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A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS

NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: O SABER


CIENTÍFICO E OUTROS SABERES COMO PROJETO DE
EDUCAÇÃO

Luciano Tadeu Corrêa Medeiros

Resumo

O texto traz uma análise das propostas de formação do Pedagogo – que são voltadas para
o ensino de Ciências na Educação Básica – em uma Universidade pública Federal. O
objetivo é identificar no processo formativo do professor que irá atuar nas séries iniciais
do Ensino Fundamental, quais as tendências propostas nessa formação voltadas para o
ensino de Ciências na referida etapa do ensino escolar. Para a realização do trabalho,
utilizou-se o método qualitativo, realizado através de uma pesquisa bibliográfica e
observações das atividades desenvolvidas no componente curricular: Abordagem
Teórico-metodológica do Ensino de Ciências, no quinto período do curso de Pedagogia
da Universidade Federal do Pará (Br), entre os meses de agosto e dezembro do ano de
2019. Os resultados apontam um direcionamento teórico diversificado, mas que busca
valorizar o ensino do conhecimento científico, sem, no entanto, desprezar os saberes
prévios dos alunos, adquiridos através de suas relações cotidianas com o mundo, onde
pesam suas vivências e experimentações por ele proporcionadas. Indicam um processo
formativo voltado para discussões e desenvolvimento de práticas pedagógicas que sejam
capazes de preparar o pedagogo em diversas perspectivas teóricas para este atuar em meio
aos processos educativos voltados para o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino
fundamental.

Palavras chave: Formação Docente, Ensino de Ciências, Séries Iniciais, Saber


Científico, Saberes Prévios.

INTRODUÇÃO

As descobertas científicas e os estudos realizados a partir da formalidade que o


saber científico determina têm contribuído de forma essencial para o desenvolvimento da
humanidade, pois a Ciência produz um conhecimento na maioria das vezes inovador,
sendo o responsável pela solução de problemas pelos quais a humanidade não seria capaz
de superar sem a ajuda da pesquisa científica e do rigor investigativo que a mesma
demanda. A produção do conhecimento científico deve ser aceita não como a única, mas
como uma das referências do saber, visto que a Ciência se traduz em um rigoroso processo
de investigação de um objeto na tentativa de compreendê-lo e explicá-lo, dentro das
relações que o envolvem.
Neste trabalho, nosso foco é refletirmos sobre a formação inicial dos Pedagogos
e a relação dessa formação com o ensino de Ciências que serão apresentados por esses
professores para os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental, além de investigar
se esses ensinamentos estão pautados unicamente sobre os saberes desenvolvidos pela
Ciência formal, pois reconhecemos que essa se apresenta como uma das propostas
direcionadas para o ensino formalizado pela escola, porém, também colocamos em
questionamento se essa formação valoriza elementos ligados aos saberes prévios dos
alunos, adquiridos por suas experiências cotidianas em meio a suas realidades, como um
componente de formação de identidade desses alunos, e, ainda, se os graduandos são
estimulados a perceber os saberes prévios dos alunos como um elemento essencial na sua
formação, visto que a escola não é a única instituição envolvida no processo formativo.
Ressaltamos a importância de investigarmos os momentos na formação inicial do
professor que irá atuar na educação básica, e, dentro daquilo que é materializado nas aulas
das disciplinas propostas no desenho curricular do curso de Pedagogia das Universidades,
em especial a Pública, identificar quais as tendências propostas nessa formação para o
ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental, e, a partir de observações
e seus desdobramentos no processo formativo desses futuros docentes que irão atuar nessa
etapa da Educação Básica, tendo como base os dois segmentos de saberes, o científico e
os saberes prévios dos alunos, buscamos construir uma discussão sobre como se pode
pautar a educação escolar, no sentido de que a Ciência ensinada por ela não permita, nos
educandos, a descaracterização dos seus saberes construídos antes de estes chegarem à
Escola e que foram adquiridos através de suas vivências e experiências pessoais com a
cultura, os fatores sociais que o envolvem e com o mundo, mas que esta esteja aliada a
um ensinamento científico, que seja capaz de proporcionar o aprendizado de novos
conceitos sobre as questões ligadas à Ciência e suas formalidades.

MÉTODOS E INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Este trabalho busca desenvolver uma análise do processo de formação inicial dos
professores Pedagogos que irão desenvolver suas atividades de ensino na Educação
Básica. O objetivo é identificar no processo formativo do professor que irá atuar nas séries
iniciais do Ensino Fundamental, quais as tendências propostas nessa formação voltadas
para o ensino de Ciências na referida etapa do ensino escolar. Tem caráter qualitativo e
utiliza uma pesquisa bibliográfica que subsidiou o embasamento teórico do mesmo, além
de uma pesquisa feita in locu, desenvolvidas pelos graduandos do curso de Pedagogia da
Universidade Federal do Pará (UFPA), campus Belém, durante o quinto semestre do
curso que ocorreu entre os meses de agosto e dezembro do ano de 2019. Para tanto, a
pesquisa utilizou os seguintes instrumentos: observações e análises estudos apresentados
aos alunos, que foram desenvolvidas durante a ministração das aulas da disciplina
Abordagens Teórico Metodológica do Ensino de Ciências – ATM de CIÊNCIAS. O
trabalho justifica-as pelo estímulo dado pela própria docente que ministrou a disciplina e
provocou os alunos para desenvolverem as análises sobre essas questões que envolvem
seu próprio processo inicial de formação, indicando que este deve ser problematizado no
sentido de se entender sob que corrente de pensamento teórico esse profissional está sendo
formado e qual sujeito este pretende formar quando se encontra no interior de uma sala
de aula.
pois é preciso que os mesmos compreendam que o ensino de Ciências a partir dos
saberes científicos exerce uma influência extraordinária no desenvolvimento dos alunos
das séries iniciais do Ensino Fundamental, mas incorporar esses saberes com caráter de
Ciência aos saberes tradicionais também exerce importância na formação científica dos
alunos (MUMDIM, SANTOS, 2012), pois o conhecimento empírico é culturalmente
adquirido e carrega valores que são vivenciados pelos grupos sociais onde se originam
esses ensinamentos, portanto, é um exercício que deve ser desenvolvido constantemente
(GABINI, FUTURA, 2018),

RESULTADOS: observações e análises.

No decorrer da disciplina, buscou-se inserir os graduandos de Pedagogia em


situações que os fizessem estar próximos ao que acontece na realidade de cada aluno das
séries iniciais do Ensino Fundamental, através do desenvolvimento de atividades onde os
mesmos pudessem refletir sobre essas realidades.
A primeira experiência com a disciplina foi, além do diálogo inicial de
apresentação, o desenvolvimento de uma narrativa individual dos alunos a respeito de si
mesmos. A atividade a ser desenvolvida consistia na produção de um desenho, no qual o
aluno pudesse adicionar as características que ele reconhece apresentar, não as físicas,
pois a ideia era a de que os alunos pudessem identificar o que eles carregavam consigo
em termos de vivências, experiências e experimentações, as quais haviam sido
construídas ao longo de sua trajetória de vida (GABINI, FUTURA, 2018) e que poderiam
ser reconhecidas como a bagagem que cada um carrega consigo. A intenção era de
provocar o entendimento de que cada uma das pessoas possuem personalidades,
experiências e uma história individual que se desassemelha uma das outras, assim,
reconhecer os alunos como sujeitos com essas capacidades e possibilidades, reafirma a
necessidade de se compreender a diversidade de opiniões, saberes, vivências,
aprendizados e histórias que tornam as pessoas ímpares e que determinam o individual de
cada sujeito, que também deve ser compreendido e respeitado dentro do coletivo.
Outro momento que destacamos na disciplina foi a exibição da longa metragem
And the band played on (1993), que, em português, recebe o título de: E a Vida Continua,
do diretor Roger Spottiswoode, (MENEGHEL, 2016). O filme conta a história do
surgimento de uma epidemia no final da década de setenta e início da década de oitenta,
provocada por um vírus até então desconhecido, que provocou uma disputa científica
entre pesquisadores franceses e americanos, fazendo com que esses grupos entrassem em
uma corrida na busca dos méritos, créditos e patente sobre a descoberta e isolamento
desse novo vírus, denominado com a sigla em inglês HIV (Human Immunodeficiency
Vírus) (SANTOS, SCHEID, 2011), que, em português, se traduz para Vírus da
Imunodeficiência Humana. O desenvolvimento da infecção causada por ele ficou
conhecida pela sigla AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome) (MENEGHEL,
2016), que, em português, passou a ser conhecida como SIDA (Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida).
Reconhecemos a importância do ensino de ciências para as crianças das séries
iniciais do Ensino Fundamental (MACHADO, 2013), e uma das aulas da disciplina
provocou, nos graduandos, uma questão interessante sobre o ensino de ciências para essas
crianças, pois propôs o seguinte questionamento: O que ensinar? E, ainda, por que
ensinar? Considerando uma reflexão sobre a realidade de quem está sendo ensinado
(GABINI, FUTURA, 2018).
Para instigar os alunos sobre essas reflexões, a professora da disciplina ATM de
Ciências propôs a leitura do texto Joãozinho da Maré, extraído do livro Com Ciência na
Educação, do autor Rodolpho Caniato, que narra um episódio de um menino, morador da
Comunidade da Maré, no Rio de Janeiro (RJ-Br), que, com base em suas vivências e
experiências adquiridas através de sua relação real com o mundo (GABINI, FUTURA,
2018), questiona a professora sobre seus ensinamentos, por esses não estarem vinculados
a sua realidade experienciada no cotidiano. Assim, o aluno provoca uma reflexão sobre
suas perspectivas e práticas educativas através do ensino de Ciência, que finda por
reconhecer a necessidade de reformular essas práticas, pois essas muitas vezes se
encontram ultrapassadas e desalinhadas com a realidade vivida pelos alunos (CANIATO,
1987).
As atividades se conectavam umas às outras e as aulas se interligavam com
assuntos pertinentes, que provocavam uma reflexão extremamente necessária para os
alunos do curso de Pedagogia (GABINI, FUTURA, 2018), por isso, a partir da leitura de
textos teóricos nessa perspectiva, foram desenvolvidas discussões que permitiram um
entendimento mais amplo sobre o significado dessas relações (CANIATO, 1987). O
conteúdo desses textos, trabalhados à luz de diversas teorias, traziam as abordagens de
como as várias tendências teórico-metodológicas são identificadas no ensino de Ciências,
desenvolvidos pelos professores. Uma dessas produções textuais, a de autoria de Luiz
Marcelo de Carvalho, intitulada: Para que ensinar ciências no mundo contemporâneo?
do ano de 1988, traz uma análise sobre as mudanças históricas que o ensino de Ciências
sofreu ao longo do tempo, trazendo um questionamento sobre o significado do que é
realmente fazer Ciência (CARVALHO, 1988).
Convém considerar que outro importante momento no decorrer da disciplina
foram as propostas do desenvolvimento de atividades relacionadas à alimentação, que
foram realizadas da seguinte maneira: na primeira, foi proposto que a turma se dividisse
em grupos, para então ser feita a leitura do artigo: Cotidiano e Educação em Química, do
autor Lutfi Mansur (1988). Após a leitura, os grupos receberam uma tarefa intitulada O
alimento nosso de cada dia e a química em nosso cotidiano, cujo objetivo era identificar
os conhecimentos prévios dos alunos (GABINI, FUTURA, 2018) sobre as questões
nutricionais e compostos químicos presentes em alimentos de seu consumo diário
(RODRIGUES, PINO, 2017). Na mesma aula, foi entregue aos alunos um questionário
para que fosse feito uma pesquisa sobre os componentes químicos que estão presentes na
alimentação industrializada consumida diariamente por seus integrantes (MANSUR,
1988). Os resultados das pesquisas feitas pelos discentes do curso de Pedagogia
desencadearam uma nova discussão sobre a questão da indústria e do comércio de
alimentos produzidos por ela (RODRIGUES, PINO, 2017).
Importa destacar um dos pontos de grande relevância na disciplina ATM de
Ciências, que tratou de assuntos ligados ao tema sociocientífico. Esse segmento teórico
aborda as questões baseadas nos conhecimentos científicos e faz uma relação com os
saberes cotidianos adquiridos pelos alunos em suas vivências (MUNDIM, SNTOS,
2012). O texto utilizado como subsídio para as discussões foi o intitulado: Ensino De
Ciências No Ensino Fundamental Por Meio De Temas Sócio científicos: Análise De Uma
Prática Pedagógica Com Vista À Superação Do Ensino Disciplinar dos autores Juliana
Viégas Mundim e Wildson Luiz Pereira dos Santos, que trata da análise de uma pesquisa
feita em uma escola da rede pública do Distrito Federal, em uma turma do oitavo ano do
Ensino Fundamental, onde se experimentou a utilização da tendência sociocientífica na
proposição de temas ligados ao ensino de Ciências.
Esse tipo de abordagem teórico-metodológica traduz a participação do aluno de
forma ativa na construção e execução dos temas a serem estudados, tudo elaborado a
partir da própria realidade do aluno, sendo que esses são estimulados pelo professor a
serem os construtores do próprio conhecimento produzido (MUNDIM; SANTOS, 2012).
Tratar assuntos a partir dessa abordagem foi uma experiência interessante e, ao mesmo
tempo, satisfatória para os graduandos, pois inicialmente o tema escolhido foi
Alimentação e Vida Saudável, onde os alunos discutiram questões sobre alimentação,
saúde e bem-estar a partir de suas realidades, que, na maioria das vezes, encontram-se
distantes da realidade constituída pela Ciência ensinada a eles na escola (GABINI,
FUTURA, 2018).
Em uma das aulas, os alunos foram direcionados para o Núcleo de Astronomia da
Universidade Federal do Pará (NASTRO), onde participaram de uma palestra sobre
temas como gravidade, sistema solar, fase lunar, movimento das marés, dentre outros
assuntos ligados à astronomia, em um momento próprio do processo de formação
(GABINI, FUTURA, 2018). Durante a apresentação, foram utilizados diversos
materiais, como maquetes, projetor de sombras e outros materiais de demonstração, para
trazer, à compreensão, a movimentação dos planetas e da terra. O material didático
utilizado foi primordial para a apresentação (LIBÂNEO, 2012), pois facilitou o
desenvolvimento da palestra e dinamizou os ensinamentos propostos pelos palestrantes.
Dessa forma, reconhecemos que os instrumentos didáticos utilizados pelo professor de
Ciências podem auxiliá-lo na ministração de aulas, potencializando o aprendizado e
dinamizando o desenvolvimento de atividades com os alunos em sala (GABINI,
FUTURA, 2018). Outro momento com um grande significado para os discentes de
Pedagogia foi o convite para que os alunos do curso fizessem a observação de alguns
planetas do sistema solar, feitas através de telescópio, onde foi possível, através desse
instrumento, fazer observações dos planetas Marte, Júpiter e Saturno.
Em uma reflexão mais ampla sobre o aprendizado adquirido através da visita ao
NASTRO, evidenciou-se a necessidade do professor de Ciências das séries iniciais buscar
fazer com que os alunos se percebam como parte integrante do universo existente e
atuante (CANIATO, 1974). Essas experiências são essenciais na construção das
identidades enquanto sujeitos ativos e responsáveis pelas transformações de seu meio e
da construção de sua história (FREIRE, 1986), pois todos se constituem parte desse
universo e compreendê-lo é um fator essencial paro o desenvolvimento das relações que
se estabelecem entre o universo e o sujeito, ou vice-versa (CANIATO, 1974).
Durante uma das aulas ministradas em sala de aula, os graduandos de Pedagogia
desenvolveram uma atividade interessante sobre o consumo de energia elétrica a partir de
cálculos feitos pelos alunos. A proposta inicial era que cada aluno compreendesse a
relação entre as ciências e a interdisciplinaridade (FAZENDA, 2011), que pode ser
proporcionada nos ensinamentos sobre Ciência, fazendo com que os alunos visualizassem
a relação entre o consumo de energia elétrica e o valor pago à concessionária que faz a
distribuição dessa energia, através de cálculos matemáticos. Assim, de uma forma
didática (LIBÂNEO, 2012), foi possível proporcionar que os mesmos pudessem também
identificar que o desperdício pode ocasionar um custo a mais nos gastos com o consumo
de energia elétrica e o consumo consciente pode trazer um benefício de economia
perceptível para o orçamento familiar.
Sabemos da importância que a produção da energia elétrica traz para a vida
contemporânea, mas não podemos deixar de pontuar as entrelinhas que envolvem a
produção e o consumo dessa energia, pois sabemos que a sua produção em larga escala
envolve outros fatores, dos quais podemos destacar as questões ambientais, sociais,
culturais, políticas, orçamentárias, industriais, comerciais e financeiras (RODRIGUES,
PINO, 2017).
Em uma das atividades da disciplina ATM de Ciências, a turma foi estimulada a
planejar e simular o desenvolvimento de aulas relacionadas às questões sobre os
ensinamentos que são aplicados para os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental.
A tarefa foi proposta da seguinte maneira: os alunos deveriam formar grupos e escolher
um tema a ser trabalhado com os alunos em sala de aula, identificar a etapa de ensino e o
ano em que se aplicaria a atividade, e, a partir da escolha destes quesitos (LIBÂNEO,
2012), o grupo deveria elaborar um plano de aula para organizar seu desenvolvimento.
O tema escolhido pela equipe da qual éramos partícipes foi: Os componentes
químicos dos produtos de limpeza, cujo objetivo era o de desenvolvimento de uma aula
interdisciplinar (FAZENDA, 2011), que envolveria conhecimentos de Ciências,
Matemática e Língua Portuguesa. Os conhecimentos científicos teriam por base a química
e se dariam a partir da utilização de instrumentos pedagógicos alternativos (LIBÂNEO,
2012), pois faríamos o detalhamento e estudo de alguns elementos químicos contidos nos
produtos de limpeza, os cuidados e precauções com a manipulação dos mesmos, os riscos
em consequência da manipulação e uso feitos de forma incorreta, assim como os cuidados
a serem tomados em caso de acidentes e intoxicação causadas por esses produtos. A
proposta era fazer uma relação com o uso de materiais que pudessem dar sentido ao ensino
do conteúdo de outras disciplinas e seus segmentos (FAZENDA, 2011), pois a relação
com a matemática se daria por meio do trabalho com grandezas e medidas e, para tanto,
seriam utilizados os frascos para evidenciar questões matemáticas de quantidade e
cálculos de adição e subtração dessas quantidades (LIBÂNEO, 2012). A Língua
Portuguesa ficaria encarregada do estudo do significado das novas palavras que seriam
incorporadas ao dicionário dos alunos. Essa proposta de aula era destinada aos alunos do
quarto ano do Ensino Fundamental.
A proposta colocada pela docente ministrante da disciplina não era a de avaliar os
alunos e seus planos de aula, mas que a turma desenvolvesse uma discussão após cada
uma das apresentações, para que todos pudessem dar sua contribuição no que poderia ser
feito para que essas aulas, juntamente com os temas desenvolvidos, pudessem ser
aprimoradas (LIBÂNEO, 2012). Essa construção conjunta levou os alunos a
compreenderem que a coletividade é um elemento essencial na construção dos projetos
educativos, nas práticas de ensino, na produção do conhecimento e na formação dos
sujeitos.

DISCUSSÕES: a formação para o ensino de Ciências e algumas reflexões

A formação do Pedagogo para o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino


Fundamental traz, à discussão, inúmeras abordagens (GABINI, FUTURA, 2018), visto
que os alunos dessa etapa de ensino são sujeitos em fase de desenvolvimento e, portanto,
adquirem saberes antes mesmo de entrar para a escola, pois a escola não é a única
instituição responsável pela educação desses sujeitos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) enfatizam que, para se ensinar
Ciências no Ensino Fundamental, deve-se considerar alguns fatores:

Numa sociedade que se convida com a supervalorização do


conhecimento científico e com a crescente intervenção da
tecnologia no dia-a-dia, não é possível pensar na formação
de um cidadão crítico á margem do saber científico. Mostrar
a Ciência como um conhecimento que colabora para a
compreensão do mundo e suas transformações, para
reconhecer o homem como parte do universo e como
indivíduo, é a meta que se propõe para o ensino da área na
escola fundamental. (BRASIL, 1988, p. 23-25).

Trazer à compreensão dos alunos questões que envolvem as descobertas


proporcionadas pelas pesquisas científicas, que aparentemente têm o interesse no
benefício da humanidade, é importante (MENEGHEL, 2016), mas instigar os alunos a
identificarem os elementos que se encontram nas entrelinhas desses acontecimentos
torna-se essencial (GABINI, FUTURA, 2018), pois existem, em meio a tudo isso,
relações que envolvem outras questões dentro do sistema político e financeiro de um país,
como por exemplo: o comercio e a indústria, das quais podemos citar a farmacêutica, que
disputam ainda com os méritos pretendidos pela vaidade profissional de muitos cientistas
e o capital que disponibiliza e que requer o retorno de investimentos aplicados, sendo que
esse retorno é proporcionado através do lucro extraído do comércio dessa medicina e de
tratamentos onde são aplicados os medicamentos produzidos para esses fins (SANTOS,
SCHEID, 2011). As reflexões a partir desses questionamentos também devem servir de
base no momento de ensinar as crianças sobre as pesquisas científicas, pois o objetivo da
educação não pode perder seu foco emancipador e libertador, que desenvolva nos sujeitos
a crítica e a reflexão (FREIRE, 1996). Segundo Caniato (1987), o professor deve:
Oferecer uma “leitura” do mundo com um ideário que inclui
outros ingredientes, além da Ciência: o exercício da
iniciativa em suas diferentes modalidades, o prazer de
descobrir e de saber mesmo uma visão da beleza da Vida, a
solidariedade entre indivíduos e entre nações. (CANIATO,
1987, p. 14).
Estabelecer uma relação entre o aluno e o conhecimento científico é uma tarefa
que o professor irá exercer durante sua atuação profissional nas escolas (MACHADO,
2013), por isso, o ensino de Ciências na atualidade deve ser pensado a partir da sociedade
que se pretende formar e de como essa sociedade reconhece os conhecimentos científicos
(CANIATO, 1987), visto que esses saberes devem ser compreendidos pelos educadores
como um projeto que abrange também elementos sociais e a cultura existente, e que em
sua essência, estão carregados de sentidos (GABINI, FUTURA, 2018).
Retomamos a ideia de que as crianças também trazem na bagagem as vivências e
experiências adquiridas em sua vida cotidiana e que as fazem compreender o mundo e
refletir sobre sua realidade a partir dessas experimentações (GABINI, FUTURA,
2018). O professor não deve desprezar o que a criança carrega de aprendizados
adquiridos através dessas experiências, a ciência e a natureza estão presentes em sua vida
e são construídas através de uma realidade (MUNDIM, SNTOS, 2012) percebida por elas,
por isso deve-se reconhecer seus saberes prévios (GABINI, FUTURA, 2018), pois os
mesmos carregam um valor único para as crianças que estão sendo escolarizadas, que têm
materializados, em seus aprendizados extraescolares, aquilo que conseguem formular e
estabelecer como saberes e que julgam necessário para aplicarem nas práticas diárias de
sua vida (MUMDIM, SANTOS, 2012), mas mesmo assim é preciso que a criança desde
cedo consiga se perceber como parte de um mundo real, que compõe um universo que se
buscou entender e que carrega em sua composição elementos que a Ciência passou a
compreender a partir de suas investigações (CANIATO, 1974), por isso, introduzir o
ensino de matérias científicas no contexto dos alunos deve ser uma tarefa que contribua
na reformulação dos conceitos dos mesmos, que também se encontram carregados de
senso comum. (MACHADO, 2013). De acordo com Caniato (1974) essa percepção que
a criança deve desenvolver sobre sua relação com o Universo, pode ser estimulada a partir
de uma simples observação do Céu:
O estudo do Céu sempre se tem mostrado de grande efeito
motivador, como também dá ao educando a ocasião de
sentir um grande prazer estético ligado à ciência: o prazer
de entender um pouco do Universo em que vivemos [...]
(CANIATO, 1974, p. 39-40).

Reconhecemos que na formação inicial do Pedagogo há certa precariedade e


insuficiência (GABINI, FUTURA, 2018), mas reforçamos a compreensão de que essa
formação deve abarcar todas as possibilidades possíveis, para que esse esteja pronto para
atuar no processo formativo dos alunos que estarão sob seus cuidados educativos
(LIBÂNEO, 2012). Por isso, é importante que, durante esse momento de formação, o
aluno do curso de Pedagogia esteja envolvido em atividades que possibilitem o
desenvolvimento de práticas de ensino que farão parte de seu fazer docente durante sua
trajetória profissional (GABINI, FUTURA, 2018).
Introduzir informações que se entrelacem com as relações cotidianas dos alunos
das Séries Iniciais, torna-se relevante na apropriação de saberes da Ciência formal, onde
citamos como exemplo questões sobre alimentação, que é extremamente necessário para
que as crianças do Ensino Fundamental comecem a desenvolver sua compreensão sobre
a relação existente entre a indústria de alimentos e o que consumimos diariamente como
alimentação para nossa sobrevivência (MANSUR, 1988), mas devemos levar em conta a
realidade social e cultural dessas crianças quando falamos em termos alimentícios, pois
esses fatores nem sempre permitem o acesso a certos alimentos, que podem não estar
dentro da realidade econômica desses alunos (GABINI, FUTURA, 2018), embora
estejam dentro da realidade dos professores proponentes. Entretanto, é necessário
estimular os alunos a refletirem sobre a intenção da produção de alimentos em larga escala
e da indústria de alimentos, cuja finalidade é obter lucro com a venda de produtos
alimentícios industrializados (RODRIGUES, PINO, 2017), ricos em adição de
componentes químicos e que causam um grande malefício à saúde. Assim, para que isso
seja possível, essas indústrias alimentícias detêm um sistema de divulgação de seus
produtos, capaz de envolver os consumidores através da propaganda que fazem dos
mesmos, nas quais oferecem tais produtos sem esclarecer que esses oferecem um baixo
valor nutricional (MANSUR, 1988), excesso de açúcar, corantes, conservantes e
quantidades acima da média de sódio, e que todos esses elementos não contribuem para
uma alimentação adequada e, por consequência, tornam esses alimentos nada saudáveis
(RODRIGUES, PINO, 2017).
As discussões desenvolvidas sob o olhar das diversas tendências teórico-
metodológicas que abarcam o ensino de Ciências é um fator positivo na formação do
Pedagogo (LIBÂNEO, 2012), pois, a partir destas abordagens, o professor amplia seu
acervo teórico e reconfigura as bases de seu conhecimento sobre o desenvolvimento de
práticas que o auxiliem nas ações do seu fazer enquanto professor de Ciências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando falamos de Educação Escolar, retomamos à ideia da propagação de um


saber elaborado segundo os rigores da investigação científica, visto que a escola é um
agente essencial na propagação desses saberes. Em contrapartida, entendemos que há, nos
saberes prévios dos educandos, alguns elementos incorporados pelo conhecimento da
realidade com a qual eles convivem diariamente, que não se utilizam do rigor da ciência,
mas que trazem significados para esses sujeitos e, na grande maioria das vezes, ajudam
os mesmos a resolverem problemas de forma prática e precisa.
É importante que se proponham discussões que reconheçam a necessidade de se
incorporar, ao saber científico ensinado as crianças das séries iniciais do Ensino
Fundamental, àqueles existentes nas realidades vividas pelos alunos e que a ciência
muitas vezes não reconhece como conhecimento válido, porém, para professores e
educadores, esse é um ponto que também se deve entender como importante e essencial
para a Educação Escolar, pois o educar, não está limitado apenas ao ato de aprender
conhecimentos científicos, mas de proporcionar meios para que os sujeitos se
desenvolvam integralmente e, dentro desses processos educativos, a valorização da
cultura e de elementos que produzam identidade nesses sujeitos também devem ser
trabalhada, pois os mesmos se constituem como saberes existentes e carregados de
significados para as crianças – e todos nós.
A importância dessas discussões e de atividades desenvolvidas pelos alunos do
curso de Pedagogia, dentro dessa proposta, são elementos essenciais no processo
formativo docente e discente, pois é através desses momentos que o mesmo consegue
identificar as possibilidades que os segmentos teórico-metodológicos podem
desenvolver, sendo esses os norteadores das práticas de ensino que serão exercidas pelos
professores após sua formação.
Embora reconheçamos a insuficiência da formação inicial do pedagogo, visto a
precariedade existente nas propostas atuais dos cursos de Pedagogia, ao investigamos,
podemos contatar o programa de graduação referido nesta pesquisa, em princípio, como
um curso estruturado no que diz respeito ao estímulo do pensar o ensino de Ciências pelos
graduandos, pois a disciplina ATM de Ciências não se mostrou ligada a um único
segmento, mas possibilitou aos alunos o pensar sobre o que se ensina, para quem se ensina
e, ainda, qual o objetivo de se ensinar ciências para os alunos, além de discutir sobre o
que, na verdade, podemos caracterizar como Ciência.
As pesquisas que tem como base, observações das relações existentes entre as
teorias educacionais e as práticas educativas que são trabalhadas pelos professores através
de discussões em sala de aula ajudam o graduando a entender quais segmentos teóricos
podem ser identificados como aqueles que se adéquam às suas metodologias de ensino,
para que o seu fazer como docente produza êxito no desenvolvimento dos alunos a partir
do ensino dos saberes propostos em cada uma das disciplinas ministradas nessas etapas
de ensino, levando em conta as experiências vivenciadas pelos alunos e seus saberes
adquiridos através de suas vivências e experimentações do mundo, por isso,
reconhecemos que há necessidade de uma formação inicial, voltada para que os
Pedagogos, depois de formados, possam identificar nesses saberes prévios, qual sua
relação com o aprendizado e desenvolvimento dos sujeitos que estão sendo formados pela
escola, pois compreendemos que os saberes científicos exercem sua função e importância
para a educação desses sujeitos, por serem desenvolvidos exatamente dentro do rigor
exigido pela Ciência. Entretanto, todos os outros saberes, principalmente àqueles que
estão relacionados à realidade social ou a cultura de um grupo, não podem ser
desprezados, pois a existência dos mesmos se estabelece como essencial na construção
sociocultural, e se encontram para além daqueles que só são reconhecidos pela validade
do rigor científico, porém findam por se tornarem elementos tradicionais em meio às
diversidades dos saberes constituídos e que para os grupos e elementos envolvidos
comportam inúmeros significados.
A ATM do Ensino de Ciências seguiu exatamente dentro dessa proposta formativa
e conseguiu fazer com que os alunos se envolvessem através não só de discussões teóricas
e metodológicas de ensino, mas do desenvolvimento de práticas, pois entendemos que
essas ações proporcionaram o exercício que envolvem tanto as questões teórico-
metodológicas, quanto questões de desenvoltura prática enquanto futuros professores.
Nessa perspectiva, entende-se que essas ações são tidas como essenciais durante o
processo formativo do Pedagogo, pois podem ampliar as possibilidades desse aluno – e
futuro docente – de desenvolver suas habilidades como professores e ampliar sua
percepção sobre todas as questões ligadas à sua atuação nos processos educativos,
conduzindo o graduando ao aprimoramento profissional, que será extremamente
necessário após sua formação.

REFERÊNCIAS
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Ciências Naturais. Brasília – DF: MEC/SEF, 1998.

CANIATO, R. Um Projeto Brasileiro Para o Ensino de Física. Tese (Doutorado),


Faculdade de Educação, UNICAMP, Campinas – SP, 1974.

CANIATO, R. Com Ciência na Educação; editora Papirus – Campinas – SP, 1987.

CARVALHO, L. M. Para que Ensinar Ciências no Mundo Contemporâneo? Atas


do I Encontro de Formação Continuada de Professores de Ciências. Campinas, 1997.
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