RESTAURADOS EM MEIO

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RESTAURADOS EM MEIO

À DESILUSÃO

No final do holocausto, alguns eruditos judeus sobreviventes resolveram levar Deus a


julgamento. Sua fé estava abalada por tanto sofrimento e terror, e eles haviam vivido momentos
de dor indescritível. Um dos sobreviventes, chamado Eliezer Wiesel, relata que um dos
momentos de maior dor foi ser obrigado a assistir o enforcamento de um garoto e ouvir atrás
de si uma voz revoltada perguntando: “Onde está Deus? Onde está Deus agora?” Eliezer relata:
“E ouvi dentro em mim uma voz responder: Onde está Ele? Ei-Lo aqui – Ele está pendurado
aqui nesta forca”. Suas palavras eram mais verdadeiras do que ele sabia.
Hoje, por meio do estudo do texto de Lucas 24:13-35, relembraremos algumas lições sobre
como a presença de Jesus em nossa vida fará toda a diferença ao enfrentarmos momentos de
dor e angústia.
“Ao entardecer do dia da ressurreição, dois dos discípulos estavam no caminho de Emaús,
pequena aldeia a cerca de doze quilômetros de Jerusalém. Esses discípulos não haviam
desempenhado papel saliente na obra de Cristo, mas eram crentes fervorosos nEle” (O
Desejado de Todas as Nações, p. 562).
Na sexta-feira, quando as trevas se dissiparam do Gólgota, Jesus gritou em triunfo e deu Seu
último suspiro. Mas aqueles reunidos ao redor da cruz não reconheceram Sua vitória. Enquanto
Cristo estava imóvel, o sol quente espalhou-se sobre Seu sangue derramado. Enquanto
aqueles que esperavam em Jesus lentamente se afastavam da cena, os dedos gelados da
morte se apertaram ao redor de seu coração, e uma dor paralisante os dominou. Mãos aflitas
prepararam Seu corpo frio para o enterro e o colocaram no túmulo. Seu desespero era tão
profundo que ninguém teve o menor pensamento de ressurreição. Quando na madrugada do
terceiro dia as mulheres encontraram o túmulo vazio, ainda ninguém suspeitou de ressurreição.
Parece que eles não acreditaram mesmo depois que os anjos anunciaram que Ele havia
ressuscitado. E quando Pedro inspecionou o túmulo vazio, em vez de acreditar, ele foi embora
pensando no que teria acontecido com o corpo de Cristo.
Na verdade, todos aqueles que haviam seguido a Cristo ainda estavam em desespero naquela
tarde, embora tivessem ouvido trechos sobre o túmulo vazio. Dois deles estavam a caminho de
uma aldeia chamada Emaús, localizada a uma curta distância de Jerusalém.
I - Um Deus compassivo que Se aproxima
“O próprio Jesus se aproximou” (v. 15)
Emaús era uma cidade sem expressão. Aqueles discípulos eram desconhecidos. Imagine
quantas pessoas com mais importância aos olhos humanos poderiam receber as notícias por
meio do próprio Jesus! Nosso Senhor ressuscitado entendeu perfeitamente a confusão em seu
coração. O Cristo ressuscitado conhecia não apenas sua localização geográfica, mas também
a dor de sua alma. O onisciente Salvador entendeu!
A palavra onisciente soa tão cósmica e fria, mas o conhecimento de Jesus sobre Seus
seguidores é terno e pessoal. Como escreveu o salmista: “Sabes quando me assento e quando
me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu
deitar e conheces todos os meus caminhos” (Sl 139:2, 3). Podemos nos sentir insignificantes e
sozinhos, mas quando vemos Jesus recém-saído do trauma cósmico de morte e ressurreição
monitorando os passos e os batimentos cardíacos de dois discípulos desesperados, sabemos
que também somos conhecidos e amados.
Aqueles eram discípulos desconhecidos para nós, mas amados e queridos por Jesus. Ele
sempre Se aproxima do sofredor. Eu não sei exatamente em que momento você se encontra,
quais circunstâncias cercam sua vida hoje, mas o que era verdade para aqueles discípulos
ainda é verdade hoje: Jesus sempre Se aproxima de corações sofredores.

II - Nossa visão é limitada


“Naquele mesmo dia” (v. 13)
Aquele dia era o domingo da ressurreição, dia de festejar a vitória na cruz, dia de boas-novas,
mas na vida daqueles discípulos só havia dor e dúvidas. As boas notícias pareciam delírios.
Eles tinham todos os motivos para sorrir, mas estavam chorando. As boas notícias da
ressurreição não eram tão boas assim para eles.
Jesus poderia ter Se identificado imediatamente, mas não o fez. Ellen G. White nos diz a razão:
“Houvesse primeiro Se manifestado a eles, e seu coração teria ficado satisfeito. Na plenitude
de seu gozo, não teriam ambicionado nada mais. Mas era-lhes necessário compreender os
testemunhos dados a respeito dEle pelos símbolos e profecias do Antigo Testamento. Sobre
estes devia estabelecer-se sua fé” (O Desejado de Todas as Nações, p. 563).
Quanto mais Jesus abria a Palavra, mais rápido a pulsação deles acelerava. O estranho havia
estabelecido que o sofrimento e a morte não eram obstáculos para Jesus ser o Messias e, de
fato, tornou a afirmação de Jesus de ser o Messias mais confiável e convincente. O verdadeiro
Messias teve que sofrer! Sua confusão e depressão derreteram como gelo diante do sol. As
Escrituras estavam vivas para eles mais do que nunca.
*Para aqueles discípulos, a maior dor era a aparente indiferença de Deus, pois eles esperavam
que Jesus fosse o libertador do jugo romano, e agora, para eles, Jesus estava morto, e Deus
não havia feito nada para impedir. Nos momentos de dor, a maior angústia muitas vezes é a
aparente indiferença de Deus. Quantas vezes não ouvimos alguém nos perguntar: Por que
Deus não responde, por que Ele não age?
Jesus então aparece e faz uma pergunta intrigante: “O que é que vocês estão discutindo pelo
caminho?” É claro que Jesus sabia sobre o que eles estavam conversando, mas não parecia
que era sobre a cruz, pois, para Jesus, o assunto da cruz era motivo de glória e alegria, mas,
para eles, era motivo de decepção e angústia. Muitos dos nossos problemas são para nós
motivo de angústia e desespero, mas, para Jesus, é o início das grandes oportunidades e a
possibilidade de a glória de Deus ser vista em nossa vida.
Para um jovem, o final de um namoro pode ser motivo de dor; para Deus, uma oportunidade de
livrá-lo de um mau casamento. Para um homem de negócios, um empreendimento frustrado
pode ser motivo de desânimo; mas, para Deus, a oportunidade de livramento de um mau
negócio. Muitas vezes, a dor nos impede de ver que os grandes sonhos de Deus estão se
cumprindo em nossa vida.
Para eles, a cruz era um motivo de vergonha e rejeição. Porém, para Jesus, era o caminho para
a glória e a maior demonstração que poderia ser dada pelo Céu do quanto Deus ama a
humanidade, de como Deus sabe que sofremos, de como Ele entende nossa dor, e, apesar de
nesta vida não explicá-las, Ele as entende.
Em 1967, Joni Eareckson era uma adolescente linda e atlética. Mas ela sofreu um terrível
acidente de mergulho que a deixou tetraplégica. Ela conta sua história com tocante
honestidade, inclusive suas épocas de amargura, ira, rebeldia e desespero, e como,
gradativamente, por meio do amor de familiares e amigos, ela chegou a confiar na soberania
de Deus e construir uma nova vida de pintura com a boca e conferências públicas sobre a
bênção de Deus. Certa noite, mais ou menos três anos depois do acidente de Joni, Cindy, uma
de suas amigas mais chegadas, assentada ao lado da cama de Joni, falou-lhe de Jesus,
dizendo: “Ora, ele também ficou paralisado”. Não lhe havia ocorrido antes que na cruz Jesus
sofreu dor parecida com a dela, ficando incapaz de Se mover, praticamente paralisado. Ela
achou esse pensamento profundamente confortador.
Na cruz, Cristo ficou paralisado pela extrema dor dos nossos pecados.

III - Atitude humana diante da dor


“Fez ele menção de passar adiante [...]. Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina” (v. 28,
29)
Muitas vezes dizemos: já é tarde; não tem mais jeito. Aqueles discípulos se viram cercados pela
noite, mas disseram: “já é tarde; fica conosco”. Quando fica tarde, quando a noite chega,
quando as trevas cercam nosso casamento, nossos negócios, nossos filhos, nossa saúde,
podemos reagir de duas formas: podemos dizer “já é tarde, não tem mais jeito” ou dizer “fica
Jesus!” E a presença de Jesus vai espantar as trevas da dor.
No Oriente Médio, a atitude de convidar alguém para casa é um costume que culturalmente
tem alguns significados. Na maioria das vezes, a comida é escassa se alguém é convidado.
Por isso, tem que ser alguém importante, e o momento da refeição é um momento importante
para criar laços e vínculos com a família que convidou.
Eles não reconheceram Jesus na estrada. Eles O reconheceram apenas em casa, ao redor da
mesa, pois, para eles, Jesus não era apenas um andarilho vindo de Jerusalém. O fato de O
terem convidado para casa mostrava que eles queriam que aquele aparente desconhecido se
tornasse um amigo e fizesse parte do convívio familiar
Cristo não foi reconhecido por eles na simples caminhada ao lado deles no caminho de Emaús,
mas no convite para o círculo familiar. Muitos não conhecem Jesus hoje, pois tem uma relação
apenas superficial. No momento em que você permitir que Ele conduza sua vida financeira,
dirija seus negócios em seus mínimos detalhes, quando você O convidar a fazer parte de sua
família e pedir para que Ele administre seus relacionamentos, então você O reconhecerá e
sentirá o coração aquecido como os discípulos de Emaús sentiram.
Jesus certamente esperava um convite dos discípulos de Emaús, mas não forçaria Sua
presença. Deus deu aos homens o maior e mais perigoso dom do mundo, o dom do livre-
arbítrio; e podemos utilizá-lo para convidar Cristo para entrar em nosso coração ou para deixá-
Lo passar adiante.

Parecendo querer ir mais longe, Ele pôs à prova as verdadeiras intenções dos dois discípulos.
Felizmente, os dois discípulos reconheceram sua oportunidade e abraçaram-na. O texto diz
que eles “o constrangeram” a ficar. Constranger é mais forte que convidar. Constranger é fazer
o que Jacó fez naquela noite em que lutava com o Anjo: “Não te deixarei ir se não me
abençoares” (Gn 32:26). Você pode adivinhar a resposta de Jesus: “E entrou para ficar com
eles”. Jesus não recusa jamais um convite sincero. Sua promessa é: “Entrarei em sua casa, e
cearei com ele, e ele, comigo” (Ap 3:20).
Cleopas e seu companheiro no caminho de Emaús não perceberam que era Jesus que estava
andando ao lado deles, mas isso constituía uma realidade. Esse mesmo 25 Jesus está andando
ao nosso lado, pois “não está longe de cada um de nós” (At 17:27). Além disso, Ele prometeu:
“De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13:5).
Duas almas foram deixadas em chamas no escuro em Emaús. Jesus Se foi, mas eles sentiram
Sua presença. Caso contrário, eles não teriam corrido de sua mesa de volta para Jerusalém
com suas notícias dinâmicas. Palestinos sensatos não viajavam por estradas solitárias à noite
por medo de ladrões e assaltantes, mas os dois discípulos não conseguiam guardar suas
notícias para si mesmos. Eles se levantaram naquela mesma hora e voltaram para Jerusalém.

Conclusão
Talvez por causa das dores e sofrimentos que enfrentou em algum momento da vida você tenha
decidido se afastar dos caminhos de Deus. Hoje é o dia de sentir o Divino Companheiro ao seu
lado convidando você a permitir que Ele transforme todas as suas dores em esperança e
perspectiva de vida e paz.
Hoje é o dia de retornar para os braços Daquele que sempre esteve ao seu lado, mesmo quando
você não conseguia enxergar ou perceber Sua presença. Hoje é o dia de permitir que Ele entre
mais uma vez e habite eternamente em seu coração.
Neste exato momento, Cristo sabe onde estamos. Ele conhece a geografia de nossas vidas por
dentro e por fora. Ele conhece a temperatura de nossas almas. Ele sabe se há gelo ou fogo.
Qualquer que seja nosso estado, Seu método é o mesmo – encontrar-nos onde estamos com
Sua própria Pessoa enquadrada no belo contexto de Sua Palavra.
A verdade vivificante e revigorante é que Cristo sofreu e morreu por nossos pecados “segundo
as Escrituras”. E então, no terceiro dia, Ele ressuscitou dos mortos “segundo as Escrituras”
(1Co 15:3, 4).
Em 1855, a doença conhecida como peste negra se espalhou pela Europa, e as pessoas
contagiadas tinham que ser isoladas do convívio dos outros familiares. Em uma das casas, uma
garota contagiada foi isolada, o que causava dor à família, especialmente à sua mãe. Um dia,
a mãe foi visitá-la e, separada por uma cortina, ouviu a filha perguntar: “Por que minha mãe não
vem me ver? Onde ela está?” Dominada por seu amor, a mãe correu e a abraçou, selando seu
destino com o da filha.
Neste mundo de dor e sofrimento, Jesus sempre ouve o clamor de Seus filhos. Na cruz, Ele
mostrou que nossa dor e sofrimento são entendidos pelo Céu e que nosso destino está selado
com o Dele.
Hoje nosso caminho pode nos conduzir a “Emaús”. Talvez estejamos no vale do desânimo ou
atravessando o áspero trilho da dor. Se isso acontecer, podemos estar certos de que Jesus Se
acha bem perto, embora nossos olhos estejam “fechados” e não possamos vê-Lo.
Apelo
Hoje eu gostaria de convidar aquelas pessoas que estão atravessando um momento de dor e
desânimo. Talvez as pessoas que cercam você não percebam o caminho solitário em que você
se encontra, mas se você deseja permitir que o Jesus do caminho de Emaús caminhe ao seu
lado, se você deseja que Ele entre em seu coração e em sua casa, deixe de ser apenas um
desconhecido ao longo do caminho e torne-se um amigo íntimo e presente. Quero convidá-lo a
colocar-se em pé. Eu quero orar por você.

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