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FORTALECENDO O QUÊ?

O PRONAF NA
CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA
FAMILIAR (CANGUÇU/RS)
Revista de Economia e Agronegócio - REA
ISSN impresso: 1679-1614
ISSN online: 2526-5539 ____________________________________
Vol. 22 | N. 1 | 2024 RESUMO
O crédito para a agricultura familiar, apesar da sua relevância no
Brasil, foi criado tardiamente. Assim, considerando a relevância do
Juliano Luiz Fossá1
crédito para a agropecuária e o papel da agricultura familiar, a
ORCID: 0000-0002-9658-4850
presente pesquisa visa analisar a distribuição do Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) em Canguçu, no
Alessandra Troian2 Rio Grande do Sul, entre os anos 2013 e 2023. A metodologia é
ORCID: 0000-0001-8207-6436 quantitativa, com coleta e análise de dados secundários. Na década
estudada, houve expressiva redução de contratos totais, 48,6%, sendo
Larissa Ferreira Tavares3 os contratos de investimentos com maiores restrições, 70,3%, e as
ORCID: 0000-0002-4962-9833 operações de custeio um menor nível de retração, 70,3%, enquanto o
montante de recursos teve expressivo aumento de 79,1%. O crédito de
Márcio da Silva Rodrigues4 custeio cresceu 198,4%, os créditos de investimento aumentaram
ORCID: 0000-0002-8810-7077 19,6% e o valor médio dos contratos cresceu 348,4%. Os resultados
reafirmam a trajetória do programa, pois se mantém o foco na
Mitali Daian Alves Maciel5 especialização produtiva, monocultura e integração às cadeias
ORCID: 0000-0002-6639-3922
produtivas do agronegócio brasileiro.
Palavras-chave: Crédito Rural; Políticas Públicas;
Desenvolvimento Rural
1 Doutor em Administração na
Universidade Federal de Santa ________________________________________
Catarina (UFSC) ABSTRACT
Docente na Universidade Federal
do Pampa (Unipampa) Credit for family farming, despite its importance in Brazil, was created
julianofossa@unipampa.edu.br too late. Considering the importance of credit for agriculture and the
role of family farming, this research aims to analyse the distribution of
2 Doutora em Desenvolvimento the National Program for Strengthening Family Farming (Pronaf) in
Rural na Universidade Federal do the municipality of Canguçu/RS between 2013 and 2023. The
Rio Grande do Sul (UFRGS)
Docente (Unipampa)
methodology is quantitative, with the collection and analysis of
alessandratroian@unipampa.edu.br secondary data. In the decade studied, there was a significant
reduction in total contracts, 48.6%, with investment contracts suffering
3 Doutora em Administração (UFSC) the greatest reduction, 70.3%, and costing operations suffering the
Docente na Universidade Federal smallest reduction, 70.3%, while the amount of resources increased by
de Pelotas (UFPel)
larissaftavares@gmail.com
a significant 79.1%. Costing credit grew by 198.4%, investment credit
by 19.6% and the average value of contracts by 348.4%. The results
4 Doutor em Administração (UFSC) reaffirm the program's trajectory, since the focus is still on specializing
Docente (UFPel) in agricultural production.
marciosilvarodrigues@gmail.com
Keywords: Rural Credit; Public Policy; Rural Development
5 Doutoranda em Desenvolvimento
Código JEL: Q12, Q14, Q18
Econômico pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp)
mitali.maciel@gmail.com

Recebido em: 10/07/2024


Aceito em: 31/10/2024
FORTALECENDO O QUÊ? O PRONAF NA CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CANGUÇU/RS)

INTRODUÇÃO
A Lei Federal n. 14.638, de 25 de julho de 2023, conferiu ao município de Canguçu, localizado
na região Sul do estado do Rio Grande do Sul, o título de Capital Nacional da Agricultura
Familiar. O reconhecimento se dá em função da expressiva presença da agricultura familiar na
localidade, da diversidade de sua produção agropecuária e, consequentemente, de sua
importância em termos econômicos e sociais (Brasil, 2023a)1.
Os dados do Censo Agropecuário de 2017 apontam que, dos 8.075 estabelecimentos rurais no
município, 6.691 (82,9% do total) se enquadram na categoria de agricultura familiar nos termos
da Lei Federal n. 11.326/2006 (Brasil, 2006). No âmbito da agricultura familiar em
Canguçu/RS, 96,2% são estabelecimentos rurais de até 50 hectares. Segundo o Censo
Demográfico de 2010, a população rural naquele ano foi de 33.572 (63% do total) das 53.268
residentes no município (IBGE, 2010)2.
Ao encontro das demandas e necessidades de apoio ao segmento familiar rural, posiciona-se
o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o qual, desde sua
implementação em 1996, tem por finalidades: i) o aumento da capacidade produtiva; ii) a
geração de empregos; iii) o aumento de rendas no espaço rural; e iv) a melhoria da qualidade
de vida dos agricultores familiares (Brasil, 1996).
O programa apoia as atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas por agricultores
familiares a partir de linhas de crédito adequadas às necessidades desses (Schneider; Cazella;
Mattei, 2021). Além disso, no plano histórico, o Pronaf se coloca como a primeira e principal
política pública de apoio ao segmento familiar, a qual é tida como um marco temporal nas
relações do Estado com a categoria da agricultura familiar (Grisa; Schneider, 2015; Mattei,
2015).
Ao longo de sua trajetória de quase três décadas (1996-2024), o Pronaf tem direcionado a maior
parte de seus recursos e contratos para a continuidade das práticas já estabelecidas no âmbito
das demais linhas de financiamento do sistema bancário tradicional (Fossá et al., 2024). Nos
últimos anos, especificamente a partir de 2015, não foram poucos os estudos que se dedicaram
a analisar que tipo de fortalecimento o programa vem incentivando por meio do crédito rural
(Wesz Junior, 2021; Aquino; Schneider, 2015; Toledo; Zonin, 2021; Conterato; Bráz; Rodrigues,
2021; Troian; Machado, 2020).
A concentração produtiva em torno de poucas atividades, a expressiva redução do número de
contratos e a consequente redução dos agricultores familiares que acessam o programa, a falta
de recursos para fortalecer formas de agricultura sustentáveis, bem como públicos vulneráveis
no interior da agricultura familiar, são alguns dos pontos que mais merecem atenção dos
estudos no país (Wesz Junior, 2021; Aquino; Schneider, 2015; Fossá et al., 2023a). Neste sentido,
o presente estudo objetiva analisar a distribuição do Pronaf no município de Canguçu entre os
anos 2013 e 2023. Tal objetivo se justifica pela necessidade de se compreender de que maneira
o programa de crédito, específico para a agricultura familiar, tem fortalecido o município de
Canguçu, o detentor do título de Capital Nacional da Agricultura Familiar.
A agricultura familiar é aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos
meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo (Wanderley, 2014). Os

1
Considerada a Capital Nacional da Agricultura Familiar, Canguçu é o município com o maior número de minifúndios do
país, isto é, de um total de 14 mil propriedades rurais que compõem o município, cerca de 9 mil delas são pequenas, isto é,
tem entre 5 e 25 hectares.
2
Os dados municipais da população rural do Censo Demográfico de 2022 não haviam sido divulgados até a elaboração deste
artigo.

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Fossá et al. (2024)

agricultores familiares se constituem como unidades formadas por grupos domésticos, os


quais exercem suas atividades sob regime de economia familiar, unidos por laços
consanguíneos e parentais. A agricultura familiar é tipificada como um conjunto familiar que
desempenha o trabalho produtivo e, concomitantemente, são proprietários dos meios de
produção, constituindo uma significativa diversidade e heterogeneidade nas formas sociais de
organização socioprodutiva (Schneider, 2006).
Como forma de atingir o objetivo proposto, o texto está estruturado em cinco seções, a contar
com essa breve introdução. Na sequência, apresentam-se as considerações sobre o Pronaf.
Posteriormente, apresenta-se o percurso metodológico adotado na pesquisa, destacando as
especificidades da agricultura em Canguçu. Na quarta seção, apresenta-se a análise dos dados.
Por fim, na quinta seção, são tecidas as considerações finais.

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA PÚBLICA DO PRONAF


O crédito rural se coloca como a principal política pública de apoio à agricultura brasileira e o
Pronaf, de igual modo, em relação ao segmento da agricultura familiar (Fossá et al., 2023a). As
políticas de crédito rural, especialmente o programa dedicado à categoria familiar, constituem-
se como um importante instrumento de política agrícola nacional. Para tanto, esta seção vai
discorrer acerca do histórico da política de crédito rural do Pronaf no Brasil.
As políticas de crédito rural no país estiveram entre as principais ações do Estado brasileiro
em termos de apoio à agricultura nacional a partir do século XX (Delgado, 1985, 2012). Em
relação à agricultura familiar, somente em 1996 que é estabelecido o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar, constituindo-se na primeira política pública específica
ao segmento da agricultura familiar (Schneider; Cazella; Mattei, 2021; Silveira; Montenegro;
Pereira, 2024).
No plano histórico, a construção da política pública demarca uma marcha no país de mais de
três décadas, que sucedeu a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) no ano de
1965 (Grisa; Schneider, 2015; Fossá; Renk, 2021). Nesta perspectiva, alguns elementos são
fundamentais e merecem o devido destaque para a compreensão do que veio a se constituir o
programa Pronaf, bem como suas alterações de trajetória.
O primeiro elemento está na luta reivindicatória das organizações e movimentos sociais do
campo, lideradas especialmente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (Contag). Ele foi fundamental tanto na busca de espaço na agenda pública como
na realização de eventos e mobilizações nacionais (Mattei, 2015). Somado a isto, destaca-se a
capilaridade dos movimentos sindicais, os quais contribuíram para as mobilizações e,
consequentemente, na busca pelo reconhecimento da categoria como um segmento
diferenciado da agricultura nacional (Picolotto, 2011).
O segundo elemento, também como resultado da organização social do conjunto da
agricultura familiar, em face da condição de exclusão do acesso ao crédito rural, resultou na
retomada nos anos de 1980, inicialmente no Sul do país, de novas experiências em torno das
cooperativas de crédito rural (Búrigo, 2007, 2010). Ainda na década de 1980, o terceiro elemento
se destaca, a redemocratização do Estado brasileiro, com a qual foram estabelecidas novas
relações entre Estado e os movimentos sociais do campo ligados à agricultura familiar,
especialmente pelos mecanismos de participação política possibilitada pela Constituição
Federal de 1988 (Mattei, 2014).

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FORTALECENDO O QUÊ? O PRONAF NA CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CANGUÇU/RS)

A partir de Grisa e Schneider (2015), o quarto elemento na constituição do Pronaf está


associado à mudança de entendimento do papel da agricultura familiar no desenvolvimento
no meio acadêmico brasileiro. Tal mudança se deu em função da publicação dos estudos de
Veiga (1991), Abramovay (1992), Lamarche (1993a, 1993b), os quais, na Língua Portuguesa,
demonstram o papel da agricultura familiar em países de capitalismo avançado. Esse processo
fez com que a agricultura familiar deixasse de ser vista como sinônimo de atraso e passasse a
ser compreendida como elemento vital no desenvolvimento nacional (Schneider; Shiki; Belik
2010).
O quinto elemento está ligado ao desenvolvimento de estudo em parceria entre a Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária do Brasil (Incra) no ano de 1994, que estabeleceu as principais
diretrizes para formulação e construção de políticas públicas específicas para agricultura
familiar (FAO; Incra, 1994). Já o sexto se posiciona no plano político, pois, de um lado, a ampla
associação de representantes sindicais do campo aos partidos de esquerda, especialmente ao
Partido dos Trabalhadores (PT), e, de outro lado, o aumento dos discursos internos do governo
federal à época legitimaram a atenção da agenda pública para ações que fosse capaz de atender
as particularidades da agricultura familiar brasileira (Fossá, 2021).
O sétimo elemento está relacionado à política neoliberal do governo federal do então
presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Por meio de suas premissas,
compreendeu a necessidade de uma ação efetiva do Estado brasileiro para correção das “falhas
de mercado”, principalmente quanto à inclusão produtiva e o combate à fome e à pobreza no
meio rural (Sabourin, 2017). Em síntese, os elementos mencionados, conjuntamente, deram as
condições, em 1994, para o estabelecimento do Programa de Valorização da Pequena Produção
(Provape), que, nos termos de Bianchini (2015), foi uma espécie de “embrião” do Pronaf.
Nesse sentido, retoma-se a importância histórica do Provape, uma vez que possibilitou as
bases operacionais e normativas do Pronaf, estabelecido no ano de 1996. Em complemento,
Schneider, Cazella e Mattei (2021) afirmam que, apesar dos resultados do Provape não terem
sido expressivos, a importância do programa se coloca no fato de possibilitar as condições para
construção de uma política pública adequada ao segmento da agricultura familiar.
O Pronaf, estabelecido a partir do Decreto Presidencial n. 1.946, de 28 julho de 1996, direcionou
as suas ações estratégicas em quatro linhas de financiamentos, a saber: i) financiamento à
produção; ii) financiamento para infraestruturas e serviços municipais; iii) treinamento e
profissionalização; e iv) financiamento de pesquisa e extensão para desenvolver e transferir
tecnologia aos agricultores (Eusébio; Maia; Silveira, 2020). Em um dos primeiros estudos
publicados sobre o programa, Carneiro (1997) aponta que, a partir do Pronaf, os agricultores
familiares passam a ter acesso a linhas de financiamento com melhores taxas de juros, com
prazos maiores, subsídios e condições de pagamento adequadas à realidade da agricultura
familiar.
A criação do Pronaf é considerada um marco histórico na relação do Estado brasileiro em
atenção à agricultura familiar, bem como a legitimação e reconhecimento de que o segmento
demanda políticas públicas diferenciadas (Souza et al., 2013; Mattei, 2014; Bianchini, 2015;
Schneider; Cazella; Mattei, 2021). Entretanto, segundo Aquino e Schneider (2015, p. 58): “O
governo elegeu o financiamento da produção, ou melhor, o Pronaf-Crédito como principal
instrumento a ser utilizado para promover um novo padrão de desenvolvimento sustentável
no campo”.

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Fossá et al. (2024)

Os critérios iniciais para acesso ao programa, de acordo do Decreto 1.946/1996, constituíram-


se em: i) possuir, pelo menos, 80% da renda familiar originária da atividade agropecuária; ii)
deter ou explorar estabelecimentos com área de até quatro módulos fiscais; iii) explorar a terra
na condição de proprietário, meeiro, parceiro ou arrendatário; e iv) utilizar mão de obra de
predominância familiar, podendo manter até dois empregados permanentes (Brasil, 1996). É
importante ressaltar que tais critérios vieram a ser a base para enquadramento no segmento
da agricultura familiar nos termos da Lei n. 11.326/2006.
Já nos primeiros anos do Pronaf, aparece a principal marca de toda sua trajetória, ou seja, o
direcionamento da maior parte dos recursos para região Sul do país (Fossá, 2021). De acordo
com Mattei (2015), apesar das alterações no sentido de inclusão de um contingente maior no
programa e a redução das taxas de juros, entre 1996 e 1999 mais de 70,0% dos recursos foram
destinados aos três estados sulistas.
Em 1999, a partir da Resolução do Banco Central do Brasil (Bacen) n. 2.629, foram criadas seis
categorias com objetivo de diferenciar e incluir, especialmente, públicos mais vulneráveis do
interior da agricultura familiar no público-alvo do programa (Brasil, 1999). Apesar disso, a
dependência de trajetória continuou direcionando a maior parte dos recursos para aqueles
agricultores com maior nível de capitalização (Mattei, 2015). Ainda, em 1999, com a
institucionalização do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Pronaf ganha mais
legitimidade quanto aos interesses da categoria (Fossá, 2021).
No ano de 2003, o Pronaf-Infraestrutura, que atuava no âmbito dos municípios, é vinculado à
então Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), sob a nomenclatura de Programa
Nacional de Desenvolvimento dos Territórios Sustentáveis (Pronat). Além disso, no mesmo
ano, no Plano Safra 2003/2004, ocorreu a criação de novas linhas de financiamento com fins e
públicos específicos no interior da agricultura familiar3 (Brasil, 2003).
Na primeira década do século XXI, ao menos três aspectos são fundamentais para
compreender a dinâmica do programa. O primeiro foi a publicação da Resolução n. 2.766/2000
do Banco Central, que garantiu melhores condições nos prazos de pagamentos e redução das
taxas de juros, que, por sua vez, contribuiu para expansão do Pronaf para demais regiões do
país, bem como no que se refere ao volume de recursos aportados (Mattei, 2015).
O segundo aspecto está relacionado ao crescimento significativo do sistema bancário
brasileiro, em termos geográficos, e nas operações do Pronaf. Para Fossá (2021), tal crescimento
se dá via Banco do Brasil e, principalmente, por meio de cooperativas de crédito rural, que,
após sua consolidação nas regiões Sul e Sudeste, se expandem para as demais regiões
brasileiras.
O terceiro aspecto está relacionado ao estabelecimento do Pronaf Mais Alimentos, que teve por
objetivo financiar investimentos em infraestrutura produtiva da propriedade familiar e,
consequentemente, criar e/ou ampliar as condições necessárias para o aumento da produção
e da produtividade no Brasil (Camara et al., 2020). Entretanto, em uma perspectiva crítica, a
linha do Mais Alimentos reforçou um novo quadro de modernização desigual no interior da
agricultura familiar, concentrando suas operações e recursos principalmente nos agricultores
familiares consolidados das regiões Sul e Sudeste do país (Aquino; Schneider, 2015).
Nos anos posteriores, o Pronaf seguiu sua lógica institucional, centrando a maior parte dos
contratos e recursos à especialização produtiva, monocultura de cultivos vinculados às cadeias

3
i) Pronaf Alimentos; ii) Pronaf Pesca; iii) Pronaf Agroecologia; iv) Pronaf Turismo Rural; iv) Pronaf Mulher; v) Pronaf
Jovem Rural; vi) Pronaf Semiárido; vii) Pronaf Máquinas e equipamentos.

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FORTALECENDO O QUÊ? O PRONAF NA CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CANGUÇU/RS)

do agronegócio brasileiro (Wesz Junior, 2021). Além disso, o registro das operações totais do
Pronaf entre 2013 e 2022 tiveram uma redução de 29,5%, enquanto os recursos aumentaram
41,5% no mesmo período, o que demonstra as controversas da política pública (Fossá et al.,
2024).
Em termos de inovação, é somente no ano de 2018 que o programa, por meio da linha de
financiamento Pronaf Eco (atualmente Pronaf Bioeconomia), passa a financiar equipamentos
de captação de energia solar (Fossá et al., 2023a). Apesar disso, o desempenho das chamadas
linhas “verdes” – Agroecologia, Floresta e Bioeconomia – do Pronaf são extremamente
restritivas tanto em termos de número de contratos como de recursos no comparativo com o
total do programa (Aquino; Gazolla; Schneider, 2021; Fossá et al., 2023a).
Em 2019, no âmbito do Plano Safra 2019/2020, o governo federal lançou o Pronaf Habitação,
linha de crédito específica à habitação para o segmento da agricultura familiar brasileira.
Entretanto, em estudo sobre uma localidade do Sul do país, Fossá et al. (2023b) consideram que
a demanda habitacional é uma realidade complexa e a problemática em questão requer uma
amplitude e possibilidades que não foram dispostas no âmbito do Pronaf Habitação. Desde o
Plano Safra 2019/2020 o financiamento das moradias rurais está vinculado ao crédito de
investimento do programa.
Conforme o Plano Safra da Agricultura Familiar 2023/2024, o Pronaf contempla os seguintes
subprogramas: i) Pronaf Custeio; ii) Pronaf Agroindústria; iii) Pronaf Mulher; iv) Pronaf ABC+
Agroecologia; v) Pronaf ABC+ Bioeconomia; vi) Pronaf Mais Alimentos; vii) Pronaf Jovem;
viii) Pronaf Microcrédito (Grupo “B”); ix) Pronaf Cotas-Partes (Brasil, 2023b).
As normas operativas, bem como as condições de pagamento, variam conforme as
modalidades e finalidades. A título de exemplo, o Pronaf Custeio, de acordo com o referido
documento, varia entre 5,0% e 4,0% ao ano (Brasil, 2023b). Além disso, algumas linhas, como
o Pronaf Mulher e o Microcrédito, em termos de taxa de juros, são operacionalizadas em
patamares inferiores, em que, no Plano Safra 2024/2025, está sendo praticada em 0,5% ao ano.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa possui abordagem quantitativa. O método quantitativo é aquele que se dá de forma
descritiva, objetiva, sistemática, a partir de um conjunto de informações de dados e
informações (Marconi; Lakatos, 2022). A técnica de coleta de dados utilizada foi a de dados
secundários. Foram coletados dados relacionados ao crédito rural junto ao sítio oficial do
Banco Central do Brasil, através da plataforma Matriz de Dados do Crédito Rural (MCR). A
série histórica analisada compreende os anos de 2013 a 2023.
Além dos dados secundários coletados, visando fortalecer o processo analítico e complementar
algumas informações, foram consultadas informações junto ao sítio oficial do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a saber: o Censo Agropecuário de 2017, da
Produção Agrícola Municipal (PAM) e da Produção Pecuária Municipal (PPM). Os dados
foram organizados e tabulados por meio do Microsoft Excel 2016 e a análise se deu a partir de
estatística descritiva. Para sintetizar, descrever e apresentar os resultados da pesquisa, os
dados foram organizados a partir das seguintes variáveis: número de contratos, montante de
recursos acessados4, valores médios e distribuição entre as finalidades, comparativamente à
evolução no Rio Grande do Sul e do país. Além disso, analisou-se a destinação dos recursos

4
As variáveis relacionadas ao montante de recursos financeiros foram deflacionadas para o ano de 2023 a partir do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

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Fossá et al. (2024)

entre os principais cultivos financiados pelo custeio e pelo investimento, tanto para a produção
pecuária como para a produção agrícola.

CARACTERÍSTICAS DA AGRICULTURA FAMILIAR EM CANGUÇU/RS


As características da agricultura familiar serão apresentadas a partir das informações do Censo
Agropecuário de 2017. Entre os estabelecimentos rurais, 6.691 dos 8.075 totais do município se
enquadram na agricultura familiar, conforme a Lei n. 11.326/2006, o que, por sua vez,
representa 82,9%. Em complemento, 63,8% dos estabelecimentos familiares possuíam até 20
hectares (há) e quando alteramos a métrica para 50 ha, este percentual é de 96,2% (IBGE, 2017).
Em relação ao sexo do produtor, entre aqueles participantes do levantamento censitário, 5.979
(89,4% do total) eram do sexo masculino e 712 (10,6% do total) do sexo feminino. Ao se
considerar o conjunto de toda a agropecuária canguçuense, o indicador masculino decresce
para 87,3%. Em relação à faixa etária, 20,5% possuíam acima de 65 anos, 50,7% entre 35 anos e
menos de 65 anos, e 28,8% até 35 anos (IBGE, 2017). A variável idade revela a problemática do
envelhecimento rural ao mesmo tempo que demonstra a complexidade dos processos
sucessórios na agricultura familiar (Moreira; Spanevello, 2019).

Figura 1: Mapa do município de Canguçu/RS

Fonte: Elaboração dos autores, a partir de IBGE (2022).

No que se refere à cor/raça, 6.306 (94,2% do total) se autodeclararam brancos, 272 (4,1% do
total) pretos e 113 (1,7% do total) pardos ou amarelos (IBGE, 2017). Quanto à escolaridade dos
agricultores familiares participantes do Censo Agropecuário de 2017, 332 (5% do total)

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FORTALECENDO O QUÊ? O PRONAF NA CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CANGUÇU/RS)

afirmaram nunca terem frequentado a escola, 5.970 (89,2% do total) responderam possuir o
ensino fundamental completo ou incompleto, 317 (4,7% do total) ensino médio completo ou
incompleto e apenas 72 (1,1% do total) assinalaram possuir ensino superior completo (IBGE,
2017).
O pessoal ocupado na agropecuária em Canguçu registra o total de 21.284 pessoas, em que a
agricultura familiar é responsável por 82% deste valor, ou seja, 17.462 postos de trabalho
(IBGE, 2017). A participação da agricultura familiar no município é superior ao índice
manifestado tanto no Rio Grande do Sul, como em todo o país, que apresentaram, no ano de
2017, respectivamente, 72,2% e 67% das pessoas ocupadas no rural brasileiro.
A participação feminina nos postos de trabalho no município também alcança destaque
quando comparada ao estado do Rio Grande do Sul e do país. As mulheres representaram em
Canguçu 43% das 17.462 ocupações laborais na agricultura familiar, o que, em números
absolutos, significou 7.513 postos (IBGE, 2017). Comparativamente, em nível nacional, o
percentual feminino nos postos de trabalho na agricultura familiar representou 32,8%,
enquanto no Rio Grande do Sul foi de 38,1%.
Outro aspecto relacionado à agricultura familiar no município analisado está associado ao alto
grau de laços de parentescos do pessoal ocupado. Nesta condição, 94,5% (16.505) das
ocupações em Canguçu foram de pessoas com algum tipo de parentesco com o produtor rural
participante do último Censo Agropecuário (IBGE, 2017).
No que tange à orientação técnica, entre os estabelecimentos rurais de Canguçu, o total de 3.050
(45,6% do total) afirmou receber de alguma forma (IBGE, 2017). Entre aqueles agricultores que
recebem a orientação técnica, para 81,4% (2.843 estabelecimentos rurais) a origem está em
empresas integradoras ou privadas, enquanto 15% (456 estabelecimentos rurais) das esferas
governamentais, e para 3,6% (111 estabelecimentos rurais) a origem se dá por meio de outras
instituições ou organizações.
Em relação ao valor da produção, os dados do Censo Agropecuário de 2017 demonstram que
o município de Canguçu registrou, naquele ano, o montante de R$ 660,1 milhões. A agricultura
familiar, por sua vez, foi responsável por R$ 388,9 milhões, o que representou 58,9% do total.
Os valores financeiros foram deflacionados para o ano de 2023, conforme procedimento
descrito na próxima seção.

O QUE O PRONAF ESTÁ FORTALECENDO NA CAPITAL NACIONAL DA


AGRICULTURA FAMILIAR?
No período entre 2013 e 2023, foram registrados o total de 24.341 contratos do Pronaf no
município de Canguçu, o que resulta em um valor médio anual de 2.213 operações (Brasil,
2024). Em comparação com o total de estabelecimentos rurais da localidade que, de acordo
com o Censo Agropecuário de 2017, possuía 6.691 unidades enquadradas na categoria da
agricultura familiar, o programa Pronaf, nos últimos 11 anos, está atendendo
aproximadamente apenas um terço do segmento no município (IBGE, 2017)5.
Os dados demonstram uma expressiva redução no número de contratos totais, os quais
passaram de 5.597 em 2013 para 2.878 em 2023, o que significou uma queda de 48,6% no
período. Os contratos de investimentos foram os que mais tiveram restrição, pois, no

5
Para cobertura exata é necessária a comparação a partir do Cadastro de Pessoa Física (CPF). Tal metodologia pode ser
consultada em Capellesso, Cazella e Búrigo (2018).

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Fossá et al. (2024)

comparativo entre 2013/2023, reduziram 70,3%. Já as operações de custeio apresentaram um


menor nível de retração, passando de 2.761 em 2013 para 2.035, o que representou 26,3%
(Brasil, 2024).

Gráfico 1: Número de contratos do Pronaf no município de Canguçu/RS, no período entre


2013 e 2023

Fonte: Elaboração dos autores, a partir do Banco Central do Brasil (Brasil, 2024).

A expressiva diminuição das operações de investimento merece ao menos três considerações


fundamentais quanto à compreensão dos efeitos desta condição na realidade local. O primeiro
coaduna com a contribuição de Gomes e Mello (2020) que, em pesquisa na mesma
municipalidade, afirmaram a importância dos créditos de investimento para estruturação das
atividades produtivas, assim como para a economia local. A concentração em um menor
número de operações demonstra a seletividade e marginalização sistemática na trajetória da
política pública do Pronaf.
A segunda consideração, acerca da falta de investimento, é que, ao longo dos anos, torna
vulnerável sua capacidade produtiva, níveis tecnológicos e os rendimentos advindos de suas
atividades. Já a terceira consideração decorre em função da questão anterior e consiste no fato
de que um número menor de famílias que realizam os investimentos em suas propriedades
pode significar a exclusão produtiva, abandono das atividades, isto porque, nos termos de
Sousa e Niederle (2021), o Pronaf é uma política pública capaz de promover a inclusão
produtiva de agricultores familiares.
A redução do número de contratos não é uma especificidade do município da região Sul do
estado gaúcho, mas sim um aspecto institucional do Pronaf que se coloca em todo o território
nacional. Baccarin e Oliveira (2021) e mais recentemente Fossá et al. (2024) demonstram a
significativa redução do número de contratos do Pronaf em nível nacional, pois, segundos os
autores, somente entre os anos de 2013 e 2022 o programa reduziu em 29,5% suas operações,
passando de aproximadamente R$ 2 milhões de operações para R$ 1,4 milhões no comparativo
2013/2022.

Revista de Economia e Agronegócio - REA | V. 22 | N. 1 | 2024 | pág. 9


FORTALECENDO O QUÊ? O PRONAF NA CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CANGUÇU/RS)

No que se refere ao montante de recursos, ocorre um processo inverso, ou seja, expressivo


aumento dos recursos no período analisado. Entre 2013 e 2023, a agricultura familiar
canguçuense acessou R$ 993 milhões em financiamentos via Pronaf, o que resulta em uma
média anual de aproximadamente R$ 90,2 milhões (Brasil, 2024). O crescimento dos valores
financiados aumentou 79,1%, passando de R$ 75,3 milhões em 2013 para R$ 134,9 milhões em
2023, conforme o Gráfico 2.

Gráfico 2: Montante de recursos acessados via Pronaf no município de Canguçu/RS, no


período entre 2013 e 2023

Fonte: Elaboração dos autores, a partir do Banco Central do Brasil (Brasil, 2024).

O crédito de custeio – financiamento a itens de custeio relacionados à atividade agrícola ou


pecuária – foi aquele que mais apresentou crescimento. Em termos relativos, a evolução foi de
198,4%, o que, por sua vez, revela as significativas elevações dos custos de produção nas
atividades agropecuárias no país e, consequentemente, no município. Lizot et al. (2024)
indicam que somente entre 2017 e 2021 ocorreu um incremento nos custos de aquisição de
insumos agropecuários de 39,5% em estabelecimentos familiares da região Sul do Brasil.
Já os créditos de investimento, via Pronaf, tiveram crescimento de 19,6%, entre 2013 e 2023 –
mesmo com a redução de 70,3% do número de contratos –, os quais variaram de R$ 50,2
milhões para R$ 60 milhões no comparativo 2013/2023 (Brasil, 2024). O cenário, inferior nos
investimentos, indica a necessidade constante de inversões financeiras no modelo familiar,
especialmente quanto à mecanização e tecnologia, isto porque a linha de investimento vincula-
se a este propósito, ou seja, de ampliação e modernização da estrutura produtiva (Vilagram;
Troian; Maciel, 2023).
Ressalta-se que, conforme os dados da MCR, não houve nenhum acesso aos financiamentos de
crédito nas finalidades de comercialização e industrialização. Além disso, a dinâmica do
programa é significativamente restrita em termos diversificação das linhas destinadas à
produção sustentável e ao fortalecimento de públicos marginalizados no interior do segmento.

Revista de Economia e Agronegócio - REA | V. 22 | N. 1 | 2024 | pág. 10


Fossá et al. (2024)

Isso porquê, somente 2,3% dos recursos foram destinados ao todo a subprogramas como o
Pronaf Agroecologia, o Pronaf Mulher e aos beneficiários da reforma agrária (Brasil, 2024).
Ao cruzarmos as variáveis do número de contratos com o montante de recursos acessados via
Pronaf em Canguçu, revela-se por mais este ângulo o perfil de agricultura no interior da
agricultura familiar que o programa está fortalecendo, especialmente acerca da restrição de
sua cobertura e capacidade de produção. O valor médio dos contratos totais do programa
aumentou 348,4% entre 2013 e 2023. Entre as finalidades, a evolução do valor médio referente
ao crédito de custeio foi de 404,9%, enquanto a linha de investimento o incremento relativo foi
de 402,2% (Brasil, 2024).
Em termos comparativos, o valor médio das operações em esfera nacional no ano de 2023
registrou R$ 23.5 mil, enquanto no município de Canguçu foi de R$ 46,8 mil, conforme os dados
da MCR (Brasil, 2024). Em termos regionais, Fossá e Troian (2024), em análise nas regiões
gaúchas da Campanha e Fronteira Oeste, identificaram para o mesmo ano de 2023 um valor
médio das operações de R$ 72,8 mil para o conjunto dos 20 municípios pertencentes às duas
regiões. Em consequência a esse processo, fortalece-se a lógica estrutural do programa já
relatada em muitos estudos sobre a realidade do programa no país e no estado do Rio Grande
do Sul (Troian; Machado, 2020; Wesz Junior, 2021; Conterato; Bráz; Rodrigues, 2021; Viana et
al., 2021; Dalcin; Hartmann, 2021; Toledo; Zonin, 2021).

Tabela 1: Valor médio dos contratos do Pronaf entre 2013 e 2023 no município de Canguçu/RS

Ano Custeio Investimento Total


2013 9.089 17.718 13.461
2014 9.892 48.497 21.226
2015 11.087 41.994 20.467
2016 11.598 43.566 18.776
2017 13.777 52.683 24.594
2018 17.457 48.295 27.148
2019 18.252 52.571 28.374
2020 20.903 52.655 28.675
2021 29.386 65.213 40.346
2022 40.238 71.884 50.609
2023 36.798 71.263 46.893
Var (%) 404,9 402,2 348,4
Fonte: Elaboração dos autores, a partir do Banco Central do Brasil (Brasil, 2024).

A análise, quanto à destinação dos recursos entre os cultivos em Canguçu, constitui-se sobre o
montante de recursos nas modalidades de custeio e investimento. O crédito de custeio, no
período analisado, teve o acesso de R$ 462,2 milhões, assumindo como principal característica
a concentração dos recursos em poucas culturas, isso porque apenas cinco culturas
acumularam R$ 457,5 milhões, representando 99% do total (Brasil, 2024).

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FORTALECENDO O QUÊ? O PRONAF NA CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CANGUÇU/RS)

A soja foi o cultivo que mais acessou recursos em Canguçu, entre 2013 e 2020, foram
financiados R$ 272,4 milhões, o que representa 58,9% do total do crédito de custeio no
município. O montante acessado pela leguminosa passou de R$ 6,3 milhões, em 2013, para R$
51,9 milhões no ano de 2023, o que significa evolução de 719,8% no comparativo 2013/2023. A
expansão da soja no município também pode ser observada a partir dos dados da Produção
Agrícola Municipal (PAM), o qual teve crescimento da área plantada de 20 mil hectares, em
2013, para 52 mil hectares em 2022, crescimento de 160%, e da quantidade produzida de 48 mil
toneladas para 118.560 toneladas, evolução de 147,0% no mesmo período (IBGE, 2023).

Gráfico 3: As cinco principais atividades agrícolas/pecuárias acessadas em termos de recursos


via Pronaf no município de Canguçu/RS, no período entre 2013 e 2023

Fonte: Elaboração dos autores, a partir do Banco Central do Brasil (Brasil, 2024).

O segundo cultivo com maior acesso aos recursos do Pronaf é o milho, que atingiu R$ 143,9
milhões (31% do total), no período entre 2013 e 2023. Apesar da expressiva participação do
grão no conjunto da série histórica, o valor acessado anualmente em recursos de financiamento
teve redução de 46,6% no comparativo 2013/2022. O milho é uma cultura fundamental no
âmbito dos estabelecimentos da agricultura familiar, tanto em termos de alimentação dos
animais como no que se refere à comercialização do produto (Neves et al., 2021).
O financiamento de custeio à pecuária de bovinos foi o terceiro colocado em termos de acesso
aos recursos do Pronaf em Canguçu. Ao todo foram R$ 31,5 milhões (6,8% do total), com
destaque para os anos compreendidos entre 2021 e 2023, que responderam por 74,9% da
contratação total do período de 2013 a 2023 (Brasil, 2024). A pecuária é uma das atividades
mais representativas economicamente da região Sul do estado do Rio Grande do Sul e
historicamente inserida na agricultura familiar do estado (Moreira; Conterato; Matte, 2019;
Silva; Viana, 2020).

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Fossá et al. (2024)

Na sequência, posiciona-se o pêssego, fruta de cultivo tradicional no município, assim como


em vários municípios da região Sul do Rio Grande do Sul (Konzgen; Salamoni, 2017). O
pêssego teve financiamento de R$ 6,8 milhões (1,5% do total), passando de R$ 595,4 mil, em
2013, para R$ 715,9 mi,l em 2023, evolução relativa de 20,2% no período. O quinto cultivo com
maior acesso de recursos em Canguçu via custeio do Pronaf foi o trigo, com 0,8% do total (R$
3,5 milhões), contudo, só houve registros das operações nos anos de 2020, 2022 e 2023.
Em relação ao crédito de investimento, o montante acessado no período em análise foi de R$
530,8 milhões, em que as cinco principais modalidades acessaram 94,9% desse valor, ou seja,
R$ 503,5 milhões, conforme apresentado na Tabela 2. A concentração em tais modalidades
reflete o perfil e as características da agricultura municipal, ao mesmo tempo que expressam o
potencial e importância socioeconômica do segmento familiar.

Tabela 2: Montante de recursos das principais modalidades de investimentos, entre 2013 e


2023, no município de Canguçu/RS
Modalidade de
Valor – milhões de reais (%)
Investimento
Tratores e Outros Veículos 234.445.561 44,2
Máquinas e Equipamentos 168.334.608 31,7
Infraestrutura e Instalações 65.923.461 12,4
Bovinos 19.892.106 3,7
Residências Rurais 14.976.130 2,8
Subtotal (05 modalidades) 503.571.866 94,9
Total 530.814.985 100,0
Fonte: Elaboração dos autores, a partir do Banco Central do Brasil (Brasil, 2024).

A modalidade de investimento de tratores e outros veículos foi aquela que concentrou


recursos, a qual registrou R$ 234,4 milhões (44,2% do total). Na sequência, aparece o item
máquinas e equipamentos, com R$ 168,3 milhões (31,7% do total). Somados, estas duas
modalidades representam 75,9% dos recursos de investimentos em Canguçu, o que agrega ao
nível de mecanização na localidade e, por consequência, fortalece as estruturas produtivas do
segmento familiar.
Na terceira posição, em termos de recursos de investimentos, posiciona-se a modalidade de
infraestrutura e instalações, a qual captou R$ 65,9 milhões (12,4% do total). Tais investimentos
representam o aporte estruturante das propriedades rurais familiares por meio de espaços
como depósitos, silos, armazéns e galpões. Ainda entre as cinco principais modalidades
constam bovinos, que em geral representa a compra de animais, com 3,7% do total de recursos,
e residências rurais, com 2,8% em relação ao montante de recursos destinados ao investimento
(Brasil, 2024).
A modalidade de energia renovável merece o devido destaque no que se refere aos recursos
do programa no município. A partir de 2018, foram acessados R$ 7,8 milhões em
financiamentos (1,5% do total), representando aproximadamente uma média anual de R$ 1,3
milhões (Brasil, 2024). Para Fossá et al. (2023a), o financiamento dos equipamentos de captação
de energia solar é o principal item no âmbito das linhas “verdes” do Pronaf.

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FORTALECENDO O QUÊ? O PRONAF NA CAPITAL NACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CANGUÇU/RS)

Os resultados acerca da distribuição dos recursos Pronaf analisados no município de Canguçu,


Capital Nacional da Agricultura Familiar, reafirmam a trajetória do Pronaf em nível nacional.
Isto porque se mantém o foco na especialização produtiva, na monocultura e na integração
com as grandes cadeias produtivas do agronegócio brasileiro (Aquino; Schneider, 2015; Wesz
Junior, 2021; Toledo; Zonin, 2021).
O Pampa Gaúcho vem sofrendo com a inserção da agricultura moderna, pautada em pacotes
tecnológicos que vai de encontro ao sistema tradicional de criação pecuária, praticado à base
de campo nativo, em que o sistema pecuário está sendo substituído pelo cultivo de grãos
(Delanoy; Viana; Troian, 2020). Beling, Cancelier e Flores (2022) destacam que as
transformações no espaço rural do Bioma Pampa no Rio Grande do Sul são notórias,
sobretudo, pela modernização tecnológica da agricultura que tem provocado mudanças na
produção, no trabalho e na forma de vida dos sujeitos do campo. O avanço da agricultura
moderna tem gerado perda da biodiversidade, das características e das especificidades da
população pampeana, acarretando transformações na paisagem, visíveis, principalmente pela
diminuição das atividades pastoris e dos demais elementos que, tradicional e culturalmente,
estavam presentes neste espaço.
O avanço da soja no Pampa, além de toda a cadeia de desequilíbrios resultante da expansão
desse modelo produtivo, causa alterações ao modo de vida de agricultores e dos pecuaristas
familiares locais. Dentre os fatores que alteram o modo de vida no território pode-se citar
esvaziamento demográfico, concentração de terras em poucos proprietários, êxodo rural,
perdas sociais e culturais, degradação ambiental, substituição do modo de vida tradicional,
dentre outros efeitos nocivos ao território (Matei; Filippi, 2012; Delanoy; Viana; Troian, 2020;
Maia; Troian, 2020).
Os números do Pampa são preocupantes, dado que se observa uma elevação de 27,2% na área
desmatada de 2021 para 2022. O cenário projeta para o futuro a expectativa de que o
desmatamento aumentará de forma crescente. Como consequência, a conversão das terras do
Bioma Pampa, aliada a outros fatores climáticos desordenados, têm contribuído para as
mudanças no clima e para o aquecimento global (MAPBIOMAS, 2023).
Os resultados do presente estudo corroboram com esta perspectiva, pois evidencia que a
principal política pública de fortalecimento da agricultura familiar no decorrer dos últimos
anos está fomentando, via crédito rural, a monocultura, a especialização produtiva e a
produção de commodities no município de Canguçu.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar está fortalecendo na
Capital Nacional da Agricultura Familiar? O programa, criado em meados dos anos 1990, após
uma série de articulações e mobilizações sociais, está financiando o monocultivo da soja, uma
commodity agrícola.
A agricultura familiar tanto nos municípios da região Sul do estado do Rio Grande do Sul,
como especificamente em Canguçu, demarca historicamente seu processo de ocupação por
meio da chegada de imigrantes europeus a partir do século XIX. O total de 6.691
estabelecimentos enquadrados na agricultura familiar (82,8% do total) no Censo Agropecuário
de 2017 legitima a validade de estudos que possam compreender o desempenho da principal
política pública de fortalecimento da agricultura familiar.

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Fossá et al. (2024)

Ao considerar a importância do Pronaf ao segmento da agricultura familiar, retoma-se o papel


do crédito rural na viabilização e ampliação da produção agropecuária, a partir do aporte de
recursos financeiros. A esse respeito, destacam-se as particularidades desse acesso por parte
da categoria familiar que levaram ao estabelecimento desta política pública no ano de 1996.
Os resultados da presente pesquisa apontam para uma trajetória de desempenho em Canguçu
que, em linhas gerais, segue a institucionalidade nas operações do programa em nível nacional.
O número de contratos totais apresentou redução de 48,6% no período, em que aqueles
destinados à finalidade de investimento tiveram restrição ainda mais expressiva, alcançando,
no comparativo entre 2013/2023, 70,3%.
Os recursos, no período em análise, aumentaram 79,1% e apresentaram um valor médio anual
de R$ 90,2 milhões. Em consequência, o valor médio das operações registrou 348,4% de
crescimento, o que evidencia a necessidade ao longo dos anos de maiores montantes de
recursos para viabilização das atividades produtivas.
A concentração dos recursos em poucos cultivos se coloca como uma condição exógena que
marca fortemente a distribuição dos recursos, especialmente de custeio no município. Apenas
cinco culturas captaram 99% dos recursos destinados ao custeio, o que, de certa forma,
descaracteriza a diversidade produtiva no interior da agricultura familiar no município, ao
mesmo tempo que incentiva a passos largos a especialização produtiva e a monocultura
vinculadas às cadeias do agronegócio.
A alteração dessa trajetória, em termos de desempenho da política pública, não é algo simples,
pois assume uma complexidade extraordinária plenamente colocada em todo sistema de
crédito rural no país. Apesar disso, algumas ações sugeridas a este respeito podem ser
sintetizadas em pelo menos cinco perspectivas: i) ampliação da cobertura em termos de
número de famílias atendidas pelo programa; ii) incentivo à diversificação produtiva de
acordo com as potencialidades locais; iii) garantia de recursos mínimos destinados a modelos
sustentáveis de agricultura; iv) fortalecimento das linhas de crédito destinadas a públicos com
maior vulnerabilidade no interior da agricultura familiar; e v) retomada da participação social
na avaliação e rumos da política pública do Pronaf.
Desse modo, ressalta-se a importância dos resultados apresentados aqui, pois contribuem para
compreensão do desempenho da principal política pública destinada à agricultura familiar em
um município cuja predominância do rural no tecido social está alicerçado nessa forma de
organização. A importância da agricultura familiar no desenvolvimento socioeconômico de
Canguçu e do papel do Pronaf nesse processo chama a atenção para a necessidade de realizar
mais estudos com esse tipo de levantamento, bem como para a necessidade de utilizar outras
lentes para descortinar diferentes questões relacionadas à agricultura familiar no município.

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