apostila
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Mecânica Fundamental
Novembro de 2013
ii
Conteúdo
iii
iv CONTEÚDO
1
2 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
A UNIDADE DE COMPRIMENTO
A unidade padrão de comprimento é o metro. O metro era anteriormente definido como
a distância entre duas marcas numa barra de platina guardada no Museu Internacional de
Padrões Métricos, Sèvres, França. Atualmente definimos o metro como a distância ocu-
pada por exatamente 1.650.763,73 comprimentos de onda de luz da linha laranja do isótopo
Kriptonio 86.
A UNIDADE DE MASSA
A unidade padrão de massa é o quilograma. O quilograma é a massa de um bloco de
platina-irı́dio também guardada no Museu Internacional.
A UNIDADE DE TEMPO
A unidade básica para a medida de tempo, o segundo, era anteriormente definida em
termos da rotação da Terra. Mas, como o metro, o segundo é atualmente definido em termos
de um padrão atômico especı́fico. O segundo é, por definição, o intervalo de tempo necessário
para exatamente 9.192.631,770 oscilações de uma transição atômica particular do isótopo do
Césio de número de massa 133.
O sistema de unidades acima é chamado de sistema MKS. (Neste sistema existe uma
quarta unidade, o Coulomb, que é usado para definir unidades elétricas). Os padrões
atômicos modernos de comprimento e tempo neste sistema não são apenas mais precisos
do que os padrões anteriores, mas são também universalmente reproduzı́veis e indestrutı́veis.
Infelizmente, ainda não é no presente tecnicamente factı́vel empregar um padrão atômico de
massa.
Na verdade, não existe nada particularmente especial a respeito das quantidades fı́sicas
comprimento, massa e tempo como um conjunto básico para definir unidades. Outros con-
juntos de quantidades fı́sicas podem ser usados. Os chamados sistemas gravitacionais usam
comprimento, força e tempo.
Além do sistema MKS, existem outros sistemas em uso comum, ou seja, o CGS, ou
sistema centı́metro-grama-segundo, e o PLS, ou pé-libra-segundo. Estes dois últimos sistemas
podem ser vistos como secundários com relação ao sistema MKS porque suas unidades são
especificamente frações definidas das unidades MKS:
1.2. GRANDEZAS ESCALARES E VETORIAIS 3
1 cm = 10−2 m
1 g = 10−3 kg
1 pé = 0,3048 m
1 libra = 0,4536 kg
1.3 Notação
Quantidades vetoriais são representadas em imprensa por tipo em negrito, por exemplo A,
enquanto tipo itálico representa quantidades escalares. Em trabalho manuscrito é costume
usar uma flecha, A, ~ para representar um vetor.
Especificamos um vetor A ~ por seu módulo, sua direção e sentido em relação a algum sis-
tema de referência escolhido. Diagramaticamente, representamos um vetor por um segmento
de linha direcionada, como mostrado na Figura 1.1.
Um vetor pode também ser especificado relacionando-se suas componentes ou proje-
ções sobre os eixos coordenados. O sı́mbolo de componentes [Ax , Ay , Az ] será usado como
uma representação alternativa de um vetor. O lado direito da equação A ~ = [Ax , Ay , Az ]
exprime o vetor A ~ em termos de suas componentes num sistema de coordenadas particular.
(Consideremos subentendido o uso do sistema de coordenadas cartesianas, a menos que seja
dito o contrário). Por exemplo, se o vetor A ~ representa um deslocamento de um ponto
~
P1 (x1 , y1 , z1 ) até o ponto P2 (x2 , y2 , z2 ), então Ax = x2 − x1 , Ay = y2 − y1 , Az = z2 − z1 . Se A
representa uma força então Ax é a componente x da força, e assim por diante. Evidentemente,
os valores numéricos das componentes escalares de um dado vetor dependem da escolha dos
eixos coordenados.
4 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Az
A
O Ay
y
Ax
Restringindo a discussão a vetores contidos num plano, somente duas componentes são
necessárias. Por outro lado, podemos definir um espaço matemático de qualquer número de
dimensões. Então o sı́mbolo [A1 , A2 , A3 , . . ., An ] representa um vetor n–dimensional. Neste
sentido abstrato um vetor é um conjunto ordenado de números.
1. Igualdade de Vetores
~ =B
A equação A ~ ou
[Ax , Ay , Az ] = [Bx , By , Bz ]
é equivalente às três equações
Ax = Bx Ay = By Az = Bz
Isto é, dois vetores são iguais se, e somente se, suas respectivas componentes forem iguais.
2. Adição de Vetores
A adição de dois vetores é definida pela equação
~ +B
A ~ = [Ax , Ay , Az ] + [Bx , By , Bz ] = [Ax + Bx , Ay + By , Az + Bz ]
A soma de dois vetores é um vetor cujas componentes são as somas das componentes dos
vetores dados.
~ é um vetor,
Se c é um escalar e A
~ = c[Ax , Ay , Az ] = [cAx , cAy , cAz ] = Ac
cA ~
4. Subtração de Vetores
Subtração é definida como se segue:
~ −B
A ~ =A
~ + (−1)B
~ = [Ax − Bx , Ay − By , Az − Bz ]
5. O Vetor Nulo
O vetor ~0 = [0, 0, 0] é chamado de vetor nulo. A direção e sentido do vetor nulo não são
definidas. De (4) segue-se que A ~ −A~ = ~0. Desde que não haja confusão quando o vetor nulo
for representado por um “zero”, usaremos daqui para a frente a notação ~0 = 0.
7. A Lei Associativa
A lei associativa é também verdadeira, porque
~ + (B
A ~ + C)
~ = [Ax + (Bx + Cx ), Ay + (By + Cy ), Az + (Bz + Cz )]
= [(Ax + Bx ) + Cx , (Ay + By ) + Cy , (Az + Bz ) + Cz ]
~ + B)
= (A ~ +C ~
8. A Lei Distributiva
A lei distributiva é válida na multiplicação de um vetor por um escalar porque, de (2) e
(3)
~ + B)
c(A ~ = c[Ax + Bx , Ay + By , Az + Bz ]
= [c(Ax + Bx ), c(Ay + By ), c(Az + Bz )]
= [cAx + cBx , cAy + cBy , cAz + cBz ]
= ~ + cB
cA ~
Então os vetores obedecem as regras da álgebra ordinária enquanto estivermos conside-
rando as operações acima.
6 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O
j y
Uma notação amplamente usada para vetores unitários Cartesianos são as letras ~ı, ~ e ~k, ou
seja
~ı = ~ex ~ = ~ey ~k = ~ez
As direções dos vetores unitários são definidas pelos eixos coordenados (Figura 1.2). Eles
formam uma trı́ade orientada pela regra da mão direita ou pela mão esquerda, dependendo
de qual sistema de coordenadas é usado. É costume usar sistemas coordenados orientado de
acordo com a mão direita. O sistema mostrado na Figura 1.2 é orientado de acordo com a
mão direita.
1. Igualdade de Vetores
Se dois vetores são iguais então os vetores são paralelos e têm o mesmo comprimento,
mas não têm necessariamente a mesma posição. A Figura 1.3, bidimensional para maior
clareza, mostra dois vetores iguais.
y
A=B
By B
A
Ay
O Ax Bx x
Observe que os vetores formam lados opostos de um paralelogramo. (Vetores iguais não
são necessariamente equivalentes em todos os casos. Então duas forças vetorialmente iguais
atuando em diferentes pontos de um objeto podem produzir diferentes efeitos mecânicos).
2. Adição de Vetores
A soma vetorial de dois vetores é igual ao terceiro lado de um triângulo, dois lados do
qual são os vetores dados. A soma vetorial está ilustrada na Figura 1.4. A soma é dada
também pela regra do paralelogramo, como mostrado na Figura. (A soma vetorial é definida
de acordo com a definição dada na seção 1.4 (2), mesmo se os vetores não têm um ponto
comum).
y
C = A+B = B+A
By B C B
Ay
A
O Ax Bx x
~ é paralelo a A
O vetor cA ~ e tem c vezes o comprimento de A.
~ Quando c = −1, o vetor
~ ~
−A tem a mesma direção e sentido oposto a A, como mostrado na Figura 1.5.
-A
~ .B
A ~ = Ax Bx + Ay By + Az Bz (1.4)
~ . (B
A ~ + C)
~ =A
~ .B
~ +A
~ .C
~ (1.6)
1.9. ALGUNS EXEMPLOS DO PRODUTO ESCALAR 9
Da geometria analı́tica lembramos a fórmula para o cosseno do ângulo entre dois segmentos
de linha
Ax Bx + Ay By + Az Bz
cos θ = q q
A2x + A2y + A2z Bx2 + By2 + Bz2
Usando as equações (1.1) e (1.4), a fôrmula acima pode ser escrita
~ .B
A ~
cos θ =
AB
ou
~ .B
A ~ = AB cos θ (1.7)
A equação acima pode ser vista como uma definição alternativa do produto escalar. Geome-
tricamente, A~ .B
~ é igual ao comprimento da projeção de A ~ sobre B,
~ vezes o comprimento
~
de B.
Se o produto escalar A~ .B~ é nulo, então A
~ é perpendicular a B,
~ desde que nem A ~ nem
~ sejam nulos.
B
O quadrado do módulo de um vetor A ~ é dado pelo produto escalar de A
~ com ele mesmo,
~ 2=A
A2 = |A| ~ .A
~
Das definições dos vetores unitários ~ı, ~ e ~k, fica clara a validade das seguintes relações
~ı . ~ı = ~ . ~ = ~k . ~k = 1
~ı . ~ =~ı . ~k = ~ . ~k = 0 (1.8)
∆W = (F cos θ)∆S
∆W = ~F . ∆~S
10 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
θ
∆S
A segunda passagem segue-se da aplicação das regras nas equações (1.5) e (1.6). Vamos
~ .B
substituir A ~ por AB cos θ para obter
C 2 = A2 + B 2 + 2AB cos θ
que é a conhecida lei dos cossenos. Este é apenas um dos exemplos do uso da álgebra vetorial
para provar teoremas em geometria.
C
B
θ
A
A interpretação geométrica do produto vetorial é dada na seção 1.11. Podemos mostrar que
as seguintes regras se aplicam para a multiplicação vetorial.
~ ×B
A ~ = −B
~ ×A
~ (1.10)
~ × (B
A ~ + C)
~ =A
~ ×B
~ +A
~ ×C
~ (1.11)
~ × B)
n(A ~ = n(A)
~ ×B
~ =A
~ × n(B)
~ (1.12)
As provas destas relações decorrem diretamente das definições e vamos deixá-las como exer-
cı́cio.
De acordo com as definições algébricas dos vetores unitários, Equação (1.2), verificamos
imediatamente que as seguintes relações para os produtos vetoriais são verdadeiras:
~ı ×~ı = ~ ×~ = ~k × ~k = 0
~ =~ı Ay Az +~ Az Ax + ~k Ax Ay
~ ×B
A
By Bz Bz Bx Bx By
e finalmente
~ı ~ ~k
~ ×B
A ~ = Ax Ay Az (1.14)
Bx By Bz
que é prontamente verificada pelo desenvolvimento.
A forma determinante é uma ajuda conveniente para se lembrar a definição de produto
vetorial. Das propriedades de determinante pode-se ver que se A ~ é paralelo a B,
~ isto é, se
~ ~
A = cB então as duas últimas linhas do determinante são proporcionais e logo o determinante
é nulo. Então o produto vetorial de dois vetores paralelos é nulo.
Vamos calcular o módulo do produto vetorial. Temos
~ × B|
|A ~ 2 = (Ay Bz − Az By )2 + (Az Bx − Ax Bz )2 + (Ax By − Ay Bx )2
12 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
ou usando a definição de produto escalar, a equação acima pode ser colocada na forma
~ × B|
|A ~ 2 = A 2 B 2 − (A
~ . B)
~ 2
Tomando a raiz quadrada de ambos os lados da equação acima e usando a Equação (1.7),
podemos expressar o módulo do produto vetorial como
√
~ × B|
|A ~ = AB 1 − cos2 θ = AB sen θ (1.15)
~ e B.
onde θ é o ângulo entre A ~
AXB
~ =A
Para interpretar geometricamente o produto vetorial, observamos que o vetor C ~ ×B
~
~ ~
é perpendicular a ambos A e B, pois
~ .C
A ~ = Ax Cx + Ay Cy + Az Cz
= Ax (Ay Bz − Az By ) + Ay (Az Bx − Ax Bz ) + Az (Ax By − Ay Bx )
= 0
orientada de acordo com a mão direita~ı ~ ~k temos~ı ×~ = ~k). Consequentemente, da equação
(1.15) vemos que podemos escrever
~ ×B
A ~ = (AB sen θ)~n (1.16)
Exemplos
~ = 2~ı +~ − ~k, B
1. Dados os dois vetores A ~ =~ı −~ + 2~k, encontre A
~ .B
~ eA
~ × B.
~
~ .B
A ~ = (2)(1) + (1)(−1) + (−1)(2) = 2 − 1 − 2 = −1
~ı ~ ~k
A × B = 2 1 −1 =~ı(2 − 1) +~(−1 − 4) + ~k(−2 − 1) =~ı − 5~ − 3~k
~ ~
1 −1 2
~ e B.
2. Encontre o ângulo entre A ~ Temos, da definição de produto escalar,
~ .B
A ~ −1 −1 1
cos θ = =q q = √ √ =−
AB 22 + 12 + (−1)2 12 + (−1)2 + 22 6 6 6
Então o momento de uma força em relação a um ponto é uma quantidade vetorial tendo
módulo, direção e sentido. Se uma única força for aplicada em um ponto P de um corpo
livre para girar em torno de um ponto fixo O como um pivot, então o corpo tende a girar. O
eixo desta rotação é perpendicular à força ~F, e é também perpendicular à linha OP . Dessa
maneira a direção e sentido do torque será ao longo do eixo de rotação.
14 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
N=rxF
r
P F
θ
Uma discussão mais completa disto será dado mais tarde no Capı́tulo 5.
1.13. REPRESENTAÇÃO DE UM DADO VETOR 15
Exemplo
Encontre um vetor unitário perpendicular ao plano que contém os dois vetores
~ = 2~ı +~ − ~k e B
A ~ =~ı −~ + 2~k
Do exemplo 1, temos
~ =~ı − 5~ − 3~k
~ ×B
A
logo
~ı−5~−3k~
~ B
A× ~
~n = ~
|A×B| ~ = √
1 +5 +32
2 2
5
~ ~
√ı − √ − √3k35
~
= 35 35
A expressão
~ × (B
A ~ × C)
~
é chamada Triplo Produto Vetorial. Deixamos o leitor provar que a seguinte equação é válida
para o triplo produto vetorial
~ × (B
A ~ × C)
~ = (A
~ . C)
~ B~ − (A
~ . B)
~ C~ (1.23)
relativamente a uma nova trı́ade ~ı0 ~0 k~0 tendo orientação diferente daquela de ~ı ~ ~k, o mesmo
vetor A~ é representado por
~ = ~ı0 Ax0 + ~0 Ay0 + k~0 Az0
A
~ . ~ı0 é exatamente Ax0 , isto é, a projeção de A
Mas o produto escalar A ~ no vetor unitário ~ı0 .
Então podemos escrever
~
Ax0 = A . ~ı0 = (~ı . ~ı0 )Ax + (~ . ~ı0 )Ay + (~k . ~ı0 )Az
~
Ay0 = A . ~0 = (~ı . ~0 )Ax + (~ . ~0 )Ay + (~k . ~0 )Az (1.24)
~ . k~0 = (~ı
Az0 = A ~0 ~0
. k )Ax + (~ . k )Ay + (~k . k )Az ~0
Os produtos escalares (~ı . ~ı0 ), (~ı . ~0 ), e os demais, são chamados de coeficientes de transfor-
mação. Eles são iguais aos cossenos diretores dos eixos do sistema de coordenadas com linha
relativamente ao sistema sem linha. Podemos expressar as componentes sem linha da mesma
forma como,
expressas nestes dois conjuntos de equações são propriedades gerais de vetores. Na verdade,
elas constituem uma maneira alternativa de se definir vetores1 .
As equações de transformação são convenientemente expressas em notação matricial.
Então a Equação (1.24) é escrita
~ı . ~ı0 ~ . ~ı0 ~k . ~ı0
A x0 Ax
~0 ~0 ~k . ~0
Ay0 =
~ı . ~ . Ay (1.26)
Exemplos
1. Escreva o vetor A ~ = 3~ı + 2~ + ~k em termos da trı́ade ~ı0~0 k~0 onde os eixos x0 y 0 estão
girados de 45◦ em torno do eixo z. z e z 0 são eixos coincidentes, como mostra a Figura 1.10.
Baseando-nos na figura, temos para os coeficientes de transformação
√ √
~ı . ~ı0 = 1/ 2 ~ . ~ı0 = 1/ 2 ~k . ~ı0 = 0
√ √
~ı . ~0 = −1/ 2 ~ . ~0 = 1/ 2 ~k . ~0 = 0
~ı . k~0 = 0 ~ . k~0 = 0 ~k . k~0 = 1
~ = √5 ~ı0 − √1 ~0 + k0
A
2 2
2. Encontre a matriz transformação para uma rotação do sistema de coordenadas linha de
um ângulo φ em torno do eixo z.
(O exemplo anterior é um caso especial deste). Temos
~ı . ~ı0 = ~ . ~0 = cos φ
~ . ~ı0 = −~ı . ~0 = sen φ
~k . k~0 = 1
1
Veja, por exemplo, L.P. Smith, Mathematical Methods for Scientists and Engineers, Prentice Hall,
Englewood Cliffs, N.J., 1953.
18 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
z,z’
y’
45o
O
y
45o
x
x’
cos φ sen φ 0
− sen φ cos φ 0
0 0 1
É evidente a partir do exemplo acima que a matriz transformação para a rotação em torno
de um eixo coordenado diferente, digamos em torno do eixo y de um ângulo θ, será dado
pela matriz
cos θ 0 − sen θ
0 1 0
sen θ 0 cos θ
A multiplicação matricial é, em geral, não comutativa. Então podemos esperar que se
a ordem das rotações forem trocadas, e dessa maneira a ordem da multiplicação matricial
na esquerda, o resultado final será diferente. Isto é verdade e o leitor poderá verificar. Isto
está de acordo com uma observação feita anteriormente, ou seja, de que rotações finitas não
obedecem a lei de adição vetorial e dessa maneira não são vetores apesar de uma rotação
única ter uma direção e sentido (o eixo) e um módulo (o ângulo da rotação). Todavia,
mostraremos mais tarde que rotações infinitesimais obedecem a lei da adição vetorial, e
podem ser representadas por vetores.
1.16. DERIVADA DE UM VETOR 19
~
dA ~
∆A
∆Ax ∆Ay ~ ∆Az
= lim = lim ~ı +~ +k
du ∆u→0 ∆u ∆u→0 ∆u ∆u ∆u
~
dA dAx dAy ~ dAz
=~ı +~ +k (1.27)
du du du du
A derivada de um vetor, desse modo, é um vetor cujas componentes são derivadas ordinárias.
Segue-se das equações acima que a derivada de uma soma de dois vetores é igual à soma
das derivadas, ou seja
d ~ ~ dA~ ~
dB
(A + B) = + (1.28)
du du du
Regras para diferenciar produtos vetoriais serão tratadas mais tarde na Seção 1.22.
~r =~ı x +~ y + ~k z
O
ix jy x
kz
d~r
~v = =~ı ẋ +~ ẏ + ~k ż (1.29)
dt
onde os pontos indicam diferenciação em relação a t. (Esta convenção é padrão e será
usada doravante neste livro). Vamos examinar o significado geométrico do vetor velocidade.
Suponha que uma partı́cula esteja em uma certa posição no instante t. Em um instante ∆t
mais tarde ela terá se movido da posição ~r(t) para a posição ~r(t + ∆t). O vetor deslocamento
durante o intervalo de tempo ∆t é
P’
r+∆ r
∆r
v
P
O r
linha tangente
ao ponto P
Exemplos
1. Vamos examinar o movimento representado pela equação
gt2
~r(t) =~ı bt +~ (ct − ) + ~k 0
2
que representa um movimento no plano xy, desde que a componente z é constante e igual a
zero. A velocidade ~v é obtida diferenciando-se em relação ao tempo, ou seja,
d~r
~v = =~ı b +~ (c − gt)
dt
A aceleração, do mesmo modo, é dada por
d~v
~a = = −~ g
dt
22 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
v
r
a
O x
Figura 1.13: Vetores posição, velocidade e aceleração de uma partı́cula movendo-se em uma
trajetória parabólica.
d~r
~v = =~ı bω cos ωt −~ bω sen ωt + ~k 0
dt
Desde que a componente z de ~v é zero, o vetor velocidade é paralelo ao plano xy. A partı́cula
se movimenta em sua trajetória com velocidade constante
√
v = |~v| = b2 ω 2 cos2 ωt + b2 ω 2 sen2 ωt = bω
A aceleração
d~v
= −~ı bω 2 sen ωt −~ bω 2 cos ωt
~a =
dt
é perpendicular à velocidade, pois o produto escalar de ~v e ~a se anula
~v . ~a = (bω cos ωt)(−bω 2 sen ωt) + (−bω sen ωt)(−bω 2 cos ωt) = 0
Além disso, a aceleração é perpendicular ao eixo z, como mostrado na Figura 1.14, porque
~a . ~k = 0. A trajetória real é um cı́rculo de raio b contido no plano z = c. O movimento
está ilustrado na Figura 1.14.
1.20. INTEGRAÇÃO VETORIAL 23
v
b a
c
r
y
d~r
=~ı f1 (t) +~ f2 (t) + ~k f3 (t)
dt
Exemplo
O vetor velocidade de uma partı́cula em movimento é dado por
C
~v =~ı A +~ Bt + ~k
t
onde A, B e C são constantes. Encontre ~r.
Por integração, obtemos
Z Z Z
Cdt t2
~r =~ı Adt +~ Btdt + ~k =~ı At +~ B + ~k C ln t +~r0
t 2
O vetor ~r0 é a constante de integração.
24 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
v12
r1
r2 v2
v1 v1 v2
O
(a) (b)
Figura 1.15: Vetor posição relativa (a) e vetor velocidade relativa (b) de duas partı́culas.
Devemos notar que o módulo da velocidade relativa de duas partı́culas não é o mesmo
que a variação temporal da distância entre elas. Esta última quantidade é
d d
|~r12 | = |~r2 −~r1 |
dt dt
que é diferente, em geral, de |~v12 |.
Exemplos
1. Uma partı́cula move-se ao longo do eixo x com velocidade v, sendo seu vetor posição
dado por ~r1 = ~ı (a + vt) onde a é uma constante. Uma segunda partı́cula move-se ao longo
do eixo y com mesma velocidade, e seu vetor posição é ~r2 = ~ (b + vt). Então a velocidade
da segunda partı́cula em relação à primeira é
2. Um aro de raio b rola no chão com uma velocidade ~v0 para a frente. Encontre a velocidade
em relação ao chão de um ponto P qualquer da periferia do aro. Primeiro considere a
expressão
~r0P =~ı b cos θ −~ b sen θ
onde
θ = ωt
Isto representa um movimento circular no sentido horário em torno da origem, o centro
da roda, neste caso. A derivada em relação ao tempo então nos dá a velocidade de P
relativamente ao centro do aro
Mas a velocidade angular é ω = v0 /b, e desde que a velocidade do centro do aro em relação
ao solo é ~ı v0 , então a velocidade de P em relação ao solo é
vrel v0
vrel v
v0 v0 v0
v
vrel
v=0
vrel v0
Figura 1.16: Vetores velocidade para vários pontos de um aro que rola.
d(A~ × B)
~ ~ + ∆u) × B(u
A(u ~ + ∆u) − A(u)
~ ~
× B(u)
= lim
du ∆u→0 ∆u
~
Adicionando-se e subtraindo-se expressões como n(u + ∆u)A(u) aos numeradores, obtemos
as seguintes regras:
~
d(nA) dn ~ ~
dA
= A+n (1.34)
du du du
~ . B)
d(A ~ ~
dA ~
= .B ~ . dB
~ +A (1.35)
du du du
d(A~ × B)
~ dA~ ~
= ×B ~ +A ~ × dB (1.36)
du du du
Observemos que é necessário preservar a ordem dos termos na derivada do produto ve-
torial. As etapas são deixadas como exercı́cio para o leitor.
~v = v~τ (1.37)
τ’
n’ P’ ∆τ
C
∆φ
ρ ∆S τ’
∆φ
τ
τ
n
P
(a) (b)
A seguir, para encontrar a derivada de ~τ em relação ao tempo d~τ /dt, usamos a regra da
cadeia como segue
d~τ d~τ dφ dφ ds v
= = ~n = ~n
dt dφ dt ds dt ρ
onde
ds
ρ=
dφ
é o raio de curvatura da trajetória da partı́cula no ponto P . O valor acima para d~τ /dt é
agora levado na Equação (1.38) para nos dar o resultado final
v2
~a = v̇~τ + ~n (1.40)
ρ
aτ = v̇ = s̈
v2
an =
ρ
é a componente normal. Esta componente está sempre apontando diretamente para o cen-
tro de curvatura no lado côncavo da trajetória. Por isso a componente normal é também
chamada de aceleração centrı́peta.
28 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
aτ
P P
a
a an
O O
(a) (b)
Figura 1.18: Vetores aceleração para uma partı́cula se movendo numa trajetória circular.
(a) velocidade constante; (b) velocidade aumentando.
Das considerações acima vemos que a derivada relativa ao tempo do módulo da velocidade
é apenas a componente tangencial da aceleração. O módulo da aceleração total é dado por
s
d~v v4
|~a| = = v̇ 2 + (1.41)
dt ρ2
Por exemplo, se uma partı́cula move-se num cı́rculo com velocidade constante v, o vetor
2
aceleração tem módulo Rv 0 onde R0 é o raio do cı́rculo. O vetor aceleração aponta sempre
para o centro do cı́rculo nesse caso. Todavia, se o módulo da velocidade não é constante
mas aumenta numa taxa v̇, então a aceleração tem uma componente para a frente desta
quantidade e é desviada do centro do cı́rculo para o lado do movimento, como ilustrado na
Figura 1.18. Se a partı́cula está parando, então o vetor aceleração é desviado na direção
oposta.
~r = r~er (1.42)
Quando a partı́cula se move, ambos r e ~er variam, pois ambos são funções do tempo. Dessa
maneira, se derivarmos em relação ao tempo, teremos
d~r d~er
~v = = ṙ~er + r (1.43)
dt dt
Para calcular a derivada d~er /dt vamos considerar o diagrama vetorial na Figura 1.19. Um
estudo da figura mostra que quando a direção de ~r varia de uma quantidade ∆θ, a mudança
1.24. VELOCIDADE E ACELERAÇÃO EM COORDENADAS POLARES PLANAS 29
correspondente ∆~er no vetor radial unitário será obtido da seguinte maneira: o módulo
|∆~er | é aproximadamente igual a ∆θ, e a direção de ∆~er é quase perpendicular a ~er . Vamos
introduzir outro vetor unitário ~eθ cuja direção é perpendicular a ~er . Então temos
∆~er = ~eθ ∆θ
d~er dθ
= ~eθ (1.44)
dt dt
para a derivada em relação ao tempo do vetor radial unitário. Da mesma forma, podemos
argumentar que a mudança no vetor ~eθ é dado pela aproximação
∆~eθ = −~er ∆θ
Aqui o sinal negativo é colocado para indicar que a direção da variação ∆~eθ é oposto à
direção de ~er , como pode ser visto na figura. Consequentemente, a derivada temporal de ~eθ
é dada por
d~eθ dθ
= −~er (1.45)
dt dt
∆eθ
∆er
eθ
eθ ∆θ ∆θ
er er
r
j θ
O i x
Usando a Equação (1.44) para a derivada do vetor radial unitário, podemos finalmente
escrever a equação para a velocidade como
Os valores de d~er /dt e d~eθ /dt são dados pelas Equações (1.44) e (1.45) e nos leva à seguinte
equação para o vetor aceleração em coordenadas polares planas:
ar = r̈ − rθ̇2 (1.48)
e a componente transversal é
1d 2
aθ = rθ̈ + 2ṙθ̇ = (r θ̇) (1.49)
r dt
O resultado acima mostra, por exemplo, que se uma partı́cula se move num cı́rculo de raio
constante b, então ṙ = 0, e dessa maneira a componente radial da aceleração tem valor bθ̇2 e
aponta diretamente para o centro da trajetória circular. O valor da componente transversal
neste caso é bθ̈. Por outro lado, se a partı́cula se move ao longo de uma linha radial fixa,
isto é, se θ é constante, então a componente radial se reduz a r̈ e a componente transversal
se anula. Se r e θ ambos variam, então a expressão geral (1.47) dá a aceleração.
Exemplo
Uma partı́cula move-se em uma trajetória espiral dada pelas coordenadas polares
r = bt2 θ = ct
é interessante notar que, neste exemplo, a componente radial da aceleração torna-se negativa
para t grande, apesar do raio estar sempre crescendo monotonicamente com o tempo.
onde ~eR é um vetor radial unitário no plano xy e ~ez é um vetor unitário na direção z. Um
terceiro vetor unitário ~eφ é necessário para que os três vetores ~eR~eφ~ez constituam uma trı́ade
orientada de acordo com a mão direita como ilustrado na Figura 1.20. Notamos que ~k = ~ez .
Os vetores velocidade e aceleração são obtidos por diferenciação, como antes. Isto nova-
mente envolverá derivadas de vetor unitários. Um argumento semelhante àquele usado no
caso bidimensional mostra que d~eR /dt = ~eφ φ̇ e d~eφ /dt = −~eR φ̇. O vetor unitário ~ez não varia
sua direção, logo sua derivada relativa ao tempo é zero.
Tendo em vista estes fatos, vemos facilmente que os vetores velocidade e aceleração são
dados pelas relações abaixo
~v = Ṙ~eR + Rφ̇~eφ + ż~ez (1.51)
~a = (R̈ − Rφ̇2 )~eR + (2Ṙφ̇ + Rφ̈)~eφ + z̈~ez (1.52)
Estas equações dão os valores de ~v e ~a em termos de suas componentes na trı́ade girada
~eR~eφ~ez .
z
ez
eφ
eR
k
z
j
O
y
i R
x φ
Deixamos as etapas como um exercı́cio. O mesmo resultado pode ser também obtido utili-
zando a matriz rotação como foi feito no Exemplo 2, Seção 1.15.
32 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
eφ
er
θ
k r
eθ
O
j y
i
φ
x
A velocidade é
d~r d~er
~v =
= ṙ~er + r (1.54)
dt dt
O nosso problema seguinte é expressar a derivada d~er /dt em termos dos vetores unitários da
trı́ade girada.
Usando a figura, vemos que as seguintes relações entre as duas trı́ades são válidas.
~er = ~ı sen θ cos φ +~ sen θ sen φ + ~k cos θ
~eθ = ~ı cos θ cos φ +~ cos θ sen φ − ~k sen θ (1.55)
~eφ = −~ı sen φ +~ cos φ
Estas equações expressam os vetores unitários da trı́ade girada em termos da trı́ade fixa.
Notemos a semelhança entre esta transformação e aquela da segunda parte do Exemplo 2 na
Seção 1.15. Identificando as rotações corretamente vemos que as duas transformações são,
de fato, idênticas. Vamos diferenciar a primeira equação em relação ao tempo. O resultado
é
d~er
=~ı (θ̇ cos θ cos φ − φ̇ sen θ sen φ) +~ (θ̇ cos θ sen φ + φ̇ sen θ cos φ) − ~k θ̇ sen θ
dt
A seguir, usando as expressões para ~eφ e ~eθ na Equação (1.55), encontramos que a equação
acima se reduz a
d~er
= φ̇~eφ sen θ + θ̇~eθ (1.56)
dt
1.26. VELOCIDADE ANGULAR 33
As outras duas derivadas são obtidas por procedimento semelhante. Os resultados são
d~eθ
= −θ̇~er + φ̇ cos θ~eφ (1.57)
dt
d~eφ
= −φ̇ sen θ~er − φ̇ cos θ~eθ (1.58)
dt
As etapas são deixadas como um exercı́cio. Voltando agora ao problema de encontrar ~v,
inserimos a expressão para d~er /dt dada pela Equação (1.56) na Equação (1.54). O resultado
final é
~v = ~er ṙ + ~eφ rφ̇ sen θ + ~eθ rθ̇ (1.59)
dando o vetor velocidade em termos de suas componentes na trı́ade girada.
Para encontrar a aceleração, diferenciamos a expressão acima em relação ao tempo. Ob-
temos
d~v d~er d(rφ̇ sen θ) d~eφ d(rθ̇) d~eθ
~a = = ~er r̈ + ṙ + ~eφ + rφ̇ sen θ + ~eθ + rθ̇
dt dt dt dt dt dt
Usando as fórmulas deduzidas anteriormente para as derivadas dos vetores unitários, encon-
tramos prontamente que a expressão acima para a aceleração se reduz a
~a = (r̈ − rφ̇2 sen2 θ − rθ̇2 )~er + (rθ̈ + 2ṙθ̇ − rφ̇2 sen θ cos θ)~eθ +
+(rφ̈ sen θ + 2ṙφ̇ sen θ + 2rθ̇φ̇ cos θ)~eφ (1.60)
dando o vetor aceleração em termos de suas componentes na trı́ade ~er ,~eθ ,~eφ .
ω
~ = φ̇~e
~r˙ = ω
~ ×~r (1.62)
34 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Vamos agora mostrar que velocidades angulares obedecem a regra de adição vetorial.
Consideremos o deslocamento causado por uma rotação infinitesimal δφ1 em torno de um
eixo ~e1 seguido de uma segunda rotação δφ2 em torno de um eixo diferente ~e2 . A primeira
rotação muda o vetor posição ~r para um novo vetor posição ~r + δφ1~e1 ×~r. Dessa maneira o
deslocamento lı́quido devido às duas rotações é
δφ
δr
θ
r
Figura 1.22: Deslocamento produzido por uma rotação. O raio da trajetória circular é r sen θ.
Se as duas rotações angulares são ambas suficientemente pequenas de tal maneira que
possamos desprezar o produto δφ1 δφ2 , então encontramos depois da expansão que
Se trocarmos a ordem das rotações, encontramos, de fato, o mesmo resultado, isto é, δ~r12 =
δ~r21 . Em outras palavras, as duas rotações infinitesimais são comutativas. Finalmente, vamos
dividir por δt e tomar o limite, como na Equação (1.61) acima. Podemos então escrever
~r˙ = (~ω1 + ω
~ 2 ) ×~r
ω
~ =ω
~1 + ω
~2
Exercı́cios de Treinamento
~ = ~ − ~k . Encontre
~ =~ı +~ e B
1.1 Dados os dois vetores A
~ +B
a) A ~ e |A~ + B|
~
~ −B
b) A ~ e |A
~ − B|
~
~ .B
c) A ~
~ ×B
d) A ~ e |A
~ × B|
~
~ + 2B)
e) (A ~ . (2A
~ − B)
~
~ + B)
f) (A ~ × (A
~ − B)
~
~ =~ı +~ + ~k , B
1.2 Dados A ~ = 2~ − ~k . Encontre
~ =~ı + 2~ , C
~ +B
a) A ~ −C~
~ . (B
b) A ~ + C)
~ e (A
~ + B)
~ .C
~
~ . (B
c) A ~ × C)
~ e (A
~ × B)
~ .C
~
~ × (B
d) A ~ × C)
~ e (A
~ × B)
~ ×C
~
~ =~ı +~ + ~k e B
1.3 Encontre o ângulo entre os vetores A ~ =~ı +~ (Dica: Estes dois vetores
definem uma diagonal do cubo e uma diagonal da face do cubo).
~ = t~ı + t2~ + t3~k .
~ =~ı cos ωt +~ sen ωt e B
1.4 Dados os vetores que variam com o tempo A
Encontre
~
a) dA/dt ~
e |dA/dt|
~
b) d2 B/dt2 ~
e |d2 B/dt2
|
~ . B)/dt
c) d(A ~ ~ × B)/dt
e d(A ~
Problemas
~ = ~ı + ~ + ~k q e B
1.5 Para quais valores de q os dois vetores A ~ = ~ı q − 2~ + 2~k q são
perpendiculares entre si.
~ × (B
1.6 Prove a identidade vetorial A ~ × C)
~ = (A
~ . C)
~ B~ − (A
~ . B)
~ C.
~
~ eB
1.7 Dois vetores A ~ representam lados concorrentes de um paralelogramo. Prove que a
~ × B|.
área do paralelogramo é |A ~
1.10 Expresse o vetor ~ı +~ em termos da trı́ade ~ı 0~ 0~k 0 onde os eixos x0 z 0 são girados em
torno do eixo y (que coincide com o eixo y 0 ) de um ângulo de 60◦ .
36 CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
1.11 Mostre que o módulo de um vetor não é alterado por uma rotação. Use a matriz
cos θ sen θ 0
− sen θ cos θ 0
0 0 1
1.12 Encontre a matriz transformação para uma rotação de um ângulo θ em torno do eixo
z seguida por uma rotação de um ângulo φ em torno do eixo y 0 .
1.13 Os dois grupos de vetores ~a, ~b, ~c e ~a0 , ~b0 , ~c0 são chamados de recı́procos se ~a . ~a0 =
~b . ~b0 = ~c . ~c0 = 1 e qualquer outro produto escalar misturado como ~a . ~b0 = 0. Mostre
que:
~c0 = (~a × ~b)/Q, ~a0 = (~b × ~c)/Q, ~b0 = (~c × ~a)/Q onde Q = ~a . (~b × ~c).
1.15 Uma partı́cula move-se numa trajetória elı́ptica dada pela equação ~r = ~ı b cos ωt +
~ 2b sen ωt. Encontre a velocidade escalar em função do tempo.
1.16 No problema anterior encontre o ângulo entre o vetor velocidade e o vetor aceleração
no instante t = π/4ω.
1.17 A posição de uma partı́cula é dada em coordenadas polares planas por r = bekt , θ = ct.
Mostre que o ângulo entre o vetor velocidade e o vetor aceleração permanece constante
a proporção que a partı́cula se move para fora numa trajetória em espiral.
1.18 Uma partı́cula se move num cı́rculo de raio b. Se a velocidade escalar da partı́cula
varia com o tempo de acordo com a equação v = At2 para que valor, ou valores de t o
vetor aceleração forma um ângulo de 45◦ com o vetor velocidade?
1.19 Uma partı́cula se move numa trajetória helicoidal tal que sua posição, em coordenadas
cilı́ndricas, é dada por
R=b φ = ωt z = ct2
Encontre a velocidade escalar e o módulo da aceleração como funções do tempo.
1.20 Mostre que o módulo da componente tangencial da aceleração é dada pela expressão
~a . ~v
at =
|~v|
e que o módulo da componente normal é
q
an = a2 − a2t
1.21 Use o resultado acima para encontrar as componentes normal e tangencial da aceleração
como função do tempo no Problema 1.19.
PROBLEMAS 37
1.22 Prove que ~v . ~a = v v̇ e como consequência que para uma partı́cula que se move ~v
e ~a são perpendiculares entre sı́ se a velocidade escalar v for constante. (Sugestão:
Diferencie ambos os lados da equação ~v . ~v = v 2 com relação a t. Lembre-se que v̇ não
é o mesmo que |~a|.)
1.23 Prove que
d
[~r . (~v × ~a)] = ~r . (~v × ~a˙ )
dt
1.24 Prove que |~v × ~a| = v 3 /ρ, onde ρ é o raio de curvatura da trajetória de uma partı́cula
em movimento.
1.25 Usando o fato de que o vetor tangente unitário ~τ pode ser expresso como
~v
~τ =
v
encontre uma expressão para o vetor normal unitário em termos de ~a, a, ~v, v, e v̇.
1.26 Um aro de raio b é colocado numa montagem sobre mancais e gira como se segue: O
aro gira com velocidade angular constante ω1 em torno de seu próprio eixo, o qual,
por sua vez roda com velocidade angular constante ω2 em torno de um eixo vertical
de tal maneira que o eixo do aro permanece num plano horizontal e o centro do aro
fica imóvel. Use coordenadas esféricas para encontrar a aceleração de qualquer ponto
na periferia do aro. Em particular, encontre a aceleração do ponto mais alto do aro.
(Sugestão: Use o fato de que coordenadas esféricas podem ser escolhidas tais que r = b,
θ = ω1 t e φ = ω2 t).
Como foi estabelecido na introdução, a dinâmica é a parte da mecânica que lida com as
leis fı́sicas que governam o movimento real dos corpos. Um dos objetivos fundamentais da
dinâmica é predizer, dentre todos os movimentos possı́veis de um sistema material qual movi-
mento particular ocorreria numa dada situação. Nosso estudo da dinâmica, neste momento,
será baseado nas leis do movimento como foram primeiramente formuladas por Newton.
Num Capı́tulo posterior veremos maneiras alternativas de expressar as leis do movimento
numa forma mais avançada utilizando as equações de Lagrange e Hamilton. Entretanto,
estas equações não constituem teorias diferentes uma vez que podem ser derivadas das leis
de Newton.
III - A cada ação corresponde sempre uma reação em sentido oposto, ou seja, as ações
mútuas de dois corpos são sempre iguais, em módulo, e com sentidos opostos.
39
40 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
não em linha reta com velocidade constante depende não somente de influências externas
(forças) mas também do sistema de referência utilizado para descrever o movimento. A
primeira lei realmente nos leva à definição de um tipo particular de sistema de referência
chamado sistema de referência Newtoniano ou inercial. Tal sistema é aquele no qual a
primeira lei de Newton é válida. Sistemas de referência acelerados ou em rotação não são
inerciais.
A questão que ocorre naturalmente é como podemos determinar se um dado sistema de
referência é ou não um sistema inercial. A resposta não é simples. A fim de eliminarmos
todas as forças que poderiam atuar em um corpo é necessário isolá-lo completamente. Isto
certamente é impossı́vel uma vez que pelo menos forças gravitacionais estariam atuando
sobre o corpo, a não ser que ele estivesse colocado a uma distância infinita de todos os
outros corpos.
Na prática, em casos onde a precisão desejada não seja muito alta, um sistema fixo à
Terra é aproximadamente inercial. Por exemplo, uma bola de bilhar parece mover-se em
linha reta com velocidade constante, exceto durante as colisões com outras bolas ou com as
tabelas. Entretanto, se este movimento fosse medido com bastante precisão observarı́amos
que a trajetória é ligeiramente curvilı́nea. Isto porque a Terra está girando e um sistema
fixo a ela não é, na verdade, inercial. Um sistema que usasse o centro da Terra, o centro do
Sol e uma estrela distante como pontos de referência seria melhor do que o anterior. Mas
nem mesmo este sistema seria estritamente inercial por causa do movimento orbital da Terra
em torno do Sol. Prosseguindo, obterı́amos uma aproximação ainda melhor se usassemos o
centro do Sol e duas estrelas distantes como pontos de referência. Aceita-se que o sistema
de referência por excelência, sob o ponto de vista da mecânica de Newton, seria aquele que
levasse em conta a média de toda a matéria do universo.
d~vA d~vB
=− µBA (2.1)
dt dt
2.3. MASSA E FORÇA — SEGUNDA E TERCEIRA LEIS DE NEWTON 41
~F = km d~v (2.3)
dt
onde ~F é a força e k é uma constante de proporcionalidade. É usual tomar k = 1 e escrever1
~F = m d~v (2.4)
dt
A equação acima é equivalente a
~F = d(m~v) (2.5)
dt
se a massa fosse constante. De acordo com a teoria da relatividade, a massa de um corpo em
movimento não é constante mas depende da velocidade do corpo. Então as Equações (2.4) e
(2.5) não são equivalentes. Entretanto, para velocidades pequenas comparadas à velocidade
da luz, 3 × 108 m/s, a variação de massa é desprezı́vel.
O fato fundamental expresso pela Equação (2.2) pode ser interpretado, de acordo com
a Equação (2.4), como sendo a afirmativa de que dois corpos que interagem diretamente
exercem forças iguais e opostas um no outro
~FA = −~FB
1
No sistema MKS a unidade de força, definida pela Equação (2.4) é chamada newton. Então a força de
1 newton ocasiona uma aceleração de 1 m/s2 em um objeto de 1 kg de massa. No sistema CGS a unidade
2
de força (1g × 1cm/s ) é chamada dina.
42 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
Isto está incorporado no enunciado da terceira lei de Newton. As forças são chamadas ação
e reação.
Existem situações nas quais a terceira lei não é verificada. Quando dois corpos estiverem
separados por uma grande distância e interagirem um com o outro através de um campo de
força que se propaga com velocidade finita, tal como a interação entre cargas elétricas em
movimento, as forças de ação e reação não serão sempre iguais e opostas. Entretanto, em
tais casos, é possı́vel considerar o campo de força como um terceiro corpo com sua própria
ação e reação. Então a terceira lei não precisa ser descartada. Veja Seção 4.1 e as referências
citadas lá.
Uma grande vantagem do conceito de força é que ele nos permite restringir nossa atenção
a um único corpo. O significado fı́sico da idéia de força é que, para uma dada situação, usu-
almente podemos encontrar uma função relativamente simples das coordenadas, chamada
função força, que quando igualada ao produto da massa pela aceleração descreve correta-
mente o movimento do corpo. Esta é a essência da mecânica Newtoniana.
O enunciado matemático da segunda lei de Newton, Equação (2.5), pode ser escrito
~F = d~p (2.7)
dt
d~pA d~pB d
=− ou (~pA + ~pB ) = 0
dt dt dt
Consequentemente
~pA + ~pB = constante
Então, de acordo com a terceira lei, o momentum linear total de dois corpos que interagem
permanece sempre constante.
A conservação do momentum linear de dois corpos que interagem é um caso especial de
uma regra mais geral, a saber: o momentum linear de qualquer sistema isolado permanece
constante no tempo. Discutiremos detalhadamente esta regra mais tarde. Ela é conhecida
como a lei de conservação do momentum linear e é uma das leis mais básicas da fı́sica.
Supõe-se que sua validade se estende àqueles casos nos quais a mecânica Newtoniana falha.
2.5. MOVIMENTO DE UMA PARTÍCULA 43
Consideremos alguns casos especiais nos quais a integração da equação do movimento possa
ser feita por métodos elementares.
A situação mais simples será aquela na qual a força for constante. Neste caso, a aceleração
será constante
dv F
= = constante = a
dt m
e a solução será facilmente obtida por integração direta em relação ao tempo.
v = at + v0 (2.9)
1 2
x = at + v0 t + x0 (2.10)
2
onde v0 é a velocidade inicial e x0 a posição inicial. Eliminando o tempo nas Equações (2.9)
e (2.10), obtemos
2a(x − x0 ) = v 2 − v02 (2.11)
O leitor reconhecerá nas equações acima as equações do movimento uniformemente ace-
lerado. Existem numerosas aplicações fundamentais. Por exemplo, a aceleração de um corpo
em queda livre próximo à superfı́cie da Terra, desprezando a resistência do ar, é aproxima-
damente constante. Representaremos a aceleração de um corpo em queda livre por ~g. (Em
44 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
módulo, g = 9, 8m/s2 ). A força da gravidade (peso), cujo sentido é para baixo, é conse-
quentemente igual a m~g. A força gravitacional está sempre presente independentemente do
movimento do corpo, onde outras forças podem estar atuando.
Exemplo
Considere uma partı́cula que escorrega para baixo num plano liso inclinado de um ângulo
θ em relação à horizontal como ilustrado na Figura 2.1(a). Colocamos o eixo x na direção
paralela ao plano inclinado e o orientamos positivamente para baixo, como indicado.
x x
N µ mg cosθ N
mg sen θ mg sen θ
mg cosθ mg cosθ
mg θ mg θ
(a) (b)
Figura 2.1: Uma partı́cula deslizando para baixo em um plano inclinado (a) liso; (b) com
atrito.
A componente da força gravitacional na direção x vale mg sen θ. É uma constante e por isso
o movimento é descrito pelas Equações (2.9), (2.10) e (2.11) onde
F
a= = g sen θ
m
Vamos supor que, ao invés de liso, o plano fosse rugoso, isto é, que exercesse uma força de
atrito ~f na partı́cula. Então, como ilustrado na Figura 2.1(b), a força resultante na direção
x seria igual a mg sen θ − f . No caso de um corpo deslizando sobre outro observamos que o
módulo da força de atrito é proporcional ao módulo da força normal N , isto é,
f = µN
f = µmg cos θ
Novamente a força seria constante e as Equações (2.9), (2.10) e (2.11) poderiam ser aplicadas
com
F
a= = g(sen θ − µ cos θ)
m
2.7. O CONCEITO DE ENERGIAS CINÉTICA E POTENCIAL 45
a = g(sen θ + µ cos θ)
F (x) = mẍ
Usualmente é possı́vel resolver esse tipo de equação diferencial por vários métodos. Uma
maneira útil e significativa é escrever a aceleração na forma abaixo
dẋ dx dẋ dv
ẍ = = =v
dt dt dx dx
e a equação diferencial do movimento pode ser escrita
dv m d(v 2 ) dT
F (x) = mv = = (2.12)
dx 2 dx dx
A quantidade T = 21 mv 2 é chamada energia cinética da partı́cula. Podemos expressar a
Equação (2.12) na forma integral
Z Z
1
F (x)dx = dT = mẋ2 + constante
2
R
A integral F (x)dx é o trabalho realizado sobre a partı́cula pela força F (x). Vamos definir
a função V (x) tal que
dV
− = F (x) (2.13)
dx
A função V (x) é chamada energia potencial. Ela é definida a menos de uma constante
arbitrária. Em termos de V (x) o trabalho é
Z Z
dV
F (x)dx = − dx = −V (x) + constante
dx
consequentemente podemos escrever
1
T + V = mv 2 + V (x) = constante = E (2.14)
2
46 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
chamamos a constante E de energia total. Dito de outra maneira: Para o movimento uni-
dimensional, se a força exercida sobre a partı́cula for uma função da posição apenas, então
a soma da energia potencial e cinética permanecerá constante durante todo o movimento.
Neste caso, a força será dita conservativa. (No próximo Capı́tulo encontraremos uma dis-
cussão mais completa sobre força conservativa). Forças não conservativas, ou seja, aquelas
para as quais não existir uma função energia potencial, são usualmente de natureza dissipa-
tiva, tal como o atrito.
V(x)
~ permitida
regiao
pontos de
retorno
Figura 2.2: Gráfico da função energia potencial mostrando a região permitida e os pontos
de retorno do movimento para um dado valor da energia total E.
dando t em função de x.
Vemos, na Equação (2.15), que a velocidade só será real para valores de x tais que
V (x) seja menor ou igual à energia total E. Fisicamente, isso significa que a partı́cula está
confinada às regiões para as quais V (x) ≤ E. Além disso, a velocidade se anula nos pontos
onde V (x) = E. Isto é, a partı́cula deve parar e inverter seu movimento nestes pontos. Eles
são chamados pontos de retorno do movimento. A Figura 2.2 ilustra essa discussão.
Exemplo
2.8. FORÇA EM FUNÇÃO DO TEMPO — CONCEITO DE IMPULSO 47
A posição da partı́cula em função do tempo pode ser obtida por uma segunda integração
como se segue
Z "Z
F (t0 )dt0
Z #
x = v(t)dt = dt (2.18)
m
Devemos notar que a solução da equação poderá ser escrita como uma simples integral dupla
apenas nos casos em que a força for uma função explı́cita do tempo. Para todos os outros
casos devemos usar os vários métodos para se resolver equação diferencial de segunda ordem
a fim de obtermos a posição x em termos do tempo t.
Exemplo
Um bloco está inicialmente em repouso numa superfı́cie horizontal lisa. No instante t = 0
aplica-se uma força horizontal uniformemente crescente: F = ct. Encontre a velocidade e o
deslocamento em função do tempo.
A equação diferencial do movimento é
dv
ct = m
dt
Então
1 Zt ct2
v= ctdt =
m 0 2m
e Z t
ct2 ct3
x= dt =
0 2m 6m
onde a posição inicial do corpo é na origem (x = 0).
Exemplo
Vamos supor que lançamos um corpo com velocidade inicial v0 num plano horizontal
liso, mas que existe uma resistência do ar proporcional a v; isto é, F (v) = −cv, onde c é
uma constante de proporcionalidade. (O eixo x está ao longo da direção do movimento). A
equação diferencial do movimento é
dv
−cv = m
dt
Integrando, teremos Z v
mdv m v
t= = − ln
−
v0 cv c v0
c
Multiplicando ambos os membros por − m e tomando o exponencial obteremos facilmente v
em função de t. O resultado é
ct
v = v0 e− m
A velocidade decresce exponencialmente com o tempo. Uma segunda integração nos dará
Z t
ct
x = v0 e− m dt
0
mv0 ct
= 1 − e− m
c
Vemos, da equação acima, que o corpo nunca ultrapassará a distância limite mv0 /c.
50 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
dv
−mg − cv = m
dt
Considerando g constante, teremos o caso de força dependente da velocidade, e poderemos
escrever Z v
Z
mdv mdv m mg + cv
t= = = − ln
F (v) v0 −mg − cv c mg + cv0
Facilmente poderemos explicitar v
mg mg
ct
v=− + + v0 e− m (2.21)
c c
Depois de um tempo suficientemente grande (t m/c) o termo exponencial será desprezı́-
vel, e a velocidade se aproximará do valor limite − mg
c
. A velocidade limite de um corpo em
queda é chamada de velocidade terminal; é aquela velocidade na qual a força de resistência
seja exatamente igual e oposta ao peso do corpo tal que a força resultante seja nula. O
módulo da velocidade terminal de uma gota de chuva, por exemplo, é de 3 a 6 metros por
segundo, dependendo do seu tamanho.
A Equação (2.21) expressa v em função de t, então uma segunda integração dará x em
função de t:
m2 g mv0
Z t !
mgt −mct
x − x0 = v(t)dt = − + + 1 − e (2.22)
0 c c2 c
Vamos designar a velocidade terminal mg c
por vt e m/c por τ (que chamaremos de tempo
caracterı́stico). A Equação (2.21) pode então ser escrita da forma mais significativa
t
v = −vt + (vt + v0 )e− τ (2.23)
Então, um objeto que cai a partir do repouso (v0 = 0) atingirá a velocidade de (1 − e−1 )
vezes a velocidade terminal em um intervalo de tempo τ , (1 − e−2 )vt no intervalo 2τ , e assim
por diante. Depois de um intervalo de 10τ a velocidade será praticamente igual a velocidade
terminal, a saber 0, 99995vt .
Se a resistência viscosa for proporcional a v 2 (caso quadrático), a equação diferencial do
movimento será, lembrando que consideramos o sentido para cima positivo,
dv
−mg ± cv 2 = m
dt
2.11. VARIAÇÃO DA GRAVIDADE COM A ALTURA 51
O sinal negativo para o termo de resistência se refere à subida (v positivo), e o sinal positivo
à descida. O duplo sinal é necessário no caso da força que envolve potência par de v. Como
no caso anterior, a equação diferencial do movimento pode ser integrada dando t em função
de v: Z
mdv v
t= = −τ arctg + t0 (subida)
−mg − cv 2 vt
Z
mdv v
t= 2
= −τ arctgh + t00 (descida)
−mg + cv vt
onde s
m
=τ (tempo caracterı́stico)
cg
e
mg
r
= vt (velocidade terminal)
c
Explicitando v,
t0 − t
v = vt tg (subida) (2.24)
τ
t − t00
!
v = −vt tgh (descida) (2.25)
τ
Se o corpo for abandonado em repouso em t = 0 então t00 = 0. Da definição de tangente
hiperbólica,
et/τ − e−t/τ
!
t
v = −vt tgh = −vt t/τ
τ e + e−t/τ
Novamente, depois de um intervalo de tempo de alguns tempos caracterı́sticos, praticamente
obtemos a velocidade terminal, por exemplo, para t = 5τ , a velocidade é 0, 99991vt . A Figura
2.3 mostra os gráficos da velocidade em função do tempo de queda para leis de resistência dos
tipos linear e quadrática. É interessante notar que em ambos os casos, o tempo caracterı́stico
é igual a vt /g. Por exemplo, se a velocidade terminal de um paraquedas é de 1,2 m/s, o tempo
caracterı́stico será de
1, 2 m/s
= 0, 12 s
9, 8 m/s2
Podemos integrar as Equações (2.24) e (2.25) para obtermos expressões explı́citas da
posição em função do tempo.
GM m
F =−
r2
52 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
velocidade terminal
vt
velocidade
resistencia linear
resistencia quadratica
0
0 τ 2τ 3τ
tempo
Figura 2.3: Gráfico da velocidade em função do tempo de queda para um corpo sujeito a
resistência do ar dos tipos linear e quadrática.
GM m
V (r) = −
r
onde
∂V
F =−
∂r
Se desprezarmos a resistência do ar, a equação diferencial para movimento vertical é
GM m
mr̈ = − (2.26)
r2
dṙ
Escrevendo r̈ = ṙ dr podemos integrar em relação a r e obter
1 2 GM m
mṙ − =E (2.27)
2 r
onde E é a constante de integração. Esta é, de fato, a equação da conservação da energia:
a soma da energia cinética e potencial permanece constante durante o movimento de um
corpo em queda.
Vamos aplicar a equação de energia ao caso de um projétil lançado para cima com
velocidade v0 a partir da superfı́cie da Terra. A constante E é dada pelas condições iniciais,
1 2 GM m
mv − =E (2.28)
2 0 rT
2.11. VARIAÇÃO DA GRAVIDADE COM A ALTURA 53
v 2 = v02 − 2gx
quando x for muito menor do que rT tal que o termo rxT possa ser desprezado em comparação
com a unidade.
O ponto de retorno do movimento do projétil, isto é, a altura máxima atingida, será
obtido colocando v = 0 e explicitando x. O resultado será
!−1
v2 v2
xmax =h= 0 1− 0 (2.31)
2g 2grT
Novamente obteremos a fórmula usual
v02
h=
2g
se desprezarmos o segundo termo.
Finalmente, vamos aplicar a fórmula exata (2.31) para obtermos a velocidade de escape,
isto é, o valor de v0 para o qual h seja infinito. É claro que isto ocorre quando a quantidade
entre parênteses for igual a zero. O resultado é
q
ve = 2grT
o que dá
ve ≈ 11 km/s = 11 × 103 m/s
para a velocidade de escape da superfı́cie da Terra.
Na atmosfera terrestre, a velocidade média das moléculas de ar (O2 e N2 ) é de aproxima-
damente 0,5 km/s, que é consideravelmente menor que a velocidade de escape, então a Terra
retém sua atmosfera. (De acordoq com a teoria cinética dos gases, a velocidade média das
moléculas de um gás é igual a m onde k é a constante de Boltzmann (1, 38×10−16 erg/K) e
3kT
T é a temperatura absoluta). A Lua, por outro lado, não tem atmosfera porque a velocidade
de escape na sua superfı́cie, devido à pequena massa, é consideravelmente menor do que na
54 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
1111
0000
0000
1111
X mg
0000
1111
0000
1111
0000
1111 a+
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111 a x k
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
X
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
x
, ~ de
posicao
equilibrio
(a) (b)
Figura 2.4: Ilustração do oscilador harmônico linear por meio de um bloco de massa m e
uma mola. (a) Movimento horizontal. (b) Movimento vertical.
d2
m (Aeqt ) + k(Aeqt ) = 0
dt2
o que, depois de cancelarmos os fatores comuns, se reduz a equação, (esta equação é chamada
equação auxiliar)
mq 2 + k = 0
ou seja s
k
q = ±i = ±iω0
m
√ q
k
onde i = −1, e ω0 = m . As soluções das equações diferenciais lineares são aditivas. (Isto
é, se f1 e f2 forem soluções, então a soma f1 + f2 também será uma solução). A solução da
Equação (2.34) é então
x = A+ eiω0 t + A− e−iω0 t (2.35)
Desde que eiu = cos u + i sen u,
ou
x = A cos(ω0 t + θ0 ) (2.37)
são formas alternativas da solução. As constantes de integração nas soluções acima são
determinadas a partir das condições iniciais. Por substituição direta podemos verificar que
todas as três expressões são soluções da Equação (2.34). O movimento é uma oscilação
56 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
x Ta
O t
senoidal do deslocamento x. Por esta razão a Equação (2.34) é frequente chamada de equação
diferencial do oscilador harmônico ou oscilador linear.
O coeficiente ω0 é chamado frequência angular. O valor √ máximo de x é chamado ampli-
tude da oscilação; é a constante A na Equação (2.37), ou a2 + b2 na Equação (2.36). O
perı́odo T da oscilação é o tempo requerido para um ciclo completo, como mostra a Figura
2.5, isto é, o perı́odo é o tempo para o qual o produto ω0 t aumenta de exatamente 2π, então
2π m
r
T0 = = 2π (2.38)
ω0 k
A frequência linear de oscilação f0 é, por definição, o número de ciclos por unidade de tempo,
portanto
ω0 = 2πf0
s
1 1 k
f0 = = (2.39)
T0 2π m
É comum empregar-se a palavra frequência para designar tanto a frequência angular quanto
a linear; fica claro do contexto a qual delas estamos nos referindo.
Exemplo
Uma mola leve se distende de b quando equilibra um bloco de massa m. Encontre o
movimento resultante em função de t sabendo-se que no instante t = 0 o bloco foi abandonado
em repouso a uma distância l abaixo de sua posição de equilı́brio. Primeiro, a fim de obtermos
a constante da mola, notamos que na condição de equilı́brio estático
F = −kb + mg = 0
2.13. CONSIDERAÇÕES DE ENERGIA NO MOVIMENTO HARMÔNICO 57
tal que
mg
k=
b
Portanto a frequência angular de oscilação é
s
k g
r
ω0 = =
m b
Para obtermos as constantes da equação de movimento
x = A cos(ω0 t + θ0 )
vamos fazer
x=l e ẋ = 0
no instante t = 0. Mas
ẋ = −Aω0 sen(ω0 t + θ0 )
e então
A=l e θ0 = 0
logo
g
r
x = l cos t
b
é a expressão desejada.
Fa = −F = kx
e Z x
Z
k 2
W = Fa dx = x (kx)dx =
0 2
O trabalho W fica armazenado na mola na forma de energia potencial
k 2
V (x) = W = x (2.40)
2
A definição de V , Equação (2.13), requer que F = − dV
dx
= −kx. A energia total será então
dada pela soma das energias cinética e potencial
1 1
E = mẋ2 + kx2 (2.41)
2 2
58 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
dx m x
Z r
t= q = arccos +C
E
2m − k 2
x k A
m
onde s
2E
A=
k
e C é a constante de integração. Depois de integrar obtemos a mesma relação encontrada na
Seção precedente, exceto que agora temos um valor explı́cito para a amplitude A. Poderı́amos
ter obtido a amplitude q diretamenteq a partir da equação da energia (2.41) lembrando que x
deve situar-se entre 2E/k e − 2E/k a fim de que ẋ seja real. Isto está ilustrado na
Figura 2.6 que mostra a função energia potencial e os pontos de retorno do movimento para
diferentes valores da energia total E.
Da equação da energia vemos que o valor máximo de ẋ, que chamaremos vmax , ocorre
em x = 0, e então teremos
1 2 1
E = mvmax = kA2
2 2
ou s
k
vmax = A = ω0 A
m
V(x)
E2
E1
x
Figura 2.6: Gráfico da função energia potencial do oscilador harmônico. Mostra-se os pontos
de retorno definindo a amplitude para dois valores de energia total.
2.14. MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO 59
1111111111111111111111111
0000000000000000000000000
0000000000000000000000000
1111111111111111111111111
0000000000000000000000000
1111111111111111111111111
0000000000000000000000000
1111111111111111111111111
0000000000000000000000000
1111111111111111111111111
0000000000000000000000000
1111111111111111111111111
0000000000000000000000000
1111111111111111111111111
, ~ de
posicao
equilibrio
x
-kx .
-cx
.
x
Novamente tentaremos uma solução do tipo exponencial Aeqt , que deverá satisfazer a
equação
d2 d
m 2 (Aeqt ) + c (Aeqt ) + k(Aeqt ) = 0
dt dt
para qualquer t. Isto ocorrerá se q satisfizer a equação auxiliar mq 2 + cq + k = 0. As raı́zes
são dadas pela fórmula quadrática
√
−c ± c2 − 4mk
q= (2.43)
2m
Existem três casos fisicamente distintos
i) No primeiro caso, vamos chamar −γ1 e −γ2 os dois valores reais de q dado pela Equação
(2.43). A solução geral poderá ser escrita
x = A1 e−γ1 t + A2 e−γ2 t (2.44)
Vemos que o movimento é não oscilatório, o deslocamento x decai a zero de uma maneira
exponencial a medida que o tempo passa, como mostra a Figura 2.8.
x amortecimentos
super-amortecido
O
critico t
ii) No caso de amortecimento crı́tico as duas raı́zes são iguais, e a Equação (2.44) não
representará a solução geral desde que existe apenas uma função e−γt e uma única constante
(A1 + A2 ), onde γ = c/2m. Para obtermos a solução geral neste caso voltaremos à equação
diferencial original (2.42). Para raı́zes iguais esta equação pode ser fatorada
! !
d d
+γ +γ x=0
dt dt
dx
Fazendo a substituição u = γx + dt
teremos
!
d
+γ u=0
dt
o que é facilmente integrável dando u = A1 e−γt . Portanto, da definição de u, γx + dx/dt =
A1 e−γt que também pode ser escrito
!
dx γt d
A1 = γx + e = (xeγt )
dt dt
Uma segunda integração em relação a t dá A1 t = xeγt − A2 , ou finalmente
x = e−γt (A1 t + A2 ) (2.45)
2.14. MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO 61
onde
√
a
A = a2 + b 2 e θ0 = −arctg
b
A forma real da solução mostra que o movimento é oscilatório, e que a amplitude Ae−γt
decai exponencialmente com o tempo. Além disso, notamos que a frequência angular de
oscilação ω1 é menor que a do oscilador não amortecido ω0 . A frequência ω1 é chamada
frequência natural.
No caso de amortecimento fraco, ou seja se γ for muito pequeno comparado a ω0 , podemos
usar a relação aproximada
γ2
ω1 ≈ ω0 − (2.50)
2ω0
que é obtida expandindo-se em série o lado direito da Equação (2.47) pelo uso do teorema
binomial e retendo somente os dois primeiros termos.
A Figura 2.9 mostra o gráfico do movimento. Da Equação (2.49) segue que as duas
curvas x = Ae−γt e x = −Ae−γt formam um envoltório da curva do movimento uma vez que
o cosseno toma valores entre +1 e −1 nos pontos onde a curva toca o envoltório. Os pontos
de contato estão separados por um intervalo de tempo de meio perı́odo, ou π/ω1 , mas estes
pontos não são os máximos e os mı́nimos do deslocamento x. Fica para o leitor encontrar os
valores de t nos quais o deslocamento assume valores extremos.
Considerações de Energia
A energia do oscilador harmônico amortecido é, em qualquer instante, igual à soma da
energia cinética 21 mẋ2 e da energia potencial 12 kx2 :
1 1
E = mẋ2 + kx2
2 2
62 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
A x=Ae-γ t
O t
x=-Ae-γ t
Figura 2.9: Gráfico do deslocamento em função do tempo para o oscilador harmônico sub-
amortecido.
dE
= mẍẋ + k ẋx = (mẍ + kx)ẋ
dt
Mas, da equação diferencial do movimento, Equação (2.42)
mẍ + kx = −cẋ
Consequentemente,
dE
= −cẋ2 (2.51)
dt
É uma quantidade sempre negativa e representa a razão na qual a energia está sendo dissipada
na forma de calor pelo atrito.
Exemplos
1. Uma partı́cula de massa m está presa a uma mola de constante elástica k. O amorte-
cimento é tal que γ = ω0 /4. Encontre a frequência natural. Da Equação (2.47) temos
s s s s
ω2 15 k 15
ω1 = ω02 − 0 = ω0 =
16 16 m 16
2.15. MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO — RESSONÂNCIA 63
Ae−γT1
= e−γT1
A
onde
1 2π
T1 = =
f1 ω1
Portanto, em nosso problema
s s
2π 16 2π 16
T1 = =
ω0 15 4γ 15
ou s
π 16
γT1 = = 1, 62
2 15
Portanto a razão entre as amplitudes de duas oscilações sucessivas é
e−1,62 = 0, 20.
Fext = F0 cos(ωt + θ)
Fext = F0 ei(ωt+θ)
ou
mẍ + cẋ + kx = Fext = F0 ei(ωt+θ) (2.52)
A solução da equação diferencial linear acima é dada pela soma de duas partes, a primeira
parte sendo a solução da equação diferencial homogênea mẍ + cẋ + kx = 0, que já foi
resolvida na Seção precedente; e a segunda parte sendo qualquer solução particular. Como
vimos, a solução da equação homogênea representa uma oscilação que eventualmente decai
64 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
A2 (k − mω 2 )2 + c2 ω 2 A2 = F02
2γω
tg φ = (2.57)
(ω02 − ω2)
F0 /m
A= q (2.58)
(ω02 − ω 2 )2 + 4γ 2 ω 2
A equação acima relacionando a amplitude A à frequência da força externa é de im-
portância fundamental. O gráfico, Figura 2.10, mostra que A assume um valor máximo
numa certa frequência ωr , chamada de frequência de ressonância.
2.15. MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO — RESSONÂNCIA 65
3 (2)
amplitude
2γ
2
2γ
1
(1)
0
0 ω0 2ω0
frequencia
Estas, juntamente com a expressão para Amax , nos permitirá escrever a equação da amplitude
na forma
Amax γ
A= q (2.63)
(ω0 − ω)2 + γ 2
A equação acima mostra que quando |ω0 − ω| = γ, ou equivalentemente, se
ω = ω0 ± γ
então
1
A2 = A2max
2
2
Sabendo-se que a energia é proporcional a A , vemos que 2γ é a diferença de frequência entre
os pontos para os quais a energia do oscilador é igual a metade da energia na frequência de
ressonância. Então, γ é uma medida da largura da curva de ressonância. Isto está ilustrado
na Figura 2.10.
Podemos designar a largura do pico de ressonância de uma outra maneira utilizando-se o
parâmetro Q, chamado de fator de qualidade, de um sistema ressonante. Q é definido como
ωr
Q= (2.64)
2γ
ou, para amortecimento fraco
ω0
Q= (2.65)
2γ
Então a largura a meia altura da curva energia × frequência é aproximadamente
ω0
∆ω = 2γ ≈
Q
2.15. MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO — RESSONÂNCIA 67
∆ω ∆f 1
= ≈
ω0 f0 Q
(2)
(1)
π/2
(1) c = 1/2 mω0
(2) c = 1/4 mω0
0 ω0 2ω0
frequencia
A diferença de fase φ entre a força aplicada e a resposta do sistema é dada pela Equação
(2.57). Esta equação está representada na Figura 2.11 que mostra φ em função de ω. Vemos
que a diferença de fase é pequena para ω pequeno, ou seja, a resposta do sistema está em
fase com a força aplicada a ele. Na frequência de ressonância φ aumenta para π/2, isto é, a
resposta está defasada de 90◦ em relação à força aplicada. Finalmente, para valores muito
grandes de ω, o valor de φ se aproxima de π, portanto o movimento do sistema está com
180◦ de defasagem em relação à força externa.
68 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
Análogos Elétrico-Mecânico
Existe uma analogia precisa entre o movimento de um sistema mecânico de massas e molas
com forças de atrito do tipo estudado previamente e um circuito constituido de elementos
indutivo, capacitivo e resistivo, no qual flui uma corrente elétrica. Assim, se a corrente
i = dq/dt (q sendo a carga) flui através de um indutor L, a diferença de potencial nos
extremos do indutor é Lq̈ e a energia armazenada é 21 Lq̇ 2 . Portanto indutância e carga são
os análogos à massa e deslocamento, respectivamente, e diferença de potencial é o análogo à
força. Similarmente, se um capacitor de capacitância C tiver carga q, a diferença de potencial
2
será Cq e a energia armazenada é 12 qC . Consequentemente, vemos que o recı́proco de C é o
análogo à constante elástica, k, da mola. Finalmente se uma corrente elétrica i flui através
de um resistor de resistência R, a diferença de potencial entre seus extremos é iR = q̇R,
e a razão temporal da energia dissipada é i2 R = q̇ 2 R em analogia com cv̇ 2 para o sistema
mecânico, Equação (2.51). A Tabela 2.1 resume a situação
Tabela 2.1:
MECÂNICO ELÉTRICO
x deslocamento q carga
ẋ velocidade q̇ = i corrente
m massa L indutância
k constante elástica C −1 recı́proco da capacitância
c constante de amortecimento R resistência
F força V diferença de potencial
Exemplos
1. Determine a frequência de ressonância e o fator de qualidade para o oscilador amor-
tecido do Exemplo 1 da página 62.
Temos
q
ωr = ω02 − 2γ 2
s
ω02
= ω02 − 2
16
s
s s
7 k 7
= ω0 = (2.66)
8 m 8
para a frequência angular de ressonância. O fator de qualidade é dado por
q s
ωr ω0 7/8 7
Q= = =2 = 1, 87
2γ 2(ω0 /4) 8
xn = xn (t)
Fn einωt
X
F (t) = (n = 0, ±1, ±2, . . .)
n
Como na seção precedente, o movimento real será dado pela soma de duas partes, a
saber, um termo transiente, que desprezaremos, e a solução estacionária.
O primeiro termo A0 é uma constante cujo valor depende da forma de F(t). A0 é nulo
para força simétrica. O segundo termo é a resposta de um oscilador forçado na frequência
fundamental ω. O terceiro é a resposta no segundo harmônico da força aplicada e assim por
diante.
Podemos usar a teoria da seção precedente para obtermos as amplitudes An em termos
dos coeficientes Fn . Então, da Equação (2.58) temos
Fn /m
An = q (2.67)
(ω02 − n2 ω 2 )2 + 4γ 2 n2 ω 2
Da análise acima, vemos que o movimento estacionário final é periódico e que ao harmônico
nω que for mais próximo da frequência de ressonância ωr corresponderá a maior de todas as
amplitudes. Em particular, se a constante de amortecimento γ for muito pequena e se algum
dos harmônicos da força coincidir com a frequência de ressonância de tal maneira que, para
algum valor de n, tenhamos
ωr = nω
então a amplitude An correspondente a este harmônico será dominante. Consequentemente
o movimento resultante de um oscilador será aproximadamente senoidal mesmo que a força
externa aplicada não o seja.
Exercı́cios de Treinamento
2.1 Uma partı́cula de massa m está inicialmente em repouso. Subitamente, no instante
t = 0, aplica-se uma força constante F0 . Depois de um intervalo de tempo t0 a força
subitamente dobra de valor e permanece constante daı́ para a frente. Encontre a
velocidade da partı́cula e o deslocamento total no instante t = 2t0 .
2.4 A força que atua numa partı́cula varia com a posição de acordo com a lei de potência
F (x) = −kxn
Problemas
2.5 Uma partı́cula de massa m está inicialmente em repouso. Uma força constante F0 atua
na partı́cula até o instante t = t0 . A força então aumenta de valor linearmente com
o tempo tal que depois de um intervalo adicional t0 a força vale 2F0 . Mostre que a
distância total percorrida pela partı́cula no intervalo total de tempo 2t0 é
13 F0 t20
.
6 m
2.6 Um bloco é lançado para cima em um plano inclinado com velocidade inicial v0 . Se a
inclinação do plano é θ, e o coeficiente de atrito cinético entre o plano e o bloco é µ,
encontre o tempo total necessário para o bloco retornar ao ponto de lançamento.
2.7 Um bloco desliza numa superfı́cie horizontal lubrificada com óleo pesado tal que o bloco
sofre uma resistência viscosa que varia com a velocidade de acordo com a equação
F (v) = −cv n
F (x) = −kx−2
2.10 Um projétil é lançado verticalmente para cima com velocidade inicial v0 . Supondo
que a resistência do ar seja proporcional ao quadrado da velocidade, mostre que a
velocidade do projétil ao retornar ao ponto de lançamento é
v0 vt
q
v02 + vt2
no qual
mg
r
vt = velocidade terminal =
c
2.11 A velocidade de uma partı́cula de massa m varia com o deslocamento x de acordo com
a equação
b
v=
x
Encontre a força que atua na partı́cula em função de x.
2.12 Sabendo-se que a força que atua em uma partı́cula é o produto de uma função da
posição e uma função da velocidade F (x, v) = f (x)g(v), mostre que a equação diferen-
cial do movimento pode ser resolvida por integração. A equação de movimento pode
ser resolvida por simples integração se a força for o produto de uma função da posição
por uma função do tempo? E se for o produto de uma função do tempo por uma
função da velocidade?
F = kvx
2.14 Uma partı́cula executando movimento harmônico simples de amplitude A passa pela
posição de equilı́brio com velocidade v0 . Qual é o perı́odo de oscilação?
2.16 Uma partı́cula executando movimento harmônico simples tem velocidade v1 quando o
deslocamento é x1 e a velocidade v2 quando o deslocamento for x2 . Encontre o perı́odo
e a amplitude do movimento.
2.18 Uma caixa de massa M contendo um bloco de massa m está dependurada em uma
mola de constante elástica k. Encontre a força de reação entre o bloco e o fundo da
caixa em função do tempo sabendo-se que o sistema foi deslocado para baixo de uma
distância d, contada a partir da posição de equilı́brio, e em seguida abandonado. Para
que valor de d o bloco perderá o contato com o fundo da caixa na parte mais alta das
oscilações verticais? Despreze a resistência do ar.
2.19 Mostre que a razão entre duas elongações máximas sucessivas de um oscilador harmônico
amortecido é constante. (Nota: Os máximos não ocorrem nos pontos de contato da
curva de elongação em função do tempo com a curva Ae−γt ).
2.20 Sabendo-se que a amplitude de um oscilador harmônico amortecido diminui para 1/e
do seu valor inicial depois de n ciclos completos, mostre que a razão entre o perı́odo
de oscilação e o perı́odo do mesmo oscilador sem amortecimento é dado por
s
T 1 1
= 1+ 2 2
≈1+ 2 2
T0 4π n 8π n
2.21 A velocidade terminal de uma bola em queda livre é vt . Quando a bola está dependu-
rada em uma mola leve a mola se distende de x0 . Mostre que a frequência natural de
oscilação é dada por s
g g2
ω1 = − 2
x0 4vt
supondo que a resistência do ar seja proporcional à velocidade.
2.22 Mostre que a energia do sistema acima cai a 1/e do seu valor inicial em t = vt /g.
2.23 Mostre que a frequência da força externa, para a qual a amplitude do oscilador
harmônico forçado é a metade da amplitude de ressonância, é aproximadamente
√
ω0 ± γ 3.
2.25 Mostre que o fator de qualidade Q de um oscilador harmônico forçado é igual ao fator
pelo qual deve ser multiplicado a resposta à frequência para se obter a resposta à
frequência de ressonância.
74 CAPÍTULO 2. MECÂNICA NEWTONIANA
2.27 Mostre que a série de Fourier para uma onda quadrada periódica é
4 1 1
f (t) = (sen(ωt) + sen(3ωt) + sen(5ωt) + . . .)
π 3 5
onde
2.28 Use o resultado acima para obter o movimento estacionário de um oscilador harmônico
forçado por uma onda quadrada periódica de amplitude F0 . Em particular encontre
as amplitudes relativas dos primeiros três termos A1 , A3 e A5 da função resposta x(t)
no caso em que o terceiro harmônico, 3ω, coincide com a frequência de ressonância do
oscilador. Considere o fator de qualidade Q = 100.
~F = d~p
dt
ou, de modo equivalente,
~F = d (m~v) (3.1)
dt
Essa é a forma abreviada para três equações nas quais as componentes de força podem
depender das coordenadas, de suas derivadas em relação ao tempo e do tempo. Infeliz-
mente não existe um método geral para encontrarmos soluções analı́ticas dessas equações
em todos os casos possı́veis. Existem entretanto muitos tipos de funções força, fisicamente
importantes, para as quais as equações diferenciais do movimento podem ser resolvidas por
métodos simples. Algumas dessas funções serão estudadas nas seções que se seguem.
Nos casos em que ~F é uma função explı́cita do tempo, o momentum ~p pode ser encontrado
determinando-se o impulso, isto é, por integração relativamente ao tempo, como no caso
unidimensional: Z
~Fdt = ~p(t) + C = m~v(t) + C (3.2)
Analogamente, uma segunda integração dará a posição:
Z
~vdt = ~r(t) + C 0 (3.3)
Embora o método seja perfeitamente válido, conhecermos de antemão a força como função
do tempo não é uma situação tı́pica na dinâmica. É claro que no caso especial da força ser
nula, o momentum e a velocidade são constantes e as equações anteriores são válidas. Mais
tarde teremos a oportunidade de discutir, em uma forma mais geral, o conceito de momentum
75
76 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
constante sob ação de uma força nula, quando estudarmos sistemas de partı́culas no Capı́tulo
4.
~F . ~v = d 1 m~v . ~v = dT
(3.5)
dt 2 dt
na qual introduzimos a energia cinética T = 12 mv 2 . Além disso, desde que ~vdt = d~r, podemos
integrar para obter Z Z
~F . d~r = dT (3.6)
3.4. FORÇAS CONSERVATIVAS E CAMPOS DE FORÇAS 77
O lado esquerdo da equação acima é uma integral de linha. Ela representa o trabalho
realizado na partı́cula pela força ~F enquanto a partı́cula se movimenta em sua trajetória. O
lado direito é a variação da energia cinética da partı́cula. Portanto a Equação (3.6) estabelece
que o trabalho realizado sobre a partı́cula pela resultante da força é igual à variação da energia
cinética.
dr F
P
Figura 3.1: O trabalho feito por uma força ~F é a integral de linha ~F . d~r.
R
Quando a força ~F for uma função das coordenadas de posição apenas, dizemos que ela
define um campo de forças estático. Dentre os tipos possı́veis de campos, existe uma classe
R
~
importante para a qual a integral F . d~r é independente da trajetória de integração. Tais
campos de força são conservativos. Matematicamente, um campo conservativo é aquele para
o qual a expressão ~F . d~r é uma diferencial exata. Quando uma partı́cula move-se num
campo conservativo, a integral de linha, e dessa maneira a variação da energia cinética, pode
ser conhecida de antemão. Este conhecimento pode ser usado para predizer o movimento da
partı́cula.
Esta equação é análoga àquela para o caso unidimensional F (x)dx = −dV , Seção 2.7. A
função V é a energia potencial. O princı́pio do trabalho, Equação (3.6), é representada então
de um modo simples por dT = −dV ou
d(T + V ) = 0 (3.8)
~F . d~r = −dV
é dada por
∂V ∂V ∂V
Fx dx + Fy dy + Fz dz = − dx − dy − dz
∂x ∂y ∂z
o que nos leva às seguintes igualdades
∂V ∂V ∂V
Fx = − Fy = − Fz = − (3.10)
∂x ∂y ∂z
Esta equação pode ser escrita numa forma abreviada mais conveniente
~F = −∇V
~ (3.12)
~ =~ı ∂ +~ ∂ + ~k ∂
∇ (3.13)
∂x ∂y ∂z
~ é chamado de operador del. A expressão ∇V
∇ ~ é também chamada de O gradiente de
V e algumas vezes é escrita grad V . Matematicamente, o gradiente de uma função é um
vetor que representa sua derivada espacial. Fisicamente, o negativo do gradiente da função
energia potencial nos dá a direção, o sentido e o módulo da força que atua numa partı́cula
localizada num campo criado por outras partı́culas. O sinal negativo significa que a partı́cula
é obrigada a mover-se na direção em que a energia potencial decresce. A Figura 3.2 é uma
ilustração do gradiente. Nessa figura a função potencial é representada na forma de curvas
de nı́vel representando energia potencial constante. A força em qualquer ponto é sempre
normal à superfı́cie equipotencial que passa pelo ponto em questão.
V = constante
Figura 3.2: Um campo de força representado por linhas de contorno de energia potencial.
Vamos supor que exista a função potencial, isto é, que as equações (3.10) sejam válidas.
Temos então
∂Fx ∂ 2V ∂Fy ∂ 2V
=− =−
∂y ∂y∂x ∂x ∂x∂y
Como a ordem de diferenciação pode ser invertida, as duas expressões são iguais e,
Estas são condições necessárias para que a função potencial exista; elas expressam a condição
de que
~F . d~r = Fx dx + Fy dy + Fz dz
seja uma diferencial exata. É possı́vel mostrar também que elas são condições suficientes,
isto é, se as Equações (3.14) forem válidas em todos os pontos, então as componentes da
força serão realmente deriváveis de uma função potencial V (x, y, z), e a soma da energia
cinética com a energia potencial será constante1 .
Os critérios para que um campo de força seja conservativo serão convenientemente apre-
sentados em termos do operador del. Nesta aplicação introduzimos o produto vetorial do
operador del:
! ! !
∂Fz ∂Fy ∂Fx ∂Fz ∂Fy ∂Fx
~ × ~F =~ı
∇ − +~ − + ~k − (3.15)
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
O produto vetorial definido acima é chamado de rotacional de ~F. De acordo com as Equações
(3.14), vemos que as componentes do rotacional se anulam se a força ~F for conservativa.
Então a condição para uma força ser conservativa pode ser dada numa forma compacta
~ × ~F = ~0
∇ (3.16)
Matematicamente, esta condição exigeR que a expressão ~F . d~r seja uma diferencial exata,
ou em outras palavras, que a integral ~F . d~r seja independente do caminho de integração.
Fisicamente, a anulação do rotacional da força ~F significa que o trabalho feito por ~F sobre
a partı́cula em movimento é independente da trajetória que liga um ponto ao outro.
Há uma terceira expressão envolvendo o operador del, ou seja o produto escalar ∇ ~ . ~F.
~
Esse é chamado a divergência de F. No caso de campo de força, a divergência dá uma
medida da densidade de fontes de campo em um certo ponto. A divergência é de particular
importância na teoria de eletricidade e magnetismo.
Expressões para o gradiente, rotacional e divergência em coordenadas cilı́ndricas e esféricas
são apresentadas abaixo:
Coordenadas Cilı́ndricas
1
Veja qualquer livro texto de cálculo avançado, por exemplo, A. E. Taylor, Advanced Calculus, Ginn,
Boston, 1955. Uma discussão interessante dos critérios de conservação quando este campo contém singula-
ridades foi feita por Feng na Amer. J. Phys. 37, 616 (1969).
3.7. CONDIÇÕES PARA A EXISTÊNCIA DE UMA FUNÇÃO POTENCIAL 81
Gradiente
~ = ∂V ~eR + 1 ∂V ~eφ + ∂V ~k
∇V
∂r R ∂φ ∂z
Rotacional
! ! !
~ × ~F = 1 ∂Fz ∂Fφ ∂FR ∂Fz 1 ∂(RFφ ) 1 ∂FR ~
∇ − ~eR + − ~eφ + − k
R ∂φ ∂z ∂z ∂R R ∂R R ∂φ
Divergência
~ . ~F = 1 ∂(RFR ) + 1 ∂Fφ + ∂Fz
∇
R ∂R R ∂φ ∂z
Coordenadas Esféricas
Gradiente
~ = ∂V ~er + 1 ∂V ~eθ + 1 ∂V ~eφ
∇V
∂r r ∂θ r sen θ ∂φ
Rotacional
! !
~ × ~F = 1 ∂(Fφ sen θ) ∂Fθ 1 1 ∂Fr ∂(rFφ )
∇ − ~er + − ~eθ +
r sen θ ∂θ ∂φ r sen θ ∂φ ∂r
!
1 ∂(rFθ ) ∂Fr
+ − ~eφ
r ∂r ∂θ
Divergência
2
~ . ~F = 1 ∂(r Fr ) + 1 ∂(sen θFθ ) + 1 ∂Fφ
∇
r2 ∂r r sen θ ∂θ r sen θ ∂φ
Exemplos
1. Encontre o campo de força da função potencial V = x2 + xy + xz. Aplicando o
operador del.
~ = −~ı (2x + y + z) −~ x − ~k x
~F = −∇V
~ı ~ ~k
~ × ~F =
∇ ∂
∂x
∂
∂y
∂
∂z
=~ı (z − x) +~ 0 + ~k (z − x)
xy xz yz
~ı ~ ~k
~ × ~F =
∇ ∂
∂x
∂
∂y
∂
∂z
= ~k (c − 2b)y
ax + by 2 cxy 0
82 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
O que mostra que a força será conservativa se c = 2b. O resultado é independente do valor
de a.
4. Mostre que a lei de força inverso do quadrado em três dimensões ~F = − rK2 ~er é conser-
vativa calculando o rotacional. Use coordenadas esféricas.
O rotacional é dado na página anterior.
~er ~eθ r ~eφ r sen θ
~ × ~F = 1 ∂ ∂ ∂
∇ 2 ∂r ∂θ ∂φ
r sen θ
Fr rFθ rFφ sen θ
Sem Resistência do Ar
3.9. MOVIMENTO DE UM PROJÉTIL 83
d2~r
m = −mg~k
dt2
Se idealizarmos mais ainda o problema e considerarmos que a aceleração da gravidade g é
constante, então a função força é visivelmente do tipo separável e é também conservativa
desde que é um caso especial daquele expresso pela Equação (3.17). Particularizaremos o
problema considerando que no instante t = 0 o projétil estava na origem com velocidade v0 .
A equação da energia (3.9) fica
1 1
m(ẋ2 + ẏ 2 + ż 2 ) + mgz = mv02
2 2
ou,
v 2 = v02 − 2gz (3.18)
dando a velocidade como uma função da altura. Esta é toda a informação que podemos
obter da equação de energia.
Para conseguir mais informações, devemos voltar à equação diferencial do movimento.
Podemos escrevê-la !
d d~r
= −g~k
dt dt
que é da forma discutida na Seção (1.20). Pode ser integrada diretamente. Uma primeira
integração nos dá a velocidade.
d~r
= −gt~k + ~v0
dt
onde a constante de integração ~v0 é a velocidade inicial. Outra integração nos leva ao vetor
posição
1
~r = − gt2~k + ~v0 t (3.19)
2
A constante de integração ~r0 , neste caso, é zero porque a posição inicial do projétil era a
origem. As componentes da equação acima são
x = ẋ0 t
y = ẏ0 t
1
z = ż0 t − gt2
2
Aqui ẋ0 , ẏ0 e ż0 são as componentes da velocidade inicial ~v0 . Resolvemos então o problema
de determinar a posição do projétil como função do tempo.
Para conhecermos a trajetória do projétil, eliminamos o tempo t das equações x e y e
obtemos
y = bx
84 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
onde a constante b é
ẏ0
b=
ẋ0
Isto significa que a trajetória está contida em um plano. Em particular, se ẏ0 = 0, então a
trajetória está contida no plano xz. Eliminando o tempo nas equações x e z, encontramos
que a equação da trajetória é da forma
z = αx − βx2
onde α = ż0 /ẋ0 e β = g/2ẋ20 . A trajetória é, deste modo, uma parábola contida no plano
y = bx. A Figura 3.3 mostra isto.
O y
y=bx
x
Resistência do Ar Linear
Vamos considerar o movimento de um projétil para a situação mais realista onde há uma
força retardadora devido a resistência do ar. Neste caso o movimento é não conservativo. A
energia total diminui continuamente como resultado da perda por fricção.
Por simplicidade, vamos supor que a lei de resistência do ar seja linear de tal maneira que
a força resistiva varia diretamente com a velocidade ~v. Será conveniente escrever a constante
de proporcionalidade como mγ onde m é a massa do projétil. Temos então duas forças
atuando no projétil; a resistência do ar mγ~v, e a força da gravidade −mg~k , como antes. A
equação diferencial do movimento é então
d2~r
m = −mγ~v − mg~k
dt2
trajetoria sem
y resistencia do
ar
O x
trajetoria com assintota
resistencia do vertical
ar
Figura 3.4: Comparação das trajetórias de uma partı́cula movendo-se com e sem resistência
do ar.
A situação pode ser visualizada, de uma maneira aproximada, por uma partı́cula presa a
um conjunto de molas como mostrado na Figura 3.5. Este é o oscilador harmônico tri-
dimensional.
y
1111111111111111
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x
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11111111111111 0000000000000000
1111111111111111
O oscilador bi-dimensional
Para o caso de movimento num plano, a equação diferencial é equivalente às duas equações
componentes
mẍ = −kx
mÿ = −ky
Elas estão separadas, e podemos, imediatamente, escrever as soluções na forma
onde s
k
ω=
m
As constantes A, B, α e β ficam determinadas a partir das condições iniciais, em qualquer
caso.
Encontramos a equação da trajetória eliminando o tempo t nestas duas equações. Para
conseguirmos isto, escreveremos a segunda equação na forma
y = B cos(ωt + α + ∆)
88 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
ax2 + bxy + cy 2 + dx + ey = f
pode representar uma elı́pse, uma parábola, ou uma hipérbole, dependendo do discriminante
b2 − 4ac
ser negativo, zero, ou positivo, respectivamente. No presente caso o discriminante é −(2 sen ∆/AB)2 .
A Figura 3.6 mostra que a trajetória é elı́ptica pois o discriminante da equação é negativo.
No caso particular em que a diferença de fase ∆ seja igual a π/2 a equação da trajetória
se reduzirá a
x2 y2
+ =1
A2 B 2
que é a equação de uma elı́pse cujos eixos coincidem com os eixos coordenados. Por outro
lado, se a diferença de fase for 0 ou π, então a equação da trajetória se reduzirá a uma linha
reta dada por
B
y=± x
A
O sinal positivo é válido quando ∆ = 0, e o negativo para ∆ = π. É possı́vel mostrar que
no caso geral o eixo da trajetória elı́ptica formará um ângulo φ com o eixo x definido por
2AB cos ∆
tg 2φ = (3.25)
A2 − B 2
Como exercı́cio, deixamos para o leitor a dedução da expressão acima.
x = A1 sen ωt + B1 cos ωt
y = A2 sen ωt + B2 cos ωt (3.26)
z = A3 sen ωt + B3 cos ωt
3.10. O OSCILADOR HARMÔNICO EM DUAS E TRÊS DIMENSÕES 89
y
B
ϕ
-A A
O x
-B
y = B cos(ω2 t + β) (3.28)
z = C cos(ω3 t + γ)
Também nesse caso, as seis constantes de integração das equações acima ficarão determi-
nadas a partir das condições iniciais. A oscilação resultante da partı́cula fica inteiramente
contida dentro de uma caixa retangular (cujos lados são 2A, 2B e 2C) centrada na origem.
Se as frequências ω1 , ω2 e ω3 forem redutı́veis a uma medida comum, isto é, se
ω1 ω2 ω3
= = (3.29)
n1 n2 n3
onde n1 , n2 e n3 são inteiros, a trajetória, chamada de Figura de Lissajous, se fechará, porque
depois de um tempo 2πn1 /ω1 = 2πn2 /ω2 = 2πn3 /ω3 a partı́cula retornará à sua posição
inicial e o movimento se repetirá. (Na Equação (3.29) cancelamos os fatores inteiros comuns).
Por outro lado, se os ω’s não forem redutı́veis a um fator comum, a trajetória não será
fechada. Neste caso dizemos que a trajetória pode encher completamente a caixa retangular
mencionada acima, pelo menos no sentido de que se esperarmos um tempo suficientemente
longo, a partı́cula chegará arbitrariamente perto de qualquer ponto dado.
Em muitos casos a força restauradora lı́quida exercida em um dado átomo numa substância
cristalina sólida é aproximadamente linear nos deslocamentos. As frequências de oscilação
resultantes normalmente ficam na região infravermelho do espectro: 1012 a 1014 vibrações
por segundo.
mẍ = qEx
mÿ = qEy
mz̈ = qEz
Vamos considerar um caso simples, ou seja aquele de um campo elétrico uniforme. Esco-
lhemos um dos eixos, digamos o eixo z, na direção do campo. Então Ex = Ey = 0, e E = Ez .
As equações diferenciais do movimento de uma partı́cula carregada neste campo são
qE
ẍ = 0 ÿ = 0 z̈ = = constante
m
Estas equações são identicas às equações para um projétil em um campo gravitacional uni-
forme. A trajetória, portanto, é uma parábola.
Os livros textos de Eletromagnetismo mostram que
~ ×E
∇ ~ =0
se E~ for devido a cargas estáticas. Isto significa que o movimento em tal campo é conservativo,
e que existe uma função potencial φ onde E ~ = −∇φ.
~ A energia potencial de uma partı́cula
de carga q neste campo é qφ, e a energia total é constante e igual a 12 mv 2 + qφ.
Na presença de um campo magnético estático (B) ~ a força atuante em uma carga móvel
é convenientemente expressa pelo produto vetorial
~F = q(~v × B)
~ (3.31)
d2~r ~
m 2 = q(~v × B) (3.32)
dt
Desta equação concluimos que a aceleração é sempre perpendicular à direção do movimen-
to. Isto significa que a componente tangencial da aceleração (v̇) é nula, e logo, a partı́cula
move-se com o módulo da velocidade constante. Este fato é verdadeiro mesmo quando B ~ é
uma função dependente da posição ~r, desde que essa função não varie com o tempo.
Exemplo
Vamos examinar o movimento de uma partı́cula carregada em um campo magnético
constante uniforme. Vamos escolher o eixo z na direção do campo, isto é,
~ = ~k B
B
d2~r ~ı ~ ~k
~
m 2 = q(~v × B) = qB ẋ ẏ ż
dt
0 0 1
B x
√
chamando v1 = ẋ2 + ẏ 2 , vemos que o raio A da hélice fica
v1 mv1
A= = (3.42)
ω qB
A força resultante em uma partı́cula que se move sob a ação de um vı́nculo pode ser
expressa como a soma vetorial da força externa ~F e da força de vı́nculo R,
~ onde R
~ é a reação
do agente vinculador sobre a partı́cula. A equação de movimento pode ser escrita como
d~v ~ ~
m =F+R (3.43)
dt
94 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
Exemplo
Coloca-se uma partı́cula no topo de uma esfera lisa de raio a. Se a partı́cula for ligeira-
mente perturbada, em que ponto ela abandonará a esfera?
~ da
As forças atuantes na partı́cula são a força da gravidade, para baixo, e a reação R
superfı́cie esférica. A equação de movimento é
d~v ~
m = m~g + R
dt
Vamos escolher eixos coordenados como os mostrados na Figura 3.8. A energia potencial é
então mgz, e a equação da energia é
1 2
mv + mgz = E
2
Usando as condições iniciais (v = 0 para z = a) encontramos E = mga, logo, quando a
partı́cula desliza, sua velocidade é dada por
v 2 = 2g(a − z)
z
R
θ
a mg
Figura 3.8: Forças atuantes em uma partı́cula que desliza em uma esfera lisa.
Logo R se anula quando z = 23 a e neste ponto a partı́cula abandona a esfera. Isto poderia
também ser conseguido observando que R muda de sinal neste ponto.
No caso em que uma partı́cula estiver vinculada a mover-se em uma certa curva, a equação
de energia juntamente com as equações paramétricas da curva
dV
mS̈ + =0 (3.45)
dS
mS̈ − FS = 0
dV
FS = −
dS
96 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
θ l
S P
O
mg
Figura 3.9: O Pêndulo Simples.
S
mS̈ + mg sen =0
l
ou, em termos de θ, ficaria
g
θ̈ +
sen θ = 0
l
A energia potencial V pode ser escrita como mgz onde z é a distância vertical da partı́cula
medida a partir de O, isto é,
S
V = mgz = mgl(1 − cos θ) = mgl − mgl cos
l
Aqui, então,
dV S
− = −mg sen = mg sen θ = FS .
dS l
Para conseguirmos uma solução aproximada da equação diferencial de movimento, consi-
deremos que θ permaneça pequeno. Neste caso
sen θ ≈ θ
3.14. SOLUÇÃO MAIS PRECISA DO PÊNDULO SIMPLES E O OSCILADOR NÃO LINEAR97
Logo
g
θ̈ + θ = 0
l
esta é a equação diferencial do oscilador harmônico. A solução, como já vimos na Seção 2.12
é
θ = θ0 cos(ω0 t + φ0 )
q
onde ω0 = g/l, θ0 é a amplitude de oscilação e φ0 é um fator de fase. Dentro dos limites
de validade dessa aproximação o movimento é harmônico simples e o perı́odo de oscilação é
dado por: s
2π l
T0 = = 2π (3.46)
ω0 g
que é uma fórmula elementar bem conhecida.
ξ + f (ξ) = 0 (3.47)
onde ξ é a variável que representa o deslocamento a partir da posição de equilı́brio, tal que
f (0) = 0
Equações diferenciais não lineares normalmente exigem algum método de aproximação para
suas soluções. Suponha que a função f (ξ) seja desenvolvida como uma série de potência,
f (ξ) = a1 ξ + a2 ξ 2 + a3 ξ 3 + . . .
d2 ξ
+ a1 ξ + a2 ξ 2 + a3 ξ 3 + . . . = 0 (3.48)
dt2
que é a expansão da equação geral do movimento do oscilador não linear sem amortecimen-
to. O termo a1 ξ nesta equação é o termo linear. Se este termo for predominante, isto é,
se a1 for muito maior do que os outros coeficientes, então o movimento será aproximada-
√
mente harmônico com frequência angular a1 . Uma solução mais precisa deve levar em
consideração os termos restantes não lineares.
98 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
θ = A cos ωt
gA3 gA3
!
g2
−Aω + A − cos ωt − cos 3ωt = 0
l 24l 24l
Excluindo o caso trivial A = 0, vemos que a equação acima não é válida para todos os valores
de t. Dessa maneira nossa função tentativa A cos ωt não pode ser uma solução. Observando
que o termo em cos 3ωt aparece na equação acima somos levados a tentar uma solução na
forma
θ = A cos ωt + B cos 3ωt (3.50)
que deverá ser uma aproximação melhor do que A cos ωt. Verifica-se que isto é verdade.
Levando esta solução na Equação (3.49), encontramos, depois de um tratamento idêntico ao
que foi feito anteriormente
gA3 gA3
! !
g
2 2 g
−Aω + A − cos ωt + −9Bω + B − cos 3ωt + (termos em
l 8l l 24l
g gA3 g gA3
−Aω 2 + A − =0 − 9Bω 2 + B − =0
l 8l l 24l
3.15. SOLUÇÃO EXATA DO MOVIMENTO DO PÊNDULO SIMPLES POR MEIO DE INTEGRAIS E
Da primeira equação
A2
!
2 g
ω = 1− (3.51)
l 8
Levando este valor de ω 2 na segunda equação, encontramos
1 A3
B = −A3 ≈ −
3(64 + 27A2 ) 192
Observando a Equação (3.50) vemos que a amplitude θ0 da oscilação do pêndulo é dado por
A3
θ0 = A + B = A −
192
ou, se A for pequeno
θ0 ≈ A
O significado da Equação (3.51) pode agora ser entendido. A frequência de oscilação depende
da amplitude θ0 . Na verdade, podemos escrever
r s
g 1
ω= 1 − θ02
l 8
e, para o perı́odo
s
2π 2π l
T = ≈ q
ω (1 − 81 θ02 ) g
s
l 1
≈ 2π 1 + θ02 + . . .
g 16
1 2
≈ T0 1 + θ0 + . . . (3.52)
16
onde T0 é o perı́odo para amplitude nula.
Esta análise, apesar de ser grosseira, levanta dois fatos essenciais na oscilação livre sob
a ação de força restauradora não linear; isto é, o perı́odo de oscilação é uma função da
amplitude de vibração, e a oscilação não é exatamente senoidal mas pode ser considerada
como uma superposição de uma mistura de harmônicos. Pode ser mostrado que a vibração
de um sistema não linear forçado por uma força puramente senoidal também será distorci-
do; isto é, conterá harmônicos. O auto-falante de um rádio ou um sistema de “som”, por
exemplo, pode introduzir distorção (harmônicos) acima e abaixo daquela produzida pelo
sistema amplificador eletrônico.
2g
θ̇2 = (cos θ − cos θ0 ) (3.54)
l
θ
Usando a identidade cos θ = 1 − 2 sen2 2
, podemos escrever
!
4g θ0 θ
θ̇2 = sen2 − sen2 (3.55)
l 2 2
completa do primeiro tipo. Os valores das integrais elı́pticas são tabelados. Podemos obter
uma expressão aproximada desenvolvendo o integrando da Equação (3.60) pelo teorema
binomial e integrando termo a termo. O resultado é
s π
s
k2 k2
! !
lZ 2 2 l
T =4 1+ sen φ + . . . dφ = 2π 1+ + ... (3.61)
g 0 2 g 4
3.16. O PROBLEMA ISOCRÔNICO 101
2 θ02 θ02
k = sen ≈
2 4
o que nos leva à expressão aproximada
s
θ2
!
l
T = 2π 1 + 0 + ... (3.62)
g 16
Exemplo
Encontre o perı́odo de um pêndulo simples oscilando com uma amplitude de 20◦ . Use
tabelas de funções elı́pticas, e também compare com os valores calculados utilizando-se as
aproximações descritas anteriormente.
Para uma amplitude de 20◦ , k = sen 10◦ = 0, 17365, e θ0 /2 = 0, 17453 radianos. Os
resultados ficam
q q
De tabelas e da Equação (3.60) T = 4 l
g
K(10◦ ) = gl (6, 3312)
q q
Da Equação (3.61) T = 2π gl 1 + 14 sen2 10◦ = gl (6, 3306)
θ2
q q
Da Equação (3.62) T = 2π gl 1 + 160 = gl (6, 3310)
q q
Da fórmula elementar T0 = 2π gl = gl (6, 2832)
S = C sen θ
S
mg
mgsen θ
O x
bola esférica lisa. O caso talvez fique melhor ilustrado por um pequeno corpo pesado preso
na extremidade de uma corda ou haste leve e inextensı́vel que é livre para balançar em
qualquer direção em torno de um ponto fixo, como na Figura 3.11. Este é o famoso pêndulo
esférico.
θ S
mg y
φ
x
Figura 3.11: O pêndulo esférico.
m~¨r = m~g + ~S
mẍ = Sx
mÿ = Sy
mz̈ = Sz − mg
Uma solução aproximada é prontamente conseguida para o caso onde o deslocamento a partir
da posição de equilı́brio é muito pequeno. O valor da tensão é aproximadamente constante
e igual a mg, e temos |x| l, |y| l, z = 0. Dessa maneira as componentes x y de ~S são
dadas aproximadamente por
x
Sx ≈ −mg
l
y
Sy ≈ −mg
l
104 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
que podem ser facilmente verificadas a partir da geometria da figura. As equações diferenciais
do movimento em x e y se reduzem então a
g
ẍ + x = 0
l
g
ÿ + y = 0
l
que são similares às equações do oscilador harmônico bidimensional tratado anteriormente
na Seção 3.10. As soluções, como já vimos são
x = A cos(ωt + α)
y = B cos(ωt + β)
q
onde ω = gl como no pêndulo simples.
Dentro dos limites de nossa aproximação o movimento é tal que sua projeção no plano
xy é uma elı́pse. Existem, claro, casos especiais em que a projeção se reduz a uma linha
reta, ou a um cı́rculo, dependendo das condições iniciais.
mar = Fr = mg cos θ − S
maθ = Fθ = −mg sen θ
maφ = Fφ = 0
A segunda equação implica que a quantidade entre parênteses é constante. Vamos chamá-la
h. Na verdade, ela é o momentum angular (por unidade de massa) em torno do eixo vertical.
Esta grandeza é constante porque não existe nenhum momento de força em torno deste eixo.
Podemos, então, escrever
h
φ̇ = (3.67)
sen2 θ
Levando o valor de φ̇ na Equação (3.65), obtemos uma equação na coordenada θ apenas
g cos θ
θ̈ + sen θ − h2 =0 (3.68)
l sen θ
É instrutı́vel considerar neste ponto alguns casos especiais. Primeiro, se o ângulo φ for
constante, então φ̇ = 0 e logo h = 0.
Como consequência, a Equação (3.68) se reduz a
g
θ̈ + sen θ = 0
l
que é, exatamente a equação diferencial do pêndulo simples. O movimento se faz no plano
φ = φ0 = constante.
O segundo caso especial é aquele do pêndulo cônico; θ = θ0 = constante. Neste caso
θ̇ = 0 e θ̈ = 0, logo a Equação (3.68) se reduz a
g cos θ0
sen θ0 − h2 =0
l sen3 θ0
ou
g
h2 = sen4 θ0 sec θ0 (3.69)
l
Usando o valor de h da Equação (3.69), encontramos a partir da Equação (3.67)
g
φ̇20 = sec θ0 (3.70)
l
que é a condição de movimento cônico para o pêndulo.
Esta última equação pode ser obtida também considerando-se as forças atuantes na
partı́cula durante seu movimento circular conforme a Figura 3.12. A aceleração é cons-
tante em módulo, isto é, ρφ̇2 = (l sen θ0 )φ̇20 , e aponta diretamente para o centro da trajetória
circular. Dessa maneira, podemos escrever as componentes horizontal e vertical
θ0
S
ρ
mg
ξ = θ − θ0
A expressão entre parênteses na Equação (3.71) pode ser desenvolvida como uma série de
potências em ξ de acordo com a fórmula conhecida
ξ2
f (ξ) = f (0) + f 0 (0)ξ + f 00 (0) + ...
2‘
Depois de executar as operações indicadas encontramos que f (0) = 0 e f 0 (0) = 3 cos θ0 +
sec θ0 . Como estamos interessados no caso de pequenos valores de ξ, desprezamos potências
mais altas do que a primeira, e a Equação (3.71) pode ser escrita
g
ξ¨ + bξ = 0 (3.72)
l
onde b = 3 cos θ0 + sec θ0 . O movimento em ξ ou θ é dado então por
s
gb
ξ = θ − θ0 = ξ0 cos t + E (3.73)
l
O valor de φ̇, dado pela Equação (3.67), não difere muito do valor dado pelo movimento
puramente cônico φ̇0 , indicando que φ aumenta estacionariamente durante a oscilação de
θ em torno de θ0 . A Figura 3.13 mostra a trajetória da partı́cula. Durante uma oscilação
completa de θ o valor do ângulo azimutal φ aumenta de
φ1 ≈ φ̇0 T1
3.17. O PÊNDULO ESFÉRICO 107
2
Seja ρ o raio do cı́rculo para θ = θ0 , como na Figura 3.12. Então cos2 θ0 = 1 − ρl2 , consequen-
−1
temente φ1 = 2π (4 − 3ρ2 /l2 ) 2 . Então φ1 é ligeiramente maior que π. Desenvolvendo-se em
potência de ρ encontramos que o incremento ∆φ é dado por
3π ρ2
∆φ ≈ + ...
8 l2
φ1
∆φ x
No inı́cio desta seção provamos que a projeção da trajetória do pêndulo no plano xy era
aproximadamente uma elı́pse para ângulo θ pequeno. Podemos agora interpretar o resultado
acima dizendo que o eixo maior da elı́pse não está estacionário, mas precessa na direção de
φ crescente. O eixo da elı́pse gira de ∆φ durante cada oscilação completa de θ. A Figura
3.13 ilustra isso.
ml2 2
E= θ̇ + φ̇2 sen2 θ − mgl cos θ
2
Vamos resolver esta equação para θ̇2 . Para conseguir isto, usamos a relação, desenvolvida
anteriormente, φ̇ = h/ sen2 θ. Vamos colocar ainda cos θ = u. O resultado é
2E 2g h2
θ̇2 = + u − = f (u) (3.75)
ml2 l 1 − u2
θ = θ1
θ = θ2
Exercı́cios de Treinamento
3.1 Calculando o rotacional encontre quais das seguintes forças são conservativas:
a) ~F =~ı x +~ y
b) ~F =~ı y +~ x
c) ~F =~ı y −~ x
d) ~F =~ı xy +~ yz + ~k zx
e) ~F =~ı yz +~ zx + ~k xy
PROBLEMAS 109
Problemas
3.6 Considere as duas funções força
a) ~F =~ı x +~ y
b) ~F =~ı y −~ x
Verifique que (a) é conservativa e (b) é não conservativa mostrando que a integral
R
~F . d~r é independente da trajetória de integração para (a), mas não para (b), tomando
dois caminhos para os quais a origem (0,0) é o ponto de partida e (1,1) é o ponto de
chegada. Para uma trajetória tome a linha x = y. Para a outra, tome o eixo y até o
ponto (0,1) e depois a linha y = 1 até o ponto (1,1).
3.7 Mostre que a variação da gravidade com a altura pode ser explicada aproximadamente
pela seguinte função energia potencial:
z
V = mgz 1 −
R
onde R é o raio da Terra. Encontre a força associada com esta função energia potencial.
Deste resultado, encontre as componentes da equação diferencial do movimento de um
projétil submetido a esta força.
3.8 Um projétil é lançado da origem com velocidade inicial v0 com ângulo de elevação θ
em relação a horizontal. Mostre que se desprezarmos a resistência do ar e se o solo for
v 2 sen 2θ
tomado como nı́vel, o projétil atinge o solo a uma distância 0 g da origem. Este é o
alcance horizontal do projétil. Mostre também que o decréscimo no alcance horizontal
é aproximadamente 4v03 γ sen θ sen 2θ/3g 2 no caso de resistência do ar proporcional à
velocidade (caso linear).
110 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
3.9 Partı́culas de lama são lançadas da periferia de uma roda que rola sem deslizar. Se
a roda tiver uma velocidade para a frente v0 e se seu raio for b, mostrar que a maior
altura acima do solo que a lama pode atingir é
v02 gb2
b+ +
2g 2v02
v02
g(1 + sen φ)
ẋ = ẋ0 e−γS
3.13 Uma partı́cula de massa unitária move-se no potencial do oscilador harmônico não
isotrópico tri-dimensional
V = x2 + 4y 2 + 9z 2
Se a partı́cula passa pela origem com velocidade unitária na direção (1,1,1) no instante
t = 0, determine x, y e z como funções do tempo.
3.14 Um átomo esta situado em uma rede cristalina cúbica simples. Se a energia potencial
de interação entre dois átomos quaisquer é da forma cr−α onde c e α são constantes
e r é a distância entre dois átomos, mostre que a energia total de interação de um
dado átomo com seus seis vizinhos mais próximos é aproximadamente o potencial do
oscilador harmônico tri-dimensional
V = A + B x2 + y 2 + z 2
PROBLEMAS 111
onde A e B são constantes. (Nota: Considere que os seis átomos vizinhos estão fixos
e localizados nos pontos (±d,0,0), (0,±d,0), (0,0,±d), e que o deslocamento (x,y,z)
da posição de equilı́brio q (0,0,0) do átomo é pequeno se comparado com d). Então
P −α
V = cri onde r1 = (d − x)2 + y 2 + z 2 com expressão semelhante para r2 , r3 ,
. . . . . ., r6 . Use o teorema binomial para obter o resultado desejado.
3.15 Um eletron move-se em um campo de força composto de um campo elétrico uniforme E ~
e um campo magnético uniforme B ~ que faz ângulo reto com E.
~ Seja E ~ = ~k B.
~ = ~ E e B
Considere a posição inicial do eletron na origem com velocidade inicial ~v0 = ~ı v0 na
direção x. Encontre o movimento resultante da partı́cula. Mostre que a trajetória do
movimento é uma ciclóide:
x = a sen ωt + bt
y = c(1 − cos ωt)
z = 0
Movimento cicloidal de eletrons é utilizado no magnetron – um tubo eletrônico usado
para produzir ondas de rádio de alta frequência.
3.16 Uma partı́cula foi colocada na superfı́cie externa de uma esfera lisa de raio b a uma
distância b/2 acima do plano central. Determine em que ponto a partı́cula abandona
a superfı́cie, depois que ela começa a deslizar para baixo.
3.17 Uma bolinha (conta) desliza em um fio liso dobrado na forma de um aro de raio b. Se
o aro é vertical, e se a bolinha estava inicialmente em repouso, em um ponto nivelado
com o centro do aro, encontre a velocidade da bolinha no ponto mais baixo do aro.
Encontre também a reação do aro sobre a bolinha neste ponto.
3.18 No problema acima determine o tempo que a bolinha gasta para atingir o ponto mais
baixo do aro.
3.19 Em uma experiência de laboratório um pêndulo simples é usado para se determinar o
valor de g. Se a amplitude de oscilação do pêndulo é 30◦ , encontre o erro cometido ao
se usar a fórmula elementar s
l
T = 2π
g
3.20 Um pêndulo esférico de 1 metro de comprimento está executando pequenas oscilações
em torno de um ângulo cônico θ0 . Se θ0 = 30◦ , encontre o perı́odo do movimento
cônico, o perı́odo de oscilação de θ em torno de θ0 e o ângulo de precessão ∆φ.
3.21 Prove que as duas raı́zes reais da equação f (u) = 0, Equação (3.75), que estão entre
+1 e −1 são iguais no caso de pêndulo cônico.
3.22 A corda de um pêndulo esférico de comprimento l está inicialmente fazendo um ângulo
de 90◦ com a vertical. Dá-se à massa do pêndulo uma velocidade inicial v0 perpendicular
à corda. Se v02 = gl/2 encontre o ponto mais baixo atingido pela massa do pêndulo
durante seu movimento. (Sugestão: A partir das condições iniciais u = 0 é uma raiz
da equação f (u) = 0).
112 CAPÍTULO 3. MOVIMENTO GERAL DE UMA PARTÍCULA
2mgz
3.7 F = −mg + rT
~ = ~ cm
X
P mi v~i = mV (4.3)
113
114 CAPÍTULO 4. DINÂMICA DE UM SISTEMA DE MUITAS PARTÍCULAS
mi
ri
centro de massa
O rcm
x
onde ~Fi é a força externa total agindo em i. O segundo termo da equação acima corresponde
à soma de todas as forças internas exercidas na partı́cula i pelas outras partı́culas do sistema.
Somando a expressão (4.4) para todas as partı́culas, temos
n n n n
~Fi + ~Fij = ~p˙ i
X X X X
(4.5)
i=1 i=1 j=1;j6=i i=1
Na somatória dupla, acima, para cada força ~Fij existirá também a força ~Fji e elas são iguais
e opostas
~Fij = −~Fji (4.6)
por consequência da terceira lei de Newton. Desta maneira, as forças internas cancelam-se
duas a duas e a somatória dupla vale zero. Podemos reescrever a Equação (4.5) do seguinte
modo
n n
~Fi = ~˙ = m~acm
~p˙ i = P
X X
(4.7)
i=1 i=1
~Fi =
X X
mi~g = m~g
4.2. MOMENTUM ANGULAR DO SISTEMA 115
lembre-se que ~g é constante se o campo for uniforme. Dai podemos tirar que
~acm = ~g (4.8)
Desta maneira, o centro de massa de uma granada que explodiu no ar continua seu caminho
parabólico que ela possuia antes da explosão.
Em um caso especial em que não há nenhuma força externa agindo no sistema (ou se
P~ ~ cm = constante. De modo que o momentum linear do
Fi = 0), temos que ~acm = 0 e V
sistema permanece constante
~ = mV
~ cm = constante
X
~pi = P (4.9)
Este é o princı́pio de conservação do momentum linear. Na mecânica Newtoniana a constância
do momentum linear de um sistema isolado está diretamente ligada, e de fato é uma con-
sequência da terceira lei de Newton. Mas, mesmo nos casos em que as forças entre as
partı́culas não obedecem diretamente à lei da ação e reação, como no caso da força magnética
entre duas partı́culas móveis carregadas, o princı́pio de conservação do momentum linear
ainda é mantido, quando se leva em conta o momentum linear das partı́culas e do campo
eletromagnético1 .
d~L X n Xn
= (~vi × mi~vi ) + (~ri × mi~ai ) (4.10)
dt i=1 i=1
aqui a primeira somatória é nula (~vi × ~vi = 0) e na segunda somatória o produto mi~ai
corresponde à força total atuante na partı́cula i. Podemos então escrever
d~L X n
~
n
~
n
~
n n
~ri × ~Fij
X X X X
= ~ri × Fi +
Fij = ~ri × Fi + (4.11)
dt i=1 j=1;j6=i i=1 i=1 j=1;j6=i
Na expressão acima é usada a mesma nomenclatura da Seção 4.1, onde ~Fi corresponde à
resultante externa de forças sobre a partı́cula i e ~Fij é a força interna da partı́cula j sobre a
partı́cula i. A somatória dupla da expressão (4.11) é constituida de pares
mj
rij
rj
mi
ri
O
Figura 4.2: Definição do vetor ~rij .
agem sobre o sistema. Se denotarmos o momento externo total por N, ~ podemos escrever a
Equação (4.11) do seguinte modo
d~L ~
=N (4.15)
dt
que significa: a taxa de variação do momentum angular do sistema com o tempo é igual ao
momento total das forças externas agindo sobre o sistema.
Se o sistema é isolado, então N ~ = 0 e o momentum angular permanece constante tanto
em módulo quanto em direção e sentido,
~L =
X
~ri × mi~vi = constante (4.16)
Este fato é estabelecido como Princı́pio de Conservação do Momentum Angular.
Do mesmo modo que o momentum linear de um sistema isolado permanece constante, o
momentum angular de um sistema isolado também permanece constante, mesmo no caso
de um sistema de cargas móveis onde temos que considerar o momentum angular do campo
eletromagnético2 .
2
Ver nota n−o 1.
4.3. ENERGIA CINÉTICA DO SISTEMA DE PARTÍCULAS 117
mi
ri
ri
centro de massa
rcm
Como mostra a Figura 4.3, podemos expressar cada vetor posição ~ri na forma
analogamente, temos X
mi~vi = 0
e a expressão para a energia cinética do sistema fica
1 2 X1
T = mvcm + mi v 2i (4.20)
2 2
118 CAPÍTULO 4. DINÂMICA DE UM SISTEMA DE MUITAS PARTÍCULAS
o que significa que a energia cinética total do sistema é dada pela soma da energia cinética
de translação do centro de massa (1−o termo) mais a energia cinética do movimento das
partı́culas com relação ao centro de massa (último termo). Esta separação de energias
cinéticas é conveniente, por exemplo, em Fı́sica molecular. Desta maneira, para um sistema
molecular, a energia cinética total consiste na soma da energia cinética de translação de
todas as moléculas, mais a energia de vibração e rotação de cada molécula.
onde, como mostra a Figura 4.4, os vetores ~r1 e ~r2 representam a posição das partı́culas de
massa m1 e m2 , respectivamente, em relação ao centro de massa. Agora, se R ~ é o vetor
posição da partı́cula 1 relativo à partı́cula 2, então
m1
R r1
cm
r2
m2
d2~r1 ~
m1 = ~1 = f (R) R
F (4.23)
dt2 R
4.5. COLISÕES 119
onde f (R) é o módulo da força mútua entre as duas partı́culas. Usando a Equação (4.22),
podemos escrever
~
d2 R ~
R
µ 2 = f (R) (4.24)
dt R
onde
m1 m2
µ= (4.25)
m1 + m2
A quantidade µ é conhecida por massa reduzida. A nova equação do movimento (4.24) dá
o movimento da partı́cula 1 em relação à partı́cula 2 (tomada como fixa). Esta equação é
precisamente a mesma equação para o movimento de uma partı́cula de massa µ movendo-se
em um campo central de força dada por f (R). Deste modo, o fato de m2 estar em movimento
relativo ao centro de massa está automaticamente computado quando se substitui m1 por µ.
Se os corpos têm massas iguais, então µ = m/2. Por outro lado, se m2 é muito maior que
m1 , então µ é praticamente igual a m1 .
Para dois corpos que se atraem por gravitação nós temos
Gm1 m2
F (R) = − (4.26)
R2
Neste caso, a equação do movimento é
~
~¨ = − Gm1 m2 R
µR (4.27)
R2 R
Esta é a mesma equação para o movimento de uma única partı́cula sujeita a uma força
central regida por uma força dependente do inverso do quadrado da distância. Uma vez que
a escolha dos subscritos (de m1 ou m2 ) é arbitrária, devemos concluir que o movimento de
cada partı́cula em relação à outra é uma curva cônica com esta fixa no foco.
Deste modo, tomando o sistema Terra-Lua como um sistema isolado, a Lua descreve uma
elipse em relação à Terra (com a Terra no foco) ou, se o referencial for a Lua, temos a Terra
descrevendo uma elipse em torno da Lua (com a Lua no foco).
4.5 Colisões
Sempre que dois corpos colidem, a força que cada um exerce no outro durante o contato é
uma força interna, caso os dois sejam considerados um sistema. O momentum linear total
fica portanto inalterado. Podemos então escrever
ou equivalentemente,
m1~v1 + m2~v2 = m1~v10 + m2~v20 (4.29)
os subscritos 1 e 2 referem-se às duas partı́culas e as linhas caracterizam os momenta e
velocidades das partı́culas após a colisão. As equações acima são completamente gerais.
120 CAPÍTULO 4. DINÂMICA DE UM SISTEMA DE MUITAS PARTÍCULAS
p21 p2 p0 2 p0 2
+ 2 = 1 + 2 +Q (4.30)
2m1 2m2 2m1 2m2
ou
1 1 1 2 1 2
m1 v12 + m2 v22 = m1 v 0 1 + m2 v 0 2 + Q (4.31)
2 2 2 2
Aqui a quantidade Q é introduzida para indicar a energia total perdida, ou ganha, que ocorre
resultante da colisão.
No caso de uma colisão perfeitamente elástica, não existe mudança na energia cinética
total de modo que Q = 0. Se existir uma perda de energia, então Q é positivo. Esta colisão
é denominada endoérgica. Pode também ocorrer que haja aumento da energia cinética total.
Isto pode ocorrer por exemplo se houver alguma explosão no ponto de contato dos dois
corpos. Neste caso, Q é negativo e a colisão é denominada exoérgica.
O estudo das colisões é de particular importância em fı́sica atômica e nuclear. Neste caso,
os corpos envolvidos são átomos, núcleos ou partı́culas elementares como eletrons, protons
ou outras.
Colisão Direta
Consideremos o caso especial de uma colisão frontal de dois corpos ou partı́culas, no qual
o movimento ocorre inteiramente em uma linha reta como mostra a Figura 4.5. Neste caso,
a equação de conservação do momentum linear (4.29) pode ser escrita sem a notação vetorial
como
m1 v1 + m2 v2 = m1 v10 + m2 v20 (4.32)
o sentido do movimento das partı́culas é dado pelo sinal de v.
m1 m2
11111
00000
00000
11111
00000
11111 v1 11111
00000
00000
11111
00000
11111
v2
O 00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111 x
00000
11111
00000
11111 00000
11111
00000
11111
m1 m2
00000
11111
00000
11111
11111
00000
00000
11111
O 00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
x
m1 v0 m2
11111
00000
00000
11111 v1’ 11111
00000
00000
11111 v2’
O 00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
x
Figura 4.5: Colisão frontal de duas partı́culas.
A fim de calcular as velocidades após a colisão, devemos usar a Equação (4.32), junta-
mente com a equação do balanço energético (4.31).
4.6. COLISÃO OBLÍQUA E ESPALHAMENTO 121
|v20 − v10 | V0
= = (4.33)
|v2 − v1 | V
No caso inelástico ( = 0) verifica-se que v10 = v20 , isto é, não há recuo relativo. Por outro
lado, no caso especial em que os dois corpos possuem massas iguais, m1 = m2 , e a colisão é
perfeitamente elástica, = 1, obtemos
v10 = v2
v20 = v1
os dois corpos trocam suas velocidades como resultado da colisão.
No caso geral de colisões frontais não elásticas, é facil verificar que a perda de energia Q
é relacionada com o coeficiente de restituição pela equação
1
Q = µv 2 (1 − 2 )
2
onde µ é a massa reduzida e v a velocidade relativa antes da colisão. A dedução desta
expressão é deixada como exercı́cio.
Vamos estudar o caso especial de uma partı́cula de massa m1 com velocidade inicial
~v1 (partı́cula incidente) que colide com a partı́cula de massa m2 inicialmente em repouso
(partı́cula alvo). Este é o problema tı́pico que encontramos em fı́sica nuclear. As equações
do momentum são
~p1 = ~p01 + ~p02 (4.35)
m1~v1 = m1~v10 + m2~v20 (4.36)
O balanço de energia é dado por
p21 p0 2 p0 2
= 1 + 2 +Q (4.37)
2m1 m1 m2
ou
1 1 2 1 2
m1 v12 = m1 v 0 1 + m2 v 0 2 + Q (4.38)
2 2 2
Aqui, como antes, as linhas indicam velocidades e momenta finais. A quantidade Q é de
fundamental importância em fı́sica atômica e nuclear uma vez que ela representa a energia
emitida ou perdida em uma colisão atômica ou nuclear. Em muitos casos a partı́cula alvo é
“quebrada” (fissão) ou se modifica por influência da colisão. Em tais casos as partı́culas, após
a colisão, são diferentes das partı́culas antes da colisão. Em tais casos deve-se, logicamente,
assinalar de modo diferente as massas após a colisão com m3 e m4 , por exemplo.
Mas, qualquer que seja o caso, a lei de conservação do momentum tem que ser verificada.
De acordo com a teoria da relatividade, no entanto, a massa da partı́cula varia com a veloci-
dade de um modo que é descrito por esta teoria, e tal fato deve ser tomado em consideração
quando tratamos colisões envolvendo velocidades próximas à da luz. No entanto, podemos
adiantar que a conservação do momentum expressa pela Equação (4.28) é relativisticamente
correta, considerando que a massa seja uma função da velocidade.
v1’ v1’
0000
1111 1111
0000
0000
1111
1111
0000
0000
1111 0000
1111
0000
1111 0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111 m1 0000
1111
0000
1111
0000
1111
m1
0000
1111 0000
1111
0000
1111
SISTEMA
CENTRO de MASSA
m1 m2 m1
φ1 θ m2
1111 v1
0000 11111
00000
00000
11111 1111 v1
0000 cm v2 1111
0000
0000
1111
0000
1111
0000
1111
00000
11111
00000
11111
00000
11111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
0000
1111
00000
11111 0000
1111
0000
1111 00000
11111
00000
11111
φ2 0000
1111 0000
1111
0000
1111
SISTEMA θ
LABORATORIO
11111
00000
00000 m 2
11111 11111
00000
00000
11111 00000 m
11111
00000
11111 00000
11111
00000 2
11111
v2’
v2’
Dividindo (4.47) por (4.48) encontramos uma equação que conecta os ângulos de espalha-
mento nos dois sistemas
sen θ
tg φ1 = (4.49)
γ + cos θ
onde γ é um parâmetro numérico dado por
vcm m1 v1
γ= 0
= 0 (4.50)
v1 v 1 (m1 + m2 )
v’1 v’1
θ
φ1
Figura 4.7: Relação entre os vetores velocidade no sistema Laboratório e no sistema Centro
de Massa.
onde v0 é a velocidade comum das duas esferas no instante em que a velocidade relativa é
zero. Similarmente, para a restituição temos
m1 v 0 1 − m1 v0 = p̂r (4.59)
m2 v 0 2 − m2 v0 = −p̂r (4.60)
eliminando v0 das Equações (4.57) e (4.58) e também das Equações (4.59) e (4.60) obtemos
o par de equações
m0
v = v0 + u ln
m
aqui m0 é a massa inicial do foguete (carga + combustı́vel não queimado), m é a massa do
mesmo sistema no instante t e u é a velocidade do combustı́vel ejetado relativa ao foguete.
Devido à função logarı́timica, é necessário que se tenha uma considerável razão entre a
massa do combustı́vel e a carcaça para que se alcance as altas velocidades necessárias para
a colocação de um satélite em órbita.
Exercı́cios de Treinamento
4.1 Um sistema é constituı́do de três partı́culas, cada uma de massa unitária, com posições
e velocidades instantâneas dadas por
4.2 Um revolver de massa m dispara uma bala de massa γm onde γ é uma pequena
fração. Se v0 é a velocidade da bala quando ela abandona o cano do revólver, qual é a
velocidade de recuo do revólver?
Problemas
4.3 Um bloco de madeira de massa m repousa sobre uma superfı́cie horizontal. Uma
bala de massa γm é disparada horizontalmente com velocidade v0 contra o bloco,
alojando-se no mesmo. Que fração da energia cinética inicial da bala é perdida no
bloco, imediatamente após o impacto? Se µ é o coeficiente de atrito entre o bloco e o
chão, que distância ele percorrerá até parar?
4.4 Uma granada é lançada com velocidade inicial v0 segundo um ângulo de 45◦ . Na parte
mais alta da trajetória ela explode, dividindo-se em dois fragmentos de mesma
√ massa,
um dos quais move-se verticalmente para baixo com velocidade inicial 2v0 . Qual a
direção e velocidade do outro fragmento após a explosão?
4.5 Três partı́culas de mesma massa movem-se sobre uma mesma linha reta. Inicialmente
elas passam pelas posições −1; 0 e +1 com velocidades 4v0 ; 2v0 e v0 . Encontre as
velocidades finais das partı́culas, considerando que todos os choques são perfeitamente
elásticos.
4.6 Uma bola cai de uma altura h chocando-se com um solo horizontal. Se o coeficiente
de restituição é , mostre que a distância vertical total percorrida pela bola até que os
repiques cessem é
h(1 + 2 )
1 − 2
e encontre o tempo total gasto até que a bola pare.
4.7 Considere a Terra e a Lua como um sistema isolado e mostre que cada uma descreve
uma elipse em relação ao centro de massa do sistema.
1 2 1
mvcm + µv 2
2 2
onde m = m1 + m2 , v é a velocidade relativa e µ é a massa reduzida.
PROBLEMAS 129
4.9 Se dois corpos colidem frontalmente, mostre que a perda de energia cinética é igual a
µv 2 (1 − 2 )/2 onde µ = massa reduzida; v = velocidade relativa antes do impacto e
= coeficiente de restituição.
4.10 Uma partı́cula móvel de massa m1 colide elasticamente com um alvo de massa m2
inicialmente em repouso. Se a colisão for frontal, mostre que a partı́cula incidente perde
uma fração 4µ/m de sua energia cinética inicial (µ = massa reduzida; m = m1 + m2 ).
4.11 Mostre que o momentum angular de um sistema de duas partı́culas é
~ cm + R
~rcm × mV ~ × µ~v
~ = vetor posição relativa; ~v = velocidade relativa
(m = m1 +m2 ; µ = massa reduzida; R
das duas partı́culas).
4.12 Um próton de massa mp com velocidade inicial ~v colide com um átomo de hélio, massa
4mp , inicialmente em repouso. Se o próton deixa o ponto de impacto segundo um
ângulo de 45◦ em relação à direção original de seu movimento, encontre as velocidades
finais de cada uma das partı́culas. Considere a colisão perfeitamente elástica.
4.13 Resolva o problema acima no caso de uma colisão inelástica em que Q = 1/4 da energia
cinética inicial do próton.
4.14 Relativo ao problema 4.12, encontre o ângulo de espalhamento do próton no referencial
do centro de massa.
4.15 Relativo ao problema 4.13, encontre o ângulo de espalhamento do proton no referencial
do centro de massa.
4.16 Uma partı́cula de massa m com momentum inicial p1 , colide com uma partı́cula de
igual massa em repouso. Se o módulo dos momenta finais das duas partı́culas são p0 1
e p0 2 respectivamente, mostre que a perda de energia na colisão é dada por
p0 1 p0 2
Q= cosψ
m
onde ψ é o ângulo entre as trajetórias das duas partı́culas após a colisão.
4.17 Encontre a equação do movimento de um foguete disparado verticalmente para cima
considerando g constante. Encontre a razão entre a massa de combustı́vel e a da carcaça
para que o foguete alcance uma velocidade final igual a velocidade de escape da Terra
(ve ), considerando-se que a velocidade de exaustão do gás é Kve (K = constante) e
a taxa de exaustão é ṁ. Determine o valor numérico da relação combustı́vel-carcaça
para o caso em que K = 1/4, e ṁ é igual a 1% da massa inicial de combustı́vel por
segundo.
4.18 Monte a equação diferencial do movimento de uma gota de chuva que cai em meio à
neblina; recolhendo mais água enquanto cai. Considere que a gota permanece esférica
e que a taxa de recolhimento de água é proporcional à área da seção transversal da
gota multiplicada pela velocidade da mesma. Mostre que, se a gota parte do repouso
com tamanho inicial infinitesimal então a aceleração é constante e igual a g/7.
130 CAPÍTULO 4. DINÂMICA DE UM SISTEMA DE MUITAS PARTÍCULAS
4.14 ≈ 55◦
4.18 z̈ = g − 3ż 2 /z
4.20 mv̇ + V ṁ + Kv = 0
131
Capı́tulo 5
Um corpo rı́gido pode ser considerado como um sistema de partı́culas cujas posições relativas
são fixas, ou, em outras palavras, em que a distância entre duas partı́culas quaisquer é cons-
tante. Esta é a definição de um corpo rı́gido ideal. Primeiramente, como já foi mencionado
na definição de uma partı́cula, não existem verdadeiras partı́culas na natureza. Em segundo
lugar, os corpos reais não são estritamente rı́gidos; eles podem ser deformados (esticados,
comprimidos ou curvados) quando submetidos a forças externas. No entanto, por enquanto,
iremos desprezar tais deformações.
Considerações de Simetria
Se o corpo possui alguma simetria, pode-se tirar vantagem dessa simetria para a localiza-
ção do centro de massa. Deste modo, se o corpo possui um plano de simetria, isto é, se cada
partı́cula mi possui uma imagem especular m0i relativa a um certo plano, então o centro de
massa encontra-se neste plano. Para provar isto, suponhamos que o plano xy é um plano de
simetria. Teremos então
(zi mi + zi0 m0i )
P
zcm = P
(mi + m0i )
mas mi = m0i e zi = −zi0 . Então os termos no numerador cancelam-se em pares e zcm = 0;
ou seja o centro de massa encontra-se no plano xy.
De modo análogo, se o corpo possui uma linha de simetria, é fácil mostrar que o centro
de massa é um ponto dessa linha. A prova disto fica como exercı́cio.
Hemisfério Sólido
Para encontrar o centro de massa de um hemisfério sólido homogêneo de raio a, nós
sabemos que, por razões de simetria, o centro de massa encontra-se sobre o raio normal à
superfı́cie plana do hemisfério.
Fixamos os eixos coordenados como mostra a Figura 5.1. Temos que o centro de massa
está sobre√o eixo z. Para calcular zcm usaremos elementos de volume circulares de espessura
dz e raio a2 − z 2 como mostrado. Então
dv = π(a2 − z 2 )dz
de modo que Ra
ρπz(a2 − z 2 )dz 3
zcm = R0 a 2 2
= a (5.5)
0 ρπ(a − z )dz 8
Casca Hemisférica
Para uma casca hemisférica de raio a usamos os mesmos eixos do problema anterior (Fig.
5.1). Novamente, pela simetria, o centro de massa está localizado sobre o eixo z. Para
elemento de superfı́cie tomamos uma tira circular de largura adθ. Podemos escrever
√
ds = 2π a2 − z 2 adθ
5.1. CENTRO DE MASSA DE UM CORPO RÍGIDO 133
z
a2 - z 2
11111111111111111111
00000000000000000000
a
z
θ
O
Aro Semicircular
Para encontrarmos o centro de massa de um aro semicircular de raio a, usamos os eixos
mostrados na Figura 5.2. Temos
dl = adθ
dl
dθ
a
θ
O x
e z = a sen θ logo Rπ
0 ρ(a sen θ)adθ 2a
zcm = Rπ = (5.7)
0 ρadθ π
Lâmina Semicircular
134 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
No caso de uma lâmina semicircular uniforme, o centro de massa está sobre o eixo z (Fig.
5.2). Deixamos como problema a prova de que
4a
zcm = (5.8)
3π
A equação acima estabelece que o momento da força da gravidade sobre todos os pontos
do corpo é igual ao momento de uma única força m~g atuando no centro de massa1 . A
1
O centro aparente de atuação da força gravitacional é denominado centro de gravidade. Em um campo
gravitacional uniforme como o que estamos considerando, o centro de massa e o centro de gravidade são
coincidentes.
5.3. ROTAÇÃO EM TORNO DE UM EIXO FIXO 135
mi
Ri
ω φ yi
O xi x
onde ω é a velocidade angular da rotação. Analisando a figura vemos que a velocidade tem
as seguintes componentes
onde φ é definido como mostra a figura. As equações acima também podem ser obtidas ao
se tomar as componentes de
~ ×~ri
~vi = ω (5.21)
~ = ~k ω.
onde ω
Calculemos a energia cinética de rotação do corpo. Temos
!
1 1 X 1
mi vi2 = mi Ri2 ω 2 = Iω 2
X
T = (5.22)
i 2 2 i 2
onde
mi Ri2 = mi x2i + yi2
X X
I= (5.23)
i i
mi Ri2 ω = Iω
X
L= (5.25)
i
Na Seção 4.2 vimos que a taxa de variação do momentum angular de qualquer sistema é
igual ao momento total das forças externas.
Para um corpo obrigado a girar em torno de um eixo fixo, temos
dL d(Iω)
N= = (5.26)
dt dt
onde N é o momento total de todas as forças externas relativo ao eixo de rotação (componente
~ sobre o eixo). Se o corpo é rı́gido, temos que I é constante e podemos escrever
de N
dω
N =I (5.27)
dt
A analogia entre as equações para translação e para rotação em torno de um eixo é
mostrada a seguir
5.4. CÁLCULO DO MOMENTO DE INÉRCIA 137
TRANSLAÇÃO ROTAÇÃO
momentum linear p = mv momentum angular L = Iω
força F = mv̇ torque N = I ω̇
energia cinética T = 12 mv 2 energia cinética T = 12 Iω 2
Desta forma, o momento de inércia é análogo à massa: ele é uma medida da inércia
rotacional do corpo em relação a um dado eixo fixo de rotação, do mesmo modo como a
massa é a medida da inércia translacional do corpo.
a somatória por uma integração por todo o corpo, do mesmo modo como fizemos para o
cálculo do centro de massa. Desta forma podemos escrever
Z
I= R2 dm (5.28)
onde dm, elemento de massa, é dado pelo fator densidade multiplicado por uma diferencial
apropriada (volume, área ou comprimento). É importante lembrar que R é a distância
perpendicular entre o elemento de massa e o eixo de rotação.
No caso de um corpo composto, é claro, da definição de momento de inércia, que podemos
escrever
I = I1 + I2 + . . . (5.29)
onde I1 , I2 , etc, são os momentos de inércia dos vários i constituintes, relativos ao eixo
escolhido.
138 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
Barra Fina
Para uma barra fina uniforme de comprimento a e massa m, temos, para o eixo perpen-
dicular à barra passando por uma extremidade (Figura 5.4 (a))
z z
a
11111111111111111111111
00000000000000000000000 111111111111111111111111
000000000000000000000000
00000000000000000000000
11111111111111111111111
00000000000000000000000
11111111111111111111111 000000000000000000000000
111111111111111111111111
000000000000000000000000
111111111111111111111111
00000000000000000000000
11111111111111111111111 000000000000000000000000
111111111111111111111111
00000000000000000000000
11111111111111111111111 000000000000000000000000
111111111111111111111111
O x -a/2 O +a/2 x
dx dx
(a) (b)
Figura 5.4: Coordenadas para o cálculo do momento de inércia de uma barra (a) em relação
a uma extremidade (b) em relação ao centro.
Z a
a3 1
I= x2 ρdx = ρ
= ma2 (5.30)
0 3 3
a última passagem resulta do fato de que ρa = m.
Se o eixo é perpendicular à barra mas passa pelo seu centro (Fig. 5.4 (b)) temos
Z +a
2 1 3 1
I= x2 ρdx = ρa = ma2 (5.31)
− a2 12 12
Esfera
Encontremos o momento de inércia de uma esfera sólida uniforme de raio a e massa
m relativo a um eixo (eixo z) passando por seu centro. Iremos dividir a esfera em discos
circulares finos, como mostra a Figura 5.6.
O momento de inércia de um desses discos de raio y é dado pela Equação (5.33), 21 y 2 dm
mas dm = ρπy 2 dz de modo que
z eixo
0
1
1
0
0
1
0
1
111111111111111
000000000000000 0
1
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
0
1
dz1
0
0
1
0
1 1
0
0
1
0
1
0
1 0
1
0
1 z
0
1
0
1
0
1
0
1
0
1
0
1
0000000
1111111
0000000
1111111
O0000000
1111111
0000000
1111111
0000000
1111111
y
0000000
1111111
0000000
1111111
0000000
1111111
a
0000000
1111111
0000000
1111111
0000000
1111111
0000000
1111111
0000000
1111111
Figura 5.6: Coordenadas para o cálculo do momento de inércia de uma esfera em relação ao
eixo z.
Z a Z a
1 4 1 8
I= πρy dz = πρ(a2 − z 2 )2 dz = πρa5 (5.34)
−a 2 −a 2 15
A última passagem deve ser completada pelo leitor. Uma vez que m = 43 πa3 ρ temos
2
I = ma2 (5.35)
5
140 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
Casca Esférica
O momento de inércia de uma casca esférica fina e uniforme pode ser obtido facilmente
pela aplicação da Equação (5.34). Se diferenciamos em relação a a, temos
8
dI = πρa4 da
3
este resultado é o momento de inércia de uma casca de raio a e espessura da. A massa da
casca é 4πa2 ρda de modo que
2
I = ma2 (5.36)
3
para o momento de inércia de uma casca de massa m e raio a. O leitor pode também tentar
obter este resultado por integração.
mi
yi
O
xi x
Mas i mi x2i é exatamente o momento de inércia Iy desse corpo com relação ao eixo y
P
11111111111111111
00000000000000000
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
O
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
x
a
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
z
O primeiro termo à direita é o momento de inércia relativo a um eixo paralelo ao eixo z que
passa pelo centro de massa. Vamos representá-lo por Icm . A segunda soma à direita é igual
142 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
mi
r
cm
rcm
O
x
ao produto da massa total do corpo pelo quadrado da distância do centro de massa ao eixo
z. Representamos esta distância por l. Isto é l2 = x2cm + ycm
2
.
Agora, da definição do centro de massa
X X
mi xi = mi y i = 0
i i
De modo que as duas últimas somas da direita da Equação (5.40) são nulas e o resultado
final pode ser escrito
I = Icm + ml2 (5.41)
Este é o teorema dos eixos paralelos. Ele pode ser aplicado a qualquer corpo rı́gido
tanto sólido quanto laminar. Este teorema estabelece que o momento de inércia, de um
corpo rı́gido, relativo a um eixo qualquer é igual ao momento de inércia relativo a um eixo
paralelo ao primeiro, passando pelo centro de massa, mais o produto da massa do corpo pelo
quadrado da distância entre os eixos.
Aplicando o teorema acima a um disco circular, temos, das Equações (5.33) e (5.41)
1 3
I = ma2 + ma2 = ma2 (5.42)
2 2
para o momento de inércia de um disco circular uniforme, relativo a um eixo perpendicular
ao seu plano, passando por sua borda.
Por outro lado, das Equações (5.38) e (5.41) temos
1
I = ma2 + ma2
4
para o momento de inércia do mesmo disco, relativo a um eixo paralelo ao seu plano, tangente
à borda.
Raio de Giração
5.5. O PÊNDULO FÍSICO 143
mgl sen θ
N = I ω̇
cm
eixo
mg O’
O perı́odo T é portanto s
I
T = 2π (5.48)
mgl
(Para evitar confusão, não usaremos um sı́mbolo especı́fico para representar a frequência
angular cujo valor é dado pelo produto 2πf ). A expressão do perı́odo em termos do raio de
giração k é s
k2
T = 2π (5.49)
gl
Desta forma, vemos que o perı́odo de um pêndulo composto é igual ao de um pêndulo
simples de comprimento k 2 /l. Como exemplo, podemos analisar o caso de uma barra fina e
uniforme de comprimento a oscilando em torno de um de seus extremos (k 2 = a2 /3). Seu
perı́odo é s
2a
T = 2π
3g
Centro de Oscilação
Usando o teorema dos eixos paralelos, podemos expressar o raio de giração k em termos
do raio de giração relativo ao centro de massa kcm
I = Icm + ml2
ou
mk 2 = mkcm
2
+ ml2
Cancelando as massas
k 2 = kcm
2
+ l2 (5.50)
A Equação (5.49) pode então ser escrita
s
2 + l2
kcm
T = 2π (5.51)
gl
5.6. TEOREMA GERAL RELATIVO AO MOMENTUM ANGULAR 145
Suponha que o eixo de rotação de um pêndulo fı́sico seja transferido para a posição O0
à distância l0 do centro de massa, como mostra a Figura 5.10. O perı́odo da oscilação T 0
relativo ao novo eixo é dado por
s
2 + l 02
kcm
0
T = 2π (5.52)
gl0
Segue-se que os perı́odos de oscilação em torno de O e em torno de O0 serão iguais se
2
kcm + l2 k 2 + l02
= cm 0
gl gl
que se reduz a
ll0 = kcm
2
(5.53)
O ponto O0 é denominado centro de oscilação do ponto O. É claro que O também é centro
de oscilação do ponto O0 . Desta maneira, em torno de uma extremidade de uma barra temos
2
kcm = a2 /12 e l = a/2. Usando a Equação (5.53) encontramos l0 = a/6 e portanto a barra
terá o mesmo perı́odo quando o eixo for transferido da extremidade para a posição O0 situada
à distância a/6 do seu centro.
d~L ~
=N (5.54)
dt
ou explicitamente
d X
(~ri × mi~vi ) = (~ri × ~Fi )
X
(5.55)
dt i i
e
~vi = ~vcm + ~vi
A Equação (5.55) fica
d Xh i
(~rcm +~ri ) × mi (~vcm + ~vi ) = (~rcm +~ri ) × ~Fi
X
(5.56)
dt i i
146 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
P P
Desenvolvendo esta expressão e usando o fato de que tanto mi~ri quanto mi~vi são nulas,
podemos reduzir a Equação (5.56) a
X d X X
~Fi + ~ri × ~Fi
X
~rcm × mi~acm + ~ri × mi~vi = ~rcm × (5.57)
dt
onde ~acm = ~v˙ cm .
Na Seção 4.1 mostramos que a translação do centro de massa de qualquer sistema de
partı́culas obedece à equação
~Fi =
X X
mi~ai = m~acm (5.58)
i i
d~L ~
=N (5.60)
dt
Este resultado estabelece que a taxa de variação temporal do momentum angular relativo
ao centro de massa de qualquer sistema é igual ao momento total das forças externas relativo
ao centro de massa. Isto é verdadeiro mesmo que o centro de massa esteja se acelerando. Se
tomarmos qualquer outro ponto além do centro de massa como ponto de referência, então
tal ponto precisa estar em repouso em um sistema de referência inercial (exceto para certos
casos especiais para os quais não vamos nos reter em discussão).
Um exemplo do uso deste teorema é dado na Seção 5.8.
onde ~F representa a soma de todas as forças externas que agem sobre o corpo, m é a massa
e ~acm a aceleração do centro de massa.
A aplicação da Equação (5.25) ao caso de um movimento laminar de um corpo rı́gido nos
fornece
L = Icm ω (5.62)
para o módulo do momentum angular relativo a um eixo C que passa através do centro de
massa, onde ω é a velocidade angular da rotação em torno desse eixo.
A equação fundamental que governa a rotação do corpo, Equação (5.60), fica então
d~L
~˙ = N
= Icm ω ~ (5.63)
dt
~ é o momento total das forças aplicadas, relativo ao eixo C.
onde N
O
x
φ cm
mg
F
a
FN
θ
onde θ é o ângulo de inclinação do plano em relação à horizontal. Uma vez que o corpo
permanece em contato com o plano,
ycm = constante
FN = mg cos θ (5.66)
A única força que provoca torque em relação ao centro de massa é a força de atrito. O
módulo desse momento é F a onde a é o raio do corpo. Deste modo, a equação rotacional
(5.63) fica
Icm ω̇ = F a (5.67)
Para discutir o movimento mais adiante, precisamos fazer algumas suposições relativas ao
contato do corpo com o plano. Vamos resolver as equações do movimento para dois casos.
xcm = aφ
ẋcm = aφ̇ = aω (5.68)
ẍcm = aφ̈ = aω̇
onde φ é o ângulo associado à rotação. A Equação (5.67) pode então ser escrita
Icm
ẍcm = F (5.69)
a2
Substituindo o valor de F (acima) na Equação (5.64) temos
Icm
mẍcm = mg sen θ − ẍcm
a2
resolvendo para ẍcm encontramos
mg sen θ g sen θ
ẍcm = = (5.70)
m + (Icm /a2 ) 2 /a2 )
1 + (kcm
onde kcm é o raio de giração em relação ao centro de massa. O corpo rola, portanto, com
aceleração linear constante e, por consequência da Equação (5.68), com aceleração angular
constante.
5.8. CORPO ROLANDO EM UM PLANO INCLINADO 149
2
Por exemplo, a aceleração linear de um cilindro uniforme (kcm = a2 /2) é
g sen θ 2
= g sen θ
1 + 1/2 3
2
enquanto que para uma esfera uniforme (kcm = 2a2 /5) é
g sen θ 5
= g sen θ
1 + 2/5 7
T + V = T + mgzcm = E = constante
1 2 1 2 ẋ2cm
ẋ + k − gxcm sen θ = E
2 cm 2 cm a2
No caso de rolamento puro a força de atrito não afeta a equação de energia uma vez que é
perpendicular ao deslocamento e consequentemente não realiza trabalho; logo E é constante.
Diferenciando em relação ao tempo e agrupando os termos temos
k2
!
ẋcm ẍcm 1 + cm − g ẋcm sen θ = 0
a2
Cancelando o fator comum ẋcm (supondo é claro que ẋcm 6= 0) e resolvendo para ẍcm encon-
tramos o mesmo resultado obtido anteriormente com o uso de forças e momentos.
Ocorrência de Deslizamento
150 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
Consideremos agora o caso em que o contato com o plano não é perfeitamente rugoso
mas tem um certo coeficiente de atrito de deslizamento µ. Havendo este deslizamento, o
módulo da força de atrito F é
F = µFN = µmg cos θ (5.71)
A equação da translação (5.64) fica então:
Da Equação (5.72) vemos novamente que o centro de massa possui aceleração constante
Integrando estas duas equações em relação ao tempo e, supondo que o corpo parta do
repouso (isto é: em t = 0, ẋcm = 0, φ̇cm = 0) temos
ẋcm = γaω
onde
2
!
sen θ − µ cos θ kcm tan θ
γ= = −1 (5.77)
µa2 cos θ/kcm
2 a2 µ
Mas, aω não pode ser maior que ẋcm , de modo que γ não pode ser menor que a unidade.
O caso limite, para o qual não existe deslizamento, é dado por ẋcm = aω ou seja γ = 1.
Resolvendo a Equação (5.77) para µ, com γ = 1, obtemos o valor crı́tico de µ que é dado
por
tan θ
µcrit = (5.78)
1 + (a/kcm )2
Se µ for maior que este valor, o corpo rola sem deslizar. Por exemplo, se uma bola é
colocada em um plano com θ = 45◦ , ela irá rolar, sem deslizar, se o coeficiente µ for maior
que tan 45◦ /(1 + 5/2) ou 2/7.
5.9. MOVIMENTO DE UM CORPO RÍGIDO SOB A AÇÃO DE UMA FORÇA IMPULSIVA151
Movimento Livre
Suponhamos que um corpo se encontre livre para movimentar-se em um plano e esteja
submetido a um impulso P. ~ˆ Nestas circunstâncias, de acordo com a teoria geral discutida
na Seção 5.7, temos que considerar tanto a translação quanto a rotação do corpo.
Primeiramente, a translação é descrita pela fórmula geral
~F = m~v˙ cm
~ˆ = m∆~vcm
Z
~Fdt = P
De modo que o resultado do impulso é causar uma variação na velocidade do centro de massa
igual a
~ˆ
P
∆~vcm = (5.79)
m
Em segundo lugar, a rotação do corpo é governada pela equação
~ = ~L˙ = Icm ω
N ~˙
ˆ
Chamamos a integral acima de impulso rotacional. Usemos o sı́mbolo ~L para designá-lo.
O efeito de um impulso rotacional é pois o de causar uma variação na velocidade angular do
corpo de uma quantidade
ˆ
~L
∆~ω = (5.81)
Icm
~ˆ é aplicado ao corpo de um modo que sua linha de ação está à
Se o impulso primário P
distância b do centro de massa, o momento da força (N~ = ~b × ~F), e consequentemente
ˆ ~ ~ˆ
~L =b×P (5.82)
152 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
Movimento Forçado
No caso em que o corpo submetido a uma força impulsiva não está livre, mas é obrigado
a girar em torno de um eixo fixo, devemos considerar apenas a condição de rotação N = I ω̇
de modo que
Z
N dt = L̂ = I∆ω
Na equação acima I é o momento de inércia em torno do eixo fixo de rotação e N é o
momento em relação a esse eixo. Neste caso, o impulso rotacional L̂, que é produzido pelo
impulso primário simples P̂ cuja linha de ação está à distância b do eixo de rotação, é dado
por
L̂ = P̂ b
de modo que
P̂ b
∆ω = (5.84)
I
é a variação da velocidade angular em torno do eixo fixo de rotação.
~ˆ 1 + P
P ~ˆ 2 + . . .
∆~vcm = (5.85)
m
De modo análogo, para o efeito rotacional, a Equação (5.83) se modifica para
~ˆ 1 b1 + P
P ~ˆ 2 b2 + . . .
∆ω = (5.86)
Icm
No caso de um corpo que é obrigado a girar em torno de um eixo fixo, existe um impulso
secundário devido à reação do eixo sobre o corpo quando um impulso externo é aplicado. O
5.9. CORPO RÍGIDO SOB A AÇÃO DE UMA FORÇA IMPULSIVA 153
movimento é então determinado pela soma de todos os impulsos de acordo com as equações
acima.
Exemplos
1. Impulso Aplicado em uma Barra Livre
Como ilustração da teoria descrita acima, consideremos uma barra que está livre para
~ˆ o impulso aplicado à barra à distância
deslizar sobre uma superfı́cie lisa horizontal. Seja P
b do seu centro de massa em uma direção perpendicular ao comprimento da barra, como
mostra a Figura 5.12.
b
P
cm
2a
~ˆ
P
~vcm = (5.87)
m
P̂ b
ω = (5.88)
Icm
3b
ω = P̂ (5.89)
ma2
e portanto, a velocidade adquirida pelo centro de massa é a mesma qualquer que seja o ponto
de aplicação do impulso enquanto que a velocidade angular adquirida pela barra depende do
ponto de aplicação do impulso. Vimos também que a energia cinética final da barra é
!2
1 2 1 P̂ 2 3P̂ 2 b
T = mvcm + Icm ω 2 = +
2 2 2m 2m a
Vamos considerar o caso em que a mesma barra do exemplo 1 esteja obrigada a girar em
torno de um eixo fixo. Suponhamos que o eixo O esteja localizado em um dos seus extremos
como mostra a Figura 5.13. Neste caso, temos a seguinte equação rotacional
L = P̂ (a + b) = Io ω (5.90)
vcm = aω
ou
3(a + b)
vcm = P̂ (5.92)
4ma
Notamos que é diferente de P̂ /m. A primeira vista este resultado parece contradizer a
equação geral para translação, Equação (5.79). Na verdade não há contradição porque
existe um outro impulso que age sobre a barra simultaneamente, como já foi mencionado.
Este é o impulso de reação exercido sobre a barra pelo eixo no ponto O. Vamos denotá-lo
~ˆ o . A velocidade adquirida pelo centro de massa é
por P
~ˆ + P
P ~ˆ o
~vcm = (5.93)
m
O
Po
a+b
cm 2a
Figura 5.13: Impulso aplicado a uma barra que é obrigada a girar em torno de uma de suas
~ˆ o .
extremidades. O impulso de reação no eixo é P
5.10. COLISÕES DE CORPOS RÍGIDOS 155
Exemplo
Colisão entre uma Bola e uma Barra
Considere, por exemplo, o impacto de uma bola de massa m0 com uma barra uniforme
de comprimento 2a e massa m. Vamos supor que a barra esteja inicialmente em repouso em
uma superfı́cie lisa horizontal, como nos casos anteriores, e que o ponto de impacto seja à
distância b do centro de massa como mostra a Figura 5.14.
111
000
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111
cm 000
111
000
111
000
111
000
111 2a
000
111
000
111
000
111
000
111
b 000
111
000
111
1111
0000 000
111
0000
1111 V0 000
111
000
111
0000
1111
0000
1111 000
111
000
111
000
111
000
111
~ˆ = m~vcm
P (5.95)
~ˆ = m0 (~v1 − ~v0 )
−P (5.96)
onde ~vcm é a velocidade do centro de massa da barra após o impacto, ~v0 é a velocidade
da bola antes do impacto e ~v1 é a velocidade final da bola. O conjunto das duas equações
~ˆ das
relativas à translação implicam na conservação do momentum linear pois, eliminando P
duas temos
m0~v0 = m0~v1 + m~vcm (5.97)
1 0 2 1 0 2 1 2 1
m v0 = m v1 + mvcm + Icm ω 2 + Q (5.99)
2 2 2 2
em que Q é a perda de energia devida à colisão. Alternativamente, podemos usar a equação
do coeficiente de restituição
velocidade de afastamento
=
velocidade de aproximação
velocidade de aproximação = v0
Portanto
v0 = vcm + bω − v0
PROBLEMAS 157
Temos agora equações em número suficiente para resolver o problema. Fazendo Icm =
2
ma /3 obtemos
!−1
m 3b2
vcm = v0 ( + 1) + +1
m0 a2
m
v1 = v0 − 0 vcm (5.100)
m!
3b
ω = vcm 2
a
O leitor deve verificar estes resultados.
Exercı́cios de Treinamento
5.1 Ache o centro de massa de:
a) Um fio fino e uniforme dobrado na forma de um U em que cada seção de reta tem
o mesmo comprimento a.
b) A área limitada pela parábola y = ax2 e a reta y = b.
c) O volume limitado pelo parabolóide de revolução z = a(x2 + y 2 ) e o plano z = b.
d) Um cone reto circular uniforme de altura h.
5.2 Uma esfera sólida uniforme de raio a contém uma cavidade esférica de raio b centrada
a uma distância c do centro da esfera, em que a > (b + c). Ache o seu centro de massa.
5.3 Ache os momentos de inércia de cada uma das figuras do exercı́cio 5.1, em relação a
seus eixos de simetria.
5.4 Ache o momento de inércia da esfera do exercı́cio 5.2 em relação ao eixo que passa
pelos centros da esfera e da cavidade.
5.5 Mostre que o momento de inércia de um octante sólido uniforme de uma esfera de raio
a é 2ma2 /5, em relação a um eixo que passa por uma de suas arestas (Nota: esta é a
mesma expressão para o momento de inércia relativo ao centro de uma esfera sólida
de mesmo raio).
Problemas
5.6 Um arame de forma semi-circular pende apoiado em um prego. A linha que une seus
extremos faz um ângulo θ com a horizontal e o arame está a ponto de escorregar. Qual
é o coeficiente de atrito entre o arame e o prego?
5.7 Um hemisfério sólido uniforme apoia-se em uma parede vertical e está prestes a es-
corregar. O lado redondo do hemisfério está em contato com a parede e o chão. Se o
coeficiente de atrito µ é o mesmo para a parede e o chão, encontre o ângulo entre a
face plana do hemisfério e o chão.
158 CAPÍTULO 5. MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS
5.8 Uma casca hemisférica uniforme apoia-se sobre um plano inclinado de ângulo θ e está
prestes a perder o equilı́brio. O lado redondo da casca está em contato com o plano e
o coeficiente de atrito é µ. Encontre a inclinação da casca.
5.9 Sabe-se que um conjunto de forças ~F1 , ~F2 , . . . age em certo corpo rı́gido de modo que
ele está (a) em equilı́brio translacional e (b) em equilı́brio rotacional em relação a certo
ponto O. Prove que esse conjunto de forças está também em equilı́brio rotacional em
relação a qualquer outro ponto O0 .
5.11 Um aro circular de raio a oscila como pêndulo fı́sico em torno de um ponto na sua
circunferência. Ache o perı́odo de oscilação se o eixo de rotação é (a) normal ao plano
do aro; (b) paralelo ao plano do aro.
5.12 Mostre que o perı́odo de um pêndulo fı́sico é igual a 2π(d/g)1/2 em que d é a distância
entre o ponto de suspensão O e o centro de oscilação O0 .
5.13 Uma bola sólida uniforme está enrolada por algumas voltas de corda leve. Se a ex-
tremidade da corda é mantida fixa e a bola cai sob a ação da gravidade, qual é a
aceleração do centro da bola?
5.15 Uma bola sólida uniforme contém uma cavidade oca esférica no seu centro, cujo raio é
a metade do da bola. Mostre que a aceleração da bola ao rolar por um plano inclinado
áspero é 98/101 da aceleração da bola sem cavidade (Nota: isto sugere um método
para teste não destrutivo).
5.16 Dois pesos de massas m1 e m2 estão amarrados aos extremos de um fio leve e inex-
tensı́vel. O fio passa em uma roldana de raio a e momento de inércia I. Encontre a
aceleração dos pesos (considere m1 > m2 ) desprezando o atrito no eixo da roldana.
5.18 Uma escada está encostada em uma parede vertical lisa. Se o chão também é liso e o
ângulo inicial entre a escada e ele é θ0 , mostre que a escada ao cair deslizando perde
contato com a parede quando o ângulo entre o chão e a escada é arc sen(2/3 sen θ0 ).
PROBLEMAS 159
5.19 Uma barra comprida e uniforme de comprimento l está parada na vertical, sobre um
assoalho áspero. A barra é ligeiramente perturbada e cai ao chão. (a) Encontre as
componentes vertical e horizontal da reação do piso como função do ângulo θ entre a
barra e a vertical em um instante qualquer. (b) Encontre também o ângulo para o
qual a barra começa a escorregar. O coeficiente de atrito entre a barra e o chão é µ.
5.20 Uma bola de bilhar de raio a está inicialmente girando em torno de um eixo horizontal
com velocidade angular ω0 e com velocidade inicial de translação nula. Se o coeficiente
de atrito entre a bola e a mesa é µ, ache a distância percorrida pela bola até desaparecer
o seu deslizamento.
5.21 Uma bola é jogada com velocidade v0 para subir um plano inclinado áspero com
inclinação θ e coeficiente de atrito µ. Encontre a posição da bola como função do
tempo e determine a posição da bola quando passar a ocorrer rolamento puro (sem
deslizamento). Considere que µ é maior que (2/7) tan θ.
5.22 (a) Um aro circular uniforme repousa sobre uma superfı́cie horizontal livre. Se ele
é golpeado tangencialmente em um ponto da periferia, em torno de qual ponto ele
começa a girar? (b) Ache a altura em que uma bola de bilhar deve ser golpeada para
que role sem deslizar.
5.23 Mostre que o centro de oscilação de um pêndulo fı́sico é tambem o centro de percussão
para um impulso aplicado no eixo de rotação.
5.25 Duas barras uniformes AB e BC de massas iguais (m) e mesmos comprimentos (l)
estão levemente ligadas no ponto B. O sistema está inicialmente em repouso sobre
ˆ é
uma superfı́cie lisa horizontal, os pontos A, B e C estão alinhados. Se um impulso ~p
aplicado em A, em ângulo reto com as barras, encontre o movimento inicial do sistema.
(Sugestão: isole as barras).
5.26 Resolva o problema acima para o caso em que as barras estejam em ângulo reto entre
si.
5.13 5g/7
5.17 Quando a linha dos centros faz um ângulo cos−1 (4/7) com a vertical