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3

FAMÍLIA:
UM BEM OU UM MAL NECESSÁRIO

A família é um conjunto de pessoas que se defendem em bloco


e se atacam em particular.
Condessa Diane1

A família é um acontecimento inescapável ao ser humano. De alguma maneira e de


várias formas em qualquer cultura ou sociedade humana e em todo momento histórico sempre
existiu o fenômeno do grupo social denominado família. E isso ocorreu e ainda ocorre pela
própria condição e natureza humana.
O ser humano nasce despreparado à vida e à sobrevivência. Um bebê sozinho não tem
a mínima condição de subsistir se não houver alguém que lhe alimente, proteja e lhe cuide. Em
relação a outros animais e primatas, nascemos de certa forma, prematuros, isto é, surgimos à
vida extrauterina biologicamente inacabados, e não só isso: enquanto os demais animais têm
um ritmo de acabamento acelerado, o animal homem leva bem mais tempo para desenvolver a
independência e a autonomia. Levamos não apenas vários dias, semanas ou meses para alcançar
as condições pessoais de auto sustentação, porém anos para sermos capazes de atuar livres na
vida sem depender de outro adulto. E mesmo quando alcançamos a maturidade adulta ainda
conservamos características infantis, principalmente em termos psicoemocionais. A isso
chamamos de neotenia.
Neotenia é um termo utilizado pela Biologia que significa uma forma de
pedamorfose2. Não foi à toa que os gregos antigos representavam Psiquê3
alegoricamente como uma jovem donzela com asas de borboleta, isto é, que
iniciaríamos como larva, depois como lagarta rastejaríamos na terra para nos
tornarmos borboleta a flutuar na primavera de nossas vidas (maturidade).
Envelhecemos sem nunca atingimos o máximo de nossa maturidade. A
maturidade humana nunca está totalmente completa.
Devido, portanto, a nossa prolongada imaturidade inicial (necessitamos na infância de
alguém que nos cuide e proteja), é inescapável ao ser humano a presença de outros ao seu redor
para que possamos sobreviver - principalmente nas fases iniciais de nossa meninice.
No período mais antigo da Pré-História, Paleolítico, vulgarmente chamado de período
da pedra lascada4, cujo início é estimado em 2,5 milhões de anos e que durou até cerca de 10000
anos atrás, os hominídeos (antepassados do homem moderno) eram essencialmente nômades
caçador-coletores. Eram tempos inóspitos e perigosos, cuja lei da sobrevivência requeria fugir
constantemente dos predadores ou enfrentá-los. Como nascemos pré-maturos e
despreparados à sobrevivência individual, a prole requeria cuidados e alimentações (leite
materno), principalmente das fêmeas devido às suas condições biológicas e naturais. Todavia,
por sua vez, a relação frágil fêmea-cria também necessitava de proteção à sobrevivência, afinal

1
Nascida Marie Josephine de Suin, titulada Condessa Diane de Beausacq, foi uma escritora francesa do
século XIX que assinava sob o pseudônimo de Condessa de Diane.
2
Presença de características primitivamente larvais ou embrionias (juvenis) em um organismo adulto.
3
Divindade que personifica a alma humana.
4
Por se tratar de uma época em que os seres humanos se destacaram dos demais animais por produzirem
artefatos em pedra lascada.
4

era praticamente impossível alimentar e criar filhotes, se proteger e buscar sua própria
sustentação. Se o núcleo básico natural era mãe e filho, a sobrevivência de tal núcleo requeria
outros que auxiliassem a conservação da vida da própria relação. Temos, então, aí o princípio
rústico e fundamental do que hoje chamamos de família: grupo social primário de sobrevivência.
Neste sentido podemos considerar que a família é um fenômeno universal proveniente da
fragilidade da própria condição humana, embora as organizações familiares possam e mudem
de cultura para cultura, de momento histórico para momento histórico. A família, portanto, é
tanto um acontecimento universal (base biológica) quanto sociocultural.

Primitivamente o ser humano vivia em pequenos grupos denominados de clãs. Um clã


é um grupo de pessoas unidas por parentesco e linhagem, definido pela descendência de um
ancestral comum. Isso mesmo: nos primórdios da humanidade sobrevivemos formando
pequenos grupos cujo ancestral comum era a mãe, ou seja, um ajuntamento de irmãos. Tal
rudimentar estrutura social era essencialmente matrilinear, visto nossos longínquos ancestrais,
que viviam em natural promiscuidade, não saberem a participação do macho na procriação. Em
outras palavras não sabíamos da existência de um pai, e, mesmo quando soubemos,
primitivamente não sabíamos quem era o pai.
Antropologicamente se entende a descendência primitiva por meio dos vínculos
biológicos de parentesco, característicos, por exemplo, das famílias nucleares (pai-mãe-filhos).
Todavia, como bem frisa a ciência da Antropologia, a família natural é aquela constituída de
mãe-filhos, e não de pai, mãe e filhos. Por este ângulo o pai seria uma construção social, ou seja,
uma figura construída pela cultura, mais precisamente pelas regras socioculturais de
acasalamento.
Para o antropólogo polaco (um dos principais fundadores da Antropologia Social)
Bronisław Malinowski a família tem como função primordial tratar dos fatos básicos da vida, tais
como nascimento, acasalamento e morte. Tais fatos básicos são comuns aos animais, porém o
ser humano é o único animal que escolhe a forma como ele vai fazer isso. Para Malinowski o
parentesco é o concomitante cultural da necessidade natural de reprodução. Como disse ele em
seu livro Uma Teoria Científica da Cultura5, escrito na primeira década do século XX, o
casamento e a família são resultados do sistema de condições que se manifestam no organismo
humano e na relação deste com os ambientes físicos e culturais, que são necessários tanto para
a sobrevivência do organismo como do grupo social.
Pelo acima exposto, o casamento (criação cultural) é dissociado originariamente da
satisfação das necessidades sexuais, pois foi criado para legitimar prole (saber quem é o pai).
Em outras palavras, o casamento (regras de acasalamento) surgiu como uma necessidade social
de legitimar a relação com os filhos, e não para legitimar a relação entre o macho e a fêmea
(homem e mulher). Vide o clássico A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado6,
do teórico alemão do século XIX Friedrich Engels.

5
Ed. 70 (Portugal), 2009.
6
Ed. Presença, 1974.
5

Excetuando a família natural (mãe-filho) a família sociocultural tem um caráter não


natural. Isso ficou evidenciado no trabalho do antropólogo e pensador belga Claude Lévi-
Strauss, considerado o pai da Antropologia Moderna (Antropologia Estruturalista), As Estruturas
Elementares do Parentesco7. Lévi-Strauss, um dos mais importantes e influentes intelectuais do
século passado, percebeu que a estrutura mais elementar do parentesco (átomo do parentesco)
até então reconhecida era outra. O chamado “átomo do parentesco” era representado da
seguinte forma:

O sinal de igualdade ( = ) representa a relação de casamento, enquanto que o traço


vertical ( | )representa a relação de descendência. O triângulo e o círculo, por sua vez,
representam o homem e a mulher respectivamente. Por este desenho observa-se que a unidade
básica do parentesco se igualiza a unidade biológica reprodutiva macho-fêmea-prole.
A revolução proposta do Lévi-Strauss foi a de introduzir a dimensão cultural à questão.
Assim, do ponto de vista estruturalista, a unidade básica do parentesco é entendida como:

Observa-se, com o desenho acima, que a definição do átomo do parentesco teve seu
eixo modificado com a introdução de outro homem (triângulo à direita), representando a aliança
como elemento fundante do parentesco. Neste tocante Lévi-Strauss desnaturaliza a base
familiar (afasta-se do puramente biológico) incluindo o representante masculino de outro grupo
(clã), tendo a fêmea um significado de troca em busca do fortalecimento de um clã ao se aliar
com outro clã. Na luta evolutiva pela sobrevivência esse arranjo entre clãs fortaleceu quem
assim o fez, criando-se dessa forma a relação de afinidade, além da consanguinidade. Para o
referido antropólogo é mediante a troca de mulheres que se dá a ligação dos elementos sociais
do parentesco. Neste sentido a constituição da família deixa de ser meramente um fenômeno
biológico e passa a ser também cultural ao pressupor a existência prévia de dois grupos (clãs)
que se aliam através do casamento fora de seu próprio grupo, isto é, transcende-se da
endogamia à exogamia8. Com isso Strauss reconhece que o parentesco envolve relações além
da consanguinidade que são as relações de afinidade (aliança).
Segundo, portanto, a Antropologia Estruturalista, o casamento interrompe a
naturalização da relação mãe-filho ao estabelecer a figura do pai, assim como as regras de
acasalamento instituem o tabu do incesto (relação sexual entre pais e filhos e entre irmãos).
Ambos, o tabu ao incesto e o casamento entre clãs (exogamia) estabelece, pois, o império do

7
Ed. Vozes, 1980.
8
Endogamia (endo = dentro, gamia = casamento) significa acasalamento entre indivíduos do mesmo
grupo familiar biológico (consanguinidade), enquanto exogamia (exo = fora, gamia = casamento) significa
acasalamento entre indivíduos fora do grupo familiar, isto é, entre indivíduos não aparentados pela
consanguinidade.
6

sociocultural sobre o biológico. Vide o artigo O Tabu do Incesto e os Olhares de Freud e Levi-
Strauss, de Andrea Mello Pontes9.

A formação da família e sua evolução histórica ao longo dos tempos se confundem com
a história do próprio ser humano. Não há ser humano sem alguém que lhe cuide na infância.
Não há relação humana entre quem cuida e quem é cuidado que não haja em seu entorno
alguém, ou grupo de alguéns, que lhe cuide, proteja, auxilie e tome conta. Família, como grupo
de pessoas que se incumbe da criação da prole ou ninhada, é intrinsicamente tão natural,
biológico e ao mesmo tempo tão humano quanto inescapável. Para o bem ou para o mal a
família é sempre necessária, básica, fundamental, vital e necessária.

O termo família se origina do latim família que quer dizer um


conjunto de famulus, Famulus, por sua vez, significa servo ou
escravo. Na Roma Antiga famulus era todo aquele que estava
sobre o poder e domínio de um senhor denominado de pater
familias que tinha e detinha o poder de vida e morte (jus vitae
et necis) sobre seus filhos, esposa, netos, concubinas, servos e
escravos, que se encontravam sub manu (sob suas mãos).
Segundo a legislação romana antiga o pater, inclusive, detinha o poder de vender seus filhos
como escravos. Era o que se designava de patria potestas10.
Etimologicamente se pode observar a relação de poder existente no seio da instituição
familiar, entre eles o poder dos pais sobre os filhos pequenos. Como bem destacava o filósofo
grego Aristóteles já no século VI a.C., o homem é um animal político, pois somos forçados por
nossa natureza a viver em sociedade. O sentido da expressão aristotélica de o homem ser
naturalmente um animal político quer dizer que estamos fadados à pólis (ao pé da letra: cidade),
ou, melhor, o ser humano só se torna ser humano entre outros seres humanos.
Complementaríamos que o ser humano só sobrevive entre outros seres humanos.
A palavra política deriva do grego arcaico ta politika que, por sua vez, deriva de pólis.
Neste sentido toda família é igualmente um grupo ou instituição política, visto ser a família uma
entidade social organizada de maneira hierarquizada onde os pais têm poder e posição
hierárquica sobre os filhos, mormente enquanto crianças.
Evidente que as organizações familiares se distinguem de cultura para cultura, de
civilização para civilização, de período histórico para período histórico. Todavia, historicamente
ela é universal, formando-se como instituição plurifacetada, multivariada e culturalmente
determinada, resistente e adaptável, portanto, a inúmeras modificações e mutações. Como
grupo primário e como instituição a família é basilar e medular, não havendo nenhuma
sociedade que possa existir sem alguma forma de família.

9
Disponível in:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/dezembro2013/sociologia_artigos/pontes_artig
o.pdf
10
Vem daí a expressão jurídica moderna de pátrio poder. O Código Civil Brasileiro de 2002 modificou a
expressão para poder familiar.
7

Para uma visão mais ampliada da evolução da família ao longo da história humana
sugerimos o texto Transformações da Família na História do Ocidente, da socióloga e professora
universitária portuguesa Maria Engrácia Leandro11.

“Considero a família e não o indivíduo


como o verdadeiro elemento social”.
(Honoré de Balzac12)

11
Disponível in: https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/12875/1/leandro.pdf.
12
Escritor francês do século XIX, cujas obras figuram como as mais importantes da literatura, entre elas A
Divina Comédia, A Mulher de Trinta Anos e As Ilusões Perdidas.
8

POR UMA DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA

A família é como a varíola: a gente tem quando criança


e fica marcado para o resto da vida.
Jean Paul Sartre13

Ao longo da história humana a família vem sofrendo diversas transformações e


configurações, a tal ponto que a palavra família tem sentido polissêmico. Por isso não é tarefa
fácil definir família, afinal o conceito de família não é unívoco nem unidimensional.
Há quem defina família como um grupo de indivíduos que dividem o mesmo teto. Outros
podem defini-la como um agrupamento humano formado por indivíduos que dividem um
ancestral comum. Há também quem interprete família como um grupo de pessoas ligadas por
laços afetivos. Tem também quem entenda a família como um sistema homeostático, enquanto
outros dizem ser uma unidade básica de interação social. O psiquiatra e terapeuta familiar Luiz
Carlos Osório, em seu livro Família Hoje14, afirma que família chega a ser uma expressão não
passível de conceituação, porém de descrição.
São várias as formas de definir família. Aliás, são várias as formas e configurações
familiares, tanto atuais quanto passadas. Muitas foram e serão as mudanças de formatos,
ajustes, estruturas e organizações da família e suas denominações, entre elas: patriarcal,
matrimonial, hierarquizada, igualitária, heteroparental, mosaico, eudomonista, homoparental,
entre outras. O Código Civil Brasileiro atual em seu artigo 226, parágrafos 3º e 4º delineia família
como formada pela união conjugal, bem como por qualquer dos pais e seus filhos. Já a ONU
optou pelo latu sensu ao descrever família como gente com quem se conta.

A socióloga e pesquisadora social argentina Elizabeth Jelin, em seu livro Pan y Afectos15,
explica que “la unidad familiar no es um conjunto indiferenciado de indivíduos. Es una
organización social, un microcosmos de relaciones de producción, de reproducción y de
distribución, con una estructura de poder y con fuertes componentes ideológicos y afectivos que
cementam essa organización y ayudan a su persistência y reproducción” (pág. 26). Assim, o
ambiente doméstico da família é um foro privilegiado e legítimo para expressar tanto as

13
Filósofo e escritor francês, um dos mais marcantes pensadores do século XX.
14
Ed. Artes Médicas, 1996.
15
Ed. Fondo de Cultura Económica de Argentina, 1998.
9

necessidades humanas básicas (apoio emocional) quanto para organizar a cooperação


econômica de subsistência, bem como cuidar e ser responsável pela socialização primária dos
filhos. Ao mesmo tempo em seu interior a família possui desigualdades, tais como as diferentes
hierarquias, as alianças subgrupais e as relações distintas de poder entre seus membros.
Para nós, no contexto do presente texto, vamos nos fiar no entendimento da família,
stricto sensu, como um conjunto de pessoas que possuem algum grau de parentesco entre si.
Assim, para efeito operacional, fiquemos, pois, com a seguinte definição: família é um grupo de
pessoas ligadas por laços de parentesco que se incumbe da criação da prole e do atendimento
de certas outras necessidades humanas. Trata-se de uma definição pedifocal, isto é, centrada
na criança, onde se evidencia o objetivo primordial e histórico da família que é ser responsável
por criar, cuidar, nutrir, proteger, educar e garantir o bom desenvolvimento de suas crianças
(criança vem de “cria”, seja enquanto filhote seja enquanto criação). Segundo o francês Émile
Durkheim (considerado um dos pais da Sociologia Moderna), a função da família é social: iniciar
o processo de socialização (primária) do indivíduo. Mas há também outras finalidades na família,
tal como a de gerar o sentimento de pertença, ou seja, sentir-se pertencendo a alguém e/ou a
um grupo social. Neste sentido a família tem uma tripla funcionalidade: biológica, psicológica e
social16.
Não iremos aqui versar, estudar e refletir sobre a família no sentido das pessoas que
gostamos, mas sim da família real, aquela que herdamos pelo destino do nascimento e pelos
laços do parentesco (de certa forma somos obrigados a conviver inicialmente com tais pessoas
que sequer escolhemos como parentes). Além do mais idealizar a família como um espaço
afetivo é esquecer que raiva, ciúme, inveja, culpa, tristeza, mágoa, rancor, ansiedade, medo,
zanga, vergonha e outras emoções e sentimentos chamados de negativos também compõem a
dimensão afetiva do ser humano. Afetos são estados psicoemocionais que experimentamos em
dados momentos, e seu caráter subjetivo de positividade e negatividade tem a ver com a
intensidade a frequência com que os vivenciamos, sendo que os afetos positivos nos dão
sensações de alegria, bem-estar e prazer, enquanto os negativos dão sensações opostas. Tanto
os afetos positivos quanto os negativos constituem a superfície e a profundidade do homem em
toda sua emocionalidade e paixões. Assim, rivalizar com um irmão, ter medo do pai, ter
vergonha de um tio, ficar triste com um primo, ter ciúme do cônjuge, detestar o avô, ter inveja
de um cunhado, odiar a mãe, também faz parte dos afetos familiares, principalmente
relacionados à família real, formal e de fato17.

16
Em termos de funcionalidade é esperado que a família seja um espaço gerador de afetos (alimentos
afetivos); que proporcione proteção, segurança e aceitação pessoal; dê apoio emocional e material e que
atenda às necessidades básicas humanas; que propicie estabilidade e socialização.
17
O que nos interessa, psicologicamente, são os afetos e como eles circulam e se interagem no seio do
ambiente interpessoal familiar. Psicologia é, acima de tudo, o estudo dos afetos e dos desejos, entre
outras coisas. Por isto não devemos desconsiderar o chamado “parentesco sócio afetivo”, como é o caso,
por exemplo, dos “irmãos de criação” e de pessoas que nas quais temos tanta vinculação afetiva que as
consideramos como uma “mãe” ou como um “irmão”.
10

Família é um grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco. E o que é parentesco


afinal? Parentesco é a relação que une as pessoas por vínculos genéticos ou sociais. A jurista e
professora de Direito da PUC (SP) em seu livro Curso de Direito Civil Brasileiro18 descreve o
parentesco como uma relação vinculatória existente não apenas em pessoas que descendem
uma das outras de um mesmo tronco ancestral comum, mas igualmente entre cônjuges e seus
parentes e adotante e adotado.
Pelo acima exposto, o parentesco pode ser:

Parentesco estabelecido através de um


ancestral comum, também conhecido
CONSANGUÍNEO como parentesco por laços de sangue.
Exemplo: pais e filhos, entre irmãos e tios
irmãos de um dos pais.
Parentesco surgido pela união conjugal
AFINIDADE (casamento). Por exemplo: esposo e
esposa, sogra e genro, cunhado.
CIVIL Parentesco proveniente da adoção.

Família não é apenas um conjunto de pessoas, mas sim uma estrutura. Tal estrutura
é representada pela forma como se organiza o grupo e como interagem entre si seus membros.
E é neste conjunto invisível de exigências e funções que tanto se organiza as relações
socioafetivas de seus membros quanto se forma a personalidade individual e se influencia a
personalidade de cada um. A família, psicologicamente falando, é o pilaste de sustentação do
sujeito humano.
A família tem, pois, como função primordial contribuir para a saúde física e mental dos
indivíduos nela habitantes, principalmente às crianças que junto ao seio familiar estão se
desenvolvendo. De um modo geral a família é o primeiro grupo social da criança, razão pela qual
ela (família) assume a socialização primária do infante, bem como seu fundamental papel que é
o da afetividade. Um bebê, por exemplo, não necessita apenas de proteção e nutrientes, mas
também de afetos e cultura. E, como veremos mais adiante, a família desempenha esta essencial
função psicossocial que é a de intermediar a criança e a sociedade.

“Amigos são a família que nos permitiram escolher”.


(William Shakespeare19)

18
Ed. Saraiva, 2002.
19
Dramaturgo inglês, que viveu entre os anos 1564-1616, considerado o maior escritor da língua inglesa
e o mais destacado dramaturgo da história do teatro.
11

O NUCLEO DA FAMÍLIA

A família não nasce pronta; constrói-se aos poucos


e é o melhor laboratório do amor.
Luís Fernando Veríssimo20

Em termos antropológicos vimos que a família natural é aquela constituída pela fêmea
e sua prole (mãe e filhos). Porém em termos biopsicossocial a família é mais ampla, contendo
outros membros (parentes). Nesta lógica o núcleo21 de uma família em sua totalidade de
parentesco (família nuclear) é o conjunto de mãe-pai-filho(s).
A família nuclear nestes termos é a também chamada família tradicional, família
burguesa ou família simples. Em sua forma mais elementar a família nuclear é especificada como
um casal com filho(s). Mais precisamente um casal com filho(s) morando sob o mesmo teto.
Embora o conceito de família nuclear (pais e filhos na mesma casa) não seja mais
suficiente para os dias atuais22, devido inclusive a diversos novos arranjos domésticos, ainda há
algo de idealizado e expectado em sua formatação. Como escreve a psicóloga e doutora em
Psicologia Social, Adriana Wagner, no âmbito das diversas mudanças sociais surgidas nas
décadas recentes, pode-se dizer que “a pluralidade de arranjos familiares pode ser considerada
como uma das características mais marcantes destes novos tempos: divórcio, recasamentos,
uniões homoafetivas, adoção, pais e mães solteiros, poliamor, entre tantas outras, são
configurações relacionais que têm aparecido e passam a conviver com o modelo tradicional da
família nuclear. Esse cenário acaba por demandar uma postura mais flexível, que permita
integrar novas formas de ser família23”.
A família frequentemente idealizada corresponde a uma família harmônica e coesa, vista
como um lugar de refúgio e paz. Tal família platônica e pura encontra eco nas famílias dos
comerciais televisivos, a chamada família margarina. A “verdadeira” família feliz de que tanto
falou o russo Leon Tolstói. Todavia, a família nuclear idealizada (pais e filhos sempre felizes) não

20
Escritor e humorista, autor de livros como O Analista de Bagé e A Velhinha de Taubaté.
21
Em termos celulares o núcleo é a região da célula onde se encontra o material genético (DNA) dos
organismos. Por extensão, o núcleo é o elemento que ocupa a posição central de uma estrutura.
22
Segundo o Censo 2010 do IBGE, 16% das famílias brasileiras têm formação não tradicional. Verifica-se,
cada vez mais, a elevação no número de famílias monoparentais, unitárias (pessoa sozinha), diádicas
(casal sem filhos, também denominadas de família nuclear incompleta), recompostas ou recasadas, etc.
23
Desafios Psicossociais da Família Contemporânea: pesquisas e reflexões, págs. 99/100, ed. Artmed,
2009.
12

corresponde às famílias reais, afinal, independente da configuração grupal, o espaço familiar


não é um lugar tão idílico assim. Segundo a filósofa e pesquisadora Fernanda Borges24, a família
idealizada está amarrada às aspirações de um passado maravilhoso que nunca existiu e nunca
existirá. Escreve ela: “são muitas as pessoas que sofrem de saudades de modelos ideais
desajeitados com relação às urgências do tempo e da mudança, numa expectativa que trava as
suas vidas para um futuro possível. Modelo ideal que promete a felicidade, mas não cumpre”
(pág. 27).
As famílias atualmente estão sendo cada vez menos nucleares e cada vez mais
monoparentais, reconstituídas, recasadas ou multinucleares. Cada vez mais as famílias mais se
parecem com uma salada familiar do que com uma família margarina.

Em meio a tantas separações conjugais temos o aparecimento dos meio-parentes, tipo


ex-tios, novas avós, por exemplo. Já criamos nomenclaturas como família mosaico, quando os
pais separados se casam novamente com outras pessoas e os filhos convivem com estes em
novos arranjos de parentesco. Mas seja como for a família nuclear tradicionalmente concebida
ainda é hegemônica em vários lugares, bem como ainda permeia a idealização das pessoas e da
sociedade.
A idealização da família perfeita e feliz foi cunhada popularmente de família margarina,
onde papai, mamãe e filhos se apresentam felizes e saudáveis, reunidos à mesa tomando café
da manhã. Como escreveu o escritor russo Leon Tolstói25, todas famílias felizes se parecem, cada
família infeliz é infeliz à sua maneira. E por que todas as famílias felizes se parecem? Porque o
ideal de família feliz é único. E como nenhuma família é tão perfeita e ideal assim, a família feliz,
como diz Tolstói, não existe; o que existe são famílias infelizes (no sentido de não serem felizes
em termos maravilhosamente sublimes), e as famílias infelizes não são iguais ou idênticas. Cada
família tem a sua maneira idiossincrática de ser e de existir.

Também em termos de nomenclatura temos a


designada família extensa. A família nuclear e a família extensa
são vistas pela acepção de coabitação. Como visto acima, a
família nuclear é a família onde sob o mesmo teto habitam pais
e filhos. Já a família extensa representa aquela em cuja
habitação reside um número maior de parentes, como, por
exemplo, avô, sogra, tio, sobrinho, enteado, etc. Em outras palavras, a família extensa é uma
estrutura familiar mais ampla do que a nuclear. Podemos dizer que a família extensa é a
coabitação em um mesmo sítio doméstico da família nuclear + um ou mais parentes. O Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 25, parágrafo único, denomina a família
extensa ou ampliada como aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da

24
A Mulher do Pai: essa estranha posição dentro das novas famílias, ed. Summus, 2007.
25
Um dos maiores escritores da literatura universal, autor do clássico romance Guerra e Paz. A frase citada
é a abertura do seu livro Anna Karenina, provavelmente a mais famosa abertura literária de todos os
tempos.
13

unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive
e mantém vínculos de afinidade e afetividade. A família extensa é ainda comum em regiões
rurais e menos nos grandes centros urbanos onde predomina a família nuclear e a família
monoparental.
Outro termo bastante empregado na literatura específica sobre o estudo das famílias é
o de família ampliada. A família ampliada representa a família alargada além dos limites de
coabitação. Exemplo: um tio que não mora com um sobrinho faz parte da sua família ampliada.
A expressão família ampliada, portanto, agrega o conjunto dos parentes (parentela)26.

“Dizem que não basta


fazer os filhos;
existe o aborrecimento
de educá-los”.
(Giuseppe Giusti27)

26
Denomina-se ainda família de origem. Família de origem é a antiga família nuclear do filho(a) quando
este(a) não mora mais lá. Também existe a chamada família binuclear, sendo esta oriunda do divórcio
onde os filhos possuem, assim, dois lares, quando os pais permanecem corresponsáveis pelos cuidados
parentais. Existe ainda, porém sem amparo legal, o que se convencionou denominar de família
poliafetiva, que ocorre entre pessoas que mantém simultaneamente relações de afeto paralelas com dois
ou mais indivíduos que se conhecem e se aceitam uns aos outros,
27
Poeta satírico italiano do século XIX.
14

PAPÉIS E FUNÇÕES FAMILIARES

Quem não tem mãe, não tem família.


Platão28

Centremos nossa atenção na família nuclear tradicional: casal com filho(s). Como grupo
social a família nuclear tem seus papéis sociais. O papel social é definido como um conjunto de
normas e expectativas que condicionam o comportamento dos indivíduos pertencentes ao
grupo, não tanto em conformidade com as características pessoais de cada indivíduo, mas pelo
que se espera de quem ocupa determinada posição social. Sociologicamente falando o papel
social é aquilo que se espera de alguém que tem um estatuto social. Neste sentido se pode dizer
que o papel social tem o status do papel e o exercício ou desempenho do mesmo (função).
O papel social é um conceito da Sociologia que, de maneira geral, determina a posição
e função dos indivíduos na sociedade. Cada papel social agrupa um conjunto de normas, regras,
comportamentos e deveres de cada indivíduo na estrutura social a que pertencem.
Podemos distinguir no papel social status e função. Quem, por exemplo, exerce o papel
social de professor detém um status: o status de ser professor. Quem exerce o papel social de
professor empreende a função de ser professor que é o de ensinar e educar. Todavia nem
sempre status e função atuam juntos. Expliquemos melhor. Há professor que embora possua o
status e a representação social de ser professor não funciona bem como professor, às vezes tem
aquele que nem funciona. Também existem pessoas, um amigo, por exemplo, que mesmo não
sendo professor pode funcionar em alguns momentos pode funcionar como um professor ao
seu companheiro. O mesmo acontece com outros papéis sociais. Tem gente que não é
psicoterapeuta, mas que em determinadas circunstâncias funciona terapeuticamente para
alguém. Assim como tem pessoas que são habilitadas ao exercício de psicoterapeuta, mas que
não está funcionando como tal. Quem já não disse em algum momento para seu cônjuge ou
parceiro(a) amoroso(a) expressões do tipo eu não sou sua mãe. Evidente que o(a) parceiro(a)
amoroso(a) não está vendo o outro como mãe, mas está se comportando como se fosse um
filho e demando do outro uma função materna. Mais do que status, para o desempenho do
papel a função se faz fundamental. Quando em um dado papel social o status e a função estão
incongruentes, dependendo das razões, podemos chamar de disfuncionalidade.
Em uma família nuclear são até quatro os papéis sociais existentes, a saber:

Conjugal
Parental
Filial
Fraternal.

28
Filósofo que viveu o período clássico da Grécia Antiga em torno dos anos 427-347 aproximadamente.
Conjuntamente Sócrates e Aristóteles fundou a filosofia ocidental.
15

O papel conjugal, que está relacionado ao casal, transcende ao ato de casar ou de uma
pessoa se unir à outra. Duas pessoas casadas, ou que moram juntas, formam um casal enquanto
status. Porém, há de se ver se funcionam como um casal. De antemão destaquemos que uma
relação conjugal traz a expectativa que a parceria se estabeleça através de laços sexuais e
afetivos, provenientes do desejo de compartilharem juntos a vida, independente de terem ou
não filhos, bem como de ser esta união institucionalmente formalizada ou não.
O papel conjugal pressupõe a interdependência entre seus membros e o exercício de tal
interdependência envolve, por sua vez, compreensão, cooperação, compartilhamento,
competição, cumplicidade e mutualidade. O papel conjugal não deve se confundir com o papel
parental (cuidar de filhos), embora na esfera da conjugalidade possa residir a reprodução.
Conjugalidade é uma coisa. Parentalidade é outra.
A psicóloga e professora portuguesa Ana Paula Relvas afirma que um casal surge quando
dois indivíduos se comprometem numa relação que pretendem que se prolongue no tempo.
Incontestável que a conjugalidade tem a ver com a díade conjugal.
Socialmente a família nuclear tem seu início na formação da díade conjugal. O que se
espera para um bom funcionamento conjugal é que os indivíduos envolvidos se comprometam
a estabelecer e manter uma relação estável e duradoura. Para tal é necessário que consigam se
adaptar e se complementar mutuamente. É uma verdadeira negociação a dois. Uma
contratualidade entre dois indivíduos distintos e suas subjetividades.

“Essa mulher que há muito dorme ao meu lado


vai, como eu, morrer um dia.
Estamos deitados para sempre
conversando
Como nas manhãs preguiçosas de domingo,
como nas noites em que voltamos das festas
e nos despimos comentando as pessoas, roupas e comidas,
e depois adormecidos nos pomos
a entrelaçar os sonhos
num diálogo imóvel
que nenhuma morte pode interromper”.
(Affonso Romano de Sant’Anna29)

O papel parental significa o exercício da parentalidade que são duas: maternidade e


paternidade. Neste sentido o papel parental se divide em dois, ou mais precisamente em duas
funções: função materna e função paterna.
Bebê sozinho não existe, afirmava o pediatra e psicanalista britânico Donald Winnicott.
Se a principal razão de ser e de existir da família é a criar filhos, então a função materna é a mais
básica e essencial das funções parentais. Não existe vida humana sem mãe, afinal, devido a
condição de completo desamparo do ser humano no início de sua existência, é natural e
indispensável alguém que o alimente, cuide e lhe proteja. Esse alguém - seja ele quem for
(homem, mulher, mãe biológica ou mãe substituta, irmão ou irmã mais velha, outro adulto ou
jovem qualquer) - será aquele que estará no exercício da função materna. Mãe, assim e dessa
forma colocada, não é um status, mas uma função.

29
Poeta e escritor mineiro.
16

O que se espera do bom exercício e funcionamento da mãe, isto é, da função


materna? Cabe à função materna nutrir e proteger a prole. No início da vida o bebê está exposto
a medos, angústia e ansiedades frente aos quais não sabe lidar. A função materna, neste sentido,
é a de também ser continente das emoções existenciais do pequeno infante. A mãe (ou quem
exerce o papel/função) auxilia a criança a "digerir" seus próprios afetos inominados através de
uma postura responsivamente empática onde, como receptáculo, além de mitigar a ansiedade
dá sentido a mesma. A função materna é, portanto, vital. Sem ela não existiríamos.
Se for atribuído a alguém um papel filial, é porque também está se atribuindo a outro
alguém um papel materno. Mãe e filho é muito mais do que apenas dois papéis, é uma relação
intrínseca, pois um não existe sem o outro. Em termos funcionais não existe filho sem mãe, e
igualmente não existe mãe sem filho.
Se existem crianças vivas é porque elas foram e ainda estão sendo criadas. Algumas são
bem criadas, enquanto outras nem tanto. Em termos funcionais ao neonato e ao bebê não existe
ainda função paterna. Todos os que juntos estão com ele contribuindo para sua sobrevivência e
criação estão no exercício da função materna. Podemos até afirmar que pelo ponto de vista de
um bebê, todos ao seu redor são mãe.
A função materna é tão vital a todo e qualquer ser humano, principalmente no tocante
a sua nossa constituição psíquica, que mais adiante dedicaremos um espaço totalmente à parte
para melhor estudarmos tal função. Afinal, como disse Platão, quem não tem mãe, não tem
família.

“À medida que os filhos crescem, a mãe deve diminuir de tamanho.


Mas a tendência da gente é continuar a ser enorme”.
(Clarice Lispector30)

Já paternidade tem outra e distinta função. A função paterna representa "soltar" o filho
para o mundo. Soltar aqui está entre aspas exatamente por não significar largar, mas sim ajudá-
lo a andar com suas próprias pernas até não mais necessitar de pais para viver e/ou lidar com
seus conflitos existenciais. Assim sendo, considerando que a função materna é simbolizada pelo
colo, a função paterna é "tirar" do colo e ajudá-lo a prosseguir por seus próprios meios a estrada
e o mundo a fora. Por isto que se diz que o papel paterno é dessimbiotizante, ou seja, se entrepor
psicologicamente entre o filho e a mãe, dando curso ao processo de individuação da criança em
crescimento.
É normal que a primeira relação humana de um indivíduo humano seja este com sua
mãe (biológica ou substituta). Para o bebê esta é uma relação puramente simbiótica. Simbiose
é uma metáfora biológica que utilizamos em Psicologia para descrever a situação de
dependência emocional. Essa dependência emocional, que Winnicott chamava de dependência
absoluta, é absolutamente normal nas etapas iniciais da vida humana, porém quanto mais o

30
Escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira. É considerada uma das mais importantes
escritoras do século XX. Autora de obras-primas como A Paixão Segundo G.H., Uma Aprendizagem ou o
Livro dos Prazeres, A Hora da Estrela, entre outras.
17

bebê deixa de ser bebê ela começa a passar a não ser mais saudável. A simbiose normal31 caso
perdure para além da fase lactente é psicopatológica.
O corte do cordão umbilical representa de fato a separação física e biológica entre o
neonato e o corpo materno. Já a separação psicológica (processo de separação e individuação32)
é um processo gradual e a posteriori.
A função paterna não é um papel atado ao exercício por uma criatura biologicamente
macho (homem). Trata-se de uma função, e como tal ela se realiza na triangulação dos papéis
funcionais mãe-pai-filho. Talvez seja melhor dizer mãe-filho-pai. É uma dinâmica processual e
interpessoal que se trama naquilo que se convencionou denominar de Complexo de Édipo33.
Para o narcisismo infantil primário a percepção da existência do objeto materno (mãe)
é o primeiro ”não-eu” da vida de uma criança. Já o entendimento da função do objeto paterno
(pai) é o primeiro “não-mãe” da vida de uma criança. Assim o pai representa o surgimento da
cena psíquica simbiótica como um terceiro elemento distinto que resulta em separação a idílica
fantasia infantil de que se tem a mãe só para si. A mãe pode amar seu filho, mas também ama
outra coisa ou objeto que não somente ele. Esta outra coisa ou objeto, é retratado na linguagem
psicanalítica como figura paterna (pai).
Vemos isso ser retratado nos espaços publicitários, como, por exemplo, nos dias da mãe
e do pai. No dia das mães é comum encontramos representações de uma mãe (mulher)
segurando seu bebê (colo). Já no dia dos pais é frequente encontramos representação de um
pai (homem) segurando seu filho por uma das mãos com uma estrada pela frente.
Simbólica e representativamente falando a figura paterna (função) é o corte do cordão
umbilical psicológico (narcísico) entre o psiquismo do bebê e sua mãe. Em termos figurados é
um interdito ao incesto simbiótico dos primeiros tempos de vida.

“- Meu pai, o que é a liberdade?


- É o seu rosto, meu filho,
o seu jeito de indagar
o mundo a pedir guarida
no brilho do seu olhar.
A liberdade, meu filho,
é o próprio rosto da vida
que a vida quis desvendar.
É sua irmã numa escada
iniciada há milênios
em direção ao amor,
seu corpo feito de nuvens
carne, sal, desejo, cálcio
e fundamentos de dor.
A liberdade, meu filho,
é o próprio rosto do amor”.
(Moacyr Félix34)

31
Expressão usada pela médica e psicanalista húngara radicada nos EUA, Margaret Mahler, para designar
à fase desenvolvimental onde o bebê vive com sua mãe uma espécie de prolongamento do seu corpo. É
como se fosse uma cápsula (mãe-bebê) onde nada mais existe à sua volta.
32
Individuação é o processo que encaminha o sujeito rumo a sua identidade, singularidade e autonomia.
33
Expressão criada por Freud para designar uma etapa do desenvolvimento psicossexual da criança que
é quando ela começa a perceber que não é o centro do universo e nem tudo para sua mãe. É quando a
criança realmente começa a perceber a importância do pai, neste caso como objeto de amor do objeto
materno.
34
Poeta e escritor carioca falecido em 2005.
18

O papel filial é centrado na dependência relacionada à prematuridade inicial do recém-


nascido, pois este depende absolutamente de um outro para sobreviver. Quanto mais o filho
cresce menos ele vai dependendo dos pais. O processo de individuação se faz assim da
dependência absoluta, passando pela dependência relativa, rumo à independência.

“O coração da mãe é a sala de aula do filho”.


(Henry Ward Beecher35)

Havendo irmãos surge na família o papel fraterno. No tocante ao papel fraternal


encontramos uma funcionalidade que envolve uma natural ambivalência na convivência entre
irmãos. A mesma é vivida na polaridade e no antagonismo entre solidariedade e rivalidade. Com
o tempo o termo fraterno foi sendo higienizado dos seus aspectos rivalizantes, e sendo
destacada tão somente a solidariedade36.
Não é anormal ou atípica a existência de alguma rivalidade fraterna, afinal ser irmão no
contexto de uma família nuclear é também disputar territórios (quarto, brinquedos, roupas,
comida, etc.) e a preferência e o amor dos pais. Quando a família nuclear continua crescendo
com a chegada de mais filhos uma nova dinâmica se faz presente. A partilha afetiva e territorial
é inevitável. O filho mais novo se sente destronado, e a competição surge nem que seja de
maneira velada ou inconsciente.
Brigas, disputas e desavenças entre irmãos e irmãs são naturais, frequentes e comuns.
Tais conflitos e desentendimentos, inclusive, podem ser bastante saudáveis às crianças. A
competitividade dentro do contexto fraterno e doméstico não deixa de ser uma espécie de
treinamento para vida adolescente e adulta extramuros do lar.
Idealizações à parte a rivalidade fraterna deve ser entendida como normal, muitas vezes
diária em dependendo da intensidade, motivo e frequência, saudável à formação psicossocial
dos filhos.
O relacionamento fraterno é assim um relacionamento ambivalente, sendo o mesmo,
como descrevem as psicólogas Caroline Rossato Pereira e Rita de Cássia Lopes37, o primeiro
microcosmo social onde a criança irá desenvolver habilidades e competências cooperativas, bem
como se preparar para o futuro. A relação fraterna na infância é a primeira relação de iguais
porque passa uma criança, exceto os filhos únicos.
Sugerimos a leitura do artigo A Função Fraterna e as Vicissitudes de Ter e Ser um Irmão 38,
das psicólogas Rebeca Goldsmid e Terezinha Féres-Carneiro.

“Cada irmão é diferente.


Sozinho acoplado a outros sozinhos.
A linguagem sobe escadas, do mais moço,

35
Pastor e escritor estadunidense do século XIX.
36
Lembremos, à guisa de exemplificação, que os primeiros irmãos bíblicos foram Caim e Abel.
37
Artigo Rivalidade Fraterna: uma proposta de definição conceitual, disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/115536.
38
Psicologia em Revista , v. 13, n. 2, p. 293-308, dez. 2007.Disponível in:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682007000200006.
19

ao mais velho e seu castelo de importância.


A linguagem desce escadas, do mais velho
ao mísero caçula”.
(Carlos Drummond de Andrade39)

“O interior das famílias é muitas vezes perturbado por desconfianças,


ciúmes e antipatias, e enganam-nos as aparências de satisfação,
calma e cordialidade, fazendo-nos supor uma paz que não existe;
poucas há que ganham em ser aprofundadas.“
(Jean de La Bruyère40)

39
Considerado um dos maiores nomes da poesia brasileira no século XX. Seu mais conhecido e celebrado
poema é No Meio do Caminho (No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do
caminho...”).
40
Escritor francês do século XVII.
20

CICLO DE VIDA FAMILIAR

A finitude é o destino de tudo.


José Saramago41

Tudo que é vivo um dia nasceu e um dia perecerá. Nada é para sempre. A eternidade
não pertence ao ser humano, ao menos enquanto ser biopsicossocial. Como expressou certa vez
o escritor português José Saramago, a eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e
o Universo não saberá que nós existimos.
Não existe mais a civilização Asteca ou a Maia, nem os sumérios ou os acácios, nem
também existe mais o Império Romano. As coisas humanas podem durar anos, décadas, séculos
ou até milênios, mas um dia acaba. Tudo que hoje é vivo um dia nasceu, cresceu ou crescerá,
floresceu ou florescerá, decaiu ou decairá, e morrerá. Tudo finda. Tudo acaba. Como nos versos
finais do poema Evocação ao Recife, de Manuel Bandeira42, “Recife.../Rua da União/A casa do
meu avô.../Nunca pensei que ela acabasse!/Tudo lá parecia impregnado de
eternidade./Recife.../Meu avô morto./Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro/como a casa
do meu avô.”
O que tem começo tem fim, lembrava-nos o pensador italiano Nicolau Maquiavel43.
Tanto o ser humano enquanto indivíduo, quanto os agrupamentos de humanos como a família.
Em termos ampliados é difícil muitas vezes identificar o início de uma determinada
família. Porém é bem mais fácil no tocante à família nuclear. Considerando que a família nuclear
(pais-filhos) é aquele conjunto ou estrutura familiar baseada no casal com filhos, podemos dizer,
então, que o início de uma família nuclear (tradicional) se faz com a formação do casal
(casamento), cresce com o nascimento dos filhos, floresce com o crescimento destes, decresce
com a saída dos filhos de casa e termina com a morte do último cônjuge. O nascimento, o
crescimento, o florescimento, o decrescimento e a morte da família nuclear é o que chamamos
de ciclo de vida familiar, ou, mais precisamente, o ciclo de vida da família nuclear.
Sim, em termos de uma família fundada na conjugalidade para a criação da prole, a
família nuclear começa na formação do casal conjugal. Todavia tal constatação se faz no sentido
concreto e social. Em termos psicoafetivos a família nuclear tem seu início antes do casamento
ou formação do casal. No tocante à afetividade, psicologicamente falando, o casal que fundará
socialmente a família nuclear se início a partir da forma como cada cônjuge individualmente
iniciou sua saída afetiva de casa, ou seja, da sua família de origem.

41
Escritor português, prêmio Nobel de Literatura de 1998.
42
Poeta, crítico literário e professor de Literatura. Autor de um dos poemas mais conhecido da literatura
brasileira, Vou-me Embora para Pasárgada.
43
Viveu entre os anos de 1469-1527. Denominado de “pai da ciência política moderna”.
21

As norte-americanas terapeutas de família, Monica McGoldrick e Betty Carter, em seu


clássico livro As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: uma estrutura para a terapia familiar 44
englobam o ciclo de vida da família nuclear como um processo de fases de mudanças
adaptativas. Os estágios são os seguintes:

O novo casal (união de famílias através do casamento);


Família com filhos pequenos (nascimento dos filhos);
Família com adolescentes (crescimento dos filhos);
Família com jovens solteiros (maioridade dos filhos);
Lançando os filhos (saída dos filhos de casa/ninho vazio);
Família no estágio tardio da vida (envelhecimento dos cônjuges).

Socialmente falando uma família nuclear45 nova começa quando da formação do novo
casal. O casamento, ou a união conjugal, não somente forma um novo casal, mas também
representa a união entre duas famílias. Engana-se aqueles que acham que um casamento é uma
coisa fácil. Casar pode até ser fácil, todavia continuar casado requer inúmeras tarefas
adaptativas que o casal terá pela frente na formação e consolidação do sistema marital.
Um casamento requer que duas pessoas renegociem uma gama de questões, boa parte
delas advindas das famílias de origem de cada um (cultura familiar). Namoram-se anos a fio,
cinco, sete, nove, dez... porém, quando se casa (morar juntos, dividir cotidiano, despesas e
tarefas domésticas,) alguns casais não se sustentam. Entra aquela tal de “incompatibilidade de
gênios”.
E não é somente o ajustamento entre os parceiros do casal. Existe igualmente a
renegociação referente os relacionamentos com os demais da família ampliada (pais, irmãos) e
até com amigos pessoais. Como salientam Carter e McGoldrick46 que a inabilidade durante o
casamento de formar um relacionamento de casal, a partir do instante quando as duas pessoas
estão compartilhando o mesmo teto, indica que elas ainda estão muito emaranhadas com suas
próprias famílias para definirem uma nova família (novo sistema familiar). Sabe aquela
expressão popular que diz que a sogra deve ficar a uma média distância do casal, a ponto que
não fique “nem tão perto que venha de chinelos, nem tão longe para que traga uma mala”? Pois
é, a difícil arte de manter essa tal de média distância. Escrevem as referidas autoras: “os
problemas que refletem a incapacidade de mudar o status familiar são normalmente indicados
por fronteiras deficientes em torno do novo sistema. Os parentes por afinidade podem ser
intrusivos demais e o novo casal ter medo de colocar limites, ou o casal pode ter dificuldade em
estabelecer conexões adequadas com os sistemas ampliados, separando-se em um grupo
fechado de duas pessoas”.

44
Ed. Artmed, 1995.
45
Aquela que é fundada na conjugalidade.
46
Op. cit.
22

A próxima etapa adaptativa frequentemente é o surgimento de filhos. Agrega-se à


conjugalidade agora a progenitura. O sistema conjugal deve se ajustar para criar um espaço
físico e afetivo para a chegada dos filhos. Há um novo realinhamento em questão: incluir os pais
da família de origem de cada cônjuge no novo papel que é o de avós. É necessário que estes
saibam passar para um papel secundário e com isto permita aos filhos assumirem a autoridade
inerentes a seus papéis paternais. Outra vez não nos iludamos: o nascimento de um filho,
embora até desejado e programado, desequilibra de alguma forma a homeostase do casal que
agora não é mais uma díade e sim uma tríade.
Virar pai e/ou mãe é, sem sombra de dúvida, um momento marcante no ciclo de vida
pessoal e familiar. Inúmeras alterações ocorrerão - inclusive na própria personalidade dos
sujeitos envolvidos. Uma nova realidade descortina-se e eles devem fazer frente a tais
mudanças. Sacrifícios e renúncias deverão ser feitas, principalmente quanto ao campo de vida
social, bem como haverá de ser efetivar adequações psicológicas fundamentais. Não é raro, por
exemplo, pais que se sentem como que excluídos daquela relação tão primária que é a relação
mãe-filho. Faz-se, portanto, igualmente preciso encontrar um novo espaço para ele no âmbito
desta nova família inicialmente a três. Vide, por exemplo, o artigo Paternidade: vivência do
primeiro filho e mudanças familiares47, das psicólogas e professoras universitárias Mária Elisa
Jager e Cristine Bortoli.
Os filhos crescem e com eles diminuem a importância e a autoridade dos pais. Quando
bem pequenos eles são dependentes absolutos do ambiente familiar. Crescidos vão ficando
cada vez menos dependentes. E eis que chega a adolescência, momento crítico por excelência 48.
Talvez a principal tarefa adaptativa seja a de modificar a relação pais e filhos com vistas a
possibilitar ao adolescente movimentar-se paulatinamente para fora do sistema familiar (leia-
se fora como maior autonomia frente à família de origem dos mesmos)49.

Como dizíamos os filhos crescem. Crescendo chegam à adolescência e depois eles se


tornam. Como adultos é esperado que eles também queiram fazer suas carreiras profissionais,
buscarem sua independência financeira e formar sua própria família nuclear. Chamamos esta
importante etapa do ciclo de vida familiar de saída dos filhos de casa50.
A saída dos filhos de casa representa a célebre crise chamada de ninho vazio. O casal
encontra-se, assim, de novo a sós, tal como no início da formação familiar. Podemos, inclusive,
afirmar que é uma etapa de vida caracterizada por novas descobertas, conflitos e definições ou
redefinições. É como se fosse um novo casamento, só que agora fincado na elaboração do luto

47
Psicologia: teoria e prática, v. 13, n. 1, p. 141-153, 2011, disponível in:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872011000100011&script=sci_arttext.
48
Paralelamente o processo de independência dos filhos, os próprios pais geralmente enfrentam a crise
da meia-idade, bem como os avós estão se fragilizando com o passar dos anos. Os pais, por sua vez,
começam uma nova etapa de vida que é a de começar a cuidar da geração mais velha.
49
A respeito do assunto vide: Família e Adolescência: a influência do contexto familiar no desenvolvimento
psicológico de seus membros, dos professores Elisângela Prata e Manoel Antonio dos Santos, disponível
in: http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a05.pdf.
50
Carter e McGoldrick (op. cit.) denominam de “lançando os filhos e seguindo em frente”.
23

da “perda” dos filhos. Dentro da crise do ninho vazio temos os confrontos com a finitude da
vida. Novos valores e prioridades podem surgir.
O casal agora sem filhos coabitando é um casal que se reencontra, livre das obrigações
e tarefas parentais. Sentimentos e afetos ambivalentes podem predominar, tais como liberdade
e vazio da perda. Uma nova realidade se faz presente ao casal.

Destaque há de se dar a esta etapa na maneira como os filhos afetivamente saem de


casa. Sair de casa aqui não é mudar de endereço, é se desligar psicologicamente dos pais
infantis. Como descreve Carter e McGoldrick51, ao adulto jovem inicia-se um novo ciclo pessoal
e familiar de vida “cujo encerramento da tarefa primária de chegar a um acordo com sua família
de origem influencia profundamente quem, quando, como e se eles vão casar, e como
executarão todos os outros estágios seguintes do ciclo de vida familiar”.
Chegamos, então, a última etapa de vida do ciclo familiar que está relacionada ao
estágio tardio da vida. O casal original envelheceu e os pais destes já não mais existem, aliás,
não há mais uma geração anterior a morrer. É momento, pois, de aceitar as mudanças nos
papéis geracionais, entre eles manter os interesses próprios e/ou do casal em face ao declínio
físico e as limitações da idade avançada. Os filhos precisam abrir espaços em suas vidas para
apoiar à geração mais idosa. É um período de perdas (amigos, parentes, cônjuge), mais também
de revisão de vida e integração de ego.
Cabe aqui um esclarecimento. O ciclo de vida familiar compreendendo desde a
formação do casal, passando pelo nascimento do(s) filho(s), crescimento dos mesmos,
adolescência, saída dos filhos de casa, velhice dos cônjuges e morte do último cônjuge,
representa a evolução da família nuclear do ponto de vista social. Do ponto de vista psicológico,
ou mais precisamente do ponto de vista psicoafetivo, temos uma complexidade peculiar.
Psicológica e afetivamente falando a família nuclear não se inicia com a união conjugal,
mas sim com a saída dos filhos de casa. Como assim? Vejamos. A forma e maneira como os filhos
vão se desapegando dos pais (lembremos que inicialmente a ligação do bebê com a mãe tem
forte caráter fusional e simbiótico), isto é, vão diminuindo sua idealização dos mesmos, bem
como sua dependência psicológica, muito influenciará ou até mesmo determinará os futuros
apegos afetivos. A formação de um novo casal pode ter significativas marcas dessa passagem da
endogamia para a exogamia. Muito do como amamos e queremos ser amados tem resquícios
de nossos primeiros vínculos amorosos (pais). E é neste sentido que o lançamento dos filhos
para o mundo extrafamiliar inaugura, psicologicamente, o começar da futura família nuclear que
este irá criar conjuntamente a seu parceiro(a) e este(a) com ele também. Afinal, não é tão difícil
assim observarmos algumas pessoas que mesmo crescidas, trabalhando, com independência
financeira, casadas e até com filhos, mantendo um laço muito estreito com sua família de origem
a ponto de continuarem emocionalmente dependente dos pais. Ou até pessoas que transferem
sua dependência filial para os atuais cônjuges, a ponto de estes poderem chegar a dizer algo do
tipo “eu não sou sua mãe”.
A fase do jovem adulto é um marco, pois requer que o jovem adulto se separe da família
de origem sem romper relações ou fugir reativamente dela para uma espécie de refúgio
emocional substituto. Quanto mais satisfatoriamente se diferenciar emocionalmente da família

51
Op. Cit.
24

de origem, melhores serão as chances de enfrentar os ciclos de vida em sua nova família de
maneira autônoma. Um filho que sai de casa emocionalmente mais maduro pode melhor
escolher o que levará emocionalmente de sua família de origem, o que não levará e aquilo que
ele construirá sozinho com seus novos parceiros afetivos.

“O tempo que tudo transforma,


transforma também o nosso temperamento.
Cada idade tem os seus prazeres, o seu espírito e os seus hábitos”.
(Nicolas Boileau52)

FAMÍLIA: O ESPAÇO DAS TROCAS AFETIVAS


52
Escritor francês que viveu entre os anos de 1636 e 1711.

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