macrodenagem recife
macrodenagem recife
macrodenagem recife
ABSTRACT --- The urban population growth has developed at odds with the infrastructure
provided by government. Allotments without planning, high rates of soil sealing, grinding and
narrowing of the beds of watercourses, modified the natural drainage in urban centers. The result is
the increase runoff and the impacts of flooding and waterlogging. This situation is aggravated in the
coastal plains, as is the case of Recife. The storm drainage is also hampered by the inefficiency of
the wastewater treatment and solid waste management, as well as planning for environmental
education. This paper addresses the need for integrated management, which addresses the adequacy
of sustainable drainage structures and the preservation of its natural drainage. It is proposed to
evaluate the management of urban drainage in the city of Recife and suggests improvements for its
sustainability, from literature searches, technical visit to the Company Urban Cleaning and
Maintenance of Recife (EMLURB) and comparative studies of national and international. It is
necessary for the integrated management of sanitation, the effective application of non-structural
measures, and combined use of structural and compensatory techniques for sustainable drainage.
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1) Mestranda da UFPE, CTG, Av. Prof. Moraes Rego 1235, 50670-901 Recife - PE, fone (81) 81694550. E-mail simonelcp@hotmail.com
2) Mestranda da UFPE, CTG, Av. Prof. Moraes Rego 1235, 50670-901 Recife - PE, fone (81) 99267081. E-mail aucilene.alice@hotmail.com
3) Professor Adjunto da UFPE, CTG, Av. Prof. Moraes Rego 1235, 50670-901 Recife- PE, fone (81) 96071450. E-mail rbraga@hotlink.com.br
4) Professor Titular da UFPE, CTG, Av. Prof. Moraes Rego 1235, 50670-901 Recife- PE, fone (81) 99878260. E-mail jcabral@ufpe.br
Na tentativa de disponibilizar novas áreas urbanas e minimizar os efeitos locais das cheias, por
muito tempo, as ações da engenharia fluvial e hidráulica foram no sentido de retificar cursos d’água,
transmitindo o mais rápido possível as vazões para jusante. A realização de obras com base na
concepção de retificação do leito dos rios e córregos teve consequências não consideradas ou pouco
avaliadas, sendo negligenciadas no planejamento: a variedade de biota foi reduzida de uma maneira
alarmante e as cheias hoje causam prejuízos cada vez maiores, Binder (1998).
A ocupação de áreas inadequadas, lançamento de lixo e esgotos nas redes de drenagens, alteração
e impermeabilização do solo, entre outros fatores, acarretam em incrementos consideráveis no
escoamento superficial nos períodos de chuva e contribuem fortemente para o aumento do número de
inundações e perda de qualidade de vida da população.
A cidade do Recife possui peculiaridades geográficas que devem ser consideradas para a
sustentabilidade do seu sistema de drenagem. As baixas cotas de seu território em relação ao nível do
mar, áreas planas, lençol freático próximo à superfície e aflorante na estação chuvosa, influência dos
níveis das marés, são características naturais que dificultam a drenagem. O sistema de drenagem do
Recife também é prejudicado devido canalização de riachos urbanos e ocupação de suas margens por
construções regulares e irregulares, alta taxa de impermeabilização do solo, destino inadequado dos
resíduos sólidos e falta de saneamento.
Recife teve o seu processo de ocupação urbana de forma desordenada. A sua importância,
enquanto capital do Estado de Pernambuco, com potencialidade econômica e turística, infraestrutura de
apoio médico e educacional, fizeram com que, se tornasse um pólo atrator. No entanto, a falta de uma
política governamental eficaz, voltada para o controle da urbanização, suprimento de água potável,
esgotamento sanitário, disposição adequada dos resíduos sólidos e infraestrutura para a drenagem de
águas pluviais, fez com que fossem gerados grandes problemas para a população e para o meio
ambiente.
Recife possui 219 km2 e 1.472.202 habitantes. Compõe, juntamente com outros 13 municípios, a
Região Metropolitana do Recife (RMR), com população equivalente a 3.688.428 habitantes, vivendo
em uma área de 2.766,9 Km², com 94% da população residente em áreas urbanas. A RMR constitui a
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2
maior aglomeração urbana do Nordeste brasileiro e quinta maior do país, sendo classificada como uma
metrópole nacional, IBGE (2010).
No século XVI deu-se início o processo de urbanização do Recife, quando sua atual área ainda
pertencia à Vila de Olinda. Diversos engenhos foram instalados na planície estuarina do rio Capibaribe,
dando início aos centros de povoações. Os primeiros núcleos urbanos surgiram nos pontos extremos do
porto e seu processo de urbanização intensificou-se no século XX, com a modificação do espaço
horizontal e vertical, acarretando transformações nos ecossistemas naturais. Na década de 1960, Recife
recebeu muitos imigrantes vindos do interior do Estado de Pernambuco e de toda RMR, com ocupação
de muitas áreas ribeirinhas e consequentes inundações dos bairros do centro e do Oeste. A Figura 1,
baseada nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), mostra a evolução
populacional do Recife nas últimas décadas.
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Figura 2 - Médias mensais da normal climatológica no período 1961 a 1990, na Estação do Recife (Curado)
O relevo é formado por dois grupos topográficos: as planícies localizadas na porção Centro-Leste
e os morros adjacentes nas porções Norte, Oeste e Sul. A área de planície, no geral, apresenta cotas que
variam de 0 a 5 m, podendo atingir valores um pouco superiores e até negativos. Por sua vez, os morros
formam um arco em volta da baixada e têm cotas que variam entre 30 m e 100 m, Cabral et al. (2001).
O sítio geológico sobre o qual Recife está erguido é formado por uma planície de origem flúvio-
marinha, resultado de milhões de anos de trabalho de acumulação sedimentar. Sua hidrografia é
constituída por três principais bacias hidrográficas, formadas por rios de meandros, sendo: a bacia do
rio Capibaribe, abrangendo a área central da cidade; a bacia do rio Beberibe, que abrange a parte Norte
da cidade e sua calha faz divisa com Olinda; e a bacia do rio Tejipió. Esta divide-se em três sub-bacias:
do rio Tejipió, que drena a parte do centro-sul e Oeste da cidade; a do Jordão, que drena a zona Sul; e a
do Jiquiá, que drena o resto da zona central da cidade.
No período de 1842 a 1977, grandes enchentes chegaram a inundar 80% da cidade. Para enfrentar
o problema das enchentes, na década de 70, o governo federal construiu três grandes barragens de
retenção do rio: uma na sub-bacia do rio Tapacurá, com capacidade para armazenar 94 milhões de
metros cúbicos; outra na sub-bacia do rio Goitá, com capacidade para 52 milhões de metros cúbicos,
ambos afluentes da margem direita do Capibaribe; e uma terceira no eixo do rio Capibaribe, no
município de Carpina, com capacidade para 270 milhões de metros cúbicos, retendo grandes vazões
que venham do rio Cotunguba e do Alto Capibaribe. Após, essas três, foi construída a barragem de
Jucazinho, no trecho médio superior, com capacidade para 327 milhões de metros cúbicos, com a
finalidade de abastecimento de algumas cidades do Agreste, mas que também contribui na proteção
contra enchentes, Cabral e Alencar (2005).
Como importantes intervenções de macrodrenagem, pode-se considerar: o alargamento da calha
fluvial na planície do Recife; a retirada de algumas pontes e construção de outras, no mesmo local, com
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4
extensão e altura maiores para que as vigas da ponte não causassem represamento; e retificação do
curso do rio Capibaribe no Bairro de Apipucos, onde um meandro de grande sinuosidade apresentava
baixas velocidades e causava um efeito de remanso, Cabral e Alencar (2005).
Conforme Alencar (2011), quanto às obras de controle da drenagem, realizadas pela Prefeitura do
Recife, ressalta-se:
o sistema de comportas implantado nas duas extremidades do canal Derby-Tacaruna, visando
proteger a Avenida Agamenon Magalhães dos fenômenos de alagamento que ocorriam em
condições de alta maré;
o sistema de barragens móveis que consiste na remoção de partículas sólidas sedimentadas
utilizando as ondas de translação produzidas pelo movimento das lonas dessas barragens,
efetivando a limpeza do canal;
a drenagem forçada, na avenida Recife, onde são utilizadas três bombas com capacidade total de
vazão de 3 m3/s, as quais efetuam o recalque das águas pluviais;
o microreservatório de retenção subterrâneo, localizado em áreas planas, com cota baixa e
pequeno gradiente hidráulico, entre a rua Santo Elias e a rua Conselheiro Portela (possibilita o
acúmulo das águas pluviais em seu interior e seu posterior escoamento ao longo do tempo para
o canal Derby/Tacaruna).
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5
Figura 3 – Macro e Microdrenagem do Recife. Fonte: Alencar (2011)
Segundo Cabral et al. (2001), os braços de rios e áreas alagadas vêm sendo aterrados ao longo de
séculos, sem nenhuma preocupação com a drenagem natural. A canalização de rios e córregos urbanos,
além de causar uma série de prejuízos ao meio ambiente, por descaracterizar totalmente o hábitat
natural, provoca o início de uma cadeia recorrente de problemas: favorecimento de ligações de esgotos
clandestinos, ocupação das margens e das áreas de expansão de cheias, problemas de enchentes a
jusante e o isolamento da conexão hidráulica entre o aquífero e o rio.
A bacia hidrográfica do rio Capibaribe, sofre com constantes inundações e alagamentos no
período chuvoso. O desmatamento e a ocupação de suas margens acarretaram o assoreamento do rio e
de seus afluentes, e propiciou o despejo de efluentes e de resíduos sólidos, causando prejuízos ao meio
ambiente e à drenagem pluvial.
Na bacia do rio Beberibe, além das degradações ambientais citadas anteriormente, a realização de
obras inadequadas de passagem (pontes, pontilhões e bueiros) causou o estrangulamento da calha do
rio e consequentes prejuízos à drenagem.
Conforme Vasconcelos e Bezerra (2000), 80% da bacia do rio Tejipió está urbanizada e com alta
taxa de impermeabilização. A mesma possui topografia de planície e os impactos ambientais existentes
são semelhantes aos das bacias do rio Capibaribe e Beberibe, exigindo uma rápida drenagem das águas
pluviais, causando problemas de cheias à jusante.
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6
O revestimento dos taludes com cimento, nas áreas de morro, procura conter a erosão e impedir a
infiltração de águas perigosas para a estabilidade das encostas, porém, provoca a aceleração do efeito
do escoamento superficial, resultando em alagamentos nas partes baixas.
Com relação ao sistema de microdrenagem, alguns segmentos encontram-se subdimensionados
por causa do elevado índice de impermeabilização de determinadas localidades. Também, a introdução
irregular de efluentes sanitários, não previstos no dimensionamento do sistema, resultam no aumento
da carga de escoamento superficial.
Fresia et al. (2005), aponta que muitos pontos de alagamento do Recife estão localizados longe
das margens dos cursos d’água principais, o que permite afirmar que um dos principais problemas da
área em estudo é a insuficiência, em quantidade e em qualidade, dos dispositivos de microdrenagem.
Segundo Alencar (2011), na cidade do Recife há 77 pontos de alagamentos, sendo 18 pontos nas
vias principais e 59 em áreas ribeirinhas, conforme demonstrado na Figura 4.
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7
inadequada dos mesmos, pois possibilita que sejam carreados para o sistema de drenagem, causando a
obstrução dos seus dispositivos e prejuízos a sua funcionalidade.
Cabral et al. (2001) ressalta que as bocas de lobo convencionais favorecem a entrada de resíduos
sólidos que, quando não as entope, são conduzidos para os corpos receptores, contribuindo com a
poluição dos cursos d’água e das praias. Deve-se incentivar o uso de grelhas com manutenção
sistemática, como forma de reduzir a poluição.
A rede de macrodrenagem também necessita de sérias intervenções. Conforme informações
obtidas com Alencar (2011), as ações devem começar pela remoção do lixo e outros materiais
carreados, provenientes das erosões ocorridas nas partes altas das bacias. Sendo necessário disseminar
intervenções de controle e retenção do transporte de sedimentos da malha de drenagem, com a
construção de reservatórios de retenção de sedimentos que podem ser instalados em pontos de
mudanças de declividade e na confluência com outro canal, a exemplo do que acontece no canal Vasco
da Gama, Alencar (2011).
Existem alguns canais com o leito preservado, sem intervenções de alteração do curso d’água,
que não necessitam da utilização de soluções estruturais, porém, é difícil fazer a manutenção, haja vista
a evolução da ocupação urbana e a escassez de recursos financeiros para a preservação permanente
dessas áreas, Cabral e Alencar (2005).
No geral, nas bacias afetadas por inundações, verifica-se que a ocupação urbana se desenvolveu
de jusante para montante. Ou seja, à medida que a urbanização cresce na bacia, os picos de vazão
afluentes às canalizações nas porções de jusante são maiores.
A solução para compatibilização das capacidades se torna difícil ou mesmo inviável, muitas
vezes pela própria presença da urbanização, já bastante consolidada nas áreas mais baixas, ribeirinhas
aos córregos, Canholi (2005). Para a sustentabilidade da macrodrenagem deve-se restituir os espaços
dos cursos d'água, recuperando e preservando seus leitos expandidos para escoamento das inundações,
conforme Figuras 5a e 5b, respeitando as Áreas de Preservação Permanentes (APPs) pouco mantidas
nas zonas urbanas.
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8
Figura 5a - Rio com as margens desocupadas. Figura 5b - Rio com as margens desocupadas, no
período de inundação.
2 - OBJETIVOS E METODOLOGIA
Este trabalho visa avaliar a gestão da drenagem urbana no município do Recife e propor
melhorias para adequação da mesma, com vistas ao controle de alagamentos por intermédio de ações
integradas e que garantam a sua sustentabilidade econômica e ambiental. Utilizou-se de pesquisas
bibliográficas e visita técnica à Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (EMLURB) e estudo de
casos nacionais e internacionais voltados ao controle dos alagamentos e gerenciamento da drenagem
urbana.
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9
Figura 6 - Divisão Político Administrativa do município do Recife. Fonte: Alencar (2011)
De acordo com Alencar (2011), os serviços de manutenção e limpeza dos sistemas de micro e
macrodrenagem nas seis RPA’s do município do Recife, devem seguir princípios para a otimização das
condições da rede, tais como: disponibilização de equipes de vistorias, orçamento e programação, de
execução e fiscalização; adoção de técnicas de manutenção corretiva; limpeza de canais, canaletas e
galerias de forma integrada; prioridades baseadas na condição, com utilização do Diagrama de Pareto,
que consiste na construção de um gráfico que apresenta os itens e a classe na ordem dos números de
ocorrências, apresentando a soma total acumulada. Priorizando, os temas e o estabelecimento de metas
numéricas viáveis de serem alcançadas.
Baseado nas diretrizes do PDCR, Recife (2008), o art. 125 da Lei Orgânica do Município do
Recife (LOMR), Recife (1990) estabelece as bases da Política de Gestão Ambiental e institui o Sistema
de Gestão Ambiental e o Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM), órgão colegiado de
participação comunitária entre o poder público e a sociedade civil. O COMAM propôs a Política
Municipal do Meio Ambiente e o Código do Meio Ambiente e do Equilíbrio Ecológico da Cidade do
Recife - Lei nº 16.243, Recife (1996).
A execução da Política Municipal do Meio Ambiente está a cargo da Secretaria de Meio
Ambiente (SEMAM), e algumas de suas competências tratam de: planejar, fiscalizar, controlar e
monitorar os diversos usos dos recursos ambientais; estudar e acompanhar os padrões e indicadores de
qualidade ambiental; implementar programas de educação ambiental; licenciar atividades que utilizem
recursos naturais, exigindo sempre a publicidade através do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) ou estudos minimizadores de impacto ambiental, de acordo
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 10
com o Decreto nº 24.540 Recife (2009); regularizar leis, decretos, portarias, etc., que envolvam
questões ambientais; exercitar o poder de polícia ambiental no controle das atividades com potencial ou
efetivamente causadoras de impacto ambiental; outras atribuições previstas na LOMR, no PDCR, na
Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife (LOUS), Recife (1997) e no Código de Meio
Ambiente, que objetivem assegurar o cumprimento das exigências constitucionais e legais de defesa do
meio ambiente; elaborar e sistematizar informações sobre o meio-ambiente da cidade, para efeito de
planejamento urbanístico, fundamentado na defesa do meio ambiente como essencial à política urbana
do Recife.
O planejamento da gestão ambiental, em acordo com as diretrizes do PDCR, baseia-se num
sistema de informações onde se insere o conhecimento dos recursos geo-referenciados, denominado
Sistema de Informações do Meio Ambiente (SIMA), o qual deve possibilitar o conhecimento das
características e dos elementos constituintes do espaço natural e do espaço construído. O SIMA deve
servir para planejamento e gerenciamento, nas matérias referentes ao meio ambiente e ao equilíbrio
ecológico, sendo um instrumento importante para a gestão ambiental, com a possibilidade de gerar
indicadores ambientais que subsidiem o órgão executivo nas suas propostas de ação. No entanto, o
SIMA ainda não incorporou as informações referentes as galerias de drenagem.
O Código do Meio Ambiente, no Art. 26, define que o serviço urbano de drenagem pluvial deve
obedecer ao Plano Diretor de Drenagem do Município do Recife, conforme diretrizes estabelecidas no
PDCR, devendo ser asseguradas à população condições necessárias a uma melhor qualidade de vida,
através de ações voltadas à saúde do indivíduo e da coletividade. Também define como prioritárias,
para as ações de implantação e manutenção do sistema de drenagem, as áreas que indiquem a
existência de problemas de segurança. O Art. 27 expressa que na elaboração do Plano Diretor de
Drenagem, deverão ser observados: o percentual de Taxa de Solo Natural (TSN), mantido no interior
dos lotes por zona, conforme definido na LUOS; as áreas de recarga dos aquíferos; as Unidades de
Conservação Municipais. O Art. 28 determina que a manutenção do sistema de drenagem inclui a
limpeza e desobstrução da malha de macro e microdrenagem e as obras civis de recuperação dos
elementos físicos construídos, visando à melhoria das condições ambientais, para os fins previstos no
PDCR.
No PDCR, o Art. 61 determina que o serviço público de drenagem urbana deve objetivar o
gerenciamento da rede hídrica no território municipal, visando o equilíbrio sistêmico de absorção,
retenção e escoamento das águas pluviais. Expõe que o Município do Recife poderá formar consórcios
públicos para a realização conjunta de ações de controle e monitoramento da macro-drenagem das
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11
águas pluviais. Define que o Plano Setorial de Macrodrenagem é um instrumento de planejamento e
deverá indicar intervenções estruturais, medidas de controle e monitoramento, definindo critérios para
o uso do solo compatível com os serviços de drenagem, considerando as bacias hidrográficas do Recife
e de seus municípios limítrofes. O Plano Setorial de Macrodrenagem também deverá considerar como
prioritárias as intervenções que visem minimizar os efeitos do fenômeno de aquecimento global na
elevação do nível dos oceanos. No Art. 62 do PDCR, ficam estabelecidas como ações prioritárias no
manejo das águas pluviais: definir mecanismos de fomento para usos do solo compatíveis com áreas de
interesse para drenagem, como parques lineares, área de recreação e lazer, hortas comunitárias e
manutenção da vegetação nativa; implantar medidas de prevenção de inundações, incluindo controle de
erosão, especialmente em movimentos de terra, controle de transporte e deposição de entulho e lixo,
combate ao desmatamento, assentamentos clandestinos e outros tipos de ocupações nas áreas com
interesse para drenagem; e investir na renaturalização e melhoria das calhas fluviais e na recuperação
dos sistemas de macro e micro-drenagem.
Além dos instrumentos acima referenciados, o município conta com outros dispositivos para a
implementação da Política Ambiental, inclusive para o manejo das águas pluviais e drenagem urbana,
conforme segue abaixo.
O Projeto de Qualidade das Águas e Controle da Poluição Hídrica das Bacias dos Rios Beberibe,
Capibaribe e Jaboatão (PQA) elaborado em 1997, identifica na Cidade do Recife 24 áreas afetadas por
fenômenos de alagamento. O estudo faz uma recomendação para utilização de tempos de retorno de 10
anos para a microdrenagem e de 20 anos para canais e cursos d’água FIDEM (1997).
No estudo sobre o Plano de Gerenciamento da Drenagem de Águas Pluviais e do Esgotamento
Sanitário para a Região Metropolitana do Recife, elaborado pela Agência de Cooperação Internacional
do Japão JICA (2001), com horizonte de execução até 2020.
O Prometrópole, programa do Governo do Estado de Pernambuco, ainda em andamento,
executado em parceria com diversas entidades da administração direta e indireta do Estado e com
Prefeituras Municipais, através de recursos financeiros do Banco Interamericano, tem como área de
abrangência a bacia do Rio Beberibe. É um plano integrado de desenvolvimento que abrange os
sistemas de coleta de esgoto, abastecimento de água, pavimentação, drenagem, coleta de resíduos
sólidos e proposta de reassentamento de famílias que estão em áreas de risco.
Quanto à administração dos serviços públicos relacionados ao setor de saneamento ambiental, na
esfera municipal, constituem os principais órgãos de execução e controle: a Empresa de Urbanização
do Recife (URB) responsável pelos serviços de construção dos sistemas de drenagem, realizando o
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projeto e a execução das obras; a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (EMLURB), responsável
pela operação dos serviços de manutenção, limpeza, consertos e adaptações dos dispositivos de
drenagem. Também sendo de sua responsabilidade a coleta e o destino final dos resíduos sólidos; a
Companhia de Defesa Civil do Recife (CODECIR), Defesa Civil da Cidade do Recife que realiza a
partir do Programa Guarda-Chuvas ações preventivas e emergenciais na proteção das áreas de risco nos
morros e nos alagados, por ocasião das chuvas intensas; a Diretoria de Meio Ambiente (DIRMAM),
entre outras atribuições, é responsável pelo licenciamento e pela fiscalização ambiental municipal,
visando assegurar que os recursos ambientais sejam explorados e utilizados de acordo com a legislação
e também coibir a prática de ilícitos ambientais. Na esfera estadual: a Companhia Pernambucana de
Saneamento (COMPESA), empresa concessionária responsável pelos sistemas abastecimento d’água e
de esgotamento sanitário do Recife e de outros municípios do Estado.
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os instrumentos de gestão para a drenagem pluvial são importantes subsídios à gestão ambiental
municipal. No entanto, é necessário que sejam efetivamente implementados. O PDCR prevê a
elaboração do Plano Diretor de Drenagem urbana, porém o município do Recife ainda não possui o
mesmo atualizado.
A formalização de consórcios públicos e a criação do Fundo Municipal de Saneamento Integrado
estão previstas no PDCR e não são aplicadas. Sendo que, a escassez de recursos financeiros
impossibilita a conservação e ampliação dos dispositivos de drenagem de águas pluviais; a operação e
manutenção dos sistemas de micro e macrodrenagem; a aplicação de planos de renaturalização dos
cursos d’água; e a aplicação de medidas não-estruturais e compensatórias.
Além disso, a falta de uma tarifa de cobrança pelos serviços de drenagem ou decorrente da
impermeabilização do solo natural é outra falha na gestão sustentável da drenagem pluvial do
município do Recife.
A falta de atualização do Plano Setorial de Macrodrenagem e a inexistência de indicadores de
drenagem predefinidos e posteriores monitoramentos para a mensuração das técnicas adotadas,
impossibilita aferir a redução dos alagamentos e a eficiência do modelo de gestão atualmente adotado.
Outro importante instrumento para a drenagem urbana, refere-se à gestão dos efluentes. Dados do
IBGE (2007) indicam que apenas 47,12% de domicílios, no município do Recife, possuem tratamento
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dos efluentes, o que contribui para a ocorrência de ligações clandestinas nos sistemas de drenagem de
águas pluviais, sobrecarregando os mesmos e causando danos sócioambientais.
Também a gestão dos resíduos sólidos, que possui custos elevados investidos na coleta dos
mesmos e cerca de 1% deixa de ser coletado, SNIS (2008) e a falta de ações contínuas e bem
estruturadas votadas à educação ambiental, dificultam a sustentabilidade da drenagem urbana do
Recife.
Verifica-se, no PDCR, que as decisões referentes à drenagem das zonas ribeirinhas devem ser
pensadas na ótica da bacia hidrográfica, com conseqüente compartilhamento das responsabilidades e
dos problemas entre os municípios das bacias, o que não vem ocorrendo.
Percebe-se também, a falta de ações que contemplem medidas de engenharia e de cunho
ambiental, social, econômico e administrativo, o que vem dificultando a adequação estrutural e
ambiental da drenagem pluvial do Recife, para sua sustentabilidade.
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Faz-se necessário modificar as intervenções que hoje vem sendo realizadas nas áreas de morro,
adotando-se técnicas ambientais que primem pela reintrodução da vegetação para a estabilização das
encostas e que ao mesmo tempo não tragam consequências para a drenagem urbana.
Quanto aos serviços de manutenção, embora tenham sido adotados critérios para a realização de
atividades de manutenção e limpeza dos sistemas de micro e macrodrenagem, sugere-se para o melhor
gerenciamento das águas pluviais, o mapeamento e posterior zoneamento de áreas, em função do risco
de alagamento e desmoronamento, tanto para as áreas habitadas quanto para aquelas não atingidas pela
urbanização. Além disso, é imprescindível a implantação de sistemas de medição das precipitações e de
sistemas de alerta para eventos críticos de precipitações.
Deve-se incentivar o uso de grelhas com manutenção sistemática, em substituição das bocas de
lobo convencionais. Impedindo, desta forma, a entrada de resíduos sólidos que, quando não as entope,
são conduzidos para os corpos receptores, contribuindo com a poluição dos cursos d’água e das praias.
A gestão dos resíduos sólidos deve incentivar a coleta seletiva, assim como a criação de
cooperativas de catadores, diminuindo os custos com a coleta, transporte e destino dos resíduos,
colaborando com a sustentabilidade socioambiental.
Apesar de algumas iniciativas de educação ambiental da prefeitura, existe a necessidade da
implementação de um plano de educação socioambiental permanente, com envolvimento de
instituições públicas e privadas, assim como da população, possibilitando a reflexão para a
conscientização sobre a importância em manter os cursos d’água preservados, livres dos efluentes, dos
resíduos sólidos e da ocupação urbana.
Como solução para a integração dos serviços de saneamento, propõe-se a criação de um ente
gestor, formalizado a partir da agregação de municípios pertencentes às bacias hidrográficas de
interferência, inclusive com possibilidade de integração com o Governo Federal e Estadual.
Porém, a criação de instância institucional não é suficiente, sendo indispensável a continuada
capacitação dos gestores públicos, possibilitando o conhecimento de técnicas sustentáveis, que sirvam
para contratar ou mesmo acompanhar o desenvolvimento de projetos e execução de obras. Embasando-
os nos momentos de tomadas de decisão e, ao mesmo tempo, contribuindo para a escolha de
alternativas mais eficazes para a prevenção e o controle de cheias e alagamentos.
Para o controle e o monitoramento das enchentes e dos alagamentos é necessário um cadastro
técnico de drenagem com informações atualizadas regularmente. Tendo todas as características técnicas
das redes de drenagem do Município inseridas e com contínuas verificações sobre a dimensão dos
picos de escoamento. Desta forma, é necessária a utilização de instrumentos de simulação numérica
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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 15
adequados, que informe a capacidade de escoamento da rede e sua atual situação operacional. Também
possibilitando a avaliação das descargas dos canais, para períodos de retorno adequados, permitindo
definir a seção de escoamento necessária.
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Figuras 7 e 8 - Revitalização de igarapés em Manaus. Fotos de Ricardo Braga
Além da proteção do manancial, a revitalização do local proporcionou a criação de espaços
disponíveis para o lazer, esporte e cultura, impedindo que as margens dos cursos d'água sejam
novamente ocupadas.
5 - CONCLUSÕES
BIBLIOGRAFIA
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13 de setembro de 1996. Estabelece a política do meio ambiente da Cidade do Recife e consolida a sua
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RECIFE. Lei Orgânica do Município do Recife (LOMR) - 04 de abril de 1990. Decreta e promulga a lei
orgânica municipal do Recife.
RECIFE. Lei de uso e ocupação do solo da cidade do Recife (LOUS) de 30 de janeiro de 1997. Dispõe
sobre as condições de Uso e Ocupação do Solo na Cidade do Recife e dá outras providências.
RECIFE. Plano Diretor de Recife (PDCR) Lei nº17511 de 29 de dezembro de 2008. Promove a revisão
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