Transtornos alimentares

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S729 Souza, Fernanda Pasquoto de.

O que você precisa saber sobre transtornos alimentares e


tem medo de perguntar / Fernanda Pasquoto de Souza, Gisele
Iesbich Vargas e Margareth da Silva Oliveira. — Novo
Hamburgo : Sinopsys Editora, 2022.
62 p. ; 23 cm.

ISBN 978-65-5571-084-7

1. Distúrbios alimentares. 2. Psicopatologia. I. Vargas, Gisele


Iesbich. II. Oliveira, Margareth da Silva. III. Título.

CDD 616.8526

Catalogação na publicação: Vanessa Levati Biff — CRB 10/2454


Fernanda Pasquoto de Souza
Gisele Iesbich Vargas
Margareth da Silva Oliveira

2022
© Sinopsys Editora e Sistemas Eireli, 2022.

Supervisão editorial: Paola Araújo de Oliveira


Assistente editorial: Vitória Duarte Martinez
Capa: Maurício Pamplona
Preparação de originais: Marquieli de Oliveira
Editoração: Juliano Gottlieb

Todos os direitos reservados à


Sinopsys Editora
(51) 3066-3690
atendimento@sinopsyseditora.com.br
www.sinopsyseditora.com.br
AUTORAS

Fernanda Pasquoto de Souza


Psicóloga. Professora do curso de Psicologia da Universidade Luterana do
Brasil (Ulbra). Tutora da Residência Multiprofissional em Saúde Adulto/
Idoso da Ulbra. Editora associada da Revista Interdisciplinar de Psicolo-
gia e Promoção da Saúde: ALETHEIA. Sócia da Sociedade Brasileira de
Psicologia (SBP). Formada em Terapia do Esquema, com credenciamen-
to internacional junto a International Society of Schema Therapy (ISST)
e ao New Jersey/New York Institute of Schema Therapy, Estados Unidos.
Especialista em Terapia Cognitivo-comportamental pela WP. Mestre em
Ciências Médicas: Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Univer-
sidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Gisele Iesbich Vargas


Psicóloga. Pós-graduanda em Psicoterapias Integrativas para Infância e
Adolescência no Centro de Estudos da Família e do Indivíduo de Porto
Alegre (CEFI).

Margareth da Silva Oliveira


Psicóloga. Sócia-fundadora da Federação Brasileira de Terapias Cogni-
tivas (FBTC). Terapeuta certificada pela FBTC. Membro da Associação
Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas (ALAPCO). Recebeu
treinamento avançado em entrevista motivacional com William Miller.
Professora da Graduação e do Programa de Pós-graduação em Psicologia
da PUCRS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Avaliação e Atendi-
mento em Psicoterapias Cognitivas (GAAPCC) e do Laboratório de In-
tervenções Cognitivas e Comportamentais (Labico). Mestre em Psicologia
Clínica pela PUCRS. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). Realizou pós-doutoramento em Ciências
da Saúde na University of Maryland, Baltimore County (UMBC).
AGRADECIMENTOS

Ao querido amigo Fernando Elias José, por acreditar e confiar em nosso


trabalho. Aos nossos familiares, que foram fonte de apoio e suporte du-
rante esta jornada. Aos pacientes, que tornaram possível o conhecimento
clínico empírico e o olhar cuidadoso e empático, de forma a elucidar
questões importantes do conteúdo apresentado.
SUMÁRIO

1 O que é transtorno alimentar?........................................................................ 13

2 Diferenciando obesidade e transtorno alimentar............................................. 19

3 Diferenciando transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno


alimentar........................................................................................................ 21

4 Outros transtornos podem acompanhar os transtornos alimentares?............... 23

5 A origem dos transtornos alimentares............................................................. 25

6 O que acontece no cérebro de quem tem um transtorno alimentar?............... 27

7 Como costuma pensar, sentir e se comportar alguém com


transtorno alimentar?..................................................................................... 29

8 Os transtornos alimentares afetam a todos?.................................................... 31

9 O que deve ser feito para que o indivíduo com transtorno alimentar
obtenha uma melhora significativa?................................................................ 33

10 Quais melhoras podem ser esperadas com o tratamento?................................ 51

11 Se eu ou alguém que conheço tiver um transtorno alimentar,


o que devo fazer?............................................................................................ 53

12 Mitos e verdades sobre os transtornos alimentares.......................................... 55

Considerações finais.................................................................................................. 57

Referências................................................................................................................ 59

Leituras recomendadas.............................................................................................. 61
INTRODUÇÃO

Em um sábado à noite, uma menina falava baixinho, meio que na “surdi-


na”, para outra no meio de uma festa: “Amiga, eu não estou me gostando,
esse vestido tá marcando sim, eu estou enorme, não posso mais comer
nada, que absurdo, estou ridícula”. A outra responde: “Que nada, boba,
você está linda! Olha, a gente já falou sobre essas coisas. Tudo certo, mas
de nada adianta comer o mundo na madrugada todos os dias e depois
fazer dietas loucas de vez em quando! Eu também estou fora do padrão,
mas você sabe, fico dias só na maçã para dar uma desinchada, né?!”.
“Amiga, você pesa 45 kg e tem 1,78 m, você está muito magra, olha pra
mim...”.
Esse é um trecho de uma conversa que escutei em uma festa. É tão
comum que não recebe a atenção e o destaque que, de fato, merece. Duas
amigas falam sobre seus hábitos alimentares, suas percepções de padrão
estético e suas insatisfações com seus corpos. Mas o que isso significa?
Por que é necessário falar sobre isso? O que está nas entrelinhas desse
bate-papo comum que escutamos com tanta frequência por aí? Vamos
começar esclarecendo algumas questões.
Comer é uma necessidade básica do ser humano que atende ao prin-
cípio da sobrevivência e tem como função primária saciar a fome. Como
função secundária, existe a escolha do alimento relacionada com a satis-
fação do prazer, seja pela escolha de alimentos que, quimicamente, nos
dão maior satisfação, seja pelo conteúdo simbólico desse alimento na
vida do indivíduo, ou, ainda, pela compensação de ordem emocional que
o ato de comer proporciona às pessoas.
O hábito alimentar é um conceito bastante amplo e complexo. Para
defini-lo, pode-se pensar em um conjunto de aspectos sociais, culturais
e até mesmo econômicos adotados pelas pessoas, relacionados com suas
percepções a respeito de saúde e corpo, sendo, inclusive, reproduzidos
na sociedade por meio de conceitos construídos coletiva e socialmente.
12 Introdução

E a imagem corporal, do que se trata? A figura mental que se tem


do corpo de um indivíduo está relacionada com o seu tamanho e a sua
forma, que, por sua vez, estão intimamente associados a sentimentos,
experiências e atitudes ligadas a essas características. A imagem que se vê
refletida no espelho não pode ser reduzida a um fenômeno físico apenas,
pois há uma figuração mental baseada em crenças e valores culturais,
construída, em parte, pela interação com o outro e associada às necessi-
dades de aprovação do indivíduo.
Diante do exposto, este livro abordará como tais fatores estão na
base do adoecimento humano relacionado com o comportamento ali-
mentar. Convidamos você a embarcar nesta viagem de esclarecimentos a
respeito dos transtornos alimentares. Você vai entender o real significado
desses transtornos, bem como suas características, como se desenvol-
vem, como identificá-los, quais são os tratamentos envolvidos e como é
possível participar ativamente da recuperação dos hábitos e pensamentos
saudáveis associados à alimentação. Boa leitura!
1
O QUE É TRANSTORNO ALIMENTAR?

O transtorno mental é caracterizado por um conjunto de sintomas que


causam desequilíbrio na regulação emocional, no comportamento e na
maneira como o indivíduo pensa, entende e se coloca diante de uma
situação. Esse desequilíbrio provoca alterações nos funcionamentos bio-
lógico e psicológico das pessoas, causando prejuízos e sofrimento às suas
atividades profissionais e sociais.
Quando se diz que uma pessoa tem transtorno alimentar, isso in-
dica que ela tem uma perturbação persistente na alimentação ou no com-
portamento relacionado com a alimentação, o que tem como resultado
o consumo ou a absorção alterada dos alimentos, comprometendo a sua
saúde física e psicológica e o seu funcionamento psicossocial.
Os transtornos alimentares mais comuns são: anorexia nervosa, bu-
limia nervosa e transtorno de compulsão alimentar (TCA). A seguir, ve-
remos os principais sinais e sintomas desses transtornos, bem como o
seu desenvolvimento e o seu prognóstico segundo a 5ª edição do Manual
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) (American Psychiatric
Association [APA], 2014).

Fonte: CalypsoArt/Shutterstock.com
14 O que é transtorno alimentar?

O que é compulsão alimentar?


Um episódio de compulsão alimentar é definido pela ingestão de uma
quantidade de alimento muito superior à que a maioria das pessoas con-
sumiria em circunstâncias semelhantes e no mesmo período de tempo.
Em geral, esse período está delimitado em 2 horas, e o contexto não
necessariamente se limita a um único lugar. É comum que pessoas com
compulsão alimentar comam grandes quantidades de alimentos em festas
ou em eventos específicos e comam de novo quando voltam para casa.

Anorexia nervosa
A anorexia nervosa tem três características essenciais, descritas a seguir.

y Restrição persistente da ingesta calórica, de modo que o peso


do indivíduo é significativamente baixo para o seu contexto de
idade, gênero, desenvolvimento e saúde física.
y Medo intenso de engordar ou ganhar peso, ou, ainda, compor-
tamentos que interferem nesse ganho.
y Perturbação e/ou distorção na percepção e na autoavaliação do
próprio peso ou da própria forma corporal.

Além disso, a anorexia nervosa pode ser dividida em dois subtipos:

y Restritiva: durante os últimos 3 meses, o indivíduo não se en-


volveu em episódios de compulsão alimentar ou comportamen-
to purgativo, definido como vômito autoinduzido, uso de laxan-
tes ou enemas.
y Compulsão alimentar purgativa: nos últimos 3 meses, o indi-
víduo apresentou quadros recorrentes de compulsão alimentar
com comportamento purgativo.

É comum que haja uma alternância entre esses subtipos, de modo


que a descrição dos sintomas atuais do indivíduo é importante para que
seja possível compreender o seu funcionamento e pensar em formas de
intervenção.
O que você precisa saber sobre transtornos alimentares e tem medo de perguntar 15

A gravidade do transtorno é definida, em grande parte, pela medida


do índice de massa corporal (IMC) da pessoa, que pode ser leve, mode-
rada, grave ou extrema. Junto ao IMC (avaliação do peso em relação à
altura), algumas características clínicas também servem de suporte para
a avaliação da gravidade dessa condição, como a incapacidade funcional,
em que atividades diárias não são mais desenvolvidas e executadas pelo
indivíduo.
Em geral, o indivíduo não procura ajuda profissional diante dos sin-
tomas e de suas severidades. É comum que ele seja levado pelos familia-
res a serviços médicos e psicológicos após a perda acentuada de peso, já
que uma característica marcante do transtorno alimentar é a dificuldade
ou a existência de insight* por parte do indivíduo. O que acontece com
as pessoas que vivem com esse tipo de transtorno é que elas não se dão
conta da gravidade da situação, de modo que não dispõem de estratégias
para solucioná-la. Isso agrava a doença e contribui para a manutenção
dessa condição.

Bulimia nervosa
A bulimia nervosa tem três características essenciais, apresentadas a se-
guir.

y Episódios recorrentes de compulsão alimentar.


y Comportamentos compensatórios inapropriados para impedir
o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos, uso de laxantes,
diuréticos e/ou outros medicamentos, jejum ou exercícios em
excesso.
y Autoavaliação indevidamente influenciada por forma e peso
corporais.

Além da presença desses sintomas, é importante confirmar com a


pessoa se os episódios de compulsão alimentar e os comportamentos
compensatórios estiveram presentes, em média, pelo menos uma vez por
semana, por um período mínimo de 3 meses.

* Insight é a capacidade da pessoa de solucionar problemas com um repertório


original a partir dos seus aprendizados prévios.
16 O que é transtorno alimentar?

A bulimia nervosa tem sintomas que se assemelham muito aos da


anorexia nervosa, como medo e desejo excessivos de ganhar e perder
peso, respectivamente, e alto nível de insatisfação com o próprio corpo.
No entanto, a bulimia nervosa só será diagnosticada se os sintomas não
estiverem presentes apenas em um episódio de anorexia nervosa. É im-
portante destacar que, na bulimia nervosa, não há restrição da ingesta de
alimento como padrão comportamental.
A gravidade do transtorno é analisada com base na frequência dos
comportamentos compensatórios inapropriados e associada ao grau de
incapacidade funcional do indivíduo. A bulimia nervosa pode ser classifi-
cada em leve, moderada, grave ou extrema. Na bulimia leve, tem-se, em
média, 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios por sema-
na; na moderada, tem-se cerca de 4 a 7 episódios de comportamentos
compensatórios por semana; na grave, há a presença de 8 a 13 episódios
de comportamentos compensatórios por semana; na extrema, ocorrem,
em média, 14 ou mais comportamentos compensatórios por semana.
É importante enfatizar que, na bulimia nervosa, a compulsão alimen-
tar tem mais relação com a quantidade anormal de ingesta do alimento
do que com a fissura por um nutriente específico. É comum que a pes-
soa só cesse o consumo quando está desconfortável ou dolorosamente
cheia. Em geral, indivíduos com bulimia nervosa sentem vergonha dos
seus transtornos alimentares e tendem a esconder os sintomas e a manter
os seus comportamentos em segredo, da maneira mais discreta possível.
Outra característica importante desse transtorno que pode apoiar o
diagnóstico é que os indivíduos, com frequência, estão na faixa normal
de peso ou até mesmo com sobrepeso. Nos intervalos dos episódios de
compulsão alimentar, eles diminuem muito o consumo calórico e optam
por alimentos hipocalóricos, evitando alimentos “engordantes” e com
potencial para desencadear a compulsão.
É comum que mulheres com esse transtorno tenham irregularidades
no ciclo menstrual ou até mesmo ausência de menstruação (amenorreia).
Esses fenômenos podem ser explicados por oscilações no peso, deficiên-
cias nutricionais, bem como pelo sofrimento emocional.
Na Figura 1.1, estão compiladas as características comuns aos indiví-
duos que apresentam anorexia e bulimia.
O que você precisa saber sobre transtornos alimentares e tem medo de perguntar 17

BULIMIA
Não são excessivamente
ANOREXIA
magras
Magérrimas
Menos organizadas
Perfeccionistas
Impulsivas
Não costumam comer
ANOREXIA E BULIMIA Crises de comer
Imagem corporal distorcida vorazmente
Fobia por ganho de peso
Alterações das sensações internas

Figura 1.1 Características comuns aos indivíduos com transtornos ali-


mentares.

Transtorno de compulsão alimentar


Os episódios de compulsão alimentar fazem parte do conjunto de sinais
e sintomas do transtorno de compulsão alimentar, mas não são suficien-
tes para tal diagnóstico. Para que se tenha a confirmação desse quadro,
é necessário que esses episódios sejam acompanhados pela falta de con-
trole da ingesta de alimentos, em que o indivíduo não consegue parar de
comer ou não tem controle da quantidade e do que ingere.
Os episódios de compulsão alimentar devem estar associados a três
ou mais dos aspectos a seguir: comer mais rápido do que o normal; co-
mer até se sentir demasiadamente cheio, o que causa desconforto; comer
grandes quantidades de alimentos sem estar com fome; ingerir alimentos,
preferencialmente, sozinho, devido à vergonha da quantidade ingerida;
e sentir-se deprimido, culpado e sem apreço por si mesmo após esses
episódios, que, necessariamente, causam sofrimento intenso a esse indi-
víduo. Além disso, esses episódios devem estar presentes, pelo menos,
uma vez por semana, por um período mínimo de 3 meses, e não podem
ocorrer dentro dos transtornos de anorexia nervosa e bulimia nervosa.
18 O que é transtorno alimentar?

A gravidade do transtorno de compulsão alimentar é avaliada com


base na quantidade de episódios de compulsão alimentar por semana:
leve, 1 a 3 episódios por semana; moderada, 4 a 7 episódios por semana;
grave, 8 a 13 episódios por semana; e extrema, 14 ou mais episódios por
semana.

Fonte: Innart/Shutterstock.com

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