Proposta 10 - Uberização do trabalho

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Proposta: A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos

construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo


em modalidade formal da língua portuguesa sobre o tema “IMPACTOS DA
UBERIZAÇÃO DO TRABALHO NA SOCIEDADE BRASILEIRA” apresentando proposta
de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de
forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Texto 01 - Uberização do trabalho: o que é e quais suas consequências

O conceito de uberização do trabalho pode ser definido como um novo modelo


de trabalho, que, na teoria, se coloca como mais flexível, no qual o profissional
presta serviços conforme a demanda e sem que haja vínculo empregatício.

Exemplo disso são os motoristas de aplicativos, que prestam serviços para


determinadas plataformas, mas sem que haja uma regulamentação efetiva e que
garanta os seus direitos trabalhistas.

Esse modelo de trabalho é defendido por algumas empresas, especialmente as de


tecnologia. O argumento é que ele oferece mais flexibilidade para ambas as partes.
Nesse contexto, o profissional seria “o seu próprio chefe” e responsável pelo
gerenciamento do seu tempo (ou seja, ele é quem define quantas horas irá trabalhar).

Apesar de o termo ter sido “emprestado” de uma das plataformas mais famosas, a
uberização do trabalho não se restringe apenas aos motoristas de aplicativos e nem
surgiu com o Uber.

Na verdade, a uberização surgiu com o crescimento do modelo de negócio de


plataforma. As plataformas podem ser definidas como orquestradoras de interações
entre produtores e consumidores e têm três características marcantes:

1. Os prestadores dos serviços intermediados pela plataforma são


terceirizados.
2. Os estoques das plataformas são totalmente ou majoritariamente de
terceiros.
3. As plataformas permitem que facilmente qualquer prestador de serviço
com requisitos mínimos preste serviço na plataforma.
Hoje, diversas empresas de tecnologia seguem esse modelo. Redes sociais como
Facebook, Instagram e Twitter são plataformas. Empresas que atuam no varejo,
como Mercado Livre, Amazon e Alibaba também. Aplicativos de entregas como
Rappi e Ifood também.

Quando surgiu o termo uberização do trabalho no Brasil?

O termo uberização do trabalho, como você já deve imaginar, faz referência ao


modelo de negócio da Uber, que é uma plataforma que reúne motoristas autônomos
e os conecta com passageiros em busca de um meio de transporte. Assim, o
aplicativo retém uma parte do lucro desse motorista e repassa o restante ao prestador
de serviço.

No entanto, a relação de trabalho entre a Uber e os motoristas parceiros não segue


as condições previstas pelo regime CLT. O conceito de prestação de serviço adotado
pela empresa propõe uma relação mais informal e por demanda com os
motoristas cadastrados na plataforma.

Contudo, o que para as empresas pode ser um benefício, para os trabalhadores


representa a perda de direitos trabalhistas e condições mínimas de trabalho, como
uma remuneração e jornada de trabalho mais justa.

No Brasil, para ser mais específico, o termo surgiu junto à chegada da empresa Uber,
em 2014, mas o tema só começou a ganhar força entre 2017 e 2018, enquanto o país
atravessava uma crise econômica e os empregos informais só aumentavam.
Consequentemente, a mídia passou a dar mais notoriedade às questões relacionadas
à precarização do trabalho na era digital.

Características desse novo modelo de trabalho

Quando falamos sobre uberização do trabalho, ou até mesmo sobre a modalidade a


qual esse termo faz referência, logo associamos ao trabalho informal, uma das
principais características desse modelo de negócio.
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, o número de desempregados no
primeiro semestre de 2022 já representava cerca de 12 milhões de pessoas. Esse
cenário contribui para o aumento dos empregos informais, que acaba se tornando a
principal fonte de renda dessa parcela da população.

Isso faz com que cada vez mais pessoas busquem serviços com alta demanda, como
é o caso dos aplicativos de entregas e transportes, e se submetam às condições
propostas pela empresa parceira. Dessa forma, a precificação do trabalho desse
profissional fica a cargo da plataforma e é extremamente volátil, outra característica
da uberização do trabalho.

Ao estabelecer um percentual de ganhos dentro desses aplicativos, as plataformas


impedem que esses trabalhadores definam o preço do seu próprio serviço. Por
consequência, para ter lucro com esse tipo de prestação de serviço, os profissionais
precisam executar uma jornada de trabalho ainda maior do que em empregos
formais.

Economia dos bicos e precarização

Para os trabalhadores informais, os dados não são animadores. Ao invés de


atividades bem remuneradas e com condições mais flexíveis para o profissional, o
que vem acontecendo é o oposto, com destaque para uma jornada de trabalho
exaustiva, baixa remuneração e perda de direitos trabalhistas.

De acordo com o relatório Fairwork Brasil 2021, que analisa as condições de


trabalho nas principais plataformas no país, a pontuação máxima atingida foi de 2
pontos, pelo Ifood e 99, a Uber recebeu 1 ponto e as demais plataformas avaliadas
não obtiveram pontuação.

A pesquisa realizada pelo Fairwork Brasil leva em consideração cinco princípios


que foram desenvolvidos em uma série de workshops na Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e devem ser seguidos pelas plataformas digitais. Veja a seguir quais
são esses princípios:

1. Remuneração;
2. Condições de trabalho;
3. Contratos;
4. Gestão;
5. Representação.

As plataformas foram submetidas a uma avaliação de 0 a 10 pontos. Entretanto,


apenas seriam pontuadas aquelas que conseguissem, efetivamente, comprovar a
implementação dos princípios citados acima. Diante disso, as evidências coletadas
pelo relatório demonstram uma grande preocupação para os trabalhadores de
plataformas.

A pontuação anual do relatório Fariwork Brasil 2021 apontou um cenário precário


no exercício das atividades desses prestadores de serviços, que assim como em
outros países, sofrem com a falta de segurança e de uma rede de proteção
trabalhista.

Regulamentação do trabalho em aplicativos

Apesar de todas as consequências que a uberização do trabalho trouxe para os


trabalhadores informais — sobretudo para aqueles que prestam serviços para as
grandes plataformas digitais — ainda sim é um conceito promissor.

Afinal, é inegável a eficiência das plataformas em promover a intermediação de


diversos tipos de interações entre produtores e consumidores. Não à toa, muitas
delas cresceram vertiginosamente nos últimos anos.

Entretanto, o capitalismo de plataforma tem se mostrado ineficiente em garantir


as condições de trabalho mínimas, como o direito a descanso, remunerações justas
e rede de apoio ao trabalhador em caso de acidentes ou doenças.

Parte disso é causado pela falta de uma regulamentação para o setor. Há, no entanto,
a intenção do governo em regulamentar o trabalho por aplicativo. A proposta prevê
a contribuição para o INSS, mas deixa claro não haver vínculo empregatício entre
os prestadores de serviços e as plataformas digitais.
Porém, somente a regulamentação dessa categoria não resolve todas as questões
relacionadas às consequências da uberização do trabalho, como a remuneração
desproporcional e a falta de uma representação eficaz para a classe, por exemplo.

Benefícios:
- Alternativa para o desemprego;
- Liberdade para escolher horários e tarefas;
- Flexibilidade;
- O trabalhador é o seu próprio chefe;
- Foco em resultados;
- Possibilidade de aumentar a renda;
- Mais tempo para a vida pessoal.

Desvantagens:
- Falta de estabilidade;
- Sem salário fixo;
- Depende do esforço ativo do trabalhador;
- Perda de garantias trabalhistas da CLT;
- Falta de legislação;
- Possível precarização do trabalho;
- Falta de remuneração por hora extra.

Texto 02 - A ideia de liberdade e flexibilidade (trabalhar quando e onde quiser)


propagada pelas empresas constitui, na verdade, a transferência deliberada de riscos
para aumentar o controle sobre os/as trabalhadores/as, pois essa liberdade significa
ausência de salário garantido e incremento de custos fixos que se convertem em
responsabilidade deles. Ademais, em contradição com o discurso da liberdade, as
plataformas e aplicativos empregam ao menos 11 medidas explícitas para controlar
os/as trabalhadores/as, conforme apuramos nos termos de uso, autos de infração,
processos judiciais, entrevistas realizadas e mensagens de celulares analisadas. As
plataformas e os aplicativos têm um claro receituário, que executam cotidianamente:
Primeiro: determinam quem pode trabalhar. Se elas são mais ou menos exigentes
na admissão, isso não muda o fato de que as decisões são tomadas segundo suas
conveniências e interesses (estratégias). Os/as trabalhadores/as estão sempre
sujeitos à aceitação do cadastro na plataforma para poder trabalhar.

Segundo: delimitam o que será feito, seja uma entrega, um deslocamento, uma
tradução, uma limpeza, etc. Os/as trabalhadores/as não podem prestar serviços não
contemplados pelas plataformas e aplicativos.

Terceiro: definem que trabalhador/a realizará cada serviço e não permitem a


captação de clientes. Ou seja, as empresam contratam (ou não) os serviços segundo
suas conveniências. As avaliações dos clientes são apenas um dos instrumentos para
uma decisão de alocação que é a empresa que realiza.

Quarto: delimitam como as atividades serão efetuadas. Isso ocorre nos mínimos
detalhes, seja o trajeto, condições dos veículos, controlando até mesmo o
comportamento do/as trabalhadores/as frente aos clientes.

Quinto: determinam o prazo para a execução do serviço, tanto para as entregas,


quanto os prazos máximos para realização das traduções, projetos e demais
atividades realizadas.

Sexto: estabelecem de modo unilateral os valores a serem recebidos. Essa é uma


variável chave, porque os pagamentos são manipulados para dirigir o
comportamento do/as trabalhadores/as. Essa baixa remuneração converte-se em
importante mecanismo para a imposição de longas jornadas, uma vez que para
sobreviverem, são obrigados a arcar com o conjunto dos custos de manutenção,
comprando ou alugando carros e motos e assim contraindo dívidas que dependem
dos salários percebidos para serem quitadas. De fato, quanto menor a tarifa paga,
mais horas de trabalho serão necessárias para garantir a sobrevivência do indivíduo.

Sétimo: determinam como os/as trabalhadores/as devem se comunicar com suas


gerências. Por exemplo, é vedado a/os entregadores/as acessar o site RECLAME
AQUI, redes sociais, ou quaisquer outros meios que não aqueles estipulados pelas
empresas.

Oitavo: pressionam os/as trabalhadores/as para serem assíduos e não negarem


serviços demandados. No site da Uber, por exemplo, explica-se que o/a
trabalhador/a poderá ser desativado se tiver uma taxa de aceitação de corridas menor
do que a taxa de referência da cidade. Em nossas entrevistas, realizadas em Salvador,
detectamos mensagens de empresa que questiona o entregador que só realizava
pedidos acima de determinada quantia.

Nono: pressionam os/as trabalhadores/as a ficar mais tempo à disposição, por meio
do uso de incentivos. Como relatado por todos os entrevistados, são comuns as
promoções, que atuam como metas com horários a serem cumpridos pelos
entregadores/as, para incitar que trabalhem por mais tempo.

Décimo: usam o bloqueio para ameaçar os/as trabalhadores/as, o que implica


deixá-lo/as sem poder exercer suas atividades por tempo determinado, por inúmeras
razões arbitrárias, sempre determinadas pelas plataformas.

Décimo primeiro: utilizam a possibilidade de dispensa a qualquer tempo e sem


necessidade de justificativa, sem qualquer espécie de aviso prévio, como um
importante mecanismo de coerção e disciplinamento da força de trabalho. Isso
transparece de modo patente nas entrevistas e nos termos de uso de diversas
empresas. Vário/as entregadores/as entrevistados relataram seus desligamentos
arbitrários e mesmo quando recorreram ao suporte da empresa, nenhuma
justificativa objetiva lhes foi oferecida.

Todas essas medidas de controle mantêm os/as trabalhadores/as em


completa instabilidade, convertendo-se o regramento acima descrito em poderoso
instrumental de gestão e controle da força de trabalho. Ao assim procederem, as
empresas utilizam-se desta condição de vulnerabilidade, que é enormemente
potencializada pelas TIC que permitem uma infinidade de dados que podem ser
usados contra a classe trabalhadora.
COMENTÁRIOS SOBRE O TEMA:

- Crescente número de acidentes envolvendo esses trabalhadores (caso do BBB


Rodrigo Mussi, por exemplo); a baixa remuneração, atrelada aos altos custos de
manutenção dos veículos, fazem com que os trabalhadores cumpram mais horas de
trabalho e, portanto, se sobrecarreguem;

- A uberização pode ser vista como um novo modelo de organização, de


gerencialmente e de controle do trabalho, de modo que se assemelha ao serviço
implementado pelo Toyotismo: just in time, pelo fato de que os serviços são
oferecidos a partir da necessidade do consumidor e o trabalhador fica à disposição
dos clientes para oferecer o seu trabalho;

- Vocês podem usar o conceito de Gig economy: é um arranjo alternativo de


emprego, uma forma de trabalho em que as pessoas exercem uma atividade freelancer
e recebem separadamente por cada projeto/serviço. O objetivo é trazer praticidade
para as relações; assim, não há a necessidade de cumprimento de horas fixas ou
relação de subordinação.

- Nicolau Maquiavel foi um pensador florentino que viveu no período renascentista


e escreveu o livro O Príncipe, dedicado a Lourenço de Médici. A respeito do trabalho,
ele dizia que o medo constituía a forma mais eficaz de manipular os
trabalhadores a realizarem seu trabalho. Essa estratégia é utilizada, atualmente,
quando os gestores fazem a microgestão, ou seja, eles controlam as tarefas e não
delegam, supervisionam sem dar espaço para a equipe, cobram resultados de forma
arbitrária e criam um ambiente de insegurança e desespero.

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