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PROCESSOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ENTRE OS TCCS DE RELAÇÕES

PÚBLICAS DA UFSM-FW E AS ENTIDADES CIENTÍFICAS DA ÁREA DE


COMUNICAÇÃO1

Kássia Nadine LUTZ2; Rafael FOLETTO3; Gabriel Masarro ARAUJO4


Universidade Federal de Santa Maria campus Frederico Westphalen (UFSM-FW)

Resumo: O artigo tem como objeto de estudo 42 monografias apresentadas entre os anos de 2013 e 2017 ao
curso de Relações Públicas da Universidade Federal de Santa Maria campus Frederico Westphalen (UFSM-
FW). A partir disso, o objetivo geral é investigar os processos teórico-metodológicos entre os TCCs do curso
de RP e as publicações das entidades da área de comunicação. O trabalho está vinculado ao projeto de pesquisa
“O saber metodológico nos Trabalhos de Conclusão de Curso do Departamento de Ciências da Comunicação
da UFSM-FW” e parte de uma investigação mais ampla e já iniciada. Dessa forma, identificamos em um
primeiro momento os principais métodos e técnicas e problemas de pesquisa nas metodologias das
monografias. A partir disso, nos baseamos em Bonin (2008), Maldonado (2002), Lopes (2004; 2006) e Bueno
(2013) para problematizar aspectos metodológicos nas pesquisas em comunicação. Em um segundo momento,
pretendemos verificar quais publicações das entidades da área de comunicação são utilizadas nos TCCs e de
que forma esse uso ocorre.

Palavras-chave: Metodologia; processos teórico-metodológicos; Trabalhos de Conclusão de Curso; Relações


Públicas; entidades científicas de comunicação.

Introdução

Levando em consideração que os objetos de estudo em comunicação apresentam caráter


histórico, mutável e dinâmico, definimos a necessidade de revisão e renovação, tanto em aspectos
teóricos quanto metodológicos, corroborando com a ideia de Lopes (2006) de que um saber não é
estático e nem definitivo em sua essência. Nessa lógica, inserimos nosso problema de pesquisa: quais
os processos teórico-metodológicos existentes entre os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) do
curso de Relações Públicas da UFSM campus Frederico Westphalen e as publicações das entidades
da área de comunicação? Para responder a tal questão, estabelecemos como objetivo geral investigar

1
Trabalho apresentado no GT 3 – Comunicação e Organizações do II Simpósio Internacional de Comunicação, realizado
de 22 a 24 de agosto de 2018, na UFSM campus Frederico Westphalen.
2
Autora do trabalho. Estudante do 7º semestre de Relações Públicas da UFSM –FW, e-mail: kassialutz@gmail.com.
3
Autor do trabalho. Doutor em comunicação e docente do Departamento de Ciências da Comunicação na UFSM-FW, e-
mail: rafoletto@gmail.com.
4
Autor do trabalho. Estudante do 6º semestre de Jornalismo da UFSM-FW, e-mail: gabriel.masarro@hotmail.com.

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os processos teórico-metodológicos entre os TCCs do curso de Relações Públicas e as publicações
das entidades da área de comunicação. Especificamente, objetivamos: a) entender os principais
métodos e técnicas de pesquisa e problemas teórico-metodológicos dos TCCs de Relações Públicas
da UFSM-FW em termos de construção; e b) analisar os usos e relações dos TCCs com as publicações
de entidades científicas da área de comunicação.
Em se tratando do objeto de estudo, este constitui-se de 42 monografias apresentadas ao curso
de Relações Públicas entre os anos de 2013 e 2017, estando distribuídas da seguinte forma: 10 TCCs
em 2013; 09 em 2014; 07 em 2015; 06 em 2016; e 10 em 2017. O trabalho está vinculado ao projeto
de pesquisa “O saber metodológico nos Trabalhos de Conclusão de Curso do Departamento de
Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Frederico Westphalen”
e parte de uma investigação mais ampla e já iniciada. Dessa forma, identificamos em um primeiro
momento os principais métodos e técnicas e problemas de pesquisa nas metodologias das
monografias. A partir disso, nos baseamos em Bonin (2008), Maldonado (2002), Lopes (2004; 2006)
e Bueno (2013) para problematizar aspectos metodológicos nas pesquisas em comunicação. Em um
segundo momento, pretendemos verificar quais publicações das entidades da área de comunicação
são utilizadas nos TCCs e de que forma esse uso ocorre.

Considerações sobre práticas metodológicas na pesquisa em Comunicação

Percebemos que analisar e problematizar investigações sobre um determinando campo


científico auxilia os pesquisadores a darem prosseguimento a estudos já realizados, possibilitando
avançar a partir de descobertas documentadas. Por exemplo, no Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacam-se
alguns trabalhos desse tipo, como: “Teses e Dissertações em Comunicação no Brasil (1992-1996)”
(STUMPF; CAPPARELLI, 1998); “Teses e Dissertações em Comunicação no Brasil (1997-1999)”
(STUMPF; CAPPARELLI, 2001); “Meios e Audiências: a emergência dos estudos de recepção no
Brasil (JACKS, 2008)” e “Meios de Audiências II: a consolidação dos estudos de recepção no Brasil
(JACKS, 2014)”. Trabalhos desenvolvidos nesse sentido contribuem para fomentar o debate em
relação ao fazer pesquisa e aos desdobramentos e avanços do conhecimento científico na área da
comunicação.
No que tange aos processos metódicos e metodológicos em comunicação, isto é, a forma de
estudar os objetos de pesquisa na área, encontram-se trabalhos como, por exemplo, “Usos da AC em

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Trabalhos de Conclusão do Curso de Jornalismo” (SANTOS; TONUS, 2015); “Intercom: pesquisas
feitas com o método (1996 a 2012)” (PESSONI, 2015). Além disso, autores como Bonin (2008),
Maldonado (2002) e Lopes (2004; 2006) e Bueno (2013) desenvolvem estudos sobre problemáticas
epistemológicas no campo comunicacional, incluindo questões referentes às práticas metodológicas
na pesquisa em comunicação.
Em se tratando do conceito de metodologia, ele é trazido por Lopes (2004) como sendo um
processo de tomada de decisões e opções que estruturam o processo de investigação, tanto em níveis
quanto em fases, ocorrendo em um espaço denominado epistêmico. Ainda nas palavras da autora,
tratar sobre metodologia implica sempre em um falar pedagógico que, por sua vez, produz um efeito
que remete a um “como fazer pesquisa”. Por sua vez, Bonin (2008, p. 121) afirma que a metodologia
é a dimensão da práxis da pesquisa, por isso, pode ser definida como a “instância corporificada em
fazeres, operações, experimentações e procedimentos que vão dando feição ao objeto do
conhecimento [...]. A autora ainda lembra que é a partir do método que irá depender a fecundidade
do conhecimento que será construído, justificando assim a importância de aprofundar sua concepção.
Partindo do entendimento da dimensão metodológica como aquela que é constitutiva do
processo de construção da pesquisa, é preciso atenção na hora de aliá-la à dimensão teórica do objeto
de estudo. Maldonado (2002, s/p) confirma isso quando diz que “não é possível fazer imersões e
reformulações teóricas de fôlego, que apresentem interessantes argumentações sem articulá-las com
estratégias metodológicas fortes.” Sob esse aspecto, um meio de articular essas estratégias é a
pesquisa metodológica explicada por Bonin (2008, p. 124), que implica em “investir em trabalho de
reflexão de teorias do método para alicerçar a construção da investigação.” A pesquisa metodológica
compreende processos de estudo, desconstrução, reflexão, reformulação e apropriação de propostas
metodológicas, que podem ser encontrados em textos metodológicos de cunho reflexivo e em
pesquisas concretas. Bonin (2008) ressalta ainda que esse tipo de pesquisa pode ser aliada a outras
vias, como a pesquisa da pesquisa, exploratória e de contextualização, para que, ao realizar a
aproximação empírica com o objeto, se possa, de fato, construir uma metodologia adequada a ele.
Maldonado (2002) também explica que o nível metodológico de pesquisa possui
reconhecimento formal, mas ainda assim é abordado de forma instrumental ou secundária. Isso faz
com que, na maioria das vezes, haja dissonância entre o embasamento teórico, a problematização
empírica e os aportes metodológicos da pesquisa ou, ainda pior, que a metodologia se resuma a uma

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mera aplicação de ferramentas. Bueno (2013, p. 739) traz à tona essa questão quando ressalta a “[..]
falta vigilância epistemológica porque os pesquisadores, sobretudo os mais jovens, acabam, já nos
seus cursos de graduação, assumindo essa postura operacional ou tática em sua relação com a
metodologia da pesquisa, abandonando o esforço de reflexão.”
Outros entraves à pesquisa em comunicação provenientes de deficiências metodológicas
também são trazidos por Bueno (2013), como a tentativa de fragmentação do objeto que,
frequentemente, acaba por reduzir a pesquisa a estudos de caso, a exercícios incorretos da análise do
discurso ou mesmo a tentativas imprecisas de utilização da análise de conteúdo. Além disso, as teorias
que embasam os projetos de pesquisa são, muitas vezes, meras revisões bibliográficas referentes a
determinados temas, constituindo-se como um compilado de citações, sem atentar para a
sistematização de conceitos ou o embate de ideias/posições. Mais um problema apontado por Bueno
(2013) é a miscelânea de métodos ou técnicas que, muitas vezes, não dialogam e nem se
complementam, apenas ampliam o desencontro entre os dados, análise, as conclusões e os
pressupostos. O autor ainda sugere que esse uso inadequado de métodos e técnicas pode ser fruto
tanto do desconhecimento da sua totalidade, de seu alcance e de suas limitações, quanto da tentativa
ou impossibilidade de assumi-los em sua íntegra.
Ainda ponderando sobre práticas metodológicas, Braga (2008) coloca o estudo de caso como
um método muito importante na produção de conhecimento na pesquisa em comunicação,
principalmente por “gerar conhecimento rigoroso e diversificado sobre uma pluralidade de
fenômenos que são intuitivamente percebidos como de interesse para a área (o conhecimento dos
casos em si)” (BRAGA, 2008, p. 77). Contudo, o autor cita alguns riscos, a exemplo de quando o
caso estudado serve apenar para confirmar uma teoria, isto é, “fala-se abstratamente «sobre um
objeto», com base em teorias aprioristicamente escolhidas, mostrando que este se conforma às
perspectivas expressas por estas” (BRAGA, 2008, p. 77).
A concepção instrumental da metodologia é criticada por Lopes (1990 apud. BONIN, 2008),
que defende a necessidade de estabelecer a reflexão como fundamento da prática metodológica, isto
é, a interrogação e avaliação perante cada prática investigativa. A necessidade da reflexão
metodológica é explicada por pela autora em outro trabalho (LOPES, 2004, p. 20) quando afirma que
ela “não só é importante como necessária para criar uma atitude consciente e crítica por parte do
investigador quanto às operações que realiza ao longo das investigações.”
Além disso, essa instância de reflexão é possível pois a pesquisa não é redutível a uma
sequência de operações, normas e procedimentos imutáveis, não é uma “receita pronta” e burocrática

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de “como fazer pesquisa”. (LOPES, 2004). De certa forma, o rigor da metodologia está na
necessidade de sua reflexão.

Delineamento metodológico

Frente à multidimensionalidade que os objetos de pesquisa em comunicação podem


apresentar, tanto em relação aos fenômenos midiáticos e/ou comunicacionais, o caminho a ser traçado
para a sua investigação não deve ser escolhido à toa, mas sim englobando procedimentos que possam
dar conta desta complexidade e responder à problemática da pesquisa. Por isso que Bonin (2011)
salienta que as práticas metodológicas na pesquisa em comunicação requerem o desenvolvimento de
competências e habilidades concretas, transformadas posteriormente em ações. Todas estas questões
constituem a metodologia construída para o trabalho.
Pensando então no caminho que traçamos para responder aos objetivos da pesquisa, nosso
delineamento metodológico engloba tanto a pesquisa de caráter quantitativo, quando realiza o
“tratamento objetivo, matemático e estatístico” dos dados (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 88),
como também a pesquisa qualitativa, pois se preocupa “com aspectos da realidade que não podem ser
quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais”
(SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p. 32). Nesse sentido, de forma prática, a pesquisa quantitativa
(MARCONI; LAKATOS, 2003) foi utilizada em um primeiro momento para quantificar os usos de
métodos e técnicas dos Trabalhos de Conclusão de Curso de Relações Públicas da UFSM-FW, além
de trabalhar de modo estatístico alguns problemas teórico-metodológicos, a saber: fontes não-
científicas utilizadas; métodos e/ou técnicas não mencionados; método mencionado mas não
referenciado e técnica mencionada mas não referenciada. Para efeitos de organização, cada um desses
pontos analisados foi colocado em uma tabela, dividida por ano e por autor do trabalho.
Feito isso, a pesquisa qualitativa (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009) foi utilizada para
realizarmos alguns apontamentos sobre as principais questões da metodologia dos TCCs, baseados
nas problematizações abordadas na pesquisa bibliográfica. Nesse caso, lidamos com questões
referentes a como foram utilizados os métodos e técnicas, ou seja, aspectos que não podem ser
explicados com números. Como já citamos anteriormente, esta investigação faz parte de um trabalho
mais amplo e já iniciado, vinculado a um projeto de pesquisa. Por isso, neste artigo em questão, nosso
foco foram os processos teórico-metodológicos entre os TCCs de RP e as publicações das entidades
científicas da área de comunicação. Para isso, novamente usamos a pesquisa quantitativa

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(MARCONI; LAKATOS, 2003), verificando quais as entidades mais utilizadas pelos pesquisadores
e qual a finalidade dos usos das publicações.
Para possibilitar o embasamento teórico acerca de práticas metodológicas na pesquisa em
comunicação, recorremos à pesquisa bibliográfica (GIL, 2014) de autores como Bonin (2008),
Maldonado (2002), Braga (2008) e Lopes (2004; 2006), que desenvolveram estudos mais recentes
sobre o tema, mas baseando-se em autores clássicos como Bachelard (1977), Bourdieu (1999) e
Certeau (1994). Além disso, lançamos mão da técnica de pesquisa documental com base em Marconi
e Lakatos (2003), em função do nosso objeto de estudo, que se trata das monografias produzidas por
estudantes do curso de Relações Públicas da UFSM-FW. Nesse caso, a pesquisa documental lida com
o que as autoras chamam de dados de fontes secundárias, isto é, cuja autoria é conhecida (MARCONI;
LAKATOS, 2003, P. 176). Durante a realização dessa técnica, levamos em conta alguns pontos
específicos de cada monografia, para depois analisá-los quantitativamente, sendo eles: ano e autor/a
(do TCC); métodos e autores (usados para embasar os métodos); técnicas e autores (usados para
embasar as técnicas); objeto de estudo; fenômeno/processo (estudado no TCC); principal(is) tema(s)
que aparecem na teoria.

Entendendo os processos teórico-metodológicos dos TCCs de RP da UFSM-FW

Um aspecto importante a ser explicado neste primeiro momento é sobre o que entendemos por
“método” e “técnica” de pesquisa durante a leitura das monografias. Isso porque percebemos que na
própria literatura sobre metodologia os autores têm visões distintas sobre o que são métodos e o que
são técnicas de pesquisa. De maneira semelhante, também encontramos essas diferenças nos TCCs.
Contudo, para fins de organização, consideramos como método as etapas metodológicas mais teóricas
e amplas, nas quais estão englobadas técnicas, sendo estas questões mais operativas relacionadas à
coleta e análise de dados. Para um entendimento mais claro, tomamos por base o exemplo do estudo
de caso: esse “método supõe que se pode adquirir conhecimento do fenômeno adequadamente a partir
da exploração intensa de um único caso” (BECKER, 1993, p. 117). Para isso, são necessárias várias
técnicas de coleta e análise dos dados, para que se possa, de fato, explorar os vários ângulos do caso
específico. Nesse sentido, o método de estudo de caso pode englobar as técnicas de pesquisa
bibliográfica, pesquisa documental, observação participante e análise de conteúdo, por exemplo.
Tendo esclarecido esse ponto, partimos para a análise do Gráfico 1, que apresenta os métodos

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