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Resumo
O presente trabalho tem por objeto a análise da incidência do imposto sobre
a renda pessoa física na incorporação de ações à luz do princípio da realiza-
ção da renda. Implícito na Constituição Federal, o princípio da realização da
renda é um dos corolários da capacidade contributiva e da igualdade, e tem
por finalidade garantir que a renda seja tributada quando de sua efetiva rea-
lização. Para a referida análise, adotar-se-á como pressuposto o entendimen-
to predominante na doutrina segundo o qual, conforme art. 43 do Código
Tributário Nacional, para ocorrência do fato gerador do imposto sobre a ren-
da, é necessário que haja a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídi-
ca da renda ou de proventos de qualquer natureza, sendo que a renda será
considerada disponível quando houver acréscimo patrimonial mediante a
apuração dos regimes de competência e de caixa.
Palavras-chave: imposto sobre a renda, princípio da realização da renda, in-
corporação de ações, regime de caixa, fato gerador.
Abstract
The purpose of this paper is to analyze the income tax for individuals in the
operation of merger of shares in view of the principle of realization of inco-
me. Implicit in the Federal Constitution, the principle of realization of inco-
me is one of the corollary principles of the principles of contributive capacity
and equality, which aims to guarantee that income will be taxed at the time
of realization. For this analysis, the prevailing understanding in the literature
will be adopted as an assumption that, pursuant to Article 43 of the National
Tax Code, for the occurrence of a taxable event of the income tax, it is neces-
sary to acquire the economic or legal availability of income or earning of any
nature, and the income is considered available when there is asset increase in
equity determined on a cash basis and on an accrual basis.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
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Introdução
Disciplinada pelo art. 252 da Lei n. 6.404/1976 (“LSA”), a incorporação de
ações consiste em um dos institutos jurídicos para conversão de uma sociedade
anônima em subsidiária integral1. Como preleciona Nelson Eizirik, a incorpora-
ção de ações decorre do processo crescente de concentração empresarial e se ca-
racteriza como instituto jurídico híbrido, haja vista que, por meio dessa operação,
procede-se a uma modalidade de concentração empresarial na qual se mantém a
personalidade jurídica da companhia cujas ações são incorporadas2.
A incorporação de ações é amplamente discutida, tanto na doutrina quanto
na jurisprudência, no que se refere à sua natureza jurídica e aos seus efeitos no
âmbito tributário. Nesse sentido, para fins deste trabalho, destacam-se duas prin-
cipais correntes3. Para a primeira corrente, a incorporação de ações se equipara a
um aumento de capital mediante a subscrição de ações, e, portanto, constitui uma
forma de alienação das ações da companhia incorporada para a companhia in-
corporadora. A segunda corrente, por sua vez, entende que a incorporação de
ações é um negócio jurídico contratual entre companhias que acarreta a mera
substituição de ações, por meio do instituto da sub-rogação real.
Há decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (“Carf”) que
consagram o entendimento segundo o qual, na incorporação de ações, não há ato
de alienação, mas uma mera sub-rogação real, inexistindo fundamento legal que
autorize a incidência de imposto de renda. Por outro lado, na jurisprudência mais
recente do Carf tem prevalecido a tese de que a incorporação de ações se equipa-
ra à alienação e, por conseguinte, essa operação pode gerar ganho de capital, o
qual será tributado pelo imposto sobre a renda.
Um dos pontos controversos na tributação de eventual ganho de capital de-
corrente da incorporação de ações consiste no princípio da realização da renda,
princípio constitucional corolário dos princípios da capacidade contributiva e da
igualdade, e um dos elementos essenciais para a incidência do imposto sobre a
renda4. Diante disso, o presente trabalho tem por escopo analisar a incidência do
1
LSA, art. 252.
2
EIZIRIK, Nelson. Incorporação de ações: aspectos polêmicos. In: WARDE JR., Walfrido Jorge
(coord.). Fusão, cisão, incorporação e temas correlatos. São Paulo: Quartier Latin, 2003, p. 79.
3
No capítulo I desse trabalho, serão apontados os doutrinadores que defendem cada uma dessas
correntes.
4
ZILVETI, Fernando Aurelio. O princípio da realização da renda. In: SCHOUERI, Luís Eduardo
(coord.). Direito tributário – homenagem a Alcides Jorge Costa. São Paulo: Quartier Latin, 2003.
vol. I, p. 298.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
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5
No capítulo II desse trabalho, serão indicados os acórdãos julgados pelo Carf objeto de análise.
6
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 117.
7
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. Tomo II: arts. 243 a 300. 5.
edição, revista e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2014. vol. 4, p. 175. Ainda, conforme previsto no
§ 2º do art. 252 da Lei n. 6.404/1976, uma sociedade anônima pode ser convertida em subsidiária
integral mediante aquisição, por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou mediante a in-
corporação de ações.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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8
LSA, art. 252, § 2º.
9
LSA, art. 252, § 2º.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
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10
PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Sociedades coligadas, controladoras e controladas. In: LAMY
FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões (coord.). Direito das companhias. Rio de Janeiro:
Forense, 2009. vol. 2, p. 1993.
11
Para Modesto Carvalhosa, “na incorporação de ações, há uma falsa incorporação, dado que, por
meio da operação de incorporação de ações de que trata o artigo 252 da LSA, não se incorpora
uma sociedade em outra. A incorporada subsiste como pessoa jurídica, ou seja, como sociedade
mercantil de direito privado” (CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas.
Tomo II: arts. 243 a 300. 5. edição, revista e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2014. vol. 4, p.175)
12
Para Edmar Oliveira Andrade Filho, “o aumento de capital é um meio para a realização de um
fim (a incorporação das ações), de modo que o sócio que entrega tais ações e adquire outros títu-
los em contrapartida transfere bens em integralização do capital subscrito. Em termos práticos, a
sociedade que vier a ser a incorporadora das ações adquire todas as ações (ou o restante para
completar a totalidade, se ela já for acionista) da sociedade que vier a ser sua subsidiária integral;
essa aquisição é feita mediante o recebimento por conferência das ações ou quotas em subscrição
de aumento de seu próprio capital.” (ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Imposto de renda das
empresas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 552)
13
De acordo com Fran Martins, conforme citado por Luís Eduardo Schoueri e Luiz Carlos de An-
drade Jr., a conversão de uma sociedade anônima em subsidiária integral, pelo negócio referido,
não passa de um aumento de capital da sociedade controladora, com a subscrição das ações desse
aumento pelos acionistas da sociedade que vai se tornar subsidiária integral, sendo que, ao invés
do pagamento em dinheiro, o pagamento pelas referidas ações é realizado mediante a entrega
das ações dos acionistas da sociedade incorporada (MARTINS, Fran. Comentários à Lei das Socie-
dades Anônimas. Rio de Janeiro: Forense, 1975. vol. 3, p. 316 apud SCHOUERI, Luís Eduardo;
ANDRADE JR., Luiz Carlos de. Incorporação de ações: natureza societária e efeitos tributários.
Revista Dialética de Direito Tributário n. 200. São Paulo: Dialética, 2012, p. 47).
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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14
Nas palavras de Alberto Xavier, “na figura da incorporação de ações o acionista não transfere
bens ou direitos de qualquer natureza, limitando-se, de modo estático e passivo (como numa
‘quase desapropriação’), a ter no seu patrimônio substituídas as ações que previamente detinha
pelas novas ações emitidas pela companhia incorporadora, ocorrendo um fenômeno de sub-roga-
ção real” (XAVIER, Alberto. Incorporação de ações: natureza jurídica e regime tributário. In:
CASTRO, Rodrigo R. Monteiro; ARAGÃO, Leandro Santos (coord.). Sociedade anônima: 30 anos
da Lei 6.404/76. São Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 140).
15
PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Sociedades coligadas, controladoras e controladas. In: LAMY
FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões (coord.). Direito das companhias. Rio de Janeiro:
Forense, 2009. vol. 2, p. 1994.
16
EIZIRIK, Nelson. Incorporação de ações: aspectos polêmicos. In: WARDE JR., Walfrido Jorge
(coord.). Fusão, cisão, incorporação e temas correlatos. São Paulo: Quartier Latin, 2003, p. 89/90.
17
EIZIRIK, Nelson. Incorporação de ações: aspectos polêmicos. In: WARDE JR., Walfrido Jorge
(coord.). Fusão, cisão, incorporação e temas correlatos. São Paulo: Quartier Latin, 2003, p. 80/88.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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18
EIZIRIK, Nelson. Incorporação de ações: aspectos polêmicos. In: WARDE JR., Walfrido Jorge
(coord.). Fusão, cisão, incorporação e temas correlatos. São Paulo: Quartier Latin, 2003, p. 80/88.
19
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 16. Nesse
mesmo sentido, de acordo com Fernando Aurelio Zilveti, “O princípio da realização da renda,
pouco estudado na doutrina brasileira, tem grande importância para a realização da justiça fis-
cal, representa uma garantia para o respeito à capacidade contributiva do cidadão e para a igual-
dade na tributação [...].” (ZILVETI, Fernando Aurelio. O princípio da realização da renda. In:
SCHOUERI, Luís Eduardo (coord.). Direito tributário – homenagem a Alcides Jorge Costa. São
Paulo: Quartier Latin, 2003. vol. I, p. 298)
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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20
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 19.
21
OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do Imposto de Renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008.
vol. 1, p. 373.
22
PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Imposto sobre a renda – pessoas jurídicas. Rio de Janeiro: Justec,
1979. vol. I, p. 279.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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23
De acordo com Brandão Machado, o disposto nos incisos I e II do art. 43 do CTN “consagra o
entendimento de que renda é um acréscimo patrimonial produzido pelo capital ou pelo trabalho
ou por ambos em conjunto, e que proventos são acréscimos derivados de qualquer origem” (MA-
CHADO, Brandão. Breve exame crítico do art. 43 do CTN. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva
(coord.). Imposto de renda: conceitos, princípios e comentários. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1996, p.
100).
24
MACHADO, Brandão. Breve exame crítico do art. 43 do CTN. In: MARTINS, Ives Gandra da
Silva (coord.). Imposto de renda: conceitos, princípios e comentários. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1996,
p. 100.
25
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 104.
26
ROCHA, Paulo Victor Vieira da. A competência da União para tributar a renda, nos termos do art. 43
do CTN. Revista Direito Tributário Atual vol. 21. São Paulo: IBDT, 2007, p. 309.
27
OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do Imposto de Renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008.
vol. 1, p. 373.
28
SCHOUERI, Luís Eduardo. O conceito de renda e o art. 43 do CTN: entre disponibilidade e
econômica e disponibilidade jurídica. In: ELALI, André; ZARANZA, Evandro; SANTOS, Kalli-
na Flôr dos (coord.). Direito corporativo. São Paulo: Quartier Latin, 2013, p. 350.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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29
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 108.
30
OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do Imposto de Renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008.
vol. 1, p. 372.
31
CARRAZZA, Roque Antonio. Imposto sobre a renda: perfil constitucional e temas específicos. 2.
ed., rev. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 41.
32
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 113.
33
SILVEIRA, Ricardo Maitto da. O princípio da realização da renda no direito tributário brasileiro.
Revista Direito Tributário Atual vol. 21. São Paulo: Dialética e IBDT, 2007, p. 340.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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o direito incontestável a este ingresso, ainda que ele não ocorra [...]”34. Ainda nes-
se particular, Victor Borges Polizelli afirma que “[...] o recebimento efetivo e físico
não é necessário para se satisfazer o requisito de realização. Se o contribuinte tem
controle sobre o valor, ele será considerado para fins de tributação”35.
Diante disso, importante verificar se eventual ganho de capital decorrente
da incorporação de ações constitui renda tributável, com base no princípio da
realização da renda.
34
SCHOUERI, Luís Eduardo; ANDRADE JR., Luiz Carlos de. Incorporação de ações: natureza
societária e efeitos tributários. Revista Dialética de Direito Tributário n. 200. São Paulo: Dialética,
2012, p. 62.
35
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 205.
36
CARF. Acórdão n. 9202-003.579. 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais. Rel. Maria
Helena Cotta Cardozo. Processo n. 10680.726772/2011-88. Sessão 03.03.2015.
37
Cite-se, ainda, o Acórdão n. 2202.002.187. 2ª da Câmara da 2ª Turma Ordinária, julgado em
20.02.2013, no qual o Carf também entendeu pela inexistência de fato gerador do imposto de
renda na incorporação de ações envolvendo pessoa física (CARF. Acórdão n. 2202.002.187. 2ª Câ-
mara da 2ª Turma Ordinária. Rel. Conselheiro Nelson Mallmann. Processo n. 10680.726772/2011-
88. Sessão 20.02.2013).
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
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Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
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38
Acórdão n. 2201.006.281, proferido pela 2ª Câmara da 1ª Turma Ordinária do Carf, Rel. Conse-
lheiro Francisco Nogueira Guarita, processo n. 10950.723815/2013-16, julgado na sessão de
05.03.2020. Acórdão n. 9202.008.371, prolatado pela 2ª Turma do Conselho Superior de Recursos
Fiscais, Rel. Conselheira Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, processo n. 10880.722426/2014-17,
julgado na sessão de 21.11.2019. Acórdão n. 2401-006.662, da 4ª Câmara da 1ª Turma Ordinária
do Carf, Rel. Conselheira Andréa Viana Arrais Egypto, processo n. 10280.720108/2017-23, julga-
do na sessão de 04.06.2019. Acórdão n. 2301.005.847 da 3ª Câmara da 1ª Turma Ordinária do
Carf, Conselheiro Rel. Antônio Sávio Nastureles, processo n. 10183.722586/2016-95, julgado na
sessão de 14.02.2019. Acórdão n. 2401005.876 da 4ª Câmara da 1ª Turma Ordinária do Carf, Rel.
Conselheiro José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, processo n. 10580.728692/2016-08, julgado
na sessão de 04.12.2018. Acórdão n. 2202-003.962, da 2ª Câmara da 2ª Turma Ordinária do Carf,
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
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Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
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42
CARF. Acórdão n. 2201.006.281. 2ª Câmara da 1ª Turma Ordinária. Rel. Conselheiro Francisco
Nogueira Guarita. Processo n. 10950.723815/2013-16. Sessão 05.03.2020.
43
CARF. Acórdão n. 2201.006.281. 2ª Câmara da 1ª Turma Ordinária. Rel. Conselheiro Francisco
Nogueira Guarita. Processo n. 10950.723815/2013-16. Sessão 05.03.2020.
44
CARF. Acórdão n. 9202.008.371. 2ª Turma do Conselho Superior de Recursos Fiscais. Rel. Rita
Eliza Reis da Costa Bacchieri. Processo n. 10880.722426/2014-17. Sessão em 21.11.2019.
45
CARF. Acórdão 9202-005.533. 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais do Carf, Rel.
Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos, processo n. 10580.728692/2016-08. Sessão em
27.06.2017.
46
CARF. Acórdão n. 9202-003.579, fl. 1.303 e ss.
47
CARF. Acórdãos n. 9202-008.371, 2401-006.662, 2301-005.847 e 9202-005.534.
48
Cite-se, nesse sentido, os acórdãos n. 9202-008.371, 2401-006.662, 2301005.847 e 9202-005.534.
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49
CARF. Acórdão n. 2301-005.847, fl. 3870.
50
O voto de qualidade foi extinto pelo art. 28 da Lei n. 13.988, de 14 de abril de 2020, que inclui o
art. 19-E na Lei n. 10.522, de 19 de julho de 2002, nos termos do qual: “art. 19-E. Em caso de
empate no julgamento do processo administrativo de determinação e exigência do crédito tribu-
tário, não se aplica o voto de qualidade a que se refere o § 9º do art. 25 do Decreto n. 70.235, de
6 de março de 1972, resolvendo-se favoravelmente ao contribuinte”.
51
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 166/167.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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Na incorporação de ações, todos os atos previstos no art. 252 da LSA têm por
finalidade única e exclusivamente a conversão de uma companhia em subsidiária
integral. Dentre as obrigações elencadas no art. 252 da LSA para consecução
dessa operação, pode-se afirmar que há, de um lado, a obrigação da diretoria da
companhia cujas ações serão incorporadas de subscrever o aumento de capital da
companhia incorporadora, por conta de seus acionistas, e, de outro, a obrigação
da companhia incorporadora de entregar as ações que couberem aos acionistas
da companhia incorporada em substituição às ações que esses acionistas deti-
nham anteriormente.
Efetivado esse procedimento e assumindo-se que todos os requisitos previs-
tos pelo art. 252 da LSA foram preenchidos, reputa-se preenchido o critério em
análise.
52
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 169.
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
à Luz do Princípio da Realização da Renda.
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53
Ainda nas palavras da autora, “[...] a riqueza a ser tributada na pessoa física há de ser nova, acres-
cida e realizada financeiramente, percebida, como determina a lei, em pecúnia ou em algo que a
ela equivalha. Qualquer outra escolha, por parte da autoridade, em operações de incorporação
de ações, assim como na permuta, afasta-se da lei e por isso é questionável [...].” (BIFANO, Elidie
Palma. Efeitos fiscais, na pessoa física, da permuta e da incorporação de ações. O direito tributário:
entre a forma e o conteúdo. São Paulo: Noeses, 2014, p. 356)
PEREIRA, Maria Eliana. Os Efeitos Fiscais da Incorporação de Ações envolvendo Pessoa Física
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DOUTRINA NACIONAL 219
cionais, pois renda que se tributa é aquela que decorre primordialmente da ex-
ploração do patrimônio empresarial”54.
No caso da incorporação de ações, compartilha-se do entendimento de Luís
Eduardo Schoueri e Luiz Carlos de Andrade, segundo o qual caso essa operação
seja realizada entre partes independentes ou o valor das ações reflita valores con-
sistentes com a prática de mercado, esse requisito estará preenchido55.
54
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 173.
55
SCHOUERI, Luís Eduardo; ANDRADE JR., Luiz Carlos de. Incorporação de ações: natureza
societária e efeitos tributários. Revista Dialética de Direito Tributário n. 200. São Paulo: Dialética,
2012, p. 63.
56
PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Imposto sobre a renda – pessoas jurídicas. Rio de Janeiro: Justec,
1979. vol. I, p. 281.
57
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 174.
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à Luz do Princípio da Realização da Renda.
Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
220 REVISTA DIREITO TRIBUTÁRIO ATUAL nº 55
58
LSA, art. 137, II, (a).
59
PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Sociedades coligadas, controladoras e controladas. In: LAMY
FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões (coord.). Direito das companhias. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 267.
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à Luz do Princípio da Realização da Renda.
Revista Direito Tributário Atual n. 55. ano 41. p. 202-224. São Paulo: IBDT, 3º quadrimestre 2023.
DOUTRINA NACIONAL 221
controle sobre o valor, ele será considerado para fins de tributação”60. Ainda nos
dizeres do doutrinador61:
“Se o sistema tributário previsse que a renda deveria ser reconhecida apenas
mediante o recebimento real e físico do valor, os contribuintes seriam capazes
de, em diversas situações, controlar o aspecto temporal do reconhecimento
da renda e consequentemente, a obrigação tributária relativa a esta renda
[...].”
No caso da incorporação de ações, entendemos que o acionista não tem con-
trole sobre o valor das ações recebidas em razão da incorporação de ações, o que
há, nesse caso, é uma mera presunção de ganho, que só se realizará (caso se rea-
lize) no momento da alienação das ações.
Conclusões
Em vista das considerações apresentadas no presente trabalho, é possível
afirmar que:
i) a incorporação de ações é instituto próprio do direito societário, que
tem por objetivo transformar uma companhia brasileira em subsidiária
integral.
ii) a análise dos efeitos fiscais da incorporação de ação requer a análise de
cada caso concreto, a fim de verificar se estão presentes os elementos ca-
racterizadores do princípio da realização da renda, de modo que a renda
seja tributada quando de sua efetiva aquisição.
iii) da análise dos quatro pressupostos necessários para a concretização do
princípio da realização da renda – (a) conversão em direitos que acresçam
ao patrimônio; (b) troca no mercado; (c) cumprimento das obrigações; e
(d) mensurabilidade, liquidez e certeza – depreende-se na incorporação
de ações, não há realização da renda, logo, não há fato gerador do impos-
to sobre a renda.
iv) parece-nos que o entendimento que tem prevalecido no Carf no senti-
do de que o ganho de capital decorrente da incorporação de ações está
sujeito à tributação pelo imposto sobre a renda desconsidera os cenários
apontados acima, não estando em consonância com o princípio da reali-
zação da renda. Ao entender que o imposto sobre a renda incide nos casos
60
POLIZELLI, Victor Borges. O princípio da realização da renda e sua aplicação no imposto de renda de
pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 205.
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pessoas jurídicas. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Econômico e
Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, p. 207.
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