenhum, Miguilim: o gadame é
publicada? dum homem, Sô Sintra”...

A) 1965 (CG, 1984,p. 74)

B) 1964 Está presente o uso de _______________como


elemento formador de neologismo .
C) 1966
A)prefixo
D) 1967
B) sufixo

C)partícula apassivadora
59. Qual o nome do lugar onde o livro se
passa? D) diminutivo

A) Salúz

B) Campo Geral 63. Nos trechos abaixo, extraídos da obra


Campo Geral de Guimarães Rosa: têm-se em
C) Bemol comum:
D) Mutúm “Sabe, Patori, o vaqueiro Salúz está caçando
você, p’ra bater...”

(CG, 1984, p. 41)


60.Antes de se tornar um renomado escritor
Guimarães rosa foi, “Tio Terêz decerto que quer trabalhar p’ra Sa
Cefisa... (CG, 1984, p. 41)”
A) Médico e Historiador
têm-se em comum:
B) Diplomata e Escultor
A) Processo de pluralização inusual, com
C) Minerador e Psicólogo consequente neologismo
D) Diplomata e Médico B) O mesmo espírito revolucionário se pode
analisar quanto ao uso das várias partículas e
conectivos.
61.Qual desses contextos históricos aparece
C) Particular e pessoal uso da contração da
na obra “Campo Geral” de Guimarães Rosa:
preposição “para” apocopado

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D) Como equilíbrio de processo de formação doenças, evidenciando o conhecimento


de sintaxe inusual, usos realçantes de médico de Guimarães Rosa, EXCETO em:
particulares de uma sintaxe clássica.
A) “Tísica nem não dá, nestes Gerais, o ar aqui
não consente”.

64. Identifique as afirmações verdadeiras ou B) “E é o que digo: p’ra passar a héctico é só


falsas sobre Campo Geral: facilitar de beirinha”.

A). ( ) O foco narrativo está centrado na C) “Agora, Miguilim, desiste um pouco da


primeira pessoa, na fala inconfundível de tirana. Você está vermelho, camisinha está
Miguilim, expressando a sua visão empapada.”
intensamente lírica da realidade.
D) “O Dito estava com jeito: as pernas duras
B). ( ) O distanciamento entre o narrador e a dobradas nos joelhos, a cabeça dura na
personagem propicia a objetividade da nuca”.
narrativa.

C). ( ) Miguilim pode ser analisado,


simultaneamente, em três planos: como 66. (Unimontes-MG–2009) Leia os fragmentos
personagem esférica, indivíduo único dotado dos textos.
de uma vida interior e exterior complexa e
Texto I
contraditória; como criança sertaneja, pobre,
inserida numa sociedade rústica e primitiva e, “Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu
ainda, como criança primordial, arquetípica, pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito
captada na difícil travessia do mundo mítico depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de
da primeira infância, para o mundo lógico e outras veredas sem nome ou pouco
real dos adultos. conhecidas, em ponto remoto, no Mutum. No
meio dos Campos Gerais, mas num covão em
D) ( ) As três maiores afeições de Miguilim são:
trechos de matas, terra preta, pé de serra.
a mãe Nhanina, o irmão Dito e a cadelinha
Pingo-de-Ouro. Miguilim tinha oito anos. Quando completara
sete, havia saído dali, pela primeira vez: o Tio
E). ( ) As qualidades mais evidentes em
Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para
Miguilim são: sua sensibilidade e capacidade
ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo
de amor, sua vontade de saber, sua
passava. Da viagem, que durou dias, ele
curiosidade sobre tudo que o cerca e sua
guardara aturdidas lembranças,
imaginação.
embaraçadas em sua cabecinha.”
A) V, V, F, V, F
(ROSA, 1984. p. 13.)
B) F, F, V, V, V

C)F, V, V, V, F
Texto II
D)V, F, F, V, V
“Um dos sonhos da minha vida era ter em
casa uma piscina. Tinha aprendido a nadar,
já havia disputado mesmo uma competição
65. Várias passagens de “Campo Geral”, de na piscina do Minas Tênis Clube, categoria de
João Guimarães Rosa, evidenciam petiz, pretendia me tornar campeão,
referências a doenças e/ou sintomas de nadando no mínimo tão bem como Tarzã.”

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SABINO, 2008. p. 44. infâncias contemporâneas. "Penso que o


silêncio é necessário para as crianças, tanto
Faça uma leitura comparativa dos quanto para a literatura, pois é condição para
fragmentos de textos retirados das narrativas a criação, é janela para a contemplação. Em
“Campo geral”, de Guimarães Rosa, e O tempos de tanta velocidade, de excesso de
menino no espelho, de Fernando Sabino, e ruído, profusão de imagens, o silêncio é
assinale a alternativa que está INCORRETA. raridade, deve ser preservado."
A) O texto I apresenta o personagem Miguilim Ao mesmo tempo, a especialista reconhece
como narrador da história que descreve o que nem todos os silêncios são poéticos. Cita
espaço onde vive, o Mutum. alguns presentes na infância, advindos de
experiências de violência, ausência, solidão
B) No texto I, o narrador-observador conta a
e preconceito. "Em todos esses casos, em
história de Miguilim, menino que tem oito anos
maior ou menor grau, sempre haverá (quero
e vive no meio dos Campos Gerais.
crer!) pontos de fuga para silêncios poéticos
C)Os textos I e II apresentam relatos sobre a que devolvam a dignidade e a beleza às
vida de dois meninos, mas que vivem em infâncias. Mas é preciso muito trabalho para
espaços geográficos diferentes. desenhar esses pontos de fuga na realidade."
São pontos de fuga que, segundo a
D)No texto II, tem-se um narrador- pesquisadora, alimentam "de dentro para
personagem que apresenta um grande fora a complexidade de existir".
sonho de sua vida, que era ter uma piscina
em casa. Na literatura, esses silêncios reverberam
naqueles textos que não dizem tudo de um
modo óbvio, mas abrem espaço para o
diálogo com o leitor. Habitam, por exemplo,
67.(UFJF) TEXTO 1 os livros-álbum, nos quais o texto e a imagem
têm uma relação intrínseca. Nessas obras, o
Os não-ditos das leituras silenciosas
silêncio é pré-requisito. São desafiadores
Está no papo porque pedem uma mediação mais
silenciosa, sem tanta fala do adulto. "Nem
25 de junho de 2018 às 09h52 todo leitor gosta de se deparar com esses
espaços em branco porque podem ser
Guimarães Rosa já anunciava em Grande angustiantes mesmo. Mas a angústia faz parte
Sertão: Veredas: "O silêncio é a gente mesmo da experiência leitora e pode levar a lugares
demais". Foi ele mesmo um menino quieto e pouco visitados por nós."
sensível durante a infância. Do silêncio
fizeram-se as palavras. "O silêncio está na Daí vem a necessidade de nos silenciarmos
constituição da poesia porque é parte após a leitura, sem precisar prestar contas,
integrante de alguns de seus principais convencer o outro a ler também ou elaborar
elementos: ritmo e imagem. Não há ritmo sem rapidamente alguma interpretação do que se
pausas, não há som, sem silêncio. Do mesmo leu. Assim também nos conta Teresa Colomer,
modo, não há imagem sem vazio", explica em Andar entre livros – a leitura literária na
Cristiane Tavares, especialista em literatura escola (Global, 2007): "A leitura autônoma,
infantil e coordenadora do curso de pós- continuada, silenciosa, de gratificação
graduação Livros, crianças e jovens: teoria, imediata e livre escolha é imprescindível para
mediação e crítica, do Instituto Vera Cruz. que o próprio texto ensine a ler”.

Ela lembra que Guimarães Rosa é um grande Leia agora abaixo parte da conversa com
representante da tríade literatura, infância e Cristiane Tavares sobre silêncio, infância e
silêncio, tema importante para se discutir as literatura.

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Em artigo publicado na revista Emília, Cecilia conversar sobre os livros, é fundamental


Bajour cita Breton: “O silêncio não é nunca o respeitar e proporcionar momentos de
vazio, mas a respiração entre as palavras, a silêncio depois da leitura. Ler sem precisar
dobra momentânea que permite a fluência prestar contas, ler sem precisar convencer o
dos significados, o intercâmbio de outro a ler também, ler sem precisar elaborar
observações e emoções, o equilíbrio das rapidamente o que se leu. Uma situação
frases que se amontoam nos lábios e o eco alimenta a outra, a autonomia se constrói
de sua recepção, é o tato que cedo ao uso firmada na partilha e, em especial na escola,
da palavra mediante uma rápida inflexão da as duas situações precisam ser garantidas: ler
voz, explorada de imediato pelo que se com os outros e ler sozinho. Teresa Colomer
espera do momento favorável”. Qual a reflete muito sobre isso em Andar entre livros
relação entre silêncio, literatura e infância? – a leitura literária na escola (Global, 2007) e
destaca a importância de garantir momentos
Cristiane Tavares – Quando penso nessa de leitura silenciosa na sala de aula: “A
relação entre “silêncio, literatura e infância”, criação de um espaço de leitura individual na
logo me vem uma frase do Guimarães Rosa escola pretende dar a oportunidade de ler a
em Grande Sertão: Veredas: “O senhor sabe todos os alunos; aos que têm livros em casa e
o que o silêncio é? O silêncio é a gente aos que não os têm, aos que dedicam tempo
mesmo demais.” Gosto muito desse modo de lazer à leitura e aos que só leriam nos
mineiro e roseano de entender o silêncio. E minutos dedicados a realizar as tarefas
cito esse autor porque penso que ele traduz escolares na aula. A leitura autônoma,
muito bem essa tríade – silêncio, literatura e continuada, silenciosa, de gratificação
infância – em sua obra. Miguilim é um imediata e livre escolha é imprescindível para
exemplo: menino quieto, sensível, que que o próprio texto ensine a ler.”
armava arapuca e pensava no que deviam
sentir os pássaros quando estavam presos, (Texto adaptado. Disponível
separados dos seus companheiros, e em:http://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudo
observava como saíam felizes soltos das s/visualizar/Os-nao-ditos-das-leituras-silenciosas
arapucas. Ele mesmo, o Rosa, foi menino . Acesso em: 31 jul. 2018.)
quieto, prezava o silêncio. Esse menino TEXTO 2
quieto, quando adulto, falava mais de cinco
línguas... O silêncio é também condição para Campo Geral
a aprendizagem. Da cabeça e do coração
desse menino quieto saíram obras-primas
como Grande Sertão e Manuelzão e Miguilim.
Penso que o silêncio é necessário para as Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu
crianças, tanto quanto para a literatura, pois pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito
é condição para a criação, é janela para a depois da Veredado-Frango-d'Água e de
contemplação. Em tempos de tanta outras veredas sem nome ou pouco
velocidade, de excesso de ruído, profusão de conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No
imagens, o silêncio é raridade, deve ser meio dos Campos Gerais, mas num covão em
preservado. trecho de matas, terra preta, pé de serra.
Miguilim tinha oito anos. Quando completara
[...] sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio
Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para
Como o silêncio pode dialogar com a ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo
autonomia do jovem leitor? passava. Da viagem, que durou dias, ele
guardara aturdidas lembranças,
Cristiane Tavares – Silêncio e autonomia embaraçadas em sua cabecinha. De uma,
leitora andam lado a lado. Do mesmo modo nunca pôde se esquecer: alguém, que já
que é importante compartilhar as leituras e

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estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum,
bonito, entre morro e morro, com muita mas mirou triste e apontou o morro; dizia: —
pedreira e muito mato, distante de qualquer "Estou sempre pensando que lá por detrás
parte; e lá chove sempre..." dele acontecem outras coisas, que o morro
está tapando de mim, e que eu nunca hei de
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos poder ver..." Era a primeira vez que a mãe
pretos e compridos, se doía de tristeza de ter falava com ele um assunto todo sério. No
de viver ali. Queixava-se, principalmente nos fundo de seu coração, ele não podia, porém,
demorados meses chuvosos, quando concordar, por mais que gostasse dela: e
carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão achava que o moço que tinha falado aquilo
escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na era que estava com a razão. Não porque ele
estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora mesmo Miguilim visse beleza no Mutúm —
do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — nem ele sabia distinguir o que era um lugar
ela exclamava. Mesmo assim, enquanto bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira
esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim como o moço tinha falado: de longe, de leve,
padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário
que às vezes nem conseguia chorar, e ficava de sua mãe — agravada de calundú e
sufocado. E foi descobriu, por si, que, espalhando suspiros, lastimosa. No começo
umedecendo as ventas com um tico de de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia,
cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali
pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe
lenço; e tio Terêz, quando davam com um medo.
riacho, um minadouro ou um poço de grota,
sem se apear do cavalo abaixava o copo de (ROSA, João Guimarães. Manuelzão e
chifre, na ponta de uma correntinha, e subia Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova Fronteira,
um punhado d'água. Mas quase sempre 2001.)
eram secos os caminhos, nas chapadas,
então tio Terêz tinha uma cabacinha que Sobre o uso das formas verbais completara,
vinha cheia, essa dava para quatro sedes; guardara e estivera, no primeiro parágrafo do
uma cabacinha entrelaçada com cipós, que texto “Campo Geral”, pode-se afirmar que:
era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..."
A) Elas estão no imperfeito do subjuntivo e
— tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria
expressam fatos irreais ou desejáveis.
também e preferia não beber a sua parte,
deixava-a para empapar o lenço e refrescar B) Elas estão no pretérito perfeito do
o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio indicativo e expressam fatos com duração
Terêz, irmão de seu pai. prolongada no passado.
Quando voltou para casa, seu maior C) Elas estão na forma composta do pretérito
pensamento era que tinha a boa notícia para perfeito do indicativo e expressam fatos
dar à mãe: o que o homem tinha falado — incertos ocorridos no passado.
que o Mutúm era lugar bonito... A mãe,
quando ouvisse essa certeza, havia de se D) Elas estão no pretérito imperfeito do
alegrar, ficava consolada. Era um presente; e indicativo e expressam fatos transcorridos há
a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, mais tempo que os demais narrados no texto.
como uma salvação, deixava-o febril até nas
pernas. Tão grave, grande, que nem o quis E) Elas estão na forma simples do pretérito
dizer à mãe na presença dos outros, mas mais-que-perfeito do indicativo e expressam
insofria por ter de esperar; e, assim que pôde fatos anteriores a outros narrados no texto.
estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço
e contou-lhe, estremecido, aquela

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68. Figuras de Linguagem são recursos 66.A 67.E 68.C


literários utilizados para garantir uma maior
expressividade ao texto. Nos trechos
destacados abaixo, Guimarães Rosa fez uso
de uma ou mais figura(s). Assinale a
alternativa em que há uma relação incorreta
entre o excerto e uma respectiva figura de
linguagem encontrada nele:

a) “Choveu muitos dias juntos. Chuva,


chuvisco, faísca – raio não se podia falar (...)”
– gradação.

b) “- Não meu senhor. O Ditinho está em


glória.” – eufemismo.

c) “O mato do morro do Mutum em branco


morava.” – hipérbole.

d) “Miguilim tinha sido arrancado de uma


porção de coisas, e estava no mesmo lugar.”
– paradoxo

GABARITO

1.B 2.D 3.B 4.C 5.C

6.D 7.E 8.A 9.B 10.B

11.D 12.A 13.A 14.C 15.D

16.B 17.D 18.A 19.A 20.B

21.C 22.D 23.B 24.A 25.C

26.C 27.C 28.C 29.D 30.B

31.C 32.C 33.A 34.B 35.C

36.A 37.B 38.D 39.B 40.C

41.A 42.C 43.B 44.B 45.B

46.B 47.B 48.B 49.C 50.B

51.C 52.E 53.C 54.B 55.A

56.A 57.A 58.B 59.D 60.D

61.D 62.B 63.C 64.B 65.C

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