Apostiladafamilia Auladeadoção
Apostiladafamilia Auladeadoção
FAMÍLIA:
UM BEM OU UM MAL NECESSÁRIO
1
Nascida Marie Josephine de Suin, titulada Condessa Diane de Beausacq, foi uma escritora francesa do
século XIX que assinava sob o pseudônimo de Condessa de Diane.
2
Presença de características primitivamente larvais ou embrionias (juvenis) em um organismo adulto.
3
Divindade que personifica a alma humana.
4
Por se tratar de uma época em que os seres humanos se destacaram dos demais animais por produzirem
artefatos em pedra lascada.
4
era praticamente impossível alimentar e criar filhotes, se proteger e buscar sua própria
sustentação. Se o núcleo básico natural era mãe e filho, a sobrevivência de tal núcleo requeria
outros que auxiliassem a conservação da vida da própria relação. Temos, então, aí o princípio
rústico e fundamental do que hoje chamamos de família: grupo social primário de sobrevivência.
Neste sentido podemos considerar que a família é um fenômeno universal proveniente da
fragilidade da própria condição humana, embora as organizações familiares possam e mudem
de cultura para cultura, de momento histórico para momento histórico. A família, portanto, é
tanto um acontecimento universal (base biológica) quanto sociocultural.
5
Ed. 70 (Portugal), 2009.
6
Ed. Presença, 1974.
5
Observa-se, com o desenho acima, que a definição do átomo do parentesco teve seu
eixo modificado com a introdução de outro homem (triângulo à direita), representando a aliança
como elemento fundante do parentesco. Neste tocante Lévi-Strauss desnaturaliza a base
familiar (afasta-se do puramente biológico) incluindo o representante masculino de outro grupo
(clã), tendo a fêmea um significado de troca em busca do fortalecimento de um clã ao se aliar
com outro clã. Na luta evolutiva pela sobrevivência esse arranjo entre clãs fortaleceu quem
assim o fez, criando-se dessa forma a relação de afinidade, além da consanguinidade. Para o
referido antropólogo é mediante a troca de mulheres que se dá a ligação dos elementos sociais
do parentesco. Neste sentido a constituição da família deixa de ser meramente um fenômeno
biológico e passa a ser também cultural ao pressupor a existência prévia de dois grupos (clãs)
que se aliam através do casamento fora de seu próprio grupo, isto é, transcende-se da
endogamia à exogamia8. Com isso Strauss reconhece que o parentesco envolve relações além
da consanguinidade que são as relações de afinidade (aliança).
Segundo, portanto, a Antropologia Estruturalista, o casamento interrompe a
naturalização da relação mãe-filho ao estabelecer a figura do pai, assim como as regras de
acasalamento instituem o tabu do incesto (relação sexual entre pais e filhos e entre irmãos).
Ambos, o tabu ao incesto e o casamento entre clãs (exogamia) estabelece, pois, o império do
7
Ed. Vozes, 1980.
8
Endogamia (endo = dentro, gamia = casamento) significa acasalamento entre indivíduos do mesmo
grupo familiar biológico (consanguinidade), enquanto exogamia (exo = fora, gamia = casamento) significa
acasalamento entre indivíduos fora do grupo familiar, isto é, entre indivíduos não aparentados pela
consanguinidade.
6
sociocultural sobre o biológico. Vide o artigo O Tabu do Incesto e os Olhares de Freud e Levi-
Strauss, de Andrea Mello Pontes9.
A formação da família e sua evolução histórica ao longo dos tempos se confundem com
a história do próprio ser humano. Não há ser humano sem alguém que lhe cuide na infância.
Não há relação humana entre quem cuida e quem é cuidado que não haja em seu entorno
alguém, ou grupo de alguéns, que lhe cuide, proteja, auxilie e tome conta. Família, como grupo
de pessoas que se incumbe da criação da prole ou ninhada, é intrinsicamente tão natural,
biológico e ao mesmo tempo tão humano quanto inescapável. Para o bem ou para o mal a
família é sempre necessária, básica, fundamental, vital e necessária.
9
Disponível in:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/dezembro2013/sociologia_artigos/pontes_artig
o.pdf
10
Vem daí a expressão jurídica moderna de pátrio poder. O Código Civil Brasileiro de 2002 modificou a
expressão para poder familiar.
7
Para uma visão mais ampliada da evolução da família ao longo da história humana
sugerimos o texto Transformações da Família na História do Ocidente, da socióloga e professora
universitária portuguesa Maria Engrácia Leandro11.
11
Disponível in: https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/12875/1/leandro.pdf.
12
Escritor francês do século XIX, cujas obras figuram como as mais importantes da literatura, entre elas A
Divina Comédia, A Mulher de Trinta Anos e As Ilusões Perdidas.
8
A socióloga e pesquisadora social argentina Elizabeth Jelin, em seu livro Pan y Afectos15,
explica que “la unidad familiar no es um conjunto indiferenciado de indivíduos. Es una
organización social, un microcosmos de relaciones de producción, de reproducción y de
distribución, con una estructura de poder y con fuertes componentes ideológicos y afectivos que
cementam essa organización y ayudan a su persistência y reproducción” (pág. 26). Assim, o
ambiente doméstico da família é um foro privilegiado e legítimo para expressar tanto as
13
Filósofo e escritor francês, um dos mais marcantes pensadores do século XX.
14
Ed. Artes Médicas, 1996.
15
Ed. Fondo de Cultura Económica de Argentina, 1998.
9
16
Em termos de funcionalidade é esperado que a família seja um espaço gerador de afetos (alimentos
afetivos); que proporcione proteção, segurança e aceitação pessoal; dê apoio emocional e material e que
atenda às necessidades básicas humanas; que propicie estabilidade e socialização.
17
O que nos interessa, psicologicamente, são os afetos e como eles circulam e se interagem no seio do
ambiente interpessoal familiar. Psicologia é, acima de tudo, o estudo dos afetos e dos desejos, entre
outras coisas. Por isto não devemos desconsiderar o chamado “parentesco sócio afetivo”, como é o caso,
por exemplo, dos “irmãos de criação” e de pessoas que nas quais temos tanta vinculação afetiva que as
consideramos como uma “mãe” ou como um “irmão”.
10
Família não é apenas um conjunto de pessoas, mas sim uma estrutura. Tal estrutura
é representada pela forma como se organiza o grupo e como interagem entre si seus membros.
E é neste conjunto invisível de exigências e funções que tanto se organiza as relações
socioafetivas de seus membros quanto se forma a personalidade individual e se influencia a
personalidade de cada um. A família, psicologicamente falando, é o pilaste de sustentação do
sujeito humano.
A família tem, pois, como função primordial contribuir para a saúde física e mental dos
indivíduos nela habitantes, principalmente às crianças que junto ao seio familiar estão se
desenvolvendo. De um modo geral a família é o primeiro grupo social da criança, razão pela qual
ela (família) assume a socialização primária do infante, bem como seu fundamental papel que é
o da afetividade. Um bebê, por exemplo, não necessita apenas de proteção e nutrientes, mas
também de afetos e cultura. E, como veremos mais adiante, a família desempenha esta essencial
função psicossocial que é a de intermediar a criança e a sociedade.
18
Ed. Saraiva, 2002.
19
Dramaturgo inglês, que viveu entre os anos 1564-1616, considerado o maior escritor da língua inglesa
e o mais destacado dramaturgo da história do teatro.
11
O NUCLEO DA FAMÍLIA
Em termos antropológicos vimos que a família natural é aquela constituída pela fêmea
e sua prole (mãe e filhos). Porém em termos biopsicossocial a família é mais ampla, contendo
outros membros (parentes). Nesta lógica o núcleo21 de uma família em sua totalidade de
parentesco (família nuclear) é o conjunto de mãe-pai-filho(s).
A família nuclear nestes termos é a também chamada família tradicional, família
burguesa ou família simples. Em sua forma mais elementar a família nuclear é especificada como
um casal com filho(s). Mais precisamente um casal com filho(s) morando sob o mesmo teto.
Embora o conceito de família nuclear (pais e filhos na mesma casa) não seja mais
suficiente para os dias atuais22, devido inclusive a diversos novos arranjos domésticos, ainda há
algo de idealizado e expectado em sua formatação. Como escreve a psicóloga e doutora em
Psicologia Social, Adriana Wagner, no âmbito das diversas mudanças sociais surgidas nas
décadas recentes, pode-se dizer que “a pluralidade de arranjos familiares pode ser considerada
como uma das características mais marcantes destes novos tempos: divórcio, recasamentos,
uniões homoafetivas, adoção, pais e mães solteiros, poliamor, entre tantas outras, são
configurações relacionais que têm aparecido e passam a conviver com o modelo tradicional da
família nuclear. Esse cenário acaba por demandar uma postura mais flexível, que permita
integrar novas formas de ser família23”.
A família frequentemente idealizada corresponde a uma família harmônica e coesa, vista
como um lugar de refúgio e paz. Tal família platônica e pura encontra eco nas famílias dos
comerciais televisivos, a chamada família margarina. A “verdadeira” família feliz de que tanto
falou o russo Leon Tolstói. Todavia, a família nuclear idealizada (pais e filhos sempre felizes) não
20
Escritor e humorista, autor de livros como O Analista de Bagé e A Velhinha de Taubaté.
21
Em termos celulares o núcleo é a região da célula onde se encontra o material genético (DNA) dos
organismos. Por extensão, o núcleo é o elemento que ocupa a posição central de uma estrutura.
22
Segundo o Censo 2010 do IBGE, 16% das famílias brasileiras têm formação não tradicional. Verifica-se,
cada vez mais, a elevação no número de famílias monoparentais, unitárias (pessoa sozinha), diádicas
(casal sem filhos, também denominadas de família nuclear incompleta), recompostas ou recasadas, etc.
23
Desafios Psicossociais da Família Contemporânea: pesquisas e reflexões, págs. 99/100, ed. Artmed,
2009.
12
24
A Mulher do Pai: essa estranha posição dentro das novas famílias, ed. Summus, 2007.
25
Um dos maiores escritores da literatura universal, autor do clássico romance Guerra e Paz. A frase citada
é a abertura do seu livro Anna Karenina, provavelmente a mais famosa abertura literária de todos os
tempos.
13
unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive
e mantém vínculos de afinidade e afetividade. A família extensa é ainda comum em regiões
rurais e menos nos grandes centros urbanos onde predomina a família nuclear e a família
monoparental.
Outro termo bastante empregado na literatura específica sobre o estudo das famílias é
o de família ampliada. A família ampliada representa a família alargada além dos limites de
coabitação. Exemplo: um tio que não mora com um sobrinho faz parte da sua família ampliada.
A expressão família ampliada, portanto, agrega o conjunto dos parentes (parentela)26.
26
Denomina-se ainda família de origem. Família de origem é a antiga família nuclear do filho(a) quando
este(a) não mora mais lá. Também existe a chamada família binuclear, sendo esta oriunda do divórcio
onde os filhos possuem, assim, dois lares, quando os pais permanecem corresponsáveis pelos cuidados
parentais. Existe ainda, porém sem amparo legal, o que se convencionou denominar de família
poliafetiva, que ocorre entre pessoas que mantém simultaneamente relações de afeto paralelas com dois
ou mais indivíduos que se conhecem e se aceitam uns aos outros,
27
Poeta satírico italiano do século XIX.
14
Centremos nossa atenção na família nuclear tradicional: casal com filho(s). Como grupo
social a família nuclear tem seus papéis sociais. O papel social é definido como um conjunto de
normas e expectativas que condicionam o comportamento dos indivíduos pertencentes ao
grupo, não tanto em conformidade com as características pessoais de cada indivíduo, mas pelo
que se espera de quem ocupa determinada posição social. Sociologicamente falando o papel
social é aquilo que se espera de alguém que tem um estatuto social. Neste sentido se pode dizer
que o papel social tem o status do papel e o exercício ou desempenho do mesmo (função).
O papel social é um conceito da Sociologia que, de maneira geral, determina a posição
e função dos indivíduos na sociedade. Cada papel social agrupa um conjunto de normas, regras,
comportamentos e deveres de cada indivíduo na estrutura social a que pertencem.
Podemos distinguir no papel social status e função. Quem, por exemplo, exerce o papel
social de professor detém um status: o status de ser professor. Quem exerce o papel social de
professor empreende a função de ser professor que é o de ensinar e educar. Todavia nem
sempre status e função atuam juntos. Expliquemos melhor. Há professor que embora possua o
status e a representação social de ser professor não funciona bem como professor, às vezes tem
aquele que nem funciona. Também existem pessoas, um amigo, por exemplo, que mesmo não
sendo professor pode funcionar em alguns momentos pode funcionar como um professor ao
seu companheiro. O mesmo acontece com outros papéis sociais. Tem gente que não é
psicoterapeuta, mas que em determinadas circunstâncias funciona terapeuticamente para
alguém. Assim como tem pessoas que são habilitadas ao exercício de psicoterapeuta, mas que
não está funcionando como tal. Quem já não disse em algum momento para seu cônjuge ou
parceiro(a) amoroso(a) expressões do tipo eu não sou sua mãe. Evidente que o(a) parceiro(a)
amoroso(a) não está vendo o outro como mãe, mas está se comportando como se fosse um
filho e demando do outro uma função materna. Mais do que status, para o desempenho do
papel a função se faz fundamental. Quando em um dado papel social o status e a função estão
incongruentes, dependendo das razões, podemos chamar de disfuncionalidade.
Em uma família nuclear são até quatro os papéis sociais existentes, a saber:
Conjugal
Parental
Filial
Fraternal.
28
Filósofo que viveu o período clássico da Grécia Antiga em torno dos anos 427-347 aproximadamente.
Conjuntamente Sócrates e Aristóteles fundou a filosofia ocidental.
15
O papel conjugal, que está relacionado ao casal, transcende ao ato de casar ou de uma
pessoa se unir à outra. Duas pessoas casadas, ou que moram juntas, formam um casal enquanto
status. Porém, há de se ver se funcionam como um casal. De antemão destaquemos que uma
relação conjugal traz a expectativa que a parceria se estabeleça através de laços sexuais e
afetivos, provenientes do desejo de compartilharem juntos a vida, independente de terem ou
não filhos, bem como de ser esta união institucionalmente formalizada ou não.
O papel conjugal pressupõe a interdependência entre seus membros e o exercício de tal
interdependência envolve, por sua vez, compreensão, cooperação, compartilhamento,
competição, cumplicidade e mutualidade. O papel conjugal não deve se confundir com o papel
parental (cuidar de filhos), embora na esfera da conjugalidade possa residir a reprodução.
Conjugalidade é uma coisa. Parentalidade é outra.
A psicóloga e professora portuguesa Ana Paula Relvas afirma que um casal surge quando
dois indivíduos se comprometem numa relação que pretendem que se prolongue no tempo.
Incontestável que a conjugalidade tem a ver com a díade conjugal.
Socialmente a família nuclear tem seu início na formação da díade conjugal. O que se
espera para um bom funcionamento conjugal é que os indivíduos envolvidos se comprometam
a estabelecer e manter uma relação estável e duradoura. Para tal é necessário que consigam se
adaptar e se complementar mutuamente. É uma verdadeira negociação a dois. Uma
contratualidade entre dois indivíduos distintos e suas subjetividades.
29
Poeta e escritor mineiro.
16
Já paternidade tem outra e distinta função. A função paterna representa "soltar" o filho
para o mundo. Soltar aqui está entre aspas exatamente por não significar largar, mas sim ajudá-
lo a andar com suas próprias pernas até não mais necessitar de pais para viver e/ou lidar com
seus conflitos existenciais. Assim sendo, considerando que a função materna é simbolizada pelo
colo, a função paterna é "tirar" do colo e ajudá-lo a prosseguir por seus próprios meios a estrada
e o mundo a fora. Por isto que se diz que o papel paterno é dessimbiotizante, ou seja, se entrepor
psicologicamente entre o filho e a mãe, dando curso ao processo de individuação da criança em
crescimento.
É normal que a primeira relação humana de um indivíduo humano seja este com sua
mãe (biológica ou substituta). Para o bebê esta é uma relação puramente simbiótica. Simbiose
é uma metáfora biológica que utilizamos em Psicologia para descrever a situação de
dependência emocional. Essa dependência emocional, que Winnicott chamava de dependência
absoluta, é absolutamente normal nas etapas iniciais da vida humana, porém quanto mais o
30
Escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira. É considerada uma das mais importantes
escritoras do século XX. Autora de obras-primas como A Paixão Segundo G.H., Uma Aprendizagem ou o
Livro dos Prazeres, A Hora da Estrela, entre outras.
17
bebê deixa de ser bebê ela começa a passar a não ser mais saudável. A simbiose normal31 caso
perdure para além da fase lactente é psicopatológica.
O corte do cordão umbilical representa de fato a separação física e biológica entre o
neonato e o corpo materno. Já a separação psicológica (processo de separação e individuação32)
é um processo gradual e a posteriori.
A função paterna não é um papel atado ao exercício por uma criatura biologicamente
macho (homem). Trata-se de uma função, e como tal ela se realiza na triangulação dos papéis
funcionais mãe-pai-filho. Talvez seja melhor dizer mãe-filho-pai. É uma dinâmica processual e
interpessoal que se trama naquilo que se convencionou denominar de Complexo de Édipo33.
Para o narcisismo infantil primário a percepção da existência do objeto materno (mãe)
é o primeiro ”não-eu” da vida de uma criança. Já o entendimento da função do objeto paterno
(pai) é o primeiro “não-mãe” da vida de uma criança. Assim o pai representa o surgimento da
cena psíquica simbiótica como um terceiro elemento distinto que resulta em separação a idílica
fantasia infantil de que se tem a mãe só para si. A mãe pode amar seu filho, mas também ama
outra coisa ou objeto que não somente ele. Esta outra coisa ou objeto, é retratado na linguagem
psicanalítica como figura paterna (pai).
Vemos isso ser retratado nos espaços publicitários, como, por exemplo, nos dias da mãe
e do pai. No dia das mães é comum encontramos representações de uma mãe (mulher)
segurando seu bebê (colo). Já no dia dos pais é frequente encontramos representação de um
pai (homem) segurando seu filho por uma das mãos com uma estrada pela frente.
Simbólica e representativamente falando a figura paterna (função) é o corte do cordão
umbilical psicológico (narcísico) entre o psiquismo do bebê e sua mãe. Em termos figurados é
um interdito ao incesto simbiótico dos primeiros tempos de vida.
31
Expressão usada pela médica e psicanalista húngara radicada nos EUA, Margaret Mahler, para designar
à fase desenvolvimental onde o bebê vive com sua mãe uma espécie de prolongamento do seu corpo. É
como se fosse uma cápsula (mãe-bebê) onde nada mais existe à sua volta.
32
Individuação é o processo que encaminha o sujeito rumo a sua identidade, singularidade e autonomia.
33
Expressão criada por Freud para designar uma etapa do desenvolvimento psicossexual da criança que
é quando ela começa a perceber que não é o centro do universo e nem tudo para sua mãe. É quando a
criança realmente começa a perceber a importância do pai, neste caso como objeto de amor do objeto
materno.
34
Poeta e escritor carioca falecido em 2005.
18
35
Pastor e escritor estadunidense do século XIX.
36
Lembremos, à guisa de exemplificação, que os primeiros irmãos bíblicos foram Caim e Abel.
37
Artigo Rivalidade Fraterna: uma proposta de definição conceitual, disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/115536.
38
Psicologia em Revista , v. 13, n. 2, p. 293-308, dez. 2007.Disponível in:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682007000200006.
19
39
Considerado um dos maiores nomes da poesia brasileira no século XX. Seu mais conhecido e celebrado
poema é No Meio do Caminho (No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do
caminho...”).
40
Escritor francês do século XVII.
20
Tudo que é vivo um dia nasceu e um dia perecerá. Nada é para sempre. A eternidade
não pertence ao ser humano, ao menos enquanto ser biopsicossocial. Como expressou certa vez
o escritor português José Saramago, a eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e
o Universo não saberá que nós existimos.
Não existe mais a civilização Asteca ou a Maia, nem os sumérios ou os acácios, nem
também existe mais o Império Romano. As coisas humanas podem durar anos, décadas, séculos
ou até milênios, mas um dia acaba. Tudo que hoje é vivo um dia nasceu, cresceu ou crescerá,
floresceu ou florescerá, decaiu ou decairá, e morrerá. Tudo finda. Tudo acaba. Como nos versos
finais do poema Evocação ao Recife, de Manuel Bandeira42, “Recife.../Rua da União/A casa do
meu avô.../Nunca pensei que ela acabasse!/Tudo lá parecia impregnado de
eternidade./Recife.../Meu avô morto./Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro/como a casa
do meu avô.”
O que tem começo tem fim, lembrava-nos o pensador italiano Nicolau Maquiavel43.
Tanto o ser humano enquanto indivíduo, quanto os agrupamentos de humanos como a família.
Em termos ampliados é difícil muitas vezes identificar o início de uma determinada
família. Porém é bem mais fácil no tocante à família nuclear. Considerando que a família nuclear
(pais-filhos) é aquele conjunto ou estrutura familiar baseada no casal com filhos, podemos dizer,
então, que o início de uma família nuclear (tradicional) se faz com a formação do casal
(casamento), cresce com o nascimento dos filhos, floresce com o crescimento destes, decresce
com a saída dos filhos de casa e termina com a morte do último cônjuge. O nascimento, o
crescimento, o florescimento, o decrescimento e a morte da família nuclear é o que chamamos
de ciclo de vida familiar, ou, mais precisamente, o ciclo de vida da família nuclear.
Sim, em termos de uma família fundada na conjugalidade para a criação da prole, a
família nuclear começa na formação do casal conjugal. Todavia tal constatação se faz no sentido
concreto e social. Em termos psicoafetivos a família nuclear tem seu início antes do casamento
ou formação do casal. No tocante à afetividade, psicologicamente falando, o casal que fundará
socialmente a família nuclear se início a partir da forma como cada cônjuge individualmente
iniciou sua saída afetiva de casa, ou seja, da sua família de origem.
41
Escritor português, prêmio Nobel de Literatura de 1998.
42
Poeta, crítico literário e professor de Literatura. Autor de um dos poemas mais conhecido da literatura
brasileira, Vou-me Embora para Pasárgada.
43
Viveu entre os anos de 1469-1527. Denominado de “pai da ciência política moderna”.
21
Socialmente falando uma família nuclear45 nova começa quando da formação do novo
casal. O casamento, ou a união conjugal, não somente forma um novo casal, mas também
representa a união entre duas famílias. Engana-se aqueles que acham que um casamento é uma
coisa fácil. Casar pode até ser fácil, todavia continuar casado requer inúmeras tarefas
adaptativas que o casal terá pela frente na formação e consolidação do sistema marital.
Um casamento requer que duas pessoas renegociem uma gama de questões, boa parte
delas advindas das famílias de origem de cada um (cultura familiar). Namoram-se anos a fio,
cinco, sete, nove, dez... porém, quando se casa (morar juntos, dividir cotidiano, despesas e
tarefas domésticas,) alguns casais não se sustentam. Entra aquela tal de “incompatibilidade de
gênios”.
E não é somente o ajustamento entre os parceiros do casal. Existe igualmente a
renegociação referente os relacionamentos com os demais da família ampliada (pais, irmãos) e
até com amigos pessoais. Como salientam Carter e McGoldrick46 que a inabilidade durante o
casamento de formar um relacionamento de casal, a partir do instante quando as duas pessoas
estão compartilhando o mesmo teto, indica que elas ainda estão muito emaranhadas com suas
próprias famílias para definirem uma nova família (novo sistema familiar). Sabe aquela
expressão popular que diz que a sogra deve ficar a uma média distância do casal, a ponto que
não fique “nem tão perto que venha de chinelos, nem tão longe para que traga uma mala”? Pois
é, a difícil arte de manter essa tal de média distância. Escrevem as referidas autoras: “os
problemas que refletem a incapacidade de mudar o status familiar são normalmente indicados
por fronteiras deficientes em torno do novo sistema. Os parentes por afinidade podem ser
intrusivos demais e o novo casal ter medo de colocar limites, ou o casal pode ter dificuldade em
estabelecer conexões adequadas com os sistemas ampliados, separando-se em um grupo
fechado de duas pessoas”.
44
Ed. Artmed, 1995.
45
Aquela que é fundada na conjugalidade.
46
Op. cit.
22
47
Psicologia: teoria e prática, v. 13, n. 1, p. 141-153, 2011, disponível in:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872011000100011&script=sci_arttext.
48
Paralelamente o processo de independência dos filhos, os próprios pais geralmente enfrentam a crise
da meia-idade, bem como os avós estão se fragilizando com o passar dos anos. Os pais, por sua vez,
começam uma nova etapa de vida que é a de começar a cuidar da geração mais velha.
49
A respeito do assunto vide: Família e Adolescência: a influência do contexto familiar no desenvolvimento
psicológico de seus membros, dos professores Elisângela Prata e Manoel Antonio dos Santos, disponível
in: http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a05.pdf.
50
Carter e McGoldrick (op. cit.) denominam de “lançando os filhos e seguindo em frente”.
23
da “perda” dos filhos. Dentro da crise do ninho vazio temos os confrontos com a finitude da
vida. Novos valores e prioridades podem surgir.
O casal agora sem filhos coabitando é um casal que se reencontra, livre das obrigações
e tarefas parentais. Sentimentos e afetos ambivalentes podem predominar, tais como liberdade
e vazio da perda. Uma nova realidade se faz presente ao casal.
51
Op. Cit.
24
de origem, melhores serão as chances de enfrentar os ciclos de vida em sua nova família de
maneira autônoma. Um filho que sai de casa emocionalmente mais maduro pode melhor
escolher o que levará emocionalmente de sua família de origem, o que não levará e aquilo que
ele construirá sozinho com seus novos parceiros afetivos.