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Inter-relação da doença periodontal e a leucemia

1
Larissa Silva MORENO
2
Maryane Dias MAFFEI
3
Thais Uenoyama DEZEM

Resumo

Introdução: O biofilme dental, composto por uma variedade de


microrganismos, é amplamente reconhecido como o principal agente causador
da doença periodontal. No entanto, em pacientes com leucemia, esse biofilme
atua como um coadjuvante, exacerbando a resposta do sistema imunológico.
Os microrganismos presentes no biofilme desencadeiam uma resposta
inflamatória que pode deteriorar os tecidos que sustentam os dentes. Em
indivíduos com leucemia, essa resposta inflamatória tende a ser mais intensa
devido à disfunção imunológica. O tratamento periodontal em pacientes com
leucemia deve ir além da raspagem e alisamento, incorporando probióticos e
antissépticos para manter o equilíbrio oral e prevenir disbiose. Promover a
higiene oral adequada e realizar monitoramentos regulares são essenciais para
minimizar complicações e melhorar a qualidade de vida. Integrar cuidados
dentários com o tratamento médico oferece um suporte completo à saúde dos
pacientes durante o tratamento oncológico. Objetivo: Este estudo visa
destacar a relação entre doença periodontal e leucemia através de uma revisão
integrativa da literatura, fornecendo ao cirurgião-dentista ferramentas para uma
abordagem mais eficaz nos tratamentos odontológicos, permitindo uma
identificação mais precisa das causas dos sintomas e promovendo uma melhor
qualidade de vida para o paciente. Materiais e Métodos: Foi realizada uma
pesquisa bibliográfica utilizando bases de dados eletrônicas como a National
Library of Medicine (PUBMED. A estratégia de busca incluirá descritores como
“doenças periodontais”, “leucemia” e “gengivite”. Os critérios de inclusão
abrangerão artigos publicados entre 2014 e 2024, livros com revisões recentes,
publicações em inglês ou português, e artigos disponíveis online.
Considerações finais: Há uma relação significativa entre doença periodontal e
leucemia, e é essencial cuidar dessa interseção com atenção integrada. É
crucial adotar estratégias preventivas e terapêuticas que mantenham a saúde
oral e auxiliem no diagnóstico precoce, assegurando um manejo eficaz das
complicações associadas.

Palavras-chaves: Periodontite. Gengivite. Leucemia.

Interrelation between periodontal disease and leucemia

Abstract

Introduction: Dental biofilm, composed of a variety of microorganisms, is


widely recognized as the main causative agent of periodontal disease.
However, in patients with leukemia, this biofilm acts as an adjunct, exacerbating
the immune system's response. The microorganisms present in the biofilm
trigger an inflammatory response that can deteriorate the tissues supporting the
teeth. In individuals with leukemia, this inflammatory response tends to be more
intense due to immune dysfunction. Periodontal treatment in leukemia patients
should go beyond scaling and root planing, incorporating probiotics and
antiseptics to maintain oral balance and prevent dysbiosis. Promoting proper
oral hygiene and conducting regular monitoring are essential to minimize
complications and improve quality of life. Integrating dental care with medical
treatment provides comprehensive support to patients' health during oncological
treatment. Objective: This study aims to highlight the relationship between
periodontal disease and leukemia through an integrative literature review,
providing dentists with tools for a more effective approach in dental treatments,
allowing for a more precise identification of symptom causes and promoting
better quality of life for patients. Materials and Methods: A bibliographic search
was conducted using electronic databases such as the National Library of
Medicine (PUBMED). The search strategy included descriptors like “periodontal
diseases,” “leukemia,” and “gingivitis.” Inclusion criteria covered articles
published between 2014 and 2024, books with recent reviews, publications in
English or Portuguese, and articles available online. Final Considerations:
There is a significant relationship between periodontal disease and leukemia,
and it is essential to address this intersection with integrated attention. It is
crucial to adopt preventive and therapeutic strategies that maintain oral health
and assist in early diagnosis, ensuring effective management of associated
complications.

Keywords: Periodontitis. Gingivitis. Leukemia.

1 Introdução

As leucemias constituem um grupo de doenças neoplásicas que surgem


no sistema hematopoiético, sendo caracterizadas pela proliferação
descontrolada de células precursoras do sangue na medula óssea, o que
resulta em uma produção anormal de leucócitos (2, 4). Essas doenças ocorrem
mais frequentemente em homens do que em mulheres, e tipos específicos
demonstram prevalência em diferentes faixas etárias (17).

Em 2018, a leucemia foi classificada como o 15º tipo de câncer mais


diagnosticado e a 11ª principal causa de mortalidade globalmente. A taxa de
incidência padronizada por idade para homens foi de 6,1 por 100.000, em
comparação com 4,3 por 100.000 para mulheres. As leucemias são geralmente
divididas em subtipos baseados na linhagem celular (linfocítica ou mieloide) e
no estágio de maturação (aguda ou crônica) (17). Os fatores de risco mais
comumente associados à leucemia incluem exposição à radiação,
quimioterapia, histórico familiar, síndromes genéticas, exposições químicas e
tabagismo, enquanto as causas em pacientes pediátricos frequentemente
permanecem indefinidas (5, 12).

A leucemia linfocítica aguda (LLA) é caracterizada por uma proliferação


massiva de linfoblastos, o que diminui o número de células maduras circulantes
e pode levar à insuficiência da medula óssea. A forma mais comum, que afeta a
linhagem de células B, predomina em crianças e representa 80% dos casos de
leucemias infantis. Em crianças de 2 a 4 anos, a taxa de sobrevida global
supera 90%, enquanto em idades mais precoces essa taxa é inferior a 10%. O
envolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) por LLA é uma das principais
causas de mortalidade infantil, responsável por um terço das recidivas, sendo
em muitos casos subdiagnosticado e assintomático (12).

Os sintomas associados à leucemia incluem anemia, leucopenia e baixa


contagem de plaquetas, resultando em fadiga, infecções frequentes,
hematomas fáceis, petéquias, hemorragias nasais, sangramento gengival, além
de sintomas como perda de peso, glândulas inchadas e dores nos ossos (4,
10). Adicionalmente, a imunossupressão causada pela leucemia aumenta a
suscetibilidade a infecções, incluindo periodontais (3, 7). Pacientes com
leucemia frequentemente exibem manifestações orais, como gengivite e
periodontite, que são agravadas pela resposta inflamatória exacerbada devido
à disfunção imunológica, tornando essencial o diagnóstico e manejo precoces
dessas condições para melhorar a qualidade de vida e o prognóstico dos
pacientes (7, 14).

A relação entre doença periodontal e leucemia ressalta a importância de


uma abordagem multidisciplinar, integrando cuidados dentários ao tratamento
médico para mitigar complicações orais e sistêmicas (15).

2 Metodologia

Este estudo trata-se de uma revisão da literatura do tipo integrativa, foi


realizada realizada uma pesquisa bibliográfica consultando a base eletrônica
de dados National Library of Medicine (PubMed) utilizando a estratégia de
busca por meio dos Descritores em ciências da Saúde (DecS) e sinônimos
MeSH, organizados em lógica booleana: (leukemia [Title/Abstract]) AND
(gingivitis [Title/Abstract]) AND (periodontitis [Title/Abstract]).

Foram usados como critérios de inclusão: (1) artigoscientíficos


preferencialmente nos últimos 10 anos; (2) publicações em língua inglesa e
portuguesa; (3) artigos completos, no formato de textos gratuitos, disponíveis
para leitura; (4) revisão sistemática.
Como critérios de exclusão: artigos redigidos em outro idioma que não
os mencionados acima e aqueles cuja informações fornecidas pelo resumo não
se enquadram no assunto.

Para obtenção dos dados, foi realizado um formulário, elaborado pelos


pesquisadores, contendo informações como: autores, ano de publicação, tipo
de estudo, país, periódico, objetivo, população, amostra, conclusões.

A análise dos dados foi a seguinte forma: leitura, descrições dos dados e
contrição do quadro sinóptico, seguiu a leitura detalhada das publicações e
análise do conteúdo dos artigos, bem como será realizada a organização dos
mesmo, agrupando-os por semelhanças e organizando-os por categorias
temáticas.

3 Revisão de literatura

3.1 Doença Periodontal

A periodontite é uma doença inflamatória crônica multifatorial, associada


a biofilmes de placa disbiótica, que resulta na destruição progressiva do
aparelho de suporte dentário. As principais características incluem a perda de
suporte do tecido periodontal, manifestada por perda clínica de inserção e
perda óssea alveolar, bem como a presença de bolsas periodontais e
sangramento gengival (11, 17). Além disso, a periodontite pode estimular uma
resposta inflamatória sistêmica, o que tem implicações para a saúde geral,
incluindo possíveis associações com condições sistêmicas, como doenças
cardiovasculares e diabetes (11, 17).

A periodontite é considerada um problema significativo de saúde pública


devido à sua alta prevalência e impacto na qualidade de vida. Ela pode levar à
perda dentária, afetar a função mastigatória e estética, ser uma fonte de
desigualdade social e resultar em custos significativos de cuidados dentários
(11). O impacto negativo na saúde geral é uma preocupação crescente, com
evidências sugerindo que a periodontite pode contribuir para a inflamação
sistêmica e afetar condições como doenças cardiovasculares e resistência à
insulina (15).

O biofilme dentário é um dos múltiplos fatores que contribuem para a


doença periodontal. A manifestação e progressão da doença dependem das
defesas do hospedeiro, que podem ser moduladas por fatores sistêmicos.
Reduções no número ou no funcionamento de leucócitos polimorfonucleares,
por exemplo, podem aumentar a gravidade da destruição periodontal (2, 4).
Além disso, condições que afetam o sistema imunológico, como leucemia,
podem exacerbar a resposta inflamatória e acelerar a progressão da
periodontite (4, 6, 14).

A gestão eficaz da periodontite requer uma abordagem multidisciplinar,


integrando intervenções odontológicas com o tratamento de condições
sistêmicas associadas. Estratégias preventivas, incluindo higiene oral rigorosa
e manejo de fatores de risco sistêmicos, são essenciais para controlar a
progressão da doença e mitigar seus impactos na saúde geral (8, 10).

3.2 Correlação da doença periodontal com a leucemia

Estudos epidemiológicos apontam uma associação positiva entre a


periodontite crônica e a incidência de diversos tipos de câncer, incluindo
malignidades hematológicas como a leucemia (17). A leucemia é uma
malignidade hematológica que afeta o sangue, a medula óssea, o sistema
linfático e os tecidos linfoides, originando-se nas células dos sistemas
hematopoiético e linfóide. Essa condição pode interferir no funcionamento
normal das células sanguíneas, enfraquecer o sistema imunológico e
manifestar sintomas como fadiga, anemia, infecções frequentes e sangramento
anormal (14).

A saúde oral é frequentemente comprometida em pacientes com


leucemia, com manifestações como sangramento gengival, inchaço,
ulcerações, candidíase e outras condições, sugerindo que a leucemia pode
afetar a saúde periodontal de forma independente. A cavidade oral muitas
vezes exibe os primeiros sinais de doenças sistêmicas, podendo acelerar o
diagnóstico e oferecer uma oportunidade para tratamento precoce. As
manifestações orais associadas à leucemia incluem petéquias, sangramento
espontâneo, dor, hiperplasia gengival e palidez da mucosa, além de possíveis
disfunções das glândulas salivares e da articulação temporomandibular (14).

Pacientes com leucemia apresentam cicatrização prejudicada devido à


redução das defesas anti-inflamatórias, tornando-os mais suscetíveis a
infecções oportunistas virais, bacterianas secundárias ou candidíase. As
infecções podem ser exacerbadas por focos de infecção na cavidade oral,
como depósitos de placa bacteriana (13, 15). As manifestações periodontais da
leucemia, como gengivite, periodontite, mobilidade dentária e ulcerações,
variam conforme o tipo de leucemia, estágio da doença, idade dos pacientes e
fatores de risco adicionais. A resposta imune alterada e a disbiose microbiana
relacionada à doença periodontal podem estar associadas a um risco
aumentado de desenvolvimento de leucemia, afetando seu prognóstico (15).

A periodontite pode aumentar o risco de câncer através da liberação


crônica de mediadores inflamatórios ou da desregulação do sistema
imunológico. A má higiene bucal e o acúmulo de biofilme oral podem levar à
formação de compostos nitrogenados, influenciando a carcinogênese (11).
Alterações na saliva e diminuição do fluxo sanguíneo para a boca resultam em
sintomas como xerostomia, úlceras e lesões dolorosas. O tratamento
quimioterápico pode prejudicar diretamente a mucosa oral, destacando a
importância de estratégias preventivas e terapêuticas integradas para gerenciar
complicações orais em pacientes com leucemia (14).

3.3 Manifestações da leucemia no periodonto


As manifestações bucais em pacientes com leucemia, especialmente
durante tratamentos como quimioterapia e radioterapia, podem ser
significativas e impactar a qualidade de vida dos pacientes. Essas
complicações incluem mucosite, xerostomia, infecções orais e gengivite
necrosante, que são exacerbadas pelo comprometimento imunológico (4, 8). O
tratamento dessas condições requer um protocolo de cuidados odontológicos
abrangente, antes e durante o tratamento oncológico, para prevenir ou
minimizar as complicações orais (14, 15).

Os sinais clínicos comuns incluem petéquias, sangramento gengival


espontâneo, ulcerações, hiperplasia gengival e palidez da mucosa, que
frequentemente precedem outros sintomas sistêmicos. Essas manifestações
são agravadas por condições como trombocitopenia e neutropenia, que
aumentam a fragilidade da mucosa oral e a susceptibilidade a infecções
oportunistas (2, 14). A disbiose do microbioma oral também é uma
preocupação, com uma redução na diversidade bacteriana e um aumento de
bactérias oportunistas, o que pode levar a infecções orais mais graves (5).

A saúde periodontal é particularmente afetada, com pacientes


apresentando quadros de periodontite mais severos em comparação a
indivíduos saudáveis. Isso é exacerbado por distúrbios imunológicos que
aumentam a suscetibilidade a infecções oportunistas (9). Estudos mostram que
a manutenção rigorosa da higiene oral, através de práticas como escovação
regular e uso de antissépticos, pode ajudar a prevenir complicações
periodontais graves e melhorar a qualidade de vida (7, 11).

3.4 Abordagem do Cirurgião-Dentista no paciente com Leucemia

A abordagem do cirurgião-dentista em pacientes com leucemia é


essencial, dada a complexidade das manifestações orais e sistêmicas
associadas à doença. O conhecimento profundo das doenças sistêmicas que
causam manifestações orais é crucial para um diagnóstico preciso e para a
implementação de medidas preventivas eficazes (1, 5). Pacientes com
leucemia frequentemente apresentam alterações na resposta imunológica, e os
tratamentos associados, como quimioterapia e radioterapia, podem levar a
complicações orais significativas, que são exacerbadas pela imunossupressão
(2, 4, 8). Portanto, é vital que os dentistas sejam capazes de diferenciar entre
manifestações orais associadas à leucemia e outras condições periodontais,
garantindo que o tratamento seja adequado e eficaz (1, 9).

O papel do dentista também se estende ao diagnóstico precoce,


especialmente em casos em que a leucemia ainda não foi diagnosticada.
Sintomas orais, como úlceras, sangramento gengival espontâneo e hiperplasia
gengival, podem ser os primeiros indicadores de uma condição sistêmica
subjacente, reforçando a importância de exames hematológicos e serológicos
para um diagnóstico preciso (1, 14). A colaboração interdisciplinar entre
dentistas, oncologistas e outros profissionais de saúde é fundamental para o
manejo eficaz das condições orais e sistêmicas em pacientes com leucemia.
Protocolos de desinfecção oral, uso de antissépticos e, em casos necessários,
antibióticos, são estratégias recomendadas para controlar a flora bacteriana e
prevenir complicações infecciosas (6, 15).

Além disso, a educação dos pacientes e de seus cuidadores sobre a


importância da higiene oral é crucial para minimizar o risco de complicações
periodontais. A implementação de práticas de higiene oral rigorosas e a
monitorização contínua do estado bucal são essenciais para melhorar a
qualidade de vida dos pacientes e o sucesso do tratamento oncológico (7, 14).

Em resumo, o manejo odontológico de pacientes com leucemia requer


uma abordagem abrangente e integrada, focada na prevenção, diagnóstico
precoce e tratamento eficaz das complicações orais, garantindo assim uma
melhor qualidade de vida e resultados clínicos para esses pacientes.

3.5 Alterações no Microbioma Oral em Pacientes com Leucemia


O microbioma oral desempenha um papel crucial na manutenção da
saúde bucal, mas em pacientes com leucemia, esse equilíbrio pode ser
gravemente perturbado. Estudos mostram que a leucemia, especialmente
quando combinada com tratamentos como quimioterapia, provoca disbiose no
microbioma oral, caracterizada por uma redução na diversidade bacteriana e
um aumento de bactérias oportunistas patogênicas (12, 13). Essa alteração é
impulsionada por fatores como inflamação crônica, estresse oxidativo e
imunossupressão, resultando em maior susceptibilidade a infecções orais,
como mucosite e candidíase (12).

A disbiose observada em pacientes com leucemia é marcada pela


predominância de bactérias como Moraxella spp., Klebsiella spp.,
Pseudomonas spp., Enterobacter spp., Acinetobacter spp., e E. coli (12). Essas
mudanças podem levar a manifestações orais significativas, incluindo
sangramento gengival espontâneo, ulcerações, e gengivite, que são frequentes
em pacientes imunocomprometidos e podem ser agravadas por condições
como trombocitopenia e neutropenia (4, 12).

Intervenções preventivas direcionadas são essenciais para mitigar essas


alterações no microbioma oral. O uso de probióticos específicos, como
Bifidobacterium longum, Lactobacillus acidophilus e Saccharomyces boulardii,
tem sido sugerido para reverter a disbiose e promover a homeostase oral,
reduzindo o risco de infecções orais e outras complicações associadas ao
tratamento da leucemia (12). Essas estratégias não apenas melhoram a saúde
bucal, mas também contribuem para a qualidade de vida geral dos pacientes,
reduzindo os riscos durante o tratamento oncológico.

Além disso, a manutenção de uma higiene oral rigorosa é fundamental


para prevenir a colonização por patógenos periodontopatogênicos, que podem
exacerbar a inflamação gengival e levar a condições mais severas como a
periodontite (7, 14).

3.6 Intervenções Preventivas e Terapêuticas Personalizadas


A implementação de intervenções preventivas e terapêuticas
personalizadas é crucial para a manutenção da homeostase oral e a prevenção
de complicações em pacientes com leucemia. Devido à imunossupressão e às
mudanças no microbioma oral causadas pela leucemia e seus tratamentos,
como quimioterapia, os pacientes estão mais suscetíveis a infecções orais e
outras condições periodontais (2).

O uso de probióticos tem sido sugerido como uma estratégia eficaz para
reverter a disbiose oral, promovendo a homeostase e reduzindo o risco de
infecções oportunistas. Probióticos específicos, como Bifidobacterium longum e
Lactobacillus acidophilus, têm mostrado potencial para estabilizar a microbiota
oral, diminuindo a incidência de complicações como mucosite e candidíase
(12).

Além dos probióticos, o uso de antissépticos orais é fundamental para


controlar a flora bacteriana patogênica e prevenir a progressão de doenças
periodontais. A desinfecção completa da boca, combinada com terapia
antimicrobiana, pode ser uma abordagem eficaz para tratar e prevenir
infecções orais em pacientes imunocomprometidos, garantindo que estas
intervenções não interfiram nos tratamentos oncológicos (8).

Essas estratégias não só contribuem para a saúde bucal, mas também


melhoram a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo o desconforto e o risco
de complicações sistêmicas associadas à saúde oral precária (7). As
intervenções personalizadas devem ser integradas ao plano de tratamento
geral de pacientes com leucemia para maximizar os benefícios clínicos e
suportar a saúde geral durante o tratamento oncológico.

3.7 O Diagnóstico da Leucemia Através do Periodonto

O diagnóstico precoce da leucemia pode, em alguns casos, ser facilitado


pela observação de alterações periodontais, que podem ser os primeiros
indicadores de uma condição hematológica subjacente. As manifestações
orais, como sangramento gengival espontâneo, gengivite severa, ulcerações
orais e hiperplasia gengival, são frequentemente observadas em pacientes com
leucemia devido ao comprometimento imunológico e à infiltração de células
neoplásicas na gengiva (3, 4).

Um exemplo notável é apresentado no artigo que relata um caso clínico


raro em que o aumento gengival foi o único sinal que levou ao diagnóstico de
leucemia mieloide aguda. Neste estudo, o paciente apresentou sangramento
gengival persistente na região posterior da maxila, sem outras manifestações
sistêmicas visíveis. A investigação clínica e histopatológica revelou a presença
de células neoplásicas infiltrando a gengiva, confirmando o diagnóstico de
leucemia (14). Este caso ilustra como manifestações orais podem ser sinais
críticos para a detecção precoce de condições hematológicas graves.

Esses sinais orais podem preceder outros sintomas sistêmicos da


leucemia, tornando o exame periodontal uma ferramenta valiosa para a
identificação precoce da doença. Em alguns casos, o aumento gengival pode
ser o único sinal clínico presente, o que destaca a importância do papel do
dentista na triagem e encaminhamento para investigações hematológicas (14).

Dentistas e periodontistas devem estar atentos a essas manifestações


orais incomuns e considerar a possibilidade de uma doença hematológica
subjacente, especialmente quando os pacientes apresentam sintomas
persistentes que não respondem ao tratamento periodontal convencional. A
colaboração interdisciplinar entre dentistas e profissionais de saúde é crucial
para garantir um diagnóstico rápido e o início do tratamento adequado (4, 14).

O reconhecimento precoce dessas alterações pode não apenas


melhorar o prognóstico dos pacientes, mas também reduzir complicações
associadas à saúde bucal e sistêmica, reforçando a importância de um exame
periodontal abrangente como parte do cuidado integral dos pacientes (14).

4 Resultados

Ao utilizar as estratégias de buscas foram encontrados 43 artigos, destes 43


foram do banco de dados PubMed e 0 do SciELO. Ao final do processo de
seleção, apenas 17 artigos participaram desta revisão (Figura 1).
Figura 1- Fluxograma PRISMA – etapas da revisão integrativa, elaborado pelos
autores.
Quadro 1- Resultados dos parâmetros avaliados.
(professora como posso inserir aqui as tabelas?)

5 Discussão

O presente trabalho foi estruturado com base em uma revisão integrativa


da literatura, que permitiu explorar de forma ampla a inter-relação entre doença
periodontal e leucemia. Desde a seleção criteriosa de artigos até a análise
detalhada dos dados, cada etapa foi planejada para responder à questão
central: como essas condições se influenciam mutuamente e quais estratégias
podem minimizar as complicações associadas.

Optou-se por essa metodologia pela sua capacidade de sintetizar


diferentes tipos de evidências e oferecer uma visão abrangente, essencial em
temas que envolvem múltiplas disciplinas, como odontologia, hematologia e
microbiologia. A escolha por estudos publicados nos últimos dez anos e
disponíveis em português e inglês garantiu que o trabalho refletisse o estado
mais atual do conhecimento, considerando tanto aspectos clínicos quanto
biológicos.

Os resultados obtidos reforçaram a importância da saúde periodontal no


manejo de pacientes com leucemia. Foi evidenciado que a imunossupressão
característica da leucemia potencializa as manifestações orais, como gengivite,
sangramento espontâneo e ulcerações, enquanto a periodontite pode
influenciar negativamente o curso da doença hematológica devido à inflamação
sistêmica crônica. Tais achados não só corroboram a relevância da saúde
bucal na qualidade de vida desses pacientes, mas também sugerem que
estratégias preventivas e terapêuticas direcionadas, como o uso de probióticos
e antissépticos, podem desempenhar um papel crucial.

A comparação com estudos internacionais valida as conclusões deste


trabalho. Pesquisas anteriores demonstraram que a inflamação periodontal e a
disbiose microbiana oral estão associadas a complicações sistêmicas em
pacientes leucêmicos, como relatado por Huang et al. (2024), que identificaram
uma correlação entre doenças periodontais e câncer hematológico. Além disso,
casos clínicos mostraram que intervenções como desinfecção oral completa
antes de tratamentos oncológicos reduzem significativamente o risco de
infecções e melhoram os desfechos terapêuticos.

Apesar dos resultados relevantes, este estudo apresenta limitações


inerentes ao seu desenho metodológico. A revisão se restringiu a artigos em
português e inglês, o que pode ter excluído estudos relevantes em outras
línguas. A heterogeneidade dos métodos e populações estudadas também
dificulta comparações diretas entre os resultados. Além disso, como se trata de
uma revisão, não foi possível gerar dados primários, limitando a análise causal
das relações entre periodontite e leucemia.

Ainda assim, o trabalho fornece uma base sólida para estudos futuros.
Investigações longitudinais podem avaliar como intervenções odontológicas
afetam o prognóstico de pacientes leucêmicos, enquanto estudos
experimentais devem explorar o impacto de terapias baseadas em probióticos
no controle da disbiose oral. Além disso, o desenvolvimento de protocolos
clínicos integrados, que considerem as especificidades dos pacientes
imunossuprimidos, poderá melhorar significativamente o cuidado e a qualidade
de vida desses indivíduos.

Conclui-se que o manejo multidisciplinar, que integra cuidados


odontológicos ao tratamento médico, é essencial para prevenir complicações
orais e sistêmicas em pacientes com leucemia. A saúde bucal deve ser
considerada parte integrante da abordagem terapêutica, contribuindo para
melhores prognósticos e maior bem-estar geral dos pacientes.

6 Considerações finais
A inter-relação entre doença periodontal e leucemia é um campo de
estudo relevante que ressalta a influência bidirecional entre essas condições. A
periodontite, caracterizada por uma inflamação crônica dos tecidos de suporte
dos dentes, tende a ser exacerbada em pacientes com leucemia devido à
imunossupressão e à presença de biofilmes bacterianos patogênicos. Em
contrapartida, a leucemia, ao comprometer o sistema imunológico e favorecer
alterações sistêmicas, contribui para o agravamento das condições
periodontais.

As manifestações orais comuns em pacientes com leucemia incluem


gengivite, hiperplasia gengival, sangramento gengival espontâneo e
ulcerações. Essas alterações muitas vezes representam os primeiros sinais de
doenças hematológicas, reforçando a importância do exame periodontal no
diagnóstico precoce e no manejo dessas condições.

Além disso, a imunossupressão associada ao tratamento oncológico,


como quimioterapia e radioterapia, intensifica as complicações orais. A disbiose
microbiana, marcada pela redução da diversidade bacteriana e pelo aumento
de patógenos oportunistas, agrava o risco de infecções orais severas e
inflamações sistêmicas.

Para minimizar essas complicações, estratégias preventivas e


terapêuticas personalizadas, como o uso de probióticos, antissépticos e
protocolos de desinfecção oral, são indispensáveis. A abordagem
interdisciplinar, envolvendo dentistas e oncologistas, é essencial para garantir
um cuidado abrangente e eficaz. A educação dos pacientes sobre a
importância da higiene oral rigorosa e o monitoramento contínuo do estado
bucal são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e os resultados
clínicos desses indivíduos.

Em conclusão, o manejo integrado de pacientes com leucemia deve


incluir a atenção à saúde periodontal como parte essencial do tratamento,
contribuindo para a redução das complicações orais e sistêmicas e para a
melhoria do prognóstico geral.

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