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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 5
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................6
2.1 A Obra Inicial De Melanie Klein.....................................................................6
2.2 A fantasia kleiniana: definições.....................................................................8
2.3 Melanie Klein e as fantasias inconscientes...................................................8
2.4 A posição esquizo-paranóide........................................................................9
2.5 A origem e a função da vida fantasmática..................................................11
2.6 As relações objetais....................................................................................12
2.7 A introjeção e a projeção.............................................................................13
2.8 A constituição do sujeito: um percurso nas manifestações fantasmáticas ao
longo do desenvolvimento.................................................................................14
2.9 Fantasias e conteúdos patológicos.............................................................16
2.10 Fantasias e conteúdos sexuais.................................................................17
3. CONCLUSÃO................................................................................................19
Referências....................................................................................................... 20
5

1. INTRODUÇÃO

A teroria de desenvolvimento de Malanie Klein, aprofundou-se na


dimensão psicológica, com intuito de estudar a mente das crianças de tenra
idade, suas fantasias, medos, angústias, etc. Sua primeira tarefa foi
desenvolver uma técnica de análise que viabilizasse o acesso ao inconsciente
da criança, já que não é esperado que uma criança pequena colabore com a
técnica da associação livre (Money-Kyrle, 1980). Ela desenvolveu então a
análise através da brincadeira. Por meio da atividade lúdica, a autora
interpretava as fantasias, as angústias, e outras manifestações do inconsciente
da criança, as quais eram expressas de maneira simbólica.

Klein diverge do pai da psicanálise em relação à importância crucial que


este atribui à sexualidade, na medida em que ela coloca a agressividade, inata
na criança, como central em sua teoria, ao invés da vida sexual (Jorge, 2007).
Pode-se concluir que esta autora ampliou o freudismo ao estudar estes
sentimentos inatos, presentes nas relações do neonato com sua mãe; bem
como ao aprofundar-se nos fenômenos psicóticos, já que estes foram
abordados por Freud de maneira escassa. Ela produziu uma teoria nova na
psicanálise, a qual estuda minuciosamente, de maneira integrada, todos os
fenômenos psíquicos desde o nascimento até a morte.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A Obra Inicial De Melanie Klein

As contribuições de Melanie Klein para a teoria e a técnica psi-


canalíticas podem ser claramente divididas em três fases distintas:

A primeira fase tem início com seu artigo “On the Deve- lopment of the
Child” e culmina com a publicação de The Psy- cho-Analysis of Children
em 1932. Durante essa fase, estabeleceu os fundamentos da análise de
crianças e delineou o complexo de Édipo e o superego até as raízes
primitivas de seu desenvolvimento.
A segunda fase conduziu à formulação do conceito da posição
depressiva e dos mecanismos de defesa maníaca, descritos
principalmente em seus artigos “A Contribution to the Psycho- genesis of
the Manic Depressive States” (1934) e “Mourning and its Relation to
Manic Depressive States” (1940).
A terceira fase ocupou-se do estádio mais primitivo, que ela chamou de
posição esquizo-paranóide, formulada principalmente em seu artigo
“Notes on some Schizoid Mechanisms” (1946) e em seu livro Envy and
Gratitude (1957)*. Há uma mudança significativa em seu ponto de vista
teórico a partir de sua formulação do conceito de posições em 1934.

Até essa época, seguiu Freud e Abraham, descrevendo suas


descobertas em termos de estádios libidinais e da teoria estrutural í do ego,
superego e id. Contudo, de 1934 em diante, formulou suas descobertas
principalmente em termos de seu próprio conceito estrutural de posições. O
conceito de “posição” não entra em conflito com o conceito de ego, superego e
id, mas tem como ; teor definir a estrutura real do superego e do ego, bem
como o caráter de seus relacionamentos nos termos das posições paranóide e
depressiva.

Quando na década de 1920 Melanie Klein começou a analisar crianças,


lançou nova luz sobre o desenvolvimento primitivo da criança. Como ocorre
frequentemente no desenvolvimento científico, novas descobertas se seguem
ao uso de uma nova ferramenta, ainda que possam, por sua vez, conduzir ao
7

apri- | moramento da ferramenta. No caso da análise de crianças a nova


ferramenta foi a técnica de brincar (play techniquè).

Inspirando-se nas observações de (Freud, 1920) quanto ao brincar da


criança com o carretel, Melanie Klein viu que o brincar da criança poderia
representar simbolicamente suas ansiedades e Ifantasias. Visto que não se
pode exigir a crianças pequenas que façam associação livre, ela tratou seu
brincar na sala de recreio do mesmo modo como tratou suas expressões
verbais, isto é, como expressão simbólica de seus conflitos inconscientes.

Segundo Melanie Klein, o superego não apenas precede o complexo de


Édipo, mas também promove seu desenvolvimento. A ansiedade produzida
pelas figuras .más internalizadas faz a criança procurar desesperadamente
contacto libidinal com seus pais enquanto objetos externos. H á um desejo de
possuir o corpo da niãe não apenas com propósitos libidinais e agressivos, mas
também livre de ansiedade para procurar nova segurança em sua pessoa real
contra a figura interna terrificante.

Há também o desejo de restituir e reparar a mãe real na relação sexuaJ


real pelo dano feito em fantasia. Do mesmo modo, com o pai, o pai real e seu
pênis são uma segurança contra o pênis e o pai introjetados internos e
terrificantes. Enquanto objeto libidinal, seu pênis bom é procurado como uma
segurança contra o pênis interno mau, e enquanto rival o pai real é muito
menos terrificante do que a representação interna deformada. Assim, a pressão
das ansiedades produzidas por objetos internos conduz a criança a uma
relação edipiana com os pais reais. Ao mesmo tempo, as ansiedades do
estádio oral e anal-sádico primitivo incitam a criança a abandonar essa posição
pela genital, que é menos sádica.

Melanie Klein obteve acesso à compreensão da estrutura interna da


criança seguindo a transferência e o simbolismo do brincar desta. Essa
compreensão do brincar da criança como sendo a simbolização de suas
fantasias levou-a a se dar conta de que não apenas o brincar mas todas as
atividades da criança mesmo a mais realisticamente orientada,
simultaneamente com sua função de realidade, serviram para expressar, conter
e canalizar a fantasia inconsciente da criança através de meios de
simbolização. O papel fundamental desempenhado no desenvolvimento da
8

criança péla fantasia inconsciente e por sua expressão simbólica levou-a a


ampliar e a reformular o conceito de fantasia inconsciente.

2.2 A fantasia kleiniana: definições

De acordo com a teorização kleiniana e de suas seguidoras – (Heimann,


1986), (Isaacs, 1986) e (Segal, 1966) – as fantasias são inatas no sujeito, uma
vez que são as representantes dos instintos1, tanto os libidinais2 quanto os
agressivos, os quais agem na vida desde o nascimento. Elas apresentam
componentes somáticos e psíquicos, dando origem a processos pré-
conscientes e conscientes, e acabam por determinar, desta forma, a
personalidade. Pode-se concluir que as fantasias são a forma de
funcionamento mental primária, de extrema importância neste período inicial da
vida.

É possível a distinção entre dois conceitos de fantasia: phantasy, com


ph, a qual corresponde à atividade de fantasia inconsciente; e fantasy com f, a
qual corresponde à atividade fantasmática consciente (Isaacs, 1986). A
fantasia pode ser definida como a representante psíquica do instinto e
expressa a realidade de sua fonte, interna e subjetiva, embora esteja ligada à
realidade objetiva. Ela se transforma de acordo com o desenvolvimento, no
decorrer das experiências corporais, sendo ampliada e elaborada,
influenciando e sendo influenciada pelo ego em maturação.

Segundo (Riviere, 1986), outra seguidora de Melanie Klein, a vida de


fantasia do indivíduo pode ser entendida como “a forma como suas sensações
e percepções reais, internas e externas, são interpretadas e representadas
para ele próprio, em sua mente, sob a influência do princípio de prazer-dor”.

2.3 Melanie Klein e as fantasias inconscientes

Em sua clínica, Klein (Mezan, 2002) percebe que as crianças têm uma
imagem de mãe dotada de uma imensa malvadeza, o que, na maioria das
vezes, não corresponde à mãe verdadeira. Daí surge o conceito de fantasia
kleiniano, a partir da hipótese de que as crianças estão lidando com uma
deformação da mãe real, a qual é criada na mente do infante de modo
fantasmático. Melanie Klein apoiou toda sua teoria na ênfase das fantasias
inconscientes, presentes nas relações objetais primitivas.
9

2.4 A posição esquizo-paranóide

No capítulo anterior, sugeri que o uso feito por Melanie Klein do conceito
de fantasia inconsciente implica um grau de organização do ego mais elevado
do que o suposto por Freud. A controvérsia entre analistas sobre o estado do
ego nos primeiros meses da infância não é uma questão de mútuo
desentendimento ou de diferente utilização da linguagem. Trata-se de uma
controvérsia importante e real sobre questões de fato, e, naturalmente,
quaisquer pontos de vista sobre o que é experimentado pelo bebê devem
basear-se num quadro do que é o ego em cada estádio.

Qualquer descrição significativa dos processos envolvidos deve começar


pela descrição do ego. Segundo Melanie Klein, no nascimento já existe ego
suficiente para experimentar ansiedade, usar mecanismos de defesa e formar
relações de objeto primitivas na fantasia e na realidade. Esse ponto de vista
não está inteiramente em discordância com o de Freud. Em alguns de seus
conceitos, ele parece inferir a existência de um ego primitivo.

Descreve também um mecanismo de defesa primitivo, isto é, a deflexão


do instinto de morte, que ocorre no início da vida; seu conceito de realização de
desejo alucinatório implica um ego capaz de formar uma relação de objeto na
fantasia. Presumir que o ego tem, desde o começo, a capacidade de
experimentar ansiedade, usar mecanismos de defesa e formar relações de
objeto, não é dar a entender que o ego, no nascimento, seja semelhante, de
modo bastante acentuado, ao ego de um bebê bem integrado de seis meses
de idade, para não falar de uma criança ou de um adulto plenamente
desenvolvido.

Inicialmente, o ego primitivo é amplamente desorganizado, embora, de


acordo com toda a tendência do crescimento fisiológico e psicológico, ele
possua desde o começo uma tendência à integração. Às vezes, sob o impacto
do instinto de morte e de ansiedade intolerável, essa tendência é afastada e
ocorre uma desintegração defensiva, sobre a qual falarei mais à frente.
10

O ego imaturo do bebê é exposto, desde o nascimento, à ansiedade


provocada pela polaridade inata dos instintos — o conflito imediato entre o
instinto de vida e o instinto de morte — , assim como é imediatamente exposto
ao impacto da realidade externa, que tanto produz ansiedade, como o trauma
do nascimento, quanto lhe dá a vida, como o calor, o amor e a alimentação
recebidos de sua mãe.

Quando confrontado com a ansiedade produzida pelo instinto de morte,


o ego o deflete. Essa deflexão do instinto de morte, descrita por Freud,
consiste, segundo Melanie Klein, em parte numa projeção e em parte na
conversão do instinto de morte em agressividade. O ego se divide (splits) e
projeta essa sua parte, que contém o instinto de morte, para fora, no objeto
externo original — o seio.

Assim, o seio, que é sentido como contendo grande parte do instinto de


morte do bebê, é sentido como mau e como ameaçador para o ego, dando
origem ao sentimento de perseguição. Dessa maneira, o medo original do
instinto de morte é transformado em medo de um perseguidor. A intrusão do
instinto de morte no seio é geralmente sentida como dividindo-o (splitíing) em
vários pedaços, de modo que o ego é confrontado com uma multidão de
perseguidores. Parte do instinto de morte, permanecendo no eu (self), é
convertida em agressividade dirigida contra os perseguidores.

Ao mesmo tempo, é estabelecida uma relação com o objeto ideal. Assim


como o instinto de morte é projetado para fora, a fim de evitar a ansiedade
despertada por contê-lo, assim também a libido é projetada, a fim de criar um
objeto que irá satisfazer o esforço instintivo do ego pela preservação da vida. O
que ocorre com o instinto de morte, ocorre com a libido. O ego projeta parte
dela para fora, e o qúe permanece é usado para estabelecer uma relação
ÜÇidinal com esse objeto ideal.

Assim, bastante cedo, o ego tem uma relação com dois objetos; o objeto
primário, o seio, é, nesse estádio, dividido (split) em duas partes: o seio ideal e
o seio persecutório. A fantasia do objeto ideal funde-se com as experiências
gratificantes de amor e alimentação recebidos da mãe externa real, e é
confirmada por essas experiências, ao passo que a fantasia de perseguição
funde-se, de modo semelhante, com experiências reais de privação e
11

sofrimento, as quais são atribuídas pelo bebê aos objetos perseguidores. A


gratificação, portanto, não apenas preenche a necessidade de conforto, amor e
nutrição, mas também é necessária para manter encurralada a perseguição
terrificante; e a privação se torna não apenas uma falta de gratificação, mas
também uma ameaça de aniquilação por perseguidores.

2.5 A origem e a função da vida fantasmática

Melanie Klein, partindo de obras freudianas, toma como principal ponto


de enfoque das fantasias sua dimensão imaginária. Para a autora, a atividade
fantasmática está presente na vida desde o nascimento – embora as fantasias
primitivas sejam processos altamente desconexos, instáveis e contraditórios.
Qualquer estímulo sentido pela criança é um potencial eliciador de fantasias,
tanto os agressivos – os quais acarretam fantasias agressivas – quanto os
prazerosos – os quais, por sua vez, são causadores de fantasias calcadas no
prazer.

O primeiro alvo das fantasias da criança é o corpo da mãe, já que ela é o


principal objeto com o qual a criança se relaciona em seus primeiros dias de
vida. As fantasias acerca da exploração do corpo materno são de extrema
importância para a descoberta do mundo externo pela criança. A pulsão de
exploração, fundamental para os trabalhos artísticos e científicos, tem sua base
nestas fantasias (Klein, 1996).

De acordo com a teorização kleniana, as principais atividades que


podemos concluir como sendo as funções da fantasia são: a realização de
desejos; a negação de fatos dolorosos; a segurança em relação aos fatos
aterrorizadores do mundo externo; o controle onipotente – já que a criança, em
fantasia, não apenas deseja um acontecimento como realmente acredita fazer
com que ele aconteça –; a reparação, dentre outras.

A liberação da vida fantasmática ocorre, principalmente, através da


atividade lúdica, uma vez que esta é a principal atividade da criança pequena.
Ela ainda não expressa seus sentimentos e desejos subjetivos por meio de
palavras. Desta forma, é preciso estimular a brincadeira das crianças, já que
dando rédea solta à atividade lúdica ela está, conseqüentemente, liberando
12

suas fantasias inconscientes. Estas brincadeiras podem ser de qualquer tipo:


brinquedos, desenhos, jogos, bolas, bonecas, etc.

A fantasia pode ser entendida como a atividade que, em decorrência da


ausência de plasticidade e representações verbais, realiza, em ação, o desejo
subjacente à mesma, o que é acompanhado por reais excitações físicas nos
órgãos utilizados para isto. A relação entre a fantasia e a realização de um
desejo sempre foi enfatizada pela teorização kleiniana (Isaacs, 1986).

Esta relação pode ser vista na vinculação que a autora realiza entre a
fantasia e o princípio do prazer. A imaginação relativa a tudo o que é belo e
prazeroso é desenvolvida nos desejos e fantasias. No início da vida, o princípio
do prazer reina em absoluto na mente da criança. A partir do momento em que
ela se torna capaz de estabelecer uma relação entre seus desejos e fantasias e
a realidade, é estabelecido, então, o princípio de realidade.

O sentimento de onipotência, oriundo dos impulsos do id de tudo desejar


a qualquer tempo e circunstância, perde força para a entrada do compromisso
com a realidade, a qual impõe restrições a certas fantasias e desejos. Desta
forma, tudo o que é prazeroso, mesmo que seja fantasiado, está vinculado ao
princípio do prazer, ao passo que o que é relacionado ao pensamento racional,
concreto, que pode ser cientificamente comprovado, está vinculado ao princípio
de realidade.

2.6 As relações objetais

De acordo com Klein (Leader, 2001), a fantasia pode ser considerada


uma estrutura através da qual o sujeito se relaciona com os objetos exteriores.
Durante o período inicial da vida, a mente infantil funciona basicamente através
de fantasia inconsciente, a qual suplementa o pensamento racional enquanto
este não estiver desenvolvido.

Este funcionamento mental provoca ansiedades e angústias diversas,


as quais estão relacionadas ao caráter destas fantasias primitivas, dotadas de
conteúdos delirantes (Riviere, 1986).

Como exemplo, podem ser mencionadas as fantasias da criança de que


o objeto externo – seio, nos primeiros meses de vida – é mau e persecutório, já
que não a gratifica sempre que ela deseja. Esta frustração, por sua vez,
13

ocasiona explosões agressivas por parte da criança, pois ela precisa se vingar
deste seio ruim. Para realizar esta vingança, a criança utiliza todas as armas
disponíveis, tais como os dentes, unhas, e até mesmo excreções.

O controle dos esfíncteres que, concomitantemente, está ocorrendo


neste período, é usado também para o controle dos excrementos nos ataques
à mãe. A criança sente como se estivesse expelindo um objeto perigoso de seu
mundo interno e projetando-o no objeto externo.

Concomitantemente, também existe a imagem de um seio bom, o qual


atende a todas as necessidades da criança. Esta divisão do seio é necessária
para a proteção deste seio bom, pois, desta forma, todos os ataques
agressivos são dirigidos ao seio mau, preservando o bondoso. O seio mau é
então sentido, nas fantasias infantis, como se estivesse dilacerado, reduzido a
fragmentos; enquanto o bom permanece íntegro, completo.

2.7 A introjeção e a projeção

A vida fantasmática auxilia o sujeito na formação da impressão de seu


mundo externo e interno, através dos processos de introjeção e projeção
(Klein, 1986). Estes mecanismos são os determinantes no esta belecimento
dos objetos bons e maus dentro no mundo interno da criança. Eles atuam de
diversas maneiras, baseados nos impulsos instintivos, e são determinantes nos
processos de formação do ego e superego, ou seja, na formação da
personalidade (Heimann, 1986).

Portanto, esta formação ocorre através das fantasias introjetivas e


projetivas, as quais determinam a relação do sujeito para com seu mundo
externo. Durante toda a vida, a introjeção e projeção continuam presentes nos
processos de adaptação do sujeito, em seus progressos e derrotas.

Ambas têm suas origens nos instintos orais (o engolir e o cuspir), a partir
dos quais as relações maduras vão se desenvolver com as ações de dar e
receber, a função de procriação e a criatividade.

A introjeção corresponde ao mecanismo primitivo do bebê de introjetar


todos os objetos – começando pelo seio materno, seguido pelo polegar, por
brinquedos, etc. A este seio é atribuído poderes sobrenaturais de onipotência
tanto para o bem quanto para o mal, já que ele é capaz tanto de uma
14

gratificação infinita, quanto de uma frustração imensa (quando não satisfaz a


criança no momento em que ela deseja). Quando o seio é visto como
gratificador, todos os sentimentos bons são associados a ele; da mesma forma,
quando é visto como mau é o depositário de todos os sentimentos destrutivos.

Aos posteriores objetos que também são sugados pela criança são
atribuídos os mesmos poderes do seio, uma vez que, em suas fantasias
imaginativas, estes objetos o substituem. Já a projeção tem sua origem nas
identificações projetivas que a criança de tenra idade faz em suas fantasias.
Como ela ainda não estabeleceu a distinção entre o seu corpo e o corpo de
sua mãe, ela percebe este como um prolongamento dela mesma.

A genitora passa a ser, desta forma, a representante da própria criança,


o que justifica que falemos em uma identificação projetiva. Na projeção
encontram-se mecanismos que eram tanto, originalmente, do mundo interior
quanto outros que eram, originalmente, do mundo exterior. Como exemplos de
fantasias projetivas podem ser mencionados os ataques realizados pela
criança através de seus excrementos, entendidos como armas perigosas, para
com o objeto externo persecutório – seio da mãe, nos primeiros meses de vida.

2.8 A constituição do sujeito: um percurso nas manifestações


fantasmáticas ao longo do desenvolvimento

O primeiro e principal alvo das fantasias primitivas da criança é o corpo


da mãe (Klein, 1963) A criança, em sua vida fantasmática, tem a imagem do
corpo da genitora como algo capaz de lhe proporcionar a mais plena
gratificação, uma vez que este é, em fantasia, o possuidor de que tudo o que
pode provocar-lhe satisfação, tal como o seio, o pênis do pai e ainda os bebês,
possíveis irmãos.

A fantasia, inata na vida da criança, é inicialmente de caráter oral (Klein,


1981), já que Melanie Klein concorda com Freud que a fase oral é a primeira a
se desenvolver logo após o nascimento. As primeiras fantasias a se
manifestarem são as sádicas, originárias da posição na qual o bebê nasce –
esquizo-paranóide – as quais despertam uma imensa ansiedade (Klein, 1963).

Seus eliciadores são, principalmente, voracidade, inveja e ódio. Como


exemplo, podem ser mencionadas as fantasias do bebê de divisão do seio em
15

um seio bom e um seio mau: enquanto o primeiro é o responsável pela


gratificação infinita, o segundo é aquele que frustra infinitamente, já que não
está presente no momento que a criança deseja. Contra este seio mau a
criança inicia uma série de ataques, em forma de fantasias, com suas armas
orais (dentes, mandíbula).

Conforme o interesse da criança desloca-se de fenômenos associados à


boca para outros associados ao ânus, a fase oral perde forças com a
emergência da fase anal, na qual predominam fantasias anais. O caráter das
fantasias permanece sádico, já que a posição esquizo-paranóide ainda é
predominante na vida da criança, porém as armas utilizadas nos ataques em
direção ao corpo da mãe passam a ser excrementos como urina e fezes. Daí
decorre um temor em relação aos mesmos, o qual, embora pareça destrutivo, é
importante para o posterior desenvolvimento.

O bebê agora teme uma retaliação por parte destes excretos, em


resposta aos ataques realizados anteriormente contra eles. A criança
desenvolve então tendências restitutivas em forma de sublimações3, dirigidas a
todos os objetos danificados anteriormente através das fantasias sádicas,
principalmente à mãe. O predominante agora é o temor de ser deixada no
desamparo, devido à destruição anterior da genitora realizada por ela própria.
Estas fantasias reparadoras são extremamente importantes para o
desenvolvimento bem sucedido da próxima fase, a genital, a qual prevalecerá
durante o resto da vida num desenvolvimento saudável.

Outra mudança que ocorre na vida de fantasia é a sua gradual


adaptação à realidade. Até então as crianças não distinguiam o que é real e o
que é fantasiado, já que a vida fantasmática as dominava completamente. Com
a emergência da posição depressiva, as fantasias são ampliadas, elaboradas e
diferenciadas, refletindo o progresso que está ocorrendo no desenvolvimento
intelectual e emocional (Klein, 1986).

Consequentemente, é possível ao bebê a distinção entre seu desejo e o


ato realizado, ou seja, entre a fantasia e a realidade. Esta mudança é devida à
diminuição da severidade do superego e a um aumento do sentimento de
culpa, o qual é proporcional à intensidade do sadismo anterior. Os ataques
sádicos caminham, então, para o desaparecimento. Prosseguindo no
16

desenvolvimento, durante o período de latência a criança passa a reprimir suas


fantasias de uma maneira muito mais severa do que nos períodos anteriores.
Enquanto a criança pequena sofre influência imediata de suas experiências e
fantasias instintivas, a criança do período de latência já as dessexualizou,
assimilando-as de uma maneira diferente (Klein, 1981).

2.9 Fantasias e conteúdos patológicos

Para Melanie Klein (Isaacs, 1986), as fantasias estão presentes tanto em


mentes normais como nas neuróticas, perversas e psicóticas, em todas as
faixas etárias. O que diferencia uma manifestação fantasmática normal de uma
patológica é a maneira como as fantasias são tratadas, os processos mentais
através dos quais são trabalhadas e modificadas e o grau de adaptação ao
mundo real.

O neurótico pode ser considerado diferente na medida em que mostra


mais claramente aquilo que aparece encoberto na mente normal, portanto seu
desenvolvimento não é seriamente prejudicado, apenas a censura não atua de
forma satisfatória. Já o psicótico permanece fixado aos primórdios da infância,
apresentando fantasias típicas da tenra idade em anos posteriores ao
esperado, as quais são extremamente intensas e repletas de conteúdos
angustiantes (Klein, 1996). Pode-se dizer que ele acaba vivendo isolado em
seu mundo de fantasia, já que este domina sua mente de tal maneira que não
permite a entrada da realidade na psique.

Nas fantasias neuróticas apenas uma parte da realidade é reconhecida;


há uma negação da outra parte desta, a qual permanece subordinada a vida de
fantasia, onde a censura não atua (Klein, 1996). Já nas mentes livres de
qualquer tipo de perturbação psíquica – o que é extremamente raro – há um
equilíbrio melhor entre a fantasia e a realidade. Elas não deixam de fantasiar,
porém sua atividade de fantasia é mais bem elaborada, livre de repressões e
está em conformidade com a realidade.

A principal gênese das neuroses patológicas consiste em fixações de


fantasias primárias (fantasias primitivas, pertencentes aos estágios orais e
anais primordiais). Estas fantasias primárias estão relacionadas, em sua
maioria, a conteúdos sexuais, inclusive ao ato sexual dos próprios pais. A
17

fantasia dos pais combinados eternamente no ato sexual – a qual costuma


acontecer em crianças de poucos meses de vida – contribui para a emergência
de quadros psicóticos se for recorrente e acompanhada de intensa ansiedade.

2.10 Fantasias e conteúdos sexuais

Assim como o pai da psicanálise que, desde o início de sua teorização


acerca da vida fantasmática, abordou as fantasias inconscientes sempre
vinculadas a conteúdos sexuais sua seguidora Melanie Klein também ressalta
esta ligação.

Klein concorda com Freud ao conceber a vida como uma luta constante
entre os instintos de vida e de morte, sendo que a sexualidade é o alicerce
para o desenvolvimento do primeiro (Temperley, 2001). A importância do
conteúdo sexual das fantasias pode ser comprovada num estágio posterior da
vida (Klein, 1996). Embora durante a vida adulta as fantasias não sejam
manifestadas tão claramente como nas crianças, elas continuam atuantes na
psique. Seus efeitos inconscientes podem ser vistos em distúrbios sexuais
como a frigidez, a impotência, dentre outros.

Por trás de cada forma de atividade lúdica encontra-se um processo de


descarga de fantasias masturbatórias, as quais operam na forma de uma
contínua motivação para a brincadeira. Quando estas fantasias são reprimidas,
as brincadeiras, por conseguinte, são paralisadas; ao passo que a liberação
fantasmática permite à criança brincar livremente.

Vinculadas às fantasias masturbatórias da criança estão suas


experiências sexuais, as quais encontram também representação nas suas
brincadeiras “uma das importantes conquistas da psicanálise é a descoberta de
que as crianças têm uma vida sexual que encontra expressão tanto em
atividades sexuais diretas quanto em fantasias sexuais” (Klein, 1981).

A liberação destas fantasias masturbatórias é essencial não só para a


atividade lúdica como também para todas as posteriores sublimações (Klein,
1996). Inibições graves tanto nas brincadeiras como em todo o aprendizado da
vida da criança, inclusive no aprendizado da sexualidade, têm sua origem na
repressão destas fantasias. Portanto, uma vida sexual satisfatória depende da
liberação da vida fantasmática, principalmente das fantasias masturbatórias.
18

A autora ressalta que uma interrupção das fantasias masturbatórias


provoca não apenas uma interrupção da atividade lúdica como também
compromete toda a vida futura da criança. Ela pode vir a ter sua capacidade de
sublimação prejudicada e está propícia a desenvolver diversos tipos de
neuroses (Klein, 1981). Esta afirmação pode ser comprovada através da
análise de fobias infantis que têm como alicerce a repressão destas fantasias,
as quais sempre vêm acompanhadas de intensos sentimentos de culpa. Como
exemplo pode ser mencionado o caso do menino Fritz, cuja fobia era um temor
a árvores, ao qual correspondia uma fantasia subjacente: a equivalência do
tronco de árvore ao pênis do pai.
19

3. CONCLUSÃO
20

Referências
Freud, S. (1920). Tres ensaios sobre a teoria da sexualidade.

Heimann. (1986). Certas Funções da Introjeção e da projecção no inicio da


ibnfancia. In M. Klein (Org.), Os progressos da psicanalise (4a. ed.). Rio
de Janeiro: Zahar.

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progressos da psicanalise (4a. ed.). Rio de Janeiro: Zahar.

Jorge. (2007). Teoria e castração. Reverso, 29 (54).

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In M. (Org.), os progressos da psicanalise (4a. ed.). Rio de Janeiro:
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