COAF - Comentários Lei 9613
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A presente monografia foi aprovada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em
Direito no curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Banca Examinadora:
_______________________________________________________
Prof. Msc. Andreas Eisele - Orientador
_______________________________________________________
Prof. - Membro
_______________________________________________________
Prof. - Membro
DEDICATÓRIA
Primeiramente, dedico este trabalho aos meus avós Maria, José e Bartolomeu, que
deram a vida aos dois seres mais especiais e importantes da minha vida, e lhes ensinaram, tão
dignamente, a arte de viver e amar.
Aos meus pais, Dulce e Lourival, pessoas únicas, que sempre estiveram ao meu lado
em cada passo de minha história, encorajando-me a viver todos os dias da forma mais
honesta, solidária e feliz possível.
Ao meu irmão Felipe, por me ensinar a ceder, dividir e compartilhar tudo que tenho
com quem precisa mais.
Ao meu namorado Jean, que me mostrou o verdadeiro amor, fazendo-me realmente
acreditar que as diferenças podem somar.
À minha melhor amiga Daniela, que esteve sempre presente em minha vida apoiando-
me e ajudando-me a ser uma pessoa melhor.
À todas as pessoas que cruzaram o meu caminho, e que permanecendo ou não, de
alguma forma acrescentaram algo melhor em mim.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais Dulce e Lourival Amorim, por todo amor, apoio e
ensinamentos carinhosamente dados ao longo dessa jornada.
Ao meu namorado Jean, pelo amor, suporte, incentivo e compreensão por minha
ausência nesse último semestre do curso e auxílio no abstract.
À minha amiga Graziella pela ajuda na elaboração do resumen.
Aos meus amigos da UNIVALI, em especial Eduardo e Leandra, pela grande ajuda e
companheirismo ao longo de todo o curso de Direito.
Aos meus amigos da UFSC, principalmente Célia, Fernanda, Sílvia, Sandro, Cristiane
e Ana do Curso de Ciências Contábeis, pela ajuda com as matérias e toda força e apoio para
que eu conseguisse manter ambos os cursos ao mesmo tempo.
À minha tia Rosana, competente bibliotecária do Tribunal de Justiça, que gentilmente
tanto contribuiu para a realização dessa pesquisa, separando e fornecendo muitas das obras
citadas nesse trabalho.
Ao meu padrinho e grande advogado constitucionalista, Leoberto Baggio Caon, pelas
conversas informais acerca do tema, que certamente contribuíram no desenvolvimento desta
monografia.
Ao honrado Procurador de Justiça Paulo Antônio Günther, atual Subprocurador-Geral
do Ministério Público, pelos ensinamentos cedidos ao longo desses três anos de estágio, bem
como pelo auxílio e colaborações para a realização dessa monografia.
Ao Doutor Gilberto Callado de Oliveira, ilustre Procurador de Justiça, quem iniciou a
orientação desse trabalho e que por motivos de estudo no exterior precisou se ausentar.
Ao meu orientador Mestre Andreas Eisele, digno Promotor de Justiça, por toda
paciência, atenção, auxílio e pelas imensuráveis contribuições feitas para a concretização
desse trabalho.
“A injustiça, senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o
bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no
coração das gerações que vêm nascendo a semente da
podridão, habitua os homens a não acreditar senão na
estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a
desonestidade, promove a venalidade [...] promove a
relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas
formas.” (Rui Barbosa)
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................... 9
ABSTRACT...................................................................................................... 10
EXTRACTO..................................................................................................... 11
LISTA DE ABREVIATURAS........................................................................ 12
LISTA DE EXPRESSÕES LATINAS........................................................... 13
INTRODUÇÃO................................................................................................ 14
1 A HISTÓRIA, ORIGEM, CONCEITUAÇÃO E FASES DA LAVAGEM 17
DE DINHEIRO E OS REFLEXOS DA LAVAGEM NO SISTEMA
ECONÔMICO NACIONAL...........................................................................
1.1 BREVE HISTÓRICO........................................................................................ 17
1.2 A EXPRESSÃO LAVAGEM DE DINHEIRO E A SUA CONCEITUAÇÃO 19
1.2.1 A Lavagem de Dinheiro e as Organizações Criminosas.............................. 20
1.2.2 Os principais ramos do Crime Organizado................................................... 22
1.3 TIPIFICAÇÃO LEGAL..................................................................................... 23
1.3.1 O bem jurídico tutelado................................................................................... 24
1.3.2 Sujeitos do Delito.............................................................................................. 26
1.3.3 A natureza econômica da lavagem de dinheiro............................................. 27
1.4 AS FASES DA LAVAGEM DE DINHEIRO................................................... 27
1.4.1 A Ocultação...................................................................................................... 28
1.4.2 A Dissimulação................................................................................................. 29
1.4.3 A Integração..................................................................................................... 30
1.5 OS RAMOS MAIS VISADOS NAS OPERAÇÕES DE LAVAGEM DE 31
DINHEIRO........................................................................................................
1.6 OS REFLEXOS DA LAVAGEM NO SISTEMA ECONÔMICO 32
NACIONAL.......................................................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 87
ANEXO - A....................................................................................................... 92
A 1: Pesquisa sobre a abrangência da Lei 9613/98....................................... 93
A 2: Pesquisa sobre a aplicabilidade da Lei 9613/98.................................... 95
A 3: Pesquisa sobre a constitucionalidade da Lei 9613/98........................... 98
ANEXO – B....................................................................................................... 101
B 1: O Mapa mundi do crime organizado..................................................... 102
B 2: As organizações criminosas com presença no Brasil............................ 103
B 3: Os paraísos fiscais.................................................................................... 104
B 4: As principais origens do dinheiro lavado............................................... 105
B 5: Os principais destinos do dinheiro lavado............................................. 106
9
RESUMO
ABSTRACT
Money laundering is a very intricate and dynamic process where the criminal agent – over a
series of actions – apparently ‘makes licit’ money obtained from other criminal activities. The
organized crime and other violators benefit from the outcome of this illegal operation.
Looking forward to inhibit money laundering, the United Nations have sponsored the 1988
Vienna Convention Against Illicit Traffic in Narcotic Drugs and Psychotropic Substances.
Brazil ratified this Convention on June 26th, 1991, committing to characterize the crime in the
country. Since then, it has adopted the concept of ‘second generation’ money laundering,
which determines a list of anterior crimes. These anterior crimes are listed on Article 1, Law
n. 9,613/98 (Money Laundering Act): illicit traffic of narcotics or similar drugs; smuggling or
trafficking of firearms, ammunition, or materials destined to its production; extortion by
means of kidnapping; crimes against the National Treasury; crimes against the Public
Administration; crimes executed by criminal organizations; terrorism and its financing; and,
crimes committed by private persons against the foreign public administration. The limitative
list of anterior crimes does not contemplate all harmful crimes to the social-economic order,
reason why it is necessary its urgent alteration, so that other grave unmentioned crimes by the
Money Laundering Act can be contemplated. According to researches the impacts of money
laundering are severe not only in Brazil, but all over the world; its reflexes are more evident
and frightful. As it will be demonstrated, money laundering constitutes a threat to the global
economy; it is urgent, then, the improvement of the legislation in order to combat more
efficiently this crime.
RESUMEN
LISTA DE ABREVIATURAS
Bis in idem - Duas vezes a mesma coisa, repetição. Incidência duas vezes sobre a mesma coisa.
Exempli gratia - Por exemplo. O mesmo que verbi gratia (v.g.) ou (e.g).
In dubio pro reo - A dúvida interpreta-se a favor do acusado. Em dúvida a favor do réu.
Inaudita altera pars - sem ouvir a outra parte - ocorre nas liminares.
Nomem juris ou nomem iuris - Nome de direito. Título do crime. O termo técnico do direito.
Nullum crimen, nulla poena sine legge - Não há crime, nem pena sem lei anterior que os
defina.
INTRODUÇÃO
1
Ainda que do ponto de vista lógico-formal o método de abordagem escolhido seja o indutivo, é preciso,
contudo, não ignorar que, como salienta Silvio Luiz de Oliveira, “a dedução e a indução, tal como síntese e
análise, generalizações e abstrações, não são métodos isolados de raciocínio e pesquisa. Eles se completam na
realidade e só são separados para efeito de estudo e facilidade didáticas. A conclusão estabelecida pela indução
pode servir de princípio – premissa maior – para a dedução, mas a conclusão da dedução pode também servir de
princípio de indução seguinte – premissa menor –, e assim sucessivamente”. OLIVEIRA, Silvio Luiz de.
Tratado de Metodologia Científica. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1999. p. 63.
15
Na segunda parte do trabalho será analisada a origem e evolução da Lei n.º 9.613, de
3 de março de 1998. Em seguida, far-se-á uma breve análise crítica dos capítulos: “Dos
Crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores”, “Disposições Processuais
Especiais” e “Dos Efeitos da Condenação”, correspondentes aos artigos 1 o a 7o, da Lei de
Lavagem de Dinheiro.
Na parte referente ao capítulo “Dos crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens,
Direitos e Valores”, será examinado cada crime antecedente, e posteriormente, serão tecidos
comentários sobre os principais dispositivos processuais da Lei n.º 9.613/98.
As outras formas de crimes de lavagem de dinheiro e as disposições complementares
sobre as penas também serão examinadas. Importantes comentários a respeito dos aumentos
de pena, da colaboração espontânea, da ação penal e do procedimento, da autonomia do
processo, do juízo competente, dos requisitos da denúncia, da constitucionalidade e
contradição a respeito da não aplicação do art. 366, do CPP, além da proibição da fiança e da
liberdade provisória e das medidas assecuratórias constantes na Lei n.º 9.613/98, serão
realizados.
Outros comentários foram feitos acerca da inversão do ônus da prova, da ordem de
prisão e da apreensão e seqüestro dos bens de origem ilícita, bem como, os efeitos específicos
da condenação por lavagem de dinheiro.
Para concluir o segundo capítulo, será examinado o Conselho de Atividades
Financeiras (COAF), que tem por finalidade disciplinar, aplicar penas administrativas,
receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas.
No último capítulo dessa monografia serão feitas observações no tocante a
problemática dos crimes antecedentes, principalmente no que concerne ao rol taxativo
constante na Lei n.º 9.613, de 3 de março de 1998.
Com a finalidade de melhor entender o motivo da existência do rol taxativo dos
crimes antecedentes serão examinadas as legislações sobre a lavagem de dinheiro de primeira,
segunda e terceira geração, originárias da Convenção de Viena de 1988.
Serão apontados no presente trabalho alguns crimes essenciais que ficaram excluídos
da lista dos crimes antecedentes e defendida a adoção da legislação de lavagem de dinheiro de
terceira geração.
Algumas problemáticas relacionadas à dificuldade probatória do crime de reciclagem
de capitais e do crime antecedente, além da relevância da batalha contra esse crime, também
serão objeto dessa pesquisa, que tem por finalidade fornecer sugestões para aumentar a
eficácia da Lei n.º 9.613/98, como passo em direção ao combate da lavagem de dinheiro.
16
2
Cf. MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro. São Paulo, Revista dos
Tribunais, v. 787, p. 479-489, maio 2001. p. 480.
3
Cf. LILLEY, Peter. Lavagem de dinheiro: negócios ilícitos transformados em atividades legais. Tradutor:
Eduardo Lassere. São Paulo: Futura, 2001. p. 16 apud ELIAS, Sérgio Nei Vieira. Lavagem de dinheiro:
criminalização, legislação e aplicação ao mercado de capitais. 2005. f. 58. Monografia (Pós-Graduação na área
de regulação do mercado de capitais) – Instituto de Economia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 09.
18
Denise Frossard leciona que a expressão surgiu em Chicago, nos anos 20, do século
XX, quando o famoso Al Capone adentrou no ramo de lavanderias de roupas para explicar a
imensa fortuna obtida com seus negócios ilegais.4
Com a intenção de imporem certas ‘sugestões’ aos estabelecimentos bancários, foi
criada a Recomendação R(80) 10, que surgiu para vigiar as vantagens obtidas por criminosos,
adotada pelo Comitê de Ministros do Conselho da Europa, em 27 de junho de 1980.5
Desde 1986, o tráfico de tóxicos exibe-se como crime prévio à lavagem de capitais e
no mês de abril do mesmo ano, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou o
Programa Interamericano de Ação do Rio de Janeiro, contra o uso, produção e tráfico de
drogas narcóticas e substâncias psicotrópicas. Ainda em 1986, os EUA editaram a Money
Laundering Act Control, tipificando a conduta como criminosa.6
No dia 20 de dezembro, do ano de 1988, após uma reunião da Organização das
Nações Unidas (ONU), na Áustria, foi criada a Convenção de Viena sobre o tráfico de
entorpecentes e substâncias psicotrópicas. Necessário destacar que a lavagem de capitais
estava, de início, ligada, principalmente, ao crime de tráfico de tóxicos. Roberto Podval aduz
que durante a Convenção de Viena foi expressada profunda preocupação com a questão do
narcotráfico, ressaltando que o comércio ilegal de tóxicos não mostra-se apenas uma ameaça à
saúde, como também às bases da cultura, economia e política da sociedade, além de arriscar
as economias lícitas, a segurança, a estabilidade e, até mesmo, a soberania estatal.7
Roberto Podval, ainda salienta que:
O Brasil ratificou a Convenção em 26 de junho de 1991, comprometendo-se a
criminalizar a lavagem de capitais oriunda do tráfico ilícito de entorpecentes, tendo
estendido o rol de delitos prévios, seguindo o exemplo de outras legislações. A
coordenação de nosso Projeto Legislativo ficou a cargo de Nelson Jobim e a
comissão foi composta por Francisco Assis de Toledo, Miguel Reale Jr., Vicente
Grecco Filho e René Ariel Dotti.8
4
Cf. FROSSARD, Denise. A lavagem de dinheiro e a Lei brasileira. Revista Magister de Direito Penal e
Processual Penal, Porto Alegre, n. 1, p. 22-30, ago./set. 2004, p. 23.
5
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de Dinheiro: A tipicidade do crime antecedente. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 43.
6
Cf. MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro, p. 483.
7
Cf. PODVAL, Roberto. Comentários do debatedor sobre a Lei n.º 9.613/98. In: FRANCO, Alberto Silva
(Coord.); Stoco, Rui (Coord.). Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial. 7. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2001. v. 2. p. 2098.
8
PODVAL, Roberto. Comentários do debatedor sobre a Lei n.º 9.613/98. In: FRANCO, Alberto Silva (Coord.);
Stoco, Rui (Coord.). Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 2098.
19
9
Cf. Receita Federal. Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro.
Disponível em: <https://www.fazenda.gov.br/coaf/portugues/ publicacoes/cartilha.htm)>. Acesso em: 18 set.
2006.
10
Cf. ASCARI, Janice Agostinho Barreto. Algumas notas sobre a lavagem de ativos. Revista Brasileira de
Ciências Criminais. Revista dos Tribunais, São Paulo, n. 45, p. 215-223, out./dez. 2003, p. 215
11
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 33.
12
Cf. SANTOS, Léa Marta Geaquinto dos. O desafio do combate à lavagem de dinheiro. Revista de
Informação Legislativa, Brasília, ano 42, n. 166, p. 221-231, abr./jun. 2005. p. 222.
20
13
VILARDI, Celso Sanchez. O crime de lavagem de dinheiro e o início de sua execução. Revista Brasileira
de Ciências Criminais. Revista dos Tribunais, São Paulo, n. 47, p. 11-30, mar./2004, p. 11-12.
14
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p. 320.
15
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 36.
21
valores que, direta ou indiretamente, são resultado de outros crimes, e a cujo produto
ilícito se pretende dar lícita aparência.16
16
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e obrigações civis correlatas: com comentários, artigo
por artigo, à lei 9613/98. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 92-93.
17
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p. 21.
18
MINGARDI, G. O Estado do crime organizado. São Paulo: Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, 1998.
p. 82-83 apud LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias
dos jogos e de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões. Maio/2005. f. 206. Tese (Doutorado
na área de mídia e conhecimento). Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia de
Produção de Sistemas, Florianópolis, 2005. p. 51.
19
Cf. SOUZA, Percival. Narcoditadura: O Caso Tim Lopes, Crime Organizado e Jornalismo Investigativo no
Brasil. São Paulo: Labortexto, 2002. p. 135 apud LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de
dinheiro: uma aplicação das teorias dos jogos e de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões,
p. 68.
20
Cf. MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro, p. 481.
22
Diante disso, pode-se constatar que toda a organização criminosa depende e pratica a
lavagem de valores. No entanto, o contrário nem sempre acontece, porque nem todos que
lavam dinheiro são integrantes de uma organização criminosa.
21
COYLE, D.. Sexo, Drogas e Economia: uma introdução não convencional a Economia do Século XXI. São
Paulo: Futura, 2003. p. 28 apud LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma
aplicação das teorias dos jogos e de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões, p. 39.
22
Cf. ARBEX JUNIOR, J.; TORGNOLLI, C. O século do crime. São Paulo: Bontempo, 1998. p. 32 apud
LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias dos jogos e de
redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões, p. 73.
23
CASTILHO, Ela Wiecko V. de. Crimes antecedentes e lavagem de dinheiro. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, Editora dos Tribunais, São Paulo, ano 12, n. 47, p.46-59, mar./abril 2004, p. 53.
23
Evidente que por mais que hajam discordâncias acerca dos crimes que mais
produzem o dinheiro a ser ‘lavado’, não existem dúvidas quanto a gigantesca quantidade de
valores ilícitos circulando na economia mundial e seus conseqüentes danos ao planeta.
Segundo Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo, para a aplicação do artigo 1º, da Lei
n.º 9.613/98, não é necessário apenas a uma operação lógica, pela qual limita-se apenas a
verificar se uma situação encaixa-se à descrição abstrata do tipo. Por tais motivos a lavagem
de dinheiro foi analisada, estruturando a pesquisa, a contar do reconhecimento inicial das
condutas socialmente lesivas, passando pelo processo de elaboração do tipo legal, até a
identificação do bem jurídico penal. Diante disso, a interpretação teleológica do tipo da
24
REALE, Miguel. Filosofia do direito. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 57.
25
BARROS, Marco Antônio de. Crimes de lavagem e o devido processo legal. Revista dos Advogados de São
Paulo. Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 5, n. 9, p. 235-246, jan./jun. 2002, p. 238.
24
A respeito do bem jurídico, Jorge de Figueiredo Dias aduz que o bem jurídico seria a
expressão de um interesse, da pessoa ou da comunidade, na manutenção de um certo objeto
ou bem socialmente relevante e por isso juridicamente reconhecido como valioso.28
José Laurindo Souza Netto, ainda assevera:
A noção de bem jurídico então, torna-se de extrema relevância como um dos
critérios principais de individualização e delimitação da matéria a ser objeto da
tutela penal [...]. Seu âmbito de atuação não se restringe ao legislador, quando da
relação dos bens a serem tutelados pela lei penal, mas se estende ao aplicador
quando da interpretação dos tipos penais.29
Ângelo Roberto Ilha da Silva afirma que: “Muito se tem discutido acerca de uma
determinação do bem jurídico no que tange aos delitos de que cuidamos [...]. Fato é que se
cuida que o delito que se cuida é pluriofensivo e o intérprete ao verificar o bem tutelado pela
lei deverá atentar para o delito antecedente [...]”.30
Roberto Podval afirma que inicialmente o combate à lavagem de dinheiro seria para
conter os traficantes de drogas, que seria o grande mal que assola o século, a intenção inicial
seria evitar que os traficantes de tóxicos obtivessem seu fim (o lucro). Portanto, para Roberto
26
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p.
156.
27
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p.
38.
28
Cf. DIAS, Jorge de Figueiredo. Questões fundamentais de Direito Penal revisadas. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1999. p. 63-67.
29
SOUZA NETTO, José Laurindo. Lavagem de Dinheiro: Comentários à Lei 9.613/98. Curitiba: Juruá, 1999.
p. 57.
30
SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da Competência nos delitos de Lavagem de Dinheiro. Revista Brasileira
de Ciências Criminais, São Paulo, n. 36, p. 305-308, out. 2001, p. 305.
25
Podval, o bem jurídico tutelado seria, em princípio, o mesmo bem jurídico ofendido pelo
tráfico de entorpecentes, ou seja, a saúde pública.31
No entanto, após a ampliação da tipificação da lavagem de capitais para outros
crimes, ocorreu uma alteração do bem jurídico tutelado. Encontram-se na doutrina diferentes
correntes, quanto ao entendimento do objeto de proteção dos crimes de lavagem de valores.
Roberto Delmanto e outros doutrinadores, por exemplo, enumeram 5 (cinco)
possibilidades de bens jurídicos tutelados, como: a ordem econômica e o sistema financeiro; a
transparência e a integridade do sistema econômico-financeiro, a administração da Justiça,
ordem econômica e bens juridicamente tutelados pelo tipo penal antecedente; a administração
da Justiça, e; a eficácia do efeito genérico da condenação pelo delito antecedente. Os autores
posicionam-se, adotando, a última opção, no sentido de que a eficácia do efeito genérico da
condenação pelo crime anterior, ocorreria com o confisco do produto do crime.32
Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo salienta que o bem jurídico tutelado seria o
mesmo bem jurídico protegido pelo crime antecedente, a administração da Justiça e a ordem
econômica.33
Marco Antônio de Barros, ainda salienta que:
O bem juridicamente protegido pela Lei de ‘Lavagem’ pode não ser exclusivamente
de natureza socioeconômica, pois, na medida em que o crime antecedente produza
apenas reduzida lesividade ao sistema econômico-financeiro, como sucede em órbita
individual que escapa desse gênero difuso (ex.: extorsão mediante seqüestro), a
proteção será de menor expressão, podendo até confundir-se com o justo interesse
do indivíduo de obter ressarcimento pelos danos sofridos. Logo, não se pode afirmar
que o diploma penal em estudo se limita a reprimir exclusivamente ações criminosas
compatíveis com a macro-criminalidade na atividade criminosa destinada a reciclar
capitais ilícitos, como freqüentemente ocorre em relação aos crimes praticados
contra a Administração Pública.34
31
Cf. PODVAL, Roberto. Comentários do debatedor sobre a Lei n.º 9.613/98. In: FRANCO, Alberto Silva
(Coord.); Stoco, Rui (Coord.). Leis Penais Especiais e sua interpretação jurisprudencial, p. 2099.
32
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 547-552.
33
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p.
72-73.
34
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 99.
35
Cf. PODVAL, Roberto. Comentários do debatedor sobre a Lei n.º 9.613/98. In: FRANCO, Alberto Silva
(Coord.); Stoco, Rui (Coord.). Leis Penais Especiais e sua interpretação jurisprudencial, p. 2099.
36
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de Capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 117.
26
Por fim, entende-se que restará afetada a ordem socioeconômica com a circulação de
bens no mercado que tenham aparência legal, mas originalmente são ilícitos, em decorrência
da natureza econômica do delito.
Segundo o autor De Plácido e Silva, sujeito ativo “é o agente ou autor do delito, que
se indica possível sanção penal”.37
Rodolfo Tigre Maia leciona que o sujeito ativo do crime de lavagem de dinheiro
pode ser qualquer pessoa física, por se tratar de um crime comum, portanto não se exige
nenhuma qualidade especial do sujeito ativo.38
Marco Antônio de Barros, ainda ressalva que as pessoas jurídicas, em princípio, não
serão responsabilizadas por crime de lavagem, apenas haveria a responsabilidade de seu
diretor ou representante.39
Segundo William Terra de Oliveira os crimes da Lei n.º 9.613/98 podem ser
praticados por qualquer um, em razão do legislador não mencionar sujeitos ativos qualificados
e não ter requerido adjetivos especiais do agente.40
Roberto Delmanto e outros doutrinadores concordam, aduzindo que o sujeito ativo
seria qualquer pessoa, com exceção do autor, co-autor ou partícipe condenado pelo crime
antecedente.41
Caso o autor do crime de lavagem de valores seja o mesmo sujeito do crime
antecedente, há, segundo William Terra de Oliveira, um verdadeiro concurso material de
crimes, já que existem objetividades jurídicas distintas.42
O sujeito passivo, de acordo com De Plácido e Silva é “a pessoa particularmente
prejudicada, em seus bens juridicamente reconhecidos e amparados, pela prática do delito”.43
37
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 783.
38
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime. Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9.613/98. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 90.
39
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 100.
40
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de Capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 324.
41
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 552.
42
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de Capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 324.
43
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, p. 783.
27
Para Rodolfo Tigre Maia o sujeito passivo principal é o Estado, pois a ele cabe o
monopólio da administração da Justiça, mas dependendo do crime anterior, podem existir
outros sujeitos lesados.44
O mesmo autor ainda lembra que, além dos problemas internos sofridos, a
preocupação com o desenvolvimento econômico levou países da América Latina a olhar a
lavagem de valores como um entrave para a atração de capital estrangeiro legal e para
apresentarem-se junto aos mercados internacionais. Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo
demonstra outra preocupação, afirmando que no exercício de atividades empresariais, pessoas
do crime organizado, acabam adotando práticas que vêm a tingir a livre-iniciativa, a
propriedade, a concorrência, o consumidor, o meio ambiente, o patrimônio histórico, ou seja,
diversos aspectos de ordem sócio econômica.47
44
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime, p. 90.
45
Cf. CALLEGARI, André Luiz. Direito Penal Econômico e a Lavagem de Dinheiro: aspectos
criminológicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 37.
46
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p. 79-
80.
47
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p.
79.
28
1.4.1 A Ocultação
48
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p.
36.
49
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 81-82.
50
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 320.
29
Rodolfo Tigre Maia cita alguns exemplos de ocultação de valores como depósitos em
contas correntes, aplicações financeiras, operações no mercado de capitais e transferências
eletrônicas em paraísos fiscais.52
Heloísa Beatriz Moura Wolosker afirma ainda que:
Por outro lado, constata-se que a conversão não envolve necessariamente o sistema
financeiro e pode ocorrer através da pura e simples aquisição de mercadorias ou de
negócios. Neste último aspecto, cabe destacar que são preferidas as atividades
empresariais caracterizadas pela intensidade de seu fluxo de caixa, pela ocorrência
de um elevado número de transações em espécie, e certa estabilidade de custos.
Assim, por exemplo, atendem a tais requisitos os cinemas que exibem filmes
pornográficos, visto que as despesas deste negócio (aluguel, taxas de eletricidade
etc.) são quase constantes e independem de o cinema estar cheio ou não. Ativos
ilícitos são introduzidos e camuflados facilmente neste tipo de atividade porque as
vendas adicionais não incrementam as despesas. Os agentes da lei que examinem os
registros contábeis destes estabelecimentos terão dificuldades em provar que o
rendimento legítimo gerado pelo cinema era menor que o registrado.53
1.4.2 A Dissimulação
A segunda etapa é a dissimulação. Rodolfo Tigre Maia afirma que uma vez oculto
ou convertido o capital, trata-se agora de fazê-lo parecer legítimo: “[...] disfarçar a origem
ilícita e dificultar a reconstrução pelas agências estatais de controle e repressão da trilha de
papel (paper trail)”.55
51
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p. 36.
52
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime, p. 37.
53
WOLOSKER, Heloisa Beatriz Moura. Uma investigação sobre os esforços efetivos contra a lavagem de
dinheiro. 2005. f. 34. Monografia do Instituto de Economia. Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, p. 10. (a monografia tem 34 páginas?)
54
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 44.
55
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime, p. 38-39.
30
Dessa forma, nota-se que os ativos ilícitos são espalhados em inúmeras contas, em
diversas empresas e em vários países, sendo que os ramos preferidos para se aplicar o
dinheiro ‘sujo’, nessa etapa, são hotéis, igrejas e instituições que vivem de doações, enfim
todo setor onde é complexo aferir uma receita.
Segundo Janice Agostinho Barreto Ascari, os meios prediletos para se realizar a
dissimulação são a aquisição de títulos ao portador em sociedades anônimas, transferências
eletrônicas via cabo (wire transfer), descontos de cheques, superfaturamento, fraudes
bancárias, utilização fraudulenta de cartões de créditos, malversação de dinheiro público e
outros. Afirma ainda a mesma autora que se pretende através da dissimulação dar aparência
lícita e legítima ao dinheiro, sendo a lavagem propriamente dita.57
Marco Antônio de Barros afirma que é nessa fase, que também é conhecida como
fase de controle ou de estratificação, que há o acúmulo de investimentos, que tem como
objetivo maquiar a trilha contábil dos lucros oriundos do crime anterior.58
1.4.3 A Integração
56
VILARDI, Celso Sanchez. O crime de lavagem de dinheiro e o início de sua execução, p. 18.
57
Cf. ASCARI, Janice Agostinho Barreto. Algumas notas sobre a lavagem de ativos, p. 216.
58
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 44.
59
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 45.
60
CALLEGARI, André Luiz. Problemas pontuais da lei de lavagem de dinheiro. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 8, n. 31, p. 183-200,julho-setembro/2000, p. 186
31
61
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: A tipicidade do crime antecedente, p.
37.
62
CF. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime, p. 40-41.
63
Cf. MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos Essenciais da Lavagem de Dinheiro, p. 482.
64
A Lei n.º 9.613/98, ao tipificar o crime de lavagem de dinheiro, criou o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras – COAF, a Unidade da Inteligência Financeira Brasileira, encarregado de disciplinar, aplicar penas
administrativas, receber, examinar e identificar as operações suspeitas de lavagem de dinheiro e propor
mecanismos de cooperação e de troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à
ocultação ou dissimulação da natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens,
direitos e valores.
32
ilegais; c) bolsas de valores, que visam facilitar a compra e venda de ações e direitos. As
bolsas de valores oferecem condições favoráveis para a realização das operações de lavagem
de capitais, já que elas permitem a efetuação de negócio com características internacionais e
possuem alto índice de liquidez; d) companhias seguradoras, é um outro setor propício para
lavagem de dinheiro. Nelas os acionistas podem usar seu poder de deliberação, realizando
investimentos que possibilitem a lavagem de dinheiro, já os segurados, podem ‘lavar’ valores
através de apresentação de avisos de sinistros falsos ou fraudulentos; e) mercado imobiliário,
que através dele a transação de compra e venda de imóveis e de falsas especulações
imobiliárias. Através do mercado imobiliário, agentes criminosos podem ‘lavar’ capitais com
grande facilidade, pois há uma ausência de controle do setor, o que torna fácil a ação dos
criminosos; f) jogos e sorteios, que são bastante conhecidos como instrumentos para lavagem
de dinheiro. Através de bingos e loterias pode haver a manipulação das premiações com a
realização de gigantesco número de apostas em um específico tipo de jogo, buscando ‘fechar’
as combinações. Em alguns casos, o criminoso não possui a preocupação de ocorrer à perda
de parte dos recursos, contanto que consiga finalizar o processo de lavagem com êxito.65
Por fim, constata-se que existem inúmeras operações que podem auxiliar a lavagem
do dinheiro. Além das citadas, várias outras operações comerciais que podem facilitar a
lavagem de dinheiro, como, por exemplo, a compra e venda de jóias e pedras preciosas ou
objetos de arte.
Em decorrência disso, observa-se que um dos principais motivos que dificultam a
comprovação dos crimes de lavagem de dinheiro seria a ampla gama de instrumentos
financeiros pelos quais os criminosos podem ocultar-se, garantindo a transformação de seus
recursos ilícitos em valores ‘limpos’, distantes de qualquer suspeita.
65
Cf. Receita Federal. Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Cartilha sobre Lavagem de Dinheiro.
Disponível em: <https://www.fazenda.gov.br/coaf/portugues/ publicacoes/cartilha.htm)>. Acesso em: 18 out.
2006.
33
Rodolfo Tigre Maia concorda, e expõe que a circulação em massa de capitais ilícitos
nos sistemas financeiro e econômico nacionais podem gerar graves conseqüências à
sociedade, tais como: a desconfiança nos representantes populares; a desmoralização da
administração pública, com a corrupção dos seus servidores; a impunidade dos criminosos
poderosos, gerando descrédito na Justiça; a sonegação fiscal, que desvia os recursos
tributários necessários à manutenção das políticas públicas, contribuindo para o aumento das
desigualdades sociais; a instabilidade da economia nacional; a crise no sistema financeiro,
quando pela facilidade desses capitais serem transferidos para outros países, tendo como
conseqüência o desemprego e outros [...].68
Assim como salienta Tiago Ivo Odon, acredita-se que os impactos dessas altas
quantias no sistema econômico-financeiro merecem ser foco de atenção da política criminal.
Ao analisar alguns números, nota-se que é assustador constatar dados, como o divulgado pela
Receita Federal, em 2001, que aproximadamente R$ 825.000.000.000,00 (oitocentos e vinte e
cinco bilhões de reais) circulam na economia do nosso país, sem qualquer declaração de
associação a um faturamento tributado (a não ser a Contribuição Provisória de Movimentação
ou Transmissão de valores, crédito e de direitos de natureza financeira – CPMF). É esse
dinheiro ‘sujo’ que influencia o comportamento do mercado, a pressão sobre o câmbio, a
desvalorização da moeda nacional entre outros. O mesmo autor ainda cita, que Michel
66
Cf. LIMA, Vinícius de Melo. Apontamentos críticos à lei brasileira de Lavagem de Capitais: Lei 9613, de
3 de março de 1998. Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul Porto Alegre. p. 06 Disponível em:
<www.amprs.org.br/imagens/LAVAGEM%20CAPITAIS.pdf.>. Acesso em: 12 janeiro 2007.
67
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9613/98, p. 40.
68
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime, p. 99-100.
34
69
Cf. ODON, Tiago Ivo. Lavagem de Dinheiro: os efeitos macroeconômicos e o bem jurídico tutelado. Revista
de Informação Legislativa. Brasília, ano 40, n. 160, p. 333-341, out./dez. 2003. p. 340-341.
35
Neste capítulo será estudada a origem e evolução da Lei n.º 9.613, de 3 de março de
1998, a criação do Conselho de Atividades Financeiras (COAF), bem como, realizar-se-á uma
análise crítica dos capítulos: “Dos Crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e
Valores”, “Disposições Processuais Especiais” e “Dos Efeitos da Condenação”,
correspondentes aos artigos 1o a 7o, da Lei de Lavagem de Dinheiro.
70
Exposição de Motivos da Lei n.º 9.613/98.
71
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 318.
36
Arnoldo Wald salienta que a Lei n.º 9.613/1998 decorreu de projeto do executivo
elaborado pelo Ministério da Justiça, publicado, por determinação do Ministro Nelson Jobim,
em 05 de julho de 1996, recebendo após sua publicação muitas sugestões, tendo como
conseqüência inúmeras emendas, sendo amplamente discutida no Congresso Nacional. 73
Entende-se que, pelos motivos expostos até o momento no presente trabalho e
diversos outros que serão citados posteriormente, existe a necessidade urgente de se examinar
os principais artigos da Lei de Lavagem de Dinheiro, apontando possíveis sugestões para
aumentar a aplicabilidade da Lei n.º 9.613/98 no Brasil.
72
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 18-19.
73
Cf. WALD, Arnoldo. A legislação sobre "Lavagem" de dinheiro. Revista do Centro de Estudos Judiciários.
Brasília, n. 5, p. 33-39, maio/ago. 1998. p. 34
74
BRASIL. Presidência da República. Lei n.º 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de
"lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os
ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.htm>. Acesso em: 22 dez.
2006.
37
Roberto Delmanto e outros autores asseveram ainda, que os núcleos do tipo são
comissivos e que é punida a conduta de ocultar ou dissimular, a natureza, disposição,
movimentação, localização ou propriedade dos bens, direitos ou valores que são originários
(de forma direta ou indireta) de alguns dos crimes elencados no art. 1º, para integrá-lo à
economia, sob a falsa aparência de proveniência legal. 76
Necessário concordar que em uma inicial leitura, o caput do art. 1º representa a peça
fundamental e que as demais condutas descritas no artigo traduzem a idéia central do tipo e
apontam a razão do injusto, que seria reprimir os processos de atribuição de aparência legal de
direitos, bens ou valores que são originários de crimes.77
Ressalta-se que o elemento subjetivo é o dolo, não sendo admitida à modalidade
culposa para lavagem de dinheiro, podendo o dolo ser direto ou indireto.78
William Terra de Oliveira completa, lembrando:
Todos os crimes previstos na lei são dolosos. Em momento algum o legislador fez
menção a figuras culposas, razão pela qual somente será possível o enquadramento
de comportamentos onde a consciência da ilicitude seja patente. O autor somente
poderá ser responsabilizado se tiver consciência de que está ocultando ou
dissimulando dinheiro, bens, direitos ou valores cuja procedência sabe ser
relacionada com os crimes previstos nos incs. I a VII do art. 1°[...]. Em todas as
operações que realize deve saber, ou ao menos admitir (teoria da representação), que
pratica ou concorre com a prática de lavagem de dinheiro.79
75
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 319.
76
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 556.
77
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 319.
78
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 559.
79
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 327.
38
Importante lembrar que foi essa infração penal que impulsionou os acordos
internacionais concernentes à lavagem de dinheiro.
Sobre o tráfico ilícito de tóxicos, Marco Antônio de Barros assinala:
Dentre os crimes antecedentes dos quais derivam a ‘lavagem’, é absolutamente forte
a conexão com o tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins. Sem
dúvida, a raiz marcante dos crimes de ‘lavagem’ é o narcotráfico e a disseminação
do consumo de drogas, sobretudo daquelas mais baratas, que gravíssimas
conseqüências de ordem físico-psíquica causam ao usuário, transformou-se em
inequívoca máquina fomentadora da multiplicação de outros apavorantes delitos. Os
malefícios espalhados são notados em todos os países, em todos os estados, em
todas as cidades, em todos os bairros ou vilas [...].82
80
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 319-320.
81
BRASIL. Presidência da República. Lei n.º 11.343 613, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e
reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm>. Acesso em: 22 abril 2007.
82
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 113.
39
Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo, ao citar Luiz Regis Prado, lembra que, além
da Lei de Lavagem de Dinheiro, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, XLIII, a Lei
83
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 113-114.
84
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 72.
85
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 127.
86
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 556.
40
de Segurança Nacional (art. 20, da Lei n.º 7.170/1983) e a Lei dos Crimes Hediondos (art. 2º,
da Lei n.º 8.072/1990) também fazem alusões ao terrorismo. No entanto, visualiza-se que
apesar de todas essas leis fazerem menção ao terrorismo, jamais foi definida a sua conduta
típica.87
O professor Damásio de Jesus ressalva que no Brasil não existe lei ordinária que
defina o crime de terrorismo, concluindo que se for introduzido no país, bem proveniente de
terrorismo cometido no estrangeiro, não incide a Lei n.º 9.613 de 1998.88
Como efeito disso e por acatamento ao princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX,
CF/88), vários autores89 concluem que apesar da intenção dos legisladores em punir os
terroristas, o artigo 1º, II, da Lei 9613/98, não pode ser aplicado enquanto houver essa lacuna,
pois a mesma inviabiliza a configuração do crime de lavagem de dinheiro oriundo do
terrorismo.
Roberto Delmanto e outros doutrinadores da obra afirmam que até a edição da Lei n.º
10.826/2003, encontravam-se duas figuras, o contrabando (a importação ou exportação de
armas, munições ou materiais próprios para sua produção, proibidos, ou a introdução em
87
Cf. PRADO, Luiz Regis; CARVALHO, Érika Mendes de. Delito político e terrorismo: uma aproximação
conceitual. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 771, p. 421-447, 2000 apud PITOMBO, Antônio Sérgio A. de
Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 113.
88
Cf. JESUS, Damásio de. Ali-babá e o crime de lavagem de dinheiro. Revista do Ministério Público, Rio de
Janeiro, n. 18, p. 25-30, jul./dez. 2003, p. 26.
89
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 330. Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO,
Fábio M. de Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas, p. 556. Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de
Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 113.
90
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 330-331.
41
território nacional, sem a devida autorização de material militar ou armamento que fossem de
uso privativo das Forças Armadas) e o tráfico interno desses bens.91
O mesmo autor esclarece, que o antigo artigo 10 da Lei n.º 9.437/97 tinha por objeto
somente arma de fogo, não incluindo a respectiva munição ou o material para sua produção.
Após a promulgação da Lei n.º 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (lei que revogou a Lei n.º
9.437/97), tanto o tráfico interno quanto o tráfico internacional de armas, acessórios ou
munições, encontram-se tipificado com o nomen juris de ‘Comércio ilegal de arma de fogo’.92
Sobre este inciso, existe crítica do Promotor de Justiça Rodolfo Tigre Maia, que
assinala que não haveria necessidade de arrolar o crime de contrabando no rol taxativo dos
crimes antecedentes, alegando que não só o contrabando de armas, outros tipos de
contrabando ou descaminho, configuram crime contra a Administração Pública, modalidade
que já se encontra prevista na Lei n.º 9.613/98, no inciso V, do artigo 1°.93
Entretanto, há de se concordar com Marco Antônio de Barros, que explica:
Como existem 1135 fábricas de armamento em plena atividade produtiva, sediadas
em 98 países; o próprio contrabando de armas passou a ser utilizado como moeda de
troca nas ações de narcotraficantes. Altíssimas somas são movimentadas gerando
conseqüências para o sistema financeiro e econômico. No Brasil, de acordo com
investigações realizadas pela Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro, grande parte
das armas contrabandeadas que atualmente estão em poder de traficantes das 80
principais favelas e complexos localizados na capital [...] são procedentes do
Paraguai e começaram a ser adquiridas no início da década de 1990. Mas nos
últimos anos, os arsenais dos traficantes têm sido abastecidos também pelos
armamentos roubados em invasões a quartéis das Forças Armadas. 94
De acordo com Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo o inciso quarto da lista dos
crimes antecedentes é o crime de extorsão mediante seqüestro, e esse delito encontra
91
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 557.
92
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 557.
93
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 75.
94
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 133-134.
42
descrição no artigo 159 e parágrafos, do diploma legal, com as respectivas alterações advindas
das Leis n.ºs 8.072/90 e 9.269/96.95
William Terra de Oliveira e outros autores de sua obra afirmam que:
Basicamente o legislador quer evitar que os valores obtidos com a atividade de
seqüestros com fins econômicos possam ser utilizados e desfrutados por seus
agentes. Enquanto crime hediondo (art. 1º, inc. IV, da Lei 8072/90), a extorsão
mediante seqüestro (art. 159, e suas formas, do Código Penal) é mais um delito
grave que guarda relação com a lavagem de dinheiro, principalmente se é praticado
de forma habitual e organizada.96
Marco Antônio de Barros aduz que se reprime a conduta do agente que dissimula ou
oculta a natureza, localização ou origem dos bens direitos ou valores provenientes dessa
espécie de crime contra o patrimônio, que é considerado hediondo. O autor destaca, que a
extorsão mediante seqüestro é configurada quando o criminoso seqüestra alguém com a
finalidade de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como, por exemplo, um
resgate.97
Ela Wiecko V. de Castilho leciona que o inciso que trata da extorsão mediante
seqüestro é equivocado, por ser um despautério a situação em que a lavagem produto do
latrocínio, não é criminalizada, mas a extorsão mediante seqüestro é. Portanto, mostra-se mais
vantajoso mascarar valores provenientes de um delito patrimonial, que teve como
conseqüência a morte da vítima, do que o seqüestro somente, já que é possível punir-se por
lavagem de dinheiro apenas o seqüestrador.98
Apesar de relevante a inserção desse delito no rol taxativo dos crimes antecedentes,
tal atitude do legislador causa estranheza, quando se percebe que outros crimes contra o
patrimônio, tão ou mais importantes, ficaram excluídos desse rol taxativo, como o caso do
latrocínio (roubo seguido de morte, art. 157, § 3°, do Código Penal), receptação e a própria
extorsão indireta.99
95
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p.
113-114.
96
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 331.
97
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 136-137.
98
Cf. CASTILHO, Ela Wiecko V. de. Crimes antecedentes e lavagem de dinheiro. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, Editora dos Tribunais, São Paulo, ano 12, n. 47, p. 46-59, mar./abril 2004, p. 49.
99
Cf. JESUS, Damásio de. Ali-babá e o crime de lavagem de dinheiro, p. 28.
43
Entende-se que no inciso V, do artigo 1º, da Lei n.º 9.613/98, como o legislador não
fez qualquer restrição, de início, estão incluídos todos os delitos descritos no Título XI, do
Código Penal, ou seja, os artigos 312 a 359. No entanto, atenta-se que foi ressaltado a grande
preocupação no controle da corrupção pública, com a tentativa de buscar evitar que os autores
dos crimes contra a administração pública possam lançar mão das ilegais quantias de valores
originárias dos desvios de suas funções.100
Já Roberto Delmanto e demais autores do livro demonstram outra posição:
Não obstante, pensamos que nem todos os crimes contra a Administração Pública
podem ser considerados como crime antecedente do delito de lavagem de dinheiro,
mas apenas aqueles em que o agente tenha proveito econômico, como os de peculato
(art. 312) e corrupção passiva (art. 317), mesmo porque, se assim não for, não
haverá o que ‘lavar’. 101
100
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 331.
101
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 557.
102
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 114.
103
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p.
114.
104
Cf. WALD, Arnoldo. A legislação sobre "Lavagem" de dinheiro, p. 36.
44
Percebe-se que enquanto alguns autores acreditam que houve uma abertura muito
grande do leque de crimes antecedentes, ao se colocar no rol taxativo dos delitos prévios à
lavagem de dinheiro os crimes contra o sistema financeiro nacional, outros asseveram que os
legisladores agiram de maneira correta, mas um pouco tímida.
Dessa forma, constata-se que a forma mais ponderada para a solução, seria adotar a
mesma postura sugerida para os crimes contra a Administração Pública, ressaltada no item
anterior.
No que tange ao inciso VII, deve ser ressaltado que apesar da Lei n.º 9.034/95, em
seu art. 1º, definir e regular os meios de prova e investigação que versem sobre os crimes
executados por quadrilha, bando, organização ou associação criminosa de qualquer tipo, até
105
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 331.
106
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 331.
107
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 114.
45
hoje, assim como para o crime de terrorismo, não há qualquer definição legal do que venha a
ser uma organização criminosa.
Em decorrência da indefinição de organização criminosa, Roberto Delmanto e outros
afirmam ser inaplicável tal inciso.108
Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo concorda afirmando que:
Embora possuam a previsão de quadrilha ou bando no CP (art. 288) e os dispositivos
da lei especial quanto á matéria (Lei 9034/1995 com as alterações da Lei
10.217/2001), tais disposições legais não suprem a necessidade de tipo legal, em
virtude do princípio do nullum crimen, nulla poena sine legge. As vozes dissonantes
à postura, embasada na estrita legalidade (art. 5º, XXXIX, da CF combinado com
art. 1º do CP), trilham caminho sem saída, porque a práxis judiciária pôs de lado a
referida lei processual penal, pela falta de definição típica de organização
criminosa.109
O mesmo doutrinador explica que no momento ainda não se pode falar em crime
organizado como delito prévio à lavagem de dinheiro, o que de certa forma implica em
‘deixar vácuo na política criminal’.110
Infelizmente observa-se que, assim como no caso da inserção do crime de terrorismo
no rol dos crimes antecedentes, os crimes praticados por organização criminosa também são
inaplicáveis no caso concreto, como crimes antecedentes, sendo inutilizáveis os incisos II e
VII, do artigo 1o, da Lei de Lavagem de Dinheiro.
108
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 558.
109
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 116.
110
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p.
117.
111
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p.
117.
46
Atenta-se que ao trazer e distinguir este novo tipo de infração e com a intenção de
combater a ocultação e a dissimulação dos valores produzidos através dos crimes praticados
por particular contra a administração estrangeira, faz-se com que a criminalidade organizada
seja detida, impedindo que esses tipos de criminosos ponham em risco o desenvolvimento
social e econômico do país.113
Rodolfo Tigre Maia expõe que buscando a ampliação das hipóteses de incidência do
crime básico, de forma a alcançar diferentes formas de reciclagem de ativos, foram
identificados três tipos derivados daquele.114
Roberto Delmanto e outros autores da mesma obra esclarecem:
Trata-se de uma conduta mais sofisticada de lavagem, qual seja a reciclagem do
produto do crime antecedente, fazendo com que aquele bem, direito ou valor que
teve sua origem ocultada ou dissimulada, circule, com maior engenhosidade na
112
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 179.
113
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 178-179.
114
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 94-95.
47
115
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 560.
116
SOUZA NETO, José Laurindo. Lavagem de dinheiro: Comentários à Lei 9613/98. Curitiba: Juruá, 1999. p.
98.
117
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 95.
118
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 95-96.
119
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 99.
48
Nota-se que o inciso I, do § 2º, do artigo 1º, descreve algumas ações situadas em
fases mais adiantadas do procedimento de lavagem, pois possuem ligação com a eficaz
fruição dos valores ilegais adquiridos nas atividades ilícitas, previstas no caput do artigo.
Rodolfo Tigre Maia ainda comenta sobre o mesmo inciso:
Destacamos reiteradamente ao longo deste estudo que dentre os efeitos mais
gravosos da ‘lavagem’ de dinheiro encontra-se a infiltração de dinheiro sujo (e, a
fortiori, ganho de controle) na atividade econômica legítima. Para proteger o sistema
financeiro e a ordem econômica, criou-se o presente inciso com intuito de coibir a
etapa da integração e concomitantemente obstaculizar quaisquer outras variantes de
120
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 335.
121
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 335.
122
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 562.
49
123
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 99-100.
124
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 336-337.
125
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 337.
126
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 563.
127
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 338-339.
128
JESUS, Damásio de. Ali-babá e o crime de lavagem de dinheiro, p. 28.
50
Mister concluir que a legislação de lavagem de dinheiro não deveria proceder tal
menção, já que as regras da Parte Geral do Código Penal são aplicadas às leis especiais.
O § 4º, do artigo 1º, traz o seguinte aumento de pena: “§ 4º A pena será aumentada
de um a dois terços, nos casos previstos nos incisos I a VI do caput deste artigo, se o crime for
cometido de forma habitual ou por intermédio de organização criminosa”.
Na ocorrência dos incisos I a VI, se o crime ocorrer de maneira habitual (a
habitualidade criminosa é diferente do crime habitual129) ou por intermédio de organização
criminosa, a pena deve ser aumentada de um a 2/3 (dois terços).
Observa-se, que houve a exclusão os incisos VII e VIII. Sobre a incidência do § 4º e
a exclusão dos 2 (dois) incisos, Roberto Delmanto e outros doutrinadores que compõe sua
obra esclarecem que:
Quanto ao inciso VII, que já prevê a prática das condutas do caput do art. 1º ‘por
organização criminosa’, o aumento de pena constituiria inadmissível bis in idem.
Ressalta-se, ainda, que inexiste definição legal do que seja organização criminosa,
como já referido nos comentários àquele inciso; daí por que entendemos ser
inaplicável nessa parte, enquanto não suprida a lacuna legal, o aumento deste § 4º.
No que tange ao inciso VIII (crimes contra a administração pública estrangeira),
houve aparentemente lapso da Lei 10.467/02, que acrescentou este inciso ao caput
do art. 1º, sem, contudo, alterar seu § 4º. Para que o aumento incida deverá haver
prova segura da habitualidade da prática delituosa.130
129
Crime habitual é a reiteração da mesma conduta de forma a constituir um estilo de vida reprovável.
Exemplos: são o curandeirismo (art. 294 do CP) e o rufianismo. Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra
de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais: comentários à Lei 9.613/98, p. 339.
130
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 565.
131
BRASIL. 5a Turma do Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 19.902, do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul. Relator Ministro Gilson Dipp. Data de Julgamento: 17 de dez. de 2002. Data de Publicação: 10
de março de 2003. p. 256 apud DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio
M. de Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas, p. 565.
132
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 339-340.
51
Assim como a Lei dos Crimes Hediondos e a Lei do Crime Organizado, a Lei n.º
9.613/98 trouxe a colaboração espontânea como ferramenta do combate à lavagem de
capitais. O artigo 1º, § 5º, estabelece que:
[...]
§ 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime
aberto, podendo o juízo deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de
direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as
autoridades, prestando ao esclarecimento que conduzam à apuração das infrações
penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do
crime.
133
Cf. MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro, p. 486.
134
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 203.
135
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 566.
52
Sobre as disposições processuais especiais da Lei n.º 9.613/98, Rodolfo Tigre Maia
observa:
A Lei de regência, aos moldes da legislação penal mais recente, contém um capítulo
com preceptivos especiais de cunho processual penal. Reflexo da ingente
necessidade de reforma de nosso vetusto Código de Processo Penal, tal opção tem
conseqüência ao nível de eficácia temporal de seus preceptivos, assim como na
órbita dos limites concedidos à sua exegese. 138
136
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 348.
137
Cf. FROSSARD, Denise. A Lavagem de dinheiro e a lei brasileira, p. 26.
138
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 108-109.
53
Da mesma forma, é relevante a crítica trazida por Marco Antônio de Barros, no qual
explica que ao trazer as Disposições Processuais Especiais da Lei, o legislador admitiu que as
normas estabelecidas no Código de Processo Penal não atendem mais as exigências das novas
leis penais materiais.140
O art. 2º, inciso I, da Lei n.º 9.613/98 preceitua que: “O processo e julgamento dos
crimes previstos nesta Lei: I – obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos
crimes punidos com reclusão, da competência do juiz singular”.
Diante disso, o procedimento a ser adotado é o ordinário, seguindo os artigos do
Código de Processo Penal.
A ação penal, portanto, é sempre pública incondicionada, sendo privativa do
Ministério Público, no entanto, cabível a ação privada se a pública não restar intentada no
prazo legal (cinco dias se o réu estiver preso e quinze dias se estiver solto, contados da data do
recebimento do inquérito por parte do MP).141
Rodolfo Tigre Maia assevera que:
O chamado rito ordinário dos crimes apenados com reclusão observa as etapas
fixadas nos arts. 394 a 405 e 498 a 502, todos do Código de Processo Penal. A
jurisprudência iterativa de nossas Cortes estabeleceu que no caso desse rito
processual o prazo de conclusão da instrução será de 81 dias. De se ver, todavia, que
este prazo não é rígido e imutável, podendo ser mitigado pelos influxos do princípio
da razoabilidade.142
139
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 353-354.
140
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 207.
141
Cf. BARROS, Marco Antônio de. . Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 208.
142
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 110.
54
Luis Flávio Gomes ainda lamenta a não previsão da chamada defesa preliminar, ou
seja, a defesa anterior ao recebimento da denúncia, seguindo a regra dos crimes de
competência originária, crimes contra funcionário público e outros.143
Está disposto no inciso II: “[...] independem do processo e julgamento dos crimes
antecedentes referidos no artigo anterior, ainda que praticados em outro país”.
Sobre o inciso, Roberto Delmanto e outros justificam:
Dispõe este inciso II que o processo e julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro
(subseqüentes) independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes
previstos no art. 1º, ainda que praticados em outro país. Duas são as situações
previstas: uma o processo por crime de lavagem, outra, o seu julgamento. Quanto ao
primeiro (processo por crime de lavagem), embora não seja indispensável que haja
prova conclusiva da existência do crime antecedente. Deverá o Ministério Público,
portanto, indicar na denúncia pelo crime de lavagem às provas relativas ao delito
antecedente, já que integrante do próprio tipo do art. 1º da Lei 9613/98, as quais hão
de ser objeto da fundamentação do ato decisório de recebimento da denúncia,
constitucionalmente determinada (art. 93, IX). Quanto ao segundo (julgamento do
crime de lavagem), existindo processo penal autônomo em relação ao crime
antecedente, deverá o juiz do processo por crime de lavagem aguardar o julgamento
daquele, evitando-se o risco de proferimento de decisões contraditórias e até
prejulgamento do delito antecedente, com prejuízo à defesa do acusado em relação a
este último.144
O mesmo autor salienta que havendo absolvição do réu, (pelo crime antecedente) por
sentença fundamentada no artigo 386, I, II, III e V145, do Código de Processo Penal ou se
ocorrer abolitio criminis ou anistia do réu, não poderá haver a condenação por lavagem de
dinheiro.146
Marco Antônio de Barros esclarece, por fim, que é precioso reconhecer que o inciso
em questão proporciona um proveitoso efeito prático, ocorre quando o processo e julgamento
do crime antecedente estiver sujeito à jurisdição de outro país, concluindo que a punição
correspondente ao crime de lavagem de capitais não depende da condenação obrigatória dos
sujeitos que perpetraram o crime antecedente.147
143
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 354.
144
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 566-567.
145
Art. 386, CPP: “I – estar provada a inexistência do fato; II – não haver prova da existência do fato; III – não
constituir o fato infração penal”; V (primeira parte) – “existir circunstância que exclua o crime [...]”.
146
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 567.
147
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 211.
55
2.3.7 A Denúncia
O § 1º, do artigo 2º, aduz que: “A denúncia será instruída com indícios suficientes da
existência do crime antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei ainda que
desconhecido, ou isento de pena o autor daquele crime”.
Da mesma forma que qualquer denúncia ou queixa, a inicial pelo crime de lavagem
de dinheiro deverá preencher os requisitos do artigo 41, do Código de Processo Penal, que
são: a) exposição do fato criminoso; b) qualificação do acusado; c) classificação do crime e
quando necessário o rol de testemunhas.
Além disso, Roberto Delmanto e o restante dos autores do mesmo livro comentam
que de forma indireta também deverá atentar para o artigo 43, do CPP, já que o mesmo trata
das hipóteses de rejeição da queixa ou denúncia. 150
148
Cf. FROSSARD, Denise. A Lavagem de dinheiro e a lei brasileira, p. 26.
149
Cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 167-171.
150
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 572-573.
56
Importante lembrar que é necessário que seja bem examinada a justa causa da ação,
pois não havendo uma mínima base probatória a denúncia será rejeitada. Além disso, a lei
exige indícios suficientes e não qualquer suposição vaga e obscura, como será mais
profundamente estudado no capítulo três.
Está previsto no artigo 2º, § 2º, da Lei n.º 9.613/98: “No processo por crime previsto
nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Código de Processo Penal”.
Alguns autores152 defendem a idéia de inconstitucionalidade deste dispositivo, por
demonstrar ofensa ao princípio do devido processo legal.
Sobre a inconstitucionalidade da não aplicação do art. 366, Luiz Flávio Gomes
explica:
Da inconstitucionalidade da proibição: cuida o referido artigo (366) da suspensão do
processo decorrente da citação por edital. A garantia de ser informado o acusado do
inteiro teor da peça acusatória é impostergável (v. convenção Americana sobre os
Direitos Humanos, art. 8º, que tem status constitucional, por força do art. 5º, § 2º, da
CF). Todo o acusado tem esse direito. Faz parte da ampla defesa. É garantia
constitucional, logo faz parte da parte rígida do princípio do devido processo penal.
Não pode, em conseqüência, ser suprimida pelo legislador infraconstitucional.
Conclusão: o art. 2°, §2°, da Lei 9613/98 é mais um exemplo de ‘não-direito’, de
desconhecimento total do legislador dos seus limites. Ganhou vigência com a sua
publicação, mas não possui validez [...].153
151
BARROS, Marco Antônio de. Crimes de lavagem e o devido processo legal, p. 242.
152
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 357. Cf. BARROS, Marco Antônio de. Crimes de lavagem e o devido processo
legal, p. 225. Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de
Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas, p. 575.
153
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 357
57
No entanto, o que mais chama atenção, nessa parte da lei, não é a constitucionalidade
ou não do referido artigo, mas sim a contradição feita pelo legislador, que enquanto no
parágrafo 2° prescreve a inaplicabilidade do art. 366, do CPP, o artigo 4°, parágrafo 3°, prevê
a incidência do mesmo artigo, anteriormente excluído.
Sobre o assunto, o professor Damásio de Jesus disserta tocante à contradição feita,
aduzindo que enquanto o parágrafo 2º, do art. 2º, proíbe a aplicação do artigo 366, do Código
de Processo Penal, o parágrafo 3º, do art. 4º, permite.155
Marco Antônio de Barros alega que apesar de tratar-se de uma medida de efeito
prático positivo para a persecução penal, a segunda parte do parágrafo 4º, contradiz o que
dispõe no artigo 2º, parágrafo 2º, da mesma lei. 156
Imprescindível concordar com Marco Antônio de Barros no sentido de que a exclusão
de um dos parágrafos é necessária, por não poder a lei inicialmente negar a aplicação ao
disposto no artigo 366, do CPP e, no mesmo diploma, afirmar sua legalidade.
Art. 3º, da Lei n.º 9.613/98: “Os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de
fiança e liberdade provisória e, em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade”.
Da mesma forma que o legislador dispôs na Lei de Crimes Hediondos (Lei nº
8.072/90) e na Lei de Combate ao Crime Organizado (Lei nº 9.034/95), o artigo 3º aduz que é
insuscetível de fiança ou liberdade provisória os crimes de lavagem de dinheiro.
No entanto, Roberto Delmanto, Roberto Delmanto Júnior e Fábio M. de Almeida
afirmam que são 2 (duas) as modalidades de liberdade provisória presentes no ordenamento
154
MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro, p. 486.
155
Cf. JESUS, Damásio de. Ali-babá e o crime de lavagem de dinheiro, p. 30.
156
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 227.
58
jurídico brasileiro: uma através da fiança (quando dependendo do crime ser apenado com
detenção ou reclusão, a fiança é arbitrada pela autoridade policial ou judiciária) e a outra, sem
a fiança (quando o magistrado verificar o cometimento do crime por estado de necessidade,
legítima defesa, exercício regular de direito ou estrito cumprimento do dever legal). Ainda há
o caso em que não há as hipóteses da prisão preventiva.157 O mesmo doutrinador completa
que:
Não há óbice em nosso ordenamento constitucional que a lei ordinária estabeleça
casos de inafiançabilidade. Todavia, a vedação da liberdade provisória quando
ausentes os motivos cautelares taxativamente previstos para a prisão temporária ou
preventiva, constitui manifesta inconstitucionalidade.158
No entanto, mostra-se sensato concordar com Marcelo Batlouni Mendroni, pois esse
instrumento seria altamente importante por motivo de garantia da instrução criminal, em
decorrência do perfil da maioria dos sujeitos ativos do delito. O mesmo autor ainda assevera
que: “[...] não há como se pensar em liberdade provisória, com ou sem fiança, a um suposto
criminoso milionário fugitiva da justiça. Quem se envolve com crimes da natureza daqueles
previstos na lei em comento não costuma ter escrúpulos e, abonado que seja, faz com que o
dinheiro compre pessoas e destrua provas”.159
157
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 575.
158
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 575.
159
MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro, p. 487.
160
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 579-580.
59
161
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 128-129.
162
Cf. NASCIMENTO, Rogério Soares do. Ônus de provar a licitude de bens suspeitos de origem criminosa.
Revista Cej - Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, Brasília, n. 5, p. 23-27, maio/ago.
1998. p. 25.
163
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 366.
60
assegurados), por outro lado, havendo a absolvição do mesmo, levanta-se o seqüestro (art.
131, CPP).164
Marco Antônio de Barros lembra que:
Certamente se atribui a tais medidas o caráter provisório enquanto não sobrevier a
sentença transitada em julgado, sendo que a respectiva decisão que determina o
seqüestro ou a apreensão de bens, quando prolatada na fase do inquérito, perderá sua
eficácia se a ação penal não for ajuizada no prazo de cento e vinte dias, contados da
data em que ficar concluída a diligência.165
Sobre as medidas assecuratórias, Rodolfo Tigre Maia conclui que o § 1º, do artigo 4º,
ampliou o prazo de validade das medidas assecuratórias para 120 (cento e vinte) dias, sendo,
portanto, mais consentâneo com a realidade prática dos processos criminais que pedem tais
providências.166
Está disposto no art. 4º, § 2º: “O juiz determinará a liberação dos bens, direitos e
valores apreendidos ou seqüestrados quando comprovada a licitude de sua origem”.
Roberto Delmanto, juntamente com outros doutrinadores da mesma obra, afirmam
que o § 2º preceitua que a liberação dos bens, direitos ou valores apreendidos ou seqüestrados
será determinado pelo juiz, quando restar comprovada que a origem dos produtos é lícita. O
mesmo autor ainda acrescenta que agindo assim o legislador acaba invertendo o ônus da
prova, submetendo o acusado a uma ‘verdadeira probatio diabolica’.167
Entretanto, encontra-se jurisprudência com entendimento divergente: “Tratando-se
de acusação da prática de crime de lavagem de dinheiro, os bens móveis e imóveis do acusado
deverão ser seqüestrados, independente da proveniência ilícita, pois servirão como garantia de
reparação de eventuais danos”.168
O § 3º, do artigo 4º, da Lei, aduz que: “Nenhum pedido de restituição será conhecido
sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz determinar a prática dos atos
164
Cf. CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 365.
165
BARROS, Marco Antônio de. Crimes de lavagem e o devido processo legal, p. 244.
166
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 131.
167
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 579.
168
Tribunal de Justiça de São Paulo. Revista dos Tribunais, n. 779, p. 566 apud DELMANTO, Roberto;
DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas, p.
579.
61
necessários à conservação de bens, direitos e valores, nos casos do art. 366 do Código de
Processo Penal”.
Ainda sobre a inversão do ônus da prova, Marco Antônio de Barros constata que é
impossível deixar de reconhecer, que no que tange à liberação dos bens seqüestrados ou
aprendidos é invertido o ônus da prova. Na medida em que se libera o Ministério Público da
exigência de comprovar a ilicitude do patrimônio, é imposto ao acusado provar a origem legal
dos bens, direitos ou valores.169
Tocante a esse dispositivo é de se concordar com Marcelo Batlouni Medroni, que
afirma que é nesse artigo 4° que residem os melhores e mais eficientes instrumentos para
aplicação da Lei n.º 9.613/98. Além disso, o mesmo autor afirma que o dispositivo não fere o
princípio da presunção da inocência, por esta presunção estar adstrita ao princípio do devido
processo legal, que, no caso em tela, determina a inversão do ônus da prova, por serem
necessários à devida sistemática da lei.
169
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Crimes de lavagem e o devido processo legal, p. 241.
170
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 577-578.
62
ouvirá o Ministério Público, que deve se manifestar em vinte e quatro horas. Cuida-
se medida cautelar inaudita altera pars, valendo o chamado contraditório diferido.
Se a ação penal não for intentada em cento e vinte dias, a medida cautelar perde seu
efeito. Caso acusado venha a ser condenado, haverá o confisco dos seus bens
(cautelarmente assegurados). Caso o acusado seja absolvido, ou extinta a sua
punibilidade, levanta-se o seqüestro (art. 131, do CPP).171
171
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 365.
172
Cf. Tribunal de Justiça de São Paulo. Revista dos Tribunais, n. 779, p. 566 apud DELMANTO, Roberto;
DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas, p.
579.
173
Art. 5º, XLVI, da CF/88.
174
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 137.
175
Cf. FROSSARD, Denise. A Lavagem de dinheiro e a lei brasileira, p. 27.
63
Embora o art. 7º da Lei nº 9613/98 não exija, de forma expressa, que a interdição
prevista em seu inciso II seja motivadamente declarada na sentença, ela, ao contrário
do que ocorre com a perda de bens, direitos e valores do inciso I, mais do que o
patrimônio, atinge a própria liberdade do condenado no que tange à sua atividade
laboral. Afigura-se, assim, inafastável a conclusão de que essa interdição não é
automática; a sua aplicação deve ser expressamente motivada, a exemplo do que
exige o parágrafo único do art. 92, do CP, ao tratar dos efeitos específicos da
condenação.176
A Lei n.º 9.613/98, previu em seu artigo 14, a criação do Conselho de Controle das
Atividades Financeiras – COAF, com a finalidade de “disciplinar, aplicar penas
administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas”
previstas na mesma lei, desde que não haja prejuízo da competência dos demais órgãos.
176
DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais
Especiais Comentadas, p. 582.
177
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 258.
178
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 260-261.
64
179
MEDAUAR, Odete; AMARAL, Marcos. Responsabilidade administrativa: A legislação de “Lavagem de
Dinheiro”. Revista de Direito Mercantil, Malheiros, São Paulo, n. 119, ano 39, p. 86-93, jul./set. 2000. p. 91.
180
Cf. WOLOSKER, Heloisa Beatriz Moura. Uma investigação sobre os esforços efetivos contra a lavagem
de dinheiro, p. 21.
181
Cf. BRASÍLIA. Conselho da Justiça Federal. Uma análise crítica da lei dos crimes de lavagem de
dinheiro. Brasília, Série de Pesquisas do Centro de Estudos Judiciários - 9, 2002. p. 100.
182
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 356-357.
65
No presente capítulo será feita uma análise de toda a problemática dos crimes
antecedentes e do rol taxativo constante na Lei n.º 9.613/1998. Além disso, estudar-se-á as
legislações sobre a lavagem de dinheiro de primeira, segunda e terceira geração, bem como, a
importância da inserção de alguns crimes importantes na lista dos crimes antecedentes, a
dificuldade probatória desse crime e a relevância do combate à lavagem de dinheiro.
183
FROSSARD, Denise. Lavagem de Dinheiro e a Lei Brasileira, p. 22.
184
Crime previsto no artigo 180, do Código Penal: “Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira,
receba ou oculte: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa”.
66
de um crime antecedente, porque é justamente nesse crime que se terá a origem do objeto
material sobre o qual recairá a conduta típica respectiva.185
Sobre a lavagem de dinheiro e a receptação, Rodolfo Tigre Maia assevera:
Historicamente, o problema foi enfrentado através da utilização do tipo penal da
receptação e do perdimento dos produtos do crime. Hoje a questão assumiu um grau
de complexidade que tornou obsoleta, insuficiente e acanhada uma proteção desta
natureza. Com efeito, as profundas mudanças ocorridas nas técnicas de
aproveitamento dos produtos do crime (lavagem de dinheiro), para além de
assegurarem a própria reprodução e tornarem possível a aplicação e perpetuação das
atividades criminais, produzem um elevadíssimo ônus adicional para toda
comunidade.186
185
Cf. CALEGARI, André Luiz. Direito Penal econômico e Lavagem de dinheiro: Aspectos criminológicos.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 136.
186
MAIA, Rodolfo Tigre. Algumas Reflexões sobre o crime organizado e a lavagem de dinheiro. AJURIS -
Associação dos Juizes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 5ª.Ed. Especial, p. 181-192, jul. 1999, p. 188.
187
FROSSARD, Denise. Lavagem de Dinheiro e a Lei Brasileira, p. 23.
188
Cf. PODVAL, Roberto. Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial. 7. ed. atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. v. 2. p. 2100.
67
Nota-se que há uma série de requisitos, os quais devem ser fielmente seguidos, para
que haja a concretização do crime de lavagem de dinheiro, motivo pelo qual se mostra tão
difícil punir efetivamente o ‘lavador de capitais’.
189
Cf. ODON, Tiago Ivo. Lavagem de Dinheiro: os efeitos macroeconômicos e o bem jurídico tutelado, p. 333.
190
MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9.613/98, p. 67-68.
68
Algumas alterações foram feitas no rol taxativo dos crimes antecedentes. Roberto
Delmanto e outros doutrinadores lembram que o inciso segundo (terrorismo e seu
financiamento) foi inserido através da Lei n.º 10.701, de 09 de julho de 2003, e que o oitavo
inciso (praticado por particular contra a administração pública estrangeira) foi introduzido
pelo artigo 3º da Lei n.º 10.467, de 11 de junho de 2002. Em decorrência dessa modificação
do rol taxativo dos crimes antecedentes, algumas obras publicadas anteriormente às Leis n.ºs
10.467/2002 e 10.701/2003, trazem outra numeração aos crimes antecedentes.194
Após o exame desse assunto, nota-se uma forte crítica à adoção do rol taxativo dos
crimes antecedentes (legislação de segunda geração) e uma grande indignação por parte de
diversos doutrinadores, que serão citados posteriormente, sobre a não inclusão de alguns
graves delitos e contravenções, como, crime de tráfico de mulheres e crianças, crime contra a
ordem tributária e jogo do bicho, no rol dos crimes antecedentes, motivo pelo qual eles serão
objeto de estudo.
191
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Crimes de lavagem e o devido processo legal, p. 94.
192
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p.
57.
193
CERVINI, Raul; OLIVEIRA, William Terra de; GOMES, Luiz Flávio. Lei de lavagem de capitais:
comentários à Lei 9.613/98, p. 329-330.
194
Cf. DELMANTO, Roberto; DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis
Penais Especiais Comentadas, p. 547.
69
Certo que na maioria das vezes o tráfico internacional de pessoas é realizado por
organizações criminosas, o que poderia permitir a condenação dos traficantes de seres
humanos, porque o inciso VII, do artigo 1º, da Lei de Lavagem de Capitais, prevê o caso de
crime praticado por organização criminosa como crime antecedente. No entanto, conforme
elucida Damásio de Jesus, o crime de lavagem de dinheiro não está adstrito somente às
organizações criminosas, apesar de serem estes seus autores na maior parte dos casos.196
Contudo, conforme anteriormente salientando, é inaplicável o inciso VII da referida
lei, pois não há na legislação brasileira denominação do que vem a ser uma ‘organização
criminosa’. Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo concorda afirmando que:
Embora possuam a previsão de quadrilha ou bando no CP (art. 288) e os dispositivos
da lei especial quanto á matéria (Lei 9034/1995 com as alterações da Lei
10.217/2001), tais disposições legais não suprem a necessidade de tipo legal, em
virtude do princípio do nullum crimen, nulla poena sine legge. As vozes dissoantes à
postura, embasada na estrita legalidade (art. 5º, XXXIX, da CF combinado com art.
1º do CP), trilham caminho sem saída, porque a práxis judiciária pôs de lado a
referida lei processual penal, pela falta de definição típica de organização
criminosa.197
195
JESUS, Damásio de. Lavagem de Dinheiro Proveniente de Tráfico Internacional de Mulheres e
Crianças não Constitui Crime. Justilex, Braília, ano 2, n. 19, p. 20-21, jul. 2003. p. 20.
196
Cf. JESUS, Damásio de. Lavagem de Dinheiro Proveniente de Tráfico Internacional de Mulheres e
Crianças não Constitui Crime, p. 20-21.
197
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 116.
70
Damásio de Jesus ainda completa o raciocínio, afirmando que: “Em suma, nossa
sugestão é no sentido da inclusão de um inciso IX no art. 1º, da Lei n. 9613, de 3 de março de
1998, mencionando os crimes de tráfico internacional de mulheres e crianças”.198
A autora Ela Wiecko V. de Castilho assevera que a não inserção dos crimes
tributários como antecedentes na criminalização da lavagem de dinheiro ocorreu por motivos
econômicos, para proteger os detentores de dinheiro nos países ricos. A autora ainda ressalva
que, segundo palestra ministrada por Arlacchi em 2002, ao contrário do que se pensa, grande
parte da massa de valores que circula no mercado financeiro mundial não é de origem apenas
do tráfico de drogas, armas e seres humanos, mas sim da evasão fiscal, que seria responsável
por cerca de 50% (cinqüenta por cento) dessa movimentação.199
Rodolfo Tigre Maia, lamentou da mesma forma:
A terapêutica legislativa afinal adotada pelo Estado brasileiro, através da edição da
Lei Federal n. 9.613, de 03.03.98, pode não ser mais eficiente e abrangente, contudo,
foi a resultante possível do enfrentamento de forças sociais e políticas que integram
nosso parlamento e, neste sentido, consubstancia significativo avanço. A hegemonia
conservadora neste contexto associada à lamentável tradição de utilização servil e
acrítica de modelos e experiências de outros países, bem como a notória capacidade
de interferência dos grupos de pressão de colarinhos brancos na elaboração e
sancionamento de regulações que possam atingir seus interesses, dilucidam a
relativa tibieza no enfrentamento e na normatização de temas politicamente
delicados, tais como a (não) inclusão de crimes contra a ordem tributária, o sigilo
bancário, o sancionamento das pessoas jurídicas, as atribuições e responsabilidades
das empresas que conformam o sistema financeiro nacional e de determinados
profissionais (e. G. Advogados, banqueiros, operadores do mercado de capital) no
combate à reciclagem de ativos ilícitos, o relativo amesquinhamento das missões
cominadas ao Ministério Público, etc.200
198
JESUS, Damásio de. Lavagem de Dinheiro Proveniente de Tráfico Internacional de Mulheres e
Crianças não Constitui Crime, p. 21.
199
Cf. CASTILHO, Ela Wiecko V. de. Crimes antecedentes e lavagem de dinheiro, p. 57.
200
MAIA, Rodolfo Tigre. Algumas reflexões sobre o crime organizado e a lavagem de dinheiro, p. 185.
201
Cf. PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p.
58-59.
71
Na sonegação fiscal, o que se passa é que a pessoa não se desfaz do seu patrimônio
para cumprir obrigação fiscal. Não há, na sonegação fiscal, um aumento do
patrimônio do indivíduo. E se o indivíduo deixa de pagar o tributo, porque sonega,
não lava o dinheiro. No momento em que compra um apartamento, faz um
investimento, transfere dinheiro para o exterior. Ele está transferindo um dinheiro
seu, não de outrem e nem dinheiro oriundo de atividade criminosa [...]. Se os
senhores resolverem incluir que não pagar o tributo é um crime; e que usar o
dinheiro com o qual deveria pagá-lo é outro crime, estariam, digamos, apenando
duas vezes a mesma conduta.202
Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo segue a mesma idéia, afirmando que: “[...] a
inclusão do crime tributário como delito prévio poderia caracterizar eventual bis in idem,
quando a lavagem fosse cometida na modalidade de ocultação”.203
A doutrinadora Ela Wiecko V. de Castilho comprova que existem alguns casos onde
os crimes contra a ordem tributária desencadeiam em um aumento do patrimônio, dando 3
(três) exemplos: a) quando o empresário, por meio de artifício (comprando nota fria, por
exemplo), realiza caixa dois; b) quando lança na contabilidade uma despesa fictícia, e; c)
quando se apropria do imposto de renda retido na fonte ou de contribuição descontada de
empregado tendo a obrigação de recolhê-los. Além disso, a mesma autora salienta que a
cumulação de valores não pagos, por óbvio, permite um aumento do patrimônio, alegando o
princípio da poupança, e completa que todas essas hipóteses configuram crimes contra a
ordem tributária.204
Marco Antônio de Barros acredita que foi proposital a exclusão dos crimes contra a
ordem tributária do rol dos crimes antecedetes. O autor ressalta que durante a tramitação do
projeto de lei, temia-se que a inclusão da sonegação fiscal pudesse tornar inviável a aprovação
da Lei n.º 9.618 de 1998, pelo motivo de que aos olhos dos parlamentares a sonegação não
seria um delito grave, nem representaria um acréscimo do patrimônio, mas sim, apenas uma
manutenção do mesmo.205
Observa-se que o meio político e a esfera jurídica divergem acerca da inclusão dos
crimes contra a ordem tributária.
Eunice de Alencar Mendes, após uma análise crítica da lei dos crimes de lavagem de
dinheiro, feita através de questionários respondidos por juízes, procuradores e delegados
federais, pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, foi clara ao
afirmar que: “Os respondentes dos três grupos foram unânimes ao afirmarem que a Lei n.º
202
CASTILHO, Ela Wiecko V. de. Crimes antecedentes e lavagem de dinheiro, p. 50.
203
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. 58-
59.
204
Cf. CASTILHO, Ela Wiecko V. de. Crimes antecedentes e lavagem de dinheiro, p. 51.
205
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 97.
72
9.613/98 não é ampla o suficiente para disciplinar todo o fenômeno criminológico sobre a
lavagem de dinheiro e que essa lei deveria contemplar, no rol dos crimes antecedentes, os
crimes contra a ordem tributária”.206
Marco Antônio de Barros também não se conforma com a posição política, aduzindo
que foi “[...] uma opção firmada no campo da política criminal, que não recebeu apoio
integral no meio jurídico”.207
Outro fato preocupante, trazido em recente pesquisa realizada pelo Instituto
Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), apontou que a evasão fiscal brasileira, uma das
maiores do mundo atualmente, mantém relação direta com o peso da carga tributária do país,
que no Brasil é de 36% (trinta e seis por cento) do PIB.208
Conclui-se, lamentavelmente, que a Lei de Lavagem de Capitais não é mais ampla e
eficaz em decorrência da falta de interesse e vontade de alguns políticos, que colocam em
primeiro lugar o que melhor lhes convém, produzindo efeitos macroeconômicos para o país e
o mundo.
No Brasil existe uma diferença entre crime e contravenção penal, não convém
analisar todas as diferenças existentes entre essas 2 (duas) modalidades, bastando esclarecer
que para a contravenção penal existe apenas a prisão simples (sem rigor penitenciário), ou
apenas, a pena cominada de multa.209
O jogo do bicho é considerado uma das maiores chagas da criminalidade brasileira e
restou admiravelmente configurado como contravenção penal e não crime.
Segundo Igor Tenório e Inácio Carlos Dias Lopes:
É o ‘jogo do bico’ a mais transparente das organizações criminosas e, possivelmente,
a mais antiga e duradoura [...]. A respeito do tratamento penal dado ao jogo do bicho,
os mesmos autores concluem ser uma falta de seriedade política para tratar do
assunto, legalizando ou exigindo que o jogo do bicho passe de contravenção em
crime. Há um prejuízo no jogo ilegal, seja então bancado pelos governos federal e
estadual, e principalmente, livremo-nos do quadro de corrupção generalizada das
polícias estaduais, tão de domínio público que chega a ser abertamente contado em
livros e na imprensa [...].210
206
MENDES, Eunice de Alencar. Uma análise crítica da Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro. Revista
do Centro de Estudos Judiciários, Brasília, v. 16, p. 115-116, jan./mar. 2002. p. 116.
207
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 97.
208
Cf. ASCARI, Janice Agostinho Barreto. Algumas notas sobre lavagem de ativos, p. 219.
209
Cf. ODON, Tiago Ivo. Lavagem de Dinheiro: os efeitos macroeconômicos e o bem jurídico tutelado, p. 342.
210
LOPES, Inácio Carlos Dias; TENÓRIO, Igor. Crime organizado: novo direito penal ate a lei 9.034/95.
Brasília: Consulex, 1995. p. 51-60.
73
211
Cf. LOPES, Inácio Carlos Dias; TENÓRIO, Igor. Crime organizado: novo direito penal ate a lei 9.034/95, p.
58.
74
dúvida sobre sua procedência, será preciso a certeza no que diz respeito à origem
ilícita dos bens, mesmo porque o delito de lavagem não possui forma culposa.212
É certo que a aplicação do art. 2º, §1º, da Lei de Lavagem de Dinheiro, facilitaria o
processamento dos criminosos. No entanto, após estudo e análise dessa questão, nota-se, mais
uma vez, que a legislação de lavagem de capitais esbarra em possíveis inconstitucionalidades,
dificultando a punição dos ‘lavadores de capitais’ ao invés de auxiliar.
212
CALLEGARI, André Luiz. Lavagem de dinheiro: Lavagem de dinheiro: Estudo introdutório do Prof.
Eduardo Montealegre Lynett. Monole: São Paulo, 2004. p. 95.
213
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 224-225.
214
PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente, p. ..
75
André Luiz Callegari explica que para solucionar essa polêmica, com relação à prova
do crime antecedente, parte da doutrina espanhola utiliza a jurisprudência da receptação,
assinalando que nestes casos não é preciso que haja uma sentença condenatória com relação
ao crime antecedente, mas se exige ao menos um fato minimamente circunstanciado, ou seja,
é preciso saber com precisão que fato criminoso originou os bens. O autor ainda confirma que
parte da jurisprudência pátria manifesta-se nesse sentido.217
Sobre a dificuldade probatória do crime antecedente, o autor supracitado faz um
importante esclarecimento:
De qualquer forma, como elementos indiciários de interesse, será necessário valorar
para demonstrar o conhecimento da origem ilícita, entre muitos outros, dados tais
como: a utilização de identidades supostas que poderiam ser falsas; a existência de
relações comerciais que justifiquem os movimentos de dinheiro; a utilização de
testas-de-ferro sem disponibilidade econômica real sobre os bens; a vinculação de
sociedade fictícias carentes de atividades econômicas, mais especificamente se estão
radicadas em países conceituados como paraísos fiscais; a realização de alterações
documentais; o fracionamento de ingressos e depósitos para dissimular sua quantia;
a disposição de elevadas quantidades de dinheiro em espécie sem origem conhecida;
a simulação de negócios ou operações comerciais que não respondem à realidade; a
percepção de elevadas comissões pelos intermediários e, por fim, quaisquer outras
circunstâncias concorrentes na execução de tais atos, que estejam suscetíveis a
serem qualificadas como irregulares ou atípicas desde uma perspectiva financeira e
mercantil e que não venham a senão a indicar, na verdade, a clara intenção ou
vontade de ocultar ou encobrir bens e produtos do delito.218
215
Cf. CALLEGARI, André Luiz. Lavagem de dinheiro: Estudo introdutório do Prof. Eduardo Montealegre
Lynett, p. 85-86.
216
MAIA, Rodolfo Tigre, Lavagem de dinheiro: Lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às
disposições criminais da Lei n. 9613/98, p. 120.
217
Cf. CALLEGARI, André Luiz. Direito Penal Econômico e Lavagem de Dinheiro: aspectos criminológicos,
p. 146-147.
218
CALLEGARI, André Luiz. Lavagem de Dinheiro e o Problema da Prova do Delito Prévio. Revista dos
Tribunais, São Paulo, v. 801, ano 91, p. 448-454, jul. 2002. p. 453.
76
Necessário concordar com Marco Antônio de Barros, quando este afirma que um dos
pontos cruciais para o combate à lavagem de dinheiro seria a questão do sigilo bancário. O
doutrinador ainda reforça que a Lei n.º 9.613 de 1998, é silente a respeito do mesmo, fazendo
apenas uma menção ao segredo de justiça em seu art. 10, III.219
A Constituição Federal distingue a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, como direitos fundamentais (artigo 5º, X, CF). Como conseqüência disso, o
inciso XII, do artigo 5º, ressalva que: “é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”.
Acerca do sigilo bancário, Francisco Assis Betti aduz que os documentos bancários
fazem parte da vida íntima, o que é constitucionalmente dito inviolável. Francisco Assis Betti,
ainda cita o professor Sérgio Carlos Covello:
[...] a faculdade que tem o cidadão de manter afastados do conhecimento de outrem
circunstâncias pertinentes à sua personalidade (o sigilo, o direito a segredo) assume
a cada dia maior relevância em vista da massificação social vivenciada pelo mundo
todo, nesta era de avanço científico e tecnológico [...].220
No entanto, nota-se que é correto que o direito ao sigilo bancário não pode se
sobrepor a outros direitos fundamentais, não sendo o mesmo absoluto. Luiz Flávio Gomes e
Raúl Cervini lecionam que desde que a invasão da privacidade seja justificada, para
219
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 315.
220
COVELLO, Sérgio Carlos. O sigilo bancário como proteção à intimidade. Revista dos Tribunais, v. 78, n.
648, p. 27-30, out. 1989 apud BETTI, Francisco Assis. O sigilo bancário e a nova lei que define o crime de
“lavagem” de dinheiro: Aspectos tributários e penais. Revista do Centro de Estudos Judiciários, Brasília, v. 5,
p. 09-17, maio/ago. 1998.
77
Imprescindível concordar com Francisco Assis Betti, quando o mesmo lembra que o
Estado possui o dever de zelar pelo bem estar do povo, devendo também, assegurar-lhe
segurança e condições para desenvolver-se, não podendo as leis acobertarem práticas ou
interesses pessoais que vão contra a ordem pública e demais exigências sociais. Dessa forma,
a quebra do sigilo bancário deve ser feita sempre que tiver por fim o bem comum, que deve
prevalecer à intimidade pessoal.223
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência apontam no sentido de que a quebra do
sigilo bancário deve ser apenas feita mediante autorização judicial, sendo considerada ilícita a
prova obtida sem a devida autorização.
No entanto, conforme afirma Marco Antônio de Barros, o sigilo bancário sempre
configurou um entrave para as investigações feitas pela polícia, por haver punição severa aos
profissionais que rompem o sigilo, sem a autorização judicial, o que desencadeou uma
inibição da cooperação por parte dos profissionais que trabalham na área bancária e fiscal. O
mesmo doutrinador ainda tece alguns esclarecimentos acerca de uma facilitação da quebra do
sigilo bancário:
Nem mesmo o fato de a solicitação feita pela autoridade administrativa competente
resultar na concessão de uma medida liminar inaudita altera parte – sem audiência
prévia da parte contrária – ou seja, sem que os titulares ou possuidores de bens,
direitos e valores ocultos sejam previamente cientificados do pedido, pode impedir o
seu conhecimento e eventual deferimento. É mister admitir que os crimes de
221
Cf. GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raúl. Crime Organizado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p.
121.
222
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 315.
223
Cf. BETTI, Francisco Assis. O sigilo bancário e a nova lei que define o crime de “lavagem” de dinheiro:
Aspectos tributários e penais, p. 15.
78
‘lavagem’ são destacados pela astúcia dos criminosos. Daí a necessidade de conferir
às autoridades a possibilidade de utilizarem desse instrumento que, além do mais,
contribui decisivamente para o descobrimento da verdade. Por outro lado, a
preservação do elemento ‘surpresa’ que caracteriza a medida é inevitável, pois a
ninguém é dado o direito de menosprezar a volatilidade que distingue as operações
financeiras no âmbito da macrocriminalidade organizada.224
224
BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 317.
225
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 329.
226
MENDES, Eunice de Alencar. Uma análise crítica da Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro, p. 115.
227
Cf. ASCARI, Janice Agostinho Barreto. Algumas notas sobre lavagem de ativos, p. 220.
79
Renda que, sob pena de responsabilidade, jamais poderá transmitir o que lhe foi
dado conhecer.228
Diante do exposto, José Antônio Farah Lopes de Lima conclui que a obtenção de
dados por parte da Administração Pública não viola o direito à intimidade ou privacidade.229
Um passo, para que o sigilo bancário deixe de ser um entrave no combate à lavagem
de dinheiro, seria a flexibilização da quebra do sigilo bancário para fins de investigações de
crimes contra a Administração Pública e uma ampliação dos poderes conferidos ao Ministério
Público, para que o órgão pudesse agir de forma mais célere e enérgica na obtenção das
provas, e conseqüentemente, aumentando a possibilidade de efetiva aplicação da Lei n.º
9.613/98.
Marco Antônio de Barros explica que ‘Paraíso Fiscal’ é a denominação que tem sido
dada aos países que não interferem, ou interferem muito pouco, no plano tributário, nas
transações e atividades financeiras e comerciais, consentindo que em seu território essas
negociações ocorram livres, ou praticamente isentos, do recolhimento do tributo. Resumindo,
são países de mínima tributação (sem tributação, ou alíquota inferior a 20%).230
Janice Agostinho Barreto Ascari lembra que além de oferecer privilégios tributários,
os países considerados paraísos fiscais oferecem outras vantagens:
Os países considerados ‘paraísos fiscais’ são assim identificados pelos privilégios
tributários concedidos aos investidores (como isenção ou redução de impostos) e
também pela gama de serviços oferecidos: aberturas de offshores, compra de bancos,
empresas de fachada (Sell companies), CNIs (corporações internacionais de
negócios) e todo o tipo de entidades anônimas. Exemplos de paraísos fiscais são
Anguilla, Bahamas, Belize, Bermudas, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Cayman
Chipre, o estado de Delaware nos Estados Unidos, Gibraltar, Hong Kong, Hungria,
Irlanda, Ilhas de Man e Jersey, Libéria, Liechtenstein, Malta, Ilhas Marshall,
Maurício, São Cristóvão, Névis, Panamá, Ilhas Seychelles, Turks e Caicos.231
Rodolfo Tigre Maia, por sua vez, aduz que as instituições financeiras multinacionais,
localizadas nos chamados ‘paraísos fiscais’, são uma relevante ferramenta na ‘lavagem’ de
228
Recurso em Mandado de Segurança n.º 15.925- GB, Ministro Gonçalves de Oliveira apud LIMA, José
Antônio Farah Lopes de. Relevância da Quebra de Sigilo Bancário para a Comprovação de Delitos contra a
Ordem Tributária e “Lavagem” de Dinheiro. Revista de Direito Tributário, São Paulo, v. 85, p. 193-224.
jul./1998. p. 217
229
Cf. LIMA, José Antônio Farah Lopes de. Relevância da Quebra de Sigilo Bancário para a Comprovação
de Delitos contra a Ordem Tributária e “Lavagem” de Dinheiro, p. 217.
230
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 82.
231
ASCARI, Janice Agostinho Barreto. Algumas notas sobre lavagem de ativos, p. 220.
80
dinheiro. O autor completa que esses paraísos são utilizados de maneira intensa na evasão
fiscal, sendo freqüentemente usados nas etapas de conversão, dissimulação e integração do
dinheiro sujo, já que fornecem um alto grau de proteção do sigilo bancário, possibilitando o
anonimato dos titulares.232
Marco Antônio de Barros ainda pronuncia que são inúmeros os países que são
considerados paraísos fiscais, mas ressalva que apenas as Filipinas, Guatemala, Ilhas Cook,
Indonésia, Myanmar, Nauru e Nigéria são considerados países não cooperantes pelo Grupo de
Ação Financeira (GAFI)233. Em decorrência disso, o COAF recomenda a todas as pessoas
obrigadas pela Lei n.º 9.613/98, a manter cadastros e comunicar com redobrada atenção, todas
as operações suspeitas nas quais os envolvidos tenham relação com esses países ou
territórios.234
Importante lembrar que essas recomendações, no tocante aos países não cooperantes,
estão previstas na Carta Circular do Banco Central n.º 3.100, de 07 de julho de 2003.
Marco Antônio de Barros chama atenção para a intensa utilização dos paraísos
fiscais pelos lavadores de dinheiro, afirmando que estimativas apontam que nas ‘lavanderias’
do planeta circulam cerca de ¼ (um quarto) das finanças mundiais.235
Através dessas informações, constata-se que é necessário seguir fielmente as
recomendações constantes na Carta Circular do BACEN, vigiando-se atentamente todas as
negociações advindas dos territórios, ditos paraísos fiscais, e principalmente dos países, que
além de serem consideradas regiões com facilidades fiscais, são dados como não cooperantes.
André Luiz Callegari ressalva que a doutrina menciona que a transferência eletrônica
de fundos seria a mais importante forma de mascaramento usado pelos lavadores de
dinheiro.236
232
Cf. MAIA, Rodolfo Tigre. Algumas reflexões sobre o crime organizado e a lavagem de dinheiro, p. 42.
233
O Grupo de Ação Financeira (GAFI) é um organismo intergovernamental, criado no ano de 1989 em Paris,
após reunião do G7 (EUA, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Japão) que tinha como objetivo
desenvolver e promover estratégias para combate à lavagem de valores. O GAFI também pode ser entendido
como o Grupo de países unidos no combate à lavagem de dinheiro. Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem
de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários, artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 264.
234
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 84.
235
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 83.
236
Cf. CALEGARI, André Luiz. Direito Penal econômico e Lavagem de dinheiro: Aspectos criminológicos,
p. 58.
81
Roberto Chacon Albuquerque afirma que o termo ‘dinheiro eletrônico’ viria de uma
pretensão sobre o emissor dos valores, que são armazenados em um meio eletrônico, o qual é
acolhido como pagamento por terceiros e pelo próprio emissor. O mesmo autor ainda
esclarece que o meio eletrônico pode ser um smart card e que terminais de auto-atendimento
auxiliam os usuários a transferir dinheiro de suas contas para esses cartões inteligentes, que
possuem um eletronic purse (um circuito eletrônico que armazena essas operações feitas de
forma ágil e segura, só podendo ser acessada se autorizada).237
Sobre o dinheiro eletrônico e o uso de transferências via internet, José Laurindo
Souza Netto ressalta que:
[...] atualmente com o avanço tecnológico, abriu-se a possibilidade da lavagem de
dinheiro via Internet. A rapidez, o sigilo e a segurança com que as transferências de
capital são feitas pela rede, atraem aqueles que podem usar o sistema para fins
ilícitos. As transferências de fundos ilícitos restam acobertadas pelos métodos
eletrônicos, onde os negócio são feitos no sistema ‘Home Banking’, impossibilitando
o controle das autoridades. 238
Samuel Pantoja Lima faz menção ao tamanho e quantidade das operações feitas
atualmente de forma automatizada, salientando que, segundo dados do DIEESE, representam
aproximadamente 74,7% (setenta e quatro vírgula sete por cento) das totais.239
O doutrinador Marco Antônio de Barros prescreve que a utilização de transferências
eletrônicas constitui o método mais assombroso para a estratificação de fundos de origem
ilícita, tanto em termos de volume de valores quanto de quantidade de operações realizadas. O
mesmo autor explica que os lavadores preferem utilizar essa técnica porque podem enviar
capitais de um local para outro de forma rápida, e algumas vezes, torna-se difícil identificar a
origem inicial dos fundos. Os criminosos atuam de forma tão prevenida que fazem as
transferências através de patamares, para evitar prejuízos maiores caso as autoridades
descubram as operações e apreendam os valores.240
A rapidez com que os criminosos atuam na evolução dos métodos aplicados na
lavagem de dinheiro constitui perigo real e constante, dificultando cada vez mais a
perseguição criminal. Por isso, necessário constatar que essa realidade exige uma atualização
237
Cf. ALBUQUERQUE, Roberto Chacon. Lavagem de dinheiro nas operações financeiras veiculadas pela
internet. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 7, n. 23,
p. 397-414, jan./2004. p. 399.
238
SOUZA NETTO, José Laurindo. Lavagem de Dinheiro: Comentários à Lei 9.613/98, p. 44.
239
Cf. LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias dos
jogos e de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões, p. 29.
240
Cf. BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,
artigo por artigo, à Lei 9.613/98, p. 58.
82
permanente por parte das autoridades e um auxílio técnico especializado aos agentes da
justiça na produção de provas contra o crime organizado.
Segundo Léa Marta Geaquinto dos Santos, o tema lavagem de dinheiro passou a
integrar agendas de debates e programas de organismos internacionais, sendo objeto de
reuniões em todo o planeta. Chefes de Estado, através de suas autoridades competentes, têm
dispensado bastante vigilância a essa conduta que visa dissimular produto originário de crime,
241
BRASÍLIA. Conselho da Justiça Federal. Uma análise crítica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro, p.
100.
242
Cf. ASCARI, Janice Agostinho Barreto. Algumas notas sobre lavagem de ativos, p. 223.
83
procurando combatê-la mediante esforços que inclui a adoção de políficas comuns a fim de
cercear o enriquecimento das pessoas envolvidas em crimes antecedentes à lavagem de
dinheiro.243
O Promotor de Justiça Marcelo Batlouni Mendroni ressalva que:
[...] Precisamos entender a grandeza da necessidade de combater as Organizações
Criminosas, os crimes de colarinho branco, para o bem da nossa sociedade. Esses
são os crimes que realmente afetam a sociedade, impedem o seu desenvolvimento e
a formação de um país mais justo. A Lei 9613/98 aí está e deve ser utilizada sem
medo dentro de seus rigores, e assim começaremos a desfazer o velho ditado: “Lex
est araneae tela, quia, si in eam inciderit quid debile, retinetur; grave autem
pertransit tela rescissa”, ou seja, “A lei é como uma teia de aranha: se nela cai
alguma coisa leve, ela retém; o que é pesado rompe-a e escapa”.244
243
Cf. SANTOS, Léa Marta Geaquinto dos. O desafio do combate à lavagem de dinheiro, p. 223.
244
MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro. Revista dos Tribunais, São
Paulo, RT v.787, p. 479-489, maio 2001,p.489.
245
Cf. MEIRA, Fernanda. O Combate à Lavagem de Dinheiro. Revista do Centro de Estudos Judiciários,
Brasília. v. 26, p. 50-55, set. 2004, p. 52.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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2002.
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estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas;
define crimes e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm>. Acesso em:
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FRANCO, Alberto Silva (Coord.); Stoco, Rui (Coord.). Leis Penais Especiais e sua
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90
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92
ANEXO A
93
ANEXO – A 1246
246
BRASÍLIA. Conselho da Justiça Federal. Uma análise crítica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro.
Brasília, Série de Pesquisas do Centro de Estudos Judiciários - 9, 2002. p. 91-92.
94
95
ANEXO – A 2247
247
BRASÍLIA. Conselho da Justiça Federal. Uma análise crítica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro.
Brasília, Série de Pesquisas do Centro de Estudos Judiciários - 9, 2002. p. 79.
96
97
98
ANEXO – A 3248
248
BRASÍLIA. Conselho da Justiça Federal. Uma análise crítica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro.
Brasília, Série de Pesquisas do Centro de Estudos Judiciários - 9, 2002. p. 67-68.
99
100
101
ANEXO B
102
ANEXO – B 1249
249
LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias dos jogos e
de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões. 2005. p.53-54.
103
ANEXO – B 2250
250
LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias dos jogos e
de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões. p.26.
104
ANEXO – B 3251
251
LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias dos jogos e
de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões., 2005. p.80
105
ANEXO – B 4252
252
LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias dos jogos e
de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões. 2005. p. 89.
106
ANEXO – B 5253
253
LIMA, Samuel Pantoja. Crime Organizado e Lavagem de dinheiro: uma aplicação das teorias dos jogos e
de redes neurais para o reconhecimento e descrição de padrões. 2005. p. 87.