Artigo - Rubens Vaz - A Poesia Que Nos Frequenta.
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Dossiê “História e Literatura: olhares interdisciplinares”
Revista Labirinto – Ano XIII, nº 19 – dezembro de 2013 ISSN: 1519-6674
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Este “local” não deve, naturalmente, ser confundido com velhas identidades,
firmemente enraizadas em localidades bem delimitadas. Em vez disso ele
atua no interior da lógica da globalização. Entretanto, parece improvável
que a globalização vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É
mais provável que ela vá produzir, simultaneamente, novas identificações
“globais” e novas identificações “1ocais”. (Hall, 2005, p. 78).
Neste sentido, pode ser que o regional (ou o “local”) esteja, por nós, sendo
“confundido com velhas identidades firmemente enraizadas em localidades bem
delimitadas” e que não estejamos preparados para assumir as “novas identificações
locais”. Produzimos arte para nossa tribo, mas almejamos a aldeia global. Somos 103
globais. Isso vale para a literatura.
O conceito de literatura regional no Brasil, como já foi dito, teve seu auge na
segunda fase do modernismo, com a geração de 30, ancorado à tendência temática
e estilística que culminou no romance regionalista, também chamado de romance
nordestino ou romance social. Essa tendência assim foi nomeada por tematizar os
sertões brasileiros, focada na truculência dos coronéis fazendeiros e na desventura
do povo sertanejo, valorizando a linguagem local, sendo seus autores, quase em
sua totalidade, nordestinos.
Entretanto, de forma pouco criteriosa, o termo continua sendo usado para
definir a produção literária periférica, distante das luzes globais, fazendo parecer que
literatura regional, assim como literatura marginal, é a marca da qual os autores
desconhecidos nacionalmente, não conseguissem se desvencilhar. Às vezes nos
perguntamos: será a literatura regional uma literatura que só é lida e linda em
determinada região? Será um traço térreo que tão somente anuncia e denuncia a
relação do homem com o seu lugar?
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Dossiê “História e Literatura: olhares interdisciplinares”
Revista Labirinto – Ano XIII, nº 19 – dezembro de 2013 ISSN: 1519-6674
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Revista Labirinto – Ano XIII, nº 19 – dezembro de 2013 ISSN: 1519-6674
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Benedito Monteiro, Thiago de Mello, entre outros, não pertencem ao nosso universo
de autores.
A produção poética em Porto Velho, incentivada esporadicamente pelo poder
público, mas garantida pela iniciativa particular de vários autores, tomou novo
impulso. A dificuldade se encontra na distribuição nacional das obras publicadas,
que terminam circulando apenas em livrarias de Porto Velho e no corpo-a-corpo dos
próprios autores.
Para ilustrar apresentamos alguns textos dos poetas publicados na coleção
CacOS em 2003, pela Edufro, Editora da Universidade Federal de Rondônia. São
eles: Carlos Moreira, Nilza Menezes, Mado, Pilah de Zayas Bernanos e Binho,
autores dos livros Evangelho segundo ninguém, Feitura, Das tripas ao marcapasso,
A face do ocaso contínuo e Arabescos Aéreos, respectivamente. Remeto-me
também aos livros O lado aberto, de 2004, do poeta e professor Eduardo Martins, A
sobra das noites, do poeta e jornalista Adaídes Batista (Dadá) e Avenoite & outros
poemas, do poeta e professor Carlos Reis.
Os poemas:
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(Carlos Moreira)
o rebanho enlouquecido
de palavras feito feras
arrebenta o mar do sono
apesar da tua cegueira
é azul branca vermelha
a falsa face do sol
mas perdoa tua estranha
fé no humano coração
viver é pura façanha
existir é tão estranho
quanto dizer sim ou não
(Mado)
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(Nilza Menezes)
quando criança ouvia
minha mãe dizendo
que o bicho homem era perigoso
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as tias solteironas
ensinavam o catecismo
preferi o bicho homem
com medo de só murchar
e não poder ter segredos
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breve crepúsculo
o fragor das andorinhas
roubam o silêncio
minerva
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calipso
ema
quem
bate
á
porta
neste
fim
de
poema
?
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Em teu silêncio-livro
O lado aberto se espalha
Em lados de mil ladrilhos
De sítios de mudas caras
diariamente
aprendo com a ave
sobre existência de pontes
além muros
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REFERÊNCIAS
NOTAS
i
Doutorando na área de Teoria da Literatura (IBILCE-UNESP), possui mestrado na mesma área pela
Universidade Estadual Paulista, de São José do Rio Preto (2002). É professor da UNIR -
Universidade Federal de Rondônia, no curso de letras, Línguas Vernáculas.
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