Monografia_CAO_Bruno_Cardoso_PorteTELA EXEMPLO

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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO ESPÍRITO SANTO


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS POLICIAIS
E SEGURANÇA PÚBLICA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO
POLICIAL MILITAR E SEGURANÇA PÚBLICA
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

BRUNO CARDOSO PORTELA

ANÁLISE CRIMINAL DOS FEMINICÍDIOS NA REGIÃO


METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA

CARIACICA
2021
1

BRUNO CARDOSO PORTELA

ANÁLISE CRIMINAL DOS FEMINICÍDIOS NA REGIÃO


METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA

Monografia apresentada ao Curso de Pós-


Graduação Lato Sensu em Gestão Policial Militar e
Segurança Pública – Curso de Aperfeiçoamento de
Oficiais – CAO 2021, da Academia de Polícia Militar
do Espírito Santo - Instituto Superior de Ciências
Policiais e Segurança Pública, como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista em
Gestão Policial Militar e Segurança Pública.
Orientador: Prof. Dr. Pablo Medeiros Jabor

CARIACICA
2021
2
3

Às anônimas vítimas do passado, um


pequeno passo, para que mais nos
preocupemos com que elas menos
existam no futuro.
4

Às mulheres da minha vida. Avós Izilda e


Isaura. Mãe Marlene. Amor Paula. Nossas
frutas, Luísa e Lara.
5

RESUMO

A análise criminal é um estudo invariavelmente multidisciplinar. A partir do


reconhecimento de uma sociedade machista e patriarcal no ocidente, desenvolvemos
uma revisão teórica acerca dos pressupostos presentes na Psicologia Social que
possam lançar reflexões sobre a violência letal de gênero contra a mulher: o
feminicídio. Analisamos criminalmente o fenômeno em níveis global, nacional e
estadual, até chegarmos ao objetivo de nosso trabalho que foi desenvolver a análise
criminal dos feminicídios na Região Metropolitana da Grande Vitória. A partir de uma
pesquisa documental empírica, os dados das ocorrências policiais foram analisados e
discutidos e permitiram encontrar resultados que apontam que mulheres vítimas de
feminicídio no estado do Espírito Santo estão concentradas na Região Metropolitana
da Grande Vitória. São jovens adultas, entre 21 e 40 anos, pardas e pretas em 8 de
cada 10 casos. Vítimas principalmente de armas brancas, asfixia, instrumentos
contundentes e espancamento na maioria dos fatos, que não estão correlacionados
aos aspectos de renda, atingindo as mais diversas classes econômicas nos bairros
da metrópole capixaba.

Palavras-chave: Feminicídio. Análise Criminal. Psicologia Social. Violência. Gênero.


6

ABSTRACT

Criminal analysis is an invariably multidisciplinary study. From the recognition of a


sexist and patriarchal society in the West, we developed a theoretical review about the
presuppositions present in Social Psychology that can launch reflections on lethal
gender violence against women: femicide. We criminally analyzed the phenomenon at
global, national and state levels, until we reached the objective of our work, which was
to develop the criminal analysis of femicide in the Metropolitan Region of Vitória. Based
on an empirical documentary research, data on police incidents were analyzed and
discussed and allowed to find results that show that women victims of femicide in the
state of Espírito Santo are concentrated in the Metropolitan Region of Vitória. They are
young adults, between 21 and 40 years old, brown and black in 8 out of every ten
cases. Victims mainly of knives, suffocation, blunt instruments and beatings in most of
the facts, which are not correlated with income aspects, affecting the most diverse
economic classes in the neighborhoods of the Espírito Santo metropolis.

Keywords: Femicide. Criminal Analysis. Social Psychology. Violence. Genre.


7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 08

2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 10

3 OBJETIVOS .................................................................................................... 14

4 REVISÃO TEÓRICA ....................................................................................... 15


4.1 ANÁLISE CRIMINAL E SEUS ASPECTOS FUNDAMENTAIS..................... 15
4.2 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E TEORIAS DE
GÊNERO............................................................................................................. 17
4.3 OS ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO............................................................. 18
4.4 MASCULINIDADES E VIOLÊNCIA............................................................... 20

5 MÉTODO E ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DE DADOS................................... 23

6 VIOLÊNCIA HOMICIDA CONTRA A MULHER............................................... 25


6.1 ASPECTOS GLOBAIS.................................................................................. 25
6.2 HOMICÍDIOS DE HOMENS E MULHERES NO BRASIL.............................. 29
6.3 HOMICÍDIOS DE HOMENS E MULHERES NO ESPÍRITO SANTO............. 32

7 ANÁLISE CRIMINAL DOS FEMINICÍDIOS NA REGIÃO METROPOLITANA


DA GRANDE VITÓRIA....................................................................................... 36

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 53

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 57
8

1 INTRODUÇÃO

A abordagem ao fenômeno da violência como uma temática multidisciplinar não é


mais novidade, na verdade um consenso acadêmico que representa um avanço, mas
relativamente recente. Essa visão também está presente nas perspectivas
estratégicas de boa parte dos governos democráticos e o avanço estaria justamente
em reconhecer que esse consenso nem sempre foi pacífico assim. Até os dias atuais
existem correntes, pouco ou nada cientificamente embasadas, que atribuem aos atos
violentos uma perspectiva isolada de compreensão do fenômeno social (CERQUEIRA;
LOBÃO, 2003).

De acordo com Minayo (2006), a violência em sua origem é um fenômeno sócio-


histórico na evolução da humanidade. Não seria em si originalmente uma questão de
saúde pública, mas ao afetar a saúde individual e coletiva acabaria por exigir tal
intervenção em políticas específicas e a organização de práticas e de serviços nesse
setor, para sua prevenção e enfrentamento. As perdas resultantes da violência
correspondem a altos custos emocionais, sociais e com políticas de segurança pública,
que causam também graves prejuízos econômicos em nível mundial.

Os feminicídios também são um problema global. É o que apontam a Organização


Mundial da Saúde (2012) e a União Europeia (2017). E, particularmente, latino-
americano. Tais publicações internacionais destacam as mais altas taxas de
homicídios de mulheres e feminicídios nos países da América Central, como Honduras,
e ainda da América do Sul, como Venezuela, Colômbia e Brasil.

Nowak (2012) destaca negativamente, em nível mundial, o Espírito Santo. Em seu


estudo, “Feminicídio: um Problema Global”, destaca o Brasil e, particularmente, o
Espírito Santo, no que se refere às taxas, em 2011, de 4,3 feminicídios por 100.000
mulheres no Brasil contra 10,9 respectivamente no estado capixaba. Sua discussão
aborda o feminicídio nos contextos dos homens parceiros íntimos, atentando contra
vítimas femininas, com uso de armas de fogo na violência letal. Suas conclusões
apontam para o contexto de relacionamentos abusivos que evoluem para a letalidade.
Segundo o autor, estudos que disponibilizam dados detalhados nas características
das vítimas e perpetradores, circunstâncias, relacionamentos, e as causas de eventos
9

letais estão aumentando, permitindo um maior número de pesquisas sobre feminicídio


e outras formas de violência armada. Tais achados podem ser um caminho para
entender as características do feminicídio e o desenvolvimento de respostas políticas
baseadas em evidências, no intuito de aumentar a segurança das mulheres ao redor
do mundo.

Nesse contexto, o “Mapa da Violência 2015: Homicídios de mulheres no Brasil” de


Waiselfisz (2015), cita a recente judicialização do problema em nível nacional, a partir
da criminalização especial da violência contra as mulheres. Não somente pela criação
de leis especiais, mas também pela inserção de estruturas em todo o sistema de
justiça criminal, estratégias nas defensorias públicas, nas polícias, no ministério
público e no poder judiciário, específicas e mobilizadas para a proteção das vítimas,
punição dos agressores e prevenção à violência de gênero. Essas criações ainda são
recentes e padecem de infraestrutura e metodologia adequadas no trato com as
vítimas em grande parte dos casos. Entretanto, como marco importante, no que se
refere à criação de legislação, pode-se citar a Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006),
que há 15 anos criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra
a mulher.

Mais recentemente, foi sancionada a Lei do Feminicídio (BRASIL, 2015),


classificando-o como crime hediondo. As definições dessa lei, alvo também de críticas
por parte de acadêmicos e da sociedade civil organizada, será nosso ponto de partida
para a delimitação metodológica da letalidade intencional violenta por condição de
gênero que se pretende utilizar ao longo do estudo.

Já o conceito de feminicídio foi utilizado, pela primeira vez, por Diana Russel em 1976
(MENEGHEL; LERMA, 2017). O fato ocorreu no Tribunal Internacional sobre Crimes
contra as Mulheres, em Bruxelas. A ideia foi evidenciar o assassinato de mulheres
devido ao fato de serem mulheres. Tal violência seria caracterizada pelo ódio e
sentimento de propriedade sobre a mulher. Existe feminicídio, portanto, quando a
agressão envolve violência doméstica e familiar, ou quando se evidencia menosprezo
ou discriminação à condição de mulher, caracterizando-se o crime letal por razões da
condição do sexo feminino.
10

Cordeiro e outros (2019) ainda alertam para a necessidade de que as políticas


públicas considerem a perspectiva de gênero na construção de ações de proteção
social, que propiciem uma assistência integral às mulheres, que atendam de forma
efetiva às especificidades do público feminino.

A partir dessas delimitações e perspectivas teóricas iniciais, esta pesquisa tem como
temática principal a violência contra a mulher, particularmente os feminicídios. O
feminicídio está vinculado aos mecanismos de perpetuação da dominação masculina,
profundamente enraizados na sociedade e na cultura patriarcal brasileiras. Segundo
Waiselfisz (2015), tal agressividade, lastreada por um preconceito vinculado à
fragilidade de gênero, não é um fato historicamente novo, mas talvez tão antigo quanto
a humanidade. Entretanto, o que se apresenta como mais singular e contemporâneo
é a inquietação com tal realidade, principalmente a partir do século XX, como
pressuposto para o alcance de uma sociedade mais humanitária e, portanto,
desenvolvida.

De forma mais delimitada, o problema de pesquisa deste estudo é analisar


criminalmente as características dos crimes de feminicídios ocorridos na Região
Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) entre os anos de 2016 a 2020,
particularmente responder: quais as características criminais das práticas dessas
violências letais intencionais contra a mulher?

2 JUSTIFICATIVA

No estudo de Cerqueira e outros (2015) defende-se que uma das formas de se estudar
a violência intrafamiliar está no estudo dos crimes letais intencionais contra mulheres,
face a subnotificação das estatísticas relacionadas às violências não letais.
Compreendemos também, em nosso escopo de trabalho, que o feminicídio seja a face
mais estarrecedora desse prisma multifacetado, a partir da percepção de que a
violência doméstica pode ocorrer em ciclos, não necessariamente progressivos.

De fato, existem comportamentos como momentos de tensão, agressões psicológicas


e físicas não letais tão importantes de serem compreendidos como os feminicídios,
dado o caráter que o entendimento poderia permitir no desenvolvimento de políticas
11

públicas de prevenção à violência letal no âmbito das famílias. Resultados mostram,


por exemplo, ainda em Cerqueira e outros (2015), que a introdução da Lei Maria da
Penha (BRASIL, 2015) gerou efeitos estatisticamente significativos na diminuição dos
homicídios de mulheres associados à questão de gênero no Brasil.

Para Campos (2015), em geral essas práticas violentas são caracterizadas por
comportamentos premeditados, lastreados pelo machismo culturalmente enraizado
na sociedade. Não há de se falar em provocação da vítima, mas em uma ação
consciente de subjugar o direito à independência feminina. O acolhimento da
justificativa da passionalidade nesses casos configuraria o acatamento do Estado a
crimes sexistas. Provoca a autora: qual violenta emoção ou passionalidade existiria
quando a motivação é o sentimento de posse que impede a autodeterminação
feminina?

Compreender tal problemática é ponto crucial no desenvolvimento de soluções


efetivas que poderão ser alcançadas caso esse diagnóstico seja realizado com a
robustez científica que a temática merece. Para Campos (2015) corpos mutilados
transfiguram-se em território da dominação masculina. Nesse sentido, como vimos,
este estudo buscará contribuir para o entendimento das características criminais
inseridas no contexto da violência letal contra a mulher presentes na conduta
feminicida.

O trabalho de Saccomano (2015) é relevante por abordar as causas para o feminicídio


na América Latina. Para a autora, o número crescente de homicídios femininos
cometidos por homens nas últimas duas décadas obrigou os países latino-americanos
a tipificar o crime de homicídio de gênero como “Feminicídio”. O objetivo dos países
era aumentar a conscientização e, assim, diminuir o número de crimes. No entanto,
apesar da legislação aprovada e implementada, a taxa de feminicídio na maioria dos
países da América Latina, após uma redução inicial, aumentou novamente. No estudo,
a autora investiga os fatores relacionados às mudanças nas taxas de feminicídios.
Suas descobertas apontam que a adoção de sentenças mínimas e máximas
obrigatórias, bem como a classificação de feminicídio como um crime separado não é
significativa para intervir nas taxas de feminicídios. Indica, na verdade, que níveis
muito baixos de Estado de Direito, juntamente com a falta de mulheres na
12

representação nos órgãos de tomada de decisão são os fatores mais significativos


para explicar variação nas tendências do feminicídio.

Corradi e outros (2016) defendem que o feminicídio é um esforço na imaginação


sociológica que obteve sucesso em transformar a percepção convencional, a
consciência pública, a pesquisa científica e a política a se fazer. Os autores revisam
como o feminicídio evoluiu na pesquisa social, analisando as teorias mais importantes
que explicam o feminicídio: a feminista, o sociológico, as abordagens criminológicas,
as de direitos humanos e o da pesquisa decolonial. Finalmente, propõem uma
estrutura onde o feminicídio é entendido como um fenômeno social que exige uma
abordagem interdisciplinar. Os autores recomendam um modelo sistêmico e
multifacetado para melhorar a análise científica e a prevenção dessas violências.
Pressupostos desta pesquisa que se fará na Região Metropolitana de Vitória.

Menjívar e Walsh (2017) demonstram como o aumento da exclusão e da desigualdade


em Honduras representou riscos crescentes de insegurança para as mulheres. Na
publicação, foram estudadas as violências de gênero contra as mulheres, incluindo
assassinatos motivados por gênero (feminicídios), os atos cotidianos que podem ter
contribuído em suas mortes e a impunidade para esses crimes. Para além da análise
desses assassinatos como atos interpessoais ou vinculação à privação econômica,
foram examinadas as ações e omissões do Estado que ampliaram a violência na vida
das mulheres hondurenhas, a fim de identificar a responsabilidade política e as falhas
que criam um terreno fértil para essas mortes. Também se encontram referências a
um contexto de violência multifacetada e à distância entre os dispositivos legais,
aprovados principalmente para satisfazer as organizações internacionais e nacionais,
e seus efeitos práticos.

Estudo do United Nations Office on Drugs and Crime (2018) reúne dados sobre
diferentes fenômenos criminais, entre eles, o papel das armas de fogo nas ligações
com as desigualdades e assassinatos relacionados ao gênero. O Escritório busca
apoiar ação direcionada para aprender, compreender e fortalecer a prevenção. A
investigação oferece uma visão particular sobre os assassinatos de mulheres e
meninas motivados por questão de gênero. A análise indica que esse tipo de violência
letal exige respostas personalizadas. Assassinatos cometidos por parceiros íntimos
13

são raramente espontâneos ou aleatórios e devem ser examinados como atos


extremos em um continuum de violência de gênero, com histórico de subnotificações
e relatos ignorados.

O fato é que ao relacionarmos os dados das publicações de Waiselfisz (2015) e dos


autores Cerqueira e outros (2018), temos acesso ao ordenamento das unidades
federativas do Brasil no que se refere às taxas de homicídios de mulheres entre 2003
e 2017. O estado do Espírito Santo (ES) apresentou taxas de homicídios de mulheres
historicamente entre as mais elevadas do país, tendo sido registrado como o mais
violento em 2003 (8,6 mortes/100.000 mulheres) e como o segundo mais violento em
2013 (9,3). Em 2013, o ES (9,3) foi precedido apenas por Roraima (15,3).

Vitória, a capital do ES, em 2013, apresentou taxa de 11,8. Serra: 16,4. Vila Velha:
11,6. Cariacica: 14,8. Viana: 11,2. Fundão: 9,2 e Guarapari: 10,3. Observa-se,
portanto, que as taxas das cidades da RMGV são ainda mais elevadas que a média
do estado, motivo pelo qual este estudo se delimitará espacialmente nessa região.
Segundo publicação de Cerqueira e outros (2018), em 2017 o ES foi o 5º estado com
maior taxa de homicídios de mulheres (6,7), quando a média do país foi de 4,1 mortes
para cada grupo de 100.000 mulheres, e o único estado da Região Sudeste a figurar
entre os 15 mais violentos. Justificam-se, portanto, a relevância e a delimitação
espacial do estudo a partir da teoria introdutória e dos dados previamente analisados.

Outra justificativa que se registra está relacionada ao recorte temporal. Compreende-


se que o feminicídio obviamente já existia antes da publicação da Lei do Feminicídio
(BRASIL, 2015). Mesmo atualmente as agências policiais no Brasil ainda se adaptam
na construção dessa categorização. Muitos estados brasileiros têm baixa qualidade
até mesmo no registro de seus homicídios de forma geral (RIBEIRO, 2010). O fato é
que para esta pesquisa a promulgação da Lei é considerada um marco relevante não
somente por sua condição legal, mas também por exigir uma adequação das agências
policiais na coleta de dados. Justifica-se, portanto, analisarmos as mortes ocorridas
a partir de 2016, a partir dos objetivos que serão expostos na próxima Seção.
14

3 OBJETIVOS

Este estudo buscará analisar criminalmente as características dos feminicídios na


Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), a fim de compreender os contextos
criminais nos quais os delitos ocorrem.

De forma mais específica, realizar-se-ão as investigações que pretendem:

a) Identificar as ocorrências de homicídios dolosos contra mulher, entre os anos


de 2016 a 2020, nas cidades da Região Metropolitana da Grande Vitória.
b) Analisar as características criminais do fato: cidade, bairro, data, horário, meio
utilizado, idade, cor da pele da vítima e se motivado por questão de gênero.
c) Categorizar, a partir da análise anterior, os feminicídios, as principais
correlações de características criminais relacionadas ao fato e às vítimas dos
crimes consumados.

Esses objetivos fundamentar-se-ão nos pressupostos teóricos que serão discutidos


na próxima Seção.
15

4 REVISÃO TEÓRICA

4.1 ANÁLISE CRIMINAL E SEUS ASPECTOS FUNDAMENTAIS

Chayney (2021) aponta que várias teorias relacionadas à geografia do crime foram
desenvolvidas ao longo dos anos, que juntas explicam por que os padrões espaciais
e temporais do crime não são aleatórios. Essas perspectivas teóricas incluem
explicações em nível médio para o crime (ou seja, no nível do bairro) e explicações
micro geográficas do crime (ou seja, na rua, no contexto doméstico ou local mais
específico). Na reunião das principais teorias da análise criminal, portanto, reside o
desenvolvimento de uma avaliação contínua sobre como diferentes técnicas podem
favorecer de maneira prática, com informações para as atividades operacionais,
investigativas e atividades de policiamento estratégico e na prevenção ao crime.

Esses são os pressupostos teóricos para que os resultados da análise do crime


possam ser usados de forma eficaz. A interpretação dos resultados da análise deve
ser baseada em princípios teóricos claros. Se não estiver claro por que um problema
de crime pode estar presente, torna-se difícil determinar o que pode ser feito para lidar
com a questão de forma eficaz. Quando os padrões do crime podem ser interpretados
de forma científica é possível identificar as atividades específicas que poderiam ser
introduzidas para contrariar os padrões observados. A teoria pode, portanto, nos
ajudar a interpretar os padrões do crime.

Brantingham e outros (1981) descrevem as quatro dimensões de cada crime: i)


jurídica (uma lei deve ser violada); ii) da vítima (alguém ou algo deve ser visado); iii)
do ofensor (alguém deve cometer o crime); iv) a dimensão espacial (o crime deve
acontecer em algum lugar).

Para esses autores, os crimes não ocorrem aleatoriamente. Se os crimes fossem


ocorrências aleatórias que tivessem uma chance igual de acontecer em qualquer lugar
a qualquer momento, haveria pouco sentido em tentar observar padrões e considerar
o que poderia ser feito para resolver esses problemas criminais.

A principal disciplina teórica que sustenta a geografia do crime é o subconjunto prático


16

da criminologia convencional, conhecida como criminologia ambiental. Criminologia


ambiental envolve o estudo da atividade criminosa e vitimização, e como os fatores
do espaço influenciam o comportamento de infratores e a vitimização de pessoas ou
outros tipos de alvos (BOTTOMS et al., 2002).

A progressão no desenvolvimento teórico que aconteceu ao longo do tempo também


ajuda a ilustrar a evolução e o relacionamento do nível médio de consideração do
crime em relação às explicações criminais do crime em nível micro. Importante
ressaltar que essas teorias tendem a não funcionar isoladamente, mas normalmente
de maneira complementar.

Os pesquisadores também indicam que existe uma variação no arranjo espacial do


crime. Embora estudos espaciais de crimes já fossem registrados por quase 200 anos,
alguns períodos importantes de pesquisa foram pontuados na história. Nesses
períodos, conforme definido por Chainey e Ratcliffe (2013), destacam-se três escolas
distintas de pensamento: a Escola Cartográfica, a Escola de Chicago e a Escola GIS.
Os desenvolvimentos teóricos associados às Escolas Cartográficas e de Chicago
fornecem uma base útil para o exame em nível médio dos padrões de crime. Na era
contemporânea, o foco da Escola GIS tem sido utilizado para explicações geográficas
do crime em nível micro.

Para Porter (1983), na jornada para o crime, a teoria do padrão de crime e o princípio
do mínimo esforço fornecem uma estrutura para a compreensão da paisagem espacial
do crime. Os espaços de conscientização referidos na teoria do padrão de crime são
compostos por diferentes estruturas que fornecem um padrão de mudança de
oportunidades para se cometer ofensas, dependendo do pano de fundo ambiental - o
social, psicológico (grifo nosso), econômico, paisagem física e temporal pela qual o
agressor passa.

Para Chayney (2021), profissionais de análise criminal recebem treinamento em


psicologia comportamental criminal (grifo nosso), matemática, estatística,
criminologia ambiental e passam por extensas práticas de treinamento, envolvendo
visitas a muitos locais de crimes e a prática em casos anteriores. Os perfis dos
analistas criminais profissionais geralmente são do público de oficiais que trabalham
17

para grandes agências policiais regionais ou nacionais e são designados para


desenvolver análises em tempo integral, ou pelo menos na maior parte do tempo.
Muitos profissionais também têm um histórico de investigação de crimes graves, o que
lhes fornece a qualificação para trabalhar efetivamente em casos seriais de
assassinatos e estupros.

Segundo Chayney (2021), o ponto de partida para a análise criminal é considerar os


princípios teóricos que podem ser usados para interpretar o que os resultados da
análise estão dizendo. Interpretar padrões em termos de como os infratores se
comportam e em quais situações o crime ocorre, pode dar origem a resultados que
auxiliem a determinar os tipos de atividades a serem implementadas para contrariar
ou prevenir esses tipos de comportamento (grifo nosso). Daí a importância de
aliarmos esses pressupostos teóricos da análise criminal às perspectivas das teorias
da psicologia social no que se refere à temática da violência contra as mulheres.

4.2 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E TEORIAS DE GÊNERO

Segundo Arruda (2002) é na psicologia social que a representação social adquire uma
teorização, provocada por Moscovici (1978). A psicologia social versa sobre as
representações sociais a partir da relação indivíduo-sociedade, com perspectiva
orientada pela cognição. Essa teorização serve de instrumento para outros campos,
como a saúde e os estudos sobre violência a partir de propostas teóricas
diversificadas.

Arruda (2002) ainda afirma que o trabalho de Moscovici surge nos anos 1960 na
França e destaca-se pela originalidade da proposta. Sua pesquisa é voltada para
fenômenos marcados pelo subjetivo e por metodologias inabituais para a psicologia
da época.

Em sua Teoria das Representações Sociais (TRS), Moscovici (1978) operacionalizou


um conceito para trabalhar com o pensamento social em que questiona a
racionalidade científica e a ideia de que as pessoas comuns no cotidiano pensam
18

irracionalmente. Moscovici propõe uma psicossociologia do conhecimento, com forte


apoio sociológico, mas sem desprezar os processos subjetivos e cognitivos.

Farr (1995) categorizou a TRS como visão sociológica da psicologia social, em


contraposição às formas psicológicas à época dominantes nos Estados Unidos. Para
Jodelet (2001, p.4) “As representações sociais são uma forma de conhecimento
socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribuem
para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Nesse contexto,
Moscovici visou desenvolver a teoria e a criatividade dos pesquisadores, com
interesse maior pela descoberta e não pela verificação ou comprovação. Para ele,
perceber uma representação social é fácil, mas defini-la, nem tanto. Jodelet (2001)
ainda afirma que a representação social deve ser estudada articulando-se elementos
afetivos, mentais e sociais.

Como apontamentos em direção às teorias de gênero, particularmente as feministas,


ambas nascem na mesma conjuntura de quebra de paradigmas, de estreita sintonia
com as realidades concretas que vivenciaram. Quanto à dimensão conceitual e de
metodologia, suas abordagens se aproximam, ao conceituarem aspectos de objetos
até então subvalorizados pela ciência, a mulher e o senso comum, com abordagens
mais dinâmicas, flexíveis e metodologias criativas. Arruda (2002) indaga acerca dessa
relação: por que, diante de tantas afinidades, a aproximação entre elas não seria maior?

Para Arruda (2000), as ciências sociais dos anos 1970 observaram uma quebra
epistemológica provocada pelas ideias de conteúdo político do movimento feminista a
respeito do gênero, patriarcado e machismo. A teoria feminista rompeu com a
perspectiva baseada na teoria de condicionamento dos papéis da condição feminina,
generalizado para todas as mulheres, apenas por suas características biológicas. Tal
interesse pelas desigualdades entre os sexos desestabilizou abordagens anteriores e
abriu espaço para a criação de outras formas de simbolização cultural dos gêneros.

4.3 OS ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO

Como se pode observar, concatenando com o estudo de Nogueira (2001), a psicologia


social em seus estudos sobre o gênero deu origem a novas possibilidades para a
19

transformação das pesquisas, a partir de uma de ação local e contextualizada, menos


masculinizada e universal. A perspectiva feminista na psicologia contribuiu para a
compreensão desses processos, ao desvendar os mecanismos psicológicos pelos
quais o gênero exerce o seu controle. Ao desafiar a tendência da psicologia para
aceitar a diferença, demonstrou como as categorias culturais são construídas.

O estudo de Meneghel e outros (2003), por exemplo, abordou temas como relação
entre pais e filhos, estereótipos e papéis de gênero, conjugalidade, limites a
comportamentos abusivos, corpo, sexualidade e estratégias de enfrentamento à
violência. Segundo essa análise, a violência é uma estrutura constante da existência
humana e está presente em praticamente todas as classes sociais, culturas e
sociedades. Há, portanto, uma conexão estreita entre a agressão e as relações sociais,
visto que o controle da violência é um robusto indicador de desenvolvimento de uma
sociedade, não por acaso pressuposto do Estado Democrático de Direito.

Portanto, na busca pelo entendimento da violência de gênero deve-se compreender


que a sua gênese e a sua manutenção na sociedade estão relacionadas com o
conceito de patriarcado. Estudos sobre a mulher nos anos 1970 introduziram o
conceito de patriarcado como um sistema de relações masculino de opressão às
mulheres (MENEGHEL et al., 2003).

Amâncio (1993) expõe que, como as outras ciências sociais, a psicologia social não
escapou à revolução oferecida pelo movimento feminista no meio acadêmico nos anos
1970. O modelo masculino da análise entre as diferenças entre os sexos foi duramente
criticado, proporcionando o desenvolvimento de novas investigações que vieram a pôr
em dúvida alguns conceitos e teorias universais. O efeito cientificamente mais
relevante dessa mudança foi o desenvolvimento de estudos sobre as mulheres, com
a criação de departamentos universitários no âmbito da psicologia social, fenômeno
americano que levantou o debate acerca de ideias que vinham ao encontro do que se
desenvolvia na psicologia social europeia.

O que se observa, portanto, é a assimetria nas identidades de gênero. No pensamento


social, a dominância simbólica do masculino evidencia a dependência da identidade
feminina. Assim, o social impõe vários limites às oportunidades e comportamentos das
20

mulheres, em formas de autocensura e da naturalização dessa especificidade de seu


comportamento. Não que houvesse um grupo de opressores e oprimidas na forma
como o social diferencia cartesianamente as categorias do feminino e do masculino.

Existe, na verdade, uma concepção dominante de pessoa que exclui não somente as
mulheres, mas também outras categorias sociais. É necessário compreender as
representações associadas a diversas categorias sociais para entender que as formas
de legitimação da discriminação que atingem determinados grupos sociais são
definidas também por outras razões, entre elas o sexo (AMÂNCIO, 1993).

4.4 MASCULINIDADES E VIOLÊNCIA

Souza (2005) desenvolve seu estudo a partir da perspectiva de que o gênero


masculino ainda é fortemente configurado por práticas machistas e de risco. Tais
comportamentos expõem os homens como maiores vítimas e autores da violência. No
Brasil, essa realidade é potencializada pelas intensas desigualdades e condições de
menor acesso à cidadania.

O lugar e a condição dos homens e das mulheres no mundo ocidental contemporâneo


têm sido hegemonicamente associados a um conjunto de ideias e práticas que
identificam essa identidade masculina à virilidade, à força e ao poder originados da
construção de uma constituição biológica sexual dominante. Ainda segundo Souza
(2005), as referências simbólicas do masculino e do feminino têm sido transformadas,
acarretando em consequências nos modelos identificatórios e na construção da
identidade sexual. Tal modelo hegemônico de masculinidade construído a partir de
valores patriarcais e machistas está associado à essa masculinidade viril, à
competição e à violência.

Nos estudos de Minayo (2005), também encontramos essa relação entre machismo e
violência. Avaliando os óbitos por homicídios, os homens são a grande maioria de
vítimas e também de agressores. Aprofundando as vulnerabilidades para o consumo
de drogas, os homens também correspondem à maioria dos usuários. Há uma
desvantagem masculina presente em relação à quase todas as causas específicas de
mortalidade por causas externas, quando comparada à situação feminina, inclusive
21

quando medida por expectativa de vida: é em média no Brasil oito anos menor em
relação à mulher. O autor também aponta para uma visão arraigada no patriarcalismo,
no masculino ritualizado como o lugar da ação, da decisão, da chefia da rede de
relações familiares e da paternidade como sinônimo de provimento material. Como
consequência, o masculino é investido significativamente com a posição social de
agente do poder da violência, havendo, historicamente, uma relação direta entre as
concepções vigentes de masculinidade e o exercício do domínio de pessoas.

Lima e outros (2008), em seu trabalho sobre homens, gênero e violência contra a
mulher, realizaram uma reflexão sobre a incorporação dos homens e da perspectiva
de gênero nos esforços de prevenção e atenção à violência contra as mulheres. Seu
artigo apresenta alguns conceitos e dados sobre a violência contra as mulheres e
descreve um panorama sobre a conexão entre gênero, saúde e masculinidades.
Analisam trabalhos que abordam os temas homens e violência contra as mulheres e
apresentam algumas ações voltadas à prevenção dessa forma de violência junto à
população masculina. Segundo o autor, propostas intervencionistas para homens
autores de violência não são o melhor nem o único caminho para eliminar a violência
contra as mulheres. Porém, sua pesquisa aponta que quando integradas com outras
ações dirigidas às mulheres, podem ser um importante meio para promover a
igualdade de gênero e diminuir a violência.

Todo o referencial teórico até aqui discutido servirá de lastro inicial no campo da
psicologia social para a melhor compreensão dos processos psicossociais que estão
envolvidos na complexa análise criminal e no entendimento dos fatores que permeiam
a violência contra a mulher. Particularmente, esse substrato teórico favorecerá a
compreensão criminal dos feminicídios, pesquisa que buscará compreender esse
fenômeno na Região Metropolitana de Vitória.

Como delineado, a relevante integração entre a Psicologia e os estudos criminológicos


relacionados às características criminais presentes nesses crimes, na tentativa de
tentar criar um perfil para o crime, é algo que se mostra continuamente mais complexo,
até mesmo pelo nível de conhecimento crescente que adquirimos acerca do
comportamento humano. Dessas tentativas, a criticada teoria desenvolvida por
Lombroso (2007), no fim do século XIX, é citada por parte da comunidade acadêmica
22

como precursora. Na evolução do estudo sobre as causas da criminalidade, várias


contribuições relevantes foram desenvolvidas por sociólogos e antropólogos e, mais
tarde, por psicólogos, psiquiatras, biólogos, economistas e juristas, dada a
multidisciplinariedade do fenômeno (CERQUEIRA; LOBÃO, 2003).

Trazer à tona o trabalho de Meneghel e Lerma (2017) também é importante, pois a


Colômbia apresenta características e vulnerabilidades sociais semelhantes às do
Brasil. Nessa pesquisa, apresentam-se discussões ocorridas durante foro sobre
feminicídios na região de Buenaventura, na Colômbia. Por ser o principal porto
colombiano no Pacífico é um território estratégico, o que também o coloca como centro
de diversas disputas. Nesse fórum, discutiram-se as determinantes sociais e políticas
do feminicídio.

Dentre as organizações representadas, as autoras destacam as que atuam em Cali,


cidade colombiana com três milhões de habitantes, marcada por disputas da guerrilha,
do narcotráfico e pela repressão do exército e de grupos paramilitares. Há todo um
contexto histórico e psicossocial em que as mulheres colombianas foram
extremamente afetadas pela violência e por diversas outras violações de direitos.
Baseadas na teoria do patriarcado, essas organizações consideram a permanência
das lutas de classe e das ferramentas marxistas, outras analisam o que resta de
opressão colonial nos processos do capitalismo em sua etapa imperialista e
globalizada, que incidem sobre uma mulher obviamente não homogênea.

Importante também a referência ao estudo de Machado (2001), que, a partir de


pesquisa antropológica, desenvolve análise de valores que estruturam a cultura
ocidental patriarcal trabalhando o discurso e a performance de grupos de delinquentes
sociais apenados (estupradores, espancadores, ladrões e assassinos de mulheres),
nos quais encontra de forma aguçada os caracteres da cultura machista. Como
consequência, o masculino assume um perfil social naturalizado de agente da
violência, desenvolvendo uma relação direta entre masculinidade e o exercício do
domínio das conquistas sobre as mulheres, cujos aspectos criminais serão analisados
conforme estratégia metodológica definida na próxima Seção.
23

5 MÉTODO E ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DE DADOS

A partir de uma pesquisa documental empírica, a primeira investigação será a


identificação dos homicídios de mulheres a partir dos dados fornecidos pela Secretaria
de Segurança Pública do Governo do Estado do Espírito Santo (SESP), desenvolvidos
por sua Gerência de Estatística e Análise Criminal (GEAC). Isso permitirá de forma
quantitativa: (a) Identificar as ocorrências de homicídios dolosos contra mulher, entre
os anos de 2016 a 2020, nas cidades da RMGV e (b) Analisar as características
criminais do fato: cidade, bairro, data, horário, meio utilizado, idade e cor da pele da
vítima.

Entretanto, há necessidade de análise mais apurada para identificar, dentre esses


crimes, quais de fato podem ser, conforme literatura apresentada, classificados como
feminicídios. Para isso, é necessária uma abordagem qualitativa. Tal categorização é
realizada pela Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Mulher (DHPM),
da Polícia Civil do ES.

A DHPM foi criada em 2010 e atende à toda Região Metropolitana. Foi a primeira
Delegacia implementada no Brasil com a finalidade de apurar especificamente os
crimes contra a vida praticados contra as mulheres. Atualmente a taxa de elucidação
de crimes da DHPM está em torno de 70% (SECRETARIA DA SEGURANÇA
PÚBLICA E DEFESA SOCIAL, 2018).

De acordo com Ribeiro (2010), no Sistema de Justiça Criminal Brasileiro geralmente


a primeira agência a tomar conhecimento do fato criminoso é a Polícia Militar. Essa é
responsável, nos casos que serão analisados, por manter a integridade do local do
crime e por colher as primeiras informações. A partir daí, nestes casos estudados,
cabe à Polícia Civil, através da DHPM, instaurar o Inquérito Policial, uma peça de
caráter administrativo, que busca elucidar através de procedimentos investigativos a
narração do fato, com todas as circunstâncias, a individualização do indiciado, seus
sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele(a) o autor
da infração. A autoridade policial ainda deve fazer minucioso relatório do que tiver sido
apurado para encaminhar ao juiz competente. É nesta fase que a DHPM categoriza
se o homicídio contra a mulher é (ou não) feminicídio, e informa à GEAC. Buscaremos,
24

através da coleta de dados, informações acerca dos crimes praticados, com a


finalidade de: (c) categorizar, a partir da análise anterior, nesses feminicídios, as
principais correlações de características criminais relacionadas ao fato e às vítimas
dos crimes consumados.

Figura 1 – Esquema de análise de dados.

Análise qualitativa
(DHPM)
Homicídios de mulheres
ocorridos na RMGV Definição dos
Categorização Feminicídios
(GEAC) (características
criminais)

Fonte: Elaborado pelo autor.

O acesso a essas informações permitirá a análise quali-quantitativa dessas


ocorrências e seus conteúdos. Baseados em Botelho e Gonçalves (2018), esses
dados também serão submetidos à realização de estatística descritiva para verificar o
comportamento das variáveis, a partir da análise da associação através da Correlação
de Pearson e da comparação das médias dos índices de violência com indicador
social local (renda: porcentagem por bairro de domicílios com renda até meio salário
mínimo) analisadas através do software Excel.

O acesso ao banco de dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa


Social é de caráter público desde a promulgação da Lei de acesso à informação
(BRASIL, 2011). Para tanto solicitaremos via correio eletrônico à GEAC da SESP
planilha com os seguintes dados anonimizados acerca das ocorrências alvos deste
estudo: a) número do boletim de ocorrência de todos os homicídios de mulheres entre
2016 e 2020, b) data do fato, c) hora, d) idade da vítima, e) cor da pele, f) cidade, g)
instrumento utilizado e h) se categorizada como feminicídio.

Mesmo os dados brutos não contêm os nomes das vítimas. Reserva-se o direito de
divulgar análises apenas por categorias a fim de evitar qualquer possibilidade de
25

identificação das vítimas. Concatenamos, portanto, nossa coleta aos nossos objetivos
respeitando-se as questões éticas desta pesquisa.

Em consonância com nosso problema de pesquisa, relacionado à distribuição espacial,


temporal e à caracterização criminal dos homicídios de mulheres e dos feminicídios
nos municípios metropolitanos, desenvolveremos uma pesquisa documental empírica,
assim como Couto e Menandro (2003). Essa modalidade permite analisar documentos
como dados governamentais, relatórios e publicações de órgãos públicos ou privados,
estatísticas, etc.

O acesso a essa base da SESP possibilitará analisar os homicídios dolosos contra


vítimas mulheres entre os anos de 2016 a 2020, mais especificamente a identificação
das características do fato (município, bairro, data, dia da semana, hora, instrumento
utilizado, se feminicídio). Buscaremos a partir dessa estratégia fazer com que essas
informações sejam categorizadas.

Serão apresentadas na próxima Seção os dados das análises dos homicídios em seus
aspectos globais, nacionais, estaduais e metropolitano.

6 ANÁLISE CRIMINAL DO FEMINICÍDIO

6.1 ASPECTOS GLOBAIS

No mundo, os homicídios dolosos entre a população em geral, foram alvo de estudo


pelo Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas (UNITED NATIONS OFFICE
ON DRUGS AND CRIME, 2019). Na oportunidade evidenciou-se que, em 2017, os
países das Américas apresentaram 173.000 vítimas de homicídio doloso, 37% do total
global, embora a região responda por apenas 13 % da população mundial. A Figura 2
abaixo apresenta as taxas de homicídios na população em geral por país em 2017.
26

Figura 2 – Mapa das taxas de homicídios na população em geral por país em 2017

Fonte: UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2019, p. 14.

O trabalho aponta uma constatação importante para esta pesquisa. O assassinato de


mulheres por parceiros íntimos ou familiares está aumentando (Figura 2). O número
total de mulheres que perderam a vida devido a este tipo de homicídio passou de
48.000 vítimas em 2012 para 50.000 em 2017, embora o número total de mulheres
assassinadas no mundo tenha diminuído de aproximadamente 102.000 em 2012 para
87.000 em 2017.

Figura 3 - Vítimas de homicídio, por sexo e continente (taxas e números absolutos),


2017

Fonte: UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2019, p. 14.


27

O Escritório, em estudo do ano anterior (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND


CRIME, 2018) publicou Estudo Global de Homicídio, em que evidenciou
especificamente os assassinatos de mulheres e meninas por motivos de gênero.

Os dados analisados são baseados em estatísticas de homicídios produzidas por


sistemas estatísticos nacionais, em que foram relatadas as relações entre a vítima e
o agressor e/ou o motivo. Dado que apenas recentemente tem sido alvo de coleta e,
principalmente, de análise por boa parte das agências policiais no mundo. Segundo o
estudo, enquanto o a desagregação de dados de homicídio em nível nacional tem
melhorado ao longo dos anos, em níveis estadual e no internacional as estimativas
são baseadas em um número limitado de países, com a África e a Ásia sendo
responsáveis pela maioria das lacunas.

O trabalho analisa dados de 2017, e apresenta que no Mundo, do total de 87.000


mulheres mortas intencionalmente em 2017, mais da metade delas (58 %), 50.000,
foram mortas por parceiros íntimos ou outros membros da família, o que significa que
137 mulheres são mortas por dia em todo o mundo por um membro de sua própria
família. Essas mortes estão apresentadas no Infográfico da Figura 3.

Figura 4 – Mulheres mortas por parceiros íntimos ou outros membros da família por
continente, em 2017. Número absoluto e taxa por 100.000 mulheres.

Fonte: UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2018, p. 10.


28

Como já discutimos, os feminicídios são um problema global. Afetou a Ásia em


maiores números absolutos (20.000 vítimas), entretanto apresenta taxas mais
elevadas na África (3,1), seguida pela América (1,6). A pesquisa global também indica
que embora os homens sejam as principais vítimas de homicídios dolosos em todo o
mundo, as mulheres continuam a suportar maior vitimização letal como
resultado de estereótipo de gênero (grifo nosso). Enquanto entre as vítimas totais
a participação dos homicídios perpetrados exclusivamente por parceiro íntimo é de
19% (81% são outros membros da família), entre as mulheres esse número de
homicídios perpetrados exclusivamente por parceiro íntimo representa 82%, quando
comparados a outros membros da família (Figura 4).

Figura 5 – Vítimas de homicídios praticados por parceiros íntimos e/ou outros


membros da família, 2017.

Fonte: UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2019, p. 15.

O estudo (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2019) aponta que
na verdade o assassinato de mulheres e meninas relacionado ao gênero está
começando a ser compreendido no que se refere à análise criminal. Entretanto, a
pesquisa consegue apontar que os assassinatos de mulheres e meninas relacionados
ao gênero podem ser evitados por meio de uma melhor coordenação entre serviços
prestados pelo estado, e também por meio do engajamento de homens na
desconstrução dessa realidade.

O combate a este tipo de homicídio requer mudanças estruturais de longo prazo que
abordem a violência doméstica através de uma abordagem holística. Isso envolve a
29

promoção de mudanças nas atitudes em relação aos papéis de gênero, reduzindo a


dependência e protegendo as mulheres e outros grupos vulneráveis por meio de uma
política de tolerância zero à violência.

6.2 HOMICÍDIOS DE HOMENS E MULHERES NO BRASIL

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2021) nos auxiliam a


compreender a evolução histórica dos homicídios no país, em números absolutos e
taxas, para os sexos masculino e feminino. No Gráfico 1, podemos observar que os
números absolutos entre a população em geral na série histórica analisada (1989-
2019) apresentaram tendência de incremento até 2017, enquanto a taxa média gira
em torno de 26 mortes por 100.000 habitantes, a menor de 19,21 em 1992, e pico de
31,59 em 2017. No que tange às taxas, observamos taxas mais elevadas e uma
variação maior entre a população masculina, de 35,97 em 1992 e picos de 59,36 (1997)
e 59,1 (2017). Para as mulheres observamos uma menor variação nas taxas (média
de 4,2 mortes/100.000 mulheres), a menor de 3,19 em 1992 e a maior 5 em 1997.

A vitimização de mulheres no Brasil foi objeto de recente estudo (FÓRUM


BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2021). Entre os achados, está o que
evidencia que a violência de gênero é hiperendêmica no Brasil. O termo se refere a
uma doença persistente e de alta incidência. É mais forte que uma epidemia, e que
avança de forma não esperada, mantendo-se em patamar elevado.

Os autores fazem referência a uma doença social que já se manifesta com frequência
e de gravidade cada vez mais nítida. A violência contra a mulher na sociedade
brasileira, entretanto, tem se tornado crescentemente objeto de estudo, o que se
reflete no avanço das pesquisas e no amadurecimento do debate coletivo sobre a
temática.
30

Gráfico 1 - Homicídios em números absolutos e Taxas de homicídios no Brasil - 1989-


2019 - População geral, homens e mulheres.

Fonte: Dados do IPEA (2021). Elaborado pelo autor.


31

O comportamento dos homicídios na população em geral mostra-se mais variável


quando relacionamos as taxas de homicídios às regiões e unidades federativas
(Figura 6).

Figura 6 – Mapa da Taxa de Homicídios por Unidades Federativas (UFs), 2019

Fonte: IPEA (2021).

Segundo a publicação (IPEA, 2021), é interessante observar as taxas de homicídios


nas UFs que estão relacionadas à guerra pelo controle do tráfico internacional de
drogas, com atenção a regiões como do Alto do Juruá, Solimões e as capitais do
Nordeste.
32

Ainda que haja elementos para sustentar a continuidade da diminuição dos homicídios
no Brasil, como podemos observar no Gráfico 1, algumas questões merecem atenção,
pois podem impactar no sentido contrário: a política permissiva em relação às armas
de fogo e à munição patrocinada pelo Governo Federal a partir de 2019, o aumento
da violência no campo, do incremento da violência policial, que vitimiza inclusive os
agentes aplicadores da lei, e o risco de politização das organizações da segurança
pública.

6.3 HOMICÍDIOS DE HOMENS E MULHERES NO ESPÍRITO SANTO

Os homicídios são historicamente um problema para a comunidade capixaba. As


taxas capixabas entre a população em geral mostraram-se sempre acima da média
nacional nas últimas três décadas (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Taxa de homicídios na população em geral: Brasil x ES – 1989-2019

Fonte: Dados do IPEA (2021). Elaborado pelo autor.


33

Entretanto, principalmente a partir de 2011, Cerqueira e outros (2021) citam o


Programa Estado Presente como uma política e ação inovadora no Espírito Santo que
trouxe resultados efetivos, observados, de fato, na série histórica, com exceção ao
ano da Crise de 2017 na Segurança Pública do estado.

No que se refere à questão de gênero, comparamos no Gráfico 3, as taxas de


homicídios de mulheres no Brasil e no Espírito Santo, a fim de justificarmos a
delimitação que faremos.

Gráfico 3 – Taxa de homicídios de mulheres: Brasil x ES – 1989-2019

Fonte: Dados do IPEA (2021). Elaborado pelo autor.

A taxa de homicídios de mulheres nos últimos 30 anos no ES foi sempre superior à


nacional, em média 97%, alcançando, em 2009 (taxa mais alta), 11,99 mortes para
cada grupo de 100.000 mulheres, quando a média nacional era de 4,36. Portanto,
175% superior e, 16% superior, em 2018, a menor distância entre as taxas desde
1989.
34

Esses homicídios, entre 2016 e 2020 (Tabela 1), foram a base para geração do mapa
de densidade (Figura 7). Para isso, foi utilizado o estimador de densidade kernel do
software ArcGis, e o mapa produzido foi o ponto de partida para o escopo da análise
alvo deste trabalho na próxima Seção.

Figura 7 – Mapa de Concentração de Homicídios no ES – População geral – 2016-


2020

Fonte: Dados da SESP, elaborado pelo IJSN (2021).


35

Tabela 1 – Taxa de Homicídios Média para a população geral, 2016-2020 – Municípios


do ES
Hom Tx Hom Méd Hom Tx Hom Méd
MUNICÍPIO Pop MUNICÍPIO Pop
No Ab. 2016-2020 No Ab. 2016-2020

Afonso Claudio 31 091 31 19,94 Jeronimo Monteiro 10 879 7 12,87

Agua Doce do Norte 11 771 15 25,49 Joao Neiva 15 809 18 22,77

Aguia Branca 9 519 15 31,52 Laranja da Terra 10 826 4 7,39

Alegre 30 768 12 7,80 Linhares 141 306 347 49,11

Alfredo Chaves 13 955 2 2,87 Mantenopolis 13 612 32 47,02

Alto Rio Novo 7 317 14 38,27 Marataizes 34 140 35 20,50

Anchieta 23 902 32 26,78 Marechal Floriano 14 262 4 5,61

Apiaca 7 512 4 10,65 Marilandia 11 107 9 16,21

Aracruz 81 832 162 39,59 Mimoso do Sul 25 902 11 8,49

Atilio Vivacqua 9 850 8 16,24 Montanha 17 849 21 23,53

Baixo Guandu 29 081 55 37,83 Mucurici 5 655 2 7,07

Barra de Sao Francisco 40 649 54 26,57 Muniz Freire 18 397 13 14,13

Boa Esperanca 14 199 23 32,40 Muqui 14 396 3 4,17

Bom Jesus do Norte 9 476 5 10,55 Nova Venecia 46 031 60 26,07

Brejetuba 11 915 32 53,71 Pancas 21 548 33 30,63

Cachoeiro de Itapemirim 189 889 192 20,22 Pedro Canario 23 794 57 47,91

Cariacica 348 738 821 47,08 Pinheiros 23 895 69 57,75

Castelo 34 747 14 8,06 Piuma 18 123 28 30,90

Colatina 111 788 114 20,40 Ponto Belo 6 979 1 2,87

Conceicao da Barra 28 449 105 73,82 Presidente Kennedy 10 314 15 29,09

Conceicao do Castelo 11 681 6 10,27 Rio Bananal 17 530 15 17,11

Divino de Sao Lourenco 4 516 2 8,86 Rio Novo do Sul 11 325 15 26,49

Domingos Martins 31 847 15 9,42 Santa Leopoldina 12 240 6 9,80

Dores do Rio Preto 6 397 5 15,63 Santa Maria de Jetiba 34 176 24 14,04

Ecoporanga 23 212 33 28,43 Santa Teresa 21 823 13 11,91

Fundao 17 025 46 54,04 Sao Domingos do Norte 8 001 6 15,00

Governador Lindenberg 10 869 5 9,20 Sao Gabriel da Palha 31 859 47 29,51

Guacui 27 851 17 12,21 Sao Jose do Calcado 10 408 4 7,69

Guarapari 105 286 182 34,57 Sao Mateus 109 028 249 45,68

Ibatiba 22 366 39 34,87 Sao Roque do Canaa 11 273 9 15,97

Ibiracu 11 178 14 25,05 Serra 409 267 1086 53,07

Ibitirama 8 957 5 11,16 Sooretama 23 843 81 67,94

Iconha 12 523 6 9,58 Vargem Alta 19 130 13 13,59

Irupi 11 723 10 17,06 Venda Nova do Imigrante 20 447 11 10,76

Itaguacu 14 134 13 18,40 Viana 65 001 89 27,38

Itapemirim 30 988 48 30,98 Vila Pavao 8 672 17 39,21

Itarana 10 881 5 9,19 Vila Valerio 13 830 49 70,86

Iuna 27 328 22 16,10 Vila Velha 414 586 747 36,04

Jaguare 24 678 116 94,01 Vitoria 327 801 367 22,39

Fonte: Dados do IBGE (2010) e SESP (2021). Elaborado pelo autor.


36

7 ANÁLISE CRIMINAL DOS FEMINICÍDIOS NA REGIÃO METROPOLITANA DA


GRANDE VITÓRIA

Como podemos observar, a concentração dos mapas apresentados nas Figuras 8 e


9 em conjunto com os dados da Tabela 1, das 5916 mortes por homicídio doloso
ocorridas no estado, entre 2016 e 2020, 3338 (56,42%) estão concentradas na
RMGV, embora esta região represente em extensão territorial (2.331,003 km²)
apenas 5% da área total do estado (46.095,583 km²). Motivo que reforça nossa
delimitação espacial para este estudo.

Figura 8 – Mapa da Concentração dos Homicídios - População geral na RMGV – 2016-


2020

Fonte: Dados da SESP, elaborado pelo IJSN (2021).


37

Figura 9 – Mapa de homicídios em números absolutos por bairros na população geral,


RMGV – 2016 a 2020

Fonte: Dados da SESP, elaborado pelo IJSN (2021).


38

No que se refere às taxas de homicídios para a população geral, Fundão (54,04),


Serra (53,07), Cariacica (47,08), Vila Velha (36,04), Guarapari (34,07), Viana (27,38)
e Vitória (22,39), ocupam as 6ª, 8ª, 11ª, 18ª, 20ª, 29ª e 38ª posições, respectivamente,
no ordenamento estadual (médias de 2016 a 2020).

Essa concentração se mantém relevante quando delimitamos os homicídios de


vítimas do sexo feminino para as cidades da RMGV. Das 539 mortes de mulheres
por homicídio doloso ocorridas no estado, entre 2016 e 2020, 263, 48,79%, estão
concentradas em 5% (RMGV) do espaço territorial total no estado.

As taxas de homicídios de mulheres para as cidades da RMGV (Tabela 2)


representam:

Tabela 2 – Taxas de homicídios de mulheres na RMGV – 2016 a 2020


Cidade Taxa Posição no ES
Fundão 21,09 4ª
Serra 7,99 18ª
Cariacica 5,82 30ª
Vila Velha 5,48 34ª
Viana 5,03 37ª
Vitória 4,72 39ª
Guarapari 4,09 42ª
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da SESP (2021).

Essa concentração espacial de homicídios de mulheres na RMGV pode ser melhor


observada espacialmente na figura 9 e quantificada na Tabela 3 a seguir.

Desse total de 539 de mulheres assassinadas no ES, entre 2016 a 2020, a SESP
(2021) classificou como feminicídios 172 ocorrências. Ou seja, 31,91% das mulheres
assassinadas no estado no período delimitado, foram mortas por questão de gênero.

Importante retomar, como explanado na estratégia de análise de dados e metodologia,


que tal categorização é feita pela SESP, pautada pelas investigações e inquéritos
policiais realizados pela Polícia Civil do ES.

Na RMGV essa categorização é feita com base nas informações prestadas pela
Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM).
39

Figura 10 – Mapa da Concentração de Homicídios no ES – Vítimas mulheres – 2016-


2020

Fonte: Dados da SESP, elaborado pelo IJSN (2021).


40

Tabela 3 – Taxa de Homicídios de Mulheres Média 2016-2020 – Municípios do ES


Pop Hom Tx Hom Méd Pop Hom Tx Hom Méd
MUNICÍPIO MUNICÍPIO
Mulheres No Ab. 2016-2020 Mulheres No Ab. 2016-2020

Afonso Claudio 15 404 1 1,30 Jeronimo Monteiro 5 587 2 7,16

Agua Doce do Norte 5 811 0 0,00 Joao Neiva 7 998 4 10,00

Aguia Branca 4 618 0 0,00 Laranja da Terra 5 302 0 0,00

Alegre 15 481 2 2,58 Linhares 70 891 44 12,41

Alfredo Chaves 6 852 0 0,00 Mantenopolis 6 807 1 2,94

Alto Rio Novo 3 643 5 27,45 Marataizes 17 264 3 3,48

Anchieta 11 840 5 8,45 Marechal Floriano 7 002 1 2,86

Apiaca 3 734 0 0,00 Marilandia 5 535 2 7,23

Aracruz 41 037 7 3,41 Mimoso do Sul 12 861 2 3,11

Atilio Vivacqua 4 851 2 8,25 Montanha 8 875 0 0,00

Baixo Guandu 14 861 5 6,73 Mucurici 2 784 0 0,00

Barra de Sao Francisco 20 241 7 6,92 Muniz Freire 9 094 1 2,20

Boa Esperanca 7 020 2 5,70 Muqui 7 140 0 0,00

Bom Jesus do Norte 4 892 0 0,00 Nova Venecia 22 920 8 6,98

Brejetuba 5 704 1 3,51 Pancas 10 547 3 5,69

Cachoeiro de Itapemirim 97 044 18 3,71 Pedro Canario 11 893 3 5,04

Cariacica 178 780 52 5,82 Pinheiros 11 890 5 8,41

Castelo 17 346 2 2,31 Piuma 9 167 5 10,91

Colatina 57 497 13 4,52 Ponto Belo 3 486 1 5,74

Conceicao da Barra 14 288 18 25,20 Presidente Kennedy 5 056 2 7,91

Conceicao do Castelo 5 743 1 3,48 Rio Bananal 8 451 4 9,47

Divino de Sao Lourenco 2 166 2 18,47 Rio Novo do Sul 5 588 2 7,16

Domingos Martins 15 753 2 2,54 Santa Leopoldina 5 815 1 3,44

Dores do Rio Preto 3 171 0 0,00 Santa Maria de Jetiba 16 644 3 3,60

Ecoporanga 11 646 2 3,43 Santa Teresa 10 908 2 3,67

Fundao 8 536 9 21,09 Sao Domingos do Norte 3 837 1 5,21

Governador Lindenberg 5 195 1 3,85 Sao Gabriel da Palha 15 954 4 5,01

Guacui 14 165 3 4,24 Sao Jose do Calcado 5 213 1 3,84

Guarapari 53 792 11 4,09 Sao Mateus 55 098 22 7,99

Ibatiba 11 078 5 9,03 Sao Roque do Canaa 5 585 1 3,58

Ibiracu 5 644 2 7,09 Serra 207 852 83 7,99

Ibitirama 4 308 0 0,00 Sooretama 11 710 4 6,83

Iconha 6 114 0 0,00 Vargem Alta 9 303 1 2,15

Irupi 5 693 4 14,05 Venda Nova do Imigrante 10 112 3 5,93

Itaguacu 6 937 0 0,00 Viana 31 810 8 5,03

Itapemirim 15 453 8 10,35 Vila Pavao 4 179 4 19,14

Itarana 5 425 1 3,69 Vila Valerio 6 622 7 21,14

Iuna 13 688 1 1,46 Vila Velha 215 440 59 5,48

Jaguare 12 210 9 14,74 Vitoria 173 853 41 4,72

Fonte: IBGE (2010). SESP (2021). Elaborado pelo autor.


41

Figura 11 – Mapa da Concentração de Homicídios na RMGV – Vítimas mulheres –


2016-2020

Fonte: Dados da SESP, elaborado pelo IJSN (2021).


42

Figura 12 – Mapa de Concentração de Feminicídios na RMGV – 2016-2020

Fonte: Dados da SESP, elaborado pelo IJSN (2021).


43

Como já apresentado, do total de 539 assassinatos de mulheres ocorridos no ES


(2016-2020), 263 (48,79%) ocorreram na RMGV. Tal concentração criminal urbana
pode ser acompanhada através das Figuras 10, 11 e 12, quantificadas na Tabela 3.

Das 263 mortes de mulheres por homicídio doloso ocorridas na RMGV, entre 2016 e
2020, 71, 27%, foram categorizadas pela SESP (2021), como feminicídios. O que
demonstra que no total de assassinatos de mulheres, a participação dos feminicídios
tem comportamento semelhante no estado e na RMGV (Tabela 4 e Gráfico 4).

Tabela 4 – Homicídios de mulheres e feminicídios – ES x RMGV


Delimitação espacial Homicídios de Feminicídios Participação dos
Mulheres 2016-2020 Feminicídios
ES 539 172 32 %

RMGV 263 71 27%

Cariacica 52 12 23%
Fundao 9 2 22%
Guarapari 11 4 36%
Serra 83 19 23%
Viana 8 3 38%
Vila Velha 59 17 29%
Vitoria 41 14 34%
Fonte: Dados da SESP (2021). Elaborada pelo autor.

Esse comportamento similar entre a região metropolitana e a média do estado se


desfaz quando desagregamos os dados entre as cidades da RMGV. Em Guarapari,
36% dos homicídios de mulheres são feminicídios. Em Viana, 38% dos homicídios de
mulheres são também motivados por questão de gênero (Tabela 4).

Gráfico 4 – Participação dos feminicídios nos homicídios de mulheres na RMGV –


2016-2020

79

80 49 46
44 45
60
40
18 16 16
11 10
20 Hom Mulheres RMGV
Feminicídios
0
2016 2017 2018 2019 2020

Feminicídios Hom Mulheres RMGV

Fonte: Dados da SESP (2021). Elaborado pelo autor.


44

Gráfico 5 – Evolução dos homicídios de mulheres por município na RMGV – 2016-


2020

25

20

15

10

0
2016 2017 2018 2019 2020
Cariacica 8 16 8 12 8
Fundao 1 5 0 1 2
Guarapari 4 0 2 3 2
Serra 18 20 17 14 14
Viana 2 3 1 1 1
Vila Velha 13 18 9 7 12
Vitoria 3 17 7 7 7

Cariacica Fundao Guarapari Serra Viana Vila Velha Vitoria

Fonte: Dados da SESP (2021). Elaborado pelo autor.

Gráfico 6 – Evolução dos feminicídios por município na RMGV – 2016-2020

7
6
5
4
3
2
1
0
2016 2017 2018 2019 2020
Cariacica 5 2 2 4 1
Fundao 0 0 0 0 2
Guarapari 1 0 1 2 1
Serra 6 4 2 5 2
Viana 0 2 0 0 1
Vila Velha 5 5 4 3 0
Vitoria 1 5 2 2 4

Cariacica Fundao Guarapari Serra Viana Vila Velha Vitoria

Fonte: Dados da SESP (2021). Elaborado pelo autor.


45

Tabela 5 – Meios utilizados para a consumação dos homicídios de mulheres e


feminicídios no ES – 2016-2020

HOMICÍDIOS FEMINICÍDIOS
MEIO UTILIZADO N Ab. % N %
ARMA DE FOGO 289 53,62% 41 23,84%
ARMA BRANCA 139 25,79% 81 47,09%
INSTRUMENTO CONTUNDENTE 30 5,57% 11 6,40%
NÃO IDENTIFICADO 23 4,27% 7 4,07%
CARBONIZAÇÃO 12 2,23% 7 4,07%
ASFIXIA 11 2,04% 6 3,49%
ESPANCAMENTO 8 1,48% 5 2,91%
ESTRANGULAMENTO 7 1,30% 4 2,33%
PAULADA 5 0,93% 2 1,16%
PEDRADA 4 0,74% 0 0,00%
ESGANADURA 3 0,56% 3 1,74%
QUEIMADURA 3 0,56% 3 1,74%
ESGORJAMENTO 2 0,37% 0 0,00%
ATROPELAMENTO 1 0,19% 1 0,58%
DECAPITAÇÃO 1 0,19% 1 0,58%
ENFORCAMENTO 1 0,19% 0 0,00%

Fonte: SESP (2021). Elaborada pelo autor.

Tabela 6 – Meios utilizados para a consumação dos homicídios de mulheres e


feminicídios na RMGV – 2016-2020

HOMICÍDIOS FEMINICÍDIOS
MEIO UTILIZADO N % N %
ARMA DE FOGO 150 57,03% 16 22,54%
ARMA BRANCA 55 20,91% 28 39,44%
INSTRUMENTO CONTUNDENTE 15 5,70% 4 5,63%
NÃO IDENTIFICADO 11 4,18% 4 5,63%
CARBONIZAÇÃO 6 2,28% 3 4,23%
ASFIXIA 9 3,42% 6 8,45%
ESPANCAMENTO 5 1,90% 4 5,63%
ESTRANGULAMENTO 2 0,76% 1 1,41%
PAULADA 2 0,76% 1 1,41%
PEDRADA 1 0,38% 0 0,00%
ESGANADURA 2 0,76% 2 2,82%
QUEIMADURA 2 0,76% 2 2,82%
ESGORJAMENTO 1 0,38% 0 0,00%
ATROPELAMENTO 0 0,00% 0 0,00%
DECAPITAÇÃO 1 0,38% 0 0,00%
ENFORCAMENTO 1 0,38% 0 0,00%

Fonte: SESP (2021). Elaborada pelo autor


46

No que tange ao instrumento (meio) utilizado para a consumação dos crimes


encontramos resultados (Tabelas 5 e 6) que também justificam a importância de se
estudar os feminicídios delimitando-os do universo de homicídios de mulheres. No ES,
a consumação dos homicídios de mulheres utiliza como instrumento a arma de fogo
em 53,62% dos casos. Para os feminicídios, a arma de fogo é utilizada em 23,84%
dos casos do estado. A arma branca é o principal instrumento utilizado nas
ocorrências de feminicídios, representado 47,09% dos casos.

Quando delimitamos a análise para a RMGV, a arma de fogo continua sendo o


principal instrumento utilizado para a consumação dos homicídios de mulheres
(57,03%) dos casos, ampliando sua participação em relação à analise no ES. Para os
feminicídios na RMGV, arma branca (39,44%), asfixia (8,45%) instrumento
contundente (5,63%) e espancamento (5,63%) totalizam 59,15% dos casos. Portanto,
esses dados confirmam e ampliam a conclusão de que nos casos motivados por
violência de gênero a arma de fogo é um recurso menos utilizado em comparação aos
outros meios.

Tabela 7 - Distribuição das ocorrências de homicídios de mulheres e feminicídios no


ES por dia da semana

HOMICÍDIOS Méd H/Dia FEMINICÍDIOS Méd Fem/Dia


DIA DA SEMANA N % N %
Segunda-feira 77 14,29% 17 9,88%
Terça-feira 77 14,29% 23 13,37%
71,75 16,8
Quarta-feira 69 12,80% 24 13,95%
Quinta-feira 64 11,87% 20 11,63%
Sexta-feira 74 13,73% 25 14,53%
84 29
Sábado 85 15,77% (17%↑) 30 17,44% (75%↑)
Domingo 93 17,25% 33 19,19%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).
47

Tabela 8 - Distribuição das ocorrências de homicídios de mulheres e feminicídios na


RMGV por dia da semana

HOMICÍDIOS Méd H/Dia FEMINICÍDIOS Méd Fem/Dia


DIA DA SEMANA N % N %
Segunda-feira 41 15,59% 6 8,45%
Terça-feira 46 17,49% 12 16,90%
37,50 8,4
Quarta-feira 32 12,17% 11 15,49%
Quinta-feira 31 11,79% 13 18,31%
Sexta-feira 36 13,69% 6 8,45%
37,67 9,67
Sábado 31 11,79% (0,44%↑) 12 16,90% (15%↑)
Domingo 46 17,49% 33 19,19%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).

Nas Tabelas 7 e 8 estabelecemos a comparação da média de homicídios contra


mulheres e feminicídios, a partir de sua distribuição por dia da semana. De segunda
a quinta-feira e de sexta-feira a domingo (2016-2020).

Na Tabela 7, dados de todo o ES, é possível percebemos que entre sexta-feira e


domingo, a média por dia de homicídios de mulheres é 17% superior à média diária
de segunda à quinta-feira. Quando delimitamos os feminicídios, essa média diária é
75% superior aos finais de semana.

Na Tabela 8, verificamos que na RMGV a média diária de homicídios de mulheres é


semelhante durante a semana e nos fins de semana. Aos fins de semana, a média
de feminicídios diários é 15% superior aos demais dias da semana.

Nas Tabelas 9 e 10, a seguir, são analisadas as idades das mulheres vítimas de
homicídios e feminicídios no ES e na RMGV.
48

Tabela 9 – Idade das mulheres vítimas de homicídios e feminicídios no ES

Participação no total
IDADE ES HOM FEM HOM FEM
0 - 10 14 1 2,60% 1,41%
11 - 15 11 1 2,04% 1,41%
16 - 20 61 4 11,32% 5,63%
21 - 25 70 11 12,99% 15,49%
26 - 30 72 12 13,36% 16,90%
31 - 35 67 8 12,43% 11,27%
36 - 40 70 15 12,99% 21,13%
41 - 50 68 7 12,62% 9,86%
> 50 74 10 13,73% 14,08%
NÃO IDENTIFICADA 32 2 5,94% 2,82%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).

Tabela 10 – Idade das mulheres vítimas de homicídios e feminicídios na RMGV

Participação no
total
IDADE RMGV HOM FEM HOM FEM
0 - 10 6 1 2,28% 1,41%
11 - 15 4 1 1,52% 1,41%
16 - 20 36 3 13,69% 4,23%
21 - 25 35 10 13,31% 14,08%
26 - 30 36 12 13,69% 16,90%
31 - 35 32 8 12,17% 11,27%
36 - 40 35 15 13,31% 21,13%
41 - 50 26 7 9,89% 9,86%
> 50 35 13 13,31% 18,31%
NÃO IDENTIFICADA 18 1 6,84% 1,41%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).
49

Mulheres entre 21 e 40 anos são o grupo mais vulnerável de homicídios e feminicídios


no ES e na RMGV (Tabelas 9 e 10). No ES essa faixa etária representa 51,76% dos
homicídios de mulheres e 64,79% dos feminicídios. Na RMGV, mulheres entre 21 e
40 anos representam 52,47% dos homicídios e 63,38% das vítimas dos
feminicídios.

Além da idade, a cor da pele das vítimas também foi alvo de análise desse estudo
tanto para os homicídios de mulheres, quanto para os feminicídios, no estado e na
RMGV (Tabelas 11 e 12).

Tabela 11 – Cor da pele das mulheres vítimas de homicídios e feminicídios no ES

Cor da Pele Homicídios % Feminicídios %


BRANCA 82 15,21% 35 20,35%
PARDA 280 51,95% 95 55,23%
PRETA 102 18,92% 37 21,51%
NI 45 8,35% 5 2,91%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).

Tabela 12 – Cor da pele das mulheres vítimas de homicídios e feminicídios na RMGV

Cor da Pele Homicídios % Feminicídios %


BRANCA 33 12,55% 13 18,31%
PARDA 143 54,37% 43 60,56%
PRETA 67 25,48% 15 21,13%
NI 20 7,60% 0 0,00%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).

Este aspecto da análise mostrou-se extremamente relevante. No ES a cada dez


mulheres assassinadas, sete são pardas ou pretas. Nas vítimas de feminicídios essa
proporção é ainda mais elevada: 76,74% das vítimas são pardas ou pretas. Isso
significa dizer que no estado, a cada 4 mulheres vítimas de feminicídio, mais de
3 são pardas ou pretas.
50

Quando delimitamos essa análise para a RMGV, essa questão racial torna-se ainda
mais evidente. A cada dez mulheres assassinadas na região metropolitana, 8 são
pardas e pretas. Para os casos de feminicídio, 81,69% das vítimas são pardas e
pretas na RMGV.

Gráfico 7 – Horário dos homicídios de mulheres e feminicídios no ES – 2016 a 2020

40

35

30

25

20

15

10

0 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 00:00 01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00
Homicídios 35 28 20 27 19 14 16 20 23 28 19 18 32 31 32 29 28 32 11 12 18 16 14 17
Feminicídios 8 11 9 13 7 6 4 7 7 5 6 9 9 11 9 8 8 8 5 3 3 7 4 5

Homicídios Feminicídios

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).

Gráfico 8 – Horário dos homicídios de mulheres e feminicídios na RMGV – 2016 a


2020
25

20

15

10

0
07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 00:00 01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00
Homicídios 20 15 10 12 10 8 11 8 8 15 7 11 18 18 13 10 8 11 5 5 5 13 9 13
Feminicídios 5 4 3 4 1 4 3 2 2 2 4 5 6 4 4 0 0 4 2 1 0 5 2 4

Homicídios Feminicídios

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2021).

Quanto aos horários (Gráficos 7 e 8), encontramos um comportamento mais aleatório,


com tendência de aumento após as 18:00h, com apontamentos relevantes às 16:00h
e na madrugada (entre 03:00 e 05:00h).
51

Figura 13 – Mapa da Distribuição da população com renda inferior a meio salário


mínimo na RMGV – 2010

Fonte: Dados do IBGE (2010), elaborado pelo IJSN (2021).


52

A Figura 13 apresenta o mapa com a base cartográfica dos bairros da RMGV e a


porcentagem de sua população com renda inferior a meio salário mínimo. A partir
desses dados, montamos a seguinte distribuição na Tabela 13.

Tabela 13 – Correlação de Pearson - % domicílios até meio salário mínimo X


Homicídios na população em geral e Homicídios de mulheres nos bairros da RMGV
%
domicilios Homicídios na
Homicídios de Tx Hom
Bairro Municipio até meio população População Tx Hom M
Mulheres Pop G
salario geral
minimo
1
Todos da Número Número IBGE 2010 (Pop Mortes por Mortes por
[...] X
RMGV absoluto (HG) absoluto (HM) Bairro) 1000 hab. 1000 hab.
476

Fonte: Dados do IBGE (2010) e da SESP (2021). Elaborada pelo autor.

Foram estudados 476 bairros da RMGV, suas respectivas proporções de domicílios


com renda até meio salário mínimo, o número absoluto de homicídios na população
em geral, o número de homicídios de mulheres, as populações dos bairros e as taxas
de homicídio por 1000 habitantes, tanto para a população em geral quanto para as
mulheres.

Para a correlação de Pearson, as variáveis dependentes utilizadas foram as taxas de


homicídios nos bairros. A variável independente utilizada foi a porcentagem por bairro
de domicílios com renda até meio salário mínimo. As correlações encontradas estão
na Tabela 14.

Tabela 14 – Modelo de correlação de Pearson

% domicílios até Tx Hom


Tx Hom M
meio salário Pop G por Pearson Pearson
por Bairros
mínimo Bairros

Mortes por Mortes por


X 0,179 0,027
1000 hab. 1000 hab.

Fonte: Dados do IBGE (2010) e da SESP (2021). Elaborada pelo autor.


53

Das correlações obtidas podemos inferir que a porcentagem por bairro de domicílios
com renda até meio salário mínimo tem correlação positiva com a taxa de homicídios
por bairro na população em geral e a taxa nos homicídios de mulheres.

Isso significa dizer que uma maior proporção de domicílios com renda até meio salário
mínimo influencia em uma maior taxa de homicídios na população em geral.
Entretanto, o achado mais relevante se refere à força dessas correlações.

Importante destacar que essa correlação pode variar de +1 a -1, indicando correlações
totalmente positivas (aumento na variável independente gera o mesmo aumento na
variável dependente) ou totalmente negativas (aumento na variável independente
gera a mesma diminuição na variável dependente).

Dessa forma, mesmo que a correlação de 0,179, encontrada quando confrontamos a


porcentagem por bairro de domicílios com renda até meio salário mínimo com a taxa
de homicídios por bairro na população em geral, mostre-se relativamente baixa, ela é
quase sete vezes maior (6,61) que a correlação porcentagem por bairro de domicílios
com renda até meio salário mínimo X taxa nos homicídios de mulheres (0,027).

Podemos extrair que a baixa renda nos domicílios dos bairros da RMGV afeta
proporcionalmente mais as taxas de homicídios na população em geral do que os
homicídios de mulheres.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificamos neste estudo que de fato a violência letal contra mulheres motivada por
uma questão de desigualdade de poder entre gêneros é um problema global, cuja
preocupação é grande para a América, para o Brasil e, particularmente, para os
cidadãos e cidadãs capixabas.

Esse diagnóstico que realizamos não pretende esgotar a discussão acerca dos
feminicídios na metrópole capixaba, até porque o que desenvolvemos foi a análise
criminal do fenômeno entre 2016 e 2020.
54

Respondemos aos objetivos do trabalho, ao realizarmos minuciosa revisão teórica


acerca da temática dos feminicídios de forma multidisciplinar, a partir da análise
criminal e seus aspectos fundamentais, do estudo da teoria das representações
sociais e teorias de gênero, dos estereótipos de gênero, da relação entre
masculinidades e violência.

Integramos a análise criminal aos aspectos fundamentais do comportamento machista


e patriarcal dos homens à luz das teorias da psicologia social.

Propormos analisar criminalmente as características dos feminicídios na Região


Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), a fim de compreender os contextos criminais
nos quais esses delitos ocorrem.

De forma mais específica, identificamos: as ocorrências de homicídios dolosos contra


mulher, entre os anos de 2016 a 2020, em todo o ES e nas cidades da Região
Metropolitana da Grande Vitória; as características criminais do fato: cidade, bairro,
data, horário, meio utilizado, idade, cor da pele da vítima e se motivado por questão
de gênero e a categorização, a partir da análise anterior, dos feminicídios, as principais
correlações de características criminais relacionadas ao fato e às vítimas dos crimes
consumados.

Nesse contexto, podemos concluir que do total de 539 assassinatos de mulheres


ocorridos no ES (2016-2020), 263 (48,79%) ocorreram na RMGV, 5% do espaço
territorial do estado. Setenta e uma ocorrências, 27%, foram categorizadas como
feminicídios.

O comportamento similar da participação dos feminicídios no total de homicídios de


mulheres na região metropolitana e na média do estado se desfaz quando
desagregamos os dados entre as cidades da RMGV, casos de Guarapari e Viana.

Quanto aos meios ou instrumentos utilizados, os resultados confirmam e ampliam a


conclusão de que nos casos motivados por violência de gênero a arma de fogo é um
recurso menos utilizado em comparação aos outros meios, como as armas brancas,
objetos contundentes, asfixia e espancamentos, por exemplo.
55

Verificamos também que na RMGV a média diária de homicídios de mulheres é


semelhante durante a semana e nos fins de semana. Aos fins de semana, a média de
feminicídios diários é 15% superior aos demais dias da semana.

A idade das vítimas mulheres foi outra descoberta relevante. Mulheres entre 21 e 40
anos são o grupo mais vulnerável de homicídios e feminicídios no ES e na RMGV. No
ES essa faixa etária representa 51,76% das vítimas de homicídios de mulheres e
64,79% dos feminicídios. Na RMGV, mulheres entre 21 e 40 anos representam
52,47% dos homicídios e 63,38% das vítimas dos feminicídios.

A cor da pele destaca-se entre nossas descobertas. No ES, a cada dez mulheres
assassinadas, sete são pardas ou pretas. Nas vítimas de feminicídios essa proporção
é ainda mais elevada: 76,74% das vítimas são pardas ou pretas. Isso significa dizer
que no estado, a cada 4 mulheres vítimas de feminicídio, mais de 3 são pardas ou
pretas. Quando delimitamos essa análise para a RMGV, essa questão racial torna-se
ainda mais evidente. A cada dez mulheres assassinadas na região metropolitana, 8
são pardas e pretas. Para os casos de feminicídio, 81,69% das vítimas são pardas e
pretas na metrópole capixaba.

Concluímos com a análise do aspecto renda e sua relação com os homicídios e


feminicídios nos bairros da região metropolitana. Interpretamos que há semelhanças
na distribuição dos escores das variáveis renda e taxa de homicídios. Entretanto, essa
correlação é quase insignificante para os casos de homicídios de mulheres, o que
denota que a violência de gênero afeta substancialmente as diferentes classes
econômicas.

Tais constatações mostram-se relevantes, principalmente quando as pensamos como


contribuições e até mesmo pressupostos para a implementação e acompanhamento
das políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher no Espírito Santo,
particularmente em defesa das mulheres residentes na metrópole capixaba.

Intervenções importantes têm sido feitas nos últimos anos, a fim de reverter esse
quadro de violência letal motivada por estereótipo de gênero no ambiente familiar no
ES. As taxas de homicídios de mulheres e feminicídios têm apresentado tendência de
56

queda na última década. Abrem-se espaços para importantes investigações científicas


nesse campo, que possam acompanhar e mensurar as boas práticas e as políticas
públicas mais eficientes nesse período.
57

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