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Livro Divergente

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Como o jovem pode impactar sua geração

Airton Natanael Coelho Dias


(organizador)
Como o jovem pode impactar sua geração
Airton Natanael Coelho Dias
(organizador)
Copyright 2023 © Editora Promessa. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte
desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer modo ou meio,
seja eletrônico, mecânico ou outros, sem autorização prévia da Editora Promessa.

Publicado no Brasil em julho de 2023

Editor: Eleilton William de Souza Freitas


Organizador: Airton Natanael Coelho Dias
Autores: Airton Natanael Coelho Dias
Andrea Nunes
Genésio Mendes Junior
Lucas Miranda de Matos
Maria Ivany S. S. Oliveira

Revisão Teológica: Comissão Teológica


da Igreja Adventista da Promessa
Revisão: Eudoxiana Canto Melo
Produção Gráfica: Marco Murta – Farol Editora
Capa: Diogenes Santana

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Divergente 2023 [livro eletrônico] : como o jovem pode impactar sua geração / Airton
Natanael Coelho Dias... [et al.]; Airton Natanael Coelho Dias (organizador). -- São Paulo :
Editora Promessa, 2023. PDF
Outros autores: Andrea Nunes, Genésio Mendes Junior, Lucas Miranda de Matos, Maria
Ivany S. S. Oliveira.
Bibliografia.
ISBN 978-65-85364-06-5
1. Cristianismo – Evangelismo 2. Discipulado (Cristianismo) 3. Fé 4. Jesus Cristo – Ensinamentos
5. Jovens – Aspectos religiosos - Cristianismo I. Dias, Airton Natanael Coelho. II. Nunes, Andrea.
III. Mendes Junior, Genésio. IV Matos, Lucas Miranda de. V. Oliveira, Maria Ivany. S. S.

23-163903 CDD-268

Índices para catálogo sistemático: 1. Discipulado : Cristianismo 268


Eliane de Freitas Leite – Bibliotecária – CRB 8/8415

Rua Boa Vista, 314 - 6º Andar – Conj. B – Centro – São Paulo, SP – 01014-000
Fone: (11) 3119.6457 | (11) 98995.6354

editorapromessa.com.br atendimento@editorapromessa.com.br
@ editorapromessa_ bit.ly/EditoraPromessa

Nota: A escolha dos títulos dos capítulos é de responsabilidade


dos respectivos autores e independe da revisão textual do livro.
APRESENTAÇÃO

O Ministério de Jovens Geral da Igreja Adventista da


Promessa tem o prazer de apresentar a você mais
um conteúdo, com o objetivo de contribuir com sua
caminhada cristã. Neste e-book, temos o desejo profundo
de avaliar alguns pontos de nossa geração e usar a Palavra
de Deus, fonte inesgotável, como guia orientador das
nossas ações e reações.
Assim, o capítulo 1 busca despertar, através de um
texto simples e direto, a consciência da realidade a ser
enfrentada por aqueles que sonham com a revitalização
da igreja. Neste capítulo, você será levado a fazer uma
análise introspectiva sobre o seu chamado, a pensar que
foi chamado para servir, a exemplo de Jesus. Você enten-
derá que o sonho exige esforço, cuidados, percepção de
cultura e de alvos. Há muito a aprender, e é necessário
intensidade dos que se engajam neste processo.
O capítulo 2 tem como ideia central incentivar
o leitor a fazer uma interpretação da cultura em que
a igreja local está inserida e, partir daí, ser capaz de
responder às perguntas-base: “quem somos? Onde
estamos?”. Neste contexto, ficará evidente que a revi-
talização da igreja exige um processo missional, que
o crescimento decorre da intencionalidade – igreja
funcionando como organismo.
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração

Diretamente conectado ao anterior, o capítulo 3 leva


o leitor à seguinte reflexão: “o que Deus quer fazer de quem
somos, aqui onde estamos?”. Isso fará com que, inevita-
velmente, analisemos o contexto cultural – sem sermos
engolidos pela realidade do mundo – e, conscientes dos
pontos centrais da sociedade, usemos a Palavra atemporal
de Deus para apresentar o evangelho de Cristo.
O capítulo 4 nos confronta com a realidade do ceti-
cismo e desafia a estarmos preparados para responder
a perguntas complexas, questionamentos cheios de
termos complicados e ideologias. Mas o mais importante:
seremos impulsionados a manter e propagar nossa fé à
nossa geração.
Por fim, o capítulo 5 nos direciona para uma verdade
cabal: o discipulado não pode ser negligenciado, pois é o
ar que renova constantemente o ciclo de conhecimento,
ação, crescimento.
Agora, qual a razão disso tudo? Sinceramente,
entendemos que já passou da hora de sermos diver-
gentes. O Espírito Santo usou Paulo para nos dizer:
... não tomem a forma desse mundo; mas o que mais
temos visto é um processo adaptativo muito perigoso.
Deixamos que o ambiente nos molde, ao invés de
divergirmos dele. Também não podemos esquecer que
fomos chamados a sermos luz em meio às trevas, sal
em meio à podridão, exemplos, servos de Cristo, pare-
cidos com Cristo. Não dá para sermos isso sem termos
um grau claro de divergência com este século mau.
Que o mesmo Espírito, que em tudo nos ensina, nos
ilumine durante esta leitura.
Fique certo: tudo foi preparado com muito amor pelos
escritores. Por isso, nosso convite amoroso é que você
leia atentamente e aproveite cada parágrafo. Depois, não
deixe isso esfriar: compartilhe seu livro com seus amigos.

5
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração

A escolha por um e-book é exatamente para facilitar esta


multiplicação de edificação.
Agradecemos a todos os que contribuíram com
esta edição e oramos a Deus para que esse conteúdo
seja significativo para sua vida e seu crescimento espiri-
tual. Que Deus use e abençoe sua vida, sua família e seu
ministério no Reino.

Airton Natanael Coelho Dias


Ministério de Jovens Geral da IAP
São Paulo, maio de 2023

6
SOBRE OS AUTORES

Airton Natanael Coelho Dias

Pastor na Igreja Adventista da Promessa em Vila Helena,


Sorocaba (SP). Graduado em Física e mestre em Ciências
de Materiais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Doutor em Ciências pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Pós-doutor em Cronologia e
Raios Cósmicos pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Professor doutor da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar). Foi secretário da Regional da Moci-
dade Adventista da Promessa (Rumap) da Convenção
Oeste Paulista (2005-2011) e compõe a diretoria do MJ
Geral, desde 2016. Casado com Hélida Maia Vasconcelos
Dias e pai da Sara Vasconcelos Dias.
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração

Andrea Nunes

Diaconisa, MKT digital e gestão de redes sociais. Foi secre-


tária da Rumap na Convenção Sul, na gestão 2012-2015,
e colaboradora na gestão de 2016-2019. Atualmente, é
colaboradora do Ministério Jovem Geral. Casada com Cesar
Pontes da Silva e mãe de Raul Nunes e Isabela Nunes.

Genésio Mendes Júnior


Pastor, teólogo e comunicador social. Pastor do Movi-
mento Radiação com pós-graduação pelo CTPi/FATEV em
Plantação e Revitalização de Igrejas. Secretário Geral da
CGIAP para a gestão 2020-2023. Casado com Ana Paula
Rocha Bonetti Mendes e pai de Rafael e João.
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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração

Lucas Miranda de Matos


Engenheiro Civil especialista em gestão e comunicador
social. Foi líder do Ministério de Jovens da Igreja Adven-
tista da Promessa na Convenção Oeste Paulista, entre
2017-2018. Atualmente, é responsável pela comunicação
no Ministério de Jovens da Convenção Sul. Casado com
Caroliny Nobre de Matos.

Maria Ivany S. S. Oliveira


Diaconisa, bacharel em Teologia pela FATAP. Psicanalista
clínica. Profissional da Educação Especializada. Analista
de Qualidade e Design de Interface. Foi Missionária auxi-
liar na Convenção Seal, no período de 2006 a meados de
2008. Foi missionária de campo, de 2008-2010. Foi dire-
tora do Ministério Jovem na Convenção Seal, na gestão
de 2016-2019. Atualmente, é colaboradora do Ministério
Jovem Geral, estudante de Pedagogia e Neurociência.
Casada com o Pastor José Robson Souza de Oliveira, mãe
de João Leonardo e Noemy Hadassa.
9
SUMÁRIO

Apresentação............................................................... 4
Sobre os autores......................................................... 7
Prefácio.......................................................................11

Capítulo 1
Se liga para servir
Servos conscientes...................................................13

Capítulo 2
Se liga na sua geração (missão)
Ajuste o foco para revitalizar................................49

Capítulo 3
Se liga para transformar
Não mude do bairro, mas mude o bairro..........84

Capítulo 4
Se liga na razão da fé
Sem fé é impossível.............................................. 108

Capítulo 5
Se liga no discipulado
Ide e fazei discípulos............................................ 136

Referências.............................................................. 175
PREFÁCIO

V ocê tem em mãos um livro que tem por título Diver-


gente: como o jovem pode impactar sua geração. De
modo simples, podemos afirmar que um jovem “diver-
gente”, que impacta sua geração, é alguém que decidiu
viver como Jesus. “Divergente”, no contexto em que esta
palavra é apresentada neste livro, é aquela pessoa que
tomou a decisão de viver de acordo com os valores do
Reino de Deus e divergir do sistema de valores que impera
em nosso tempo.
Em Filipenses, capítulo 2, Paulo desafia-nos a sermos
divergentes. Ele começa apresentando o grande exemplo
de Cristo (Fp 2:1-11). Mesmo sendo Deus, Jesus decidiu
viver como servo obediente. Ele divergiu de Adão.
Adão não era Deus, mas desejou ser igual a Deus, e
pecou. Pecado é a autonomia arrogante que se contrapõe a
Deus: é quando quero fazer as coisas à minha maneira; não
quero obedecer. Jesus, como servo, obedeceu ao Pai em
tudo; foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fp 2:8).
Paulo mostra o desafio que temos, uma vez que
fomos salvos com base nesse sacrifício voluntário de
Cristo na cruz: Sejam filhos de Deus, vivendo sem nenhuma
culpa no meio de pessoas más, que não querem saber de
Deus. No meio delas vocês devem brilhar como as estrelas no
céu, entregando a elas a mensagem da vida (Fp 2:15).
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração

Por conta do seu compromisso com o senhorio de


Cristo, mesmo vivendo em meio a pessoas que não querem
saber de Deus, os cristãos são aqueles que mantêm a
mensagem da vida. Eles possuem e compartilham tal
mensagem. Esta é a única maneira de realmente impac-
tarem a sua geração.
Neste livro, você será desafiado, à luz do seu compro-
misso com Cristo e com a mensagem da vida, a refletir
sobre seu chamado para servir, para conhecer o tempo em
que você vive e as formas de cumprir a missão nele, sobre
como responder àqueles que lhe pedem a razão da sua
esperança, levando a sério o discipulado.
Esperamos que este livro fale com você! Ele nasceu
com o desejo de contribuir com jovens que querem fazer
a diferença, através dos ministérios locais em que servem
a Cristo por meio dos seus dons. Por isso, se é o seu caso,
aproveite bem cada capítulo, cada conselho, cada desafio,
cada provocação.
Estamos certos de que você pode crescer com esta
leitura e se preparar ainda mais para ser alguém que
diverge, que brilha como as estrelas no céu num mundo
ainda em trevas por conta dos efeitos do pecado.
Louvamos a Deus pela vida dos integrantes do
Ministério Jovem Geral promessista, por prepararem este
material e deixarem mais uma ferramenta àqueles que
desejam cumprir a missão em nosso tempo. Que Jesus os
recompense por esta iniciativa.

Boa Leitura!

Eleilton William de Souza Freitas


Vice-Presidente da Convenção Geral das IAPs
e Diretor da Editora Promessa

12
Capítulo 1

SE LIGA PARA SERVIR


Servos conscientes
por Maria Ivany S. S. Oliveira

A CONSCIÊNCIA DO PROPÓSITO

Q ual o seu propósito? Você pode pensar em algumas


respostas, lembrar dos objetivos que planeja alcançar.
É bom saber que propósito e objetivo são diferentes.
O objetivo é o que você quer alcançar; o propósito é o
porquê você escolheu esse objetivo, é a finalidade, a razão
de buscar, trabalhar, viver.
Sabe quantos jovens e adolescentes vivem sem saber
ou ter um propósito? Se você é um desses, não está sozinho.
É muito comum jovens viverem ansiosos com todos os
possíveis caminhos por onde podem andar, pressionados
a fazerem as melhores escolhas. Tudo deve acontecer ao
mesmo tempo, de forma muito acelerada, como carros de
Fórmula 1 em pleno campeonato mundial.
Há quem pense que o número de possibilidades gere
um resultado mais satisfatório. Não é bem assim! Há um
número considerável de moças e rapazes frustrados,
decepcionados, vivendo sem foco, por se dedicarem a
tantas opções, quererem experimentar de tudo. Experi-
mentam muito, mas desenvolvem poucas experiências.
Estão se tornando cada vez mais atuantes, tentando
compreender o papel que têm na sociedade. Olham
para a facilidade de informações e as confundem com
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

absorção de conhecimento. São cheios de potenciais,


mas não conseguem desenvolver os talentos dentro de
um propósito definido.
Essa realidade está dentro da igreja. Nossos ministé-
rios estão repletos de jovens e adolescentes vivendo esse
dilema, cheios de energia, talentos, com vontade de fazer
alguma coisa, mas sem saber o que, nem como. Não têm
propósito, não sabem lidar com o chamado de Deus. Vivem
num contexto confuso com tantas mudanças, alterações
de conceitos, desconstrução de princípios e valores.
Se você parar para pensar, vai perceber que por essas
e outras razões é que o seu ministério vem enfrentando
dificuldades para continuar ativo na missão de proclamar
o Reino. Se você pensa em fazer a diferença, mudar o
cenário e servir na revitalização do ministério jovem de
sua igreja local, está no caminho certo; afinal, os trabalha-
dores são poucos (Lc 10:2 – NVI). Sua disposição pode ser a
resposta das orações de muitos irmãos que clamaram por
mais. Saiba, porém, que arregaçar as mangas e começar
essa obra não será uma tarefa simples, mas, com certeza,
será muito gratificante. Revitalizar o ministério jovem não
é uma tarefa entre tantas; é um sonho.
Todo sonho requer investimento, sacrifícios, renún-
cias, muita paciência. Considere que, de início, você estará
sozinho, até recrutar outras pessoas. Precisará ter um propó-
sito alinhado com a vontade de Deus, entender a razão da
sua vida, a finalidade do seu chamado. É importante que
tenha consciência do que Deus quer de você. Pode ser que,
de imediato, nem saiba por onde começar. Antes de qual-
quer coisa, você tem que orar, apresentar-se a Deus com
todas as suas imperfeições e pedir a ele que o aceite nessa
missão. Busque a aprovação divina para as intenções do
seu coração e lembre: Ao homem pertencem os planos do
coração, mas do Senhor vem a resposta da língua (Pv 16:1).

14
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Você precisa compreender o propósito e o objetivo de


Deus e qual o chamado dele para você. Também precisa
saber sua área de atuação e como desenvolver-se nela para
que o propósito divino se realize. Assim, você não ficará
confuso. Será uma soma para gerar multiplicação.
Tenho guardada na lembrança a mais bela experiência
que tive com Jesus. Foi determinante para me ajudar a
compreender o chamado de Deus. Eu tinha 14 anos de idade e
já fazia um ano que estava na Promessa. Por causa da fé que
professava anteriormente – desde os 4 anos de idade – tive
dificuldades em compreender os pensamentos e as crenças
promessistas. Aceitar a divindade de Cristo foi a maior e mais
difícil luta que travei até hoje. Por um ano inteiro, eu ques-
tionei, estudei, adoeci por duas vezes. Cheguei a ficar inter-
nada por 15 dias. Eu sentia uma pressão por parte da igreja. O
batismo estava chegando; o meu pai questionava se era isso
mesmo que eu queria. Sentia o peso da responsabilidade por
minha mãe e meu irmão, que logo levei para a igreja. Tinha
medo de estar errada.
Fiquei perdida, sem saber o que fazer, sem entender
porque eu estava ali, qual era o propósito. Também já não
me via mais na fé anterior, pois muita coisa já havia clareado
em minha mente, apesar de outras continuarem obscuras.
Tudo o que eu queria era entender, ter uma finalidade, um
propósito. Então, passado um ano dessa luta constante,
decidi perguntar diretamente para Ele. Jamais esquecerei a
primeira oração direcionada a Cristo. Silenciosamente, eu o
questionei sobre sua divindade e o que ele queria de mim.
Duas horas depois, na primeira oração do culto da
família, a reposta veio com um toque suave de suas mãos
sobre minha cabeça. Que voz afetiva! Ouvi nitidamente
a sua declaração: “Eu Sou”. Foi suficiente para me lançar
ao chão e continuar ouvindo sua voz me direcionando a
propósitos alinhados a sua vontade. A partir daquele dia,

15
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

eu comecei um processo de compreensão para entender


o chamado do Senhor e o seu propósito. Ter consciência
do meu chamado abriu os meus olhos. Pouco a pouco,
entendi o objetivo e o propósito de Deus.

Sabemos que Deus age em todas as coisas para


o bem daqueles que o amam, dos que foram
chamados de acordo com o seu propósito. Pois
aqueles que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem
de seu Filho, a fim de que ele seja o primogê-
nito entre muitos irmãos (Rm 8:28-29).

O propósito de Deus é o mesmo desde o princípio


(Gn 1:27): homens e mulheres à imagem e semelhança
de Jesus. O objetivo é que todos sejam salvos. Através da
salvação por meio de Cristo, o propósito é alcançado. Por
isso, Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressus-
citado para nossa justificação (Rm 4:25).
Nós somos parte da estratégia divina para que
muitos outros jovens alcancem a salvação (objetivo) e se
tornem, por adoção, filhos de Deus à imagem de Cristo
para a eternidade (propósito). Esse propósito e esse obje-
tivo precisam estar bem claros em sua mente. É impor-
tante que estejam ligados à finalidade de Deus, ou seja,
quando entende que o objetivo de Deus é a salvação, você
assume o propósito de levar pessoas a Cristo por meio do
evangelho. Sabendo que o propósito de Deus é ter filhos à
imagem de Jesus, seu objetivo é servir como Cristo serviu,
sendo a sua atitude a mesma de Cristo Jesus, que, embora
sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo
a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo
a ser servo, tornando-se semelhante aos homens (Fp 2:5-7).

16
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

No decorrer deste capítulo, quero conversar com você


de forma direta. Como parte interativa, você poderá fazer
anotações, destacar textos importantes, reler. Não trate
este conteúdo como um manual; afinal, cada ministério
tem suas peculiaridades. As necessidades mudam de acordo
com a realidade de cada um. Tenha-o como incentivo de
pessoas que compartilham do mesmo sonho: servir sem
medir esforços para alcançar o propósito de Deus.

A CONSCIÊNCIA DO CHAMADO
Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo
mesmo e único Espírito, e ele as distribui indivi-
dualmente, a cada um, conforme quer. Ora, assim
como o corpo é uma unidade, embora tenha mui-
tos membros, e todos os membros, mesmo sendo
muitos, formam um só corpo, assim também com
respeito a Cristo (1 Co 12: 11-12).

Em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo faz uma analogia


fantástica que facilita nossa compreensão sobre chamado.
Ele considera o corpo humano, formado por partes dife-
rentes. Cada uma tem funções específicas, e todas as partes
estão ligadas ao cérebro, que as direciona e mantém o
funcionamento do corpo equilibrado.
Assim é a igreja: um corpo vivo. Cada pessoa é uma
parte desse corpo, com funções específicas. Essas funções
são chamadas de dons, capacitações distribuídas pelo
Espírito Santo. Todas as partes estão ligadas a Cristo, que
é o cérebro, a central de comando da igreja.
A partir dos dons e dos talentos, você pode saber
o chamado de Deus, ou seja, em qual área de atuação
ele deseja que você desenvolva seu ministério. Esse é
um meio para alcançarmos o objetivo divino e o nosso

17
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

propósito. Percebe como tudo está ligado? Estar convicto


de sua área de atuação é imprescindível para o serviço.
Por nenhuma razão o trabalho deve ser feito de qualquer
jeito. Precisa começar da maneira certa.
Colossenses 3:17 nos dá a seguinte orientação: Tudo
o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em
nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus
Pai. Por experiência própria, posso afirmar que servir na
revitalização de um ministério jovem não é uma tarefa
simples. Lembro-me de uma experiência que vivi entre
os meus 15 e 16 anos. A igreja em que eu congregava
era pequena, bem simples. Eu sentia falta de sair às ruas,
como fazia na igreja anterior. Tinha cerca de uns 12 jovens
e adolescentes.
Em uma visita à igreja, o líder regional dos jovens
nos incentivou a reativar a UMAP (União da Mocidade
Adventista da Promessa) – hoje, Ministério de Jovens.
As meninas que haviam liderado anteriormente não
quiseram assumir mais a responsabilidade; estavam
desanimadas. As palavras de incentivo me deixaram
muito empolgada. Aceitei o desafio. Minha mente,
sempre ligada no 220w, logo começou a borbulhar
ideias. Não parecia ser uma tarefa tão difícil. Então,
organizei uma equipe, e fizemos nossa primeira reunião
de planejamento.
Eu nunca havia liderado, e uma parte da juventude
era mais velha que eu. Alguns já haviam passado pela
experiência, mas não estavam dispostos a ajudar. Tive
que me virar! Ganhar a confiança foi a tarefa mais difícil.
Trabalhos eram feitos aos empurrões, e eu não sabia mais
como envolvê-los. Só pedia a Deus que o ano acabasse
logo. Quando o ano acabou, não havia ninguém disposto
a assumir o que, na época, era um departamento. Lembro

18
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

que, quando o pastor propôs minha permanência, fui para


casa e dobrei os joelhos. Não sei quanto tempo fiquei
jogada à beira da cama, mas foi o suficiente para chorar
as lágrimas do ano inteiro. Clamei para que o Espírito me
direcionasse a criar as estratégias certas.
No ano seguinte, apesar das dificuldades, foi bem
melhor. O Espírito me mostrou que deveríamos agir a
partir dos dons e dos talentos que ele havia nos dado e
que sentíamos prazer em desenvolver. Eu não compreendia
teoricamente o que eram esses presentes de Deus, mas
sabia na prática que funcionava.
Criamos um grupo de dança; outro de teatro. Eu me
dediquei a ensinar os adolescentes. Formaram um grupo
de louvor da juventude. Cresceu a comunhão entre nós.
Conseguimos levá-los às ruas. Apresentamos um propósito
para eles. Alcançamos todos os objetivos que traçamos
para aquele ano. Não consegui parar mais. Mesmo quando
não estava na liderança, eu me encontrava sempre envol-
vida. Em todo o tempo me sentia realizada por servir com
o melhor de mim, a partir do melhor que o Espírito Santo
havia me concedido.
Não existe receita pronta, nem fórmulas miracu-
losas, para reanimar pessoas ou revitalizar ministérios;
é preciso buscar os dons, conhecer o próprio chamado
e o dos outros também. Observar a área de atuação dos
demais irmãos é importante para futura mão de obra.
Não queira atender expectativas humanas burlando
o chamado de Deus, agindo como especialista em todas
as áreas. Não há problema em ser humilde. Reconheça
que há situações que você não sabe resolver, tarefas que
não dá conta de fazer, funções que não consegue realizar.
Foque no que você sabe que ama e é capaz de fazer. Seja
prático! Faça uma autoavaliação de competência. Você
pode usar a lista de questionamento a seguir como um

19
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

exemplo para clarear sua percepção sobre onde e como


servir. Acrescente perguntas, modifique outras, contex-
tualize de acordo com sua realidade:

• Que papel posso exercer no ministério? Gosto do que


faço? Qual minha área de competência?
• Mesmo não sendo o líder, eu me importo com o
que acontece? Eu me preocupo com os jovens e os
adolescentes? Ajudo minha liderança? Como?
• Minha intenção é agregar novos jovens ao Reino,
ensinar, discipular?
• Como lido com a solidariedade? Sou amigo?
Presto assistência?
• Eu me encaixo na música ou em outra arte?
• Consigo vincular a vida secular à vida cristã com
equilíbrio? Uso minha formação como ferramenta?
• Os meus amigos me veem como um exemplo? Sentem
curiosidade de entender a minha fé?

JESUS, ESPELHO DO CHAMADO


O Espírito do Soberano Senhor está sobre
mim porque o Senhor ungiu-me para levar
boas notícias aos pobres. Enviou-me para
cuidar dos que estão com o coração que-
brantado, anunciar liberdade aos cativos e
libertação das trevas aos prisioneiros, para
proclamar o ano da bondade do Senhor e o
dia da vingança do nosso Deus; para consolar
todos os que andam tristes (Isaías 61:1-2).

Leia os evangelhos. Você verá Jesus em ação


cumprindo seu desígnio, conforme Isaías descreve. Seu
objetivo era estabelecer o Reino Eterno. Mas não agiu
20
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

apressadamente. Foi cauteloso. Deixou chegar o momento


certo e, quando este chegou, não fez um espetáculo em
busca de notoriedade.
O Mestre cumpriu o chamado com humildade e
maestria. Atendeu as expectativas da vontade divina.
Usou seus dons e talentos em favor do ministério. No
cumprimento de sua missão, foi um influenciador. Mesmo
que suas ações tenham ocorrido numa sociedade total-
mente diferente da atual, elas contêm ensinos eternos
que nunca passarão com o tempo. As palavras de Jesus
sempre influenciarão o mundo.
Sabe aquele digital influencer que você segue? Possi-
velmente ele influencia sua forma de pensar, agir, falar e
até vestir. Você se identifica com ele e o tem como exemplo
a ser seguido. Embora ele seja limitado, você o admira. No
fundo, quer ser como ele.
Agora, pare e reflita: quando se trata de Jesus, como
você o vê? Tem desejo de ser como ele é? Permite que ele
influencie sua forma de ver o mundo, de agir, falar e pensar?
Se Jesus fosse um digital influencer nos dias atuais, você o
seguiria, compartilharia seus vídeos, sermões? Atentaria
para seus ensinos e seguiria seus conselhos? Ele não está
na tela de um celular ou de um computador, mas, ao dedicar
seus dons e talentos à missão, impactou a História e vem
influenciando gerações há mais de dois mil anos. Cristo é o
maior influencer já visto em toda a Terra. Portanto, conside-
re-o como espelho para o seu chamado.
Cristo sempre agiu sabiamente. Devagar, foi alcan-
çando as pessoas que ele queria ao seu lado. Influenciou
amigos e os conduziu a Deus. Estava no mundo, mas não
se deixou corromper. Foi submisso e obediente até a morte,
e morte de cruz (Fp 2:8b). O chamado de Cristo foi apro-
vado por sua obediência. Ele deveria revelar a mente e a
vontade do Pai que está no céu. Assim ele o fez.

21
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Somente o próprio Jesus conhecia perfeita-


mente a mente do Pai e cumpria perfeita-
mente a vontade dele (Mt 11. 25-27; Mc 1. 11;
Jo 5.30; 10.18).1

O sacrifício que envolvia seu chamado não o amedron-


tava nem era motivo de preocupação. Sua consciência da
necessidade de um sacrifício era um incentivo para continuar.
Por ele, o perdido seria achado, o condenado seria salvo, o
morto voltaria a viver. Foi enviado para cumprir as Escrituras
(Mt 9:12; 26:4). Morrer era parte da missão. Mesmo depois
de subir aos céus e assentar à direita de Deus (Pe 3:22), Jesus
continua cumprindo seu chamado como Rei e Senhor.

Ele vigia as nações, seu povo e todo o cosmos.


Como Senhor Exaltado, que subiu aos céus na
presença de seus discípulos, Ele distribui as bên-
çãos do seu Reino, que podem ser resumidas na
palavra ‘vida’ (2 Tm 1:1,10). Jesus também cum-
pre seu papel de Sumo Sacerdote. Como Media-
dor entre Deus e os homens, Ele entrou nos céus,
e levou consigo todos os pecadores arrependi-
dos à presença do Senhor. Cristo intercede em
nosso favor; Como ser humano na presença do
Senhor, Ele permanece como representante da
humanidade na glória (...). Embora entronizado
no céu como Senhor da glória, Jesus também
continua a operar no meio de seu povo na terra,
por meio do Espírito Santo.2

Como é renovador saber que temos alguém como


Jesus para seguir! Ter o chamado de Jesus como espelho é

1 GARDNER, 1999, p. 337


2 ibidem, p.343

22
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

a chave de partida de que você precisa para exercer o seu


chamado. Assim como Cristo, direcione a glorificação para
Deus, revele aos perdidos a mente do Pai e conduza-os à
salvação do Senhor.
Atenda ao chamado sem intencionar consentimento
midiático ou reconhecimento meramente humano. Não
aja como se estivesse em um palco, realizando um show,
nem exija honra para si. Seja aquele que dobra os joelhos
e lava os pés de outros (Jo 13:4).
Sirva com amor sacrificial! Tenha em seu coração as
palavras de Jesus: Aquele que crê em mim fará também as
obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que
estas (Jo 14:12).

A CONSCIÊNCIA DO CAMINHO
Já passou pela sensação de andar sobre pedras? Eu
já! Em minha infância, as mulheres da rua onde eu morava
se reuniam para cortar lenha. O grupo de crianças que
acompanhava era grande. As mães não tinham com quem
deixar os filhos; então, lá íamos nós. Não era de todo ruim:
aprendíamos com elas, com suas histórias, seus esforços.
Eram mulheres guerreiras!
Até chegarmos à mata, nós caminhávamos cerca de
uma ou duas horas. A estrada era de pedras pequenas e
pontiagudas com muita poeira. Não era um caminho fácil
de trilhar. Colocávamos sapatos, botas artesanais feitas
com pernas de calças jeans, sandálias; mesmo assim,
sentíamos o incômodo nos pés, algumas pedrinhas pare-
ciam ninjas, entravam em nossos calçados, e era muito
doloroso: a depender da pisada, até perfurava a carne,
isso quando não acontecia de uma sandália quebrar e a
gente caminhar descalça. Era angustiante.

23
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Nessa estrada, nós enfrentamos muitos desafios.


A hora mais temida era a travessia na estrada dos bois.
Ora não se importavam com a gente, ora corriam atrás,
e este era um momento desesperador. Graças a Deus, o
máximo que nos acontecia eram arranhões dos arames
farpados nas cercas onde nos lançávamos, na tentativa
brusca de um livramento. As cobras sempre estavam
no caminho, ou entre as matas de onde retirávamos
a lenha. Era só ficarmos quietos, paradinhos e deixá-
-las passar; depois, era resistir às picadas violentas dos
mosquitos, trabalhar e retornar com os feixes na cabeça
pela mesma estrada de pedras.
Servir é a essência para qualquer trabalho de revi-
talização. Implica caminhar em estrada de pedras. São
as chamadas “consequências do servir”.3 Observe o que
Paulo diz acerca disso na atuação a serviço do ministério:

De todos os lados somos pressionados, mas


não desanimados; ficamos perplexos, mas não
desesperados; somos perseguidos, mas não
abandonados; abatidos, mas não destruídos (2
Co 4:8,9 - grifo nosso).

Na prática qualquer pessoa que se disponha a servir


sofrerá aflições relacionadas à resistência/rejeição daqueles
que não estão abertos para mudanças ou às pressões que
surgem na vida familiar, secular, na relação com a igreja,
os amigos e os membros do ministério. Fique certo de que
algumas situações o empurrarão à desistência.
Como esposa de pastor, testemunhei algumas vezes o
meu esposo cansado, fatigado, desanimado. Há alguns anos,
enfrentamos um período muito crítico. Devido ao exercício do

3 SWINDOLL, 1983, p. 188

24
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

ministério pastoral, estávamos morando fora do nosso estado


natal, onde ficava a unidade hospitalar que acompanhava
minha gravidez. A gestação era de alto risco. O medo de um
mal-estar nos assombrava, pois dependíamos de ônibus com
horários tabelados para sair de um estado a outro.
Além das preocupações com a gravidez, precisávamos
cuidar do nosso bebê que só tinha alguns meses de nascido.
Eu estava com início de depressão, devido às implicações
da gestação; sentia muitas dores e não conseguia dar a
atenção de que o meu bebê precisava. Meu esposo assumiu
toda a responsabilidade com a criança e a casa. Ele estava
física e emocionalmente abalado. Uma das igrejas vivia
momentos muito turbulentos, e ele se via dividido. As pres-
sões por parte das ovelhas só aumentavam.
Por vezes, ele chorou escondido para não me preocupar.
Vi meu esposo perdendo as forças, sem poder ajudá-lo. Ele
se colocava como uma barreira para que os problemas não
chegassem a mim e, quando percebeu que suas tentativas
eram falhas, viu-se consumido por tristeza e angústia. Está-
vamos esgotados! As aflições nos consumiam dia após dia.
Pensamos em desistir. Não era falta de amor ao ministério:
era necessidade de alívio. Em uma das conversas sobre a
possibilidade de desistência, recordamos que não fomos
chamados por homens. O Espírito nos convencera de que
Deus havia começado a boa obra e a finalizaria (Fp 1: 6).
Lembramos também que as aflições que sofríamos eram
para a salvação de outros e que a consolação de que preci-
sávamos era para a consolação de outros (2 Co 1:6).
Decidimos lançar sobre Cristo a nossa ansiedade e
oramos sem cessar. Pedimos socorro a Deus. Graciosa-
mente o Pai Eterno atendeu nosso clamor e nos apresentou
novas possibilidades. Trouxe descanso, restauração. Deus
cuidou de tudo. O parto foi um sucesso! Curou todas as
dores, físicas e emocionais, sarou nossas feridas. Desde

25
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

então, seguimos a carreira, guardando a fé na certeza de


que o Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos
os que o invocam com sinceridade. Ele realiza os desejos
daqueles que o temem; ouve-os gritar por socorro e os salva.
O Senhor cuida de todos os que o amam (Sl 145:18-20).
Desistir não é opção! Uma vez que o sonho de
revitalizar for iniciado, não pode parar. Deve ser um
processo contínuo, um estilo de vida, um hábito, uma
rotina. Programe-se para não se esgotar. Tenha amigos
leais que o ajudem na aflição. Prepare suas emoções
e fortaleça sua saúde espiritual com práticas devocio-
nais, leitura e meditação, orações constantes, jejuns.
Nada disso evitará os sofrimentos; mas essas práticas o
ajudarão a vencer. Persevere!

A perseverança vence coisas como: doenças,


desejos naturais, dificuldades financeiras,
oposição da família, tradições e perseguições,
má interpretação dos acontecimentos etc.
A perseverança assegura o êxito.4

Por mais que pareça difícil, acredite que é possível um


ministério ativo, em pleno movimento; é possível ver os
jovens com sede de trabalhar, oferecendo o melhor de si,
com intenções de propagar o evangelho, dedicando suas
carreiras, seus bens e suas conquistas à missão. Acredite
em um ministério avivado, com conversões e uma menta-
lidade santa, transformadora, que glorifique a Deus em
um mundo corrompido.
Seja como Josué, disposto a ouvir e confiar na voz de
Deus: Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se
apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará
com você por onde você andar (Js 1:9). Submeta-se a Deus e

4 CAMPANHÃ, 2008, p. 27

26
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

seja cheio do Espírito Santo. Receba dele as qualificações


de que precisa e se arrisque na confiança de que Deus está
com você. Marque a história da sua geração. Desafiador,
não é mesmo? Mas você pode! É só começar pelo começo.

COMEÇANDO PELO COMEÇO


O sonho precisa ser organizado. Não atropele os
passos; comece pelo início. Uma boa opção é a elaboração
de um roteiro em que seu sonho tomará forma. Josué
Campanhã traz uma forma simples de criar um roteiro a
partir do sonho que se transforma em planos e gera ações.5
Partindo dessa ideia, ore, ore e ore. Depois se pergunte
sobre a razão que o motiva a pensar em servir na revitalização
do ministério. Então, crie um esboço, algo que irá nortear os
próximos passos. Você pode usar o exemplo a seguir como
modelo. Não esqueça: contextualize! Procure uma forma que
melhor se encaixe à necessidade do seu ministério local.

Passo 1 – O sonho
• Anote o objetivo
• Faça um apanhado geral da real situação do ministério.
• Levante informações sobre o perfil dos jovens e dos
adolescentes do ministério e do bairro

5 CAMPANHÃ, 2013, p. 29

27
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

• Faça uma avaliação geral da igreja


Passo 2 – O plano
• Reafirme os valores do ministério. Lembre que valores
e princípios dos ministérios são os mesmos da igreja.
• Analise as oportunidades de acordo com o perfil do
local de atuação
• Defina as estratégias de desenvolvimento e os planos
de ação

Passo 3 – A ação
• Defina como as estratégias serão concretizadas
• Observe os possíveis custos e investimentos
• Defina os passos iniciais do trabalho
• Crie métodos de avaliação
• Defina um sistema para as tomadas de decisões
• Organize um calendário de atividades
• Tenha um projeto de discipulado para potencializar e
gerar novos líderes

Finalizamos esta parte lembrando que, segundo


Campanhã:

O planejamento é a transformação da visão


de futuro e dos sonhos em passos práticos
para guiar a caminhada.6

AMIGOS X OPOSITORES
Antes que o trabalho comece, de fato, a ser concreti-
zado, precisa ser apresentado primeiro a Deus, ao Espírito
Santo. É ele quem ajuda a igreja a manter viva a chama do

6 ibidem, p. 17

28
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

evangelho. A sua inteligência não é suficiente. O Espírito


Santo é a força que move o coração humano à compreensão
da necessidade de salvação. Sobre dele, Jesus disse:

Quando ele vier, convencerá o mundo do


pecado, da justiça e do juízo. Do pecado,
porque os homens não creem em mim; da
justiça, porque vou para o Pai, e vocês não
me verão mais; e do juízo, porque o príncipe
deste mundo já está condenado (Jo 16:8-11).

O apóstolo Paulo declara que fomos selados com


o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa
herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus,
para o louvor da sua glória (Ef 1:13,14), ou seja, o Espírito
Santo é a garantia de que pertencemos a Cristo e de
que, na volta de Jesus, seremos definitivamente salvos.
É ele quem nos leva a conhecer a Deus e sua vontade e
nos ajuda a permanecer firmes, sem desfalecer diante
das dificuldades da caminhada; é aquele que nos orienta
em como, quando e o que fazer, capacitando-nos para
realizar a vontade de Deus. Ele é o melhor amigo para
esta obra.
Após estar alinhado à ação do Espírito Santo, apresente
o projeto ao pastor. Ele é o homem escolhido por Deus para
liderar sua igreja. Antes de qualquer coisa, lembre que ele
não é seu opositor. É o homem que ora e zela por sua vida,
mesmo que você não tenha conhecimento disso.
Se o Espírito Santo aprovou esse sonho, ele o
ajudará a convencer o seu líder de que é importante
para o Reino. Antes de conversar com seu pastor, ore,
busque no Espírito as palavras, a melhor abordagem.
Compartilhe o sonho de forma explícita e transparente.
Apresente os planos, as pessoas dispostas a se envolver.
Deixe claro que se trata de um projeto adaptável e que
29
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

ele, como pastor, tem total liberdade para possíveis


ajustes, mudanças, melhorias. Deixe-o a par dos possí-
veis impactos e mudanças que a revitalização irá causar,
tanto fora quanto dentro da igreja. Faça uma parceria.
Tenha-o como um dos mentores.
Caso seu pastor considere o projeto desnecessário e
não o aprove, tenha uma atitude madura. Seja submisso
ao seu líder; ore por ele, por você e por todos os envol-
vidos. Continue buscando conhecimento e aguarde uma
nova oportunidade. Você não precisa desistir do sonho;
só precisa aguardar com paciência um novo momento.
Não cruze os braços para o trabalho proposto por ele,
nem faça birra. Dê o melhor de si a partir do melhor que
o Espírito Santo lhe deu. Deixe com Deus. Ele sabe o
melhor tempo.
Na perspectiva de uma aprovação pastoral, é hora
de compartilhar e alinhar o sonho com os demais, um
grupo de apoio. Logo a novidade vai se espalhar. Muitos
curiosos irão aparecer. Quando o trabalho começar a
tomar forma, uns continuarão, outros desistirão e novos
voluntários se unirão ao grupo. Nessa estrada, você
encontrará pessoas que o apoiarão, sonharão com você,
serão amigas do seu sonho. Mas também encontrará os
opositores. Veja o caso de Neemias. No livro que leva
seu nome, é contada a história da reconstrução dos
muros de Jerusalém. Quando Neemias compartilhou
seu sonho de reconstruir os muros, muitas pessoas se
sentiram esperançosas e disseram: Sim, vamos começar
a reconstrução. E se encorajaram para esse bom projeto
(Ne 2:18). Por outro lado:

Quando Sambalate soube que estávamos


reconstruindo o muro, ficou furioso. Ridi-
cularizou os judeus e, na presença de seus

30
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

compatriotas e dos poderosos de Samaria,


disse: “O que aqueles frágeis judeus estão
fazendo? Será que vão restaurar o seu muro?
Irão oferecer sacrifícios? Irão terminar a
obra num só dia? Será que vão conseguir
ressuscitar pedras de construção daqueles
montes de entulho e de pedras queimadas?”
Tobias, o amonita, que estava ao seu lado,
completou: “Pois que construam! Basta que
uma raposa suba lá, para que esse muro de
pedras desabe! (Ne 4:1-3).

Diante de tamanha zombaria, a atitude de Neemias


foi apegar-se a Deus e à confiança que os outros haviam
depositado nele. Pode ser desanimador enfrentar as
críticas, as palavras de negatividade, humilhação e
zombaria, a descrença de que vai dar certo. Apegue-se
a Deus. Fortaleça a relação com quem estiver com você
nessa jornada. Quando perceber que suas emoções estão
sendo abaladas, entre no seu quarto e fale com Deus em
segredo (Mt 6:6). Chore, grite, desabafe diante de Jesus;
depois, levante com as forças renovadas pelo Espírito
Santo. Seja corajoso para enfrentar o pessimismo. Toda
dificuldade se torna minúscula quando é apresentada a
Deus. Seja sensato em todo tempo. Aqueles que acre-
ditarem no projeto acompanharão você, enquanto se
sentirem seguros. Sua atitude frente aos problemas será
um ponto determinante. Portanto:

Façam tudo sem queixas nem discussões,


para que venham a tornar-se puros e irre-
preensíveis, filhos de Deus inculpáveis no
meio de uma geração corrompida e depra-
vada, na qual vocês brilham como estrelas
no universo (Fp 2:14-15).
31
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

APRENDA SEMPRE E SEMPRE


O sonho exige interesse, dedicação, cuidado, entu-
siasmo. Seja uma pessoa aplicada; dedique-se a aprender.
O aprendizado constante é importante para ampliar a
visão. Aprenda com as Escrituras. A Bíblia é a revelação
dos planos de Deus. É lâmpada para os pés e luz para
o caminho (Sl 119:105). Expressa as intenções divinas,
agrega conhecimento e sabedoria, coopera com o exer-
cício da fé, renova as esperanças, fortalece o espírito e
direciona ao caminho certo.
Pessoas também ensinam. Família, amigos, chefe,
crianças, jovens e adolescentes são fontes de conhe-
cimento. Tire dúvidas com seus mentores: líderes ou
pastor. Dê atenção aos conselhos dos mais velhos,
especialmente dos idosos. Levantem-se na presença dos
idosos, honrem os anciãos (Lv 19:3), pois a beleza dos
jovens está na sua força; a glória dos idosos, nos seus
cabelos brancos. (Pv 20:29). São pessoas com bagagens
valiosíssimas de conhecimento e experiência.
O aprendizado não termina quando você encerra a
leitura de um livro ou se forma na faculdade. É cons-
tante! Por isso, mantenha-se atualizado, atento às
alterações intelectuais, morais e éticas no mundo, prin-
cipalmente aos impactos no local de atuação do seu
ministério. Tenha curiosidade. Faça um levantamento
sobre o bairro, a história da cidade, as principais carac-
terísticas dos moradores, a estrutura familiar predomi-
nante, a relação entre os vizinhos, as principais festi-
vidades e tantas outras coisas. Não se contente com o
que você já sabe. Paute assuntos que precise conhecer
ou necessite atualizar. Recicle seu conhecimento. Você
pode, por exemplo, pesquisar sobre:

32
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

• História da igreja Adventista da Promessa, suas diretrizes


e valores;
• revitalização de igreja e ministérios;
• liderança para os dias atuais;
• pequenos grupos e discipulado;
• aconselhamento cristão;
• comportamento e perfil dos jovens na atualidade;
• ações de impacto para jovens do novo normal;
• serviço cristão para as cidades – igreja e evangelismo
urbano;
• papel do jovem na sociedade;
• planejamento em curto, médio e longo prazo para
ministérios jovens;
• cultura e contracultura;
• nascidos na era digital;
• diversidade e choque de gerações;
• conceito de sexualidade e diversidade sexual x prin-
cípios bíblicos;
• família e princípio bíblico;
• dons e talentos.

Observe que as mudanças são constantes. À medida


que elas forem acontecendo, acrescente à lista os novos
assuntos. Não durma no ponto, não fique para trás. Se
for possível, tente ser mais rápido do que as mudanças
globais.7 Use a cautela e busque as ferramentas certas
para aprender. Seja prudente para não beber das fontes
de águas amargas.

7 BRUNET, 2017, p. 144

33
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Tenham cuidado para que ninguém os escravize


a filosofias vãs e enganosas, que se fundamen-
tam nas tradições humanas e nos princípios
elementares deste mundo, e não em Cristo (...).
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas
transformem-se pela renovação da sua mente,
para que sejam capazes de experimentar e com-
provar a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus (Cl 2:8; Rm 12:2).

A CONSCIÊNCIA DA RECOMPENSA
Eis que venho em breve! A minha recompensa
está comigo, e eu retribuirei a cada um de
acordo com o que fez (Ap 22:12).

Deus está ligado em tudo o que acontece com você e


seu ministério. Ele está atento às dores, aos sofrimentos e ao
serviço prestado. Muito em breve, Cristo voltará e com ele
virá a recompensa dos que perseverarem até o fim. Observe
que as recompensas não vêm de homens. Não são o reconhe-
cimento do pastor nem os aplausos dos amigos ou os elogios
da família. As recompensas vêm de Deus porque estão com
ele. É essencial ter consciência de que elas são reais.
Na segunda carta a Timóteo, especificamente no capí-
tulo 4, Paulo escreve suas últimas palavras. A sentença de
sua morte já havia saído. Ele havia sido julgado por causa
do evangelho. No entanto, em vez de uma carta de lamen-
tação, ele escreve uma carta de recomendação e gratidão.
Em suas recomendações ao jovem, o apóstolo o incentiva
a pregar a Palavra em todas as oportunidades (2 Tm 4:2).
Lembra que o objetivo dele era ganhar almas e o orienta
a desenvolver essa missão a partir do ministério em que
atuava (2 Tm 4:5). Era importante que Timóteo compreen-
34
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

desse que era um soldado a serviço de Deus e, por essa


razão, deveria suportar as aflições.8
Na hora de noticiar a sua morte, o apóstolo o
encoraja afirmando que, no final de tudo, a recompensa
chegaria. Suas palavras de despedida também eram
palavras de esperança e fé. Valeria a pena sofrer as afli-
ções do serviço.

Eu já estou sendo derramado como uma oferta


de bebida. Está próximo o tempo da minha
partida. Combati o bom combate, terminei a
corrida, guardei a fé. Agora me está reser-
vada a coroa da justiça, que o Senhor, justo
Juiz, me dará naquele dia; e não somente a
mim, mas também a todos os que amam a
sua vinda (2 Tm 4:6-8).

Não havia pesar, pavor, decepção ou raiva em suas


palavras pela sentença recebida. Ao contrário, havia o
reconhecimento de que tudo o que ele fizera tinha sido
proveitoso para o Reino. Ele não estava arrependido por
servir; estava feliz, grato por ter cumprido o chamado
de Deus e realizado a sua vontade. Esse sentimento de
gratidão e prazer já era um prêmio.

Como lutador ou pugilista determinado,


Paulo deu o melhor de si na luta; como um
corredor, terminou vitorioso a corrida de sua
vida. Obedeceu às regras e merecia o prêmio
(ver At 20: 24; Fp 3:13,14). Um despenseiro
que guardou fielmente o depósito do seu
senhor: “Guardei a fé” (2 Tm 4:7).9

8 WIERSBE, 2006, p. 331


9 WIERSBE, 2006, p. 332

35
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Por se manter constante em sua fidelidade, mesmo


em momentos de privações e desalento, o apóstolo tinha
consciência de sua recompensa; por isso, olhava para
frente. Sabia que sua coroa de justiça estava reservada.
Ele não mais seria julgado injustamente por homens maus.
Receberia o julgamento do Juiz que julga com retidão,
Jesus Cristo.
Timóteo deveria tomar como exemplo a atitude de
Paulo e, da mesma forma, viver para servir, consciente de
que seu prêmio estava nas mãos de Deus. Faz-se neces-
sário ter a mesma consciência que Paulo teve e, diante
das aflições, manter-se fiel até o fim de sua carreira.
Segundo Swindoll,10 servir tem recompensas numerosas
que superam em muito as dificuldades. Muitas delas rece-
beremos na ocasião da volta de Jesus, mas outras pode-
remos desfrutar aqui na Terra.

Recompensas terrenas
As recompensas terrenas são aquelas que recebemos
de Deus para desfrutar ainda neste tempo:

1. A alegria de ser guiado pelo Espírito Santo. Enquanto


você mantiver Cristo no centro, colherá benefícios de
um Deus cuidadoso, que estará com você, auxiliando
o trabalho e moldando o ministério para que todos
se tornem semelhantes a Jesus.11 A sua relação com
o Espírito Santo será crescente, satisfatória. Ele
produzirá progressivamente o fruto que fará parte
de sua identidade. Gálatas 5:22 e 23 lista os gomos
deste fruto: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

10 SWINDOLL, 1983
11 BRIGHT, 1996, p. 74

36
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

2. A imensa satisfação pela conversão. A cada jovem


que se render a Cristo, você passará por sensações
impossíveis de descrever em palavras. A alegria, a
presença da Triunidade, a manifestação do Espírito
Santo, o quebrantamento, o romper de barreiras serão
muito envolventes. O sobrenatural estará diante dos
seus olhos.

Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá


mais alegria no céu por um pecador que se
arrepende do que por noventa e nove justos
que não precisam arrepender-se (Lc 15:7).

3. O cuidado de Deus. Em todas as necessidades, Deus


cuidará de você. Mesmo quando se sentir só, ele
estará ao seu lado, zelando por sua vida.

Por isso não tema, pois estou com você; não


tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o for-
talecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a
minha mão direita vitoriosa (Is 41:10).

Ele não permitirá que você tropece; o seu


protetor se manterá alerta, sim, o protetor de
Israel não dormirá, ele está o sempre alerta!
O Senhor é o seu protetor; como sombra que
o protege, ele está à sua direita. De dia o sol
não o ferirá, nem a lua, de noite. O Senhor o
protegerá de todo o mal, protegerá a sua vida.
O Senhor protegerá a sua saída e a sua che-
gada, desde agora e para sempre (Sl 121:3-8).

O meu Deus suprirá todas as necessidades de


vocês, de acordo com as suas gloriosas rique-
zas em Cristo Jesus (Fp 4:19).

37
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Recompensas celestiais

Essas são aquelas que receberemos de Deus quando


Cristo voltar, e serão eternas. Resumem-se nas coroas
para aqueles que servirem fielmente:

1. Coroa de justiça: Aos que aguardam a sua volta:

Agora me está reservada a coroa da justiça, que


o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não
somente a mim, mas também a todos os que
amam a sua vinda (2 Tm 4: 8).

2. Coroa eterna: Aos que controlam as próprias vontades


com a intenção de ganhar almas para Cristo:

Todos os que competem nos jogos se sub-


metem a um treinamento rigoroso, para
obter uma coroa que logo perece; mas nós
o fazemos para ganhar uma coroa que dura
para sempre. Sendo assim, não corro como
quem corre sem alvo, e não luto como quem
esmurra o ar. Mas esmurro o meu corpo e
faço dele meu escravo, para que, depois de
ter pregado aos outros, eu mesmo não venha
a ser reprovado (1 Co 9:25-27).

3. Coroa de alegria: Aos que se alegram em pregar o


evangelho e discipulam com prazer:

Pois quem é a nossa esperança, alegria ou


coroa em que nos gloriamos perante o Senhor
Jesus na sua vinda? Não são vocês? De fato,
vocês são a nossa glória e a nossa alegria
(1 Ts 2:19,20).

38
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

4. Coroa da vida: Aos que suportam as aflições sem


deixar de amar a Deus:

Feliz é o homem que persevera na provação,


porque depois de aprovado receberá a coroa
da vida que Deus prometeu aos que o amam
(Tg 1:12).

5. Coroa de glória: Aos que cuidarem do rebanho de


Deus, zelando pelas ovelhas com amor e dedicação:

Portanto, apelo para os presbíteros que há


entre vocês, e o faço na qualidade de presbí-
tero como eles e testemunha dos sofrimentos
de Cristo, como alguém que participará da
glória a ser revelada: Pastoreiem o rebanho
de Deus que está aos seus cuidados. Olhem
por ele, não por obrigação, mas de livre von-
tade, como Deus quer. Não façam isso por
ganância, mas com o desejo de servir. Não
ajam como dominadores dos que lhes foram
confiados, mas como exemplos para o reba-
nho. Quando se manifestar o Supremo Pas-
tor, vocês receberão a imperecível coroa da
glória (1 Pe 5:1-4).

Que grandioso será o dia da coroação, o momento


em que a graça nos aperfeiçoará! Então, seremos perfei-
tamente semelhantes a Jesus e chegaremos à maturidade,
atingindo a medida da plenitude de Cristo (Ef 4:13). Não é
magnífico saber que Deus, em toda a sua glória e seu infi-
nito poder, se preocupa em preparar prêmios para nós?
Pense aí se não vale a pena servir.

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

SIGA O EXEMPLO
O coração está palpitante pelas
promessas de Deus? A melhor forma
de garantir que irá receber todas as
recompensas é seguir o exemplo de
Jesus; afinal, ele foi o maior servo que
já existiu na Terra.
Olhe o que a Bíblia registra:

Jesus os chamou e disse:


“Vocês sabem que os governantes das nações
as dominam, e as pessoas importantes exer-
cem poder sobre elas. Não será assim entre
vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se
importante entre vocês deverá ser servo, e
quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo;
como o Filho do homem, que não veio para
ser servido, mas para servir e dar a sua vida
em resgate por muitos” (Mt 20: 25-28).

Cristo poderia ter exigido os holofotes, os aplausos,


os mimos e as bajulações que somente os reis tinham. Mas
sua atitude foi oposta: apesar de sua grandeza e de quem
ele era, não reivindicou para si a glória. Seu chamado era
servir! Por isso, suas ações sempre foram pautadas em
simplicidade e humildade.
Sendo Senhor e Mestre, Jesus lavou os pés de seus discí-
pulos. Ao terminar, ele perguntou: Vocês entendem o que lhes
fiz?. Seguiu com um rápido e objetivo discurso sobre humil-
dade e a posição que o servo deve assumir (Jo 13: 12-16).
A interrogação de Jesus aos seus amigos é válida
até hoje: você entende o que Jesus fez? Não somente
naquele momento com os discípulos, mas em toda a sua

40
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

vida terrena? Ele foi o servo enviado por Deus com um


chamado, uma missão e um propósito definidos: trazer,
fazer e estabelecer a justiça de Deus:

Eis o meu servo, a quem sustento, o meu esco-


lhido, em quem tenho prazer. Porei nele o meu
Espírito, e ele trará justiça às nações. Não gri-
tará nem clamará, nem erguerá a voz nas ruas.
Não quebrará o caniço rachado, e não apa-
gará o pavio fumegante. Com fidelidade fará
justiça; não mostrará fraqueza nem se dei-
xará ferir, até que estabeleça a justiça sobre a
terra. Em sua lei as ilhas porão sua esperança
(Is 42:1-4 - grifo nosso).

Ao trazer a justiça, Jesus abriu caminho para que


o pecador pudesse chegar ao Pai. Ele mesmo declarou:
Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai,
a não ser por mim (Jo 14:6).
Ao fazer justiça, Jesus revelou a misericórdia e a
graça de Deus. Não o fez apenas em palavras, mas em
atos de compaixão.

Jesus ia passando por todas as cidades e


povoados, ensinando nas sinagogas, pre-
gando as boas novas do Reino e curando
todas as enfermidades e doenças. Ao ver
as multidões, teve compaixão delas, porque
estavam aflitas e desamparadas, como ove-
lhas sem pastor (Mt 9:35,36).

Ao estabelecer a justiça, Jesus mediou o perdão de


Deus com sua morte na cruz. Ao crer em Jesus, o pecador
é inocentado de suas culpas e tem acesso à salvação.

41
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

... sendo justificados gratuitamente por sua


graça, por meio da redenção que há em Cristo
Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para
propiciação mediante a fé, pelo seu sangue,
demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância,
havia deixado impunes os pecados anterior-
mente cometidos; mas, no presente, demons-
trou a sua justiça, a fim de ser justo e justifica-
dor daquele que tem fé em Jesus (Rm 3:24-26).

Tudo o que Jesus fez e continua fazendo é com o


objetivo de conduzir pecadores ao arrependimento. Da
mesma forma, todo o trabalho deve ser realizado com a
mesma intenção: Eu lhes dei o exemplo, para que vocês
façam como lhes fiz (Jo 13:15).
Deus espera ações práticas de nossa parte. O serviço
não é uma teoria; portanto, se você deseja fazer a dife-
rença nesta geração, proporcionando ao seu ministério
a oportunidade de uma revitalização para servir a Deus,
aplique o exemplo de Cristo. Mostre às pessoas que ele
é o único caminho de salvação. O perdão justificador já
foi liberado pelo Pai, e as suas misericórdias se renovam
todas as manhãs.
Seja prático como Jesus foi e aplique o exemplo:

1. Ame as pessoas e o seu ministério


Cristo é a essência do amor. Ninguém tem maior
amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos
(Jo 15:13).

2. Quebre barreiras sociais e étnicas


Preocupe-se com os pecadores que estão longe
de Deus. Seja atencioso com os menos favorecidos.
Tenha compaixão. Cuide dos necessitados. Dê atenção

42
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

aos marginalizados da sociedade. Não despreze


raças, povos ou línguas, nem rejeite as pessoas por
suas classes sociais, mas ajude-as a compreender
por qual tesouro devem dedicar suas vidas e seus
bens. Jesus amou e teve compaixão de pobres e ricos:
Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque
estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem
pastor (Mt 9:36). Incluía todos que iam a sua presença
(Lc 19: 5; Jo 3: 1-21; Jo 19: 38). Não teve receios de estar
com os rejeitados da sociedade. Ele tocou em leprosos,
comeu com pecadores, cuidou das emoções de uma adúl-
tera, deu atenção a mendigos, alimentou os famintos,
conversou e curou samaritanos, atendeu romanos etc.
(Mt 8:3, 15:29-37; Lc 7:9, 17:11-19, 18:42-43; Jo 4:1-28,
8:11). Quando questionado sobre suas atitudes para com
essas pessoas, sua resposta foi tão autêntica quanto
ele: Não são os que têm saúde que precisam de médico,
mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas peca-
dores ao arrependimento (Lc 5:31-32).

3. Use o que está à sua disposição


Use o que está a sua disposição: o templo, o carro, a
casa, o trabalho, a universidade, a escola, a TV, o celular,
as redes sociais, a família, os amigos, as situações emer-
genciais, as carências sociais, os hábitos das pessoas
do bairro onde a igreja está inserida. Além disso, você
também pode utilizar situações que envolvam a comu-
nidade, como corridas, caminhada, trilhas, campeonatos,
gincanas culturais, aulas para jovens e adultos, reforços
para crianças, cursos para ganho extra etc. Jesus apro-
veitou tudo o que havia a sua disposição para conduzir
as pessoas para perto de si; por exemplo, percorreu
as cidades atendendo as carências da comunidade
(Mt 4:23). No casamento em Caná, quando faltou o

43
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

vinho, ele providenciou o melhor e evitou que os noivos


passassem constrangimento (Jo 2:1-11). Em Betsaida,
alimentou uma multidão com cinco pães e dois peixes
(Mt 14:13-21). Quando os discípulos não tinham como
pagar os impostos, providenciou o pagamento de dentro
da boca de um peixe (Mt 17:24-27). Com a mulher samari-
tana, aproveitou a situação e a salvou, dando-lhe da água
da vida (Jo 4:7-28). Todas essas ações tinham a intenção
de ensinar e aproximar as pessoas de Deus.

4. Revele o Pai
Ensine a bondade e graça do Altíssimo. Revele o
Pai, assim como Jesus revelava. A partir de Jesus, a figura
de Deus deixou de ser temida para ser amada. Em sua
morte, ele rompeu as barreiras de separação e se tornou
o mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2:5).

5. Recrute pessoas
Você precisará de um grupo de apoiadores que parti-
lhem do mesmo sonho. Discipule. Não dá para fazer tudo
sozinho. Cristo formou o seu grupo de apoiadores e andou
com eles durante todo o seu ministério. Ensinou, orientou.
Essas pessoas tornaram-se amigas dele: ... mas tenho-vos
chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos
tenho feito conhecer (Jo 15:15).

6. Dê oportunidades
Fique atento! Veja além do que qualquer outra
pessoa consegue ver. Você pode encontrar talentos que
nem imagina possuir. Lembrei-me de que há cerca de
uns cinco anos, em uma das igrejas que o meu esposo
direcionava, eu fui surpreendida. Um adolescente
sempre chegava quietinho no templo. Era o tipo que
entrava mudo e saía calado. Não se envolvia em nada.

44
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Começamos o trabalho de reconhecimento das ovelhas,


e fiquei curiosa para saber mais sobre aquele menino. Na
primeira oportunidade, eu me aproximei. Tentei iniciar
uma conversa. Não foi fácil: a timidez dele era colossal.
Um sorrisinho de canto foi tudo o que consegui naquela
hora. Certo dia, surgiu a desejada oportunidade. Teste-
munhei sobre minha vida e o vi com olhos fixos, atentos
a cada palavra. Grata surpresa! Recebi depois uma
mensagem dele pedindo para sanar uma dúvida acerca
da fé que eu professava anteriormente.
A partir desse dia, não paramos mais de conversar.
Percebi que era um menino muito talentoso, com
chamado lindo para o ensino e a ministração da Palavra
e ele ainda tinha o desejo de fazer parte do grupo de
dança. Trabalhei o caminho, incentivei-o o máximo
que pude; enfim, quando ele começou a desenvolver
e aplicar seus dons e talentos para somar ao trabalho
do Reino foi só bênção, e muitas pessoas ficaram tão
surpresas quanto eu. Ele tinha muito a oferecer, o
desejo de ajudar, mas era tímido demais para tomar a
iniciativa. Cristo não dispensou ajuda.
Lucas traz um relato que considero muito inte-
ressante sobre as mulheres que seguiam a Jesus e o
ajudavam com os seus bens (Lc 8). Essas mulheres eram
ricas – uma delas era esposa do procurador de Herodes
(Lc 8:3). O comportamento respeitoso e o olhar mise-
ricordioso de Jesus foram suficientes para gerar nelas
um sentimento de gratidão. Então, quando decidiram
segui-lo, pensaram em como ajudar e viram que pode-
riam suprir as necessidades do Mestre e do grupo,
servindo com o que tinham. Jesus aceitou a colaboração.
Foi uma forma de ajudar seu ministério. Enquanto ele
se preocupava em ensinar, elas se preocupavam com as
necessidades físicas e materiais.

45
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

7. Seja fiel à missão


Independentemente de qualquer situação, não desista!
Lembre que a missão é de Deus. Através dela, o Senhor
dará o resgate de muitos. Algumas horas antes de fina-
lizar sua missão na Terra, Jesus foi a um jardim chamado
Getsêmani e, lá, se afastou dos discípulos para orar.
Estava angustiado pelo que iria enfrentar; a morte estava
mais perto do que nunca. Então, ele proferiu a seguinte
oração: Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice;
contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres
(Mt 26:39). Se Jesus tivesse desistido da missão, estaríamos
definitivamente perdidos. O plano de redenção teria sido
desconstruído, e tudo o que nos restaria seria a morte.
Mas ele não desistiu! Somos salvos pela graça (Ef 2:8).
Para cada ação sua, há uma ação de Jesus. Mergulhe nos
evangelhos. Coloque em prática o que você aprendeu
com Cristo: Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam
como lhes fiz (Jo 13:15).

CONCLUSÃO
A jornada de Jesus na terra foi revolucionária. Trouxe
mudanças expressivas para a geração do seu tempo e todas
as gerações seguintes. Ele não usou armas nem guerras,
motins ou trono. Sua revolução foi causada pelo amor,
um amor singular, inexplicável, sem peso ou medida, um
amor de tal maneira, que o levou a se entregar em favor de
pecadores. Suas palavras, seu olhar, seu toque, até mesmo
seu silêncio expressavam amor. Era tão contagiante que
multidões se aglomeravam para vê-lo e ouvi-lo. Não
importava onde ele estivesse, as pessoas o encontravam,
subiam e desciam em romarias à procura daquele homem.
Não havia exceções nem desprezos em seus olhos. Todos

46
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

tinham acesso a ele. Ele nunca escreveu uma carta român-


tica aos seus discípulos, não deixou bilhetes repletos de
corações e perfumes para nós, mas provou o seu amor
ao morrer por todos os pecadores. Seu amor foi expresso
em ações concretas e consumado na cruz. Jesus serviu em
amor. Serviu ao Pai e ao próximo.
A excelência do serviço está em amar a Deus,
obedecendo a toda a sua vontade, e amar ao próximo
com ações concretas que revelem às pessoas o objetivo
de salvação e o propósito de adoção que vem de Deus.
Caro irmão, amada irmã, como está a sua relação de
amor com a sua igreja hoje? Que ações vocês têm reali-
zado que provam seu amor por sua comunidade cristã?
O que vocês têm feito para ajudar seu pastor, seus
líderes de ministério ou mesmo seus liderados? Quais
suas atitudes para com a comunidade no seu bairro de
atuação, o que têm feito para ajudar a atender neces-
sidades? Como tratam os necessitados ou lidam com
situações emergenciais? De que forma seu ministério
jovem local atua?
Respondam com sinceridade. Se vocês fossem o
espelho do seu ministério, o que as pessoas veriam? Que
conclusões elas tirariam? Os jovens e os adolescentes
da comunidade sentiriam desejo ou, pelo menos, curio-
sidade em conhecer o ministério? Vocês são espelho! O
que as pessoas veem em vocês é o que elas veem no
seu ministério jovem local. Não fiquem lamentando o
que não deu certo até agora. Deus confia em vocês e o
Espírito Santo os capacita para esse trabalho. Resplan-
deçam a luz de Cristo! Seu chamado está diante dos seus
olhos. O objetivo de Deus está posto em suas mãos. O
propósito do Senhor está prestes a ser definitivamente
concretizado. Reforço aqui o que antes expressei: vocês
são parte da estratégia divina.

47
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 1

Espero sinceramente que tenham no coração o desejo


de não querer viver uma vida cristã superficial. Tomara Deus
vocês estejam cansados de ver seu ministério parado, sem
produzir os bons frutos do evangelho, de ficar estagnados
sem fazer nada, apenas criticando tudo o que acontece a
sua volta. Oro para que estejam decididos a ser parte da
solução e não do problema. Conto com a possibilidade de
vocês escolherem sair do ócio para levar seu ministério a
uma atuação produtiva.
Mudem a história de sua vida, de seu ministério!
Lutem pelo que realmente importa. Sigam o caminho
de retidão. Passem pelas pedras, suportem as aflições.
Não tenham medo nem peguem atalhos. Atentem ao
que Deus diz em sua Palavra: Portanto, meus amados
irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam
sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que,
no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil (1 Co 15:58).
Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder,
de amor e de equilíbrio (2 Tm 1:7).

48
Capítulo 2

SE LIGA NA SUA
GERAÇÃO (MISSÃO)
Ajuste o foco para revitalizar
Por Lucas Miranda Matos

N ós servimos a um Deus missionário que deseja nos


ver engajados em sua missão em nossa geração. É
sobre este tema que trataremos no presente capí-
tulo. Pensar sobre isso será como uma jornada de desco-
bertas, começando pelo impacto de uma simples dispo-
sição em refletir sobre o assunto. Esse é o primeiro – e
muito importante – passo que precisa ser dado.
Infelizmente, muitos de nós estamos desistindo dessas
descobertas, sem saber o quanto essa atitude vai custar
mais à frente. Aliás, o nosso conceito de “preço” precisa ser
confrontado também – e será, no decorrer deste capítulo.
Num primeiro momento, vamos analisar alguns
movimentos missionários da história da Igreja. Esta
análise nos proporcionará ensinamentos riquíssimos,
que, por isso, serão parte do que estamos propondo
percorrer neste capítulo. Na sequência, vamos voltar a
nossa atenção ao cenário atual, para que não incorramos
no mesmo erro de muitos, de achar que a nossa geração
“é assim mesmo” e pronto.
Como personagens importantes do momento atual,
precisamos encontrar formas de enxergar o nosso contexto
para além da poeira que foi acomodada sobre ele no proces-
so de modernização que a cultura sofreu nos últimos anos.
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Conformar-se com isso não é uma opção, pelo menos


não para aqueles que, em algum momento, conheceram
a essência da missão dada por Deus a sua igreja, que será
tratada neste capítulo mais a fundo, a fim de se apresen-
tarem pontuações sobre as quais todo cristão precisa pensar.
Pensar significa construir um raciocínio sobre o assunto
em questão. Faremos isso através de “provocações” – no
melhor dos sentidos – e através de dados que são muito
pertinentes à proposta.
Obviamente, nada supera a inspiração intrínseca
aos relatos sobre o Mestre Jesus, em sua passagem
como um ser humano na Terra. Em todos os episódios
em que Deus permitiu que os apóstolos relatassem
uma determinada cena, fica evidente a essência da
missão que o Pai iniciou através de Jesus. Ele exalou
o perfume dessa essência em absolutamente todas as
suas atitudes, e a nós, resta a inspiração de vivermos
em função de refleti-lo. Boa viagem!

UM EXEMPLO DE MISSÃO MODERNA


Ao começarmos a mergulhar na história da igreja,
podemos perceber uma série de acontecimentos inte-
ressantes, que contribuíram de alguma forma para
a continuidade da missão. Esses acontecimentos
trazem insights incríveis de como Deus usou homens
e mulheres, inseridos em contextos diversos, para
manter “energizado” o fio condutor do evangelho
durante toda a história.
No período pré-reforma, a igreja de Cristo parecia
ter sido enterrada pela força do sistema religioso da
época. O domínio da igreja institucionalizada tomava
praticamente todas as esferas da sociedade. Do poder

50
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

político ao poder de perdoar pecados, todos estavam sob


a autoridade da Igreja Católica Romana. Olhando para
essa época, o sentimento é o de que a igreja de Jesus não
existia mais. Obviamente, essa não é uma verdade, e os
motivos são incríveis.
Mesmo no período de domínio da Igreja Romana por
toda a Europa, uma base sólida do cristianismo era cons-
truída por homens e mulheres que tinham, por “n” motivos,
um conceito de missão impressionante.
O período pré-reforma foi sombrio e completamente
turbulento. Conhecemos bem a história de Martinho
Lutero e suas noventa e cinco teses pregadas na porta da
Catedral de Wittenberg. Mas o monge alemão foi um fruto
– extremamente relevante, por sinal – de alguns pré-re-
formadores que, num contexto diferente, foram impul-
sionados a enfrentar um sistema religioso não só duro e
irredutível em suas concepções, mas também violento e
dominador. Nesse contexto, havia um povo com um papel
muito relevante na história das missões, na então região
da Morávia e da Boêmia, hoje República Checa – ou apenas
Chéquia – que fica na Europa Central, fazendo divisa com
Alemanha, Polônia, Eslováquia e Áustria.
Essas regiões tiveram grande influência de pré-re-
formadores, no início do século XIV, que mantiveram
a chama do evangelho acesa até o período da consoli-
dação da Reforma Protestante, que aconteceu por volta
de 1500. Moreh afirma que, antes da reforma, havia uma
igreja florescente naquela região, que fora impactada pelo
evangelho através de missionários de Constantinopla.1
Muitos alemães foram para a República Checa,
durante o período do renascimento. Os alemães se consi-
deravam de cultura superior aos checos, principalmente
no ambiente da academia na capital Praga. A Universi-

1 MOREH, 2021, p. 3

51
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

dade de Praga era considerada o principal núcleo do


conhecimento no país. Também nessa época, estudantes
checos começaram a estudar na Universidade de Oxford,
na Inglaterra, e foram ministrados pelo professor John
Wycliffe, no final do século XIII.
Um fato chama muita atenção na linha do tempo
da missão de levar o evangelho: Wycliffe, um pré-re-
formador, relevante na sua geração, não se intimidou e
conseguiu levar a essência do evangelho para as discus-
sões na academia. Os estudantes checos foram impac-
tados pelos ensinamentos de Wycliffe, de tal forma que,
quando voltaram, levaram consigo uma bagagem sólida
desses ensinamentos, que foram muito bem recebidos no
seu país de origem, principalmente pelo professor John
Hus, em meados de 1400.
Apesar de sua origem pobre, Hus teve uma formação
teológica e filosófica. Foi ordenado padre e tornou-se
professor da Universidade de Praga. Segundo Moreh,
foram os estudantes checos que influenciaram o professor
na jornada até a descoberta do verdadeiro evangelho.2 Hus
começou a questionar os preceitos aplicados pela Igreja
Católica. Mas não fez isso por rebeldia; foi a disposição
em questionar e a sensibilidade ao poder do conheci-
mento que fez com que ele encontrasse um sentido muito
profundo na essência do cristianismo.
John Hus foi corajoso, mas também estratégico.
Havia naquele contexto histórico um avanço da busca do
poderio alemão sobre a Boêmia e a Morávia, que ia além
do domínio já consolidado da Igreja Católica. Hus, muito
influente na universidade e então candidato a reitor, posi-
cionou-se quanto a uma série de dogmas utilizados pela
Igreja Católica, valendo-se de uma base cristocêntrica
para contribuir na manutenção da independência do país,

2 idem

52
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

o que gerou, obviamente, uma forte oposição por parte


do clero da igreja. Esse enfrentamento custou-lhe a vida.
Com a morte de John Hus, queimado vivo (1415),
os ataques da Igreja Católica da Alemanha e da Áustria
contra a igreja florescente na Boêmia tornaram-se muito
intensos, e uma contrarreforma católica foi implantada no
país, obrigando o povo cristão boêmio e morávio a fugir.
Neste momento, somam-se à lista das pessoas que
participaram ativamente do caminho trilhado pelo evan-
gelho de Jesus dois nomes importantes: Christian David e o
conde alemão Nikolaus Ludwig von Zinzendorf. Mas vamos
por partes. Olhando para a história da Igreja Cristã Protes-
tante, o cenário não é bom. Mais uma vez, ela é oprimida,
atacada e expulsa de sua própria terra, sendo forçada a
se espalhar. Com a perseguição aos cristãos protestantes
acontecendo intensamente, muitos eram mortos e outros
tentavam fugir do país, na expectativa de sobreviver.
Christian era um católico radical morávio, que se
convertera também através do aprofundamento nos
estudos da teologia, impactado pelo evangelho de Jesus.
Viajou muito para fora da Morávia e foi influenciado na
Saxônia por um pastor luterano, durante um período
em que esteve doente. Voltou para a Morávia, e a sua
pregação estressou um pouco mais os ânimos da gover-
nança católica. Foi então que acabou conseguindo ajuda
para chegar a Zinzendorf, com um pedido encarecido
nas mãos: que o conde fornecesse um pedaço de terra
para aquele povo oprimido, que estava tentando fugir da
Morávia e da Boêmia.
Zinzendorf era de uma família alemã influente em
Dresden e se convertera ao cristianismo muito jovem,
contrariando a vontade de sua família. Estudou direito
na Universidade de Wittenberg, onde se tornou jurista,
seguindo o caminho comum dos jovens nobres da época.

53
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Após concluir a faculdade, saiu de viagem pela Europa e


acabou aderindo – ainda não tão profundamente – ao
protestantismo, quando esteve na Dinamarca, através
de alguns esquimós evangelizados pelos luteranos, que
acabaram apresentando Jesus ao conde.
Em outra parada, foi confrontado com uma mensagem
na cidade de Dusseldorf, escrita na pintura Ecce Homo –
“Eis o homem” – de Domínico Feti: Tudo isso fiz por ti. O
que fazes tu por mim? Um sentimento de amor profundo
por Jesus ardia no coração do jovem conde, que acabou
entendendo sua missão muito cedo, sem se livrar do seu
contexto; pelo contrário, sendo estratégico ao utilizar sua
influência para manter o evangelho vivo.
Ao receber o pedido, Zinzendorf prontamente dispo-
nibilizou a parte alta de suas terras para os morávios.
Christian David então voltou a sua terra natal e conse-
guiu reunir algumas famílias, que partiram rumo à
esperança de poder recomeçar suas vidas em território
alemão, agora sob a proteção de um homem cristão
muito influente. Ele viveu intensamente a missão que
Deus lhe projetou, ensinando-nos que nenhum contexto
serve de justificativa para abrirmos mão da vontade e
dos planos de Deus para nós.
Quando chegaram à vila de Berthelsdorf, os morá-
vios foram recebidos com enorme compaixão pelo conde.
Logo que se instalam na nova terra, aqueles irmãos se
organizaram e iniciaram seus encontros nos domingos,
para prestar culto a Deus. Alguns grupos se formaram,
com pequenas divergências na interpretação de dogmas
cristãos, principalmente por se tratar de um povo oriundo
de diversas vertentes do cristianismo. Logo os conflitos por
causa dessas diferenças começaram a aparecer. A comu-
nidade que enfrentava a perseguição unida começava a
nutrir o pecado da divisão entre os grupos que pensavam,

54
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

de alguma forma, diferentemente uns dos outros, mesmo


sendo todos eles cristãos.
Até então, Zinzendorf não havia tido nenhuma
preocupação com os novos moradores de suas terras.
Porém, os embates se intensificaram, a ponto de o próprio
conde ser considerado a besta do Apocalipse por alguns
desses grupos, segundo Bazzo.3 Imediatamente, Zinzen-
dorf organizou uma visita à comunidade instalada no alto
das montanhas de Herrnhut, para tentar apaziguar os
conflitos cristãos.
Um primeiro encontro foi organizado, e Zinzendorf
ministrou com intensidade sobre o pecado da divisão.
Ele deu um chacoalhão naquele povo; afinal, o cristia-
nismo nascera com a unidade do Pai, do Filho e do Espí-
rito Santo. O ser humano fora criado e vivia em perfeita
harmonia no jardim, até que essa unidade fora rompida
pelo pecado; mas Jesus, em uma de suas últimas orações,
esclareceu que restauraria essa unidade: Eu dei a eles a
glória que tu me deste, para que sejam um, como nós somos
um. Eu estou neles e tu estás em mim. Que eles experi-
mentem unidade perfeita, para que todo o mundo saiba
que tu me enviaste e que os amas tanto quanto me amas
(Jo 17:22-23).
Ao final do sermão, as pessoas estavam completa-
mente desarmadas, sem máscaras, quebrantadas a ponto
de não só corrigirem aquela situação imediatamente, mas
também de serem impulsionadas a intensificar aquele
sentimento de unidade com Deus e com os irmãos na fé,
através do que o Espírito estava fazendo no meio deles.
A reunião durou muito mais do que o previsto, e ao final
daquele momento, alguém teve uma ideia: criar uma
espécie de relógio de oração para que o Espírito Santo
não deixasse a comunidade.

3 BAZZO, 2019

55
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Vinte e quatro homens e vinte e quatro mulheres


se organizam para um revezamento de oração que acon-
teceria de forma ininterrupta. Sentir a Presença foi uma
experiência tão intensa para aquelas pessoas que elas não
queriam, de forma alguma, que aquilo terminasse. De fato,
é isso que acaba acontecendo. O “relógio” dura cem anos e
entra para a história da Igreja Cristã como um dos aconte-
cimentos mais extraordinários na fase moderna da linha do
tempo da missão de divulgar o evangelho de Jesus Cristo.
Tais acontecimentos foram a base sólida que Deus cons-
truiu através daquele povo, para o início do que chamamos
hoje de Missões Modernas. O encontro organizado por Zinzen-
dorf, como citado há pouco, despertou em alguns jovens o
desejo intenso de levar aquela essência – o evangelho – a
pessoas em regiões ou países mais afastados, que, provavel-
mente, não teriam oportunidade de conhecer esse Jesus.
Tomaram, então, a decisão de partir em viagem, sem
considerar aspectos de conforto ou segurança, completa-
mente convictos do que estavam vivendo. Bazzo afirma
que alguns jovens chegaram a se vender como escravos,
para evangelizar algumas vilas escravizadas. Ilhas afas-
tadas, onde viviam tribos indígenas, também foram alvos
desse amor profundo por Jesus, através desses jovens.4
Uma característica muito interessante na comuni-
dade moraviana era a paixão por música e pelas Escrituras.
Diferentemente do que muitos afirmam, a música já era,
naquela época, parte intensa da adoração, a ponto de os
cristãos daquela comunidade organizarem um culto que
funcionava como uma espécie de musical. As mensagens
eram cantadas, intercaladas com momentos de intensa
oração. Não se confunda: Deus é o criador da música, e
ela é parte fundamental da adoração na missão, mesmo
não sendo, obviamente, a única forma.

4 idem

56
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Deus salvou muitas pessoas através da missão de vida


moraviana, e fez isso por meio de um processo muito intenso,
que exigiu uma enorme disposição e uma sensibilidade de
um povo que aprendeu a amar a ordem relatada em Mateus
28. Mas, como em todo processo, houve um preço a ser pago
– aliás, a expressão “nada é de graça” cabe muito bem aqui.
Depois que entendemos isso de verdade, fica mais
fácil compreendermos o amor dos morávios pela missão,
e isso nos dá suporte para seguirmos com o raciocínio
deste capítulo.

AGORA, O STATUS ATUAL


Quando olhamos para uma fotografia, somos
levados ao exato momento em que aquela imagem foi
congelada pela câmera fotográfica. A sensação é sempre
de reflexão, como se pausássemos por alguns segundos
o filme da nossa vida para analisar o contexto da foto.
Esse é o exercício proposto aqui: olhar a fotografia da
cultura em nossa geração, tentando entender o contexto
de tal cultura e como isso influencia a nossa missão de
vida. Faremos isso por uma perspectiva que desafie o
status quo – o estado normal das coisas – e que nos
permita questionar com sobriedade o impacto que
estamos causando na sociedade, como membros esco-
lhidos para a Grande Comissão.
Nós estamos já há algum tempo sendo intensa-
mente influenciados pela era digital, que, segundo o
pastor Genésio Mendes Júnior, afetou a forma com que
essa geração se relaciona e pensa. Toda a mudança cul-
tural a que fomos expostos aconteceu numa velocidade
que não esperávamos.5

5 MENDES, 2016, p. 20

57
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Faço uma viagem no tempo, voltando ao dia 8 de


maio do ano de 2000. Com dez anos de idade, acordo
com muitas expectativas naquele dia; afinal, a caçula da
família estava prestes a chegar, e nós, os dois irmãos mais
velhos, com apenas 3 anos de diferença um do outro,
estávamos prontos para recebê-la. Viajamos até a cidade
vizinha, onde fica o hospital. Eu lembro que, na chegada,
minha mãe foi muito rapidamente encaminhada para a
ala da maternidade, e nós fomos direcionados para uma
ala de espera, que, segundo as enfermeiras, seria o local
da primeira aparição de nossa pequena.
Naquela época, não havíamos tido ainda contato
com muita tecnologia. Não conhecíamos o celular e
acabamos por ter o nosso primeiro computador, um
PC branco com tela de tubo e Windows 98, alguns anos
depois, quando minha mãe decidiu vender o seu fusca
branco com rodas de liga leve e volante esportivo. Foi
um longo dia, pois, sem as possibilidades de entreteni-
mento mobile como temos hoje, não tínhamos absolu-
tamente nada para fazer. Não lembro com tanta certeza
quantos bebês nasceram naquele intervalo, mas lembro
que fomos até próximo do vidro cheio de bebês várias
vezes. Foi então que alguém nos avisou, já perto das
dezoito horas daquela tarde, que enfim seria ela.
Preciso abrir aqui um rápido parêntese. Quando a
enfermeira apontou no vidro, a cena mais clara que tenho
em minha mente – perdendo apenas para o momento em
que vimos o rostinho da Isabela pela primeira vez – foi a
corrida em disparada do Matheus, parando apenas pelo
impacto no vidro, que obviamente não foi percebido por
ele, talvez pela empolgação em que estava para ver a
irmã mais nova primeiro do que eu. Ele conseguiu, mas –
ressalto algo importante – precisou pagar um preço: um
belo de um galo na testa. Fecho o parêntese.

58
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Ao nos aproximarmos do vidro, vimos aquele rostinho


rechonchudo, completamente inocente e doce. Analisando
a fotografia daquele momento, entendo que, obviamente,
não passava por aquela mente ainda em branco nada
do que ela enfrentaria nos anos que se seguiram. Mas o
ponto a ser destacado aqui é que, na verdade, também
não passava em nossa mente esse enorme desafio. Nascia,
naquele momento, uma Geração Z, que buscaria referên-
cias primeiro em seus pais (início da Geração X) e em seus
irmãos (Geração Y), mas que teria desafios completamente
diferentes dos enfrentados por essas referências.
A partir dos anos 2000, a tecnologia
invadiria os jovens como uma avalanche.
O sentido da palavra conexão mudaria
drasticamente. Os grupos de amigos que
gostavam de ficar numa roda de conversa
na rua até altas horas da noite seriam subs-
tituídos por grupos conectados virtual-
mente. O interesse das gerações posteriores
à Y sofreria uma transformação intensa, a
ponto de afetar profundamente o mercado
varejista em todo o mundo. A partir dali, o
brinquedo das crianças não seria mais uma
boneca ou um carrinho: seria um celular.
Voltando à Isabela, a formação do seu caráter cristão é
a chave para entendermos qual o status cultural em nossos
dias. Diferentemente das gerações anteriores, essa geração
seria – e ainda é – moldada por pessoas que viveram
poucas oscilações ao longo da história, se considerarmos
os ciclos em que as grandes mudanças ocorreram. Segundo
a Visual Capitalist, o telefone demorou cinquenta anos para
alcançar o número de cinquenta milhões de usuários.6
O Pokémon Go demorou dezenove dias.

6 VISUAL CAPITALIST, 2018

59
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

A geração que sofreu poucas oscilações em sua traje-


tória recebeu a missão de preparar a geração que está em
drástica e constante transformação. Os impactos desse
desafio são monstruosos, mas, por muito tempo, temos
empurrado o assunto para debaixo do tapete, de certa
forma. Talvez não tenhamos realmente as respostas para
todos os questionamentos que vieram à tona através da
Geração Z. Mas eu prefiro acreditar que esses questio-
namentos a respeito dessas dúvidas sobre a vida são de
total interesse de Deus. Não fosse isso, o Livro dos livros
não seria um oceano de possibilidades de evolução em
conhecimento de quem nós somos, como ele já se provou
ao longo do tempo. Precisamos nos dispor a mergulhar
para conhecer mais de quem Deus é, e não apenas lendo a
Bíblia como um manual técnico e superficial, com instru-
ções sobre bons e maus usos da vida.
Por muito tempo, assuntos complexos para esta
geração foram tratados como uma ação maligna na vida
dos jovens pelas gerações passadas. Problemas com a
sexualidade foram considerados uma doença. Problemas
com depressão foram considerados, por vezes, como a
falta de Deus. As dúvidas sobre temas complexos para
esta geração foram respondidas de forma dúbia pela velha
guarda.7 Esses são alguns poucos exemplos do impacto na
relação entre gerações na continuidade da missão. Ainda
muitas outras questões poderiam ser exploradas aqui.
O papel da igreja nesse processo é fundamental,
quando analisado pela perspectiva da relação desta
geração com as instituições. Nas décadas anteriores, a
comunidade jovem, em sua maioria, acreditava na sobe-
rania das instituições. O governo era o principal agente
gerador de oportunidades em todos os aspectos. A igreja,
enquanto instituição, também tinha um papel extrema-

7 MENDES, 2018

60
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

mente importante. O caráter do jovem estava supor-


tado pelas bases que a igreja instituiu. E isso funcionou
por muito tempo, principalmente pela linearidade das
mudanças culturais que a geração anterior vivenciou.
A partir da década de 80, a comunidade cristã
começa a lutar por respostas aos inúmeros questiona-
mentos que tinha. Com a chegada do ano 2000, essa
guerra explode de forma incontrolável. As instituições,
de modo geral, perdem sua autoridade. A comunidade
jovem se junta e consegue levantar o tapete sob o qual
estavam escondidos todos os assuntos complexos sobre
os quais os jovens queriam falar. O efeito desse movi-
mento é sentido ainda fortemente nos dias atuais, em
todas as esferas da sociedade.
A missão que Jesus iniciou quando enviou seus discí-
pulos também sofreu grandes impactos. Para entendê-los
um pouco melhor, é importante destacar um sentimento
que muda de geração para geração, mas que vai permanecer
para sempre nos agentes da missão, até que Jesus volte. Eu
me refiro ao medo. As gerações anteriores tinham medo do
novo, de tudo que as tirasse de sua zona de conforto segura.
A geração da Isabela tem outro tipo de medo: o
medo da exposição. Com a abrangência de conexão
trazida pelo celular e o poder de questionar tomando
uma proporção incontrolável, as pessoas se sentiram no
direito de se tornarem juízes virtuais da nação. As redes
apelidadas de sociais se tornaram o esconderijo ideal
para que o ímpeto de julgar fosse externado pela comu-
nidade conectada; porém, sem que fosse necessária a
exposição à “vida real”.
Esse formato trouxe um passivo com um preço ainda
mais alto. O jovem agora não tem mais coragem de se
expor, pois entende que será também julgado por todos,
como ele mesmo o faz. Porém, em toda a história da

61
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

missão de disseminar o evangelho, a exposição sempre


foi uma ação necessária. Não há como alguém cumprir
a missão sem se expor de alguma forma. Entenda aqui
exposição no sentido completo da palavra, não apenas
como uma função exercida na frente de uma plateia. Tal
exposição, na construção desse raciocínio, está intrinse-
camente ligada ao relacionar-se com outras pessoas.
Não bastasse isso, a geração da Isabela tem ainda
um outro dilema a ser compreendido: as redes sociais se
tornaram também o principal ambiente dos comércios.
Mas o que isso tem a ver com o assunto? Vamos lá. Ao
passar tempo conectado, o jovem sente um certo empo-
deramento, pois consegue gerar algum tipo de influência
nas pessoas, sem ter que se expor, como já dito, à “vida
real”. Porém, como na maioria das sociedades, as empresas
precisam vender, e perceberam, obviamente, que as
pessoas aderiram intensamente ao costume de passar
muito tempo conectadas a um celular.
Foi então que o mercado de fornecimento de dados
se iniciou. As empresas se estruturaram para projetar app’s
que tornassem um hábito a conexão quase ininterrupta,
para que o usuário fornecesse cada vez mais dados, infor-
mações que são extremamente úteis para essas gigantes.
Quanto mais tempo você passa rolando a telinha do
seu celular para baixo, mais informações sobre o que o
atrai são fornecidas àquele aplicativo, que vai vender –
de forma legal – essas informações para parceiros que
possuem produtos que atendam essa demanda.
Resumidamente, empresas como Google, Facebook e
Instagram desenvolvem algoritmos capazes de fazer esse
trabalho com maestria. Elas captam seus dados de navegação,
compilam e organizam esses dados, para vender àquelas
empresas que querem estar diante de você, que é a pessoa
certa, no momento certo, para comprar o produto certo.

62
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Segundo o documentário O dilema das redes, exibido


pela Netflix,8 se nós não conseguimos definir quais são
os produtos dessas que são as empresas mais ricas do
mundo hoje, é porque nós somos o produto. Isso está
fazendo com que essa geração abra mão de um tempo de
qualidade com um livro, uma boa conversa pessoalmente
com amigos ou com a família, e claro, dos momentos
de relacionamento com Deus. Este último, por sinal, é
a base para que nós consigamos responder às questões
sobre quem somos e para onde estamos indo. Encontrar
essa resposta vai ajustar a direção que vamos apontar a
nossa vida e fazer com que consigamos, de fato, cumprir
o desafio de viver para o que fomos chamados.
Nós, os irmãos mais velhos da Isabela, tivemos
grande sorte, por termos nosso caráter formado antes da
avalanche das conexões, pois agora temos a impressão
de conseguir enxergar por uma perspectiva externa,
mais ampla, as coisas que realmente têm valor e, de
certa forma, nos apegarmos a isso para não nos despren-
dermos da base em que todos deveriam estar apoiados
para cumprir o chamado. Ainda assim, muitos de nós, que
estão exatamente no meio dessa transição, acabaram
ficando pelo caminho.
É como se, apesar dos pesares, nossos pais ainda
conseguissem nos plantar à beira de águas correntes,
como disse o salmista, no verso 3 do Salmo 1: É como
árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no
tempo certo e suas folhas não murcham.
Não estou afirmando, com isso, que os nascidos antes
de 2000 estão cumprindo maravilhosamente bem a missão e
que os Millennials, não. Estou apenas mostrando que os desa-
fios foram diferentes e que a forma “antiga” de se preparar
uma geração para a missão funcionou parcialmente.

8 NETFLIX, 2020

63
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Nós ainda temos, por algum motivo, a ideia de que os


frutos de nossa missão são ações como ir à igreja, devolver
o dízimo ou fazer parte de um grupo de louvor. Segundo o
pastor Banning Liebscher, em seu livro Enraizado, os frutos
não são ações religiosas: ... fruto significa que, quando alguém
provar a sua vida, ela terá gosto de Jesus.9 Todas as outras ações
são consequências de uma obediência à raiz central de nossa
vida missional, que será abordada um pouco à frente.
Por fim, um fator será determinante para a conti-
nuação desta jornada de reflexão que estamos cons-
truindo. Madaleno10 chama esse conceito de uma mão
fechada, uma mão aberta. Ele propõe que, para que essa
geração consiga levar adiante a missão do evangelho de
Jesus, é preciso ter “uma mão fechada”: as verdades funda-
mentais da fé. Mas a outra mão, a da abordagem, pode ser
aberta. Não dá para negociar se existe inferno ou não, se
Deus é justo ou não, se Jesus é o único Senhor e Salvador,
quem é o Espírito Santo, a infalibilidade da Bíblia. Mas,
se o ambiente será claro ou escuro, se terá luz colorida
ou não, se podemos usar um cenário mais intimista ou
algo mais futurista, se podemos pregar usando o título de
um filme ou uma música secular e trazer uma perspectiva
bíblica nas questões apresentadas, isso é aberto.
Para que essa geração consiga revitalizar a missão
que lhe foi dada em Mateus 28:16-20, será preciso
chacoalhar a poeira que está sobre a essência do verda-
deiro e imutável evangelho, aquilo que está sob a “mão
fechada” e trazê-lo para a nova realidade do mundo;
afinal, o pedido de Jesus, em João 17:15, é claro e direto:
que o Pai não nos tirasse do mundo, mas que nos livrasse
do mal. Chacoalhar a poeira vai implicar uma série de
passos que Deus espera de nós. Será preciso coragem

9 LIEBSCHER, 2017, p. 22
10 MADALENO, 2017, p. 198

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

para encarar a si mesmo no espelho, coragem para dizer


as verdades sobre si mesmo, independentemente do
quanto elas possam doer.
Na jornada do mergulho até um nível mais profundo
de conhecimento sobre quem somos e quem ele é, temos
tentado entrar pela praia, pulando uma pequena onda de
cada vez. Mas a proposta de Jesus, independentemente de
qual fosse a geração, nunca foi essa. A proposta de Jesus
é muito mais emocionante.

PAGUE O PREÇO: PULE DO ALTO DA PEDRA


A proposta de Jesus para os que entenderam a essência
do verdadeiro evangelho sempre foi saltar do alto de uma
pedra. Mas, para que você entenda o que estou dizendo,
preciso, aqui, fazer mais uma rápida viagem.
Estávamos em meados do ano de 2006. Um amigo
foi passar uns dias numa praia e me fez o convite para
acompanhá-lo na viagem, pois havia um lugar no carro. O
hotel ficava na cidade de Caraguatatuba, uma cidade no
litoral norte paulista, sem muitos pontos turísticos além
das próprias praias. Estávamos animados, éramos jovens
e queríamos aproveitar ao máximo o passeio.
No segundo dia de viagem, alugamos dois caiaques e
partimos na direção de umas pedras, onde a praia parecia
ser mais bonita e havia um movimento maior de pessoas.
De dentro do mar, avistamos uma pedra gigantesca, que
parecia a boca de uma gigantesca baleia, aberta, engo-
lindo parte do mar. Ao nos aproximarmos da pedra, desco-
brimos, através de alguns turistas, que aquela era a Pedra
do Jacaré, um dos poucos pontos turísticos – ainda acho
que parece mais uma baleia, mas respeitarei, aqui, o ponto
de vista do homem que deu o nome à pedra.

65
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

A paisagem era bonita, mas eu acabei me apegando


mais ao que estava acontecendo na pedra. Havia uma galera
saltando lá de cima, em direção ao mar. Hoje, quando olho
para fotos desse lugar, a pedra parece muito mais inofen-
siva. Naquele momento, era assustadoramente empol-
gante ver aqueles garotos tomando distância e se jogando
no mar. Eu me enchi de adrenalina e fiz a proposta ao meu
amigo. Ele não se animou muito com o salto, mas apoiou
minha decisão – inclusive, filmaria tudo, para mostrarmos
aos nossos amigos quando voltássemos. Devolvemos os
caiaques e partimos pelas trilhas na encosta, em direção
ao grande desafio que me alucinava naquele momento.
Chegamos à pedra, dei uma bela de uma olhada de
cima da parte mais alta. Vi que o mar lá embaixo tinha
muitas pedras próximas também, mas em minha cabeça,
esse desafio precisava ser superado. Aproveitei para tirar
algumas dúvidas com alguns dos meninos que estavam lá
saltando, e comecei o trabalho mental de preparação para
o salto – que leva alguns minutos, talvez mais, claro. Até
que me enchi de coragem de novo e decidi saltar. Máquina
fotográfica a postos, corredor de garotos liberado, dei uma
última e profunda respirada, e parti impetuosamente em
direção ao nada, a fim de sentir a adrenalina de um salto
que, naquele momento, parecia ser tão incrível.
Quando lembro da sensação, lembro que o prin-
cipal fator amedrontador na situação era que, uma vez
impulsionado para o salto, eu não poderia voltar atrás,
pois poderia escorregar e acabar caindo do alto da grande
pedra e me machucar muito com as pedras lá de baixo.
Ainda assim, essa sensação era de muito prazer. Mas eu
aprendi, naquele dia, que tudo na vida tem um preço.
Como citado no primeiro item deste capítulo, absoluta-
mente tudo tem um preço, todas as nossas ações. Quando
meu corpo atingiu o mar com aquela pressão, uma dor

66
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

insuportável tomou conta dos meus ouvidos. Tive difi-


culdades de sair da parte funda do mar, mesmo sabendo
nadar, por causa da dor. Foi preciso fazer uma visita a uma
farmácia naquele dia, para não estragar mais o passeio.
Voltando à proposta de Jesus, ela nunca foi
mergulharmos no mar entrando pela praia, mas, sim,
saltarmos do alto de uma pedra, sem que haja a opção
de voltar atrás. A proposta de Jesus é saltarmos enten-
dendo que a energia gerada com esse salto é capaz de
nos levar muito mais fundo, sem preocupações com a
falta de oxigênio, pois quem vai sustentar essa jornada
não somos nós, nem a nossa capacidade de autosso-
brevivência: é o Espírito Santo, como fez até aqui com
todos os homens e as mulheres que tomaram a decisão
de saltar em direção à vontade de Deus para cumprir a
missão. Confiança total em Deus é o preço a ser pago
por aqueles que querem viver a missão como Deus
planejou que vivessem.
Alguns meses atrás, recebi um story postado por um
seguidor, com um pequeno texto de um autor desconhe-
cido, que dizia o seguinte:

Casamento é difícil, divórcio é difícil. Escolha


o seu difícil.
Obesidade é difícil, ser fitness é difícil. Esco-
lha o seu difícil.
Estar endividado é difícil, ser financeiramente
disciplinado é difícil. Escolha o seu difícil.
Se comunicar é difícil, não se comunicar é
difícil. Escolha o seu difícil.
A vida nunca será fácil, será sempre difícil.
Mas você pode escolher o seu difícil.
Escolha com sabedoria

67
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

O texto exemplifica bem o conceito de “preço” que


estou propondo. Sim, tudo na vida tem um preço, mas é você
o responsável por definir qual preço será pago. Se escolher
viver a vontade de Deus, vai ter de pagar o preço de confiar
plenamente nele. Mas se escolher viver aos moldes de sua
própria vontade, terá de pagar o preço de confiar em sua
própria capacidade de sobrevivência. As duas coisas são
difíceis, mas você precisa escolher o seu difícil.
Quando escolhemos confiar plenamente na vontade
de Deus, partimos de uma premissa que está dentro da
“mão fechada”, citada anteriormente, que é a certeza de
que Deus nos criou com suas próprias mãos, à sua imagem
e semelhança (Gn 1:27), que ele nos conhece muito antes
de nascermos (Jr 1:5; Sl 139) e que, por isso, sabe exata-
mente o que é melhor para nós, independentemente de
nossas intervenções infantis, a que estamos sujeitos em
todo o tempo.
Deus corrige os nossos passos como um pai, a fim de
que, enquanto estivermos nesta Terra, continuemos nessa
direção, a que ele nos mostra. Isso acontece por causa
da essência do evangelho. Viver a vontade de Deus só
é possível a partir da experiência de um relacionamento
íntimo com Jesus. Somente essa experiência é capaz de
nos fazer enxergar quem nós realmente somos e, então,
viver na graça de Deus, através da fé no resultado do
sacrifício de Jesus na cruz.
Essa experiência vai gerar em nós um profundo
arrependimento, um reconhecimento sincero de que não
somos nada sem Jesus, e só o Espírito Santo é capaz de
nos levar a essa profundidade de entendimento. Indepen-
dentemente de qualquer oscilação de nossa cultura ou de
tamanha evolução tecnológica a que seremos expostos
nos próximos anos, enquanto não chega a hora da volta
de Jesus, precisamos reconhecer que somos completa-

68
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

mente dependentes de Deus. Esse é o preço a ser pago.


Nós temos a tendência de pensar que, por nos conhecer
profundamente, Deus não quer nos ouvir. Mas a experiência
de um relacionamento íntimo com Jesus só é possível através
de outro meio que precisa ser abordado: a oração.
Nenhum relacionamento pode ser vivido apenas
pelo que os indivíduos envolvidos pensam a respeito um
do outro. A comunicação com aquele a quem estamos
confiando o oxigênio de nossa jornada na missão precisa
ser efetiva. Não há como viver as coisas incríveis que ele
planejou sem que haja muitas conversas, muitos desa-
bafos, muitas risadas, muitas lágrimas e muitas discus-
sões. Lembre-se: Deus não tem nenhum problema com
questionamentos; ele é o dono de todas as respostas. Nós
é que temos dificuldade de lidar com os questionamentos.
A oração baseada nas Escrituras é a grande ferra-
menta para alcançar o sucesso do seu maior empreendi-
mento, que é a sua vida. Você precisa entender que oração
não é algo que acontece para uma satisfação de um deus
egocêntrico; pelo contrário, a oração constrói quem nós
somos, ajustando, a cada conversa, um pouco mais a
direção que estamos tomando, e isso, sim, satisfaz a Deus.
O sábio finaliza o livro de Eclesiastes dizendo que,
no final das contas, a conclusão é: Tema a Deus e obedeça
aos seus mandamentos, porque isso é o essencial para o
homem. Muitos confundiram a entonação desse versí-
culo, o que causou grandes estragos na geração atual.
É como se um velho rancoroso estivesse fazendo uma
ameaça, obrigando-nos a obedecermos, por medo, aos
mandamentos de Deus.
Temer a Deus não é ter medo de Deus, por mais que
saibamos que uma fagulha do que ele é capaz seria sufi-
ciente para pôr fim a tudo o que nós chamamos de vida.
Temer a Deus é considerar a sua vontade em absoluta-

69
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

mente tudo o que fizermos na vida. É entendermos que


somos completamente dependentes do que ele planejou
fazer através de nós. É termos senso de responsabilidade,
compreendendo que nossa vida não é apenas nossa, mas
que fomos criados para cumprir o nosso papel na missão.
O nosso papel na missão é pegar a essência desse
evangelho verdadeiro e imutável e levá-lo até as pessoas
que ainda não o possuem. Esse evangelho que nos
impactou, mudou a nossa vida, tirou-nos de uma situação
de completa embriaguez espiritual e trouxe-nos para uma
luz maravilhosa, a partir da qual não somos mais escravos
de nossas próprias limitações, pois temos agora alguém
que aceitou o desafio de carregar nossos fardos e afirmou
com clareza que o seu fardo é leve (Mt 11:30).
A ação de levar o evangelho a outros diz respeito às
inúmeras formas possíveis de transmitirmos a mensagem.
Trata-se do inverso ao que acontece com a maioria das
pessoas, que mostram algo que não vivem, principalmente
através de todos os tipos de filtros que os app’s oferecem.
Ela diz respeito à experiência íntima com Cristo, que se
torna evidente porque transbordamos Jesus, a ponto de
não termos como esconder quem somos.
A missão não começa quando me torno um missionário
de tempo integral; ela começa quando as pessoas olham
para a minha vida, no meu dia a dia, e percebem imedia-
tamente Jesus. Desde a expressão do meu rosto num dia
ruim até a honraria de um convite para ministrar a uma
plateia enorme, estou fazendo missão. A missão começa
quando reconheço de forma verdadeira a pessoa limitada
que sou, entendendo que absolutamente ninguém, nem
mesmo um criminoso, é inferior a mim perante a avaliação
de Deus. Essas ações, por menores que possam parecer,
são formas de transportar esse evangelho para as pessoas
que ainda não o têm, e isso também é missão.

70
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

O destino da missão dos irmãos moravianos era, na


maioria dos casos, longínquo. Eles literalmente se espa-
lharam pelo mundo. Parece até irreal que uma pessoa
escolha sair de um lugar confortável para fazer missão pelo
mundo. Porém, não são todos os que são escolhidos para
conhecer a famosa expressão “confins da terra”. Alguns – ou
a maioria – de nós foram escolhidos para outros destinos,
muito mais próximos; mas é aqui que temos um problema.
Justamente por ser algo muito deslocado de nossa reali-
dade, nós nos apoiamos na ideia de que fazer missão é ir
até os confins da terra. Obviamente, esta afirmação não
está, de todo, errada. Porém, é fundamental que enten-
damos que temos uma responsabilidade, como já citado
anteriormente. Precisamos viver de forma intencional.
Pode parecer uma simples ida à padaria para comprar
alguns pães. Mas Deus pode ter colocado alguém no seu
trajeto e planejado que a sua vida salvasse uma determi-
nada pessoa, que você não faz a menor ideia de quem seja,
claro. O seu “confim da terra”, naquele dia, pode ter sido a
padaria da esquina. O que muda nas missões é o formato e o
destino em que o evangelho será entregue. Mas a essência
continua – e sempre continuará – sendo transportar o
evangelho a uma pessoa que ainda não o tem.
Nós temos a tendência de segregar em diversas vidas
a nossa única vida. Não existe vida secular e vida espiri-
tual, assim como não existe o José da igreja e o José fora
da igreja. Existe apenas o José! Essa segregação das nossas
diversas (falsas) vidas fez com que nós perdêssemos a
intencionalidade das nossas ações e, consequentemente,
nos sentíssemos confortáveis em conceituar missão como
uma atividade apenas para um missionário em tempo
integral, indo a lugares longínquos. Só conseguiremos
mudar essa realidade quando olharmos para Jesus e nos
espelharmos nele.

71
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

SIGA O EXEMPLO
O ano 27 d.C. era um tempo difícil para aqueles
que queriam servir ao Deus verdadeiro. Leis pesadas
dificultavam a vida daquele povo que, anterior-
mente, havia sido escolhido como o povo de Deus
e que, teoricamente, possuía o conhecimento de
Deus através das Escrituras Sagradas. Os fariseus
e os líderes religiosos se mantiveram, de certa
forma, no poder através do conhecimento mais
profundo das Escrituras, fazendo com que o povo
ficasse cada vez mais aprisionado em sua própria
ignorância, principalmente quando o assunto era a
vinda do Messias, o Salvador da humanidade.
Jesus estava na Judeia e começou a perceber alguns
resmungos sobre comparações entre ele e João, o Batista,
prometido por Deus para aplainar o caminho do Messias
(Is 40:3). Decidiu, então, partir de volta para a Galileia,
província da qual fazia parte sua cidade natal, Nazaré,
onde provavelmente passara todos os anos de sua vida
antes de iniciar a fase pública de sua missão. Era uma
viagem com duas rotas possíveis. Uma mais longa e uma
mais curta. A mais curta tinha no trajeto duas travessias
do rio Jordão e passava pela província de Samaria, onde
ficava a cidade de Sicar, habitada por um dos povos rivais
do povo de Israel. A mais longa demorava o dobro do
tempo, segundo Eyzenberg.11
Se levarmos em conta que o caminho mais curto teria
riscos como enfrentar samaritanos, a viagem mais longa
certamente seria mais confortável. Mas Jesus deixa claro
em sua missão que a escolha certa nem sempre é a mais
fácil. É simplesmente a certa. E o Espírito Santo direciona

11 EYZENBERG, 2014

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Jesus, não apenas quanto à hora de partir, mas também


quanto ao caminho mais curto para a viagem, e é isso,
obviamente, que Jesus faz.
Quando chega à região montanhosa de Sicar, Jesus
está cansado e, de forma completamente intencional, para
num antigo poço, perfurado por Jacó muitos anos antes,
quando comprara aquelas terras. O poço ficava cerca de
um quilômetro da cidade. Jesus deixa os discípulos irem
até lá para comprar comida. Por volta do meio-dia, o poço
costumava ficar vazio de moradores, por conta da tempe-
ratura. Mas uma pessoa se aproxima do poço: uma mulher
sozinha, carregando dois jarros grandes para retirar água.
Eu fico imaginando a cena. Jesus a observa. Um
homem judeu, sentado à sombra do poço no horário mais
vazio do dia, diz àquela mulher: Dê-me um pouco de água
(Jo 4:7b). Abro parênteses: Jesus, mais uma vez, utiliza a
intencionalidade para ser missional. Ele está com sede,
claro, mas está também prestes a quebrar paradigmas
que vão fazer com que o evangelho seja espalhado. Um
paradigma é um exemplo que serve como modelo, uma
referência. Mas por que quebrar essas referências? Porque
elas normalmente estão baseadas num determinado
contexto e, na maioria das vezes, são moldadas por ele.
Entender o contexto da missão torna possível uma
nova leitura dos princípios imutáveis de Deus. Os atri-
butos de Deus, por exemplo, não são paradigmas: são
características imutáveis de um Deus soberano, que nós
conhecemos através da sua Palavra, também imutável.
Essas características imutáveis são também atemporais,
ou seja, o mesmo evangelho que nasce com Jesus, há
mais de dois mil anos, foi proposto a nós num contexto
completamente diferente.
Essa nova leitura que estou propondo implica nada
mais que visualizar e analisar a mesma coisa por um

73
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

ângulo diferente. O que muda é o ângulo, não aquilo que


é observado. Jesus precisava quebrar paradigmas para
que o evangelho pudesse ser pregado, já que existiam
inúmeros padrões estabelecidos, que impediriam que as
boas novas chegassem aos que Jesus tinha a missão de
alcançar. Ele não tenta mudar o imutável, mas propõe
uma nova leitura. Fecho parênteses.
A resposta da mulher ao pedido de Jesus traz muitas
informações importantes sobre aquela cena. Ela diz: Como
o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água
para beber? (Jo 4:9). Quando faz esta pergunta, basicamente
ela está tentando compreender as características daquela
situação. Por que um homem falaria com ela num lugar
público? Não era comum isso acontecer sem que gerasse
algum tipo de burbúrio. Além de Jesus ser homem, era um
judeu. O judeu era cidadão do povo escolhido de Deus, um
povo separado, que nasceu com Abraão – o pai da fé cristã –,
através de uma promessa. Se olhamos para o Velho Testa-
mento sob a ótica do nosso tempo, não faz sentido a abor-
dagem de Deus, principalmente porque parece contraditório
ele ser o próprio amor e querer segregar a humanidade.
Seria contraditório, mas Deus não se contradiz.
Naquele contexto, Deus estava moldando um povo
“do zero”, para ser exemplo às nações, um povo que teria
como deus o verdadeiro Deus, que teria como preceitos
os preceitos deste Deus verdadeiro e que poderia tornar
muito mais leve a trajetória da humanidade na Terra, até
que o plano de resgate se cumprisse em Jesus. Mais uma
vez, assim como no Éden, Deus não forçou o ser humano
a nada. E o resultado das escolhas do homem, enquanto
indivíduo e sociedade, todos nós sabemos.
O povo de Israel não sabia mais lidar com paradigmas, ou
melhor, com a quebra deles. No episódio que estamos anali-
sando, fica nítido o exclusivismo do povo judeu frente a qual-

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

quer outro povo, e isso acontecia pelo fato de se considerar um


povo puro. Com os samaritanos, não era diferente: havia uma
rixa intensa, por muitos anos, que gerou inúmeros conflitos no
decorrer da história. O povo judeu era o padrão estabelecido
para todos que queriam servir ao deus verdadeiro.
Por sua vez, a Samaritana, com uma carga pesada
sobre as costas – é claro que eu não estou me referindo
aos jarros de água – está cercada de padrões aos quais ela
não tinha acesso.
No versículo 9, através de uma pergunta, a mulher
tenta entender o que está acontecendo naquele momento.
Existe uma dificuldade em assimilar o impacto daquela
situação aparentemente simples. Ela saíra de sua casa
imaginando que seria apenas mais um dia, como todos
os outros. Estava pronta para lidar, como sempre, com os
problemas relacionais, financeiros, sociais e espirituais.
Mas Jesus ensina uma lição extraordinária com isso: ainda
que, para mim, seja apenas mais um dia, para ele sempre
será o dia mais importante da minha vida. Ele pode trans-
formar esse dia qualquer num ponto de inflexão da minha
trajetória, mudando para sempre a minha história.
O versículo 10 traz o principal paradigma quebrado
naquele incrível episódio: Jesus lhe respondeu: “se você
conhecesse o dom de Deus e quem está pedindo água, você
lhe teria pedido e dele receberia água viva” (Jo 4:10). Preci-
samos construir esse raciocínio. Então, vamos lá. Através
do Espírito Santo, Jesus não apenas entendeu que deveria
passar por Samaria, mas conseguiu ver também o contexto
de vida daquela mulher. Ele a conhecia, e conhecia todos os
rótulos que a acompanhavam. Ela, porém, não o conhecia
além do rótulo que o acompanhava superficialmente, ou
seja, o de que era um judeu. Isso fica nítido no versículo 9.
Jesus poderia simplesmente dizer quem era, mas
não o fez. Ele estava sendo completamente intencional

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

em suas palavras, pois era preciso que ela o conhecesse


de verdade, que entendesse quem ele realmente é. Jesus
a conhecia profundamente, através do Espírito Santo, e
sabia que o Pai a havia escolhido para mudar o cenário
daquela cidade. E, para isso, o enorme vazio que havia
dentro da mulher precisava ser preenchido pelo único
capaz de fazê-lo: Jesus, o Messias.
Olhando para a primeira parte desse versículo, sou
levado a refletir sobre o status de nossa geração. Percebo
que se sente incompleta, apesar do acesso a tanta infor-
mação. Temos muita informação, mas não temos muito
conhecimento daquilo que realmente importa. Parece que
existe um vazio em nós, impossível de ser preenchido. Somos
tomados por rótulos e forçados a viver a vida e os sonhos
que outras pessoas estão vivendo, através da ótica de uma
rede social, ignorando, de certa forma, a autenticidade que
o Criador assinou em nós, enquanto suas obras-primas. Um
rótulo será sempre superficial e jamais terá a capacidade
de definir quem nós somos. Mas o diabo continuará usando
essa estratégia, enquanto não conhecermos de uma forma
verdadeira o único capaz de preencher esse espaço.
Sem preenchermos o vazio da nossa alma, é impos-
sível vivermos a missão. Sem conhecermos Jesus como
aquele que João registra no capítulo 14 – o caminho,
a verdade e a vida – é impossível refletirmos algo que
transforme a vida das pessoas. Em Mateus 12:33 e 34,
Jesus afirma que uma árvore é conhecida por seu fruto e
que a boca fala do que está cheio o coração. Transbordamos
daquilo de que estamos cheios. Se estivermos cheios de
nada, é isso que entregaremos às pessoas ao nosso redor.
Precisamos conhecer Jesus, e só o Espírito Santo pode nos
levar a esse conhecimento.
Mas o versículo continua: Se você conhecesse o dom
de Deus e quem está pedindo água, você lhe teria pedido e

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

dele receberia água viva. Jesus está trazendo à tona o vazio


de alma daquela mulher, para que seja preenchido pelo
dom de Deus. Um dom é, na verdade, um presente. Os
dons que recebemos são presentes. Mas não são presentes
materiais, pois têm sua origem numa palavra do latim –
dōnum – que está mais relacionada a uma dádiva e não
a um simples presente. Entender esse contexto é impor-
tante, porque nos ajuda a enxergar com mais clareza o
processo de mudança de mente daquela mulher, que teve
o privilégio de ser evangelizada pelo próprio Mestre.
O presente que ela está prestes a receber é o próprio
Jesus. A Samaritana ainda não sabia, mas Jesus estava
construindo isso nela, através do Espírito Santo, com
aquele diálogo. Basicamente, Jesus afirma que, se ela
soubesse que ele era o próprio presente vindo direto do
verdadeiro Deus para aquele povo sem nenhum direito ao
que o judeu considerava a “verdadeira adoração”, ela lhe
pediria água, e sua alma seria preenchida para sempre.
A água representa vida, e, naquele ambiente, tem sua
importância ainda mais acentuada, por se tratar de uma
região desértica. Jesus estava mostrando para a mulher
que a sede de alma que ela e aquele povo sentiam não
seria preenchida nunca por uma água comprada pelo
antepassado Jacó. Eles imaginavam ser esse o seu único
direito. Mas Jesus se apresenta como o Messias, o dom de
Deus, sendo entregue para preencher para sempre a alma
vazia do povo samaritano.
A mulher demorou um pouco a entender; achou que
a água viva poderia ser apenas uma água mais pura do
que aquela da qual eles se orgulhavam tanto. Mas Jesus,
por misericórdia, utiliza as palavras certas para lhe mostrar
que estava diante do Messias prometido. Quando o Mestre
mostra conhecê-la por completo, ela entende que chegaria o
tempo – e Jesus afirma que era naquele momento – em que

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

a alma daquele povo seria preenchida de uma vez por todas


e poderia adorar o Deus verdadeiro sem restrições humanas.
O processo de conhecimento de Deus passa pela
desconstrução de nossas crenças limitantes. Elas nos
impedem de sermos preenchidos por completo, porque
acreditamos que Deus está limitado a agir apenas numa
determinada geração, como se ele não se encaixasse em
nosso tempo. Esse é um equívoco tão grande quanto o do
povo de Sicar, e nós precisamos passar por essa descons-
trução, como a mulher samaritana passou.
Naquele momento, Jesus estava mostrando que Deus
não queria adoradores capazes de comprar a salvação,
através do cumprimento das leis, mas que estava em busca
de adoradores que o adorassem em “espírito e em verdade”,
apoiados na fé em Jesus Cristo, o dom de Deus, que viria e
cumpriria o plano do Pai de resgatar a humanidade.
No versículo 28, fica claro o impacto daquele diálogo.
A mulher, que se escondia, foi em disparada de volta à
cidade e se expôs, contando para todos que o Messias
estava ali. A cidade inteira foi impactada: muitos creram,
outros ficaram curiosos, mas todos foram apresentados
ao Messias. No versículo 42, fica claro que a missão foi
cumprida naquele lugar, porque a salvação chegou àquele
povo: E disseram à mulher: “Agora cremos não somente
por causa do que você disse, pois nós mesmos o ouvimos e
sabemos que este é realmente o Salvador do Mundo”.
Deus não se limita a qualquer tempo. Hoje, muitos
de nós têm a alma vazia como a do povo samaritano e
precisam encontrar a água viva. Isso vai preencher as
nossas almas, a ponto de transbordar em nós e nos tornar
reflexo de Jesus, fazendo com que a salvação alcance a
todos. Isso é viver a missão.
Lembre-se de que existe sempre um processo. Pode
ser que Deus fale, e você não entenda no início. Não desista!

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Continue questionando. Deus não tem problema com ques-


tionamentos; ele conhece o seu coração. Por misericórdia,
o Espírito Santo vai tocar em assuntos que vão fazer você
entender que apenas Jesus, a Água Viva, é capaz de preen-
cher o vazio da nossa geração. Tenha certeza de que, após
esse encontro, cumprir a missão será simplesmente uma
consequência para você. Você vai transbordar Jesus; vai
reorganizar todas as suas prioridades; vai perceber que a
vida aqui é passageira, mas que ele espera que você a viva
com intensidade; vai descobrir que é possível viver os seus
próprios sonhos e que, na verdade, ele espera isso de você;
afinal, foi ele quem colocou esses sonhos aí.
Você vai querer consertar tudo o que precisa ser
consertado em você e perceberá que você é o mesmo,
em todas as áreas da sua vida, e que a missão não deve
ser cumprida apenas enquanto você está na igreja. Deus
espera que você seja intencional, que perceba as oportu-
nidades se apresentando à sua frente, oportunidades de
refletir Jesus, nas mais diversas situações do seu dia a dia.
Nenhum contexto é capaz de impedir que isso aconteça,
nem mesmo o seu. Lembre-se de que uma única pessoa,
depois que entendeu quem era aquele no poço e se deixou
preencher por ele porque creu, impactou uma cidade inteira.

CONCLUSÃO
Nunca foi simples cumprir a missão. Não é simples na
nossa geração, e será assim até que Jesus volte. Mas a história
mostra que valeu a pena cumpri-la, não apenas por causa do
legado deixado, que inspira as pessoas, mas também pelo
sentimento de realização que tomou conta de todos os que
puderam afirmar que viveram a vontade de Deus.

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Será sempre mais fácil seguir a maioria, fazer o


que todo mundo está fazendo, curtir o que todos estão
curtindo. Contudo, andar nesse caminho também nos
levará à frustração de não viver o sentimento pleno de
realização, que só existe se entendemos e vivemos o que
Deus quer que vivamos.
É claro que o contexto da nossa geração tem se
mostrado extremamente complexo para vivermos a missão,
mas, assim como os personagens que foram citados aqui,
nós não podemos deixar que o contexto molde a nossa
trajetória de vida missionária. Essa é uma escolha nossa.
Por mais complexo que seja o nosso contexto, é funda-
mental que entendamos que a missão não é nossa; é de
Deus. Portanto, não faremos a nossa parte com as nossas
forças, mas, sim, com a nossa disposição e com a nossa fé.
A nossa escolha de querer que Deus cumpra em nós
e através de nós a sua missão todos os dias é o que ele
espera. Essa atitude está completamente ligada à fé e não
a uma capacidade humana. Fomos resgatados por meio
da fé, e isso não vem de nós; é um presente de Deus (Ef
2:8). É somente através dela que conseguiremos alcançar
realização pessoal na vida. Se cumpriremos essa missão
através de uma profissão específica, uma vida de pasto-
rado ou indo, de fato, aos confins da Terra, é apenas uma
consequência de algo que já foi planejado muito antes de
nascermos (Sl 139).
O que nós não podemos esquecer é que essa dispo-
sição não está em uma simples afirmação de que queremos
viver a missão. Existe um processo, como tudo na vida. Por
nos conhecer profundamente, Deus não nos mima. Nada
acontece do dia para a noite, a não ser que seja parte
desse processo e ele escolha que seja assim. No geral,
só absorvemos, de fato, uma característica quando ela é
construída em nós.

80
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

O conhecimento é uma ferramenta poderosa nessa


construção. A Bíblia é uma prova disso. Não é, como já foi
dito, um manual de bom e mau uso da vida. Ela precisa
ser estudada com afinco, pois é uma fonte maravilhosa de
conhecimento a respeito de quem Deus é e de quem nós
somos. Esse aprofundamento é fundamental no processo
de aprimoramento da vivência na missão.
Adquirir conhecimento só é possível através de um
processo de absorção daquele determinado conteúdo,
independentemente do formato – visualizando, lendo
ou ouvindo. Uma vez que adquirimos conhecimento,
adquirimos também maturidade. A maturidade nos dá
bagagem para reagir de uma forma mais coerente com
os diversos desafios que se apresentam diante de nós.
Enquanto evoluímos, Deus vai ajustando as situações
para que a nossa parte na missão seja cumprida de
forma intencional.
É um processo constante, e só terminará com o evento
inimaginavelmente incrível que está por acontecer, que
é a volta de Jesus. Enquanto estivermos aqui, precisa-
remos usar o poder do conhecimento para que a missão
seja cumprida através de nós. Isso nos torna relevantes.
Mas lembre-se: relevantes, não rebeldes. Não valide o
estereótipo de geração rebelde atribuído a nós. Nenhum
dos grandes homens e mulheres na história da missão
agiu com rebeldia, mas com ousadia, o que é bem dife-
rente. Sem ousadia, também não conseguiremos cumprir
a missão.
Será necessário sermos ousados como foram os
homens que levaram as discussões sobre os conceitos do
evangelho para dentro da academia, como Lutero, quando
começou a perceber que havia divergências nos dogmas
da Igreja Católica da época, com relação ao conteúdo puro
da Bíblia. Ele não organizou uma manifestação à mão

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

armada para conquistar essa relevância. Ele intensificou


seus estudos das Escrituras; teve disposição e sensibili-
dade para entender que Deus o estava movendo naquela
direção e encarou o desafio de se expor para que aqueles
questionamentos fossem discutidos.
Martinho Lutero serviu em tempo integral à igreja,
mas entendeu que isso não era a sua função apenas; era,
na verdade, a sua própria vida. Na igreja, utilizamos “roupa”
de igreja, falamos como pessoas de igreja, nos divertimos
como pessoas de igreja; mas, no trabalho, colocamos a
“roupa” do trabalho e nos comportamos como enten-
demos ser a melhor forma para aquele ambiente.
Não confunda essa questão com bom senso para se
portar em diferentes situações. O problema aqui é que
isso afetou a nossa personalidade dentro da missão,
fazendo com que não entendêssemos de forma completa
que somos uma única pessoa na missão global de Deus
de salvar as pessoas e que fomos escolhidos para algo
específico, autêntico, dentro dessa missão.
Nossa formação profissional, nossas características,
tudo aquilo que aprendemos com facilidade e toda a
nossa rede de relacionamentos são secundários perante
a missão. Sem essa clareza, vamos sempre nos limitando
com os acontecimentos do dia a dia, que, aos poucos,
nos impedem por completo de viver o que nascemos
para viver.
Está cada vez mais claro que o hoje é o momento para
decidirmos pagar o preço. Quase no final da conversa de
Jesus com a mulher samaritana, uma frase dele mostra
isso claramente: No entanto, está chegando a hora, e de
fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão
o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que
o Pai procura (Jo 4:23).

82
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 2

Deus está em busca daqueles que estão dispostos


a encarar o desafio de confiar plenamente nele. São
estes, apenas estes, que ele quer. Existem muitas pessoas
próximas a nós – geográfica e espiritualmente – que
ainda não foram alcançadas pelo evangelho de Jesus. Nós
não conseguiremos saber qual será o tempo da volta de
Jesus, mas podemos afirmar com convicção que, enquanto
estivermos com vida, o Pai pode contar com a nossa parte
na missão.

83
Capítulo 3

SE LIGA PARA TRANSFORMAR


Não mude do bairro, mas mude o bairro
por Junior Mendes

INTRODUÇÃO

D esde que ouvi estas perguntas, elas não saíram mais


da minha cabeça: quem somos? Onde estamos? O que
Deus quer fazer de quem somos onde estamos? Ao
longo deste livro, você tem sido desafiado a refletir sobre
essas perguntas e respondê-las. O que Deus quer fazer de
quem somos onde estamos será a nossa reflexão nesta
parte final. Responda rápido: o que é mais importante nessa
frase: o que Deus quer fazer, quem somos ou onde estamos?
Provavelmente (se a resposta foi bem rápida como suge-
rido), você disse que o mais importante nessa frase é o que
Deus quer fazer. E eu teria dificuldade em discordar.
Se você tivesse um tempo maior para pensar, você
chegaria a uma conclusão parecida com a minha: o que
Deus quer fazer é realmente o mais importante, mas ele
está conectado diretamente às outras duas respostas –
quem somos e onde estamos. E, caminhando um pouco
mais, “o que Deus quer fazer de quem somos” vai ter
implicações diretas com “onde estamos”. Assim, o nosso
ambiente parece ser a parte mais periférica, mas reves-
tida de vital importância para o cumprimento da missão,
a partir da vontade de Deus e daquilo que ele tem forjado
na nossa vida e na nossa história.
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Se é importante, então “onde estamos?” determina


bastante, e de muitas maneiras, como devemos atuar
e o que Deus pode fazer através de nós. O que Deus
faz com Moisés no Egito é diferente da atuação deste
mesmo servo de Deus no deserto. Ele vinha sendo for-
jado como grande líder do povo hebreu, mesmo antes
de cumprir sua missão como libertador do povo. Mas
isso não mudou o fato de que, no Egito, ele teve uma
atuação e, no deserto, outra. Interessante perceber que,
no início de sua atividade no Egito, rapidamente ele
encontrou dúvida e frustração: Moisés voltou-se para o
Senhor e perguntou: Senhor, por que maltrataste a este
povo? Afinal, por que me enviaste? Desde que me diri-
gi ao faraó para falar em teu nome, ele tem maltratado
a este povo, e tu de modo algum libertaste o teu povo!
(Ex 5:22-23). Estar no lugar certo, no momento certo não
vai impedir que, por vezes, haja dúvidas, desaponta-
mento ou frustração.
Mas Moisés apresenta suas inquietações ao Deus
que o chama e, quando recebe resposta, parte para
agir em duas frentes: falar ao povo para crer em Deus
(Ex 6:9) e falar a Faraó para obedecer a Deus (Ex 6:12).
A vontade de Deus é clara: livrar o povo hebreu da opressão
e da escravidão do Egito e conduzi-lo à terra prometida
(Ex 3:7-8). O escolhido para liderar essa missão é revelado
nos primeiros capítulos do livro de Êxodo: Moisés. A vida
desse grande homem fora forjada para esse momento
crucial da história. Mas o contexto (ah... o contexto...) se
mostrou fator preponderante na identidade do líder e na
ação de Deus através dele. Moisés enfrentou dificuldades
com o povo (... eles não o ouviram por causa da angústia
de espírito e da servidão – Ex 6:9) e com Faraó, por conta
do contexto. Esse, em resumo, era o “onde estamos” de
Moisés e Arão.

85
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Muitos anos depois, Davi teve um claro chamado


para ser rei de Israel, após a famosa visita do profeta
Samuel à casa de Jessé (1 Sm 16). Essa era a vontade
de Deus, e Davi foi moldado, situação após situação,
para esse dia. Só que, entre o chamado e a coroação, ele
viveu anos em determinado e peculiar contexto: fugindo
de Saul. Depois de coroado, houve outro contexto:
conquistou Jerusalém e estabeleceu o seu reino. Esse era
o “onde estamos” de Davi.
Veja como se deu essa percepção em um sermão de
Paulo, em Atos 13.36: Tendo, pois, Davi servido ao propó-
sito de Deus em sua geração. Em outras palavras: Davi
(quem somos), em sua geração (onde estamos), serviu
ao propósito de Deus (o que Deus quer fazer de quem
somos, onde estamos). O contexto de Davi influenciou
diretamente sua identidade e a maneira com que Deus o
fez cumprir os seus propósitos eternos.
Esta pergunta é fundamental: onde estamos? Você
precisa gastar tempo nela, investir tempo em entender
sua realidade. O contexto vai tanto contribuir na formação
de sua identidade como indicar os caminhos pelos quais
Deus há de cumprir seus propósitos em sua vida e na de
sua igreja local. É preciso reconhecer algo nesse ponto:
o contexto não é mero detalhe, como uma introdução
de um sermão ou uma aula de Escola Bíblica em que
você cita um filme, um livro ou uma música e segue em
frente, deixando o exemplo para trás. O contexto é o
cenário, o palco, o ambiente onde acontece a ação. Não
há missão sem um contexto no qual ela aconteça. Não
há história, comunicação, ação sem que haja um lugar
que dá ambientação para os fatos e as pessoas.
Antes de prosseguir, se reconhecemos essa definição
de contexto, estamos diante de três possibilidades:

86
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Cenários
1. Ignorar o contexto
“Deus está acima de qualquer coisa e o contexto, ainda
que importante, não se compara aos seus planos nem os
limita”. Quanta incoerência e inconsistência em uma única
frase! Reconhecer e saber que Deus está acima de qual-
quer coisa não diminui a importância do contexto – ele
mesmo quis assim, desde Genesis 1:1. Ao criar céus e terra,
ele estabeleceu um “onde”, um contexto no qual todo o seu
plano criativo seria desenrolado. Ao lidar com a desobe-
diência de Adão e Eva, Deus mais uma vez estabeleceu seu
plano de redenção dentro de um contexto claro e especí-
fico – a serpente machucaria a mulher, mas o descendente
da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15).
O próximo passo que, aos nossos olhos, é mais
evidente no desenrolar do plano da salvação está em
Genesis 12: Deus escolhe uma família dentre tantas
(Abrão e Sarai) e lhe oferece uma visão, um sonho e uma
esperança – o patriarca teria uma terra, seria próspero e,
por meio de seu descendente, todas as famílias da terra
seriam abençoadas. Nesse momento, Deus define um
pedaço de terra, uma família e uma maneira de agir.
Não sei mais o que posso fazer para que você perceba
que Deus não ignora contextos. Ele mesmo os cria e
age a partir deles. Se não fosse assim, aquela pergunta
que muitos de nós já fizemos, em algum momento,
teria resposta bem simples: por que Deus simplesmente
não acabou com Adão e Eva (ou com o pecado deles) e
simplesmente começou de novo, sem que tivéssemos que
passar por tudo isso? A resposta pode não agradar, mas,
87
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

dentre os diversos aspectos pelos quais podemos abordar


a pergunta, um deles, com certeza, é: foi e está sendo do
jeito que está porque Deus valoriza o contexto da criação
e da queda e foi exatamente nesse cenário que ele provi-
denciou a redenção.

2. Ser absorvido pelo contexto


“As coisas são assim e não há nada que possamos
fazer para mudar”. Quanta falta de fé e preguiça em uma
única frase! As poucas linhas sobre Moisés, descritas ante-
riormente, são suficientes para mostrar que contextos, por
vezes, têm o potencial de destruir o ânimo e a motivação,
mesmo de grandes líderes que têm a autoridade de Deus
em seu chamado. Agora, nenhum lugar ou situação desta
terra deve ficar como está, tendo em vista os efeitos nocivos
da queda. Quando a humanidade se afasta de Deus, não
encontra a liberdade, mas a prisão; a natureza não encontra
harmonia e evolução, mas desequilíbrio e ruína.
Quando você compra um carro novo, geralmente é
uma grande alegria. Passado algum tempo, por algum
motivo, você bate o carro, e lá está ele; todos os dias você
olha e vê um amassado na porta chamando a atenção.
Essa cena traz desconforto porque aquele não é o estado
original do carro. Você pode até demorar para enviá-lo
ao conserto. Aliás, alguns fazem isso somente na hora
de vender. Independentemente do tempo do conserto,
existe uma clara noção em você, nos vizinhos, em quem
vai comprar de que o carro precisa de conserto. Não
há conformidade, mas uma certeza de que, em algum
momento, alguém vai consertar aquela batida para que o
carro volte ao seu estado original.
O contexto está aí; o lugar onde estamos está aí para
ser exposto à transformação e à redenção oferecidas por
Jesus. Simplesmente aceitar que o mundo é como é – mal

88
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

comparando – seria como deixar o carro batido para sempre,


sem conserto. Ninguém daria o mesmo valor por esse veículo.
O retorno do valor, da beleza, da harmonia só acontece após
a transformação, o retorno à condição original.

3. Envolver-se e transformar o contexto


“Deus está acima de qualquer coisa e chama pessoas
para determinados lugares, com contextos que têm seus
pecados, tensões e dificuldades; mas é exatamente ali
que precisa brilhar a luz dos seguidores de Jesus”. Quanta
ousadia e disposição em uma única frase! Essa é a única
possibilidade para quem entendeu o grande plano de Deus;
não há outra, e me desculpe se você pensa o contrário.
Vamos lá mais uma vez: Deus providencia roupas
a partir da pele de um animal para Adão e Eva, quando
estavam nus após o pecado, e começa a mudar a situação
de vergonha em que eles se encontravam. Retira Abrão e
Sara do meio dos ídolos e se revela a eles como o único
Deus verdadeiro. Ao chamar os hebreus do Egito, por meio
de Moisés, o Senhor constitui uma nação de sacerdotes.
Isso aponta para o fato de que o povo de Deus está no
meio de outros povos para sinalizar a transformação,
apontar para o retorno ao plano original, participar inten-
cionalmente do plano de salvação.
O povo de Deus, desde o seu chamado, não existe
para si mesmo, para o seu próprio benefício. Israel é um
povo para os outros povos, nação que faria de novo a
ligação entre Deus e a humanidade. Para isso, esse povo
foi chamado a fazer a diferença, a ser luz entre as nações, a
ser participante do grande projeto transformador de Deus.
Enfim, ignorar o contexto é deixar de cumprir a missão
e se tornar um povo de manutenção dos que estão dentro
das quatro paredes da igreja. Sucumbir ao contexto, por
outro lado, é não somente deixar de cumprir a missão,

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

mas se tornar objeto da missão. Portanto, envolver-se e


transformar é um chamado.
Dores internas (com a liderança), dores externas (com
perigos e desafios) e dores íntimas (dúvidas e sofrimento
emocional) farão parte dessa caminhada. Mas, se quiser fazer
parte do grande plano de Deus, não há outro trajeto. Se você
realmente quer estar on – ligado para transformar –, vamos
continuar, porque daqui para frente é “para os fortes”. Daqui
por diante, ficam para trás os que preferem o conforto
do sofá de casa, e só continuam os que estão dispostos a
serem agentes de transformação no Reino de Deus.

ENVOLVA-SE PARA TRANSFORMAR


O CONTEXTO
Não há transformação sem envolvimento. Antes de
achar que você vai conhecer superficialmente o contexto,
entender a base geral do funcionamento da sociedade,
conhecer como pensam as novas gerações, ter uma
compreensão básica dos ídolos e dos pecados das pessoas
e, com esses dados, ser agente de transformação, permi-
ta-se refletir sobre os textos a seguir:

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus,


que, embora sendo Deus, não considerou que o
ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se;
mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo,
tornando-se semelhante aos homens. E, sendo
encontrado em forma humana, humilhou-se a
si mesmo e foi obediente até à morte, e morte
de cruz! (Fp 2:5-8 – grifo nosso).

90
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Porque não temos um sumo sacerdote que não


possa compadecer-se das nossas fraquezas;
porém, um que, como nós, em tudo foi tentado,
mas sem pecado (Hb 4:15 – grifo nosso).

Paulo nos convoca a termos a atitude de Cristo Jesus.


A ideia de “ter atitude” aqui ultrapassa o conceito de agir:
está de acordo com muitas regras similares que nos instam
a seguir o exemplo daquele que é o Salvador. É uma dispo-
sição mental que se traduz na disposição com que agimos a
partir do que cremos e daquele a quem seguimos. Por isso
mesmo, não se trata de repetirmos a ação redentora de
Jesus. Isso só reforça o que quero apresentar aqui: a atitude
da qual podemos e devemos ser participantes é o seu
envolvimento com a missão: ele sai de seu lugar de origem,
torna-se igual aos homens e decide servi-los, até a morte.
Não se faz necessário muita explicação, concorda? Existe
um alto grau de envolvimento de Jesus com sua missão, e
isso vai levá-lo a ter um grau de envolvimento com o mundo
dos homens na mesma medida. Essa verdade está presente
no texto dos evangelhos: Jesus se veste como as pessoas
de seu tempo, come com elas (mesmo as pecadoras), anda
em suas cidades, dorme em suas casas, utiliza seus meios
de transporte, é criticado por algumas de suas atitudes, por
conta de religiosos que estão de olho nele; enfim, Jesus vive
intensamente o seu contexto. Aliás, ele utiliza essa capaci-
dade de dialogar com o contexto para corroborar sua autori-
dade de ensino e anunciar as boas novas de que ele é tanto
o portador como o próprio conteúdo.
Expressões como “envolvimento”, “participação no
mundo”, “comer e andar com pessoas” são facilmente mal
interpretadas ou rejeitadas. Elas parecem um contrassenso
à fé cristã e, por vezes, são ouvidas e entendidas como
“mundanização”. Graves equívocos! Jesus já disse que não

91
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

se pode esconder uma luz debaixo da mesa – ela precisa


aparecer; dito de outra forma, ela precisa se envolver
a tal ponto com o ambiente para que possa iluminá-lo
todo. Assim, distante de ser um contrassenso, deveria ser
(porque, de fato, é!) o senso comum da identidade cristã
ser sal e luz do mundo.
Quanto ao conceito da mundanização, este é mais sutil.
A primeira coisa a estabelecer é que é possível um cristão
andar no mundo sem ser do mundo. A segunda coisa a notar
é que, no texto de Hebreus, citado anteriormente, Jesus é
apresentado como suficiente sacerdote por que foi tentado
em tudo. Isso, obviamente, não significa dizer que ele sofreu
cada uma e mínima tentação que cerca de oito bilhões de
seres humanos sofrem todos os dias, mas significa dizer
que não há área ou esfera de tentação da qual Jesus não
tenha sido alvo: ele foi tentado em extensão e amplitude.
Nada na experiência humana é estranho para ele.
Assim como Jesus, somos desafiados a nos envol-
vermos nos ambientes onde vivemos. O ambiente é peri-
goso? Sempre, qualquer um deles! Mas é lá que somos
chamados a servir – Moisés foi para o Egito; Paulo, para
Éfeso, Atenas; missionários transculturais para a África,
a Índia, e cristãos vivendo em suas cidades no ocidente
são chamados todos os dias a aceitar a missão de atra-
vessar a rua e conhecer seu bairro e sua cidade.

ATRAVESSE A RUA E
CONHEÇA O SEU BAIRRO
Depois de investirmos tempo na compreensão bíblica
de como alguns heróis da fé e o próprio Jesus lidaram com
seus contextos para poderem cumprir o propósito de Deus,
vamos fazer uma rápida e sensível diminuição de cenário.

92
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Saiamos das páginas da Bíblia – reinos idólatras, pessoas


perdidas e sem luz para os quais nossos heróis e modelos
foram enviados – e nos voltemos para uma realidade um
tanto menor: nosso bairro, nossa cidade. Cada um serve a
Deus em sua geração e em seu contexto – uns, diante de
multidões; outros, em pequenas cidades ou vilas.
O que faremos agora é pensar alguns aspectos
importantes sobre esse “atravessar a rua”. A primeira coisa
a pensar é que estarmos dispostos para a transformação
vai envolver (olha o “envolvimento” aí de novo!) sairmos
das quatro paredes e da calçada de nossa igreja. Isso é
tanto literal quanto metafórico. Sua igreja é conhecida no
bairro? Qual a impressão que as pessoas têm de vocês?
O quanto sua igreja já se envolveu nas situações difíceis
que a comunidade enfrentou? Quantas vezes e através
de quais ações a igreja já mostrou sua relevância e sua
importância para a vida do bairro?
Uma boa conversa com as pessoas antigas da igreja
pode trazer luz a algumas dessas questões. E as que não
forem descobertas internamente podem ser acessadas
através de uma pesquisa realizada nos arredores da igreja.
Além disso, andar no bairro, ser conhecido na padaria,
conversar com as pessoas, estar à disposição para ajudar,
tudo isso conta bastante.

1. Sensibilidade para agir diante das situações


O bairro tem um ponto de encontro? Uma feira, uma
atividade esportiva, uma ligação forte com pets? Esses
lugares precisam da presença de cristãos dispostos a irra-
diar luz. Nem sempre a igreja vai fazer algo novo pelo
bairro; por vezes, ela vai precisar aprender a se envolver
e atender necessidades que já existem.
Quando eu estava cursando minha pós-graduação de
plantação e revitalização de igrejas, um dos professores

93
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

– que, por sinal, é um plantador de igrejas – nos contou a


seguinte história: em um voo, voltando para casa, assistiu
a um filme sobre bombeiros. Chegou em casa, depois de
alguns dias fora, e foi à locadora de vídeos alugar um
filme1 com seus filhos. O filme que levaram para casa
tinha a mesma temática do filme que assistira recente-
mente no avião: bombeiros.
Durante a semana, quando chegou ao escritório, em
sua sala pastoral, pegou o jornal para ler,2 e qual não foi a
sua surpresa, ao notar o assunto da capa. Consegue adivi-
nhar? Bombeiros! Nesse momento, ele lembrou que a uma
ou duas ruas da igreja estava o corpo de bombeiros de
sua cidade. Então, saiu de sua sala, atravessou a rua e foi
em direção à brigada. Chegando lá, perguntou ao oficial
que estava na portaria se poderia falar com o coman-
dante. Depois de apresentações e introduções iniciais,
ele estava diante do comandante daquela unidade, que
lhe perguntou:

– Muito bem, o que o traz aqui? Como posso


ajudá-lo?
– Então, comandante, na verdade eu é que
pergunto como eu posso ajudá-lo – e passou
a contar toda a saga dos últimos dias sendo
envolvido com filmes e leituras sobre bombei-
ros. Depois de contar, voltou a dizer:
- Enfim, eu é que quero saber por que estou
aqui e como posso ajudar.

1 Sim, no passado, filmes eram alugados fisicamente em lojas chamadas “locadoras”.


Não havia TV a cabo e streamings que entregassem os filmes digitalmente em casa,
por meio da tecnologia.
2 Sim, sim. Houve um tempo em que as pessoas recebiam e liam jornais físicos,
impressos, diferentemente de hoje, quando escolhemos nossos portais e redes
sociais para nos mantermos informados sobre o mundo.

94
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Nesse instante, o comandante se emocionou e agra-


deceu a presença daquele pastor em sua sala. Passou a
expor a condição precária do alojamento dos bombeiros –
todos os colchões estavam em péssimo estado, o que pre-
judicava demais o descanso deles e tirava, literalmente, o
sono do comandante nos últimos meses. O comandante
entendeu aquele momento como uma resposta de Deus à
sua angústia.
Daí por diante, o problema do corpo de bombeiros
daquela cidade tornou-se parte das preocupações daquele
pastor, que as dividiu com a igreja local. Aquela comunida-
de de cristãos, por sua vez, se entendeu parte da solução
daquele problema. Em pouco tempo, todos os colchões
daquele destacamento foram trocados por novos, uma
doação pela decisão de agir daquela igreja. Mas a decisão
de agir começou a partir da sensibilidade de um pastor, en-
tendendo que Deus pode falar de diversas maneiras.

2. Reconheça que a igreja faz parte da comunidade


onde está inserida

Em março de 2020, entramos em um período


estranho da história mundial. A nossa geração nunca
tinha passado por um confinamento como o que vivemos.
A covid-19 trouxe medo, incerteza, dor e morte, de uma
maneira que ainda não tínhamos enfrentado. Esqueça
por um momento a polarização política e o lado que
você escolheu dessa história. Concentre-se nos fatos:
comércio, escolas, escritórios, clubes, eventos e igrejas,
tudo parou. O que poderíamos fazer, como igreja, nesse
cenário? Todos precisaram se estruturar para a linguagem
virtual – câmeras, microfones, softwares de transmissão,
adequação às redes sociais – mal ou bem, esse foi um
esforço que cada igreja empreendeu.

95
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

É natural nos adaptarmos e pensarmos nos de dentro


e em como atendê-los. Aliás, quem já viajou de avião
aprendeu isso nas instruções iniciais da tripulação – em
caso de emergência, máscaras de oxigênio cairão à sua frente
(...); se estiver com uma criança, coloque primeiro em você
e depois nela. Não se trata de egoísmo, mas de estarmos
preparados para atender quem está do lado, diante de
uma emergência; atender primeiro a nós mesmos. Egoísmo
seria se, depois de colocar a máscara, nós esquecêssemos
a criança ao lado! Esse é o ponto.
No Movimento Radiação3 fizemos diversas reuniões
para ajustar a nossa atividade interna. Por se tratar de
uma missão urbana, a mentalidade facilmente se voltou
para fora – como faremos para sermos relevantes onde
estamos? Em palavras de uma tripulação de avião: depois
de ajustar a máscara em mim, como coloco a máscara na
criança ao lado? Decidimos, depois de algumas semanas,
criar o Radiação Solidário. Nós o divulgamos em nossas
redes, definimos alguns voluntários e iniciamos a ação.
O Radiação está situado em um bairro de classe
média da cidade de Campinas. Em tese, pensamos que o
bairro, em si, não precisaria de ajuda, mas poderia ajudar a
outras regiões da cidade. Aos finais de semana, estávamos
lá, recebendo doações e montando cestas básicas. Qual
não foi nossa surpresa, quando alguns casais do próprio
bairro, que moravam ali em bons apartamentos, desceram
e foram até nossos voluntários:

– Por favor, perdemos o emprego e pode até


parecer que não precisamos, mas podemos
pegar algumas coisas para levar para casa?

3 Movimento de missão urbana que pastoreio e de cuja liderança faço parte, em


Campinas (SP).

96
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Essa pergunta mostrou para nós a realidade que


enfrentaríamos nos próximos meses. A solidariedade não
se dirigiria somente àqueles que viviam em vulnerabili-
dade; a situação vulnerável atingira, inclusive, famílias
da classe média. Semana após semana, aumentavam as
doações e, em ritmo maior, aumentavam os que preci-
savam. O bairro percebeu uma comunidade de cristãos
dispostos não somente a ajudar internamente, mas a fazer
a diferença na medida do que fosse possível.
A cidade toda se mobilizou e começou uma campanha
na emissora local da rede Globo incentivando projetos
de doação a agirem para o bem da cidade. Enviamos um
vídeo de nossa ação para a emissora, e alguns dias depois
nos procuraram e divulgaram nossa ação. Isso foi em uma
sexta-feira. No domingo seguinte, foi o dia em que mais
arrecadamos materiais, por conta da força da divulgação na
principal TV da cidade.
Sincera e honestamente, não fizemos isso por conta
da visibilidade – nem sabíamos que isso poderia acontecer.
Isso foi consequência de uma mentalidade simples: nós
fazíamos parte daquele contexto. O que poderíamos fazer
a partir do que tínhamos em nossas mãos? Em 2020, arre-
cadamos cerca de 5 toneladas de alimentos e contribuímos
com a diminuição do sofrimento de centenas de famílias e
instituições de nossa cidade.

3. Planeje agir no bairro


Lendo o livro de Neemias, aprendi algo que nunca
mais esqueci e espero que você também não se esqueça,
depois de refletir. Neemias estava servindo ao rei, tinha
um excelente trabalho e, por isso, estava distante de
todos os acontecimentos em Jerusalém. Provavelmente,
sua geração não tinha ligação direta com os fatos que
levaram seu povo ao cativeiro. Mas existem alguns princí-

97
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

pios claros da ação planejada de Neemias para a recons-


trução do muro de Jerusalém que quero, rapidamente,
compartilhar com você. Esses princípios podem nos ajudar
na tarefa de pensar para fora, para a transformação de
nossos ambientes.
Neemias era um judeu do período pós-cativeiro, que
vivia e trabalhava em Susã, localização da residência de
inverno dos reis persas. Ele recebeu a visita de um conter-
râneo, Hanani, no ano 444 a.C., no vigésimo ano de Arta-
xerxes I (464–423), ou seja, 13 anos depois de Esdras subir a
Jerusalém, e 142 anos depois do cativeiro babilônico (Ed 7.7).
Para entrarmos nos princípios, só note atentamente
o fato de que Neemias estava bem em sua cidade e em
sua profissão. O que moveu o seu coração e a ação foi
seu compromisso com sua identidade: faço parte do
grande plano de Deus e devo agir dentro daquilo que o
meu contexto oferece. Em outras palavras, Neemias sabia
quem ele era, reconhecia onde estava e decidiu perguntar
a Deus e agir a partir de quem era, onde estava.

4. Reconheça a situação

...enquanto eu estava na cidade de Susã,


Hanani, um dos meus irmãos, veio de Judá
com alguns outros homens, e eu lhes pergun-
tei acerca dos judeus que restaram, os sobre-
viventes do cativeiro, e também sobre Jerusa-
lém (Ne 1:1 e 2 – grifo nosso).

Já dissemos isso anteriormente, mas agora reiteramos:


uma situação se reconhece a partir de perguntas. Elas são
importantes. Houve em Neemias um interesse pela situação
de Jerusalém. Ele precisava fazer perguntas para entender
o que estava acontecendo. Esse princípio aparece nova-
mente na sua história, pois quando ele chegou à cidade, a
98
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

primeira coisa que fez foi um novo ciclo de reconhecimento


da situação. No capítulo 2, dos versículos 11 a 17, você pode
notar que ele investiu seus primeiros dias em andar pela
cidade, ir aos escombros das portas e dos muros para ter
uma visão mais clara da tarefa que se propôs a fazer. Faça
pesquisas, faça perguntas, mas também invista tempo em
conhecer in loco aquilo que a pesquisa apontou.

5. Antes de agir, busque a Deus

...quando ouvi essas coisas, sentei-me e chorei.


Passei dias lamentando, jejuando e orando ao
Deus dos céus (Ne 1:4 – grifo nosso).

Ler um material como esse pode nos incentivar a


agir. Pode dar até certa impaciência e vontade de logo
sairmos do modo manutenção para o modo missão. Se
esse tipo de incômodo invade o seu coração, ótimo! Mas
atente para este princípio: o ativismo é perigoso! Antes de
agir, Neemias passou pelo necessário processo da interna-
lização: sentou e chorou. Aquela situação passou a fazer
parte do seu sofrimento pessoal.
Lembre-se: Neemias vivia bem em Susã – a melhor
comida, os melhores quartos, roupas das melhores grifes,
acesso aos melhores eventos do reino dos persas, poder,
conforto, bem-estar, tudo ao seu alcance. Ele passou a
considerar tudo como perda; não se deixou dominar por
sua zona de conforto. Mais do que isso: sentiu a dor do
outro. Ao sentir a dor do outro, ele se colocou diante de
Deus. A partir do versículo 5, podemos ler sua oração: ele
se apresentou como parte do problema, ao pedir perdão
pelos seus pecados. A igreja não vai conseguir agir para ser
luz na cidade ou no bairro, enquanto não se colocar diante
de Deus, suplicando misericórdia, antes de agir.

99
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

Preparação e oportunidade:

No mês de nisã do vigésimo ano do rei Artaxer-


xes, na hora de servir-lhe o vinho, levei-o ao rei.
Nunca eu tinha estado triste na presença dele.
Por isso, o rei me perguntou: “Por que o seu
rosto parece tão triste, se você não está doente?
Essa tristeza só pode ser do coração!” Com
muito medo, eu disse ao rei: “Que o rei viva para
sempre! Como não estaria triste o meu rosto, se
a cidade em que estão sepultados os meus pais
está em ruínas, e as suas portas foram destruí-
das pelo fogo? O rei me disse: “O que você gos-
taria de pedir? (Ne 2:1-4 – grifo nosso).

Entre o reconhecimento da situação e a ação propria-


mente dita, temos alguns meses. Em nosso calendário,
Neemias recebeu Hanani entre novembro e dezembro, e
essa conversa com o rei aconteceu, provavelmente, em
abril. Esse tempo não foi somente de lamento e choro.
Neemias passou a se preparar.
Lendo em retrospectiva o capítulo 2, é possível
perceber que, depois de internalizar a dor e externalizar
tudo diante de Deus, Neemias passou a planejar sua ação:
ele cotou os materiais, identificou os obstáculos que teria
no trajeto, estimou o time de que precisaria, enfim, pensou
nos recursos humanos, materiais, nos riscos e nas ameaças.
Ele estava preparado, mas não era afoito. Quando chegou
a oportunidade, estava pronto para se posicionar. Quando
o rei reconheceu algo diferente nele, Neemias soube como
responder. Em seguida, quando o rei lhe perguntou o que
iria fazer, ele soube tudo o que precisava pedir.
Para agirmos no bairro, precisamos nos preparar e
fazer todas as análises possíveis – recursos humanos e
materiais internos, recursos humanos e materiais externos
100
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

que podem ser necessários, oportunidades, riscos, vanta-


gens, desvantagens – o plano precisa ser pensado – se
possível, escrito –, e métricas de avaliação precisam fazer
parte do plano. Um plano pode mudar? Lógico que pode;
é um plano! O objetivo traçado é fundamental e os ajustes
podem acontecer. O que é muito ruim é desrespeitarmos o
princípio e não termos um plano – irmos para as ruas do
bairro sem clareza do que vamos fazer.

6. Dinâmica entre fé e trabalho

...visto que a bondosa mão de Deus estava


sobre mim, o rei atendeu os meus pedidos
(Ne 2:8 – grifo nosso).

Poderíamos continuar em todo o livro de Neemias


aprendendo princípios de planejamento e liderança, mas,
para os nossos fins, este é o último princípio que veremos
no livro do reformador da nação judaica. Antes, veja o que
diz Ciryl Barber sobre isso:

... o modo pelo qual Neemias uniu o povo e


levou-o a cumprir uma tarefa aparentemente
impossível é bastante inspirador. A estraté-
gia que ele empregou está em total acordo
com as mais recentes pesquisas de motiva-
ção e tem sido usada por empresários e líde-
res eclesiásticos através dos anos.

Perceba, no versículo 8, a relação entre “bondosa mão


de Deus” e “meus pedidos”. Alguns teólogos costumam
chamar esse princípio de “cocriação”. Deus decidiu que os
homens e as mulheres participassem de sua obra criativa
e compartilhou conosco criatividade e responsabilidade.
Somos parceiros de Deus no mundo de Deus. Ele nos

101
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

chama a participar da missão. O plano é dele; a intenção


criativa e amorosa nasce em sua mente, no ambiente de
amor do Pai, do filho e do Espírito Santo.
Isso não diminui o fato de que ele nos chamou e
compartilhou conosco a possibilidade e o privilégio de parti-
ciparmos disso tudo, seja na obra criativa, seja no plano de
salvação. Quem cria e salva é Deus, sem dúvida; mas fomos
chamados a criar e agir no mundo de Deus, bem como
fomos chamados, como igreja, povo sacerdotal, a anunciar
a salvação em Jesus a todas as pessoas ao nosso redor.
Voltando a Neemias, não há contradição alguma
entre ele planejar, pensar, fazer pedidos, enfim, agir e,
ao final, reconhecer que cada uma dessas coisas foi fruto
da bondosa mão de Deus sobre sua vida. Neemias se viu
parceiro de Deus. Essa percepção garantiu a harmonia
da dinâmica entre ter fé e trabalhar. Só termos fé, como
se fé significasse sentarmos e esperarmos Deus agir, não
é suficiente. Só trabalharmos, como se Deus não tivesse
interesse no mundo e nas pessoas, não é suficiente. No
plano de Deus, precisamos viver na dinâmica de confiar
nele e reconhecer que tudo vem dele e fazer, dia após dia,
a nossa parte: colocar a mão na massa, pensar, planejar,
pedir, agir.

O QUE DEUS QUER FAZER ONDE ESTAMOS?


Você e sua igreja foram colocados onde estão para
fazer a diferença. Diante de alguns cenários, nossa reação
é sempre defensiva. Eu espero que você tenha saído dessa
posição ao longo desta leitura. Com a mentalidade da
manutenção interna, reagimos achando que o problema
é o nosso bairro e não nós; afinal, nós somos o povo de
Deus, e o bairro é que é ruim, tem problemas ou não quer

102
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

saber do evangelho. Então, para quem pensa assim, mudar


de bairro não dói nem um pouco.
Agora, quando você passa a pensar a partir da pers-
pectiva missional, tudo isso muda. Você reage se reconhe-
cendo parte do problema, para poder fazer parte da solução.
Decide não mudar de bairro, mas contribuir para mudar o
bairro. Que Deus quer mudar cada cidade, cada bairro e cada
pessoa, isso é presente nos evangelhos, em Atos e nas cartas.
Isto é o que Deus quer de você: que vá, pregue e sinalize o
evangelho para todas as pessoas. Para isso, nosso convite
é bem simples: atravesse a rua! Comece a se preocupar
com o seu bairro e com a realidade que está ao seu redor.
Anunciar o evangelho significa pensar em estraté-
gias diretas de falar sobre a salvação em Jesus. Sinalizar
o evangelho significa viver onde você está de tal forma
que suas ações apontem para uma vida que se identifique
com o Reino de Deus e não com o reino dos homens.
Então, você e sua igreja precisam fazer tanto uma coisa
quanto a outra: anunciar o evangelho e, por meio de suas
ações, sinalizar o Reino de Deus.
Para concluir, quero somente levá-lo a uma última
reflexão, que também tem sido muito importante em
minha caminhada em direção à missão, a estar envolvido
na transformação de cidades e bairros: independente-
mente de sua cidade ser grande ou pequena, você está
diante de um contexto que parece ser cada vez mais domi-
nante – o contexto apostólico. Eddie Gibbs resume isso
bem em uma sentença: ... a igreja precisa sair do modelo
constantiniano – que presume uma cultura com igreja para
um modelo apostólico, projetado para penetrar nos vastos
segmentos sem igreja da sociedade.
Os nossos pais pregaram e ensinaram no modelo
constantiniano, isto é, a igreja e o modo de pensar cristão
estavam integrados à sociedade, seja pelo catolicismo, seja

103
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

pelo movimento reformado, seja pelo pentecostalismo


presente no Brasil a partir do século XX. Nem todas as
pessoas eram cristãs, mas os valores cristãos eram muito
fortes na educação, nas empresas e nas ruas. As coisas
mudaram! Se não quisermos ser irrelevantes, precisa-
remos nos dar conta disso. Estamos em um modelo apos-
tólico – pessoas e cidades que já não têm como principal
referencial os valores cristãos –, em uma sociedade plural,
diversa, em que conceitos como pecado, salvação, eterni-
dade já não fazem tanto sentido quanto faziam.
O que fazer? Retorne aos cenários 1, 2 e 3 para tomar
a sua decisão. Porém, se você veio até aqui, o problema
não é o que fazer, mas como fazer dentro do cenário colo-
cado. Não dá para se isolar, fugir ou simplesmente aceitar.
É preciso agir com sabedoria e fé para transformar. Sabe-
doria, nesse caso, implica envolvimento, para que você e
sua igreja sejam relevantes na sua cidade e no seu bairro,
isto é, para que sejam ouvidos. Fé, por sua vez, implica
crer que, a partir desse envolvimento, Deus proporcionará
oportunidades para a salvação de pessoas.
Só que isso acontece dentro de uma realidade, de
um contexto, e o nosso contexto atual deixou de ser
uma cultura que tinha os valores da igreja como base da
sociedade. É nessa sociedade que você é chamado a agir
para Deus. Ao estudar os princípios em Neemias, talvez
você tenha ficado com uma impressão errada do contexto:
Neemias agiu em favor do povo de Deus e da cidade de
Deus. Não tenho como dizer o contrário; mas você precisa
atentar para o fato de que esse não é um princípio; é o
contexto dele. Neemias está no contexto da velha aliança.
Mateus, Pedro e João estão no contexto do ministério
de Jesus, pregando nas cidades da Galileia. Paulo e seus
amigos estão no contexto das cidades idólatras da Grécia
e da Europa. O contexto de cada um muda: o nosso muda,

104
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

o das novas gerações vai mudar, e cada um vai agir dentro


de sua realidade.
O que Deus quer fazer através de você acontece
necessariamente onde você está. O cenário é apostólico:
pessoas e cidades longe de Deus. Seu chamado não é
para se fechar, mas para transformar sua realidade. O
cenário apostólico lembra que, como cristão, você é um
exilado, estrangeiro. Tanto Paulo como Pedro usam essa
imagem para se referir aos cristãos agindo nas cidades
do Império Romano. O contexto apostólico tem essa
semelhança com o contexto de exílio. Veja o trecho da
carta que Deus pediu que Jeremias enviasse aos exilados
em Babilônia:

Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de


Israel, a todos os exilados, que deportei de
Jerusalém para a Babilônia: “Construam casas
e habitem nelas; plantem jardins e comam de
seus frutos. Casem-se e tenham filhos e filhas;
escolham mulheres para casar-se com seus
filhos e deem as suas filhas em casamento,
para que também tenham filhos e filhas.
Multipliquem-se e não diminuam. Busquem
a prosperidade da cidade para a qual eu os
deportei e orem ao Senhor em favor dela,
porque a prosperidade de vocês depende da
prosperidade dela (Jr 29:4-7).

Leia com atenção e perceba o amor de Deus e a


proposta de missão presente mesmo em um ambiente
onde a maioria das pessoas não fazia parte do povo de
Deus. Em resumo, há três instruções:
1. viva e conviva com a cidade;
2. trabalhe para o bem econômico da cidade;
3. ore pela cidade.
105
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

A cidade da Babilônia era hostil ao povo judeu, mas


Deus promoveu uma ação de transformação nessa cidade
por meio do estilo de vida e por meio do exercício da fé.
Em 2020, quando o Radiação Solidário começou,
tínhamos diversos voluntários. Isso significa dizer que eu
não estava lá, na equipe, todo final de semana. Fui algumas
vezes fazer parte dessa ação. Em uma delas, um domingo de
manhã, eu estava na rua recebendo mantimentos, enquanto
pedestres e carros passavam. A nossa rua é relativamente
movimentada, e aquele dia estava especialmente ensola-
rado. Percebi que um carro passou, diminuiu a velocidade
e, poucos metros à frente, achou um lugar para estacionar.
Continuei fazendo o meu serviço ali, quando aquela pessoa
que descera do carro veio ao meu encontro. Achei que
vinha trazer alguma coisa ou tirar alguma dúvida, quando
me abordou me chamando pelo nome. Respondi que era
eu mesmo, e ele me explicou que estava assistindo à
reflexão bíblica no dia anterior em nossa live.
Foram alguns minutos de uma boa conversa com uma
pessoa que não era do meu ciclo da igreja ou do projeto,
mas que tinha sido impactada há algumas semanas pela
nossa ação. Morava no bairro e passou a assistir ao nosso
conteúdo. A pandemia diminuiu o seu ritmo, e em 2021
voltamos a ter encontros presenciais, como boa parte das
igrejas em todo o país e no mundo. Aos poucos, aquele
rapaz veio a alguns encontros e logo começou a trazer a
sua esposa. Começamos a perceber que a música, a Palavra
de Deus e as orações começaram também a mexer com
ele, aquilo foi aumentando. Era perceptível.
O tempo foi passando, e fomos nos aproximando.
Nesse tempo, abrimos os encontros presenciais; depois,
tivemos que fechar novamente e abrir novamente. E ele
continuou próximo. Durante o tempo em que finalizava
este texto, estava pregando em uma série sobre a necessi-

106
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 3

dade de viver na presença de Deus. Em um dos episódios,


apresentei um resumo da vida na velha aliança e da vida
na nova aliança. Foi muito impactante para mim, no final
daquele encontro, estar com aquela pessoa impactada
por nossa ação no bairro, sem ter feito parte de uma ação
evangelística direta. Ele se aproximou de mim naquele dia
e disse assim: “Esse ano, eu quero viver a nova aliança
com Jesus”.
Não desista do seu bairro, não desista das pessoas
do seu bairro. Você pode ser agente de Deus, por meio
do Espírito, para a transformação de uma realidade, para
a transformação de pessoas, para que muitas pessoas se
decidam por uma nova vida, andando ao lado de Jesus.

107
Capítulo 4

SE LIGA NA
RAZÃO DA FÉ
Sem fé é impossível...
por Airton Dias

C omo viver a fé em tempos de pós-modernidade?


Como não abandonar a fé, quando há pressão dos
conceitos na nossa geração, dos amigos, da univer-
sidade? Como resistir e persistir crendo e falando sobre
fé em um mundo que rapidamente se esfria e grita em
alta voz por um completo abandono de absolutos, para-
digmas e limitações?
É pensando sobre tudo isso que precisamos conversar
sobre onde estamos e para onde queremos ir, sobre o que
somos e o que queremos ser. Se eu sonho com uma igreja
renovada, revitalizada, atual e atuante em nossa geração,
eu não posso esquecer que renovar, revitalizar, atualizar não
significa deixar a fé de lado ou reinterpretá-la. De maneira
bem direta: se quisermos ainda vivenciar uma sociedade
que crê, é nosso papel alimentarmos isso imediatamente,
não só pelos que não têm fé ou pelos que já a perderam,
mas por nós mesmos, que ainda a mantemos.
Isso é necessário, pois estamos diante de perguntas
complexas, questionamentos cheios de ideologias. Por
conta disso, somos tentados a rever conceitos imutáveis,
ceder a desejos da sociedade corrompida, frutos de sua
própria sabedoria (tola!). Por isso, meu convite a você é
para ficar comigo aqui, ler com carinho estas palavras, usar
a Palavra Santa e Perfeita de Deus para confrontar o que
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

aqui escrevo, para que, juntos, motivados, alimentados,


mas profundamente chacoalhados, estejamos prontos
para o que já está posto e para o que ainda ocorrerá em
nosso Brasil e no mundo.
Assim, preciso começar com uma declaração que
muito me encanta. Diz assim o Salmo 19:

Os céus declaram a glória de Deus; o firma-


mento proclama a obra das suas mãos. Um
dia fala disso a outro dia; uma noite o revela
a outra noite. Sem discurso nem palavras, não
se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por
toda a terra, e as suas palavras, até os confins
do mundo (v. 1-4).

Este texto é muito especial para mim, e o que mais


me encanta nele é a parte do sem discurso e sem palavras.
Em uma época em que muito se fala, se discursa mesmo
sem qualquer conhecimento real ou profundo, se fala
simplesmente por falar, se usa o sofisma para convencer
a qualquer custo, esse texto é emblemático e intenso. Por
mais que os discursos contra a necessidade ou a existência
de um Criador tornem-se cada vez mais audíveis, a natu-
reza, o Universo, as coisas criadas anunciam em silenciosa
“alta voz” a glória do Único.
C. S. Lewis tem uma frase famosa: Só um risco real pode
testar a realidade de sua crença. Então fique atento: a aula
pode começar com um enfático “Deus não existe e acre-
ditar no contrário é sinônimo de ignorância e estupidez”.
Quando você ouve isso, seus pensamentos voam, pois
você é um dos estúpidos e ignorantes; afinal, sua crença
não “avançou” como a ciência, pois você ainda acredita
em Deus. Na rodinha de amigos, frases como: “cada um na
sua”, “cada cabeça uma sentença”, “o que é certo para você
não é para mim”, “afinal, tudo é relativo” podem fazer você
109
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

pensar que absolutos realmente são coisas do passado,


que suas antes certezas agora são só um saco de dúvidas.
Se você já se sentiu assim, eu preciso lhe dizer: não
se jogue assim tão facilmente nessa teia, nessa ideia
de que quem sabe mais – e saber aqui não é sinônimo
de sabedoria; é só conhecimento mesmo – tem sempre
razão. Não caia com tanta facilidade em palavras jogadas ao
vento, pois a certeza do homem pelo homem é tão profunda
quanto uma colher de sopa; suas convicções tão fortes são
como um fino fio de algodão.
Afinal, o que dizer de um Deus que pode equilibrar
o Universo nas pontas de seus dedos e que, em um único
segundo, pode percorrer toda a sua imensidão? O que
pensar de um Deus que possui completa consciência de
quem é e de todo o seu poder? Em um ponto comple-
tamente oposto, o que dizer do homem que, desde as
primeiras filosofias se pergunta: “por que estamos aqui,
quem somos, por que existimos?”. O que dizer de um
homem que, ao mesmo tempo que se enche de conheci-
mento, fica tão distante da sabedoria?
Eu o encorajo a não desanimar tão fácil. Você pode
até dizer: “você não sabe a pressão que eu sinto”. Pois é,
eu sei sim. Por isso, repito: palavras de alguém que não crê
não podem ser suficientes para minar sua fé. Sabe por quê?
Porque nossa fé é muito mais do que algo que se afirma ou
se discursa ou que se vê com olhos que agora fazem você ler
este texto. Nossa fé se estabelece definitivamente naquilo
que experimentamos em nossa experiência pessoal e
intransferível com Deus. Pense nisso agora. Pense no que
já experimentou com Deus. Tire uns minutos para isso e
você perceberá que o que as pessoas descrentes dizem
jamais será suficiente para diminuir sua fé.
Por isso, eu me coloco a pensar que todo o esforço
ou todo o descaso da humanidade, todo o seu conheci-

110
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

mento ou toda a falta de sabedoria, todo o prostrar e toda


a arrogância não assustam nem surpreendem a Deus. A
cada segundo em que penso ter encontrado a resposta,
sou lembrado de que, antes que meu corpo tivesse forma,
ele já me conhecia (Sl 136); sou lembrado de que a voz
que deu existência ao tudo é substituída por suas mãos
a moldar cada detalhe de meu corpo; sou lembrado de
que, enquanto bato a cabeça procurando respostas onde
pouca verdade há, onde ele não está, ele carinhosamente,
através de si mesmo, através da natureza, através de seu
sacrifício, me diz: Eu sou o caminho, a verdade e a vida
(Jo 14:6). Enquanto eu continuo me perguntando: “por que
estou aqui? Quem sou? Por que existo?”, ele rapidamente
me responde que, nele, não só eu, mas todos nós nos
movemos, vivemos e existimos (At 17:28).
Desta forma, volto à frase de C. S. Lewis, pois
hoje o risco real à sua crença muitas vezes estará nos
mesmos ambientes com os quais você tantas vezes
sonhou: a universidade, o emprego, a família, a igreja,
a roda de amigos. Ali, diante do sonho, diante dos obje-
tivos traçados para toda a vida; ali, onde você espera
só por vitórias e conquistas, há um ambiente, conceitos,
contextos, pessoas prontas a questionar sua fé e refu-
tá-la. No entanto, é exatamente nesse ambiente que
Deus permitiu que você estivesse. É nesse ambiente
incrivelmente inspirador que o Espírito Santo continua
dentro de você para conduzi-lo em defesa daquilo que
você crê (1 Pe 3:15). É nesse microcosmos que o seu
Salvador espera que você não se envergonhe dele.
Isso me leva a um comentário final, nesta parte intro-
dutória: se esperamos vitória, devemos estar preparados
para a batalha. E aqui não me refiro a uma batalha estúpida
e sem nexo. Eu me refiro ao enfrentamento real da pressão
no ambiente, quando o momento chegar. Então, entenda:

111
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

não há recompensa sem luta. Mas também não esqueça:


você pode até pensar que está sozinho, mas não está.
Assim, sem medo de errar, é possível, sim, conciliar sua
fé e o seu ambiente, seja ele qual for. Por isso, seja luz onde,
por vezes, a escuridão já cegou a muitos! Você pode até
perguntar: “mas e as vozes tão altas que dizem o contrário?”.
Convido você a prestar mais atenção na voz silenciosa, sem
discurso, sem palavras, que enche céus e Terra! Leia o Salmo
19 novamente e se aquiete. Duvido de que você não ouvirá
e, por fim, duvido de que você não glorificará ao seu Deus.
Caminhe comigo mais um pouco, e vamos nos encher
da convicção que a Palavra de Deus é capaz de nos dar.
Entendamos o problema e sigamos firmes no que cremos,
levando outros à salvação pela fé em Cristo Jesus.

A QUEBRA
Quando comecei a escrever sobre isso, fiquei pensando
na razão pela qual o ser humano vem, há muito, desa-
creditando de Deus, deixando de lado a fé e caminhando
para a escuridão – digo escuridão, pois, se Cristo é a luz do
mundo disponível aos homens e às mulheres desde sempre
(Is 9:2, Mt 4:16), afastar-se dele é, inevitavelmente, ir em
direção à escuridão. Mas, então, outro questionamento me
veio à mente: quando tudo isso começou? Em que momento
da história o que era certo, absoluto, uma verdade incontes-
tável passou a ser relativo, duvidoso? E aí fui imediatamente
levado ao texto de Gênesis 3:1-7. O afastamento e a queda
iniciaram-se quando demos ouvidos à primeira mentira:

Ora, a serpente era o mais astuto de todos


os animais selvagens que o Senhor Deus
tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi
isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de
112
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

nenhum fruto das árvores do jardim’?”. Res-


pondeu a mulher à serpente: “Podemos comer
do fruto das árvores do jardim, mas Deus
disse: ‘Não comam do fruto da árvore que
está no meio do jardim, nem toquem nele; do
contrário, vocês morrerão’”. Disse a serpente
à mulher: “Certamente não morrerão! Deus
sabe que, no dia em que dele comerem, seus
olhos se abrirão, e vocês serão como Deus,
conhecedores do bem e do mal”. Quando a
mulher viu que a árvore parecia agradável
ao paladar, era atraente aos olhos e, além
disso, desejável para dela se obter discerni-
mento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu
a seu marido, que comeu também. Os olhos
dos dois se abriram, e perceberam que esta-
vam nus; então juntaram folhas de figueira
para cobrir-se (Gn3:1-7).

Eis aqui a queda! Não só a queda do homem e da


mulher diante daquilo que Deus havia dito, não só a
quebra de uma aliança eternal, não só a perda da presença
constante do Criador. Há muitas quedas, muitas quebras e
muitas perdas aqui. Não entrarei nisso aqui, por algumas
razões, mas principalmente porque desejo olhar para um
ponto somente: a queda intelectual do ser humano.
O texto relata que, depois de o casal ouvir todas as
orientações de Deus, a serpente (o próprio enganador) fala
com Eva – provavelmente vão dizer que somos bobos por
acreditarmos nesta lenda da “serpente falante” – e coloca
em xeque a palavra de Deus: “Foi isso que Ele disse? Ah,
não, não se preocupem; vocês não vão morrer; vocês só
serão capazes de saber o que é bom e o que é mal”. Em
outras palavras, a proposta aqui é mostrar que é possível

113
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

adquirir conhecimento sem considerar as orientações e os


princípios do Criador. Uma segunda proposta acompanha
a primeira: o adversário ousa dizer que eles serão como
Deus. E o resultado todos sabemos.
Mas sabe o que é pior? Desde então, o ser humano
vem caindo nessas duas propostas, e mais e mais isso
tem se tornado uma realidade. Ele se tornou seu próprio
deus; colocou em si mesmo seus mais profundos desejos
e para esses desejos é que vive. Acredita, sem nenhuma
sombra de dúvida, que qualquer conhecimento, ciência
ou avanço tecnológico não depende de Deus, e melhor
ainda será se qualquer crença, confissão de fé ou religião
deixarem de existir, pois, assim, a humanidade definitiva-
mente prosperará. Esse é o discurso que toma força desde
a modernidade e se enraíza nas mentes pós-modernas.
A mentira do enganador ganhou corpo, tornou-se verdade.
O escritor Malcolm Muggeridge afirma:

... vivemos um pesadelo precisamente por-


que tentamos criar um paraíso na terra. Cre-
mos no “progresso”. Confiando na liderança
humana, entregamos a César o que é de
Deus. Não há sabedoria, exceto no temor de
Deus; mas ninguém teme a Deus, logo não
há sabedoria. A história do homem é redu-
zida à ascensão e queda (...). Uma torre de
Babel após outra, descendo rumo a abismos
que são horríveis de contemplar.

Mas isso começa bem mais atrás. Em 1781, Kant


lança o livro A crítica da razão pura,1 em que revolucionou
a história do pensamento humano, ao afirmar que não há
verdade absoluta. Ele ensina a humanidade a questionar

1 KANT, 1781

114
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

verdades absolutas, e esse conceito filosófico entrou,


inclusive, na teologia e na ética. Sobre isso, Hernandes
Dias Lopes afirma que, hoje, muitas pessoas não creem
em verdades absolutas nem defendem uma conduta que
preceitua a clara distinção entre certo e errado. E por
essas razões, a sociedade contemporânea desceu mais um
degrau nesse processo, rumo ao relativismo moral.
Chegamos ao nível mais baixo da degradação humana.
Chamamos luz de trevas e trevas de luz. Chamamos doce
de amargo e amargo de doce. É daqui que surge o chamado
“vazio existencial”. A humanidade se enche de perguntas que
não consegue responder: de onde viemos? Para onde vamos?
Qual a razão de estarmos aqui? Por que o privilégio de
sermos o único planeta habitado? O que temos de especial,
se somos somente poeira do Universo, segundo a ciência?
O que temos de especial, se somos somente efeitos de uma
evolução natural, segundo a ciência? Tudo isto: Universo,
estrelas, planetas, Terra, vida, morte, Jesus Cristo, Espírito
Santo é real? Por que tantas perguntas sem respostas?
Perguntas movem, mas muitas vezes assustam.
Assustados, podemos ser levados a aceitar, engolir qual-
quer coisa. Muitas palavras “bonitas” continuam sendo
enganadoras. Palavras “bonitas” que têm como base filo-
sofias humanas tendem a nos afastar de Deus e, conse-
quentemente, da verdade. Por isso, vale o alerta: Tenham
cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e
enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e
nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo”
(Cl 2:8). Fique atento se lhe disserem que a religião é uma
invenção dos homens ou um produto cultural. Esteja certo
de duas coisas: a primeira é que querem roubar sua reli-
gião; a segunda é que acabam de pôr em seu coração o
primeiro alicerce para uma nova religião.2

2 FUENTES, 2020, p. 101

115
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

Relativismo e superficialidade
É diante de retóricas como essas que muitos jovens
têm cedido. Alguns, que tinham sua fé firme, hoje decaíram
dela, pois ouviram tais discursos nos bancos das univer-
sidades, nas rodinhas de amigos, através da mídia etc.
Sabendo disso é que quis, logo no início deste capítulo,
alertar você sobre discursos e sofismas e usar o Salmo 19
para levá-lo a refletir. Mas há ainda outro texto que quero
compartilhar com você, para que sejamos cuidadosos
com o que ouvimos e com o que aceitamos. Trata-se de
1 Timóteo 3:1,10,14. Então vamos lá.
A defesa da fé sempre foi essencial. Diante disso, o
Espírito Santo sempre concedeu a Paulo uma capacidade de
discurso muito especial. Essa ação do Espírito Santo estava
intensamente conectada ao conhecimento acadêmico de
Paulo, que, inspirado pelo Espírito Santo, avisa a Timóteo:

... nos últimos dias sobrevirão tempos terrí-


veis, mas você que têm seguido de perto o
meu ensino, a minha conduta, o meu propó-
sito, a minha fé, a minha paciência, o meu
amor, a minha perseverança, permaneça nas
coisas que aprendeu e das quais tem con-
vicção, pois você sabe de quem o aprendeu
(1 Tm 3:1,10,14).

Somos convidados a continuar firmes em tudo o que


acreditamos, em tudo que conhecemos e em tudo que
fomos ensinados. Assim também nos orienta e motiva
João: ... quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao
Pai como ao Filho (2 Jo 1:9). A Palavra de Deus não muda,
não falha, não envelhece, não se altera, não se amolda a
nossos desejos. Verdades absolutas existem, sim! E pode-
ríamos gastar muitas páginas usando argumentos filosó-
ficos aqui, mas leia mais uma vez e guarde em seu coração
116
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

mais um ensinamento de Paulo: ... permaneça nas coisas


que aprendeu (1 Tm 3:14).
No entanto, mesmo diante dos alertas, o relativismo
tomou conta de todas as esferas da sociedade, até mesmo
da igreja. Fique ligado! Paulo alerta, ainda, que muitos irão
à igreja, sim, porém não acreditarão realmente em nada do que
ouvem (2 Tm 3:5). Que palavra forte! Isso é relacionamento
superficial, curtição no Reino, afastamento, honra apenas
de lábios, coração distante. Sua forma de vida, seu estilo,
suas convicções são como uma cadeia, mas a cadeia é boa
e confortável, e não parece haver necessidade de sair, pois
a porta sempre está aberta. Pensamos que poderemos sair
a qualquer momento, mas um dia o tempo acaba, a porta
da cela bate e, de repente, é tarde demais.
Se existe algo que o relativismo fortalece é a super-
ficialidade. E isso muitas vezes nos pega. Vivemos num
tempo de muita superficialidade. Esta é a sina da nossa
geração. São muitas pessoas superficiais em seu dia a
dia, em suas responsabilidades e, principalmente, em
seus relacionamentos. Pessoas que não se envolvem
realmente, profundamente e com seriedade na maioria
das coisas que fazem. Mas tudo que Jesus fez é exemplo
perfeito a ser seguido. Ele foi perfeito na obediência,
no amor, na humildade, na abnegação, no perdão, na
paciência, na santidade, no serviço, na oração, na persis-
tência, no envolvimento com as pessoas e na profundi-
dade do seu relacionamento com o Pai.
A Bíblia, abertamente, declara que nós, cristãos,
devemos ser parecidos com ele. É nosso dever observar
as atitudes do nosso Mestre e seguir suas pegadas pelo
caminho. De acordo com o apóstolo João, é assim que se
reconhece um verdadeiro cristão: Qualquer um que diga
que é cristão deve viver como Cristo viveu (1 Jo 2:6).
Mas, infelizmente, não é isso que estamos vendo.

117
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

Cada vez mais me convenço de que o maior problema do


nosso tempo – e não me refiro apenas ao mundo cristão –
é a superficialidade ou, se quisermos dizer de outra forma,
a falta de profundidade. Psicólogos, pensadores, teólogos
e todos os que param e pasmam diante das notícias que
vemos e ouvimos têm percebido que este mal está diante
de nós, em todas as áreas da vida. O dicionário vai dizer
que algo ou alguém superficial é aquilo ou aquele que
não possui solidez, não possui seriedade. Também afirma
que uma pessoa superficial é aquela que não vai ao fundo
nas coisas: é leviana, incompleta, sem profundidade.
Somos convidados a abandonar a superficialidade.
Isto só nos fará bem. Do ponto de vista espiritual, poderá
nos salvar. Salvos por um mergulho3 é o nome de um livro
de Karina Dubeux e Isac Szwarc. No dia 26 de dezembro
de 2004, o mundo assistiu a uma das maiores catástrofes
da história. Uma sequência de ondas gigantes arrasou a
costa de países da Ásia e da África, matando mais de 300
mil pessoas. Enquanto os tsunamis varriam cidades, um
casal de brasileiros mergulhava a duas horas da costa, no
Sul da Tailândia. Karina e Isac foram salvos por estar no
lugar mais improvável, debaixo d´água.
Sem dúvida, a história destes dois médicos mereceu um
livro. Em Salvos por um mergulho, os dois contam o drama
e incrível experiência que vivenciaram. Inevitavelmente,
esse livro é uma história de vida, de sobrevivência em um
momento e um lugar de onde só se esperaria juntar mais
dois nomes, mais dois números aos milhares de mortos.
A verdade é que Salvos por um mergulho também
poderia e deveria ser uma história de vida para muitos
cristãos. Deveria ser uma experiência de sobrevivência
sobrenatural diante de um mundo que vem somando, dia
após dia, mais e mais nomes e números aos milhares de

3 DUBEUX & SZWARC, 2008

118
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

milhares, milhões de milhões que vêm sendo arrastados


pelas ondas, modas e devaneios, oportunidades e pecados
do mundo e de satanás! Vemos

... muitos sorrisos eufóricos, artificiais, for-


çados. Eles estão por aí, maquiando rugas
e manchas de espíritos vazios da alegria do
viver; de emoções enfermas, violentadas por
culpas, amarguras, experiências traumáticas,
solidão. Maquiando as manchas e as rugas
de vidas infelizes. Muito luxo estético enco-
brindo o lixo emocional e espiritual que se
acumula devido ao autoabandono, ao excesso
de entretenimento, à carência de virtudes, à
falta de profundidade, à superficialidade.

Por isso, volto ao versículo 5 de 2 Timóteo 3: ... irão à


igreja, mas não acreditarão realmente em nada do que ouvem.
Isso é relacionamento superficial, curtição no Reino, honra
apenas de lábios, coração distante. Deus tem tanta preo-
cupação com a superficialidade que chama a atenção do
povo de Israel, usando dois profetas diferentes. Em Isaías
29:13, o Senhor desabafa:

Esse povo se aproxima de mim só com palavras,


e somente com os lábios me glorifica, enquanto
o seu coração está longe de mim. O culto que me
prestam é tradição humana e rotina. Em Jere-
mias 12:2, lemos também: Eles dizem: “Graças a
Deus!”, mas é tudo da boca para fora. No fundo
do coração, não dão importância ao Senhor.

Esta situação era tão intensa que o próprio Jesus


afirma em Mateus 15:8 e Marcos 7:6: Este povo diz que me
honra, mas os seus corações estão muito longe de mim.

119
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

Na poesia Imensidão, Anderson Freire diz sobre Deus:

Meu sobrenatural é o teu normal.


Teu simples é o meu absurdo.
Não há ciência aqui pra te resumir.
Um pouco de ti já é meu tudo.
És toda conclusão, antes que se
tenha uma pergunta, uma resposta.
És luz sobre o sol, vento sobre o ar,
fonte das águas que se espalham.
Tu és grande, tão grande assim,
e escolheste a mim.
Fez moradia dentro de mim.
Tu és minha imensidão e fez de
mim então tua habitação.

Por isso, mesmo sendo tudo o que é, Deus não quer


uma relação superficial conosco. Ele escolheu você e eu,
fez moradia dentro de nós e fez de nós sua habitação. Em
João 15:15, Jesus afirma que a vida de servo já passou, que
o relacionamento superficial de servo já era. Agora ele
quer algo mais, mais intenso. Ele nos chama de amigos!
Mas não para aí: em João 1:12, lemos que todos os que
o recebem a Jesus, têm o direito de se tornarem filhos de
Deus. Este mesmo texto é confirmado em Gálatas 3:26:
Porque agora todos nós somos filhos de Deus, por meio da
fé em Jesus Cristo.
Vamos de servos para amigos, de amigos para filhos!
Isso é demais! Ele move o mundo, se for preciso, para
que você o aceite integralmente em sua vida. Abre o mar
para que você passe. Faz o sol parar para que você vença.
Derrama fogo do céu para mostrar que você está certo.
Anda no fogo com você para mostrar que estará sempre

120
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

ao seu lado. Fecha a boca do leão para que outros vejam


que sua fidelidade é compensada. Deixa o seu trono no
céu por amor a mim e a você. Ele é Jesus, aquele que

... entrou na história da humanidade


e que a dividiu em antes e depois.
O Princípio e Fim.
Pedra de esquina angular.
O único e verdadeiro,
último e primeiro.
Ele que pagou o preço pelos meus pecados,
foi traído, transpassado, crucificado.
O Rei que se despiu da sua glória
pra me fazer imortal.
Glória que transcende o que é natural.
Em seus olhos há fogo,
em sua coxa está escrito que ele é Rei dos reis
e Senhor dos senhores.
Ele é a raiz de Davi.
Ele é Santo e Tremendo,
Justo e Fiel, Absoluto, Exaltado.
Ele é Senhor, Leão de Judá,
Revelação perfeita,
Santo de Israel, Extraordinário.
Nele não há defeitos.
Ele é Príncipe do céu,
Estrela da manhã,
Emanuel, Onipotente,
Indescritível, Incomparável.4

Este Deus tão incrível, tão especial, tão indescritível


aceita sua missão e morre para que você tenha salvação.
Ele ressuscita para que você tenha esperança. Chama você

4 RICARDO, música O Extraordinário

121
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

de amigo, filho e noiva, para que você tenha certeza de


que com ele o relacionamento não é superficial.
Estes são tempos difíceis para sermos cristãos, como
disse Paulo a Timóteo. Hoje brincamos de ir à igreja;
ficamos disputando quem será o líder, quem será o músico,
quem terá mais destaque, ou então não queremos assumir
nada, nenhuma responsabilidade na igreja; queremos
somente participar do culto, em vez de rendermos culto
ao Senhor. A verdade é que, às vezes, brincamos de ser
cristãos, achando que haverá muitas listas no final de
tudo. Mas a grande verdade é que haverá somente duas
listas, somente dois lados: o direito, que ouvirá: Vinde,
benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que estava
reservado para vocês, e o outro lado – do outro lado, as
palavras não serão bonitas. Então, por que brincar? Por
que arriscar ouvir: Não os conheço? Por quê?
Por isso, o meu pedido a você é que não permita que
o relativismo e a superficialidade façam parte da sua vida.
Deus chama você a um relacionamento profundo com ele,
um relacionamento tão profundo que transcende este
mundo, supera todas as lágrimas que talvez você e eu
choremos por causa desse Reino. Como um pai carinhoso
que enxuga as lágrimas do filho, ele enxugará de nossos
olhos toda a lágrima, e viveremos com ele eternamente.
Vale a pena pular de cabeça nessa ideia!

O PONTO DA VIRADA
CONTRA O CETICISCMO
O cristianismo vai desaparecer e encolher. Eu não
preciso discutir isso, eu estou certo e eu vou provar. Nós
somos mais populares que Jesus agora. Eu não sei qual será
o primeiro: o rock’n roll ou o cristianismo. Jesus estava certo,

122
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

mas seus discípulos eram grossos e ordinários.5 Resolvi


trazer essa famosa (e infeliz) frase de John Lennon, pois
o mundo atravessa momentos de intensa dissonância.
Países, antes cristãos, têm se secularizado; outros, onde
a secularização é intensa, têm visto sua população se
abrir para as palavras cristãs. Lennon se foi, mas o cris-
tianismo permanece – Mc 8:36, 13:31). Seu conterrâneo,
Richard Dawkins é o mais ferrenho defensor do ateísmo
na atualidade. Seus livros têm se espalhado pelo mundo.
Muitos jovens (e adultos) têm lido seus comentários e têm
começado a duvidar fortemente de suas próprias bases
cristãs. Dawkins, em um dos seus pontos de vista mais
separatistas, afirma que ciência não pode se conectar a
crença. Se você é um interessado em ciência ou em qual-
quer prática de estudo, não pode (em hipótese alguma!)
acreditar na existência de Deus. O contrário também é
válido para ele. Assim como Lennon, Dawkins acredita que
somos “grossos e ordinários” por acreditarmos na criação
pela voz e pelas mãos poderosas de Deus.

O deserto – ponto um
Segundo o dicionário Oxford, ceticismo é retum-
bante falta de crença, incredulidade, dúvida. Ainda há
uma descrição a partir de uma doutrina filosófica – esta
é a descrição que para mim é mais importante. Afir-
ma-se que o ser humano “não pode atingir nenhuma
certeza a respeito da verdade, o que resulta em um
procedimento intelectual de dúvida permanente e na
abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão
metafísica, religiosa ou absoluta do real”. Segundo esta
definição, então, os seres humanos são incapazes de
conhecer a verdade. Aliás, essa ideia é bastante comum
na pós-modernidade.

5 Em entrevista ao jornal britânico London Evening Standard, 1966

123
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

É aqui que é necessário estarmos atentos. O ceticismo


sincero pode nos levar a crer! Ao contrário do que propõe o
sentido etimológico da palavra, a dúvida sincera gerará em
nós a busca pela verdade, pelo que é real. Neste contexto, a
busca por respostas nos fará desenvolver algumas teorias. Sabe
o que é incrível? A palavra “teoria” significa buscar conheci-
mento divino. Entendeu? A busca por conhecimento, respostas
e entendimento, inevitavelmente, nos fará retornar a Deus.
Há um texto excelente de André-Marie Ampère (aquele
da Lei de Ampere da física – uau!). Olhe o que ele escreve:

Feliz aquele que em suas observações apren-


didas, contemplando as maravilhas deste
vasto Universo, Diante de tanta beleza,
diante de tanta magnificência, dobra os joe-
lhos e reconhece o divino Criador. Eu não
compartilho a incoerência tola do cientista
que contestaria a existência de Deus, daquele
que cerraria seus ouvidos para aquilo que os
céus declaram e se recusaria a ver o que res-
plandece diante de seus olhos. Conhecer a
Deus, amá-lo, oferecer-lhe um respeito puro,
estas coisas são o verdadeiro conhecimento
e o estudo da sabedoria.6

Você consegue entender essas palavras? Sincera-


mente, quando olho para as duas últimas frases, consigo
ver meu ceticismo sendo destruído! E, de verdade, queria
muito que todos pudessem olhar para Deus e sua criação
com nossos olhos abobados (os meus são bem bobos).
Como seria incrível se um mundo cético pudesse ser capaz
de ouvir com nossos ouvidos, sentir com nossos sentidos,
experimentar Deus como nós experimentamos!

6 AMPÈRE apud MACARTHUR, 2018

124
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

Mas talvez você ainda tenha suas dúvidas. E, se


não cai na ideia de verdades relativas (espero que não
mesmo!), então você sabe que, pelo simples princípio da
não contradição (duas respostas diferentes não podem ser
verdadeiras), é necessário buscar a verdade absoluta, defi-
nitiva. O que fazer, então, diante de tantas coisas que você
tem visto, diante de tantas palavras diferentes que tem
ouvido? Para ajudá-lo, queria convidá-lo para o deserto.
“Deserto?”, você pergunta. Entendo seu “ceticismo” ao
meu convite. Afinal, sempre que se fala em deserto, fala-se
em escassez, limitação, sede, calor, frio, lutas, sofrimento.
Desculpe, mas prefiro olhar para o deserto com outros
olhos, talvez com os “olhos da fé”.
Há pouco, falei sobre superficialidade e necessidade
de nos aprofundarmos em Deus. Muitas vezes, queremos
profundidade, respostas, mas queremos ficar nos campos
verdejantes, numa cadeira confortável em frente à praia,
no conforto de um sofá com um controle nas mãos, viajar
na primeira classe do avião, curtir o hotel 5 estrelas. Mas,
entenda de uma vez por todas, não há profundidade,
conhecimento de Deus, se não for no deserto. O deserto é
a fase inicial, a fase do processo. Veja este texto de Oséias
13:5: Eu te conheci no deserto, na terra muito seca; cuidei de
vocês no deserto, naquela terra seca e sedenta.
Ir para o deserto não é simples. Ir para o deserto é
depender completamente de Deus. Comida lá não é fácil,
água também não. Os perigos são constantes, a natureza
do deserto é implacável: 60ºC de dia e 0ºC de noite, ventos
fortes, poeira nos olhos, e assim vai. A dependência de
Deus é constante.
No deserto, há aprendizado, amadurecimento,
crescimento, relacionamento puro e verdadeiro, palavra
– não qualquer palavra, mas a Palavra! No deserto,
poderemos subir ao monte santo, ver Deus face a face.

125
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

O deserto tem características especiais para a acústica.


Ali, podemos ouvi-lo perfeitamente. O monte tremerá
pela presença dele. Ali, o processo vai nos levar à satis-
fação plena e nos fará compreender quem somos, de
onde viemos, para onde vamos. No deserto, poderemos
conhecer quem ele é, seu poder, sua majestade, sua gló-
ria, sua graça, seu cuidado, seu interesse por cada de um
de nós. No deserto, ficaremos chocados ao ver a altura,
a profundidade, a largura, o comprimento de seu amor.
O deserto é incrível para quem já mergulhou mais
fundo no relacionamento com Deus. E, sabe, é necessário
que já tenha acontecido o mergulho porque, do deserto,
somos testados, moldados. É necessário disciplina e cons-
tância. No deserto, é tudo ou nada. É onde que somos
preparados para o que virá (mesmo sem sabermos o quê).
Ali, somos preparados para o mundo, para vivermos em
santidade, quando isso é tão difícil! Ali, somos preparados
para sermos os loucos do evangelho.
Como já disse anteriormente, no deserto poderemos
encontrá-lo face a face, ouvir sua voz com clareza. O deserto
tem características especiais para a acústica. Ali, podemos
ouvi-lo perfeitamente. Pois bem, no deserto não há luzes,
cores, sons diversos que tirem nossa atenção. Nossos olhos
não serão desviados, nossos ouvidos estarão sensíveis,
nosso tato estará em máxima atividade. Todos os nossos
sentidos serão atraídos para Deus, e ali nossa fé será esta-
belecida, fortalecida. No deserto, no nosso encontro íntimo
com Deus, nosso ceticismo será transformado em certeza!
Lá, você e eu seremos levados ao conhecimento de Deus.

Em fé – ponto dois
Preciso lhe fazer uma provocação: você tem fé?
Você acredita em Deus, Adão e Eva, dilúvio, um homem
chamado Jesus, que é Deus e morreu, mas ressuscitou?

126
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

Com a ciência avançando tanto, com o conhecimento


expandindo-se de forma tão real, você ainda acredita? Em
um momento em que o “provado cientificamente” toma o
lugar daquilo em que “se acredita simplesmente por acre-
ditar”, você ainda mantém firme suas convicções fanta-
siosas? E o que dizer da Bíblia, “Sagrada” para muitos?
Quanta falta de conhecimento! Essas frases são comuns,
muito ouvidas no ambiente das universidades.
Queria mesmo levar você a conhecer que a briga
é grande, a batalha é ferrenha, a argumentação não
é simples. Como você responderia a essas perguntas?
Talvez um simples “sim” fosse suficiente. Mas se, após
isso, a pergunta fosse “por quê?”, você poderia se perder.
E afirmo isso porque, para um cético ou ateu, argumentos
religiosos ou de fé não servem para nada.
No livro Não tenho fé suficiente para ser ateu,7 afirma-se
que Deus forneceu provas suficientes para convencer qual-
quer um disposto a acreditar nele, mas também deixou
grandes dúvidas para aqueles que não estão dispostos.
Concordo com os autores. O físico James Joule dizia que,
após o conhecimento e a obediência da vontade de Deus, o
próximo passo deve ser conhecer alguma coisa dos seus atri-
butos de sabedoria, poder e bondade evidenciados pelas suas
obras pessoais.8 Então, alguns não irão acreditar em nada
relacionado a Deus ou à Bíblia (Sagrada, sim!), nem irão
aceitar a nossa fé. No entanto, independentemente disso,
você e eu devemos continuar crendo, agindo e falando.
É a Bíblia que nos faz uma santa convocação:

... não vos amedronteis com as suas ameaças,


nem fiqueis alarmados, não vos amedronteis
com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados,

7 GEISLER E TUREK, 2006


8 JOULE, 1993, p. 47-50

127
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

estando sempre preparados para responder a


todo aquele que vos pedir razão da esperança
que há em vós, ​fazendo-o, todavia, com man-
sidão e temor, com boa consciência, de modo
que, naquilo em que falam contra vós outros,
fiquem envergonhados os que difamam o vosso
bom procedimento em Cristo, porque, se for da
vontade de Deus, é melhor que sofrais por pra-
ticardes o que é bom do que praticando o mal
(1 Pe 3:14-17 – grifo nosso).

Precisamos estar prontos a defender nossa fé. Muitos


secularistas, niilistas e cientificistas pelo mundo têm
investido tempo e conhecimento para invalidar a fé no
Deus Criador e no Cristo Salvador. Para eles, a afirmação
de Kepler de que o mundo da natureza, o mundo do
homem, o mundo de Deus se encaixam não faz sentido.
Infelizmente, essa ferrenha ofensiva têm minado a fé de
muitos. Nós nos vemos num mundo em que as pessoas
saltam rezando para voar e, quando estão no alto, se
perguntam: por que eu saltei? E nós, que deveríamos estar
preparados para responder, silenciamos, talvez por falta
de conhecimento, por medo, por qualquer outra desculpa
que você e eu estejamos formulando agora mesmo; a
verdade profunda é que silenciamos. Entretanto, não há
razão para nos calarmos. Segundo Geisler e Turek,

Existem muitas provas conclusivas que garan-


tem a confiabilidade das Escrituras, a auto-
ridade da Bíblia como Palavra de Deus ins-
pirada e a perfeição do registro bíblico dos
eventos históricos que retratam a vida terrena
de Jesus Cristo. É claro que as provas não
substituem a fé que é essencial para nossa
salvação e comunhão com Deus. Creio que há
128
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

uma razão importante para o mandamento


“estais preparados”. Não é simplesmente para
nos ajudar a comunicar de maneira eficiente
o evangelho, mas para equipar-nos coma as
ferramentas adequadas para resistir a cer-
tas dúvidas persistente que encontramos nos
momentos de fraqueza. Sem dúvida, precisa-
mos estar mais bem equipados com as evi-
dências. Como se já não bastasse lidar com as
tentações da carne, também somos confron-
tados diariamente com influências externas
negativas. Influências estas que ficaram cada
vez mais sinistras e insidiosas nos dias atuais,
como a Bíblia advertiu que aconteceria.9

Por isso, estar pronto a defender a razão da espe-


rança que há em nós a partir de argumentos científicos
é muito importante.10 Nossa fé não pode ser irracional;
deve nos fazer desejar conhecer o amor de Deus a
partir de sua criação e de suas criaturas. Por isso, fica
um convite para você, que hoje tem tanto acesso à
informação e aos livros: dedique um pouco de tempo a
conhecer os questionamentos feitos pelos defensores
do naturalismo darwinista, do niilismo, do ateísmo, do
miticismo e busque aprender sobre como rebater cada
um dos questionamentos feitos por eles. “Vai ser fácil?”,
você pode se perguntar. Eu respondo: “Não!”, mas eu lhe

9 ibidem
10 Precisamos conhecer os argumentos científicos e, ao mesmo tempo, considerar
que a fé cristã não depende do respaldo científico, uma vez que tem pressupostos
diferentes dos da ciência. Precisamos ter em mente que o conhecimento científico,
por si só, é limitado para responder às questões essenciais da existência humana.
Neste sentido, entender que a fé precisa ser defendida diante de argumentos cien-
tíficos é limitá-la ao mesmo nível da ciência.

129
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

garanto que a cada nova descoberta, sua fé será forta-


lecida e sua gratidão por um Deus tão grande escolher
amar você será ainda maior.
É nesse ponto que somos chamados a crer, indepen-
dentemente do que se fala ou se prega por aí! O convite
que recebemos hoje é para acreditar mais! Mas por que
“mais”? Será que estamos acreditando de menos ou não
acreditando o suficiente? Talvez sim. Era isso que estava
acontecendo em Mateus 17:20. Ouça o que Jesus nos diz:
Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé do tamanho de
um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: “Vá daqui
para lá”, e ele irá, [e] nada lhes será impossível.
Quando Jesus diz isso, chama a atenção dos
ouvintes: tenham mais fé. Jesus deixa claro que fé é algo
central, que sem ela as coisas não acontecem. Quando
ele falou de mover montanhas, estava empregando
uma frase que os judeus conheciam muito bem. Os
grandes mestres que podiam interpretar as Escrituras
eram chamados de arrancadores ou pulverizadores de
montanhas. Então, Jesus nos incentiva a crescer em
fé. Ele disse: Se tiverem a suficiente medida de fé, vocês
poderão resolver todas as dificuldades; vocês poderão
cumprir até a tarefa mais difícil. A fé em Deus é o instru-
mento que nos permite tirar as montanhas de dificul-
dades que obstruem nosso caminho.
O que Jesus faz conosco é apresentar a solução
definitiva. Ela é definitiva porque não está limitada
ao tipo de problema, ao tempo da luta, à quantidade
de dilemas enfrentados. Mas a fé resolve qualquer
problema mesmo? Ela é tão poderosa assim? Não! Não
é a fé em si. Ela não é uma receita de bolo. Não é ela a
manifestação do poder. Ela é a seta. Não é a manifes-
tação do poder, mas nos leva diretamente aos pés de
quem tem todo o poder.

130
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

Entenda isso. Venha para 1 João 5. O versículo 1 diz:

Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nas-


cido de Deus; e todo aquele que ama ao que o
gerou também ama ao que dele é nascido.

Agora venha para os versículos 4 e 5:

O que é nascido de Deus vence o mundo; e


esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.
Quem é que vence o mundo? Somente aquele
que crê que Jesus é o Filho de Deus.

Não é maravilhoso saber que a fé em Cristo nos


leva à vitória? Perceba que não é a fé como arma secreta
de vitória que nos faz vencer o mundo, mas a fé como
confiança em Cristo. A fé é a seta que nos leva a Cristo.
Isso faz toda a diferença. Por isso, em um pensamento
mais amplo, crer é libertador, confiar em Deus é libertador.

SIGA O EXEMPLO!
Churchill tem uma frase interessante:

... de tempos em
tempos, os homens tropeçam
na verdade, mas a maioria deles se
levanta e segue adiante como se
nada tivesse acontecido.

131
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

A verdade é definitiva cura contra o ceticismo. Mas,


como diz Churchill, quando a encontramos, muitas vezes a
ignoramos. Por isso, mesmo diante de tudo o que foi dito,
preciso compartilhar com você o exemplo de um cético.
Esse exemplo está no primeiro capítulo do evangelho de
João. Não vou resistir em dizer isto: o prólogo feito por João
(versículos 1-14) é um marco na história do pensamento.
Explico: os gregos acreditavam que o Universo obedecia a
uma ordem racional e moral. Eles chamavam isso de logos.
Para eles, o sentido da vida era ser capaz de compreender
essa ordem. Então, o Espírito Santo usa logos em toda a
definição inicial de Jesus.
Leia os versículos 1 a 14 de João 1. Toda vez que
aparece a palavra verbo, a tradução é logos! O Espírito
Santo revela que há, sim, uma ordem, um propósito
na vida, mas este não é um princípio filosófico; toda
ordem, todo propósito, todo sentido de existência
humana se resumem a uma pessoa: Jesus, o Cristo!
Posso ouvir um amém?
Mas, voltando ao exemplo, quero tratar sobre Nata-
nael (em Mateus, Marcos e Lucas, ele é chamado de Barto-
lomeu). Ele se mostrou muito cético diante do anúncio de
Jesus. Veja o texto de João 1:43-51:

No dia seguinte, Jesus decidiu partir para a


Galileia. Quando encontrou Filipe, disse-lhe:
“Siga-me”. Filipe, como André e Pedro, era da
cidade de Betsaida. Filipe encontrou Nata-
nael e lhe disse: “Achamos aquele sobre quem
Moisés escreveu na Lei, e a respeito de quem
os profetas também escreveram: Jesus de
Nazaré, filho de José”. Perguntou Natanael:
“Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?”.
Disse Filipe: “Venha e veja”. Ao ver Natanael

132
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

se aproximando, disse Jesus: “Aí está um ver-


dadeiro israelita, em quem não há falsidade”.
Perguntou Natanael: “De onde me conhe-
ces?”. Jesus respondeu: “Eu o vi quando você
ainda estava debaixo da figueira, antes de
Filipe o chamar”. Então Natanael declarou:
“Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei
de Israel!”. Jesus disse: “Você crê porque eu
disse que o vi debaixo da figueira. Você verá
coisas maiores do que essa!”. E então acres-
centou: “Digo-lhes a verdade: Vocês verão o
céu aberto e os anjos de Deus subindo e des-
cendo sobre o Filho do homem.

Natanael foi bem arrogante aqui. Pois bem, entenda


que os habitantes de Jerusalém menosprezavam os
galileus. Por isso, imediatamente ao ouvir que o Messias
era de Nazaré (cidade da região da Galileia), Natanael
questionou: Pode vir alguma coisa boa de lá? A cidade
era atrasada, pobre, irrelevante; logo, quem dali viesse
também carregaria esse estigma. E antes que nos
tornemos haters (os covardes das telas) de Natanael,
precisamos entender que muitos de nós poderíamos agir
da mesma forma. Como Tim Keller já escreveu, sempre
existem as pessoas certas, inteligentes e (abaixando o tom
de voz) as outras.11
É fato que queremos ser considerados capazes e
inteligentes, e podemos acabar por estabelecer essa iden-
tidade, não por meio de uma argumentação respeitável
e atenta, mas por meio do desdém. É isso que Natanael
faz com Jesus e é isso que muitas vezes fazemos, quando
estamos diante da crítica ao cristianismo. Acabamos por
adquirir uma postura altiva e arrogante, mas, acima de
tudo, admitamos ou não, covarde.
11 KELLER, 2015, p. 25

133
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

A postura de Natanael frente ao convite de Jesus


(mesmo que feito inicialmente por Filipe) revela sua cultura,
sua visão limitada, sua aparente superioridade. Mas o fato
de ir com Filipe até Jesus mostra que ele também vivia um
anseio por se entender, por se encontrar. Lembra do logos,
da ordem, do sentido, do propósito da vida?
Vejo Natanael como um jovem sedento, cético e
desesperado por conhecer e encontrar a Verdade! Vejo
um jovem em uma intensa busca espiritual. Por isso, ele
foi com Filipe até Jesus. E ao se encontrar com Jesus,
não é ele quem fala; é Jesus quem fala a respeito da
integridade daquele moço. Aqui, o ceticismo de Natanael
começa a ruir. “Como assim? Ele me conhece? Sabe que
sou íntegro? Esse pessoal já falou de mim para ele!”.
Então, questiona: “Você me conhece?”. É aqui que vejo
Jesus arrebentar com ele (arrebentar é uma coisa boa
aqui): “Você nem imagina o que sei, Natanael. Eu sei
tudo. Eu sei o que você fazia, pensava, desejava, buscava
debaixo daquela figueira. Eu conheço seu ceticismo, seu
medo, seu desespero pela verdade. Eu sei tudo, Nata-
nael, meu filho”. É aí que Natanael tem seus olhos e seu
coração abertos. Ele então abre sua boca e afirma, cate-
goricamente: “Mestre, tu és o Filho de Deus”.
Entenda de uma vez: Deus não se opõe aos curiosos,
aos que buscam conhecer. Ele não se opõe aos que
pensam. Ele quer que busquemos cada vez mais, quer
que aprofundemos nossas dúvidas, pois sabe que
acabaremos sempre voltando para seus braços. Ele é a
resposta. A frase deste louvor ressoa em minha mente:
“És toda conclusão, antes que se tenha uma pergunta,
uma resposta”. Deus jamais rejeitará a dúvida sincera de
seus filhos. Ele não rejeitou Natanael, não rejeitou Tomé,
não me rejeitou e não rejeitará você.

134
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 4

Pergunte, mas esteja pronto para a resposta. Se ainda


não veio, ela virá! E quando isso acontecer, dobre seus
joelhos e adore, pois, quando, de fato, isso acontecer, você
perceberá que ele é muito mais do que você imaginou. Ele
é o logos do Universo! É ele quem dá sentido e propósito
às rochas, às flores, aos animais, às estrelas; é ele quem dá
sentido e propósito à minha e à sua vida.

135
Capítulo 5

SE LIGA NO DISCIPULADO
Ide e fazei discípulos...
por Andrea Nunes

DISCIPULADO REAL E VERDADEIRO

Então, Jesus aproximou-se deles e disse: Foi-


-me dada toda a autoridade no céu e na terra”.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obe-
decer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu esta-
rei sempre com vocês, até o fim dos tempos
(Mt 28:18-20).

Mateus 28:18-20 é um registro das últimas pala-


vras de Jesus aos seus discípulos. O Evangelho de
Marcos, no capítulo 16, versículos 15-19, registra esse
momento também:

... disse-lhes: “Vão pelo mundo todo e preguem


o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e
for batizado será salvo, mas quem não crer será
condenado. Estes sinais acompanharão os que
crerem: em meu nome expulsarão demônios;
falarão novas línguas; pegarão em serpentes;
e, se beberem algum veneno mortal, não lhes
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os


doentes, e estes ficarão curados”. Depois de
lhes ter falado, o Senhor Jesus foi elevado ao
céu e assentou-se à direita de Deus”.

É como se o Senhor estivesse todo o tempo prepa-


rando o terreno para ministrar essa palavra. Depois de
cumprir tudo o que o Pai havia ordenado, finalmente o
Senhor podia dar esta ordem: Fazei discípulos. Agora, jovem,
eu pergunto: podemos negligenciar esse mandamento ou
podemos cumpri-lo de qualquer jeito ou da maneira que
acharmos melhor? A resposta é não! O evangelho de Jesus
é a mensagem mais importante do mundo.1
O chamado para o discipulado requer um autoexame.
Provavelmente, você vai se achar incapaz de tal ação:

Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em


mim fará também as obras que tenho rea-
lizado. Fará coisas ainda maiores do que
estas, porque eu estou indo para o Pai.
E eu farei o que vocês pedirem em meu
nome, para que o Pai seja glorificado no
Filho (Jo 14:12-13).

Apenas pela ação do Espírito Santo é que se inicia


uma transformação radical em nossa natureza, e assim
somos reorientados a viver a verdade de Deus e fazer a
sua vontade.
Afinal, você, salvo pela graça em Cristo Jesus, sabe
qual o seu papel nesse processo de discipular pessoas?
Por que assumir essa missão? Como fazer? Essas e
outras questões vou comentar com você neste capítulo.
Seja bem-vindo!

1 FERGUSON & BIRD, 2021

137
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Teólogos, escritores e pregadores:


o que dizem sobre discipulado?

Dietrich Bonhoeffer, no livro Discipulado, afirma de


forma bem simples: ... é comprometimento, entrega e sacri-
fício para a missão do Reino de Cristo.2
Jaime Ortiz, em Ser e fazer discípulos3 dá ênfase ao
entendimento do discipulado como uma prática trans-
formadora; ressalta o discipulado como uma forma de
educação por modelos e não por simples troca de infor-
mação. O discipulado, inevitavelmente, inclui a troca de
informações, mas o que está sendo valorizado é a quali-
dade de vida ou a maneira de ser. Ortiz sintetizou esses
conceitos de maneira clara:

Discipulado não é comunicação de conheci-


mento, mas comunicação de vida. Jesus disse:
“As palavras que vos tenho dito, a linguagem
que falo, não são meros sons ou ideias: são
espírito e vida” (João 6:63). Numa relação de
discipulado não ensino ao outro a conhecer
o que eu conheço, mas o ensino a se tornar
como eu sou. Discipulado, portanto, não é
comunicação de conhecimento, mas comu-
nicação de vida e espírito. Fazer discípulos é
diferente de conquistar uma alma. Paulo fez
discípulos, vivendo uma vida que ele ensinou
outros a viver.

Segundo Gary Collins, no livro Ajudando uns aos


outros, o Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículos 18 a
20, descreve o que é conhecido como a “grande comissão”.

2 BONHOEFFER, 2016
3 ORTIZ, 1983

138
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Este trecho bíblico é um discurso de Cristo a um grupo


pequeno de discípulos. Collins considera que Cristo prati-
camente inicia seu ministério chamando homens para
serem seus discípulos e, no final de seu breve ministério,
entrega-lhes a importante tarefa de discipular. Sobre o
discipulado cristão, Collins afirma:

O discipular consistiria em testemunhar


tendo como alvo a conquista das pessoas
para Cristo e ensinar aos outros aquilo que
Jesus mesmo ensinara durante seu breve
período na terra.4

Em Multiplique, Francis Chan partilha o desejo de Jesus


de que todo o seu povo conheça a sua alegria e partilhe
o seu amor, espalhando sua Palavra e multiplicando sua
vida entre todos os povos da Terra através do discipu-
lado. Para ele, discipulado é o grande propósito para o
qual fomos criados: desfrutar da graça de Cristo enquanto
propagamos seu evangelho, desde onde moramos até os
confins da Terra.5
Discipulado tem a ver com a razão pela qual a igreja de
nosso Senhor existe. A partir dessas palavras, definiremos tal
ação como a que o Mestre se propôs a realizar em seu minis-
tério: discipular homens, para que pudessem fazer com que
seus ensinos e mandamentos fossem sabiamente repas-
sados e obedecidos por seus seguidores. Larry Richards,
em seu livro Teologia do ministério pessoal, comenta:

O discipulado envolve a reformulação da vida


do cristão em direção à obediência, a fim de
que possa tornar-se como Jesus”, e continua:

4 COLLINS, 2005
5 CHAN, 2015

139
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

“A missão da igreja não é simplesmente con-


seguir conversões, mas completar o processo
da vida cristã fazendo discípulos.6

A partir de muitas leituras e estudos, podemos


entender que evento não é discipulado. Por mais que
amemos juntar pessoas para grandes eventos – e estes
têm seu valor –, o fundamental é fazermos discípulos. Isso
precisa ficar bem entendido, senão será apenas ativismo,
disputa de agenda e correria sem propósito.
Discipular é fundamental para o crescimento
saudável da igreja de Cristo. Não basta crescer em número
de crentes; esses crentes precisam ser discipulados da
maneira correta, como ensinou o Mestre dos mestres:
Jesus. Vou lhe dar um exemplo bem simples e familiar,
mesmo que você seja solteiro(a), vai entender: os pais
de uma criança esperam ansiosamente pelo nascimento
dos filhos, não é mesmo? Pois bem, após o nascimento,
muitos são os cuidados com este filho para que ele cresça
de forma saudável, com boas perspectivas para o futuro,
para manter bons relacionamentos de amizade e amor.
Então, os pais fazem o quê? Levam a criança ao
pediatra, desde novinha, dão as vacinas no tempo deter-
minado, dão o leite, depois os alimentos sólidos, tiram
da fralda, tiram a chupeta, ensinam a se comportar em
diferentes ambientes, dão roupas quentinhas no inverno
e levam para tomar sorvete no verão, educam e mostram
com todo amor do mundo os caminhos perigosos dos quais
a criança deve ficar longe e os caminhos que a levam para
perto de Deus Pai.
Da mesma forma, o discipulador vai fazer com as
pessoas que irá discipular, entendeu? É uma relação de
amizade, amor, proximidade e, principalmente, de exemplo.

6 RICHARDS & MARTIN, 1984

140
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Discipular é um compromisso com a igreja de Jesus.


Assim como os pais assumem um compromisso de cuidar
da melhor forma de seus filhos, o discipulador precisa
entender que este se torna seu papel de forma automá-
tica. Enquanto o bebê não nasce, existe a expectativa, os
preparativos, a espera, mas o amor – é obvio – já existe;
porém, ele se concretiza no momento do nascimento. Dali
em diante, não dá mais para voltar atrás.
Assim, você e eu, como discipuladores comprome-
tidos com a missão de Jesus, precisamos compreender
que o discipulado é algo inevitável para que a missão seja
bem feita e a igreja que tanto amamos cresça de uma
forma qualitativa.
Discipular é imitar Jesus, o homem mais incrível de
todos os tempos. Quando Paulo diz, em 1 Coríntios 11:1: Sede
meus imitadores, como eu sou de Cristo, demonstra humildade,
reconhece que não é igual a Cristo, mas que depende dele
para cumprir sua missão no Reino de Deus.
Assim, nós também precisamos reconhecer que não
sabemos tudo, que, enquanto estivermos nesta Terra, esta-
remos em constante aprendizado, e que, se quisermos obter
sucesso na realização de nossa missão, precisaremos ser
bons imitadores de Cristo, assim como Paulo foi. Você acha
isso difícil? Tudo bem, até pode ser, mas não é impossível,
pois não estamos sozinhos, e você sabe muito bem disso,
não sabe? Jesus está comigo e com você em todo tempo.
Discipular é amar a igreja de Jesus Cristo. Como pode-
remos ter uma boa igreja, se não fizermos um bom disci-
pulado? Desculpa, mas não vejo como isso seja possível!
Uma criança não conhece os perigos da vida, não sabe o
que é certo ou errado, antes que seus pais lhes ensinem.
Da mesma forma, como o mundo irá saber das coisas do
céu ou como irá saber que Jesus é o Salvador o mundo,
que Deus é o Pai mais amoroso, que a igreja é a noiva

141
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

de Cristo à espera de sua volta, se nós não vivermos isso


em nossos dias e não lhes ensinarmos? Também não dá
para você dizer que ama Jesus, se não ama a igreja dele. A
conta não fecha!
Efésios 3:6 diz que mediante o evangelho os gentios
são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e
coparticipantes da promessa em Cristo Jesus. Em 1 Pedro
2:10, lemos: Antes vocês nem sequer eram povo, mas agora
são povo de Deus; não haviam recebido misericórdia, mas
agora a receberam. Somos todos do mesmo corpo, do qual
Cristo é a cabeça; precisamos amar esse corpo, e a maior
demonstração de amor vem de atitudes, meu jovem.
Discipular é ser altruísta. Sim, jovem, observe o
exemplo de Barnabé. Ele foi tão valioso para Deus
justamente em virtude de seu altruísmo, que se tornou
marcante na história da igreja primitiva. Ele pensava
tão pouco em si e muito mais na igreja do Senhor: José,
um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de
Barnabé, que significa encorajador, vendeu um campo que
possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos
(At 4:36-37).
Barnabé – apelido carinhoso dado a ele pelos após-
tolos – já havia vendido um terreno voluntariamente e
doado os recursos para a obra (At 4:34). Ele teve uma
contribuição significativa no ministério do apóstolo Paulo.
Em Atos 9:27, lemos que ele apresentou e recomendou
Paulo aos apóstolos, quando este havia retornado a Jeru-
salém, no terceiro ano após a sua conversão. Os cristãos
de Jerusalém estavam desconfiados sobre Paulo; muitos
achavam que ele era um espião. Então, Barnabé conven-
ceu-os de que Paulo era um cristão verdadeiro. Em outra
ocasião, vemos Barnabé e Paulo em Listra (Galácia), onde
proclamaram o evangelho (Atos 14). O Senhor confirmou
suas mensagens por meio de sinais e milagres.

142
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Discipular é ser grato a Jesus Cristo; é uma forma de


agradecer a graça que recebemos. Mateus 10:8 diz: Vocês
receberam de graça, de graça também devem dar, e Provér-
bios 3:27 diz: Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem
a quem dele precisa. Assim como um dia você foi acolhido
para a grande família de Cristo, foi ensinado, amado, em
gratidão a Deus e à sua igreja você deverá fazer o mesmo
por outras vidas que precisam desse evangelho transfor-
mador. Jesus disse: Ide! Então, vá depressa! Não se esconda,
não cruze os braços, não desperdice mais tempo se escon-
dendo da sua missão, como fez Jonas (Jn 1:1-3).
Discipular é tomar a sua cruz: Então Jesus disse aos seus
discípulos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24). No caminho
do discipulado, com certeza, haverá momentos em que
precisaremos “tomar a nossa cruz”, encarar o desafio, a
dor, olhando sempre para Jesus, nosso mestre, o maior
exemplo de discipulador.
No processo de seguir Jesus, precisaremos vencer
as tentações do mundo. Isso tem muito a ver com nossa
natureza carnal, negando a nós mesmos, ou seja, nossos
próprios desejos e ímpetos. O Apóstolo João define bem
esse tipo de comportamento espiritual no verdadeiro
discipulado:

Não ameis as coisas que há no mundo. Se


alguém amar o mundo o amor do Pai não
está nele; porque tudo o que há no mundo,
a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida, não proce-
dem do Pai, mas procedem do mundo. Ora, o
mundo passa, bem como a sua concupiscên-
cia; aquele, porém que faz a vontade do Pai
permanece eternamente (1 Jo 2:15-17).

143
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Inimigos do discipulado

Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês


darem muito fruto; e assim serão meus dis-
cípulos (Jo 15:8).

Jesus diz que o verdadeiro discipulado gera muitos


frutos. Analisando o dia a dia da igreja, podemos notar
que existem problemas que impedem o discipulado de
dar frutos. Vamos analisar alguns aqui?

1. A falta de preparo: Todo discipulado, para dar


frutos, precisa de um preparo. O discipulador precisa
se preparar com antecedência para o seu encontro com
o seu discípulo no dia e na hora marcados. Precisa ter
um conteúdo para compartilhar com o seu discípulo. Ele
não pode ir de qualquer maneira. Pode separar um texto
bíblico, um modelo do que vai abordar ou perguntas-chave
que pretende fazer. Falta de pontualidade é terrível. Ficar
marcando e desmarcando a data combinada para o estudo
é péssimo, pois as pessoas se programam, e todo mundo
tem uma vida de afazeres. Fique atento!
2. Opressão do discipulador: A Palavra já diz que
não é por força e nem por violência. Entendamos que quem
muda as pessoas é o Espírito Santo. Uma das coisas que
precisamos entender bem é que o discipulador não é o
“dono” do seu discípulo. Seja paciente, amável, compreen-
sivo, pois as pessoas não são obrigadas a entender tudo do
dia para a noite. Pense que, provavelmente, você passará
a vida toda aprendendo mais e mais da Palavra; quanto
mais os novos discípulos de Jesus muito mais, entende?
As mudanças irão acontecer naturalmente, e não
será você quem as fará; é o Espírito Santo de Deus.
Confie no poder transformador do evangelho que você
está ensinando.
144
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

3. A soberba: Uma das piores coisas que podem


acontecer no discipulado é o discipulador se deparar com
um discípulo soberbo. Sabe aquele tipo de pessoa que
“se acha”, que acredita que já sabe tudo? É muito ruim! A
Palavra diz que precisamos aprender uns com os outros.
Por isso, é necessário que o discípulo se “esvazie” de si
mesmo para receber a direção e os ensinamentos de seu
discipulador. É preciso que tenha humildade e procure
aprender coisas novas com o discipulador.
Agora, tão chato quanto um discípulo soberbo é um
discipulador soberbo que só quer falar e não deixa espaço
para o discípulo sequer contar uma experiência que seja.
Isso dificulta o relacionamento entre eles. Pare de tentar
ser o centro das atenções, pois este lugar pertence a Cristo.
Todos nós temos o que aprender, sempre. Não somos os
donos da verdade. Jesus é a verdade, o caminho que nos
leva à vida eterna.
4. A fofoca: Não existe “fofoqueiro ungido”. Por isso,
quando há fofoca no discipulado, não há como ele gerar
frutos. O discipulado proporciona momentos em que a
pessoa pode abrir seu coração para o que está passando,
sentindo e que precisa vencer. Porém, o que muitos têm
feito é falar de tudo o que aconteceu com o foco no que
as outras pessoas estão fazendo ou fizeram. Então, o
propósito do discipulado, que é tratar o que precisa ser
vencido no discípulo, se perde. A pessoa fala do(a) espo-
so(a), do(a) vizinho(a), dos irmãos, dos filhos, menos dela
mesma. Resultado? O discipulado não gera frutos. Não há
crescimento. Portanto, não dê espaço para a fofoca, nem
no seu coração nem nos encontros de discipulado. Corte
as “historinhas alheias” pela raiz.

Se conseguirmos ficar distantes de inimigos como


estes, o resultado será o crescimento em todas as áreas,

145
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

pois o discipulado é uma ferramenta poderosa para a


edificação e o amadurecimento do corpo de Cristo.

Benefícios para discípulo e discipulador

1. O discipulado produz humildade: Já ouviu frases do


tipo: “Eu nasci assim, cara”; “E nem adianta tentar, eu me
conheço, não vou mudar nunca”. Não é bem assim que a
Bíblia ensina, sabia? Olhando o Velho Testamento, lemos:

O coração é mais enganoso que qualquer


outra coisa e sua doença é incurável. Quem
é capaz de compreendê-lo? Eu sou o Senhor
que sonda o coração e examina a mente,
para recompensar a cada um de acordo com
a sua conduta, de acordo com as suas obras
(Jr 17:9-10).

Isso quer dizer que Deus é quem conhece o melhor


para cada um de nós, porque o nosso coração nos engana.
Leia Provérbios 1:5. Lá, Deus diz: Se o sábio der
ouvidos, aumentará seu conhecimento, e quem tem discer-
nimento obterá orientação, ou seja, precisamos adquirir o
hábito de aceitar que temos imperfeições e lidar com o
fato de que não sabemos tudo. No discipulado, o discí-
pulo compreende e aceita com humildade os conselhos e
os ensinos do seu discipulador; este, por sua vez, precisa
cuidar do seu próprio comportamento, para refletir Jesus
não apenas em suas palavras, mas em suas ações.
2. O discipulado nos une como irmãos: Observe o que
diz Atos 2:44-47:

Todos os que criam mantinham-se unidos e


tinham tudo em comum. Vendendo suas pro-
priedades e bens, distribuíam a cada um con-
146
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

forme a sua necessidade. Todos os dias, conti-


nuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam
o pão em suas casas, e juntos participavam das
refeições, com alegria e sinceridade de coração,
louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o
povo. E o Senhor lhes acrescentava todos os
dias os que iam sendo salvos.

O corpo de Cristo não funciona apenas quando nos


reunimos nos momentos de culto. Não deixamos de fazer
parte desse corpo no resto da semana. A Palavra de Deus
mostra crentes vivendo a vida juntos, conforme lemos
em Atos 2:44-47. Dispor-se a discipular alguém ou a ser
discipulado proporciona uma oportunidade de encoraja-
mento mútuo: Levem os fardos pesados uns dos outros e,
assim, cumpram a lei de Cristo (Gl 6:21). E lembre: ... somos
membros do seu corpo (Ef 5:30).
3. O discipulado proporciona vida de oração: Agora
observe outro texto bíblico: Num daqueles dias, Jesus saiu
para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a
Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu
doze deles, a quem também designou como apóstolos (Lc
6:12-13). Quando Jesus escolheu os doze, agiu de maneira
tão especial porque era um momento de extrema impor-
tância; afinal, aqueles homens não só seriam discipulados
por ele, mas o acompanhariam durante todo o seu minis-
tério. Buscar a Deus em oração e súplica é parte funda-
mental do discipulado cristão.
Para encerrar este tópico, quero dizer a vocês, jovens
leitores, que o real e verdadeiro discipulado é algo poderoso,
que transforma, ilumina, dá rumo à caminhada dos cristãos.
O discipulado nos faz enxergar quem nós éramos, antes de
conhecer e aceitar Jesus Cristo como nosso Salvador e quem
nós nos tornamos após conhecê-lo. E é por isso que o seu

147
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

papel como discipulador é tão importante, pois você fará


parte da mudança de vida de alguém que Jesus escolheu
para si. Não é incrível isso? Obviamente, a glória não é nossa;
é de Deus Pai, de Jesus Cristo, que nos deu sua própria vida,
e do Espírito Santo Consolador. Todavia, você e eu fazemos
parte desse time. Deixe Deus usar você!

CONHECIMENTO, AÇÃO E CRESCIMENTO


Antes de ir para os céus, Jesus deixou uma ordem:
Façam discípulos. Esta ordem é o centro da grande comissão
dada pelo Senhor a todos os que viriam a crer nele. Jesus
apontou o modo como seus discípulos, homens simples,
poderiam cumprir a sua ordem: através do discipulado.
Para a Igreja de Cristo, o discipulado traz fortaleci-
mento através da maturidade, da comunhão e do pasto-
reio mútuo. Além disso, o discipulado conduz o discípulo
de Cristo a proclamar o evangelho que o alcançou,
conforme vimos no tópico anterior. Os discípulos de
Jesus praticaram essa ordem usando o discipulado como
ferramenta e ensinaram outros a fazer o mesmo.
Assim como foi útil no passado, o discipulado
ainda é útil para os dias de hoje. Cabe a nós, a igreja
contemporânea, usá-lo compreendendo que esse é
o modelo bíblico de multiplicação de discípulos por
excelência, pois gera discípulos maduros e produtivos
para a expansão do Reino de Deus na Terra.
É maravilhoso saber que Jesus se preocupou em
deixar um modelo eficiente, não e mesmo? Vivendo
entre nós, ele sabia de todas as fragilidades humanas:
Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós.
Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai,
cheio de graça e de verdade (Jo 1:14).

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Conhecimento

Jovem, neste tópico vamos analisar algumas coisas.


Pense comigo: o que pode alimentar mais um discípulo de
Jesus do que a Palavra de Deus, que é viva e eficaz? Como
pode alguém obedecer à vontade de Deus, sem ao menos
conhecer a sua Palavra? É importante que a Palavra seja
ensinada aos que desejam ser discípulos de Cristo. Mas,
infelizmente, existem muitas pessoas que permanecem
na igreja sendo “analfabetas” na Palavra, por não terem
alguém que lhes dê instrução no estudo da Escritura.
Podemos perceber que tudo que fazemos na igreja do
Senhor é importante; porém, o ensino é fundamental.
Para se tornar parecido com Jesus, você precisa
conhecê-lo cada vez mais. Este conhecimento está
exposto na Palavra. Entende agora como o discipulado
é extremamente importante, meu jovem? Além de
fortalecer o cristão na fé, o conhecimento da Palavra de
Deus evita vários problemas à igreja e, obviamente, aos
discípulos individualmente. Por exemplo, evita o libe-
ralismo entre os discípulos: quando há entendimento
bíblico da graça e do perdão de Deus, os discípulos de
Cristo não vivem uma vida de liberalidade quanto ao
pecado, pois compreendem que Deus perdoa, mas os
que foram alcançados pela graça não desejam conti-
nuar no pecado.
Vivemos uma época dominada pelo liberalismo e
pela aceitação de tudo. A linha entre o certo e o errado, há
muito, ficou obscurecida, e agora quase foi apagada intei-
ramente. Mas a vontade de Deus é clara e objetiva. A igreja
deve ser coluna e baluarte da verdade (1 Timóteo 3:15).
Podemos oscilar pelas circunstâncias, pelos sentimentos,
pela empatia ou por muitas outras coisas, mas Deus é o

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

padrão do que é certo, e precisamos confiar nele o sufi-


ciente para ficarmos firmes por sua vontade.
Às vezes, as pessoas pensam que a mansidão exige
que elas sejam tolerantes com qualquer coisa. Mas não é
assim. A verdadeira humildade significa que não procu-
ramos nos impor; isso, porém, não significa que estejamos
duvidosos quanto à verdade. Quando perdemos nossa
firmeza, ficamos incapazes de resistir aos ataques do diabo:

Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu


forte poder. Vistam toda a armadura de Deus,
para poderem ficar firmes contra as ciladas do
diabo, pois a nossa luta não é contra pessoas,
mas contra os poderes e autoridades, contra
os dominadores deste mundo de trevas, con-
tra as forças espirituais do mal nas regiões
celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de
Deus, para que possam resistir no dia mau e
permanecer inabaláveis, depois de terem feito
tudo (Ef 6:10-13).

O conhecimento da Palavra também evita o sincre-


tismo religioso (Jo 8.32). Por isso, o discípulo de Cristo deve
entender pela Palavra como deve proceder. Por falta de
conhecimento das Escrituras, muitas pessoas continuam
com crenças, superstições e práticas de outras denomi-
nações e da antiga vida, aglomerando tudo isso com o
evangelho, o que causa uma fé confusa e inconstante.
Desde o Velho Testamento até os dias de hoje, é
comum encontrar exemplos do sincretismo religioso,
tentativas de mesclar vários sistemas e objetos de
adoração. Muitos acreditam que o que importa é ter fé
e que o objeto da fé não tem importância. Em nenhum
lugar nas Escrituras encontramos apoio para esse tipo
de ecumenismo. O Deus que Jesus nos revelou é o único
150
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

verdadeiro Deus, e adoração a qualquer outra divindade é


pecado e rebeldia contra o Criador.
Além de evitar o liberalismo e o sincretismo,
o conhecimento evita o analfabetismo da Palavra
de Deus entre os discípulos de Jesus: quando eles
recebem os ensinos da Palavra, deixam a ignorância
(falta de conhecimento). Discípulos bem alimentados
da Palavra estão menos suscetíveis ao engano do
inimigo e a uma fé fraca:

Meu povo foi destruído por falta de conhe-


cimento. Uma vez que vocês rejeitaram o
conhecimento, eu também os rejeito como
meus sacerdotes; uma vez que vocês ignora-
ram a lei do seu Deus, eu também ignorarei
seus filhos (Os 4:6).

Ação

Não há como ser discípulo de Cristo sem trans-


formação de vida. A partir da sua conversão, o discí-
pulo de Cristo tem uma mudança em sua forma de
pensar; passa a não se conformar mais com o mundo.
O conhecimento da vontade de Deus o leva a se
posicionar de uma forma diferente diante da vida e
se submeter a uma renovação de sua mente. Uma
evidência de um discipulado bem-sucedido é a conduta
do discípulo, ou seja, sua santidade é uma marca muito
importante de que o discipulado está sendo proveitoso
em sua vida.
Somente por intermédio de um discipulado real e
verdadeiro é que se pode conduzir um indivíduo a uma
151
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

transformação realizada pelo Espírito Santo. É nesse


processo de acompanhamento que o novo convertido
aprende que sua vida não deve ter uma máscara, mas
que suas ações e seu interior devem falar a mesma
coisa. Acontecendo isso, ele se torna como uma árvore
que produz bons frutos; demonstra sua nova natureza e
sua transformação vivendo agora em santidade: Não se
amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela
renovação da sua mente, para que sejam capazes de experi-
mentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus (Rm 12:2).
Quando o indivíduo se torna discípulo de Cristo, ele
se posiciona com um compromisso de acatar as ordens
de Deus. Charles H. Spurgeon, pregador britânico do
século XIX, diz: Santidade é o hábito de estar em comum
acordo com Deus.
Algo que conta muito, quando se trata de ação
no discipulado, é o testemunho do discipulador. Suas
experiências vividas serão de grande valor para o
recém-convertido. Por isso, também é necessário que
o discipulador tenha uma boa conduta e um bom
testemunho. Jesus, na grande comissão, ordena aos
seus primeiros discípulos não apenas pregarem o evan-
gelho, mas também darem continuidade ao processo do
discipulado. Eles deveriam ensinar tudo o que tinham
ouvido e aprendido do Mestre.
Entendemos que todo discípulo de Jesus deve
transmitir aos novos convertidos aquilo que ele mesmo
alcançou em Cristo: Ninguém o despreze pelo fato de você
ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra,
no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1 Tm 4:12 –
grifo nosso). Claro que você vai pensar: “mas eu não sou
perfeito”, e realmente nós não somos, mas esse deve ser
o nosso alvo.

152
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Crescimento

É impossível crescer e até permanecer na fé sozinho.


É indispensável que os discípulos de Cristo estejam vivendo
em comunhão. O discipulado traz essa comunhão entre o
discípulo e o discipulador. É muito mais do que um encontro
para realizar lições de um livro; é um relacionamento:
aquele que ensina se empenha muito para que a outra
pessoa venha a aprender e depois também transmitir tudo
o que aprendeu. Assim, a igreja de Cristo cresce de forma
saudável, forte e acolhedora.
Discipulado é relacionamento, comunhão. O sucesso
do processo de discipulado está intimamente ligado à
força do relacionamento entre os indivíduos envolvidos.
O discipulado gera no coração do discípulo um senso de
quanto é amado e importante no corpo de Cristo. Se ele
compreender o amor do discipulador por ele, ficará muito
mais fácil de ensiná-lo e liderá-lo. Cristo fez questão de
mostrar aos seus discípulos o seu amor, a ponto de se
entregar à morte por eles. Este amor somente Deus pode
dar ao coração do discipulador.
Algo muito interessante que se pode ver na Igreja
Primitiva é que os cristãos buscavam estar juntos,
tendo refeições em grupo, orando uns com os outros,
compartilhando a Palavra e louvando (At 2:42-47). Jesus
deu o primeiro exemplo, chamando os doze para perto
de si, para que que estes pudessem aprender com a sua
vida. Os apóstolos puderam participar da vida de Jesus na
Terra. O texto de Marcos 3:14 mostra que Jesus designou
doze para estarem perto dele, criando, assim, essa proxi-
midade com eles.
O discipulado é uma amizade. É importante que o
discípulo perceba isso ao olhar para seu discipulador.
153
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

O discipulado não deve ser visto como algo forçado, mas


como uma proximidade que gera confiança. Quando há
essa proximidade e essa comunhão entre o discipulador
e o novo discípulo de Cristo, este tem mais facilidade em
confiar no ensino que está recebendo. Essa proximidade
promovida pelo discipulado ajuda no conhecimento mais
profundo do novo crente a respeito de suas batalhas, difi-
culdades e fraquezas. Assim, o discipulador pode ajudá-lo
mais especificamente e interceder por ele.
Foi por meio do discipulado que a igreja do primeiro
século cresceu. A igreja atual deve investir maciçamente
nesta área!
Você deve ter percebido o quanto a igreja tem falado
sobre crescimento, missão e discipulado. Temos sempre
que analisar os métodos para chegar aos objetivos. O que
não podemos esquecer é que não basta crescermos em
números; estes devem vir junto com a qualidade de novos
membros para o corpo de Cristo. Nós abrimos as portas
da igreja (templo), de nossas casas para os pequenos
grupos (PGs), de escolas; estamos nos semáforos; vamos a
hospitais e cadeias; nos reunimos nas orlas das praias, nas
praças; enfim, o local não importa. Jesus pregou no templo
(Lc 2:41-52), à beira-mar (Mc 4:1), pregou de um barco
(Lc 5:1-11), num monte (Mt 5:7), deixando muito claro
para mim e para você que o indispensável é a essência
da mensagem.
Nós, como discípulos de Cristo que compreendem
o evangelho do Senhor, rendemos nossas vidas para
sermos transformados à imagem do Filho de Deus.
Agora, chegamos ao ponto de gerar outro discípulo que
gere outros discípulos.
Em sua fala jovem, seja claro, objetivo, simples;
entenda o ambiente e os ouvintes; abra a sua boca e deixe
que o Espírito de Deus faça o restante. Amém!

154
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

DISCIPULADO: CONVITE E PROMESSA


O convite

Sigam-me. Essas duas palavrinhas de Jesus são um


convite para uma nova vida: E disse Jesus: Sigam-me, e eu
os farei pescadores de homens (Mc 1:17). Simão, André,
Maria, você e eu aceitamos esse convite pela fé. Tanto
nossos antepassados quanto nós talvez tenhamos enten-
dido muito pouco do que este convite significa, mas o fato
é que, ao aceitar o convite do Mestre, entramos para a
jornada mais desafiadora, bonita, árdua e recompensa-
dora das nossas vidas.
O convite é, primeiramente, para uma relação íntima
e crescente com Deus. Essa relação é alimentada pela
oração, pela leitura da palavra e por uma busca constante
por experiências vivas e eficazes com o Senhor. Isso é
extremamente desafiador, pois é um evidente contraste
numa sociedade individualista como a nossa. Todavia, é
incrível saber que, à medida que caminhamos com Cristo,
somos cada vez menos de nós mesmos e mais dele,
como diz o apóstolo Paulo em Colossenses 3:3: Pois vocês
morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em
Deus (leiam o capítulo todo; é maravilhoso).
O convite de Jesus para aqueles que mostraram interesse
em suas palavras e seus ensinamentos foi de segui-lo, o que
aconteceu realmente pelas estradas e aldeias da Palestina.
Mas não foi apenas físico esse seguimento. Quando lemos
os evangelhos, observamos que, ao seguir Cristo, seus discí-
pulos passavam por uma transformação radical no estilo de
vida, na forma como viam o mundo e na orientação espi-
ritual de suas vidas. Vemos isso nas palavras de Paulo, em
2 Coríntios 5:17: Se alguém está em Cristo, é nova criação. As
coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas.

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Você pensa que o convite de Jesus para segui-lo e


fazer discípulos é coisa só do Novo Testamento? Deus
sempre prezou pelo fato de que o ensino se mantivesse
entre o seu povo e suas gerações, o que é demonstrado
nos textos: Não os esconderemos dos nossos filhos; conta-
remos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o
seu poder e as maravilhas que fez (Sl 78.4), e: Todos os seus
filhos serão ensinados pelo Senhor, e grande será a paz de
suas crianças (Is 54:13). Isso apontava para a importância
do ensino, pois, dessa forma, as gerações futuras seriam
alcançadas. Para o povo de Israel, o ensino era mais do
que comunicação de conhecimento; era importante para
que as novas gerações se mantivessem no Senhor.
Os profetas tinham discípulos, que os seguiam e
aprendiam ouvindo seus ensinos e observando seus
procedimentos. Esses discípulos não apenas seguiam
os seus mestres, mas também viviam conforme suas
doutrinas. Veja Josué, que depois veio a se tornar
sucessor de Moisés: no texto de Deuteronômio 3:28,
percebemos que esse processo de discipulado se iniciou
em Deus, que ordenou a Moisés ensinar ao jovem
Josué aquilo que aprendera. Esse processo demandou
bastante tempo e dedicação por parte desse líder. Ele foi
instrumento de Deus para levar seu discípulo a ser um
servo fiel e comprometido.
Elias, como profeta, também tinha seus discípulos.
O que mais se destacou foi Eliseu, que se tornou seu
sucessor. Assim como Josué, Eliseu foi aprendendo no dia
a dia, no andar, na prática do temor ao Senhor vista em
seu mestre (leia o capítulo 19 de 1 Reis; é maravilhoso!).
O seguir a Jesus deve e vai mudar cada aspecto da
nossa existência. Aprenderemos a lidar muito melhor
com nossos próprios sentimentos; teremos uma relação
renovada com a humanidade, e descobriremos uma nova

156
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

harmonia com a criação de Deus como um todo. Lida-


remos com a complexidade das relações humanas, com a
verdade, a justiça, o amor e o cuidado de nossa família e
de nós mesmos – essas são algumas das preocupações
para aquelas pessoas que aceitam o convite de Jesus.
Parece que não daremos conta, não é mesmo? Eu
sei que parece, mas acontece que não seguiremos qual-
quer um. Jesus não é como um dos nossos professores do
ensino médio ou como o cara que nos ensinou as notas
musicais no violão. Seguiremos o Mestre dos mestres,
o Salvador do mundo, o Criador do Universo que se fez
carne e habitou entre nós.
Seguir Jesus e fazer discípulos, assim como ele ensinou,
requer renúncia. Teremos que abrir mão de alguns dos
nossos maiores prazeres; teremos que nos afastar do que é
mal, praticar o bem sem esperar recompensa e ainda ficar
felizes com tudo isso, pois sabemos que nosso tesouro não
é desta Terra: Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a
recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perse-
guiram os profetas que viveram antes de vocês (Mt 5:12).

A promessa

O convite de seguir precede imediatamente a


promessa: … eu os farei pescadores de homens. O disci-
pulado é mais do que uma ordem ou uma tarefa; é uma
promessa. À medida que iniciamos nossa caminhada com
Jesus, nós nos tornamos mais parecidos com ele. Jesus diz
nessa palavra que nos tornaremos pescadores de homens,
mulheres e crianças, porque nossas vidas refletirão a
imagem de Deus, e isso atrairá pessoas para o Reino e
fará mudanças em suas vidas.
Ao dizer: ... eu os farei pescadores de homens, Jesus
estava prometendo treinar aqueles homens para uma

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

tarefa super-honrada – é somente pela graça de Deus


que podemos nos tornar parte dela. Ao invés de pescarem
peixes, aqueles discípulos pescariam homens para o Reino
de Deus. O texto bíblico diz que, imediatamente após o
chamado de Jesus, eles deixaram suas redes e o seguiram
animados.
Não esqueça que os discípulos que Jesus chamou
para serem pescadores de homens não eram pessoas
perfeitas; pelo contrário, eram exatamente como todos
nós. A exemplo de Pedro, André, Tiago e João, os textos
bíblicos mostram que eles tinham muitas falhas. Os regis-
tros dos evangelhos revelam que eles tinham carência de
discernimento espiritual. Veja Mateus 15:33, 16:6-12:

Disse-lhes Jesus: “Estejam atentos e tenham


cuidado com o fermento dos fariseus e dos
saduceus”. E eles discutiam entre si, dizendo:
“É porque não trouxemos pão”. Percebendo a
discussão, Jesus lhes perguntou: “Homens de
pequena fé, por que vocês estão discutindo
entre si sobre não terem pão? Ainda não
compreendem? Não se lembram dos cinco
pães para os cinco mil e de quantos cestos
vocês recolheram? Nem dos sete pães para
os quatro mil e de quantos cestos recolhe-
ram? Como é que vocês não entendem que
não era de pão que eu estava lhes falando?
Mas tomem cuidado com o fermento dos
fariseus e dos saduceus”. Então entenderam
que não estava lhes dizendo que tomassem
cuidado com o fermento de pão, mas com o
ensino dos fariseus e dos saduceus.

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Leia também Mateus 17:10-13, 19:10-30, 24:3-5.

Além disso, eles tinham carência de profunda empatia.


Mateus 14:15-18 relata:

Ao cair da tarde, os discípulos aproximaram-


-se dele e disseram: “Este é um lugar deserto,
e já está ficando tarde. Manda embora a
multidão para que possam ir aos povoados
comprar comida”. Respondeu Jesus: “Eles
não precisam ir. Deem-lhes vocês algo para
comer”. Eles lhe disseram: “Tudo o que temos
aqui são cinco pães e dois peixes”. “Tragam-
-nos aqui para mim”, disse ele.

Leia também Mateus 19:13-15.


É possível notar, de igual modo, que os discípulos
tinham carência de humildade. Mateus 18:1-4 narra o
seguinte episódio:

Naquele momento os discípulos chega-


ram a Jesus e perguntaram: “Quem é o
maior no Reino dos céus?”. Chamando uma
criança, colocou-a no meio deles, e disse:
“Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês
se convertam e se tornem como crian-
ças, jamais entrarão no Reino dos céus.
Portanto, quem se faz humilde como esta
criança, este é o maior no Reino dos céus”.

Eles também tinham carência de um coração


perdoador: Mateus 18:21,22 apresenta esta situação:

Então Pedro aproximou-se de Jesus e pergun-


tou: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a

159
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

meu irmão quando ele pecar contra mim? Até


sete vezes?”. Jesus respondeu: “Eu lhe digo:
não até sete, mas até setenta vezes sete”.

Por fim, eles tinham carência de uma perseverante


atitude de oração. Mateus 17:16-17 relata:

“Eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não


puderam curá-lo”. Respondeu Jesus: “Ó gera-
ção incrédula e perversa, até quando estarei
com vocês? Até quando terei que suportá-los?
Tragam-me o menino”.

Tudo isso torna ainda mais extraordinário o fato de


Jesus ter tomado indivíduos tão comuns, simples pescadores
iletrados da Galileia e transformado-os em pescadores de
homens. Aqueles homens falhos se tornaram instrumentos
para a salvação de muitos. É pensando nessa promessa que
convido você a olhar para o discipulado de forma mais ampla.
O discipulado cristão precisa ser intencional, com
foco na missão de Deus, revelando seu amor pela humani-
dade. Praticando o discipulado de forma intencional, sua
vida também é transformada, e você se torna cada vez
mais participante da natureza divina:

Por intermédio destas ele nos deu as suas


grandiosas e preciosas promessas, para que
por elas vocês se tornassem participantes da
natureza divina e fugissem da corrupção que
há no mundo, causada pela cobiça (2 Pe 1:4).
Todos nós, que com a face descoberta con-
templamos a glória do Senhor, segundo a
sua imagem estamos sendo transformados
com glória cada vez maior, a qual vem do
Senhor, que é o Espírito (2 Co 3:18).

160
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Percebe como a promessa de Jesus aos discipula-


dores é fantástica? Nesses versículos bíblicos, enten-
demos que Deus derrama sobre nós sua graça, seu
amor, suas misericórdias, seus dons e talentos; ele
nos dá capacitação, e refletimos sua luz em nosso coti-
diano. Nada é forçado, nada é enganoso, nada é falso!
Essa nova forma de viver que atrai pessoas implica
desafios para nossa própria identidade, nosso senso de
pertencimento na sociedade, nosso sistema de crenças
e nosso comportamento diário.
A promessa que Jesus fez aos seus discípulos também
se estende a todos os seus seguidores genuínos, inde-
pendentemente da época. Através do ministério de cada
um daqueles primeiros pescadores de homens, o evan-
gelho avançou pelo mundo. Agora, cabe a nós aceitar
esse convite cheio de honra e continuar anunciando as
boas novas da salvação em Cristo a todos os povos, tribos,
línguas e nações.
Diante dessa realidade, podemos entender a decla-
ração de Paulo: Para com os fracos tornei-me fraco, para
ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de
alguma forma salvar alguns. Faço tudo isso por causa do
evangelho, para ser coparticipante dele (1 Co 9:22-23). À
medida que seguimos o Mestre Jesus, nossas vidas são
moldadas pela sua vida; deixamos de ser egoístas e espa-
lhamos a Palavra naturalmente: começamos a incluir
outras pessoas nessa relação de amor com ele. Exclusivi-
dade não tem lugar na família de Deus; todas as relações
centradas em Deus precisam ser inclusivas.
Querido jovem, como cristãos verdadeiros, devemos
aproveitar todas as oportunidades que temos de lançar
a rede do evangelho e nos apropriar da maravilhosa
promessa e da honrosa tarefa de sermos também pesca-
dores de homens.

161
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

SIGA O EXEMPLO
Os evangelhos nos levam para dentro
das salas de aula da “escola de discipulado”
de Jesus, o bom Mestre – aliás, o maior e
melhor Mestre discipulador que o mundo
já viu. Ele reuniu homens simples e formou
através deles uma equipe extraordinária.
Sejam bem-vindos, queridos alunos! É hora de praticar.
O ministério de Jesus não foi um ato solitário, em que
ele ficava ministrando sozinho como um professor autori-
tário. Muito pelo contrário: Jesus juntou intencionalmente
grupos de gente que queria aprender, que foram selecio-
nados para andarem com ele (Mc 3.16-20).
Ao reunir os discípulos, Jesus estava fazendo duas
coisas principais, que se tornariam de suma importância
para os seus seguidores nas próximas gerações: oferecen-
do-lhes um modelo, através das suas próprias ações, de
como serem formadores de discípulos e permitindo que os
seus primeiros discípulos, ao responder o chamado dele,
se tornassem modelos também. Assim, aprendemos como
devemos responder ao chamado de Jesus e como devemos
segui-lo, como pessoas que querem aprender na sua escola.

Jesus, o formador de discípulos

No Evangelho de Marcos, nós percebemos como Jesus


faz o seu treinamento dos futuros discípulos:

• O seu chamado aos discípulos é claro e direcionado,


vocacional e radical (Mc 3:13-19).
• O seu compromisso de compartilhar a sua vida com eles.
• A sua intenção de dar um tempo para análise e reflexão
(Mc 6:6-13, 30-32), os ensinamentos e discussões,

162
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

ajudando os seus seguidores a expressar aquilo que


experimentaram (Mc 4:35-41, 8:27-30).
• A sua vontade de ter um círculo interno (Pedro, Tiago
e João) que iria testemunhar mais íntima e direta-
mente os três eventos mais importantes na sua vida:
a sua ressurreição, a transfiguração e a sua agonia (Mc
5:37-43, 9:2-8, 14:32-36).
• A sua prontidão em repreender e advertir, em expor
e criticar os seus seguidores, sendo, ao mesmo
tempo, totalmente comprometido com o cresci-
mento e a restauração deles (Mc 8:17-21, 9:35-37).
• A sua capacidade de responder às perguntas que
traziam à tona motivações erradas ou ideias confusas
(Mc 8:17, 9:33-34).

Estudantes não aprendem apenas com as palavras,


mas com todo o comportamento do professor: o seu
caráter, o seu estilo de vida, as suas respostas e ações, o
seu tom de voz e a sua qualidade de vida. Imagine o imenso
privilégio dos primeiros discípulos de Jesus de observá-lo
em ação. Eles estavam diante daquele que demonstrava
uma humanidade autêntica (como Deus pretendia, antes
da queda). Jesus dava uma lição objetiva de como viver.
Causou uma impressão profunda em João, o seu “discípulo
amado”: ... nele não existe pecado (1 Jo 3:5), e o levou a
uma aplicação desafiadora: ... aquele que diz que está nele,
deve andar como ele andou (1 Jo 2:6).
O discipulado real e verdadeiro, intencional e trans-
formador significa moldarmos a nossa vida e o nosso jeito
de ser segundo o modelo de Jesus; significa vivermos a vida
como ele viveu. Aí você pode pensar: “Isso é impossível!”.
E é claro que com nossas próprias forças seria mesmo;
porém, Jesus deixou o Espírito Santo para nos auxiliar:

163
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Con-


selheiro para estar com vocês para sempre, o
Espírito da verdade. O mundo não pode rece-
bê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas
vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e
estará em vocês. Não os deixarei órfãos; vol-
tarei para vocês. Dentro de pouco tempo o
mundo já não me verá mais; vocês, porém, me
verão. Porque eu vivo, vocês também viverão.
Naquele dia compreenderão que estou em
meu Pai, vocês em mim, e eu em vocês. Quem
tem os meus mandamentos e lhes obedece,
esse é o que me ama. Aquele que me ama
será amado por meu Pai, e eu também o ama-
rei e me revelarei a ele (Jo 14:16-21).

Dessa maneira, podemos, sim, viver como ele viveu. Jesus


deixou seus padrões para que se tornassem também nossos.

A quem Jesus escolhe?

Jesus escolhe pessoas dispostas a aprender dele, a


obedecer a seus ensinamentos, a dar continuidade à sua
missão de levar as boas novas da salvação. Querem exem-
plos? Pois bem, vamos lá.

Pedro:

Jesus chegando à região de Cesareia de


Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Quem
os homens dizem que o Filho do homem é?”.
Eles responderam: “Alguns dizem que é João
Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jere-
mias ou um dos profetas”. “E vocês?”, per-
guntou ele. “Quem vocês dizem que eu sou?”.
164
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo,


o Filho do Deus vivo”. Respondeu Jesus:
“Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque
isto não lhe foi revelado por carne ou san-
gue, mas por meu Pai que está nos céus.
E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja, e as portas do
Hades não poderão vencê-la” (Mt 16.13-18).

Isso é muito interessante. Quando Jesus perguntou


sobre o que diziam dele, a maioria dos discípulos ficou
calada, preocupada com o que os outros iam pensar de
suas respostas. Mas Pedro não pensou assim: naquele
estilo todo autêntico, impetuoso e “sincerão” de ser, ele
logo disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Obviamente,
seu “jeitão” o colocou em algumas situações complicadas
em que seu discipulador, o Mestre Jesus, precisou intervir
e adverti-lo. Assim, o Senhor moldou aquele homem tão
precioso para a igreja de Cristo na Terra.
Abra a sua Bíblia em 1 Pedro, mas leia os 5 capí-
tulos. Sim, isso mesmo; sem “preguicinha”, certo? Prestou
atenção nas reflexões maduras que Pedro faz? Esse
jovem impetuoso, autossuficiente e, por vezes, arrogante,
foi acalmado pelo Mestre. Suas palavras e ações agora
demonstravam um estilo de viver transformado através
do verdadeiro discipulado.

André:

Ouvindo-o dizer isso, os dois discípulos


seguiram a Jesus. Voltando-se e vendo
Jesus que os dois o seguiam, perguntou-
-lhes: “O que vocês querem?”. Eles disseram:
“Rabi” (que significa Mestre), “onde estás
165
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

hospedado?”. Respondeu ele: “Venham e


verão”. Então foram, por volta das quatro
horas da tarde, viram onde ele estava hos-
pedado e passaram com ele aquele dia.
André, irmão de Simão Pedro, era um dos
dois que tinham ouvido o que João dissera
e que haviam seguido a Jesus. O primeiro
que ele encontrou foi Simão, seu irmão, e lhe
disse: “Achamos o Messias” (isto é, o Cristo). E
o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse:
“Você é Simão, filho de João. Será chamado
Cefas” (que significa Pedro) (Jo 1:37-42).

O texto nos diz que André era irmão de Pedro. E o inte-


ressante é que André agiu como intermediário, levando seu
irmão Pedro até Jesus Cristo (claro que, se não fosse André a
levar Pedro, outro levaria; mas a questão aqui é dizer que foi,
sim, através de André que as coisas aconteceram). Mesmo
não tendo sido um pregador, esse discípulo fazia um trabalho
pessoal eficaz, sendo o missionário pioneiro do Reino.
Em João 6:5-9, lemos:

Levantando os olhos e vendo uma grande


multidão que se aproximava, Jesus disse a
Filipe: “Onde compraremos pão para esse povo
comer?”. Fez essa pergunta apenas para pô-lo
à prova, pois já tinha em mente o que ia fazer.
Filipe lhe respondeu: “Duzentos denários não
comprariam pão suficiente para que cada um
recebesse um pedaço!”. Outro discípulo, André,
irmão de Simão Pedro, tomou a palavra: “Aqui
está um rapaz com cinco pães de cevada e dois
peixinhos, mas o que é isto para tanta gente?”.

166
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

André apresentou mais uma pessoa a Jesus Cristo. Ele


fez a sua parte, encontrando o rapaz e conduzindo-o ao
Mestre, que realizou o milagre. Ele levava as pessoas até
Jesus porque sabia que só no Senhor haveria a solução.
Não é demais saber que, no Reino, cada pessoa tem
uma função? Pensando em nossa caminhada com Cristo,
às vezes nos sentimos meio para baixo, por não termos
um grande dom; achamos que não somos importantes por
não sermos grandes pregadores ou cantores. São vários
motivos que contribuem para essa tristeza. O que eu posso
dizer é que você não precisa ter uma oratória eloquente; o
que você precisa é levar as pessoas a Jesus Cristo, e é ele
quem vai fazer a transformação.
André, com seu jeito simples, fez a parte dele, e o
Senhor fez o resto. Era assim que Jesus, o discipulador por
excelência, fazia e é assim que faz até hoje. Ele atenta para os
seus discípulos, encoraja-os, impulsiona-os a dar o seu melhor
para que, no fim das contas, o nome do Pai seja glorificado.
André foi um fiel mensageiro do Senhor e para o
Senhor. E não vemos em lugar algum que tenha tentado
exaltar a si mesmo, senão ao Senhor Jesus. Sigamos o
exemplo de vida de André. Oremos para que Deus levante
muitos “Andrés” em nosso meio.

João:

Indo um pouco mais adiante, viu num barco


Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão,
preparando as suas redes. Logo os chamou, e
eles o seguiram, deixando Zebedeu, seu pai,
com os empregados no barco. Eles foram para
Cafarnaum e, assim que chegou o sábado, Jesus
entrou na sinagoga e começou a ensinar. Todos
ficavam maravilhados com o seu ensino, porque

167
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

lhes ensinava como alguém que tem autoridade


e não como os mestres da lei (Mc 1:19-22).

O apóstolo João, irmão mais novo de Tiago, era


pescador, assim como seu pai e seu irmão. Deixou a pesca
de peixes para se tornar também um pescador de homens,
conforme convite e promessa de Jesus. Você lembra que
tratamos sobre isso anteriormente? Conseguimos analisar
um pouco a pessoa de João através de alguns textos bíblicos,
como Marcos 3:17, em que lemos: Tiago, filho de Zebedeu, e
João, seu irmão, aos quais deu o nome de Boanerges, que signi-
fica filhos do trovão. Isso demonstra que, talvez, os irmãos
tivessem uma personalidade meio explosiva.
Outra demonstração disso está em Lucas 9:52-55:

E enviou mensageiros à sua frente. Indo estes,


entraram num povoado samaritano para lhe
fazer os preparativos; mas o povo dali não
o recebeu porque se notava em seu sem-
blante que ele ia para Jerusalém. Ao verem
isso, os discípulos Tiago e João perguntaram:
“Senhor, queres que façamos cair fogo do céu
para destruí-los?”. Mas Jesus, voltando-se, os
repreendeu, dizendo: “Vocês não sabem de
que espécie de espírito vocês são, pois o Filho
do homem não veio para destruir a vida dos
homens, mas para salvá-los”.

Esse é mais um exemplo de discipulado eficaz,


genuíno e íntegro realizado pelo Mestre Jesus, um
exemplo maravilhoso do que o evangelho pode fazer
na vida das pessoas. Esse mesmo João escreveu um dos
quatro evangelhos, três epístolas e o Apocalipse. Também
ficou conhecido como João, “o discípulo amado”:

168
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Um deles, o discípulo a quem Jesus amava,


estava reclinado ao lado dele (Jo 13:23).
Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe, a
irmã dela, Maria, mulher de Cleopas, e Maria
Madalena. Quando Jesus viu sua mãe ali, e,
perto dela, o discípulo a quem ele amava, disse
à sua mãe: “Aí está o seu filho”, e ao discípulo:
“Aí está a sua mãe”. Daquela hora em diante, o
discípulo a levou para casa (Jo 19:25-27).

João caminhou diariamente com Jesus. Foi ele


quem se reclinou ao lado do Mestre na última ceia. João
estava presente quando Jesus ressuscitou a filha de Jairo
(Mc 5:37); na ocasião da transfiguração (Mc 9:2); durante
o período em que Jesus esteve no Getsêmani (Mc 14:33).
João e Pedro foram as duas pessoas encarregadas por
Jesus de cuidar dos preparativos para a refeição da
Páscoa (Lc 22:8).
No momento da crucificação, o apóstolo João é o
discípulo que aparece mais próximo de Jesus no Calvário.
Ele também recebe do Mestre a incumbência de cuidar de
Maria (Jo 19:26,27). Depois, é ele quem corre juntamente
com Pedro ao túmulo de Jesus, na manhã da ressurreição
(Jo 20:8). Sabem o que tudo isso significa? Que, mais uma
vez, o discipulado de Jesus deu certo.
Através do discipulado, a história de João mudou de
forma radical, e assim ele fez com incontáveis pessoas em
seu ministério. Depois da ascensão de Jesus ao céu, João é
mencionado com destaque na Igreja Primitiva. No livro de
Atos, ele é frequentemente citado na companhia de Pedro
(At 3:1, 4:19, 8:14). João foi um dos principais líderes da
igreja em Jerusalém (At 15:6; Gl 2:9).
Poderíamos continuar dando vários e vários exem-
plos como esses, e tenho certeza de que você, neste

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

exato momento, está pensando em muitos nomes aí,


não é verdade? E todos eles serão ricos perfis no estudo
para o seu discipulado. De uma coisa nunca poderemos
esquecer ou abrir mão:

O exemplo de Jesus Cristo é o único que já


existiu, na natureza humana, totalmente per-
feito; o que, portanto, é um critério para tes-
tar todos os outros exemplos. As disposições,
as atitudes e as práticas de outros devem ser
recomendadas e seguidas na medida em que
foram seguidoras de Cristo.7

A forma
É inegável a capacidade de comunicação de Jesus.
Também fica claro que ele tinha estratégias e discerni-
mento. Podemos observar isso nos quatro evangelhos
e na maneira com que ele lidava com as multidões, os
seguidores ocasionais e os discípulos. Vou explicar. Li um
artigo no blog falandoaigreja.com.br e o achei bastante
pertinente. O texto apresenta a seguinte abordagem:
As multidões: Seguiam a Jesus por causa dos sinais e
das curas que ele fazia. Por não terem um relacionamento
com Cristo, muito menos compromisso, suas motivações
não eram conhecidas, e quem não é conhecido não é
confiável. Logo, Jesus não poderia deixar o seu legado a
pessoas que não estavam dispostas a se envolver em um
relacionamento de discipulado.
Os seguidores ocasionais: Procuravam Jesus para
serem aconselhados. Eram pessoas que até tinham
um relacionamento frequente; porém, superficial. São
pessoas até religiosas, mas que não aceitam cobranças,

7 EDWARDS, 2018

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

não permitem que ninguém as confronte nem que seu


caráter seja tratado; são inflexíveis quanto às suas
opiniões e fechadas para aprender com outros. Em João
6:66, podemos ver que, após um determinado discurso de
Jesus, alguns desses seguidores o abandonaram.
Os discípulos: Aqui, o nível de relacionamento e
proximidade é total; a intimidade e a liberdade com as
quais se expressam em pensamentos e sentimentos são
completas; o compromisso e a renúncia também são
totais. O discipulado nos ensina sobre a aceitação do
preço da cruz. Podemos ver na vida dos doze discípulos
de Jesus algumas características, tais como: intimidade,
transparência com Jesus, submissão – realizavam aquilo
que o Mestre lhes ensinara.
Agora, vamos explorar o ensino a esse último grupo.
O processo de discipulado de Jesus seguia uma lógica.
Quer ver? Venha comigo e preste atenção: Jesus fazia e
os discípulos olhavam; ele fazia e os discípulos ajudavam;
os discípulos faziam e Jesus ajudava; por fim, os discí-
pulos faziam e Jesus observava. No Evangelho de Marcos,
capítulo 5 – aliás, muita coisa acontece neste capítulo–,
lemos que ele estava reunido com muitas pessoas; porém,
quando foi à casa de Jairo para realizar um espetacular
milagre, chamou três dos seus discípulos: Pedro, Tiago e
o João. Assim fez para ensinar aos três como fazer. Ele
usava a prática; dava o exemplo. Se você quer ser um bom
discipulador, imitando Jesus, fazendo como ele ensinou,
vai precisar pôr a mão na massa, pois, antes de qualquer
coisa, você deverá dar o exemplo.
Em outra ocasião, quando Jesus multiplicou os cinco
pães e os dois peixes para uma multidão de cinco mil
homens (Mc 6:34-44), os discípulos estavam ao lado dele;
viram de perto tudo que Jesus realizara ali, e não apenas
assistiram, mas ajudaram – André encontrou o menino,

171
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

dono dos pães e dos peixes, lembra? – e entregaram os


alimentos à multidão. Assim, se você quer ser um bom
discipulador, precisa permitir que os outros o ajudassem;
precisa entender que, ao receber ajuda, você está moti-
vando, ensinando, impulsionando os discípulos.
Observe, no Evangelho de Marcos, capítulo 9, a partir
do versículo 18, a ocasião em que os discípulos de Jesus não
conseguiram expulsar um demônio de um jovem possesso.
Ao ver isso, o próprio Jesus expulsou o demônio. Da mesma
forma, no início de sua caminhada, as pessoas que você
está ensinando, recém-chegadas à igreja, terão momentos
de insegurança e precisarão da sua ajuda, do seu apoio e de
suas orações. Não as abandone!
Por fim, no discipulado de Jesus, vemos quando os
discípulos começam a fazer as obras sozinhos. Em Atos
3:2-8, lemos:

Estava sendo levado para a porta do templo


chamada Formosa um aleijado de nascença,
que ali era colocado todos os dias para pedir
esmolas aos que entravam no templo. Vendo
que Pedro e João iam entrar no pátio do tem-
plo, pediu-lhes esmola. Pedro e João olharam
bem para ele e, então, Pedro disse: “Olhe para
nós!”. O homem olhou para eles com atenção,
esperando receber deles alguma coisa. Disse
Pedro: “Não tenho prata nem ouro, mas o que
tenho isto lhe dou. Em nome de Jesus Cristo, o
Nazareno, ande”. Segurando-o pela mão direita,
ajudou-o a levantar-se, e imediatamente os pés
e os tornozelos do homem ficaram firmes. E
de um salto pôs-se de pé e começou a andar.
Depois entrou com eles no pátio do templo,
andando, saltando e louvando a Deus.

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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

Toda honra e glória devem ser dadas a Deus, pois


a obra é dele. Somos seus servos, seus mordomos, seus
vasos, seus seguidores, e cumprir a missão do discipu-
lado é nosso dever, uma vez que ele nos salvou. Não
permita que o orgulho, a soberba e o engano adentrem
seu coração, pois essa não é a vontade de Deus.
Você, que veio até aqui, percebe a extraordinária simpli-
cidade de Jesus? Consegue entender por que a igreja de
Cristo precisa de um discipulado real, saudável, verdadeiro
e intencional? Simplesmente esse é o padrão de Jesus. Quer
exemplos de outros grandes discipuladores que seguiram o
mesmo padrão? Eis aqui: Elias, discipulador de Eliseu; Moisés,
discipulador de Josué; Paulo, discipulador de Timóteo e
muitos outros; Pedro, discipulador de João Marcos; Noemi,
discipuladora de Rute, e muitos outros, mesmo no Antigo
Testamento, seguiram fielmente essa forma de discipulado
de Jesus, simples e, ao mesmo tempo, poderosa.
Vivemos dias difíceis? Certamente. Mas na época da
pregação de Jesus também não eram? Foi fácil para Moisés,
Pedro ou Paulo? Foi fácil para Timóteo e Eliseu? A procla-
mação requer urgência! Precisamos formar bons líderes,
pessoas de carácter cristão, fundamentadas na Palavra de
Deus, dispostas para o ensino, engajadas na multiplicação,
para compartilhar o conhecimento que vem do alto.
Pense na igreja que você sonha para seus filhos e
netos, no tipo de líderes que vão discipular as próximas
gerações e agora responda: de que maneira você está
contribuindo para que tudo isso que está em sua mente
se torne real? Entendeu? Seu comprometimento é, sem
dúvida, indispensável.
Para encerrar este capítulo, quero dizer que foi uma
honra contribuir com este livro e um grande aprendizado
para mim também. Minha oração é que o Espírito Santo
nos encha de coragem para “sairmos da bolha”, nos encha

173
DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Capítulo 5

de fé naquele que tudo pode: Jesus, nos encha de amor


pela Palavra de Deus e nos dê a ousadia necessária para
assumirmos a missão que nos foi dada de pregarmos as
boas novas de salvação com palavras e ações para os de
perto ou de longe, em nome de Cristo Jesus. Amém!

174
REFERÊNCIAS

CAPÍTULO 1

BRIGHT, B. O segredo: como viver com propósito e poder. São


Paulo: Candeia, 1996.
BRUNET, T. 12 dias para atualizar sua vida. São Paulo: Vida, 2017.
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Volume I. São Paulo: Geográfica, 2006.
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CAPÍTULO 2

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Acesso em: 10 maio 2023.

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CAPÍTULO 4
AMPÈRE, A.M. Les moments poetiques d’Andre Marie Ampère
apud MACARTHUR, J. O resgate do pensamento bíblico. São
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FUENTES, M. A. As verdades Roubadas. Vitória: Centro
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GEISLER, N.; TUREK, F. Não tenho fé suficiente para ser ateu.
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JOULE, James. The great experimenter who was guided by
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CAPÍTULO 5
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DIVERGENTES: como o jovem pode impactar sua geração Referências Bibliográficas

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RICHARDS, L.O. & MARTIN, G. Teologia do ministério pessoal.
São Paulo: Vida Nova, 1984.

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ISBN 978-65-85364-06-5

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