Perspectivas Para o Ensino de LÃ_nguas_vol. 8
Perspectivas Para o Ensino de LÃ_nguas_vol. 8
Perspectivas Para o Ensino de LÃ_nguas_vol. 8
Alexandre Melo de Sousa, Rosane Garcia e Tatiane Castro dos Santos (org.)
ISBN 978-65-88975-89-3 • Feito Depósito Legal
Copyright© Edufac 2024
Editora da Universidade Federal do Acre (Edufac)
Rod. BR 364, Km 04 • Distrito Industrial
69920-900 • Rio Branco • Acre // edufac@ufac.br
Editora Afiliada
Diretor da Edufac
Gilberto Mendes da Silveira Lobo
Coordenadora Geral da Edufac
Ângela Maria Poças
Conselho Editorial (Consedufac)
Adcleides Araújo da Silva, Adelice dos Santos Souza, André Ricardo Maia da Costa de Faro, Ângela
Maria dos Santos Rufino, Ângela Maria Poças (vice-presidente), Alexsandra Pinheiro Cavalcante
Costa, Carlos Eduardo Garção de Carvalho, Claudia Vanessa Bergamini, Délcio Dias Marques,
Francisco Aquinei Timóteo Queirós, Francisco Naildo Cardoso Leitão, Gilberto Mendes da Silveira Lobo
(presidente), Jáder Vanderlei Muniz de Souza, José Roberto de Lima Murad, Maria Cristina de Souza,
Sheila Maria Palza Silva, Valtemir Evangelista de Souza, Vinícius Silva Lemos
Coordenadora Comercial • Serviços de Editoração
Ormifran Pessoa Cavalcante
Diagramação e Design Editorial
Rosane Garcia
Revisão
Alexandre Melo de Sousa
Rosane Garcia
Tatiane Castro dos Santos
Capa
Glauco Capper
As informações, opiniões e conceitos expressos nos conteúdos desta obra, bem como a exatidão dos
dados, referências, redação e revisão textual são de inteira responsabilidade do(as) autor(e/as).
Perspectivas para o ensino de línguas, volume 8
Alexandre Melo de Sousa, Rosane Garcia e Tatiane Castro dos Santos (org.)
Realização e Apoios
Edufac 2020
Direitos exclusivos para esta edição:
Editora da Universidade Federal do Acre (Edufac),
Campus Rio Branco, BR 364, km 4,
Distrito Industrial — Rio Branco-AC, CEP 69920-900
68. 3901 2568 — e-mail edufac.ufac@gmail.com
Editora Afiliada: Feito Depósito Legal
Organizadores
2024
SUMÁRIO
Apresentação........................................................................................................... 07
Os organizadores..................................................................................................... 224
Os autores................................................................................................................ 227
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8
APRESENTAÇÃO
É preciso que desde o começo do processo vá ficando cada vez mais claro que,
embora diferentes entre si, quem forma, se forma e re-forma e quem é formado
forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transmitir
conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá
forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem
discência, as duas se explicam e seus sujeitos […] não se reduzem à condição de
objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender.
Boa leitura!
Os organizadores
2FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
CAPÍTULO 1
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 10
Sobre docência, Grillo (2004) afirma que ela envolve o professor por completo e
que sua prática é a somatória dos diferentes saberes adquiridos, do fazer e,
principalmente, do ser. A docência constitui um compromisso do professor consigo
mesmo, com o aluno, com a aprendizagem, com o conhecimento e com a sociedade,
pontos esses que se inter-relacionam e se constituem no “ser” e no “fazer-se” docente.
Nessa construção, o Estágio Supervisionado, enquanto componente curricular
obrigatório nos cursos de formação de professores, se configura como um espaço de
aprendizagem da profissão docente e de construção da identidade profissional,
estabelecida entre o ambiente acadêmico e a escola-campo, entre a teoria e a prática.
Buriolla (1999, p. 13) afirma que é no estágio supervisionado que “a identidade
profissional do aluno é gerada, construída e referida.” E a construção dessa identidade
se dá a partir da reflexão da prática e das relações e trocas de conhecimento e
experiências envolvendo os alunos estagiários, o professor-supervisor de estágio, o
preceptor e os profissionais técnicos das escolas-campo, os alunos e, em muitos
casos, os familiares dos alunos.
Neste Capítulo, teceremos considerações sobre o Estágio Supervisionado do
Curso de Licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Acre (Ufac), na
perspectiva de três professores surdos, que são supervisores de estágio, com foco no
trabalho com o Português Escrito como Segunda Língua para Surdos. Inicialmente,
trataremos das características do Curso de Letras Libras da Ufac e do estágio
supervisionado descrito no Projeto Pedagógico do Curso (PPC). Em seguida,
apresentaremos a metodologia utilizada e, por fim, apresentaremos reflexões sobre
os posicionamentos dos docentes surdos sobre suas experiências no componente
curricular Estágio Supervisionado.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 11
1
Originalmente, o curso foi denominado Licenciatura em Letras Libras/Língua Portuguesa como
Segunda Língua, contudo, após a primeira visita da equipe de avaliadores do MEC, em 2017, o curso
passou a ser denominado Licenciatura em Letras Libras.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 12
Para que isso ocorra, o PPC (Ufac, 2013) distribui o Estágio Supervisionado em
quatro etapas, assim descritas: Estágio Supervisionado I, que é oferecido no 5º
período do curso e que deve ser desenvolvido a partir da observação e da regência
no 6º e 7º anos do Ensino Fundamental (carga-horária de 90 horas); Estágio
Supervisionado II, que é oferecido no 6º período do curso e que deve ser desenvolvido
a partir da observação e da regência no 8º e 9º anos do Ensino Fundamental (carga-
horária de 90 horas); Estágio Supervisionado III, que é oferecido no 7º período do
curso e que deve ser desenvolvido a partir da observação e da regência no 1º e 2º
anos do Ensino Médio (carga-horária de 90 horas); e o Estágio Supervisionado IV,
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 13
A CONVERSA:
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E O PORTUGUÊS ESCRITO COMO L2 PARA
SURDOS
PS2: Neste semestre, eu fiquei com Estágio I e percebi que o plano era muito
pesado... o que constava na ementa. Então, me baseei que tinha quatro estágios
no curso e, então, fui distribuindo os conteúdos para os outros níveis, deixando o
estágio mais leve para o aluno ir se acostumando e ir se preparando para os outros
níveis. Produzindo os materiais para ir se adaptando. Dessa vez, eu pude fazer o
Estágio com minha percepção e meu jeito de entender a prática. Das outras vezes,
eu sentia barreira de emitir minha opinião eu não era protagonista.
PS2: Embora eu tenha conseguido nove escolas com surdos, os alunos escolheram
escolas próximas de suas casas sem surdos. Foi um trabalho muito difícil de
encontrar essas escolas. Cada escola tinha um ou dois alunos. Mesmo assim, os
graduandos entenderam que essas escolas eram distantes de suas casas. Isso é
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 17
difícil! Não posso obrigar! Mas eu penso: como eles vão ter experiência com
estudantes surdos da Educação Básica?
PS1: Eu sei que está na ementa, mas como dito, o tempo é pouco para muita coisa:
Libras como L1, L2 e ainda o Português. Não dá. Então, eu entro em acordo com a
turma e explico que é muito amplo e complexo o trabalho com o Português. Não
daria para trabalhar textos, gramática, palavras... Não dá mesmo. Ficaria sempre
superficial e não daria para aprofundar. Então, eu foco no ensino de Libras e na
adaptação de materiais.
PS3: Talvez uma saída seria destinar um dos estágios só para a questão do
Português Escrito para Surdos, como trabalhar o Português Escrito, adaptar
materiais, pensar nos diferentes níveis dos Surdos.
PS1: Sim. Inclusive tem agora a Proposta Curricular para o Ensino do Português
Escrito. Verificar como fazer a seleção dos conteúdos...
PS2: Ver o que realmente é importante para os Surdos. Que o ensino seja realmente
para o que se usa. Respeitar a visualidade dos Surdos.
do Português Escrito para Surdos, tanto no que se refere à leitura, quanto no que se
refere à escrita.
Questionados sobre as dificuldades encontradas para supervisionar os Estágios
Supervisionados, PS1 respondeu o seguinte:
CONSIDERAÇÕES “FINAIS”
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Dispõe sobre o estágio de estudantes. Diário
Oficial da União, Brasília, 26 set. 2008. Seção 1, p. 3.
CRESWELL, John W. Projeto de Pesquisa: método qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
KULCSAR, Rosa. O Estágio Supervisionado como atividade integradora. In: FAZENDA, Ivani
Catarina Arantes A. et al. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirua,
1991, p. 63-74.
GARCIA, Rosane; SOUSA, Alexandre Melo; SANTOS, Tatiane Castro. Contexto de aprendizagem da
Libras e do Português como L2: indicadores educacionais de alunos surdos de Rio Branco, Ac. In:
SOUSA, Alexandre Melo; GARCIA, Rosane; SANTOS, Tatiane Castro (Orgs). Perspectivas para o
ensino de línguas 4: Educação de Surdos, Libras e Inclusão. Rio Branco: Edufac, 2021, p. 13-28.
GRILLO, Maria Helena Marotti Martelletti. The impact of a vocal improvement course in a speech
language and hearing science prevention context. Pró-Fono Revista de Atualização Científica,
Barueri, v. 16, n. 2, p. 159-168, maio/ago. 2004.
UFAC. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Letras Libras. Rio Branco: Universidade
Federal do Acre, 2013.
SANTOS-JUNIOR, João Renato. “O que essa surda veio fazer aqui?” Trajetórias, desafios e
perspectivas na formação de professores Surdos/as em Rio Branco/AC. 2022. 107 f. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal do Acre – Programa de Pós-Graduação em Educação. Rio
Branco, 2022.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Perspectivas para a reflexão em torno do projeto político-
pedagógico. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Escola: espaço do projeto político-
pedagógico. Campinas: Papirus, 2013, p. 9-32.
WARSCHAUER, Cecília. A roda e o registro: uma parceria entre professor, alunos e conhecimento.
São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 21
CAPÍTULO 2
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 22
MICROAULAS ON-LINE:
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
Fonte: Relatório final de estágio dos acadêmicos estagiários do Curso de Letras (adaptada).
2No relatório final de estágio, além do relato da experiência, os estagiários deveriam anexar a SD
completa, com os planos de aula e as atividades planejadas.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 29
• Uma das principais temáticas do texto que nós vamos ler é a fome. Por que vocês acham que o
autor escolheu esse tema?
• Em qual ano vocês acham que o texto foi publicado?
• Onde vocês acham que esse texto foi publicado?
• Dado o título, que texto vocês acham que vamos ler?
• Ainda sobre as informações do título, você acha que esse texto vai responder às mesmas
perguntas que uma notícia (quem, o que, quando, onde, como e por que)?
Nesse sentido, a atividade pré-textual foi utilizada como motivação para a leitura,
conforme prerrogativas da BNCC (2017); para a distinção entre os gêneros textuais
“crônica” e “notícia”, explorada a partir do título da crônica; e a introdução à reflexão
sobre a temática social da fome, ainda bastante atual na contemporaneidade, apesar
da data original de publicação da crônica em 1972.
O levantamento de hipóteses (confirmadas ou refutadas na leitura), recorrendo
à observação de estratégias para acionar conhecimentos prévios dos alunos da
escola, busca trazer a experiência de mundo para o texto lido, “fazendo com que
[posteriormente] as palavras tenham um significado que vai além do que está sendo
falado/escrito, por passarem a fazer parte, também, da experiência do leitor” (Santos;
Riche; Teixeira, 2015, p. 36).
Depois dessa atividade, foi realizada a leitura da crônica no suporte original,
explorado na apresentação da situação – “Portal da Crônica Brasileira”4, permitindo
que os alunos localizassem alguns pontos discutidos no momento de pré-leitura, tais
como a fonte do texto e o ano da publicação. Considerando o ensino remoto, na
simulação de aula, os estagiários solicitaram que alguns dos supostos alunos da
escola ligassem o microfone e conduzissem a leitura da crônica voluntariamente. Após
esse momento, a análise foi realizada oralmente por meio das perguntas elencadas
na Figura 3 (“Leitura”).
Na análise, o estagiário chamou a atenção para palavras assinaladas,
juntamente com os alunos, de forma a levá-los a refletir sobre o uso de marcadores
temporais e espaciais.
É evidenciado, por exemplo, que, proporcionalmente, os marcadores de tempo
aparecem na crônica em número menor que os marcadores de espaço, de acordo
com excertos presentes na Figura 3:
• Por que vocês acham que essas informações da narrativa são mínimas? Usar apenas essas
palavras compromete de alguma forma a narrativa? Por quê?
• E por que as informações sobre o espaço aparecem em número bem maior que as do tempo?
tempo da narrativa, pois, a depender de como ela se constrói e das intenções do autor,
essas informações podem ser minimizadas sem prejuízo para o sentido do texto.
Sobre os marcadores de espaço, é questionada a existência ou não de alguns
empiricamente, como observado no excerto retirado da Figura 3:
• Vamos reler o quinto parágrafo? Quais os verbos estão presentes nele? Em qual tempo verbal
eles se encontram? Qual é a diferença de sentido ao dizer “um homem morreu de fome” para
“um homem morre de fome? Por que vocês acham que o narrador trocou o tempo dos verbos?
• O que acontece quando o autor muda o tempo verbal na metade da narrativa?
• Se disséssemos que o autor desta crônica, além de cronista, foi jornalista, a expectativa da leitura
de vocês mudaria de alguma forma? Por quê?
• O que leva uma pessoa à condição extrema de ter que morar na rua?
• A fome ainda é uma realidade na nossa atual sociedade? Por que vocês acham que a fome ainda
existe?
• Vocês já viram pessoas em situação de rua no nosso bairro/no bairro da escola? Vocês acham
que a escola, enquanto comunidade, poderia fazer algo em relação a essas pessoas?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Cleovia Almeida; BRUN, Edna Pagliari. Estágio obrigatório de línguas e literatura: uma
proposta inovadora com práticas de ensino mais significativas. In: BRUN, Edna Pagliari; MIRANDA,
Ana Karla Pereira. (Org.). Letras em foco: ensino, pesquisa, extensão e formação de professores.
Campo Grande: Edufms, 2021.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: jun./2023.
BRASIL. Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Estágio de estudantes. Brasília: Casa Civil,
2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm.
Acesso em: mai./2023.
BRASIL. Portaria nº 544, de 16 de junho de 2020 – Substituição das aulas presenciais por aulas em
meios digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus - Covid-19. Disponível
em: https://site.cfp.org.br/wpcontent/uploads/2020/07/Portaria-544-de-16-de-junho-de-2020.pdf.
Acesso em: ago./2023.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental - língua
portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf. Acesso em: mai./2023.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de linguagem, textos e discursos. São Paulo: Educ, 2003.
BRUN, Edna Pagliari; NASCIMENTO, Juçara Zanoni do. Microaulas on-line no estágio obrigatório. In:
Anais do 20º Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância e o 9º Congresso
Internacional de Educação Superior a Distância, Campo Grande, Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, no prelo.
CRISTOVÃO, Vera. Lúcia Lopes. Uma expansão do conceito de capacidades de linguagem. In:
BUENO, Luzia; LOPES, Maria Angela Paulino Teixeira; CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes. (Org.).
Gêneros textuais e formação inicial. Campinas: Mercado de Letras, 2013. p. 357-383.
DOLZ, Joaquim. As atividades e os exercícios de língua: uma reflexão sobre a engenharia didática.
DELTA: Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, 32(1). Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/delta/article/view/26773. Acesso em: abr./2023.
DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para o oral e a
escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim e
Colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
DREY, Rafaela Fetzner. O ensino de língua inglesa na prática: micropráticas de ensino como
estratégia de formação inicial de professores de língua estrangeira. Textos FCC, São Paulo, v. 57,
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 34
HILA, Cláudia Valéria Doná. O microensino como instrumento de formação de professor de língua
portuguesa. Acta Scientiarum: Human and Social Sciences, Maringá, v. 31, n. 1, 2009, p. 33-41.
https://www.redalyc.org/pdf/3073/307325328005.pdf. Acesso em: mai./2023.
NASCIMENTO, Elvira Lopes. A dupla semiotização dos objetos de ensino -aprendizagem: dos gestos
didáticos fundadores aos gestos didáticos específicos. Signum: Estudos da Linguagem, Londrina, v.
14, n. 1, p. 421–445, 2011. Disponível em:
https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/signum/article/view/8643. Acesso em: set./2023.
PEREIRA, Luciene Paula Machado. Entre movimentos teóricos e práticos: o percurso de uma
formação docente inicial práxica. 2022. 337p. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2022. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000236720. Acesso em: jan./2023.
PONTARA, Claudia Lopes; CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes. Sequência de formação para
professores de língua inglesa: estabelecendo relações com os saberes e as capacidades docentes.
Signum: Estudos da Linguagem, Londrina, v. 21, n. 2, p. 172-198, ago./2018. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/signum/article/view/33560/24457. Acesso em: jan./2022.
SANTOS, Leonor Werneck; RICHE, Rosa Cuba; TEIXEIRA, Claudia Souza. Análise e produção de
textos. São Paulo: Contexto, 2015.
CAPÍTULO 3
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 36
AS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA
PSICOGÊNESE PARA A
APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESCRITA
Érica Raiane de Santana Galvão
Jânio Nunes dos Santos
levam o estudante a ser um espectador passivo, sem nunca encontrar respostas aos
“porquês” e os “para quês”. Desse modo, compreende-se que nenhuma prática
pedagógica é neutra. Todas estão ancoradas em certos modos de conceber o processo
de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem (Ferreiro, 1993).
Dentre os bens culturais, encontram-se a leitura e a escrita como saberes
constitutivos das sociedades letradas, essas, por sua vez, devem propiciar aos
indivíduos ou grupos sociais o acesso e a participação efetiva na cultura escrita. A
apropriação e utilização desses saberes é condição necessária para a mudança, do
ponto de vista tanto do indivíduo quanto do grupo social, de seu estado ou condição nos
aspectos cultural, social, político, linguístico e psíquico. Contudo, os significados, usos e
funções desses saberes, assim como as formas de sua distribuição, variam no tempo e
dependem do grau de desenvolvimento da sociedade (Mortatti, 2004).
Leitura e escrita são processos distintos que envolvem diferentes habilidades e
conhecimentos, bem como diferentes processos de ensino e aprendizagem, e podem
ser compreendidos em uma dimensão individual e em uma dimensão social. Tratando
de um grande conjunto de habilidades e conhecimentos linguísticos e psicológicos,
variados e radicalmente diferentes entre si, com formas de uso diferenciadas em relação
a uma diversidade de materiais escritos. Estes distintos conjuntos de habilidades e
conhecimentos se estendem em um continuum, encontrando-se infinitos estágios
intermediários que podem indicar múltiplos tipos e níveis de habilidades e
conhecimentos, utilizados para ler e escrever uma multiplicidade de tipos de material
escrito, com múltiplos objetivos e funções, assim como também múltiplos contextos e
situações (Mortatti, 2004).
Este capítulo tem como objetivo analisar a aprendizagem da Língua Escrita a partir
das contribuições dos estudos sobre a psicogênese. No que concerne aos objetivos
específicos propôs-se: a) Demonstrar como a teoria da psicogênese pode contribuir no
processo de aprendizagem da língua escrita; b) Analisar atividades que colaboram no
processo de apropriação do sistema de escrita.
Este texto organiza-se em três seções. A primeira aborda os estudos sobre a
psicogênese da língua escrita. A segunda apresenta o percurso metodológico. A terceira
analisa uma experiência didática referente a apropriação do sistema de escrita. Por fim,
são apresentadas as considerações finais.
No Brasil e na América Latina, nos anos 80, houve um crescente interesse pelo
tema da alfabetização inicial. A constituição e o aprofundamento dos debates sobre este
tema refletiram em muitos seminários, mesas-redondas, artigos e textos publicados
durante este período. Os estudos de Emilia Ferreiro difundiram-se rapidamente neste
contexto e dirigiram grande parte da reflexão teórica e da discussão sobre alfabetização,
não só entre pesquisadores, mas também entre muitas professoras (Azenha, 1993).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 38
[...] não é a prescrição de novos métodos para o ensino da leitura e da escrita. Muito
menos a proposta de novas formas de classificar dificuldades do aprendizado. Ao
estudar a gênese psicológica da compreensão da língua escrita na criança, Ferreiro
desvenda “a caixa preta” desta aprendizagem, demonstrando como são os processos
existentes nos sujeitos desta aquisição. Isso porque, até que uma proposta empírica
desta natureza fosse feita, o tema da aprendizagem da escrita era considerado apenas
uma técnica dependente dos métodos de ensino (Azenha, 1993, p. 35-36).
propriedades básicas do sistema alfabético de escrita (Morais, 2012; Leal; Morais, 2013),
precisam perceber que:
1. Escreve-se com letras que não podem ser inventadas, que têm um repertório finito
e que são diferentes de números e outros símbolos;
2. As letras têm formatos fixos e pequenas variações produzem mudanças na
identidade das mesmas (p, q, b, d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p,
P, p);
3. A ordem das letras no interior da palavra não pode ser mudada;
4. Uma letra pode se repetir no interior da palavra e em diferentes palavras, ao mesmo
tempo em que distintas palavras compartilham as mesmas letras;
5. Nem todas as letras podem vir juntas de outras e nem todas podem ocupar certas
posições no interior das palavras;
6. As letras notam a pauta sonora e não as características físicas ou funcionais dos
referentes que substituem;
7. As letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais pronunciadas;
8. As letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro
e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra;
9. Além de letras, na escrita de palavras usam-se, também, algumas marcas (acentos)
que podem modificar a tonicidade ou som das letras ou sílabas;
10. As sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes e vogais (CV,
CCV, CVV, CVC, V, VC, VCC, CCVCC...), mas a estrutura predominante no português
é a sílaba CV (consoante-vogal), e todas as sílabas do português contêm, ao menos,
uma vogal (Morais, 2012, p. 51).
letras”. Desse modo, é necessário que os estudantes reflitam sobre o interior das sílabas
orais, buscando notar os pequenos sons que as palavras formam, em lugar de colocar
uma única letra para cada sílaba (Morais, 2012). Já na fase alfabética, os estudantes
atingem a fase final do processo de apropriação da escrita alfabética. Eles colocam, na
maioria das vezes, uma letra para cada fonema que se pronuncia. Mas é comum
cometerem muitos erros ortográficos (Morais, 2012).
Além da compreensão desses estágios/fases de escritas, os estudos da
psicogênese mostram que a imersão dos estudantes no mundo da cultura escrita
começa fora da instituição escolar, bem antes do ano da alfabetização, e que deve ser
conduzida na escola e pela escola desde a educação infantil. Não há, portanto, prontidão
para a alfabetização. Todos têm direito a se alfabetizar e, por isso, deve-se partir do nível
de cada estudante (Morais, 2012).
Tendo por base o conhecimento dos percursos cognitivos e suas dinâmicas na
reestruturação mental, Ferreiro (1993) defende uma mudança de foco nas práticas de
ensino. Em vez de considerar as hipóteses dos estudantes como reflexo de imaturidade,
é preciso contemplar a natureza inteligente e dinâmica das concepções dos estudantes,
compreendendo que elas (as concepções) fazem parte do processo de construção do
conhecimento.
Diante da diversidade das experiências vividas pelos estudantes e da complexidade
dos processos de aprendizagem, enfrenta-se o desafio de ajustar o ensino aos
processos de aquisição do saber dos sujeitos, pois requer que o estudante seja colocado
no centro do processo de aprendizagem – o que, na prática, solicita uma considerável
reconfiguração dos papéis tipicamente assumidos na escola. Desse modo, cabe aos
professores a tarefa de criar oportunidades para que os estudantes possam refletir sobre
a língua, tendo boas razões para substituir suas hipóteses originais por outras mais
elaboradas (Colello, 2021).
Destaca-se que a alfabetização se coloca além de um conteúdo a ser ensinado, é
progressivo e infindável acesso a um universo de conhecimentos cujas relações e
interdependências pressupõem uma profusão de frentes cognitivas, impactando assim o
indivíduo nas dimensões política e social. Desse modo, a alfabetização não se limita a
um estoque de saberes e de habilidades, mas configura-se como forma de ser e estar
no mundo (Colello, 2021). Nessa perspectiva, no lugar de um estudante que recebe aos
poucos uma linguagem inteiramente fabricada por outros, surge um estudante que
reconstrói por si mesmo a linguagem, tomando seletivamente a informação que lhe provê
o meio (Ferreiro; Teberosky, 1999), utilizando seus conhecimentos em seus cotidianos.
CAMINHOS METODOLÓGICOS
No início do ano foi feito o diagnóstico com a turma objetivando conhecer a hipótese
da escrita em que os estudantes se encontravam. A partir disso, foram realizadas
atividades para proporcionar o avanço na apropriação do SEA. Ao final do ano letivo,
identificou-se, por meio de um outro diagnóstico, que os estudantes avançaram em seus
conhecimentos no que se refere à leitura e à escrita.
Neste capítulo, focou-se nas atividades realizadas com uma das estudantes
(ficticiamente nomeada de Laura) que demonstrou um avanço na aquisição da língua
escrita. Assim, este capítulo, está centrado nas experiências de mobilização dos
saberes-docentes com a referida estudante. As aplicações das atividades foram
realizadas no período de abril a novembro de 2022.
A pesquisa desenvolvida tem uma abordagem qualitativa com um viés de pesquisa-
ação. Para Minayo (2001), o trabalho com a pesquisa qualitativa envolve o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem
ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Já a pesquisa-ação pressupõe uma participação planejada do pesquisador na
situação problemática a ser investigada. O processo de pesquisa recorre a uma
metodologia sistemática, no sentido de transformar as realidades observadas, a partir da
sua compreensão, conhecimento e compromisso para a ação dos elementos envolvidos
na pesquisa. O investigador abandona o papel de observador em proveito de uma atitude
participativa e de uma relação sujeito a sujeito. Nesse processo, o pesquisador ao
participar da ação traz consigo uma série de conhecimentos que serão o substrato para
a realização da sua análise reflexiva sobre a realidade e os elementos que a integram.
A reflexão sobre a prática implica em modificações no conhecimento do pesquisador
(Fonseca, 2002).
Acredita-se ser fundamental utilizar os princípios pedagógicos da pesquisa-ação
objetivando produzir nos participantes as condições de compreender essa prática na
totalidade de seus condicionantes, a fim de que, no coletivo, ocorram transformações
nos contextos e condições que a constituem. Desse modo, observa-se que a prática só
pode ser compreendida na perspectiva da totalidade e da construção compartilhada de
saberes que se organizam em seu processo. As teorias só se transformam em
conhecimento pedagógico quando se tornam expressão dos sentidos esclarecidos no
exercício da práxis. Sendo essa uma possibilidade aberta com os trabalhos com
pesquisa-ação (Franco, 2012).
Este tipo de pesquisa pode ser uma alternativa metodológica, e mesmo uma prática
pedagógica, para construir conhecimentos sobre a prática docente de forma fidedigna,
permitindo um esclarecimento das teorias implícitas na prática (Franco, 2012).
diagnóstica com Laura, e lhe foi solicitado que escrevesse as palavras (mala, bola,
panela, lua, pipoca, sapato, entre outras) ditadas. Este ditado foi realizado no primeiro
semestre do ano letivo de 2022.
Figura 1 - Ditado
Na atividade (Figura 4), usa-se uma parlenda: “Macaca Sofia”, que demonstra
repetições durante toda a construção do texto, o que revela o trabalho com o som final
das palavras. Observa-se a abordagem de algumas estratégias para a compreensão da
consciência de palavras, como: a contagem da quantidade de palavras na parlenda; a
reorganização de palavras embaralhadas para a construção de uma parte da parlenda;
reconhecimento de palavras compostas com até seis letras; e a elaboração de um
acróstico. Esta atividade enfatiza o reconhecimento e compreensão global da palavra,
além do entendimento de que ela é formada por unidades menores (letras) que formam
sílabas, para então formarem as palavras.
Como um reflexo de suas aprendizagens, Laura começou a fazer produções em
casa. Destaca-se um dos registros (Figura 5) de suas produções:
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 47
Na ocasião, Laura foi solicitada a escrever um texto sobre o tema que desejasse.
Ela escreveu sobre “A importância da escola” e sua produção evidencia que ela se
apropriou do SEA. A teoria da psicogênese mostra que as oportunidades de vivenciar
práticas de leitura e escrita influenciam significativamente o ritmo do processo de
apropriação do SEA e dos conhecimentos sobre a linguagem usada ao escrever. Ao
tratar os sistemas notacionais como objetos de conhecimento que têm propriedades
complexas, a psicogênese (Morais, 2012) traz uma reflexão sobre o saber-fazer docente
e proporciona que o estudante compreenda e se aproprie do SEA.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo: de Piaget a Emilia Ferreiro. São Paulo: Editora Ática, 1993.
COLELLO, Silvia Gasparian. Alfabetização em questão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004 (2a. edição
revista e ampliada).
FRANCO, Maria Amélia do Rosário Santoro. Pedagogia e prática docente. São Paulo: Cortez, 2012.
FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. Trad. Horácio Gonzales et al. 22. ed. São Paulo:
Cortez, 1993.
FERREIRO, Emilia. Relações de (in)dependência entre oralidade e escrita. Trad. Ernani Rosa. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Trad. Diana Lichtenstein, Liana
Di Marco, Mário Corso. Porto Alegre: Artmed, 1999.
GALVÃO, Érica Raiane de Santana; PINHEIRO, Viviane Caline Souza; SANTOS, Adriana Cavalcanti.
Consciência fonológica e aprendizagem da língua escrita: interface teórico-prática. Revista Brasileira de
Alfabetização, Belo Horizonte, v. 1, n. 17, p. 180-192, jan./jun. 2022.
FONSECA, João José Saraiva. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
LEAL, Telma Ferraz et al. Ler com autonomia, escrever sem escriba: a prática pedagógica do professor
alfabetizador. In: A aprendizagem e o ensino da leitura e da escrita. Ano XXIII - Boletim 4 – abril, 2013.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes,
2001.
MORAIS, Artur Gomes. Sistema de escrita alfabética. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2012.
MORAIS, Artur Gomes. Consciência fonológica na educação infantil e no ciclo de alfabetização. Belo
Horizonte: Autêntica, 2020.
MORAIS, Artur Gomes.; LEITE, Tânia Maria. Como promover o desenvolvimento das habilidades de
reflexão fonológica dos alfabetizandos. In: MORAIS, Artur Gomes; ALBUQUERQUE, Eliane Borges; LEAL,
Telma Ferraz (orgs.). Alfabetização: apropriação do sistema de escrita alfabética. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005, p. 71-86.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e letramento. São Paulo: UNESP, 2004.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfabetização: São Paulo, 1876-1994. 2. ed. São
Paulo: UNESP, 2021.
ROJO, Roxane; ALMEIDA, Eduardo de Moura. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editora,
2012.
SOARES, Magda Becker. Alfabetização: a questão dos métodos. 1. ed. 2ª reimpressão. São Paulo:
Contexto, 2018.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 51
CAPÍTULO 4
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 52
REPRESENTAÇÕES EM ORIENTAÇÕES
DE UM MATERIAL DIDÁTICO PARA
PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA
COMO L2 PARA CRIANÇAS SURDAS
Giovane dos Santos Brito
Fernanda Beatriz Caricari de Morais
Esta seção apresenta a análise elaborada com o suporte da LC, que possibilitou a
identificação de representações da Libras e da LP, assim como de outras acerca do
professor, do processo de ensino e aprendizagem e do aluno surdo, presentes em
orientações dispostas no livro didático analisado, direcionado a professores de LP como
L2 para crianças surdas, como evidenciou-se anteriormente.
A fim de colocar à mostra os aspectos analisados com base neste corpus de estudo,
no quadro abaixo, pode-se verificar as palavras de maior frequência encontradas que
embasaram tais representações, inicialmente. Além disso, os processos que compõem
as mesmas, assim como as palavras de maior frequência presentes na lista de palavras
geradas pelo WS e discutidas ao longo desta seção estão destacadas em negrito, como
se vê nas reflexões dispostas nesta parte deste trabalho, no que concerne à temática
tratada.
Professor 91 1.96%
Objetivo 49 1.05%
Procure 45 0.97%
Libras 35 0.75%
Eles 33 0.71%
Desenvolver 30 0.65%
Vocabulário 28 0.60%
Leitura 24 0.52%
Sistematizar 23 0.50
Português 22 0.47%
Fonte: Dados da pesquisa
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 59
Tendo por base seus contextos de ocorrência, notou-se que, ao longo do material,
as representações acerca da Libras oscilavam entre a definição da língua ora como base
para desenvolvimento da aprendizagem no que se refere ao processo educacional, ora
como modo de expressão, comunicação e interação entre os alunos e o professor, no
campo da sala de aula em que o material circula.
Nas linhas das ocorrências 1 e 3 esse fator pode ser facilmente percebido. Se
referindo à Libras, as orientações direcionadas ao docente demonstram essa
representação, colocando à vista uma crença de que, com o uso dela no processo de
ensino e aprendizagem da LP escrita, uma melhor compreensão do conteúdo trabalhado
pelo professor de crianças surdas será efetivada. Tal definição pode ser notada através
dos processos materiais “obter” e “favorecer”, encontrados nas ocorrências colocadas à
vista.
Entretanto, apesar de considerar essa concepção relevante para a educação de
crianças surdas, entende-se que esse fator pode se caracterizar como suporte para o
surgimento de diferentes questionamentos, tendo em mente que, para o processo de
ensino e aprendizagem desse público, o que se preconiza, nesse sentido, é a adoção de
metodologias adequadas para realização dessa ação, como se pode verificar tanto nos
estudos de Quadros (2006) e Pereira (2014), como nos esclarecimentos desenvolvidos
por Fernandes (2006) e Morais e Cruz (2020).
O ensino da língua de forma descontextualizada, sem uso de metodologias
específicas, capazes de atender as especificidades linguísticas dos aprendizes surdos,
trazidas para dentro do espaço educacional, não possui sentido, uma vez que, de forma
estanque, apenas a utilização da língua de sinais não consegue atingir os alunos surdos,
pedagogicamente. Lodi (2011) aponta que o processo de ensino e aprendizagem da
língua escrita - LP - precisa ser pensado e estruturado sob um viés que possibilite um
sentido aos discentes, a fim de que esses possam ter, como motivação, esse fator, para
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 60
assim serem capazes de estabelecer uma relação com a linguagem a ser utilizada nas
suas relações de uso.
Nessa direção, Lacerda, Dos Santos e Caetano (2011) postulam que estratégias
de ensino são importantes e vão ao encontro desses esclarecimentos elencados nesta
análise, a partir dessa primeira representação encontrada no corpus. Na perspectiva das
autoras, a utilização da Libras não pode ser concebida como fator único nesse processo,
mas, diante disso, se faz necessário, também, adotar metodologias de ensino que
possam embasar e auxiliar o conteúdo trabalhado em sala de aula pelo docente, junto
aos alunos.
Assim sendo, por configurar-se como um material didático destinado ao professor,
pensa-se ser necessário a presença de orientações que contemplem esse fundamento.
No entanto, durante a análise das múltiplas orientações, não foi possível detectar
orientações direcionando-se a esse sentido.
Referente à definição da Libras como modo de expressão, comunicação e interação
no contexto da sala de aula, pode-se perceber tal caracterização de forma clara, a partir
da ocorrência 2, levando em conta o uso do processo verbal “discutam”. A partir dele,
coloca-se à vista a adoção de uma abordagem comunicativa para o ensino de línguas
(Abrahão, 2015) pelos autores do material, em seu processo de produção. Sobre isso,
há que se considerar que a língua, de fato, consiste em um canal comunicativo que
possibilita expressar suas experiências desde os níveis mais simples, aos mais abstratos
e complexos.
A esse respeito, é importante evidenciar que a Lei Federal nº 10.436, de 2002, que
reconhece a Libras no território brasileiro, diferentemente de muitas compreensões
acerca dessa política, a define como meio legal que favorece a comunicação e a
expressão das pessoas surdas brasileiras, em seu artigo 1º (Brasil, 2002). As linhas do
seu decreto regulamentador, sendo o decreto nº 5.626/2005, esclarecem, de forma
similar, definições que caminham nessa mesma direção.
Todavia, no que tange à representação da Libras encontrada a partir da análise, o
direcionamento das tarefas para que o docente possa executar com os aprendizes
surdos traz, em sua essência, uma incompreensão da realidade nacional em relação às
múltiplas instâncias educativas e a variedade de alunos que as compõem. Argumenta-
se desse modo, pois, com base na realidade do Brasil, muitos deles partem de contextos
distintos que, muitas vezes, não possuem um conhecimento linguístico significativo,
capaz de embasar as ações comunicativas em contextos de uso da língua.
Nesse percurso, verifica-se que a partir das palavras dispostas na ocorrência 2,
como também na ocorrência 4, a seguir, a proposta dos autores se inclina à intenção de
que o docente forme grupos entre os alunos, para discutir, em Libras, a temática
abordada no livro.
(4) Professor(a), deixe que os alunos discutam o tema proposto em Libras. Para isso,
organize a sala em pequenos grupos.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 61
(5) Professor (a), descreva cada imagem em Libras, juntamente com os alunos, antes
de pedir que eles as liguem às frases. Em seguida, deixe que os alunos realizem a
atividade.
(6) Professor(a), antes desta aula, você pode pedir aos alunos para levar fotos de
suas famílias ou você mesmo(a) pode levar fotos de sua família. Explore em Libras
essas fotos.
(7) Professor(a), nesta atividade auxilie os alunos, conversando em Libras sobre
cada imagem e o tipo de festa a que ela remete.
(8) Professor(a), por meio destes e de outros exemplos apresentados por você,
procure observar com os alunos a diferença na letra final dos nomes, mostrando a
eles essas marcas de gênero do português, sem utilizar metalinguagem
(nomenclatura gramatical, como “feminino”, “masculino”, “gênero”).
(9) Professor(a), deixe que os alunos observem os sinais e as palavras. Ao final, você
pode chamar a atenção para a indicação de gênero nas palavras em português.
A partir desses dados, é possível ver que nos exemplos destacados acima, a LP é
representada como resultado final a ser atingido pelos alunos. Mesmo havendo
orientações para que o professor possa utilizar e promover espaço para que a
sinalização em Libras, a LP é, no material, concebida como a etapa final do processo
que precisa ser alcançada. Percebe-se que, nos esclarecimentos da orientação
exemplificada, esse ponto pode ser notado, quando, ao orientar ação docente para que
se possa considerar a observação dos alunos no que se refere aos sinais e às palavras
do conteúdo a ser trabalhado no material, tem-se a finalização da proposta com essa
evidência.
Ainda nesse cenário, pensando sob a perspectiva da interpessoalidade, um outro
aspecto que merece ser colocado em pauta se volta ao finito do verbo “pode”. No
contexto da ocorrência 9, verifica-se que, sob um viés interpessoal, esse elemento
consiste em uma modalidade cujo sentido expressa-se em um grau imperativo,
1Na aprendizagem de línguas, trata-se da L2 a ser alcançada pelos aprendizes que já possuem uma L1.
Em relação aos sujeitos surdos brasileiros, consiste na Língua Portuguesa a partir da sua modalidade
escrita, como prevê a Lei Federal nº 10.436 de 2002.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 63
(14) Professor(a), oriente os alunos para que voltem à página de identificação do livro
e efetuem seu preenchimento.
(15) Professor(a), antes de retornar à carteira de identidade da Lili, procure trabalhar
com os alunos a leitura de algumas expressões presentes nas perguntas - “Qual é o
nome?, “Quantos anos ela tem?”, etc. Em seguida, oriente os alunos a fazerem esta
atividade com os dados da carteira de identidade apresentada.
Tendo por base tais evidências, é possível enxergar o papel do docente no que se
toca ao processo de ensino e aprendizagem do referido público em contato com o
material elaborado, visando o ensino da LP como L2. Com o uso de um grau de
modalidade imperativa, novamente, o finito “oriente” presente nos três exemplos acima,
define exclusivamente essa representação do docente, o colocando, assim, como um
orientador que possui a capacidade de conduzir o uso do material, bem como a
aprendizagem dos alunos, diante das atividades propostas.
De modo a considerar os fundamentos pedagógicos que perpassam a
representação do docente, essa possui um fundamento legal que condiz com as
discussões do campo didático-pedagógico, de forma geral. Diante das múltiplas
configurações e especialidades que o processo de ensino e aprendizagem possui, faz-
se necessário que o docente se configure como o norteador das ações discentes frente
aos conteúdos estabelecidos nos múltiplos currículos educacionais, assim como nos
distintos recursos desenvolvidos e levados à sala de aula, para proporcionar condições
de aprendizagem significativas.
Para o desenvolvimento desse processo para com os aprendizes surdos, importa
compreender o docente como um orientador do processo de ensino e aprendizagem,
assim como a representação ligada ao corpus manifesta. Nessa mesma direção, se faz
preciso encará-lo, ainda, como um orientador da aprendizagem dessas crianças para
que, dessa forma, possam obter condições possíveis de progresso na aprendizagem da
língua em sua modalidade escrita, bem como Pereira (2014) explica.
Da mesma maneira, Libâneo (2014) também aponta esclarecimentos
complementares a essas argumentações sobre a representação de docentes
encontradas ao longo da análise. Tendo como princípio os fundamentos da tendência
pedagógica liberal renovada progressista, o autor aponta que o papel do docente diante
dos alunos, concentra-se em auxiliar a aprendizagem, de modo a auxiliar no seu
desenvolvimento livre e espontâneo. Considerando esse pressuposto, vê-se pontos
similares aos necessários para atuação no campo do ensino de surdos que podem, na
totalidade, se vincular à representação do docente como orientador do processo
educativo-pedagógico de tais alunos, como se pode observar ao longo dos dados aqui
tratados.
A utilização dos processos selecionados para estruturação das orientações
estudadas e averiguadas tanto com o suporte do WS, como ao lado dos pressupostos
da LSF, possibilitaram, também, a percepção de uma outra representação sobre o
professor como um agente do fazer pedagógico.
Na análise dos contextos de ocorrência, notou-se que muitas orientações do
material faziam referências a ele, em um primeiro momento, colocando-o em posição
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 65
Peça (7) Explique (5) Comece (2) Aproveite (5) Deixe (11)
Pergunte (11) Faça (5) Explore (5) Sinalize (1) Auxilie (3)
Além disso, o corpus manifesta representações dos alunos surdos como sujeitos
participantes do processo de ensino e aprendizagem, uma vez que, no material, muito
se sugere que o professor realize perguntas e proposições para estabelecimento do
diálogo, como as ocorrências 16, 17 e 18 evidenciam.
Logo, sobre essa orientação colocada em análise, há dois pontos fundamentais que
merecem, aqui, serem destacados e discutidos, tendo em mente a importância da
temática abordada. Esses, mesmo estando em contextos de ocorrência localizados,
estruturalmente no texto da orientação, em lugares diferentes, encontram-se
intrinsecamente ligados, pois esbarram no mesmo sentido a ser discorrido. Tal
necessidade diz respeito aos processos verbais “pergunte” e “contem” destacados na
ocorrência 19.
Com um olhar a partir do campo semântico, compreende-se que esses dois
processos estabelecem uma relação de sentido voltados à uma interação dialógica, na
qual se preconiza uma compreensão do que se pergunta e do que é respondido; e vice-
versa. Conquanto, no que se inclina aos sujeitos surdos, essa ação nem sempre é
possível, porque, no Brasil, a Libras não é uma língua que possui o mesmo status da LP,
infelizmente. Para os surdos, isso os impossibilita em muitas ações nos diferentes
espaços, inclusive no educacional, espaço no qual muitos materiais estão diretamente
escritos nesta língua majoritária (Felipe, 2018), assim como o que foi selecionado para
análise nesta pesquisa.
Especificamente acerca do processo verbal “pergunte”, nota-se que a proposta é
que essa ação seja realizada junto dos pais ou responsáveis, diretamente. Mas, no
cenário nacional, estudos como os de Pizzio e Quadros (2011) e principalmente o de
Karnopp e Quadros (2001; 2004) evidenciam a realidade familiar que essas crianças
enfrentam, desde as idades iniciais, por possuírem referências familiares não-surdas.
Sabe-se que mais de 90% das crianças surdas adentram o espaço escolar possuindo
ligação a lares constituídos por pais ouvintes que desconhecem suas diferentes
especificidades, principalmente, a linguística (Karnopp; Quadros, 2001; 2004), como
bem se referenciou em linhas anteriores.
Sobre o mesmo exemplo, outro ponto que merece ser discutido aqui, encontra-se
também presente no processo verbal “contem”. Viu-se, na análise dessa oração, que a
proposta da atividade a ser realizada pelos aprendizes surdos deixa de lado a
diversidade familiar, social e educacional que, hoje, encontra-se instaurada nas variadas
instâncias de Educação Básica do país.
Com vista no corpus, não se encontrou uma definição direta do material em relação
ao espaço que se destina, especificamente. Apesar de ter encontrado na análise
orientações voltadas diretamente à ação docente para que possa privilegiar o uso da
Libras e da LP, de forma simultânea - o que se volta ao princípio do bilinguismo - não se
percebeu esclarecimentos específicos que colocassem à mostra o(s) real(is) contexto(s)
que o mesmo poderia ser utilizado. Com base nisso, se entendeu que, não sendo um
espaço bilíngue, o qual a Libras e LP circulam de forma similar entre os aprendizes
surdos e ouvintes, a ação de contar as para os colegas os aspectos identitários que
demarcam a escolha dos nomes pelas famílias torna-se impossível.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 68
Indo além desse aspecto, entendeu-se também que por se tratar de um material
didático-pedagógico para ensino LP escrito às crianças surdas e considerando, de forma
simultânea, a carência do campo atualmente, importa haver tais evidências presentes
nas orientações que são direcionadas aos professores. Pois, nesse sentido, terão
possibilidades de (re)pensar novas ações pedagógicas e estratégias didático-
metodológicas complementares, a fim de auxiliarem, positivamente, o processo de
aprendizagem da LA pela criança surda, aprendiz da L2, no contexto da escola; obtendo
resultados satisfatórios.
Ao longo desta análise, não se foi encontrada menção ao apoio do profissional
Tradutor-Intérprete de Libras. Mesmo não sendo um professor no contexto da sala de
aula, esse profissional é o que atua na mediação linguística envolvendo o par Libras-LP,
trazendo, para o referido contexto, conhecimentos específicos sobre tal público, assim
como novas possibilidades para atuação direta com eles. No decorrer das percepções à
luz do corpus, viu-se que esse fator, somado ao distanciamento de muitos docentes do
campo no que tange à educação de alunos surdos situados nas diferentes escolas
municipais e estaduais, a nível nacional, inviabiliza tanto os tais, quanto os estudantes
alcançarem resultados pedagógicos positivos e executarem as diversas atividades
propostas no material em espaços que não sejam os bilíngues ou com a presença da
categoria mencionada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABRAHÃO, Maria Helena Vieira. Algumas reflexões sobre a abordagem comunicativa, o pós-método e a
prática docente. EntreLínguas, 2015, 1.1: 25-42.
BARBARA, Leila; MACÊDO, Célia Maria Macêdo de. (2010). Linguística sistêmico-funcional para a
análise de discurso um panorama introdutório. Cadernos de Linguagem e Sociedade, 10(1), 89–107.
https://doi.org/10.26512/les.v10i1.9278.
BRASIL. Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 de abril de 2002.
BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de jul. de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm%22 Acesso
em: 6 set. 2021.
MORAIS, Fernanda Beatriz Caricari de; CRUZ, Osilene Maria de Sá e Silva. Unidade didática e plano de
atividades: uma prática de resistência pedagógica para o desenvolvimento de sentidos em libras e em
língua portuguesa. Fragmentum (On line), v. 55, p. 201-223, 2020.
FELIPE, Tanya Amara. Diferentes políticas e diferentes contextos educacionais: educação bilíngue para
educandos surdos x educação bilíngue inclusiva. Revista Espaço, n. 49, 2018, p. 189-220.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. 50º Ed - Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2015.
FUZER, Cristiane; CABRAL, Sara Regina Scotta. Introdução à GSF em Língua Portuguesa. São
Paulo: Mercado das Letras, 2014.
GOUVEIA, Carlos Alberto Marques. Texto e gramática: uma introdução à Linguística Sistémico-
Funcional. Matraga-Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, v. 16, n. 24, 2009.
KARNOPP, Lodernir; QUADROS, Ronice Muller de. Educação Infantil para surdos. In: ROMAN, Eurilda
Dias; ESTEYER, Vivian Edite. (Org). A criança de 0 a 6 anos e a educação infantil: um retrato
multifacetado. Canoas, 2001, p. 214-230.
LACERDA, Cristina Broglia Feitosa; DOS SANTOS, Lara Ferreira; CAETANO, Juliana Fonseca.
Estratégias metodológicas para o ensino de alunos surdos. Coleção UAB− UFSCar, p. 101, 2011.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos.
28º Edição: São Paulo, 2014.
LODI, Ana Cláudia Balieiro. Ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para surdos: impacto na
Educação Básica. Coleção UAB− UFSCar, p. 81, 2013.
PEREIRA, Maria Cristina da Cunha. O ensino de português como segunda língua para surdos: princípios
teóricos e metodológicos. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial no. 2/2014, p. 1143-157,
Editora UFPR. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/er/nspe-2/11.pdf Acesso em: 28 ago 2023.
PIZZIO, Aline Lemos; QUADROS, Ronice Muller de. Aquisição da língua de sinais. UFSC:
Florianópolis, 2011.
QUADROS, Ronice Muller de; KARNOPP, Lodenir. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos.
ArtMed: Porto Alegre, 2004.
QUADROS, Ronice. Muller de; SCHMIEDT, Magali. Ideias para ensinar português para alunos
surdos. Brasılia: Mec, SEESP, 2006.
SOUZA, Renata Antunes de. Ensino de português como L2 a surdos: proposta de roteiro
gramatical e sua aplicabilidade. (Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Linguística).
Brasília: Universidade de Brasília - UNB, 2018.
.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 72
CAPÍTULO 5
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 73
ITINERÁRIO DIDÁTICO
O ID, de acordo com Colognesi e Dolz (2017), é uma sequência de atividades mais
complexas, que compreende expandir a prática de escrita ou de expressão oral para
além de uma produção inicial e uma produção final. A sequência didática (SD) proposta
por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) é estruturada em módulos de atividades
direcionadas aos aspectos complexos e/ou às necessidades dos discentes no que diz
respeito à produção de um gênero oral ou escrito.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 74
II. A fragmentação dos ateliês é disposta com intervalos após cada nova
elaboração, porém sem deixar de lado o objetivo da proposta comunicativa.
III. Na conclusão de cada percurso, é sugerida uma avaliação formativa com foco
no que foi discutido ao longo do ateliê, isto é, uma avaliação cuja finalidade é
acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, enquanto viabiliza dados
para o docente entender o quanto eficaz está sendo seu método de ensino.
IV. O desenvolvimento de compreensão e produção dos discentes deve ser o foco.
As atividades metalinguísticas, as de conceitualização e as que geram reflexão são
demandadas conforme os principais pontos de cada ateliê.
V. O itinerário possibilita o trabalho com gêneros diversificados correlacionados em
uma mesma proposta.
Com esses elementos, entendemos que, embora uma SD possa compor uma ou
mais etapas de um ID, este se diferencia daquela em razão dos seguintes pontos:
Assim, professor e aluno são vistos como sujeitos de linguagem que (co)operam
esforços para efetivar discursos na vida social. Evidenciamos, assim, que o trabalho com
o itinerário didático não se coloca como oposição às sequências didáticas, e sim como
um trabalho complementar. Ele possibilita que as atividades de linguagem dos
estudantes sejam desenvolvidas de modo mais elaborado e oportuniza a efetivação de
projetos pedagógicos coerentes e motivadores com uma resposta crítica e reflexiva
sobre as ações envolvidas nas atividades de linguagem.
Ademais, quanto ao papel do professor, percebe-se que a estrutura dos ID
permitem uma descentralização do docente, além, é claro, da possibilidade de ele
estilizar seu projeto didático às necessidades de aprendizagem e à cultura do alunado,
o que confere ao professor maior protagonismo em sua própria práxis.
Com essa discussão, o ID proposto neste trabalho é voltado para práticas de escrita
e, principalmente, de leitura. Ele é decorrente de nossa pesquisa de Mestrado em Letras.
Por razões de espaço e tendo em vista o tamanho das etapas de nosso ID, aqui
apresentamos um dos ateliês planejados para a dissertação mestrado e o modo como
agenciamos essa etapa.
PROPOSTA DE ATELIÊ EM UM ID
atividades que serão estudadas, assim como viabiliza todos os dados primordiais para
terem ciência da aprendizagem leitora que a proposta didática tem intenção de
proporcionar.
O ID, intitulado de Itinerário Crítico, deve ser enunciado aos estudantes com a
explicação dos passos a serem executados, ressaltando sempre sua significância em
relação ao desenvolvimento das habilidades de leitura e do senso crítico, como também
da atuação e do envolvimento da turma nas atividades sugeridas. O docente deve
apontar que todo o Itinerário Crítico foi relacionado, principalmente, ao estudo do gênero
discursivo meme carnavalizado, com o apoio de outros gêneros, como a charge, o conto,
a tirinha, a notícia, a entrevista, a canção, com a finalidade de desenvolver e/ou aprimorar
a compreensão leitora crítica por meio das atividades de leitura, análises textuais e
produções textuais.
Em um primeiro encontro com os estudantes, averígua-se, por meio de uma
conversa, quais os conhecimentos dos discentes sobre o gênero discursivo meme; deve-
se perguntar o que eles entendem por meme, quais as características desse gênero,
onde esses textos costumam circular, quais os tipos de memes eles mais gostam – ou
seja, perceber os conhecimentos prévios dos discentes quanto ao gênero.
Em seguida, deve-se explicar a proposta do Ateliê 1, que é ler, analisar e pesquisar
memes, evidenciando que o objetivo é desenvolver o senso crítico por meio do humor
carnavalizado e da ironia presentes nesses textos multimodais. Também é importante
destacar que os alunos devem assumir uma postura respeitável, cuidadosa e sensata
em todos os estágios do ID, assim como respeitar os turnos de fala durante a promoção
de diálogos e atividades orais.
Depois das respostas dos estudantes, solicita-se que eles pesquisem alguns
memes que considerem interessantes, engraçados e que costumem compartilhar em
suas redes sociais. Essa etapa pode ser realizada em casa ou no laboratório de
informática da escola (caso a escola disponha desse ambiente). Os memes levados
pelos alunos devem ser projetados para apreciação da turma e realização da atividade
oral (apresentada no quadro a seguir), disponibilizada no Itinerário Crítico.
textos, além de serem engraçados, como eles colocaram, também promovem crítica por
meio do humor e da ironia. Nesse momento, foi falado sobre a concepção de ironia. Os
discentes foram provocados a citarem exemplos de situações irônicas.
Na sequência, falamos sobre o gênero discursivo meme carnavalizado,
expressando sobre a sua grande capacidade de concentrar opiniões e informações
pertinentes, no que se refere ao objetivo comunicativo do texto, de forma resumida.
Esclarecemos que o meme possui múltiplas linguagens com importante competência
para promover um diálogo efetivo, concreto, real, fornecendo subsídios para o
desenvolvimento de uma leitura crítica.
Foi realizada a primeira atividade oral do Ateliê cujas respostas foram significativas.
Os discentes disseram que a grande qualidade dos memes era divertir. Não conseguiram
entender a pergunta sobre contexto de produção. Explicamos, em função disso, que
contexto de produção era o conjunto de componentes levado em consideração pelo autor
em relação ao que se pretende comunicar no momento da elaboração do texto.
Por exemplo, um meme que fala sobre a importância do voto, provavelmente, está
relacionado ao contexto de produção das eleições, ou seja, o momento em que ocorrem
as propagandas eleitorais. Os estudantes afirmaram que os memes emitem mensagens,
que podem também expressar opinião, informação. Concordaram que os memes
também são capazes de ferir, magoar ou discriminar alguém, que podem produzir
informações falsas, citaram bastantes exemplos a respeito dos questionamentos feitos.
Por fim, alguns alunos falaram sobre a responsabilidade que temos ao compartilhar um
meme, pois não devemos propagar conteúdos ofensivos e/ou falsos.
Logo após, com o auxílio de um projetor, exibimos os memes a serem lidos. Os
estudantes gostaram muito, falaram sobre as mensagens comunicadas em cada meme.
Ao serem questionados sobre a criticidade, a ironia e o humor dos textos, os estudantes
concordaram sobre a existência desses traços, mas também se posicionaram sobre as
temáticas e as valorações existentes nos memes. Alguns alunos, por exemplo, falaram
que os textos II e VIII falavam sobre machismo.
Depois das análises dos memes, a noção de carnavalização foi didatizada para os
alunos, assim como foi destacado que o foco das atividades era analisar memes
carnavalizados, que contestam concepções pré-estabelecidas pela classe social
detentora de recurso e poder, textos que se opunham a essas relações de poder por
intermédio da ironia, do humor, da crítica, promovendo o riso carnavalizado. Para
finalizar esta etapa, os alunos, com o auxílio da professora-pesquisadora, citaram as
características dos memes.
Vemos, nesse sentido, que a execução dos ateliês que compõem um ID coloca em
evidência: a interlocução horizontalizada entre os estudantes e o docente; a efetiva
participação dos discentes nas atividades; a mobilização dos conhecimentos prévios dos
estudantes; e os processos de circulação dos gêneros discursivos.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARROS, Eliana Merlin Deganutti; OHUSCHI, Márcia Cristina Greco; DOLZ; Joaquim. Itinerários
Didáticos: um novo caminho para sequenciar atividades de leitura e produção a partir de gêneros
textuais. In: CENPEC. Na ponta do lápis. São Paulo: CENPEC, 2023, p. 10-19.
COLOGNESI, Stéphane. Faire évoluer la compétence scripturale des élèves. (Thèse de doctoral).
Université Catholique de Louvain, Louvain-la-Neuve, 2015.
COPPOLA, Anthony; DOLZ, Joaquim. Ensinar o debate regrado sobre as (des)igualdades entre os sexos
no primário: evolução da distribuição da fala entre os(as) participantes. Linha D’Água (Online), São
Paulo, v. 33, n. 2, p. 19-38, maio-ago. 2020.
DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèlle; SCHNEUWLY, Bernad. Sequências didáticas para o oral e a
escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais
e escritos na escola. Trad. Roxane Rojo e Glaís Cordeiro. São Paulo: Mercado de Letras, 2004, p. 95-
128.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 2 ed. São Paulo:
Cortez, 2001.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 83
CAPÍTULO 6
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 84
ENSINO DE ONOMÁSTICA
NA EDUCAÇÃO BÁSICA:
FUNDAMENTOS DE ONOMÁSTICA
Apesar de ser questionável que um nome próprio de uma língua seja transparente
aos falantes nativos do idioma meramente pelo fato de ser ele constituído por um nome
comum – mais provavelmente a função referencial de nome próprio faz eclipsar, na
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 86
Aos 34 anos, o tenente Fernando Neves Braz comandava 30 homens do Tático Móvel
[...] O caso de sua vida foi o assassinato da menina Isabella [...] O tenente e dois
soldados patrulhavam a vizinhança [...] Uma gravação feita pela TV Globo [...] mostra
o tenente Braz conversando com Alexandre Nardoni, pai de Isabella [...] O tenente
Braz se matou no dia 30 de maio [...] O policial era investigado por pertencer a uma
rede de pedofilia (p. 72) (Seide, 2008, p. 31). (grifos da autora)
seu idioma e como são usados na linguagem oral e na linguagem escrita. Ele tem
conhecimento de como os nomes próprios são usados como elementos coesivos e sabe
que nome próprios podem ser transformados em nome comuns e vice-versa. Esta
constatação aliada ao que se sabe sobre o conhecimento linguístico dos leigos em
linguística levaram à elaboração de uma proposta de descrição do que sabe um falante
ideal sobre o sistema onomástico, um conhecimento que varia em diversos graus de uma
pessoa para outra.
O conhecimento onomástico do falante ideal foi descrito por Seide (2021) na forma
de uma tabela a seguir reproduzida
1 A informação gramatical depende da língua em questão, no caso de línguas declinatórias, como a língua
lituana, há também informação sobre os casos e suas declinações.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 88
O nome próprio é um nome singular, um objeto abstrato armazenado num endereço conceitual na
mente do falante composto por um componente lógico, um componente lexical e um componente
enciclopédico. Enquanto o primeiro responde pelo processamento necessário das informações para se
chegar à compreensão de elocuções nas quais os nomes próprios são utilizados, os dois últimos
integram o conhecimento linguístico e de mundo relativos ao nome próprio e correspondem ao
conhecimento onomástico do falante ideal e pode abranger desde o conhecimento como em
determinada língua e cultura os nomes são usados e suas características gramaticais até o
conhecimento erudito sobre a etimologia e a origem dos nomes.
podem ser abordados nas aulas de Língua Portuguesa que focam a ortografia, a
morfologia, a lexicologia e os processos de referenciação discursiva. Estes conteúdos
são recorrentes da Base Curricular Comum Nacional, há, ao todo, dez menções a estes
conteúdos (Seide, 2022a, p. 84).
RELATO DE EXPERIÊNCIA
A aula iniciar-se-á com os estagiários dando as boas vindas para os alunos, se apresentando e pedindo
para que os alunos se apresentem, e após as apresentações os estagiários realizarão a chamada pelo
aplicativo do Governo ou de maneira escrita. Após a realização da chamada, será questionado aos
alunos de maneira oral, se eles sabem a diferença entre emigrantes e imigrantes, se eles sabem o que
são os refugiados ou se eles sabem as possíveis causas que levam as pessoas saírem do seu país de
origem e se tornarem refugiados, de quais guerras já ouviram falar ou se sabem de alguma guerra que
está acontecendo atualmente e por último o que mais eles sabem a respeito desse assunto (...). Em
seguida, após estarem a par do assunto os alunos irão realizar a leitura de uma charge (...), para que,
na sequência, possam realizar a análise da mesma, através de algumas perguntas às quais os
estagiários irão escrever no quadro (...), através do questionário eles também entenderão, que existe
dos tipos de nomes (os comuns e os próprios). A fim de que eles compreendam melhor, os estagiários
farão uma breve explicação a respeito dos mesmos de maneira oral (...), essa explicação servirá como
desencadeador da próxima atividade, que se trata de um ditado, na qual os estagiários irão realizar
utilizando nomes próprios derivados de nomes comuns (...), após a realização do ditado os estagiários
questionarão os alunos de maneira oral, se eles perceberam o que as palavras usadas têm em comum
- são grafemas diferentes para um mesmo fonema – e se eles conhecem outras palavras que possuem
essa mesma característica. Após as respostas serem dadas pelos alunos e comentadas pelos
estagiários, os estagiários realizarão a correção do ditado durante a qual será enfatizada a notação
ortográfica, ou seja, a regra que rege a utilização do G e J na grafia das palavras.
Fonte: Correia e Moreira (2023a)
e adjetivos que formam nomes de lugares por serem eles nomes próprios, identificação
de dois tipos de nomes próprios (de lugares e de pessoas), prescrições ortográficas para
o uso duas consoantes que representam um mesmo grafema (g e j) e usos de nome
próprios derivados de nome comum como recurso estilísticos promotor de ironia e efeito
cômico em charges, conteúdos que estão presentes em componentes do Conhecimento
Onomástico do falante ideal (Seide, 2021).
A charge lida e analisada na primeira aula (reproduzida na Figura 1) tem seu efeito
humorístico baseado na interpretação do sintagma “bela vista” como nome comum e
como nome próprio: no primeiro caso, o sintagma descreve uma paisagem, no segundo
faz referência a uma cidade. Pode-se inferir que, no momento de batismo do lugar. havia
uma paisagem bela a qual foi descrita pelo designador dando origem ao nome próprio
de lugar. Apesar da transparência semântica do nome, nada garante que houve
manutenção da capacidade descritiva nome, ao contrário, via de regra, o significado
inicial do nome perde-se e o nome do lugar torna-se opaco.
O título da charge está em destaque no retângulo preto com letras brancas, ele é
formado por uma frase finalizada com um nome próprio de cidade. Na fala do líder que
escolheu a cidade como ponto de chegada, há uma justificativa para a escolha do lugar
na qual ele informa a interpretação linguística do nome próprio da cidade ao responder:
- “Gostei da vista”. Este período simples é uma paráfrase do significado linguístico do
nome de lugar. O humor surge daí: tudo que ele sabe sobre a cidade é o significado do
nome dela o que demonstra que sua decisão foi aleatória.
Figura 1 – Charge
charge. Houve percepção do trocadilho Boa Vista x Gostei da vista por parte dos alunos,
contudo, o humor e a ironia presentes na charge não o foram e o João precisou explicitar
esses efeitos de sentido.
Na sequência, a Liz perguntou o que são nomes próprios, dois alunos responderam
que são nomes de pessoa, nomes de cidade e um deles mencionou o nome da cidade
onde moram, Marechal Cândido Rondon. Então, Vitor solicitou mais exemplos aos
alunos e todos conseguiram dar um exemplo de nome próprio. O comportamento dos
alunos neste momento da aula evidencia que há conhecimento sobre esta subclasse de
palavra e de que há mais de um tipo de nome próprio dentro dessa subclasse.
Foi então iniciado o ditado de nomes próprios derivados de nomes comuns formado
pelos seguintes nomes de cidade: Terra Rica, Boa Viagem, Pato Branco, Passagem,
Contagem, Quatro Pontes. Vargem e Laranjal. Durante a correção, os alunos se
divertiram. Eles adoraram perceber que estavam acertando tudo! Esses acertos atestam
o conhecimento da grafia desses nomes próprios como parte do Conhecimento
Onomástico dos alunos. Este já é um feitio positivo do uso da Onomástica ao ensino:
valorizar o conhecimento que os alunos já têm e mobilizá-lo durante a aula.
Após a correção, houve uma breve explicação sobre a Onomástica como área que
estuda os nomes próprios e que há dois tipos principais de nomes próprios: os
antropônimos e os nomes de lugar, os topônimos, e os três termos foram escritos no
quadro negro pela Liz. Além disso, alguns alunos, ao verem a palavra topônimo escrita
começaram a ler a nova palavra em voz experimentando como soava a palavra.
Outras reações dos alunos atestaram a natureza interdisciplinar dos nomes
próprios (Seide, 2021). Perante o topônimo “Terra Rica” um aluno comentou “Fica no
Paraná, eu acho”. A Liz informou: “Boa Viagem é uma cidade do Ceará”. Outro aluno
falou: “Quatro Pontes, desta eu ouvi falar!”. Finalizando este momento da aula, um outro
aluno disse, referindo-se ao último topônimo: “Eu sei de cor, vou todo dia lá!” Todos
esses comentários evidenciam que houve, por parte da estagiária e dos alunos,
associação entre o topônimo e o lugar a que se faz referência, isto é, houve a ativação
do conhecimento enciclopédico que faz parte do conceito mental de nome próprio.
Terminados os comentários, houve explicação sobre o uso de “g” e do “j” em alguns dos
topônimos do ditado. Para a segunda aula do estágio, foram previstos os
encaminhamentos e conteúdos descritos no quadro 5.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 93
Após a realização da chamada os estagiários perguntarão aos alunos se eles se recordam do que foi
trabalhado na aula anterior a respeito da charge. Após as respostas, os estagiários explicarão que a
charge utilizada e publicada no livro didático, pode se referir a uma notícia publicada no mesmo jornal
que publica a charge. Após essa introdução os estagiários trabalharão com uma notícia que tem por
título "Refugiado sírio é agredido enquanto vendia esfirras em Copacabana”, os alunos irão lê-la de
maneira alternada, um de cada vez, conforme se sintam confortáveis. Após a leitura, os alunos
realizarão a interpretação de algumas perguntas de modo dialogado juntamente com os estagiários (...),
essas perguntas serão a respeito da notícia em si, além de trabalharem a respeito dos referentes
discursivos, dos tipos de sujeito e de predicado, a estrutura da lide na notícia, e a importância dos nomes
próprios. Para responder essas perguntas juntamente com os alunos, os estagiários terão como apoio
uma explicação a respeito de como se constroem os referentes discursivos, trazendo como ênfase o
papel dos nomes próprios nessa construção, e uma explicação a respeito do sujeito e do predicado,
lembrando que essa explicação é um apoio para o professor, a explicação a respeito desses conteúdos
será feita no decorrer das atividades de modo dialogado com a ajuda das perguntas (...). Após a
interpretação os alunos serão instruídos pelos estagiários a realizarem uma pesquisa na notícia
trabalhada anteriormente, em busca de nomes próprios e nomes comuns grafados em G e J, para uma
pequena retomada das regras ortográficas e explicação dos nomes próprios. (....).
As explicações dadas nas aulas 3 e 4 foram vistas pelos alunos como novidades,
isto é, não houve indícios de que tiveram aulas anteriores sobre o assunto. Essas aulas
sobre o gênero notícia e o uso discursivo de nomes próprio prepararam os alunos para
a última aula do estágio. Para a quarta aula do estágio, foram previstos os
encaminhamentos e conteúdos descritos no Quadro 7.
Anexo A
Agora é sua vez de escrever uma notícia! Lembre-se que toda notícia deve ter título, lide (partes da lide),
linguagem objetiva, acessível e impessoal. Usando as informações do quadro abaixo escreva uma notícia com no
mínimo 15 linhas.
QUAL FOI O ACONTECIMENTO? Cerca de 500 imigrantes refugiados foram resgatados no mar.
QUEM FOI RESPONSÁVEL PELO A guarda costeira da Itália que fez o resgate.
ACONTECIMENTO?
Tabela 1- Número de vezes que topônimos e antropônimos foram citados nas produções do 7° ano.
Topônimos e antropônimos Letras maiúsculas Letras minúsculas
Mar Mediterrâneo 16 14
Mar Morto 3 0
Europa 34 5
Itália 37 9
Rússia 0 11
França 7 0
Suíça 4 0
Portugal 0 4
Estados Unidos 2 4
Indonésia 0 1
África 4 2
Brasil 1 0
Grécia 1 0
México 1 0
Paquistão 1 0
Alemanha 2 0
China 0 1
Coreia do Sul 1 0
Coreia do Norte 1 0
Japão 1 0
Turquia 1 0
Áustria 1 0
Suíça 4 0
Luís Diaz 1 0
Rogério 0 2
Arditti 1 0
Fonte: Correia e Moreira (2023e)
CONSTATAÇÕES E REFLEXÕES
Sabe-se que ainda são escassos os estudos que abordam a Onomástica como
ferramenta para o trabalho em sala de aula. Espera-se, assim, que este estudo
impulsione novas discussões e reflexões no âmbito da educação básica e dos estudos
onomásticos.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 99
REFERÊNCIAS
AMARAL, Eduardo Tadeu Roque; SEIDE, Márcia Sipavcius. Nomes próprios de pessoa: introdução à
antroponímia brasileira. São Paulo: Ed. Blucher, 2020.
ANDRADE, Karylleila dos Santos.; NASCIMENTO, Rodrigues Vieira.; BASTIANI, Carla.; NUNES,
Verônica Ramalho. Toponymical software for educational purposes. Revista Philologus, v. 25, p. 387-
398, 2019. Disponível em: http://filologia.org.br/rph/ANO25/74/26.pdf .Acesso em: 20 ago 2021.
ALEXANDRE, Anna Inez.; BASTIANI, Carla.; ANDRADE, Karylleila dos Santos. Toponomástica,
interdisciplinaridade e ensino: propostas pedagógicas a partir da BNCC. In: CASTIGLIONI, Ana Claudia;
DARGEL, Ana Paula Tribesse Patrício. Léxico e ensino: resultados de pesquisa. Campinas, SP:
Pontes, 2022, p. 69-100.
COSTA, Aline dos Santos Teixeira da; DARGEL, Ana Paula Tribesse Patrício. Antropônimos na
educação básica. In: CASTIGLIONI, Ana Claudia; DARGEL, Ana Paula Tribesse Patrício. Léxico e
ensino: resultados de pesquisa. Campinas, SP: Pontes, 2022, p. 47-68.
CORREIA, João Vitor; MOREIRA, Liz. Paola .Dominguez. Plano de aula no.1. Unioeste, Campus de
Marechal Cândido Rondon, Paraná, 2023a, 10f.
CORREIA, João Vitor; MOREIRA, Liz. Paola .Dominguez. Plano de aula no.2. Unioeste, Campus de
Marechal Cândido Rondon, Paraná, 2023b,10f.
CORREIA, João Vitor; MOREIRA, Liz. Paola .Dominguez. Plano de aula no.3. Unioeste, Campus de
Marechal Cândido Rondon, Paraná, 2023c, 8f.
CORREIA, João Vitor; MOREIRA, Liz. Paola .Dominguez. Plano de aula no.4. Unioeste, Campus de
Marechal Cândido Rondon, Paraná, 2023d, 5f.
CORREIA, João Vitor; MOREIRA, Liz. Paola .Dominguez. A aplicabilidade do estudo da Onomástica
como ferramenta de ensino.In : VIII Colóquio de Práticas Docentes. Ensino de Línguas em regiões de
fronterias, 2023. Marechal Cândido Rondon. Anais [...].Marechal Cândido Rondon : Unioeste, 2023Id,
p.1-23.
FIGUEIREDO, S. C. M.; CASTRO, Mária. Celia. Dias. de. Onomástica para Jovens: uma abordagem
sobre os nomes para as aulas de língua materna e estrangeira. In: SIMÕES, Darcilia; TEIXEIRA,
Madalena (Orgs.) Propostas didático-pedagógicas para as aulas de Português.1ª.ed. Rio de Janeiro:
Dialogarts, 2019, v.1, p.169-198.
LÓPEZ FRANCO, Yolanda. Guillermina. En torno al semantismo de los nombres propios. entre debate y
síntesis teórica. Trama, Cascavel, PR, v. 10, n. 20, p. 69–83, 2014.
NUNES, Verônica. Ramalhão. Toponímia e ensino: estudo dos logradouros de origem indígena no livro
didático de Geografia. (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação: ensino de língua e
literatura-PPGL, Universidade Federal de Tocantins, campus de Araguaina, 2015, 114p.
REIS, Anna Inez Alexandre; ANDRADE, Karylleila dos Santos. Propostas de oficinas pedagógicas para o
ensino médio: os topônimos inseridos na prática escolar. In: SOUSA, Alexandre Melo de; GARCIA,
Rosane; SANTOS, Tatiane Castro dos (Orgs.). Perspectivas para o ensino de línguas. 1ed.São
Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2019, v. 1, p. 75-84.
OLIVEIRA, Tânia Amaral.; ARAUJO, Lucy Aparecida Mello. Tecendo linguagens: língua portuguesa: 7º
ano. 5 ed. Barueri, São Paulo: IBEP, 2018.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 100
REYES CONTRERAS, Miguel. Acercamiento onomástico al nombre de las bandas de Heavy Metal.
Onomástica Desde América Latina, n.3, v.2, janeiro - junho, p. 59-81, 2021.
SANTOS. Michelly Moura dos. Toponímia e interdisciplinaridade: uma proposta para o estudo do
léxico para turmas do 6º.ano do ensino fundamental (Dissertação de Mestrado). Programa de
PósGraduação – Mestrado Profissional em Letras -ProfLetras – da Universidade Federal do Acre, Rio
Branco, 2019, 101p.
SEIDE, Márcia Sipavicius. Lithuanian female personal name as cultural names derived from common
nouns from the point of view of speakers of Lithuania as a heritage language. Acta Linguística
Lithuanica, v. 86, p.122-164, 2022b.
SEIDE, Márcia Sipavicius. Proposta de definição interdisciplinar de nome próprio. Onomástica desde
América Latina, Cascavel, PR, v. 2, n. 4, p. 70–94, 2021.
SEIDE, Márcia Sipavicius. Usos de antropônimos como elementos coesivos. Fórum Linguistico, v.5,
n.2, 2008, p.23-35.
SOUSA, Alexandre Mello. Para a aplicação da toponímia na escola. In: SOUSA, Alexandre Melo;
GARCIA, Rosane; SANTOS, Tatiane Castro; KICKHOFEL, Juliana Radatz. (Org.). Questões de
linguística aplicada ao ensino: da teoria à prática. Curitiba: Appris Editora, 2017.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 101
CAPÍTULO 7
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 102
Neste caso, o diário escrito por alunos serve de recurso para registrar o andamento da
aula, bem como para se realizar uma pesquisa e avaliar os processos didáticos. O uso
dos diários pelos alunos é um recurso de aprendizagem e narração da experiência
escolar, além de desenvolver as competências metacognitivas dos estudantes.
Utilizando os diários, os alunos deixam de ser meros receptores de informações ao
reelaborarem as questões tratadas na aula e os docentes ainda podem utilizá-los como
um processo de avaliação do discente (Almeida; Andrade, 2018, p. 100).
omnilateral. Na próxima seção avaliaremos cada uma das oficinas realizadas, a partir
das perspectivas dos participantes.
Koch e Elias (2010) referem-se a texto como uma concepção interacional da língua,
sendo considerado o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores. Há
lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente
detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos
participantes da interação.
Sobre a estrutura do texto, os alunos relataram que cada um possui sua estrutura,
como por exemplo usando parágrafos, pontuações e versos, tendo variações como
informativos, didáticos, expositivos, sobre história etc.
Os extratos de fala dos alunos apontam para uma visão de texto sob a análise da
linguística tradicional, tendo como unidade de estudo a estrutura da oração e do período,
considerando aspectos linguísticos e gramaticais, sem, no entanto, compreender o papel
e a relevância da linguagem nas práticas discursivas e as intencionalidades implícitas
nos discursos, que contribuem para a manutenção das relações de poder na sociedade.
Sobre a concepção de discurso, Fairclough (2008) sustenta que ao usar o termo
‘discurso’, propõe considerar o uso de linguagem como forma de prática social e não
como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais.
A segunda oficina foi sobre Reportagem. Utilizamos o texto: Real Madrid's Vinicius
Jr condemns 'racist' criticism of dancing goal celebration assinada por Ben Morse e Sarah
Diab, vinculado a CNN (online) em 18 de setembro de 2022. Veja a análise na Figura 6:
Na oficina seguinte, utilizamos a Tirinha da obra big Nate hug it out! de Lincoln
Peirce, que traz o conteúdo estelionato sentimental nas redes sociais e sites de
relacionamento. O tema despertou interesse na discussão e os alunos relataram diversos
acontecimentos semelhantes. O gênero pareceu o de mais fácil entendimento pelos
discentes, como se verifica na Figura 9.
Ao final das oficinas com sequência didática interativa com gêneros multimodais,
foi aplicado um questionário com 11 questões abertas, com a finalidade de avaliar a
opinião dos estudantes para validar ou não as oficinas ofertadas no âmbito da pesquisa.
A respeito dos aspectos do ensino de Língua Inglesa com gêneros textuais críticos
utilizados nas sequências didáticas, considerados importantes. Os participantes
referiram-se principalmente ao aprofundamento dos temas, obtido durante as atividades
realizadas utilizando os gêneros textuais críticos. Vejamos a Figura 11.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 118
Figura 11 - Quais aspectos você destaca na sua aprendizagem de língua inglesa com gêneros textuais
críticos?
Para os estudantes, o estudo da língua inglesa por meio desses gêneros, em seus
diferentes formatos, faz uma apresentação detalhada de informações dos temas
estudados, assim como a sua estrutura e argumentos de diversos autores, se mostram
como contribuições essenciais para uma melhor interpretação de provas e concursos,
além de prepará-los para discussões em grupo e sintetização de conteúdo.
Tal perspectiva reafirma os achados de Carlos e Bordini (2012) que demostraram
que o trabalho com gêneros textuais permite ainda a articulação das atividades entre as
áreas de conhecimento, contribuindo diretamente para o aprendizado significativo de
prática de leitura, produção e compreensão. Dessa forma, o trabalho de LI não fica
isolado do ensino de Língua Portuguesa que já trabalha estes gêneros previstos para o
ano/série.
Quanto aos pontos destacados na aprendizagem de língua inglesa com gêneros
textuais críticos foi ressaltado que o conhecimento desenvolvido por meio da introdução
dos gêneros nas aulas foi de extrema importância, por promover uma melhor
interpretação das críticas sociais presentes nos gêneros multimodais, constituindo-se
também como uma maneira de praticar e desenvolver a leitura, a escrita e a interpretação
de texto, em um processo de aprendizagem notadamente marcado pela interação no
grupo, como notamos na Figura 12.
Figura 12 - Quais aspectos você destaca na aprendizagem de língua inglesa com gêneros textuais
críticos.
Figura 13 - Quais estratégias você achou mais eficazes para melhorar o seu desempenho na
aprendizagem do idioma e sobre o gênero textual estudado?
Figura 14 - Para você, quais são as vantagens de ensinar língua inglesa com gêneros textuais críticos?
Figura 15 - O que você achou de abordar temas racismo, meio ambiente, relacionamento virtual e
guerras em uma perspectiva interdisciplinar e crítica?
Quando interpelados sobre a sequência de oficinas com outras que tiveram com
professores de língua inglesa, foram citadas como importantes e estimulantes as
práticas em grupo, a cooperação, a interação com os colegas de grupo, as
apresentações que colaboraram para a aprendizagem do conteúdo, o estímulo de
conhecer novos gêneros, que na opinião dos participantes, são pouco abordados, e por
fim, destacaram a importância de terem realizado uma atividade de forma ativa e
apresentar o conhecimento como resultado do trabalho colaborativo. Analisemos a
Figura 16.
Figura 16 - Comparando a sequência oficinas com outras que você teve com professores de língua
inglesa, o que tornou cada aula mais interessante e estimulante para você?
Corroborando com essa ideia, Silva (2014) argumenta que o ensino deve estar
direcionado para a contribuição com o desenvolvimento das capacidades de linguagem,
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 121
Figura 17 - Como foi potencializado o envolvimento dos alunos no intuito de facilitar o processo de
aprendizagem na disciplina de Língua Inglesa com gêneros textuais críticos?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste processo, observou-se que o maior desafio foi a produção textual em inglês,
que só foram concretizadas por meio da combinação de frases em inglês e português,
e, em sua maioria, somente em português. Por esta constatação, infere-se que o ensino
da língua inglesa precisa oportunizar que os alunos tenham contato com habilidades
linguísticas distintas, de modo integrado, sem limitar a aprendizagem tão somente a
exposição de regras e estruturas gramaticais aplicadas de forma isolada e distantes de
um ambiente comunicativo.
As oficinas nos possibilitaram comprovar que a abordagem da sequência didática
interativa proporciona um maior engajamento interativo entre os alunos e professores, e,
associado ao uso dos gêneros textuais multimodais e a análise do discurso crítica,
revelou-se como uma importante estratégia de ensino, adaptável a diferentes conteúdos
e áreas do conhecimento, evidenciando também a necessidade de práticas educativas
que proporcionem uma participação mais ativa e autônoma do estudante, de maneira a
identificar e interpretar as diversas características e multimodalidades de um texto, e não
apenas os aspectos da linguagem escrita.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 124
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Flávia Luciana Campos Dutra; ALMEIDA, Patrícia Vasconcelos. Diários reflexivos: um
instrumento relevante no processo de transformação e desenvolvimento profissional do docente. Revista
Educação e Linguagens, Campo Mourão, v. 7, n. 12, jan./jun. 2018.
BATISTA JR, José Ribamar Lopes; SATO, Denise Tamaê Borges; MELO, Iran Ferreira (org.). Análise
de discurso crítica para linguistas e não linguistas. São Paulo: Parábola, 2018. 224p. ISBN 978-85-
7934-147-2.
BEZERRA, Cinthia Souza. O gênero textual editorial em revistas culturais e o ensino da argumentação
em FLE. Non Plus, 3(5), 115-135, 2015.
CASTRO, Iane Isabelle de Oliveira. O uso de comic books como textos multimodais em aulas de
Língua Inglesa: estudo de caso com alunos do Ensino Médio Técnico do IFRN (Campus Apodi). Tese
(Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2020.
COUTO, Thalita Cristina; NICOMEDES, Marcelo. O ensino de língua inglesa nas séries finais do ensino
fundamental: a sala de aula vista por dentro. Revista Eletrônica Interfaces, [s. l.], v. 9, ed. 3, p. 157-
167, 16 out. 2018.
CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes; BEATO-CANATO, Ana Paula Marques; FERRARINI, Marlene
Aparecida; PETRECHE, Célia Regina Capellini; ANJOS-SANTOS, Lucas Moreira dos. Uma proposta de
planejamento de ensino de língua inglesa em torno de gêneros textuais. Letras, [S. l.], n. 40, p. 191–215,
2010.
DENARDI, Ana Ceni. Flying togheter towards EFL teacher development as language learners and
professional through genre writing. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa
Catarina: 2009.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Tradução de Maria Izabel Magalhães. Brasília:
UNB, 2008.
FERREIRA, Camilla Glória O uso de ferramentas tecnológicas no ensino de língua inglesa: uma
abordagem baseada em sequências didáticas. Monografia (Graduação). UFMG: Belo Horizonte, 2020.
IRINEU, Lucineudo Machado (org.) et al. Análise de Discurso Crítica: conceitos-chave. 1.ed.
Campinas, SP: Pontes Editores, 2020.
GOMES, Leonardo Miguel dos Santos. A produção escrita em língua inglesa na perspectiva de
alunos do ensino médio. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Pato Branco, 2017.
NÓBREGA, Daniela Gomes de Araújo. As tirinhas nas aulas de leitura em língua inglesa: uma proposta
didático-pedagógica para iniciantes. Educação & Formação. 1. 154. 2016,
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. 3ª ed. São
Paulo: Contexto, 2010.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção de texto, análise de gêneros e compreensão. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
MARQUES, Maria Valéria Siqueira. Leitura em aulas de inglês com o gênero reportagem.
Dissertação (Mestrado em Linguagem e Ensino). Campina Grande – Paraíba, 2011.
MELO, Delma Cristina Lins Cabral de. O ensino da produção escrita em inglês numa abordagem de
gênero textual: o artigo de opinião. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Educação,
Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2011.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Sequência didática interativa no processo de formação de professores.
Petrópolis: Vozes, 2013.
SILVA, Juliana Orsini. Língua estrangeira no ensino fundamental: uma experiência baseada no trabalho
com gênero textual. Entretextos, Londrina, v. 14, n. 1, p. 43–61, 2014.
PEIRCE, Lincoln. Big Nate:hug it out. Edição. Missouri-USA:Andrew McMeel, Setembro 2019.
SANTOS, Juliana. Estratégias de leitura no ensino de língua inglesa: uma comparação entre o livro
didático e a base nacional comum curricular (BNCC). Dialnet, [s. l.], v. 7, 1 jul. 2021.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, [S. l.], v. 31, n. 3,
p. 443-466, 2005.
CAPÍTULO 8
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 127
A luta por direitos e inclusão das pessoas surdas na sociedade no Brasil se deu por
meio de vários movimentos surdos que se pautavam pelo reconhecimento linguístico,
cultural e educacional, visando garantir igualdade de oportunidades e respeito à
comunidade surda (Quadros, 2019). A inclusão, como um princípio fundamental, visa
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 128
1A presença de alunos e professores surdos nas instituições de ensino (básica e superior) exige mudanças
de espaços, de tempos e de rotinas. O sujeito surdo, a língua de sinais e a cultura surda adquirem
visibilidade nos ambientes educacionais (Santos Junior, 2022).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 130
Por exemplo, para que os alunos surdos possam aprender de forma eficaz, os
professores devem adotar estratégias e abordagens específicas que levem em
consideração a língua de sinais como a primeira língua (L1) e a língua oficial do país
como a segunda língua (L2). A educação bilíngue, nesse contexto, envolve o uso da
língua de sinais como meio de comunicação e instrução, permitindo que os surdos se
desenvolvam tanto na língua de sinais quanto na língua oficial (Quadros, 2019). Isso
promove uma aprendizagem mais completa e inclusiva. Quadros e Schmiedt (2006, p.
23) afirmam:
[...] atualmente a aquisição do português escrito por crianças surdas ainda é baseada
no ensino do português para crianças ouvintes que adquirem o português falado. A
criança surda é colocada em contato com a escrita do português para ser alfabetizada
em português seguindo os mesmos passos e materiais utilizados nas escolas com as
crianças falantes de português (Quadros; Schmiedt, 2006, p. 23) .
[...] o egresso do curso deve ter proficiência das línguas estudadas em seus aspectos
estruturais, funcionais e culturais. O profissional deve ser capaz de manifestar
2No seu projeto inicial o curso se chamava Licenciatura em Letras Libras/Língua Portuguesa, contudo,
após visita dos avaliadores do MEC, em 2017, foi recomendada a alteração do nome para Licenciatura
em Letras Libras, dada a formação oferecida e constituída no currículo apresentado no projeto.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 132
Como é possível observar, nos anos de 2020 e 2021 não foram realizadas as
semanas acadêmicas. Isso se deu devido ao período de isolamento domiciliar provocado
pela pandemia da Covid-19. No entanto, em 2022, com as aulas presenciais e a rotina
O Grupo é liderado pelos professores Dr. Alexandre Melo de Sousa e Dra. Rosane
Garcia, e é composto por pesquisadores da Ufac e pesquisadores de outras instituições
de ensino: Shirley Vilhalva (UFMS), Osilene Cruz (INES), Nilce Maria da Silva
(UNEMAT), Karin Strobel (UFSC) entre outros. De acordo com o Diretório de Grupos de
Pesquisa do CNPq, o objetivo do Grupo ESLIN é: promover discussões a respeito da
educação bilíngue de surdos e da Língua Brasileira de Sinais, além de incentivar a
produção de pesquisas científicas relacionadas aos temas: educação bilíngue de surdos,
Libras e outras línguas de sinais, inclusão – em âmbitos teórico e prático.
Entre tantas atividades promovidas pelo ESLIN podemos citar as palestras virtuais
com:
a. Osilene Cruz, do Instituto Nacional de Educação de Surdos:
https://www.youtube.com/watch?v=l99MKek3ySw
b. Bruno Gonçalves Carneiro, da Universidade Federal do Tocantins:
https://www.youtube.com/watch?v=baqUEBwMoKI&t=626s
c. Shirley Vilhalva, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul:
https://www.youtube.com/watch?v=QtrvtgPSVOQ&t=391s
d. Sandra Patrícia Faria Nascimento, da Universidade de Brasília:
https://www.youtube.com/watch?v=uXSCCawDScI&t=4998s
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBRES, Neiva. Ensino de Libras: aspectos históricos e sociais para a formação didática de professores.
1. ed. Curitiba: Appris, 2016. 269 p.
BRASIL, Lei n° 4024 de 20 de dezembro de 1961. Lei de Diretrizes e Bases. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4024.htm. Acesso em: 15 ago. 2023.
BRASIL. Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 dez.
2023.
BRASIL. Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002, Língua
Brasileira de Sinais – Libras [art. 18 da Lei n. 10.098, de 19 de dezembro de 2000]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004–2006/2005/decreto/d5626.htm Acesso em: 23 nov. 2023.
BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Língua brasileira de sinais – Libras e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm Acesso em: 23 jun. 2024.
BRITO, Fabio Bezerra de. O movimento social surdo e a campanha pela oficialização da língua
brasileira de sinais. 2013. 276 f. Tese. (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação da
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
CAMARGO, Eder Pires. Inclusão social, educação inclusiva e educação especial: enlaces e desenlaces.
Ciência educação, v. 23, n. 1, Bauru, 2017.
QUADROS, Ronice Müller de; SOUSA, Alexandre Melo de. Brazilian Sign Language Corpus: Acre Libras
Inventory. Revista de Estudos da Linguagem, v. 29, n. 2, 2021, p. 805–828.
QUADROS, Ronice Müller de; SCHMIEDT, Magali. Ideias para ensinar português para surdos.
Ministério da Educação. Governo Federal. 2006.
QUADROS, Ronice Müller de; STUMPF, Mariana. (orgs). Letras Libras: ontem, hoje e amanhã.
Florianópolis: Editora UFSC, 2014.
QUADROS, Ronice Müller de; SILVA, Jair Barbosa da; ROYER, Miriam; SILVA, Vinícius Rodrigues da.
(orgs). A Gramática da Libras (Volume 1). Rio de Janeiro: INES, 2023.
SANTOS JUNIOR, João Renato. O que essa surda veio fazer aqui? Dissertação (Mestrado em
Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Acre. Rio Branco, 2022.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 43ª. ed. Campinas: Autores Associados, 2018.
SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferenças. 5.ed. Porto Alegre: Mediação, 2011.
UFAC. Curso de Letras Libras – Site. Disponível em: http://www2.ufac.br/cela/libras Acesso em: 9 jul.
2024.
UFAC. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Letras Libras. Rio Branco, Ufac, 2013.
UFSC. Projeto Político Pedagógico do Curso de Letras Libras. Florianópolis, 2012 Disponível em:
https://letraslibras.paginas.ufsc.br/files/2013/04/PPPLibras_Curriculo_2012_FINAL_06-03-2014.pdf.
Acesso em: 15 jun. 2024.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 138
CAPÍTULO 9
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 139
1 A denominação de Língua Franca, segundo Seidlhofer (2005), dá-se em função de o inglês ser uma
língua de comunicação, língua de contato, ou língua comum entre povos diversos. Portanto, essa
concepção contempla as variedades e diferenças culturais da língua.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 140
no âmbito nacional, mais voltadas para o ensino a este público em específico, com as
características do PLA.
Inserido nesse contexto e no intuito de contribuir com as reflexões acerca do PLA,
este capítulo fomenta uma discussão teórico-pedagógica, a partir da Teoria dos
Sistemas Dinâmicos Complexos (TSDC) (Larsen-Freeman, 1997; 2015; 2017; De Bot;
Lowie; Verspoor, 2007; Larsen-Freeman; Cameron, 2008; Beckner et al., 2009; De Bot,
2017; Verspoor; Lowie; De Bot, 2021; Hiver; al-hoorie, 2022, dentre outros), numa
aproximação dessa com as propostas de Metodologias de Aprendizagem Ativa (Bacich;
Moran, 2018; Diesel, 2017; Mattar, 2017; Valente, 2018), situadas a partir das
concepções da chamada era ou Condição Pós-Método (Kumaravadivelu, 1994, 2006).
Pela compreensão de que as Metodologias Ativas constituem estratégias ou
alternativas de ensino-aprendizagem que permitem um maior envolvimento do aluno
(Valente, 2018), e um ensino mais direcionado e personalizado, entendemos que tais
metodologias se mostram coerentes com o ensino-aprendizagem de PLA, já que
normalmente os grupos de aprendizes costumam ser bastante heterogêneos, mesmo
quando se trata de alunos com a mesma língua materna. É importante que o ensino seja
voltado às necessidades específicas dos estudantes, buscando, ainda que no coletivo,
dar um tratamento mais personalizado. Dentre as possibilidades de Metodologias Ativas,
exploramos o trabalho com a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), no
entendimento de que, por essa proposta, o professor pode fazer um acompanhamento
do desenvolvimento do aluno, a longo prazo, além de colocá-lo como protagonista de
seu próprio processo de ensino-aprendizagem.
As discussões trazidas neste texto são direcionadas para o trabalho com o
português (PLA) para falantes nativos do espanhol. Essa escolha de público deve-se
primeiramente a uma necessidade de delimitação. Além disso, em diversas instituições
de ensino, através de convênios internacionais com as instituições de ensino superior,
muitos hispânicos vêm para o Brasil para cursar a graduação, a pós-graduação, ou
realizar algum tipo de mobilidade estudantil.
A aproximação entre as Metodologias Ativas e a Teoria dos Sistemas Dinâmicos
Complexos parece-nos apropriada e necessária. O status de “apropriada” advém do fato
de que, conforme veremos ao longo do texto, ambas apresentam um caráter “emergente”
para que se possa pensar a ação de professores e alunos em sala de aula. Por sua vez,
julgamos tal aproximação como necessária em função de que concebemos a
necessidade de que as práticas de ensino sejam epistemologicamente situadas. Em
outras palavras, concebemos que, para pensarmos em práticas pedagógicas no âmbito
das línguas adicionais, é preciso também refletir sobre como se concebem o sistema
linguístico e seu processo de desenvolvimento em um dado contexto social.
Com base nas considerações acima feitas, através de uma articulação entre a
Teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos com as Metodologias Ativas, mais
especificamente a ABP, nesta proposta exploramos o trabalho com o componente
fonético-fonológico do português brasileiro (PB) como LA, tendo por foco o ensino a
aprendizes nativos de espanhol. Ao pensarmos no tratamento pedagógico do
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 141
componente dos sons à luz da TSDC, concebemos o ensino de pronúncia integrado com
os demais componentes estruturais e sociais da língua, uma vez que, sob essa visão,
não se mostra possível desvincular os diferentes âmbitos formais da língua entre si ou
do contexto social em que eles se inserem. Trata-se, portanto, de uma noção de ‘língua
em uso’, frente a práticas comunicativas que reverberarão no cumprimento de tarefas e
em ações sociais efetivas, para as quais os aspectos linguísticos correspondem ao
‘meio’, e não ao ‘fim’, do ensino de línguas. A partir dessas considerações, em caráter
de ilustração, propomos um exemplo de projeto que aborde o ensino das consoantes /ʃ/
e /ʒ/ do PB, tendo em vista que, na língua materna dos aprendizes (o espanhol), esses
elementos não são contrastivos, tendo apenas o caráter de forma variável, de modo que
a aprendizagem dessas consoantes seja fundamental para que a comunicação ocorra
de forma efetiva na nova língua.
Esperamos, com esta proposta, corroborar com a reflexão sobre a formação
docente a partir do: (i) âmbito teórico-epistemológico, ao propormos uma aproximação
entre práticas de ensino e uma concepção de língua e desenvolvimento linguístico; (ii)
cenário pedagógico, uma vez que, a partir do exemplo ilustrativo apresentado,
objetivamos fornecer insumos para que os (futuros) professores possam problematizar,
repensar ou propor projetos pedagógicos de forma integrada à sua realidade e aos seus
objetivos.
2 Active Learning is a process wherein students are actively engaged in building understanding of facts,
ideas, and skills through the completion of instructor directed tasks and activities. It is any type of activity
that gets students involved in the learning process.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 142
3 Na sala de aula invertida, os alunos estudam os conteúdos em casa e, na escola, realizam práticas que
auxiliam no reforço da aprendizagem (Mattar, 2017).
4 Este capítulo, ao promover uma aproximação teórica entre as Metodologias Ativas e a TSDC, não tem o
objetivo de apresentar, ao leitor, uma introdução à visão dinâmico-complexa. Para um primeiro contato
com os fundamentos do referido paradigma, sugere-se a leitura dos autores aqui mencionados.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 143
levadas a cabo, novos objetivos e questões vão emergindo na sala de aula, de modo
que tal plano tenha de ser “poroso” o suficiente para “absorver” tais questões.
Não existe, portanto, uma “reta final”, ou um “aprendizado total”; lembremos que a
TSDC corresponde a uma abordagem de análise que preconiza o “processo” (visto ao
longo do tempo), e não o “produto” (Lowie, 2017). Nesse sentido, cai por terra toda e
qualquer noção pedagógica tradicional que preconize aspectos linguísticos estruturais,
de caráter pontual, como o “objetivo” maior do conhecimento. Isso porque, sob essa
noção, todo e qualquer aspecto linguístico se encontra a serviço das relações
emergentes pretendidas, ou seja, a serviço daquilo que se quer dizer em um contexto
determinado. A noção de uso linguístico toma prevalência na sala de ensino de LA,
sendo que a forma e seu significado se mostram como aspectos componentes desse
uso situado. O “processo”, ao invés do “produto”, se dá a partir do estabelecimento de
relações simbióticas entre Forma, Significado e Uso, imbricadas em um ambiente
complexo (Verspoor, 2017), que indiscutivelmente necessitarão dos aspectos formais da
língua, mas que de forma alguma se restringem a tais aspectos.
A partir de tais considerações sobre as características que definem as Metodologias
Ativas e a TSDC, podemos dar início a um processo de aproximação teórica (iniciado,
mas, definitivamente, não limitado ou encerrado neste trabalho) referente às discussões
desses dois âmbitos. Isso porque, em sua natureza, as Metodologias Ativas se
caracterizam por apresentar caráter emergente. Em um ensino de LA pautado nas
Metodologias Ativas, a forma está a serviço da função comunicacional. Ao mesmo
tempo, a sala de aula constitui-se como cenário em que o plano de aula, por sua vez,
também tem caráter emergente, ao moldar-se às necessidades comunicativas que
advêm da própria participação dos alunos e dos novos desafios comunicativos que
naturalmente surgem ao longo da interação. Conforme já dito, isso não implica o
abandono de um plano de ensino. Isso significa, apenas, que não é o plano que molda
a prática do professor e dos alunos, uma vez que é tal prática que vai “redefinindo”,
constantemente, tal plano de natureza “porosa”.
Assim como preconizado pela TSDC, as Metodologias Ativas também consideram
as condições iniciais do aluno e o seu processo de desenvolvimento, já que são essas
que orientam a sua prática, ou, no caso, a escolha por técnicas ou estratégias de ensino.
As decisões, que são colaborativas em sala de aula, devem partir das experiências e
conhecimentos anteriores, além de prever o acompanhamento do aprendizado,
propondo ações e soluções de problemas a longo prazo. À vista disso, a trajetória
percorrida pelo estudante precisa ser considerada na sala de aula, pois seu
conhecimento prévio ajuda na tomada de decisões, na resolução de problemas e guia a
sua autoaprendizagem. Além disso, tanto na TSDC quanto na proposta de Metodologias
Ativas, a exemplo da Aprendizagem Baseada em Projetos, considera-se que o grupo é
importante, mas a individualidade de cada estudante é essencial, uma vez que o grupo
se define a partir das trocas entre cada componente, inclusive com o professor.
As incertezas intrínsecas ao processo de desenvolvimento, a imprevisibilidade, o
dinamismo e a não linearidade, que advêm de uma visão de língua pela TSDC,
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 145
no espanhol, [ʃ] e [ʒ] são formas alofônicas dos fonemas /ʝ/ e /ʎ/ (ex.: mayo e lluvia -
[ˈmaʃo] ~ [ˈmaʒo]; [ˈʃuβja] ~ [ˈʒuβja]), ou seja, são formas intercambiáveis dos referidos
fonemas.
Um falante de espanhol, ao aprender o PB, precisará saber que os sons que em
sua língua materna constituem formas variáveis dos fonemas /ʝ/ e /ʎ/, na LA são fonemas
e provocam mudança no significado. Para alguns estudantes, pode ser que este
conhecimento seja fácil de associar, em razão da semelhança fonética entre tais sons;
no entanto, para outros, pode ser que a diferença de status fonológico no PB e fonético
no espanhol cause dificuldade na aquisição desses fonemas na LA.
Além disso, é preciso considerar o histórico dos aprendizes em relação ao
conhecimento de outras línguas. Além de sua língua nativa, muitos dos estudantes de
PLA possuem contato ou conhecimento de uma segunda ou mais línguas e esses
sistemas interagem, se influenciam mutuamente e se modificam (Kupske, 2016; De Los
Santos, 2017; Pereyron, 2017; Santana, 2021; Schereschewsky, 2021; Alves; Vieira,
2023; Pompeu, 2023). Nas questões que envolvem a pronúncia de sons, podem ocorrer
influências fonético-fonológicas não somente da Língua Materna para a L2, mas também
da L2 para a Língua Materna, bem como entre os demais sistemas de um indivíduo
multilíngue.
Diante de tais questões e da complexidade que envolve o ensino de línguas, nossas
discussões advogam em torno de um sujeito que, embora seja parte de um coletivo, é
único no sentido de ter sua própria história e suas próprias necessidades. Pensar o
ensino de PLA, nessa perspectiva, leva a repensar o papel e o agir do docente, assim
como a própria concepção que se tem de sala de aula. As concepções de uma sala de
aula homogênea, com o ensino centrado no professor, e da escolha de um único método
de ensino, já não condizem com as necessidades do sujeito situado numa era pós-
moderna (Kumaravadivelu, 1994, 2006). Ao pensar no aluno de PLA, é preciso entendê-
lo como aquele que, com sua bagagem própria e com suas necessidades individuais,
precisa de um processo de ensino-aprendizagem personalizado, que leve também em
conta a sua individualidade.
Os professores de línguas são, tradicionalmente, orientados por práticas que,
conforme discute Kumaravadivelu (2006), são ancoradas na escolha de métodos
embasados em constructos teóricos de especialistas de áreas como a Linguística, a
Aquisição de Segunda Língua, a Psicologia Cognitiva, dentre outras (a exemplo,
métodos como o Audiolingual, Gramática e Tradução, Comunicativo e outros
recorrentemente citados). O risco de assumir um único método, seja no ensino do PLA
ou de outras línguas, é que esses orientam, muitas vezes, a prática de conhecimentos
fragmentados, sendo centrados em determinados aspectos da língua, e pressupõem a
ideia de que todos aprendem de uma mesma forma, assim como partem das mesmas
necessidades.
Nenhum método em específico pode prever todas as variáveis e reais
necessidades subjacentes à prática em sala de aula, onde, num mesmo espaço, há a
interação de sujeitos individuais, com diferentes condições e necessidades, e coexistem
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 147
5Na intenção de exemplificar, selecionamos a temática. No entanto, é interessante que sejam decididos
os temas junto com os estudantes, com base também em seus interesses.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 149
(A) Quais são os pratos típicos da região? Comente sobre um que você gostou.
Quais são os temperos mais utilizados nesses pratos?
Alguns desses pratos você já conhecia?
Fonte: Autores
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 150
Inicialmente, com base no cardápio, cada integrante monta o seu pedido, anotando
a sua escolha para a entrada, prato principal, saladas, sobremesa e bebida. Após isso,
pode-se simular uma situação real de um restaurante por equipes de alunos, ou, no
grande grupo, em que um dos integrantes assume a função de garçom e os demais são
os clientes. A prática pode ser conduzida a partir de diálogos ou tópicos propostos, como
exemplificamos no Quadro 2, ou de um diálogo que é organizado com os alunos.
Após isso, para treinar os sons-alvo, pode-se trabalhar com jogos. Aqui, propomos
um exemplo com um jogo da memória, disponível no seguinte link:
https://wordwall.net/pt/resource/57279868. Além disso, pode-se realizar o jogo de Stop;
nesse caso, os alunos têm o desafio de encontrar alimentos e bebidas que começam,
por exemplo, com /ʃ/6.
Como um passo seguinte, sugerimos que os alunos realizem, na sua equipe, uma
pesquisa de pratos típicos da culinária da região Sul. O grupo deverá escolher e
organizar um cardápio, com café da manhã, almoço, lanche e jantar, selecionando, a
partir de pesquisa, os alimentos e ingredientes que são mais típicos da região Sul do
Brasil, exemplificamos a prática em (C). Os estudantes podem também simular uma ida
ao supermercado e organizar a lista de compra dos alimentos necessários para o seu
cardápio. Para isso, sites e panfletos de supermercado podem ser consultados em aula,
e os alunos montam a sua lista de compras.
Na integração final, que diz respeito às aulas finais desta parte do projeto, cada
grupo apresenta para o grande grupo o seu cardápio, comentando sobre os alimentos
que foram selecionados, suas preferências e alimentos que não gostam ou não podem
comer. Também podem preparar um dos pratos do cardápio e apresentar no encontro
final para que todos provem e conheçam um pouco mais sobre a culinária do Sul do
Brasil. É interessante também instigar os alunos a falarem ou apresentarem pratos que
são típicos de seus países, e, também, diferenças culturais de temperos e preparos.
Há diversas propostas que podem ser realizadas com o tema ‘Culinária: comidas e
restaurantes’, além das que apresentamos. Também podem ser realizadas pesquisas
sobre imigrantes no Brasil. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, temos influência italiana,
portuguesa e alemã, e essas se refletem na gastronomia. Os alunos podem pesquisar
sobre um típico café colonial alemão, buscando quais alimentos são servidos, sendo
possível, com essa prática, trabalhar os sons que são contrastivos em uma língua e não
em outra (a exemplo do par de consoantes que exploramos). Também podem estudar
sobre festas típicas do RS, como a Oktoberfest, para mostrar os alimentos típicos dessas
festas e estudar sobre a influência dessas culturas na formação da cultura brasileira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao situarmos o aluno de PLA como único, ainda que faça parte de um coletivo na
sala de aula, defendemos que o trabalho do professor se personaliza, de forma a
acompanhar o desenvolvimento individual dos estudantes e a mostrar-se sensível às
suas condições iniciais e às condições externas. Isso define o caráter emergente que
subjaz a prática pedagógica em uma sala de aula, que caracterizamos também ser de
natureza “porosa”, com base em Larsen-Freeman (2018), no sentido de que nesse
espaço o aprendizado se constrói em meio às múltiplas interações e diversidade,
ajustando-se e redefinindo-se.
Frente ao caráter emergente da sala de aula, é preciso considerar, portanto, que
as atividades aqui exemplificadas não constituem um plano ‘pronto’ ou ‘estanque’. Trata-
se, unicamente, de uma demonstração do modo como a noção de projetos pode ser
abordada no ensino do componente sonoro e no âmbito das línguas adicionais em geral.
Dessa forma, qualquer proposição de atividades deve se moldar às condições
emergentes e únicas da sala de aula de cada professor. A cada aula, o mesmo conjunto
de atividades passará por modificações e adaptações, de modo a refletir as
necessidades comunicativas do encontro em questão. Nesse sentido, a proposição de
atividades ao final deste capítulo, de caráter puramente exploratório, tem como objetivo
maior inspirar professores e pesquisadores para que esses possam pensar os seus
próprios projetos em sala de aula, com base em suas necessidades.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 153
REFERÊNCIAS
AL-HOORIE, Ali; HIVER, Phil.; LARSEN-FREEMAN, Diane.; LOWIE, Wander. From replication to
substantiation: A Complexity Theory perspective. Language Teaching, v. 56, n. 2, p. 276-291, 2023.
ALVES, Ubiratã Kickhöfel. Ensino de pronúncia na sala de aula de língua estrangeira: questões de
discussão a partir de uma concepção de língua como Sistema Adaptativo e Complexo. Versalete, v. 3, n.
5, p. 392-413, 2015.
ALVES, Ubiratã Kickhöfel. Ensino de pronúncia de Línguas Não Nativas: Contribuições dos estudos
formais e aplicados. In: MACHRY DA SILVA, Susiele.; GRITTI, Letícia. Lemos.; TEIXEIRA, Lovania;
BARTH, Pedro. Afonso; PASSONI, Taisa Pinetti; KUHL, Yohanna (Orgs.). Diálogos Interdisciplinares:
Estudos sobre Língua, Literatura e Ensino. Campinas: Pontes Editores, 2021, p. 14-36.
ALVES, Ubiratã Kickhöfel; LIMA JÚNIOR, Ronaldo Mangueira. M. Instrução explícita. In: KUPSKE,
Felipe; ALVES, Ubiratã Kickhöfel; LIMA Júnior Ronaldo (Orgs.). Investigando os sons das Línguas Não
Nativas: Uma Introdução. Campinas: Editora da ABRALIN, 2021, p. 175-204.
ALVES, Ubiratã Kickhöfel; VIEIRA, Felipe Guedes Moreira. “Mexeu com uma, mexeu com todas”: Sobre
o papel de intervenções pedagógicas em sistemas fonético-fonológicos multilíngues. In: PRADO, Natália
Cristine; COUTO, Fábio Pereira (Orgs.). Fonologia e suas interfaces: Contribuições para pesquisa,
descrição e ensino de línguas. Porto Velho, RO: EDUFRO, 2023, p. 119-154.
BACICH, Lilian; MORAN, José (Org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico prática. Porto Alegre: Penso, 2018. (Série Desafios da Educação). 238 p.
BECKNER, Clay.; ELLIS, Nick; BLYTHE, Richard; HOLLAND, John.; BYBEE, Joan; KE, Jinyun;
CHRISTIANSEN, Morten; LARSEN-FREEMAN, Diane; CROFT, Willian; SCHOENEMANN, Tom.
Language is a Complex Adaptive System - Position Paper. Language Learning, v. 59, supl. 1, p. 1-26,
2009.
BELL, Daniel.; KAHRHOFF, Jahana. Active learning handbook. St. Louis: Webster University, 2006.
BREEN, Michael P. Teaching language in the postmodern classroom. In: RIBÉ, R. (Eds.), Developing
learner autonomy in foreign language learning. Barcelona: University of Barcelona Press, 1999, p. 47-
64.
CARVALHO, Maria Amália Sarmento Rocha de. O papel da Língua Materna na interação professor-
aluno de Língua Inglesa. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada), UNITAU, Taubaté -SP, 2003.
DE BOT, Kees. Rates of Change: Timescales in Second Language Development. In: DÖRNYEI, Zoltán;
MacINTYRE, Peter. D.; HENRY, Alastaier. (Eds). Motivational Dynamics in Language Learning.
Bristol: Multilingual Matters, 2015, p. 29-37.
DE BOT, Kees. Complexity Theory and Dynamic Systems Theory: same or different? In: ORTEGA,
Lourdes; HAN, ZhaoHong (Eds.). Complexity Theory and language development: In celebration of Diane
Larsen-Freeman. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2017, p. 51-58.
DE BOT, Kees.; LOWIE, Wander; VERSPOOR, Marjolijn. A Dynamic Systems Theory approach to
second language acquisition. Bilingualism: Language & Cognition, v. 10, n. 1, p. 7-21, 2007.
DE LOS SANTOS, Bruna Rosa. A produção da vogal átona final /e/ por Porto-Alegrenses
aprendizes de Espanhol como Segunda Língua (L2): Uma investigação sobre Atrito Linguístico em
ambiente de L2 não-dominante. Dissertação (Mestrado em Letras). Porto Alegre: Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 2017.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 154
DE LOS SANTOS, Bruna Rosa; ALVES, Ubiratã Kickhöfel. A formação em pronúncia de professores de
Espanhol como Língua Adicional: Uma proposta didática. Revista X, v. 17, n. 3, p. 968-1001, 2022.
DIESEL, Aline; BALDES, Alda Leila Santos; MARTINS, Silvana Neumann. Os princípios das
metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica, Revista Thema, vol. 14, 2017.
HIVER, Phil. Complexity Theory as a conceptual framework for language teacher research. In: KIMURA,
Yuzo; YANG, Luxin; KIM, Tae-Young; NAKATA, Yoshiyuki (Eds.). Language teacher motivation,
autonomy and development in East Asia. New York: Springer, 2022, p. 15-33.
HIVER, Phil.; AL-HOORIE, Ali. H.; EVANS, Reid. Complex Dynamic Systems Theory in language
learning: A scoping review of 25 years of research. Studies in Second Language Acquisition, v. 44, n.
4, p. 913-941, 2022.
KUPSKE, Felipe Flores. Imigração, Atrito e Complexidade: a produção das oclusivas surdas iniciais do
inglês e do português por brasileiros residentes em Londres. Tese (Doutorado em Letras). Universidade
Federal Do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2016.
KUPSKE, Felipe Flores; ALVES, Ubiratã Kickhöfel. Orquestrando o caos: o ensino de pronúncia de
Língua Estrangeira à luz do paradigma da Complexidade. Fórum Linguístico, v. 14, n. 4, p. 2771-2784,
2017.
LARSEN-FREEMAN, Diane. Ten 'Lessons’ from Dynamic Systems Theory: What is on offer. In:
DÖRNYEI, Zoltán; MacINTYRE, Peter. D.; HENRY, Alastaier. (Eds). Motivational Dynamics in
Language Learning. Bristol: Multilingual Matters, 2015, p. 11-19.
LARSEN-FREEMAN, Diane. Complexity Theory: The lessons continue. In: ORTEGA, Lourdes.; HAN,
ZhaoHong (Eds.). Complexity Theory and Language Development: In celebration of Diane Larsen-
Freeman. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2017, p. 11-50.
LARSEN-FREEMAN, Diane. Looking ahead: Future directions in, and future research into, second
language acquisition. Foreign Language Annals, v. 51, n.1, p. 55-72, 2018.
LARSEN-FREEMAN, Diane; CAMERON, Lynne. Complex Systems and Applied Linguistics. Oxford:
Oxford University Press, 2008.
LOWIE, Wander. Lost in state space? Methodological considerations in Complex Dynamic Theory
approaches to second language development research. In: ORTEGA, Lourdes.; HAN, ZhaoHong (Eds.).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 155
LOWIE, Wander.; VERSPOOR, Marjolijn. Variability and variation in second language acquisition orders:
A dynamic reevaluation. Language Learning, v. 65, n. 1, p. 63-88, 2015.
LOWIE, Wander.; VERSPOOR, Marjolijn. Individual differences and the ergodicity problem. Language
Learning, v. 69, s. 1, p. 184-206, 2019.
MACHRY DA SILVA, Susiele.; BRISOLARA, Luciene Bassols. Proposta para o trabalho com os aspectos
fonético-fonológicos por meio da Aprendizagem Baseada em Problemas. Horizontes de Linguística
Aplicada, v. 21, n. 2, p. AG4, 2022.
MATTAR, João. Metodologias ativas: para a educação presencial, blended e a distância .1. ed. São
Paulo: Artesanato Educacional, 2017.
PEREYRON, Letícia. A produção vocálica por falantes de Espanhol (L1), Inglês (L2) e Português
(L3): uma perspectiva dinâmica na (multi) direcionalidade da transferência linguística. Tese (Doutorado
em Letras). Universidade Federal Do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2017.
POMPEU, Ana Carolina Moura. A aquisição de L3: A produção da lateral por falantes multilíngues
de francês como L1, inglês como L2 e Português Brasileiro como L3. Tese (Doutorado em Letras).
Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2023.
TERRA, Márcia Regina. Língua Materna (LM): um recurso mediacional importante na sala de aula de
aprendizagem de Língua Estrangeira (LE). Trabalhos em Lingüística Aplicada, Campinas-SP, v. 43(1),
p. 97-113, 2004a.
VALENTE, José Armando. A sala de aula invertida e a possibilidade do ensino personalizado: uma
experiência com a graduação em midialogia. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (Org.). Metodologias
ativas para uma educação inovadora: uma abordagem téorico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
(Série Desafios da Educação). p. 26-44.
VERSPOOR, Marjolijn. Initial Conditions. In: In: DÖRNYEI, Zoltán; MacINTYRE, Peter. D.; HENRY,
Alastaier. (Eds). Motivational Dynamics in Language Learning. Bristol: Multilingual Matters, 2015, p.
38-46.
VERSPOOR, Marjolijn. Complex Dynamic Systems Theory and L2 pedagogy: lessons to be learned. In:
ORTEGA, Lourdes.; HAN, ZhaoHong (eds.). Complexity Theory and Language Development: In
celebration of Diane Larsen-Freeman. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2017, p. 209-
231.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 156
VERSPOOR, Marjolijn; DE BOT, Kees. Measures of variability in transitional phases in second language
development. International Review of Applied Linguistics, v. 60, n. 1, p. 85-101, 2022.
VERSPOOR, Marjolijn; LOWIE, Wander; DE BOT, Kees. Variability as normal as apple pie. Linguistics
Vanguard, v. 7, n. s2, 2021. https://doi.org/10.1515/lingvan-2020-0034
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 157
CAPÍTULO 10
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 158
1Fonte: Movimento LGBTQIA+: entenda o que significa cada uma das letras da sigla.
Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/06/03/movimento-lgbtqia-entenda-
o-que-significa-cada-uma-das-letras-da-sigla.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 9 nov. 2022.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 159
A partir daí, outras letras foram sendo inseridas dando visibilidade a outras identidades,
como, por exemplo, LGBTQ adicionando a letra Q para aqueles que se identificam como
queer.
Segundo Glaad (2016) citado por Reis (2018, p. 33), de modo geral, para as
pessoas que se identificam como queer, os termos lésbica, gay e bissexual são
percebidos como rótulos que restringem a amplitude e a vivência da sexualidade.
Quando a letra Q aparece ao final da sigla LGBTI+, geralmente significa queer e, às
vezes, questioning (questionamento de gêneros).
Para este trabalho de pesquisa, optamos pelo acrônimo LGBTI+, utilizado pelo
Manual de Comunicação LGBTI+3, organizado por Reis (2018), que inclui as Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo4. O símbolo + representa a inclusão
de outras orientações sexuais, identidades e expressões de gênero.
Nossa intenção com este estudo é produzir um pequeno vocabulário pajubeiro
palmense, considerando um corpus de 250 palavras, coletado ao longo de pesquisas
realizadas durante o programa de iniciação científica PIBIC5 da Universidade Federal do
Tocantins: Felipe Moura dos Santos Porto (PIBIC 2012 a 2014); Lucana da Costa e Silva
Andrade (PIBIC 2013-2014) e Paulo Ricardo Aires Rodrigues (PIBIC 2020 -2022),
orientados pela profa. Dra. Karylleila dos Santos Andrade. Como objetivos específicos,
definimos: a) identificar e catalogar o vocabulário pajubá na comunidade LGBTI+ de
Palmas, Tocantins; b) definir a microestrutura do verbete; c) produzir um banco de dados,
a partir do software LexiquePro; e, por fim, d) socializar o glossário na comunidade
LGBTI+ e nas redes sociais.
Cada grupo interage de uma forma especial, cujo modo de se comunicar, por vezes,
fica restrito apenas aos pertencentes de um determinado grupo. Por esse motivo,
compreender e entender sobre os significados e os sentidos das palavras e suas
possibilidades de interação contribui para o entendimento dessas relações, sejam
individuais ou em grupos.
Segundo Preti (1984), a organização das palavras, suas origens, neologismos e
fluidez da transformação lexical representam características históricas e,
consequentemente, culturais de uma população.
É por meio da linguagem que as pessoas transmitem informações, pensamentos,
desejos e emoções. Entender que voz é essa, como o grupo se interage, qual(is) o(s)
significado(s) e o(s) sentido(s) que permeiam, de forma explícita e implícita, serve de
motivação e justificativa para os pesquisadores.
3
Manual de Comunicação LGBTI+. Disponível em https://www.grupodignidade.org.br/wp-
content/uploads/2018/05/manual-comunicacao-LGBTI.pdf. Acesso em: 11 nov. 2022.
4 Intersexual é o termo geral adotado para se referir a uma variedade de condições (genéticas e/ou
somáticas) com que uma pessoa nasce ou se desenvolve, apresentando uma anatomia reprodutiva e
sexual que não se ajusta às definições típicas de macho ou de fêmea, mas uma combinação de ambos.
Eram antigamente denominados como “hermafroditas” (termo em desuso e desaconselhável).
Cartilha de comunicação e linguagem lgbt disponível em:
https://oabms.org.br/Upload/Biblioteca/2015/05/00119994.pdf. Acesso em: 9 nov. 2022.
5 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq. Disponível em:
https://www.gov.br/cnpq/pt-br. Acesso em: 4 nov 2022.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 160
O léxico é o estudo do conjunto de palavras que formam uma língua. Ele auxilia o
indivíduo, que faz uso das palavras, a entender como é montado o quebra-cabeça
gramatical e semântico das palavras. A função do estudo do léxico pajubá é a de dar
sentido e voz à comunidade LGBTI+. Estudar o léxico de um grupo é necessário e
importante para conhecer a própria linguagem que se modifica de geração em geração.
A mudança lexical da linguagem do pajubá começou a se modificar ainda nos anos
70, quando o movimento LGBTI+ começou a ganhar força e visibilidade. De lá para cá,
muitas palavras foram surgindo e seus significados também foram ganhando novas
formas e sentidos, por esse motivo, o estudo do léxico do vocábulo do pajubá contribui
para o fortalecimento linguístico da comunidade LGBTI+, e ajuda a interligar os
pertencentes desse grupo, com os demais grupos.
Para que haja uma construção de um dicionário, ou até mesmo de um vocabulário
ou glossário, foco principal dessa pesquisa, se faz necessário entender o que é a
lexicografia, área da linguística que estuda a produção, organização e a elaboração dos
dicionários.
Para Welker (2004), o termo lexicografia tem dois sentidos: lexicografia prática e
lexicografia teórica.
[...] numa acepção – na qual se usa também a expressão lexicografia prática – ele
designa a “ciência”, “técnica”, “prática” ou mesmo “arte” de elaborar dicionários (cf.
Biderman 1984: 1, Biderman 1998: 15, Borba 2003: 15, Landau 1989, Wiegand 1989:
251, Martínez de Sousa 1995: 226ss.); para a outra acepção – a lexicografia teórica –
emprega-se frequentemente, em línguas como o inglês, francês e alemão, o termo
metalexicografia, e tendo em vista que, internacionalmente, ele é adotado por muitos,
vou usá-lo também em português, assim como metalexicógrafo e o adjetivo
metalexicográfico. A metalexicografia abrange: o estudo de problemas ligados à
elaboração de dicionários, a crítica de dicionários, a pesquisa da história da
lexicografia, a pesquisa do uso de dicionários (cf. Hausmann 1985: 368, Wiegand 1989:
258) e ainda a tipologia (cf. Martínez de Souza 1995: 253, Hartmann & James 1998:
86). Portanto, na acepção restrita, o lexicógrafo é quem produz um dicionário; quem
escreve sobre dicionários é o metalexicógrafo. Autores como Maria Tereza C.
Biderman e Francisco S. Borba são, ao mesmo tempo, lexicógrafos e metalexicógrafos.
(Welker, 2004, p. 11) (Grifos nossos).
Os dicionários têm por finalidade detalhar o léxico de uma língua e/ou um idioma,
no qual existem variações linguísticas devido a cada público e objetivos da linguagem.
Eles colaboram para o desenvolvimento oral e da escrita da linguagem e têm por objetivo
ajudar os falantes dê uma comunidade a fazerem uso adequado das palavras, de acordo
com o contexto de uso e significados.
Entendemos vocabulário, neste trabalho, como o conjunto de vocábulos 6, unidades
em nível de discurso, coletados durante as pesquisas de campo, com pessoas que se
identificaram pertencentes ao grupo LGBTI+ no município de Palmas.
Quanto à definição de vocabulário, Welker afirma que
6Como estamos trabalhando em nível de vocabulário, utilizaremos vocábulo como sinônimo de palavra,
como uma unidade do discurso.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 162
7
Segundo Barbosa (1996, p. 266), citado por Welker (2004, p. 107), a microestrutura de base é composta
das ‘informações’ ordenadas que seguem a entrada e têm uma estrutura constante, correspondendo a um
programa e a um código de informações aplicáveis a qualquer entrada.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 163
Diante do atual cenário da Pandemia da Covid-19 não foi possível desenvolver uma
pesquisa de campo in loco para ampliar o corpus. Tivemos que readequar nossos
procedimentos metodológicos e instrumentos de pesquisa à nova realidade que nos foi
imposta.
Para a primeira etapa da pesquisa, optamos por escolher como suporte as
seguintes ferramentas digitais: E-mail, WhatsApp e o Formulário Google – Google Forms
para coleta de dados.
A amostra contou com nove participantes, todos se autoidentificaram como
pertencentes à comunidade LGBTI+, residentes no município de Palmas e região. Foi
proposto aos entrevistados um questionário com perguntas relacionadas à temática e
enviado por e-mail aos colaboradores. Todos assinaram virtualmente o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, modelo fornecido pelo Comitê de Ética, moldado
segundo as normas que envolvem a pesquisa.
Os entrevistados, durante a pesquisa de campo de coleta dos dados, não tiveram
acesso a qualquer dicionário ou vocabulário direcionado para essa linguagem de grupo,
o pajubá. Vale ressaltar que muitos dos participantes afirmaram ser positivo a produção
de um vocabulário do pajubá palmense a fim de socializar, principalmente, com a
comunidade externa a forma como o grupo se interage, assim como seus medos,
aflições, lutas e a busca constante por mais voz e menos silenciamento.
Para a descrição, alimentação e catalogação dos dados foi utilizado o programa
LexiquePro 3.6 Windows cuja finalidade foi a sistematização do vocabulário pajubá,
conforme mostrado nas figuras 1 e 2.
Fonte: www.lexiquepro.com
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 164
Fonte: www.lexiquepro.com
A - a
Abafar o caso Expr. 1. Despistar alguém. "Mulher abafa o caso, ninguém pode saberdisso".
Ana Cláudia Adj 1. Mulher heterossexual que adora andar com gays. 2. Mulher hétero que têm muitos
amigos gays. "Amiga, você é muito Ana Cláudia. É Babado viu".
B - b
Bicha poc poc Expr. 1. Gay muito efeminado. "Olha a bicha poc poc chegou na festa".
Borboletear V. 1. "Dar pinta". 2. Demonstrar ser gay. "Cuidado para não borboletear demais".
C - c
Cheque prédatado Expr. 1. Chuca mal feita. "Cuidado para não passar um cheque no boy".
Colar de beijos Expr. 1. Quando uma gay manda beijos para outra gay invejosa. "Envio um colar de
beijos para você querida".
D - d
Dar a elza Expr. 1. Roubar. "Mulher, cuidado que estão dando a Elza nos celulares nesse lugar".
DP Sigla. 1. Dupla penetração DP. 2. Dois pênis penetrados no ânus. "Vamos fazer sexo a dois com
DP".
E-e
Egípcia/fazer à egípcia Expr. 1. Virar a cara, ignorar alguém. 2. Indiferença. 3. Fazer de conta que não
é consigo. "Quando vi aquele absurdo virei a cara e fiz a egípcia".
Estar bege Expr. 1. Estar impressionado, chocado, atônito. "Você deixou o seu namorado bege diante
a sua atitude duvidosa".
F-f
Fazer a pêssega Expr. 1. A desinteressada, que não viu, não esteve lá. 2. Uma pessoa sonsa. "Fazer a
pêssega combina com a sua cara".
Fazer winoma Expr.. 1. Roubar, o mesmo que dar a Elza. "Vive fazendo a winoma, vai acabar sendo
preso".
G - g
Gala Subst. 1. Esperma. 2. Ejaculação masculina. "Esse boy magia produz muita gala".
Gaydar Subst. 1. Identificador de gays. 2. Radar de gays. 3. Percepção sensorial que o homossexual tem
para reconhecer outro. "Dessa vez o seu gaydar acertou".
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 165
H - h
Homossexuelen Subst. 1. Homem gay. "Esse lugar está cheio de homossexuelen".
HT Sig. 1. Hétero HT. "Ela saiu na busca por um HT".
I-i
Inhaieam/inhaííí Int.. 1. Modo de gays se cumprimentarem, (e aí?). 2. Saudação inicial em uma conversa
entre dois homossexuais. "Inhaíí amapoa".
Irene Subst. 1. Velho. "Ele adora uma irene".
J - j
Joaninha Subst. 1. Viatura policial. "Depois da confusão chamaram a joaninha para resolver o
problema".
Jorge Subst. 1. Maconha. "Estão usando jorge no tratamento de algumas doenças".
L - l
Lamber carpete Expr. 1. Sexo entre duas mulheres. "Minha amiga adora lamber carpete".
Louca da priquita Expr. 1. Pessoa fora do seu normal, de raiva, animação ou por ter se drogado. "Deu
a louca da priquita nesse povo".
M - m
Mala Subst. 1. Órgão genital masculino. "A mala daquele cafuçu faz sucesso".
Mona ocó Expr. 1. Gay que não parece ser gay. "Aquele menino só gosta de sair com mona ocó".
N - n
Nárnia Subst. 1. Refere-se ao local (armário) onde os "encubados" ficam. 2. Pessoa que não se assumiu
ainda. "Não é nada fácil viver em nárnia".
Nefertiti Subst. 1. Gay idoso. "Não faça a nefertiti hoje hein".
O-o
Ocó Subst. 1. Homem hétero. 2. Rapaz. "A pegada do ocó é incrível".
Operada Subst. 1. Transgênero de homem para mulher. "A mona agora é operada".
P - p
Pão-com-ovo/bichã pão-com-ovo Expr.. 1. Gay muito comum, nada especial, simplório. 2. Gay sem
graça. 3. Homossexual efeminado, pobre, magro, aparência frágil. "Essa bichã pão-com-ovo
está se achando demais".
Pele de pêssego Expr. 1. Uma pele bonita e cuidada. "Ele tem uma linda pele de pêssego".
Q - q
Quá-quá Expr.. 1. Homossexual efeminado. Essa bichã é quá-quá".
R - r
Racha/raxa Subst. 1. Mulher. 2. Assim denominada pela anatomia de seu órgão sexual. "O boy magia
adora uma racha".
Remix na pomboca Expr. 1. Fricção no clitóris. "Ele adora fazer um remix na pomboca da namorada".
S - s
Scania Adj. 1. Lésbica masculinizada. "Ela gosta de namorar scania".
Surra de edi Expr. 1. Bater com o ânus no pênis no ato sexual. "Ele deu uma surra de edi no cafuçu".
T - t
T.M. Sig. 1. Sigla para "trevesti mirim". "Hoje em dia tem muito T.M. em situação de abandono".
Tarzan Subst.. 1. Pelos na região anal. "Ontem foi dia de cuidar do tarzan".
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 166
U-u
Uó Subst.. 1. Coisa ruim, sem graça. 2. Algo muito ruim. 3. Pessoa ou acontecimento chato, de má
qualidade. "Esse cafuçu é uó".
Urso Subst. 1. Homossexual mais velho e peludo. 2. Gay peludo com barba e acima do peso, com
aparência máscula. "A biu só namora urso".
V-v
Vaporizar V. 1. Ir à sauna. "Hoje é dia de vaporizar o corpo".
Vitaminado Adj. 1. Homem bonito. "Ela só sai com homens vitaminados".
X-x
Xota Subst. 1. Vagina. "Ninguém encosta na xota dela".
Z-z
Zoraide Subst. 1. Gay muito ligado em astrologia ou esoterismo. "Essa biu adora se envolver com
zoraide".
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado da produção do glossário faz parte de um processo que teve início com
trabalhos de iniciação científica em 2012, quando iniciamos a coleta de dados. O
segundo passo foi estudar as crenças e atitudes dos pertencentes à comunidade LGBTI+
em relação ao uso do pajubá. Para a descrição, análise e compilação do vocabulário foi
necessário compreender as questões culturais, sociais e, mais que isso, identificar as
causas e motivações para o uso do pajubá em Palmas.
Mais que uma causa identitária, a pesquisa em questão traz dados sobre VIDAS
de pessoas que possuem seus valores e têm o direito de gozar dos mesmos direitos que
as demais pessoas que se relacionam em sociedade, para isso, a inclusão social precisa
ser efetivada a fim de promover mudanças que salvam vidas.
Como resultado do desempenho, dedicação e reconhecimento, o estudante Paulo
Ricardo Aires Rodrigues foi agraciado com o prêmio de 1º lugar na área de Ciências
Humanas, Sociais Aplicadas e Científica PIBIC/PIBITI/PIVIC da Universidade Federal do
Tocantins em 2022. A seguir, apresentamos também, como resultado do trabalho, o livro
produzido a partir da coleta, análise e produção do glossário, figura 3:
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 167
Fonte: https://editorascienza.com.br/ebook/pajuba.pdf
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 168
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Karylleila dos Santos; GONÇALVES, Sheila de Carvalho P.; PORTO, Filipe; ANDRADE,
Luciana C. e Silva. Bajubá: linguagem de grupo LGBTT como representação sócio-histórica e cultural.
Revista Desafios. v. 5, n. 4, 2018. p. 37-46.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 9. ed. São Paulo: Loyola, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Com direito à palavra: dicionários
em sala de aula. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2012.
PRETI, Dino. A gíria e outros temas. São Paulo: T. A. Queiroz: EDUSP, 1984.126 p., (Biblioteca
universitária de língua e linguística; v. v.6).
REIS, Toni., org. Manual de Comunicação LGBTI+. Curitiba: Aliança Nacional LGBTI / GayLatino,
2018.
UNICEF – Documento - Declaração Universal dos Direitos Humanos / Adotada e proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos Acesso em: 31 ago. 2022.
VIP, Angelo; LIBI, Fred. Aurélia, a Dicionária da Língua Afiada. Editora do Bispo: São Paulo, 2006,
143p.
WELKER, Herbert Andreas. Dicionários – uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. revista e
ampliada. Brasília: Thesaurus, 2004. 299 p.
.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 169
CAPÍTULO 11
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 170
O CURRÍCULO DA CIDADE
1 Ao longo do capítulo, utilizamos o termo currículo como forma de nos referirmos ao Currículo da Cidade
(2017).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 172
2As edições que compõem o Ciclo Autoral apresentam, nas fichas de avaliação da produção de gêneros
discursivos (orais e escritos), o critério “indício de autoria”, que conta com dois tópicos: um relacionado à
seleção de palavras e outro relacionado à expressão de um olhar subjetivo, ambos adequados ao gênero
em estudo. As referências dos três volumes que compõem os materiais do Ciclo Autoral estão indicadas
ao final do capítulo.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 173
Essa organização, que visa romper com a lógica da seriação, é marcada pela adoção
de um novo articulador para os tempos e espaços da escola, baseado no
desenvolvimento social, cognitivo e afetivo dos estudantes e em suas experiências.
Isso significa fazer da escola um lócus que permite aos estudantes serem cidadãos
ativos e protagonistas do processo de construção da vida escolar, com a manifestação
de suas identidades e possibilitando a intervenção de forma consciente nos coletivos
escolares e também no quadro social em que atuam e atuarão (São Paulo, 2016a, p.
25-26).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 175
d. dialógica, porque todo enunciado, por sua natureza, relaciona-se com os produzidos
anteriormente e orienta-se para outros que serão formulados como réplica desse (São
Paulo, 2017, p. 67, grifos nossos).
participou. Isso significa que o conhecimento que as pessoas possuem dos gêneros está
relacionado às vivências que construíram. Por isso, o trabalho da escola dever ser:
ensinar a organizar textos nos gêneros que os estudantes ainda não têm muita
proficiência. Em uma escola que tenha como finalidade a formação de cidadãos
efetivamente participativos, entende-se que ela deverá priorizar os gêneros que
circulam nas instâncias públicas de linguagem e não nas instâncias privadas. Para
tanto, as práticas educativas devem possibilitar que o estudante participe de práticas
sociais de linguagem que se realizem – também – para além do espaço escolar,
ampliando-o (São Paulo, 2017, p. 71).
Essa perspectiva adotada pelo currículo, a qual indica com prioridade o trabalho
com os gêneros que circulam nas instâncias públicas em detrimento da privada, afasta
do cotidiano escolar o processo de construção da subjetividade do estudante na medida
em que diminui o trabalho com textos da esfera literária. Ajudar o estudante a construir
sua cidadania passa pela consciência da construção da própria identidade e esse
processo vai além dos gêneros que circulam na esfera pública. Por isso, é importante
não hierarquizar os gêneros da esfera pública em detrimento da privada, e sim
desenvolver um trabalho de articulação entre eles.
O texto é, para o instrumento curricular, a unidade linguística fundamental do
trabalho com a linguagem verbal porque constitui a materialidade do discurso. Os
enunciados constituem os textos e estes são determinados pelas características do
contexto de produção no qual se realizam.
Isso significa dizer que todo discurso é elaborado por um produtor, que assume
determinado papel social naquela enunciação (pai, professor, representante dos
empregados, sindicalista etc.), papel esse que define a perspectiva da qual o
assunto/tema será visto. Além disso, todo enunciado é orientado por determinadas
finalidades e pelas representações que o produtor tem a respeito de quem é o seu
interlocutor. Todo discurso também é orientado para ser publicado em determinado
portador e lugar de circulação. E, para finalizar, todo discurso é organizado em um
gênero, que possui características específicas, mencionadas e exemplificadas acima
(São Paulo, 2017. p. 71).
Essa compreensão do real vivido pode se relacionar com o que disse Freire no
célebre texto “Papel da Educação na Humanização”
A possiblidade de admirar o mundo implica em estar não apenas nele, mas com ele;
consiste em estar aberto ao mundo, captá-lo e compreendê-lo; é atuar de acordo com
suas finalidades a fim de transformá-lo. Não é simplesmente responder a estímulos,
porém algo mais: é responder a desafios (Freire, 1997, p. 10).
3A primeira versão do documento foi publicada em 2022 e passou por uma revisão em 2023. O documento
orienta os critérios a serem observados pelos professores de Português na aplicação do IAD, avaliação
diagnóstica que está dividida em dois eixos: Prática de Leitura de Textos, dividida em duas etapas: a
primeira consiste na leitura de textos para a localização, inferência e reflexão; a segunda, na leitura em
voz alta. O segundo eixo, Prática de Produção de Textos Escritos, não está relacionado, segundo o
documento, às características específicas do gênero, mas a “aspectos mais gerais que, de alguma forma,
organizam a linguagem escrita” (São Paulo, 2023, p. 12).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 182
Para exemplificar sobre como orientar o trabalho de autoria na sala de aula, o vol.
1 das Orientações Didática dá algumas indicações:
Alimentado pelo princípio da Educação Integral, que não se define pelo tempo de
permanência na escola, e sim pela promoção do desenvolvimento dos estudantes em
todas as suas dimensões (intelectual, física, social e cultural), o documento curricular da
cidade de São Paulo está organizado em três ciclos. Essa organização promove o
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 185
4 Fundada em 1994, a Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE) é uma entidade sem fins
lucrativos constituída como uma estrutura permanente de cooperação entre governos locais para promover
os ideais de educação inclusiva e focada na pessoa, propostos pela Carta das Cidades Educadoras.
Atualmente, ela possui 491 cidades-membro de 35 países. No Brasil, são 27 cidades educadoras que
integram a Rede Brasileira de Cidades Educadores (Rebrace).
Fonte: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/educacao-integral/sao-paulo-cidade-educadora/. Acesso
em 14 dez. /2023.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 186
5 Este objetivo de aprendizagem e desenvolvimento faz parte do “Eixo: Prática de produção de textos
escritos” do Currículo da Cidade por meio do Objeto de conhecimento “Capacidades de elaboração de
textos organizados em gêneros da ordem do narrar”.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 187
Para essa produção, que é realizada após o trabalho com a canção indicada, os
estudantes são orientados a se atentarem aos vazios naturais do texto indicados por
Antunes (2009), tendo em vista que um texto narrativo produzido a partir de uma canção
não dispõe da melodia para a construção de sentidos. Considerando também o
dialogismo de Bakhtin (2011), que fundamenta o currículo, cabe ressaltar que todo
enunciado se relaciona com o que foi produzido antes, ou para reproduzir, em uma nova
situação comunicativa por outros sujeitos, ou para refutar. O pressuposto do currículo,
de que a unidade linguística de base deve ser o texto, dialoga com Geraldi (2001), que
afirma que
Aprender a ser autor, no ciclo, sugere que esses estudantes sejam expostos a
interações cuja linguagem se faça presente, quer seja dando voz ao outro ou mantendo
a distância daquilo que foi dito, o que cria um espaço de constituição de sua própria
identidade, de sua própria voz. Após esse processo de interlocução e alteridade,
entende-se que eles conseguem produzir enunciados que lhes são próprios, embora
reflitam – como é típico da dialogicidade da linguagem – o discurso de outrem (São
Paulo, 2017, p. 143).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 188
desdobramentos nas estrofes seguintes. Por exemplo, o mar é sempre bonito? Por que
só quando quebra na praia? O que pode significar o pescador não saber se fica? Ficar
onde? É sugerido aos estudantes que façam anotações no próprio papel contendo a letra
da canção. Essa parte pode ser realizada em dupla tendo em vista que “a construção da
autonomia do sujeito, em determinada prática de linguagem, começa por fazer o trabalho
coletivamente com o apoio do professor, depois em grupos/duplas para, finalmente,
realizar com autonomia. (São Paulo, 2019, p. 90)”.
A sequência das atividades segue o percurso sugerido pelo currículo. O debate
sobre os sentidos da palavra “mar” na canção começa com uma conversa, mediada pela
professora, envolvendo a turma inteira; o estudo dos elementos estruturais, como tempo
verbal e aspecto gramatical, pode ser feito em duplas, e a produção de texto é, por fim,
realizada de forma autônoma, seguida de uma revisão em duplas.
Na aula cinco, as demais estrofes que compõem a canção são apresentadas como
forma de analisar o aspecto permanente e pontual do passado. Para isso, algumas
questões são apresentadas para serem discutidas oralmente. Que palavras indicam as
ações da rotina de Pedro? Por quê? Que palavras mostram que a rotina mudou? Por
quê? Mostrar trecho sem e com verbos destacados e perguntar se os estudantes sabem
qual a função dessas palavras e qual a contribuição delas na construção de sentidos da
letra. O objetivo é levar os estudantes a refletirem sobre a relação entre letra e melodia
para perceberem os momentos de ação e estado dentro da narrativa.
O propósito das questões de análise sobre a função e o sentido dos verbos dentro
do contexto da canção analisada é verificar se os estudantes conseguem reconhecer o
verbo enquanto palavra que denota tempo na ação tal qual previsto no objetivo de
aprendizagem e desenvolvimento “(EF06LP30) Analisar o papel da manutenção do
tempo verbal predominante e da articulação entre os tempos verbais do texto no
estabelecimento da coesão” (São Paulo, 2017, p. 140, grifos dos autores). Esse é um
dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do Ciclo Interdisciplinar, por isso a
atividade tem por objetivo verificar se a aprendizagem foi consolidada. Cabe ressaltar
que as aprendizagens nos ciclos da RME de São Paulo devem acontecer em um
movimento espiral, e essa atividade amplia o saber relacionado ao objetivo uma vez que
leva os estudantes a reconhecerem a diferença entre tempo gramatical e aspecto verbal,
elemento não previsto no Currículo da Cidade.
Na aula seis, há a retomada das discussões realizadas com foco na sequência
narrativa presente na canção. No primeiro período da canção, onde se lê: “O mar,
quando quebra na praia, é bonito”, retoma-se o questionamento se o mar, de acordo com
o período, se é sempre bonito ou só quando quebra na praia e de que forma é possível
associar essa ideia de beleza à relação que as personagens da canção têm com o mar;
também é questionado se a leitura que fizeram dessa beleza foi a mesma no início e no
final da canção. Então, os estudantes são orientados a destacar a palavra responsável
por indicar a continuidade da beleza do mar no período com o objetivo de verificar se
conseguem reconhecer o verbo ser.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 190
uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista do qual o locutor considera a
ação expressa pelo verbo. Pode ele considerá-la como concluída, isto é, observada no
seu término, no seu resultado; ou pode considerá-la como não concluída, ou seja,
observada na sua duração, na sua repetição (Cunha; Cintra, 2008, p. 396).
O (MRef) é o intervalo sobre o qual a asserção é feita, ou seja, pode ser estabelecido
tanto pela sentença como contextualmente. O (MEv), por sua vez, é o intervalo em que
a situação descrita pelo predicado ocorre. E, por fim, o (MFal) é o instante em que o
falante se pronuncia (Amaral, 2022, p. 248).
6 Texto que faz parte da publicação “A gramática e a linguística em sala de aula”, obra organizada pelo
grupo de estudos com mesmo nome, composto por pesquisadores da USP e que oferece formações para
professores com o objetivo de estabelecer diálogo entre escola e academia.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 192
A penúltima estrofe: “Pobre Rosinha de Chica/ Que era bonita/ Agora parece que
endoideceu/ Vive na beira da praia/ Olhando pras ondas/ Andando, rondando/ Dizendo
baixinho: morreu, morreu,/ Morreu, ó” é possível perguntar aos estudantes: que palavra
indica o estado provisório da beleza de Rosinha? Que palavra indica o aspecto aparente
da loucura de Rosinha? Em que tempo esses verbos estão? Que ações sugerem um
comportamento de Rosinha associado à loucura? Em que tempo estão? Essas
perguntas podem subsidiar o trabalho com a percepção do aspecto verbal.
Cabe destacar que em todo o Ciclo Interdisciplinar exercícios com os “verbos de
dizer” em textos narrativos são trabalhados em diferentes momentos. Mesmo assim
muitos estudantes apresentam dificuldades ao diferenciar discurso direto de discurso
indireto nos anos finais do Ensino Fundamental. Nessa estrofe, é possível propor um
momento de aprofundamento desse conteúdo e pedir a eles que identifiquem o verbo
dicendi, conteúdo contemplado no objetivo de aprendizagem e desenvolvimento
Identificar o verbo que introduz a fala de Rosinha pode encaminhar a conversa para
uma reflexão sobre o único momento da canção em que o narrador abre espaço para a
fala de uma personagem. É possível debater este aspecto atrelado à maneira como a
narrativa da letra se relaciona à melodia para explorar a produção de sentidos fomentada
pela multimodalidade do gênero canção no momento de luto da personagem, que é
quando ela tem voz.
Nas aulas sete e oito, há uma discussão sobre a proposta de produção de texto
narrativo a partir da canção estudada. A conversa tem como ponto de partida a seguinte
questão-problema: se você tivesse que contar a história a partir do ponto de vista de uma
das personagens da canção, qual você escolheria? Por quê? Após o diálogo, os
estudantes são orientados a produzir a primeira versão do texto, que tem como proposta
a retextualização da canção “O mar” em texto narrativo em primeira pessoa sob a
perspectiva de um dos personagens: Dona Chica, Rosinha ou Pedro.
Essa proposta valoriza a polissemia, uma vez que o conteúdo temático não está
dado, já que os estudantes vão refletir sobre como os temas são abordados na canção
para então decidir sobre a roupagem que receberão no texto retextualizado, tal qual
afirma Caretta (2013, p. 23): “A maneira como cada gênero seleciona os elementos da
realidade e a profundidade com que os trata constituem o seu conteúdo temático,
elemento indissoluvelmente ligado ao estilo e à forma composicional na constituição do
gênero”.
Na aula nove há uma acomodação de conteúdo, tendo em vista que alguns
estudantes podem não ter conseguido concluir a narrativa. Para os estudantes que já
concluíram, é sugerida uma leitura compartilhada por meio da qual seja possível a leitura
de textos uns dos outros. Essa releitura é uma rica oportunidade de problematizar que
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 193
“Toda canção possui uma letra e toda letra apresenta uma situação de locução, em que
alguém está falando algo para alguém, pois a canção não pode prescindir do seu ato de
fala original” (Caretta, 2013, p. 104) para que os estudantes reflitam sobre a posição
enunciativa do narrador que escolheram para produzir a narrativa que construíram a
partir de uma da canção “O mar”.
Na aula dez, há a devolutiva dos textos para os estudantes. A revisão feita por eles
e a digitação na plataforma Book creator é realizada nas aulas dez e onze. Essa revisão
acontece durante o processo de digitação pelos estudantes, que ocorre em duplas no
Laboratório de Educação Digital (LED). Tendo em vista as ferramentas da plataforma,
os estudantes têm a oportunidade de acompanhar o processo de digitação e revisão de
outros colegas além da dupla, porque a plataforma permite que as alterações sejam
vistas em tempo real. A capa da publicação é produzida pelos estudantes que se
oferecerem e há uma votação caso haja muitos candidatos interessados em
confeccioná-la. O texto de apresentação, a dedicatória e a edição ficam a cargo da
professora pesquisadora.
Por fim, há a publicação do livro com os textos dos estudantes por meio de QR
code. Essa publicação é acompanhada da retomada do estudo do gênero canção para
a produção de textos narrativos autorais. Proposta que considera essas produções uma
materialização do modo de dizer de cada estudante autor (a) no exercício de sua
singularidade, atentando ao dialogismo que a letra estabelece com a melodia na canção
e esta com a prosódia na nossa fala cotidiana, como propõe Tatit ao afirmar que “Embora
faça parte de uma concepção musical, a melodia de canção jamais deixa de ser também
um modo de dizer e, nesse sentido, identifica-se com a prosódia que acompanha nossa
fala cotidiana” (Tatit; Lopes, 2008, pp. 16-17).
A divulgação desse material dentro do espaço escolar ocorre durante a Mostra
Cultural, evento organizado por nossa escola todos os anos com o objetivo de
compartilhar com a comunidade os trabalhos desenvolvidos pelos estudantes em todas
as disciplinas ao longo do ano. Nas aulas de Língua Portuguesa, a divulgação dos textos
que compõem o livro ocorre por meio da contação de histórias de quem se sentir à
vontade para fazê-lo, atividade que está inserida no objetivo de aprendizagem e
desenvolvimento7
sensibilidade, outros assumiram o lugar de Rosinha vivendo seu luto incompreendido por
alguns que acreditavam que ela estava louca, no lugar de uma pessoa enlutada, e
poucos assumiram o lugar de Dona Chica, mãe de Rosinha, que se sentia impotente
diante da tragédia que abateu a vida de sua filha e todos do arraial. Desse modo, os
resultados dessa proposta evidenciam as duas instâncias do eu descritas por Fiorin: “o
eu pressuposto e o eu projetado no interior no enunciado. Teoricamente, essas duas
instâncias não se confundem: a do eu pressuposto é a do enunciador e a do eu projetado
no interior no enunciado é a do narrador” (Fiorin, 2022, p. 56).
A recorrência da escolha do foco narrativo entre o suposto casal sugere uma
identificação dos estudantes com a juventude, já que Rosinha é chamada de mocinha e
a segunda estrofe menciona a perda de filhos e maridos, o que revela o caráter
masculino da atividade de pesca e o papel de filho que Pedro ocupava no arraial. “É
importante compreender que o léxico constituinte da fala das personagens não retrata
apenas o indivíduo, mas uma linguagem social detentora de um ponto de vista sobre a
realidade" (Caretta, 2013, p. 131). Mesmo que na canção não sejam as personagens
que falam, com exceção de Rosinha, as escolhas do narrador sobre como retratar as
personagens revela um ponto de vista sobre a realidade, bem como na produção dos
estudantes.
A maioria das estudantes escolheu narrar a história do ponto de vista de Rosinha
sem abrir espaço para loucura, apenas reconhecendo o luto como uma dor profunda. Já
os estudantes escolheram narrar a partir da perspectiva de Pedro, sendo um narrador
defunto ou um defunto narrador. Essas escolhas evidenciam, no nosso entendimento,
um recorte de gênero, já que as meninas narraram a partir de um foco narrativo feminino
e os meninos narraram a partir de um foco narrativo masculino.
Nessa perspectiva, os movimentos indicados por Possenti (2002) de dar voz a
outros enunciadores e manter distância em relação ao próprio texto podem acontecer no
processo de retextualização. Na medida em que os estudantes fazem escolhas, como o
foco narrativo e os encaminhamentos a partir da voz que enunciam em seus textos,
exercitam o registro escrito como maneira de agir sobre o mundo que os cerca e sobre
o qual são orientados a refletir todos os dias na escola. Com o entendimento que “O
enunciado é pleno de ecos de outros enunciados (Caretta, 2013, p. 51), o estudante é
convidado a refletir sobre o repertório que o constitui e é constituído por ele ao assumir-
se autor. Essa assunção envolve a compreensão de que
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
BAKHTIN, Mikhail. Gêneros do Discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2011, p. 261- 306.
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoievski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2005.
BUITRAGO, Jairo; Estrada, Alejandra. O mar. Belo Horizonte: MNR Editora, 2022.
CARETTA, Álvaro Antônio. A canção popular: uma análise discursiva. In. GIL, Beatriz Daruj; CARDOSO,
Elis de Almeida; CONDÉ, Valéria Gil. Modelos de análise linguística. São Paulo: Contexto, 2009, p. 99
-114.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro:
Lexikon, 5ª ed. 2008.
GERALDI, Wanderley. Da redação à produção de textos In. CHIAPPINI, Ligia. Aprender e ensinar com
textos de alunos. vol. 1. São Paulo: Cortez, 2001, p. 17-24.
POSSENTI, Sirio. Indícios de autoria. Perspectiva 20 (1). Expressando a língua portuguesa e seu
ensino. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002. p. 104 -123.
POSSENTI, Sirio. Notas sobre autor. Revista da Abralin, [S. l.], v. 15, n. 2, 2016. Disponível em:
https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1291. Acesso em: 22 jun. 2023.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Para ler em silêncio. São Paulo: Moderna, 2007, p. 53.
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão de Ensino
Fundamental e Médio. Diálogos interdisciplinares a caminho da autoria: elementos conceituais para
a construção dos direitos de aprendizagem do Ciclo Interdisciplinar. São Paulo: SME/COPED, 2016a.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão de Ensino
Fundamental e Médio. Direitos de aprendizagem dos ciclos interdisciplinar e autoral: Língua
Portuguesa. São Paulo: SME/COPED, 2016b. (Coleção Componentes Curriculares em Diálogos
Interdisciplinares a Caminho da Autoria)
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade:
Ensino Fundamental: componente curricular: Língua Portuguesa. 1.ed. São Paulo: SME/COPED, 2017.
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas
do currículo da cidade: Língua Portuguesa. volume 1. 2.ed. São Paulo: SME/COPED, 2019.
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Caderno da cidade:
saberes e aprendizagens: Língua Portuguesa 7º ano. 2.ed. São Paulo: SME/COPED, 2020.
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Caderno da cidade:
saberes e aprendizagens: Língua Portuguesa 8º ano. 2.ed. São Paulo: SME/COPED, 2020.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 200
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Caderno da cidade:
saberes e aprendizagens: Língua Portuguesa 9º ano. 2.ed. São Paulo: SME/COPED, 2020.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Língua Portuguesa:
instrumento de acompanhamento docente - Ciclos Interdisciplinar e Autoral. 2.ed. São Paulo:
SME/COPED, 2023.
TATIT, Luiz; LOPES, Ivan Carlos. elos de melodia e letra: análise semiótica de seis canções. Cotia,
SP: Ateliê Editorial, 2008.
ULHÔA, Martha Tupinambá de. Métrica Derramada: tempo rubato ou gestualidade na canção
brasileira popular. In: GONZÁLEZ, Liliana; PARANHOS, Adalberto; ESPINOSA, Christian Spencer
(eds.) Actas del VII Congreso de la IASPM-AL. La Habana, 2006. p. 434 - 442.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 201
CAPÍTULO 12
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 202
A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação
de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos
de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 204
ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
(Brasil, 2005, art. 3º).
A ocupação deste espaço tem uma característica ainda mais marcante, pois
representa uma mudança na relação de poder entre surdos e ouvintes, uma vez que o
professor surdo passa a ser o agente da formação de professores e não apenas ator
passivo deste processo (Castro; Marques, 2017, p. 121).
Com a chegada dos surdos no ensino de Libras nas IFESs, a relação de poder
passou a ser revertida para que os surdos tenham domínioe participação no processo
de educação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para
a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2000.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais- Libras e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, n. 79, Seção 1, 24 de abril de 2002.
CASTRO, Fernanda Grazielle Aparecida de; MARQUES, Stela Maria Fernandes. O professor de libras
surdo no ensino superior: desafios e perspectivas na atualidade. São Carlos: Pedro & João Editores,
2017.
GALERA, Cesar; GARCIA, Ricardo Basso; VASQUES, Rafael. Componentes funcionais da memória
visuoespacial. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 29–44, 2013.
GESSER, Audrei. O ouvinte e a surdez: sobre ensinar e aprender a Libras. São Paulo: Parábola
Editorial, 2012.
GODOY, Arlida Schmidt. Uma revisão histórica dos principais autores e obras que refletem esta
metodologia de pesquisa em Ciências Sociais. Introdução à pesquisa qualitativa e suas
possibilidades. São Paulo, v. 35, n. 2, p. 57-63, 1995.
MIORANDO, Tania Micheline. Formação de profissionais: mais professores pela escola sonhada. In:
QUADROS, Ronice Muller de (Org.). Estudos Surdos I. Petrópolis: Arara Azul, 2006.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Cartarina Eleonora
F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2000.
REIS, Flaviane. A docência na Educação Superior: narrativas das diferenças políticas de sujeitos
surdos. Repositório institucional - Universidade Federal de Uberlândia, 2015. Disponível em:
https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/17759. Acesso em: 19 maio 2019.
STREIECHEN, Eliziane Manosso. Língua Brasileira de Sinais: Libras. Guarapuava: Unicentro, 2012.
WILCOX, Sherman; WILCOX, Phillis. Aprender a ver. Tradução de Tarcísio de Arantes Leite. Petrópolis:
Arara Azul, 2007. (Coleção Cultural e Diversidade Arara Azul).
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 213
CAPÍTULO 13
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 214
MULTILETRAMENTOS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES
ALFABETIZADORES1
Margarete Nunes
Wendell Fiori de Faria
Maria de Fátima Ferreira de Oliveira Rosilho
Tatiane Castro dos Santos
1Dados parciais publicados nos Anais do Vi Congresso Brasileiro de Alfabetização – CONBALF - ISSN
2763-8588.
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 215
nem elevar os tão almejados e 'verdadeiros' índices no que diz respeito à área da
linguagem. Em pleno século XXI, os chamados 'analfabetos' ainda continuam sendo a
mão de obra barata que colabora para o desenvolvimento do país, onde ainda parece
que prevalecem como objetivos a quantidade e não a qualidade.
No percurso das mudanças e transformações em tela, exige-se do
'alfabetizado/letrado' o domínio de competências e práticas constantemente atualizadas,
visto que pesquisas apontam o avanço dos conhecimentos (Rojo, 2017).
Assim, o objetivo deste capítulo constitui-se em abordar discussões sobre a
importância dos multiletramentos e dos textos multimodais na prática pedagógica dos
professores alfabetizadores, dado que estudos apontam a familiaridade com as
tecnologias na vida do professor e também dos alunos. Entretanto, há necessidade de
que o professor aprofunde as relações com essas tecnologias em suas experiências e
nas metodologias empreendidas em sala de aula.
O texto está organizado em três partes: a primeira, intitulada 'O processo de
alfabetização e os multiletramentos', discute a construção do conhecimento da criança
em processo de alfabetização e em situações de interações sociais; a segunda parte
aborda os 'Multiletramentos e as novas superfícies da alfabetização', discutindo os
processos de multiletramento e a reflexão sobre os textos multimodais na prática
pedagógica do professor alfabetizador; e, por fim, na última parte, aborda-se 'O professor
alfabetizador na construção da sua prática pedagógica', demonstrando os desafios
encontrados por ele frente à sua prática pedagógica, bem como as contribuições de
resultados de pesquisas realizadas sobre o assunto..
[...] estudos revelam que o acesso a tecnologias digitais e a redes sociais assim como
o tempo passado perante os ecrãs vêm aumentando significativamente entre as
crianças dos 0 aos 8 anos em todo o mundo, muito embora de forma não equitativa
entre crianças de famílias de diferentes contextos culturais e económicos [...].
O contato com a tela que brilha apresentando, ao mesmo tempo, palavras e desenhos
animados, sons, além do colorido vibrante típico desse ambiente digital, ampliou e
aguçou as crianças a se envolverem nessas práticas da cultura escrita digital, de modo
a ampliarem a compreensão sobre os conhecimentos linguísticos, discursivos e
culturais de vários sistemas de linguagem combinados.
Para Rojo (2017), Pereira (2019) e Hissa (2020) o conceito de multiletramentos está
ancorado pelo Manifesto A pedagogy of multiliteracies: designing social futures,
publicado em 1996, por um grupo de pesquisadores denominados The New London
Group (NLG). Para esse grupo, com as constantes mudanças no campo da tecnologia,
bem como as vivências dos estudantes cada vez mais globais e digitais, surge a
necessidade de um ensino voltado para as dimensões ligadas à construção dos saberes,
do sujeito e dos conhecimentos, para que estes atuem de maneira ativa e reflexiva na
sociedade da qual participam.
Em estudo, Frade, Araújo e Glória (2019, p. 63) indicam que há hoje a ideia de
letramentos no plural ou de multiletramentos, associada a modos que se cruzam e
convivem no mesmo suporte e que são bastante explorados na contemporaneidade,
como sons, imagens estáticas e/ou em movimento, direção da escrita, tamanho, cor,
todos esses considerados como recursos semióticos e linguagens comunicacionais.
Para Hissa (2020, p. 106), a proposta vem ao encontro desse contexto contemporâneo
hipermoderno e hipermidiático, em que os alunos e a sociedade em geral estão inseridos
em razão da imersão tecnológica.
Nessa perspectiva, faz-se a relação com os documentos que amparam a Educação
Básica, entre eles a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que sinaliza a
responsabilidade da escola em instituir novos modos de promover a aprendizagem, a
interação e o compartilhamento de significados entre professores e estudantes (Brasil,
2017, p. 61).
Na comunicação entre a cultura escrita e as invenções tecnológicas
contemporâneas, 'o novo saber implicado na alfabetização terá de ser experienciado,
conceitualizado, analisado e aplicado pelos aprendentes' (Pereira, 2019, p. 28). Os
diferentes usos e modos presentes nas demandas sociais e culturais vêm deflagrar os
efeitos da multimodalidade no desenvolvimento que a criança vivencia.
Nas demandas escolares mediadas pela linguagem, o texto continua sendo central,
porém, na diversidade de estudos realizados, carece de revisão devido às inovadoras
práticas e habilidades de leitura e escrita. No que se refere à multimodalidade:
[...] acreditamos que trazer essa prática para o contexto escolar deles desde o Ensino
Fundamental fomentará práticas multiletradas que poderão proporcionar aos alunos
maior facilidade na leitura e na compreensão dos textos multimodais/multissemióticos
em suas práticas diárias [...].
Sendo assim, essas novas práticas sendo desenvolvidas pela escola e “não se trata
de deixar de privilegiar o escrito/impresso nem de deixar de considerar gêneros e
práticas consagradas pela escola, mas de contemplar também os novos letramentos,
essencialmente digitais” (Brasil, 2017, p. 69).
Observamos a necessidade da integração de novas habilidades a serem
desenvolvidas pela escola no percurso da alfabetização, outras práticas para além do
escrito e impresso, as que também contemplem o universo digital.
[...] A partir da nossa pesquisa e dos dados coletados, vimos que os professores
participantes dos cinco fóruns e sete chats não tiveram grandes dificuldades em
conceitualizar e exemplificar os termos e as práticas sociais que envolvem os estudos
de letramento [...].
[...] podemos compreender que, uma das maiores dificuldades para a utilização de
recursos tecnológicos em sala é a própria falta destes recursos, pois não há uma
observação sistemática e importância à questão por parte de investimentos
governamentais. Assim como a ausência de formação docente específica para o
manuseio desses recursos [...] (Queiroz; Filho, 2019, p. 8).
ANÁLISE DO PROBLEMA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília:
MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017.
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva; ARAÚJO, Mônica Daisy Vieira; GLÓRIA, Julianna Silva.
Multimodalidade na alfabetização: usos da leitura e da escrita digital por crianças em contexto
escolar. Revista Brasileira de Alfabetização, v. 1, n. 8, p. 57-84, 2 jul. 2019.
FULLAN, Michael; HAGREAVES, Andy. A escola como organização aprendente: buscando uma
educação de qualidade. Tradução: Regina Garcez. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
GLÓRIA, Julianna Silva; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. A alfabetização e sua relação com o uso
do computador: o suporte digital como mais um instrumento de ensino-aprendizagem da escrita.
Educação em Revista [online]. v. 31, n. 3, 2015.
QUEIROZ, Michele Gomes de; BRASILEIRO FILHO, Samuel. A Tecnologia como ferramenta didática no
processo de alfabetização de crianças. Research, Society and Development, vol. 8, n. 8, p.1-10, 2019.
PEREIRA, Susana Pires Íris. Para uma reconceptualização do processo de alfabetização. Desafios
colocados pela comunicação digital. Revista Brasileira de Alfabetização, v. 1, n. 8, p. 15-32, 2 jul. 2019.
PINHEIRO, Petrilson Alan. Web 2.0 e saber-fluxo: novas questões de letramento digital. Confluência -
Revista do Instituto de Língua Portuguesa, n. 37-38, p.193-214, 2010.
ROJO, Roxane. Entre Plataformas, ODAs e Protótipos: novos multiletramentos em tempos de WEB2. The
ESPecialist, v. 38, n. 1, 2017.
OS ORGANIZADORES
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 225
ROSANE GARCIA
OS AUTORES
Perspectivas para o ensino de línguas – Volume 8 228
MARGARETE NUNES
PATRÍCIA LUCAS
2024