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BOTULISMO
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estudado.
2023. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.

Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial –
Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra,
desde que citada a fonte.

A coleção institucional do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Câmara Brasileira
do Livro (CBL) - https://www.cblservicos.org.br

Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica

Elaboração, distribuição e informações: Diretoria Conasems Designers Instrucionais:


Jacqueline Cristina dos Santos
MINISTÉRIO DA SAÚDE Laís Soares Pereira German
Presidente
Secretaria de Vigilância em Saúde e Hisham Mohamad Hamida Pollyanna Micheline Lucarelli
Ambiente - SVSA
SRTV 702, Via W5 Norte
Vice Presidente Coordenação de desenvolvimento gráfico:
Edifício PO 700, 7º andar
Nilo César Do Vale Baracho Cristina Perrone
CEP: 70723-040 – Brasília/DF
Tel.: (61) 3315-3777 Sayonara Moura De Oliveira Cidade
Diagramação e projeto gráfico:
E-mail: gabnetesvsa@saude.gov.br
Diretor Administrativo Aidan Bruno
Marcel Jandson Menezes Alexandre Itabayana
Caroline Boaventura
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS
Lucas Mendonça
MUNICIPAIS DE SAÚDE – Conasems
Diretor Financeiro Ygor Baeta Lourenço
Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, Cristiane Martins Pantaleão
Sala 144
Zona Cívico-Administrativo, Brasília/DF
Secretário Executivo Fotografias e ilustrações:
CEP: 70058-900
Mauro Guimarães Junqueira Fototeca do Conasems
Tel.:(61) 3022-8900

Organização: Imagens:
Núcleo Pedagógico Conasems
Núcleo Pedagógico do Conasems Envato Elements
Rua Professor Antônio Aleixo, 756 CEP https://elements.envato.com
30180-150 Belo Horizonte/MG Freepik
Tel: (31) 2534-2640 Supervisão-geral:
https://br.freepik.com
Rubensmidt Ramos Riani

Revisão linguística:
Coordenação Pedagógica
Cristina Fatima dos Santos Crespo Gehilde Reis Paula de Moura
Valdívia França Marçal Keylla Manfili Fioravante

Coordenação Educacional
Kelly Cristina Santana Assessoria executiva:
Conexões Consultoria em Saúde Ltda.
Coordenação-técnica:
Edilson Correa de Moura
Luisa Wenceslau

Elaboração de texto:
Marcelo Mascarenhas Corrêa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde Ebook botulismo [livro eletrônico] / Conselho Nacional
de Secretarias Municipais de Saúde ; {elaboração de texto Marcelo Mascarenhas Corrêa]. -- 1. ed. -- Brasília, DF : CONASEMS, 2023. PDF

Vários colaboradores. Bibliografia. ISBN 978-85-63923-43-1

1. Botulismo 2. Doenças imunológicas - Prevenção 3. Educação a distância I. Corrêa, Marcelo Mascarenhas. II. Título.

CDD-614.4
23-176987 NLM-WA-100

Índices para catálogo sistemático: 1. Epidemiologia : Saúde pública 614.4 Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
Siglas

CID | Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a


Saúde (em inglês: International Statistical Classification of Diseases and Related
Health Problems)
SAB | Soro antibotulínico
Lista de
Figuras
FIGURA 1 | Clostridium botulinum. – pág 10
FIGURA 2 | Imagem ilustrativa, bactéria C. botulinum na corrente sanguínea. –
pág 15
FIGURA 3 | Modos de Transmissão e Período de Incubação do Botulismo. – pág.
17
FIGURA 4 | Períodos de incubação conforme modos de transmissão do
Botulismo. – pág 18
FIGURA 5 | Estágios do Desenvolvimento do Botulismo. – pág. 27
FIGURA 6 | Quando suspeitar de Botulismo? – pág 29
Introdução 8
Aspectos epidemiológicos 11
Desenvolvimento 13
Quadro clínico 23

Diagnóstico clínico-laboratorial 28

Diagnóstico diferencial 35
Tratamento 37
Prevenção e controle 41
Conclusão 44
Referências 46
BOAS-
VINDAS
Este é o seu
E-book de
Botulismo

Este é o seu e-book sobre o Botulismo.

Nele, iremos descrever os aspectos históricos, epidemiológicos e clínicos da


infecção pelo Clostridium botulinum, seu impacto na humanidade e as medidas
de tratamento e prevenção.

Além do e-book, você também terá acesso à Teleaula e Aula Web para enriquecer
seus conhecimentos.

Bons
estudos!

7
Introdução
O Botulismo é uma doença neuroparalítica grave. É de ocorrência mundial,
apesar de apresentar baixa incidência, causada pela toxina botulínica produzida
pelo Clostridium botulinum.

Se não for tratada de forma adequada e precoce, torna-se emergência médica


devido a sua alta mortalidade.

Apesar de ter casos sem acometimento grave do sistema nervoso periférico, a


definição acima é a mais corrente por enfatizar a gravidade e a alta letalidade que
pode ocorrer na evolução da doença.

9
Os casos raros de Botulismo ocorrem esporadicamente, ou como surtos
familiares ou em participantes de uma mesma confraternização, em que há
ingestão de alimentos contaminados com toxina botulínica.

FIGURA 1: Clostridium botulinum.

É reconhecido como CID A 05.1,


conforme a classificação
Estatística Internacional de
Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde.
Sendo também considerada uma
doença de notificação
compulsória.

Fonte: Prepara ENEM. Disponível em:


https://www.preparaenem.com/biologia/botulismo.ht
m. Acesso em: 28 de mar. 2023.

Clique aqui e veja mais informações sobre os aspectos


históricos relacionados a essa doença, ou escaneie o QR
code para fazer download.

10
Aspectos
epidemiológicos
64 O Botulismo é de ocorrência mundial, apesar
Casos de Botulismo de ser uma doença rara, mas que deve ser
confirmados sempre suspeitada nos casos de paralisia
entre 2002 e 2019. flácida aguda.

14,9% No Brasil, na série histórica de 2009 a 2019,


foram confirmados apenas 64 casos de
Taxa de letalidade Botulismo. A maioria desses casos não
Redução de evoluiu para óbito (64,2%), e a taxa de
casos ao longo letalidade foi de 14,9% reduzindo-se com o
dos anos passar dos anos.

O Botulismo é uma doença de notificação compulsória


imediata. Clique aqui e acesse a ficha de notificação do
SINAN ou escaneie o QR code.

12
Desenvolvimento
Etiologia
O Botulismo é causado pelas neurotoxinas
produzidas pelo Clostridium botulinum. As toxinas
A, B, E, e menos frequente a F são patogênicas
aos seres humanos.

O C. botulinum, bactéria gram-positiva, anaeróbio


obrigatório, é formador de esporos. A
esporulação permite a sua sobrevida em
condições adversas. É amplamente distribuído
na natureza, sendo frequentemente encontrado
no solo; em ambientes marítimos; em produtos
agrícolas como: legumes, vegetais, mel, vísceras
de crustáceos e no intestino de mamíferos e
peixes, de tal forma que ingerimos regularmente
esporos de C. botulinum sem consequências
deletérias. Como não faz parte da nossa
microbiota intestinal normal, as bactérias
intestinais, em condições normais, impedem sua
colonização e proliferação.

A toxina botulínica, por ser termolábil, é inativada


à temperatura de 80 graus durante, no mínimo,
10 minutos.

14
Fisiopatologia
A toxina botulínica absorvida pelo trato gastrintestinal ou através de ferimentos
atinge a corrente sanguínea chegando até as terminações nervosas, mais
especificamente à membrana pré-sináptica da junção neuromuscular.

FIGURA 2: Imagem ilustrativa, bactéria C. botulinum na corrente sanguínea.

Fonte: Envato Elements (Adaptado). Disponível em:


https://elements.envato.com/pt-br/red-blood-cells-in-vein-HF4HGBL . Acesso em: 12 de ago. 2023.

A toxina botulínica age na membrana pré-sináptica bloqueando a liberação de


acetilcolina. Ela atua como uma protease neuronal que cliva um conjunto de
proteínas essenciais para a fusão das vesículas celulares à membrana plasmática.

15
Esse conjunto de proteínas pertencem ao complexo SNARE e são responsáveis
pela fusão das vesículas com a membrana do terminal pré-sináptico.

A clivagem de qualquer uma das proteínas do complexo SNARE bloqueia a fusão


de vesículas sinápticas à membrana plasmática, impedindo a liberação de
neurotransmissores, em especial da acetilcolina.

O bloqueio na liberação dos neurotransmissores acarretará em falha na


transmissão dos impulsos na junção das fibras nervosas e consequentemente
levará à paralisia flácida do músculo inervado, sendo responsável pela
apresentação neuroparalítica da doença em sua forma mais grave.

O dano causado pela toxina botulínica na membrana


pré-sináptica é irreversível, e o restabelecimento normal
dos impulsos nervosos é dependente da formação de
novas terminações nervosas, o que pode levar meses,
determinando uma recuperação lenta e prolongada dos
movimentos musculares do paciente acometido por
Botulismo.

16
Modos de Transmissão e Período
de Incubação

FIGURA 3 - Modos de Transmissão e Período de Incubação do Botulismo.

Fonte: Elaborado por Mais Conasems, 2023.

Lembre-se da preocupação dos órgãos de segurança e


vigilância sanitária sobre o possível uso de toxina botulínica
em atos de bioterrorismo.

17
O período de incubação varia dependendo
do modo de transmissão.

Na forma alimentar em que ocorre ingestão direta da toxina presente no


alimento, o período de incubação tende a ser menor enquanto que, nas formas
intestinal e por ferimento, o período de incubação é maior devido à necessidade
dos esporos passarem à forma vegetativa e produtora de toxina. Observa-se
correlação entre os casos de maior gravidade e letalidade com períodos de
incubação menores.

FIGURA 4: Períodos de incubação conforme modos de transmissão do Botulismo.

Período de incubação MENOR.

Alimentar.
Ingestão direta da toxina presente no
alimento.

Intestinal.
Por ferimento.
Processo um pouco mais lento,
pois os esporos precisam passar Período de incubação MAIOR.
para a forma vegetativa e
produtora de toxina.
Fonte: Elaborado por Mais Conasems, 2023.

18
Botulismo alimentar
O Botulismo alimentar decorre da ingestão de alimentos contaminados com a
toxina botulínica.

Os alimentos com maior risco de contaminação são aqueles preparados,


processados e armazenados de forma inadequada.

Veja alguns exemplos:

➢ Conservas vegetais (beterraba, cogumelos, espinafre, palmito, pequi,


picles).
➢ Produtos derivados de carnes (salsicha, presunto, e outras carnes)
que passaram por processo de cozimento, cura ou defumação de
forma artesanal.
➢ Peixes defumados ou salgados, principalmente os crus.
➢ Mel.
➢ Queijos.
➢ Pasta de queijos.

O período de incubação no Botulismo


alimentar pode variar de 2 horas a 10 dias,
mas em média é de 12 a 36 horas. Quanto
maior for a quantidade de toxinas
presentes no alimento contaminado,
menor será o período de incubação.

19
Botulismo Intestinal
O Botulismo ocorre após a ingestão de alimentos contaminados com esporos de
C. botulinum que, em condições de anaerobiose, se convertem na forma
vegetativa produtora de toxinas.

As toxinas se disseminam por via sanguínea e atingem as terminações nervosas.

O Botulismo intestinal ocorre mais frequentemente em


crianças de 3 a 26 semanas, quando a microbiota
intestinal pode estar mais suscetível à colonização por
bactérias exógenas, assim sendo recebe a denominação
de Botulismo infantil.

20
Nos adultos, o Botulismo intestinal está correlacionado a condições que
predispõem alteração da microbiota intestinal como: uso de antibióticos;
cirurgias gastrintestinais; doença de Crohn e redução da acidez gástrica.

O período de incubação no Botulismo intestinal não pode


ser determinado devido ao desconhecimento do momento
em que se ingeriu os alimentos contaminados com os
esporos.

21
Botulismo por ferimentos

O Botulismo por ferimento é menos frequente que o Botulismo alimentar e


intestinal. Ocorre quando feridas, úlceras crônicas, fissuras na pele ou tecidos
esmagados são contaminados por esporos existentes no ambiente e esses se
transformam na forma vegetativa produtora de toxinas in vivo.

O período de incubação do Botulismo por feridas é maior do


que o do Botulismo intestinal, devido ao tempo que leva
para os esporos assumirem a forma vegetativa produtora de
toxina, diferentemente do Botulismo intestinal em que a
toxina é ingerida com o alimento contaminado.

O tempo de incubação varia de 4 a 21 dias, com tempo


médio estimado de 7 dias.

Outros de modos de transmissão

Há relatos mais raros de


Botulismo por administração
terapêutica ou estética de
toxina botulínica;
contaminação em laboratório
de material contaminado e
em usuários de drogas
injetáveis.

22
Quadro Clínico
Os sintomas de Botulismo se iniciam de forma súbita,
sendo que os sintomas gastrintestinais podem preceder
os sintomas neurológicos.

Sintomas Gastrintestinais mais comuns

• Náuseas.
• Vômitos.
• Dor abdominal.
• Alteração no hábito intestinal e diarreia. (Em determinados casos)

Sintomas Neurológicos

Os primeiros sintomas de acometimento neurológico


podem ser inespecíficos como:
• Cefaleia.
• Tontura e vertigem.
O quadro neurológico característico é de paralisia motora flácida
descendente associado ao comprometimento autonômico difuso.

A primeira musculatura a ser atingida é a bulbar, acarretando em visão


turva, dificuldade de focar objetos próximos e diplopia.

Além disso, no processo de evolução da doença, há o acometimento no


sentido descendente de outros nervos cranianos para a musculatura
periférica podendo atingir até a musculatura do tórax, levando à
paralisia respiratória que é responsável pela maioria dos óbitos
relacionados à doença.

24
A característica do Botulismo de acometimento da musculatura no sentido
descendente (céfalo-caudal) o distingue da síndrome de Guillain Barré, paralisia
flácida aguda ascendente que acomete primeiro a musculatura dos membros
inferiores antes de afetar os músculos respiratórios.

Os sintomas neurológicos iniciais são consequentes à disfunção dos nervos


cranianos.

Importante ressaltar que apesar dos sintomas neurológicos se mostrarem


exuberantes, não há alteração do nível de consciência nem perda da
sensibilidade.

A primeira queixa do paciente pode ser: Observam-se pupilas


➢ Visão turva; dilatadas e não
➢ Ptose palpebral uni ou bilateral; fotorreagentes em
➢ Dificuldade de convergência dos olhos; consequência do
➢ Diplopia decorrente da paralisia da acometimento do
sistema nervoso
musculatura extrínseca do globo ocular,
autônomo.
sem comprometimento da acuidade visual.

Durante a evolução da doença, caracterizada pelo


acometimento descendente dos nervos e suas
respectivas musculaturas, o paciente passa a se
queixar de dificuldade de mastigação, de realizar
movimentos com a boca, redução dos
movimentos da língua, disartria e disfagia.

25
Pode haver dificuldade em sustentar o pescoço, devido ao acometimento da
musculatura cervical. A medida que o acometimento neurológico progride de
forma descendente para os músculos do tronco, sintomas como dispneia podem
surgir e é um sinal de alerta para o risco de insuficiência respiratória e morte.

Por esse motivo, pacientes com Botulismo devem ser monitorados e tratados em
estabelecimentos que possuem unidades de tratamento intensivo, pois em caso
de falência respiratória, receberão imediatamente suporte ventilatório invasivo
(ventilação mecânica).

Importante ressaltar que o Botulismo se inicia de forma abrupta e


de rápida progressão, de tal forma que, quando se suspeita da
doença, o paciente deve ser prontamente encaminhado para
estabelecimentos de saúde que possuam recursos de suporte
ventilatório e cuidados intensivos.

26
O acometimento dos membros pode
ocasionar tetraplegia flácida, com
abolição ou diminuição dos reflexos A história natural do Botulismo é de
osteotendinosos. As alterações progressão dos sintomas por 2
autonômicas podem causar boca semanas, com estabilização do quadro
seca, íleo paralítico, retenção urinária em 2 a 3 semanas. O tempo de
e hipotensão arterial com recuperação varia dependendo da
taquicardia. reconstituição do sistema sináptico,
que pode levar de 3 meses a 1 ano,
No Botulismo intestinal, em crianças conforme o grau de acometimento
ou lactentes pode haver apenas neural.
sintomas gastrintestinais, até como
relatados de morte súbita.
FIGURA 5: Estágios do Desenvolvimento do Botulismo.

Progressão dos sintomas

2 semanas
Estabilização do quadro

2 a 3 semanas
Recuperação

Fonte: Elaborado por Mais Conasems, 2023. 3 meses a 1 ano


27
Diagnóstico
Clínico-
Laboratorial
Todo paciente com quadro de fraqueza muscular
descendente deve ser suspeito de apresentar
Botulismo.
A presença de sintomas descritos no quadro clínico, além de anamnese dirigida
para ingestão de alimentos em conserva e relatos de outras pessoas que
compartilharam dos mesmos alimentos e desenvolveram sintomas semelhantes,
fortalece a hipótese de Botulismo.

FIGURA 6: Quando suspeitar de Botulismo?

Paciente com paralisia


Paciente com quadro de flácida aguda
fraqueza muscular (especialmente quando há
descendente. disfunção bilateral do sexto
Quando
nervo craniano).
suspeitar de
Botulismo? Ingestão de alimentos
possivelmente
Sintomas gastrintestinais contaminados e sintomas
associados. típicos em outras pessoas
que ingeriram o mesmo
alimento.
Fonte: Elaborado por Mais Conasems, 2023.

Ao realizar o exame neurológico em um


paciente com Botulismo, que tenha ingerido
previamente alimento contaminado,
espera-se encontrar um paciente consciente,
que apresente perda de força muscular
descendente, diminuição dos reflexos
osteotendinosos e sensibilidade preservada.

29
A eletroneuromiografia é de grande valia por definir se a lesão no sistema
nervoso periférico localiza-se na raiz, nos plexos, no nervo, no músculo ou na
junção neuromuscular.

Nos casos de Botulismo, o comprometimento está localizado na junção


neuromuscular, mais especificamente na membrana pré-sináptica.

Infelizmente, a eletroneuromiografia não está facilmente


disponível, e, nos casos graves, não se deve aguardar a
realização dessa técnica de monitoramento para o diagnóstico
e tratamento.

30
Na suspeita clínica de Botulismo,
deve-se solicitar imediatamente
pesquisa de toxina botulínica no
soro, nas fezes, nas secreções
gástricas através de lavado gástrico
do paciente e no alimento suspeito
de contaminação.

A solicitação de pesquisa de toxina botulínica sempre é


realizada antes da administração da toxina do soro
antibotulínico (SAB) para evitar que a toxina ativa seja
neutralizada antes da coleta e evitar resultado falso negativo
por esse motivo.

Os alimentos e as feridas, possivelmente,


contaminados e as fezes do paciente
podem ser cultivados para C. botulinum.

Em apenas um terço dos pacientes com


evidências clínicas de Botulismo é
detectada a toxina no soro ou nas fezes; e
a cultura das fezes é positiva em cerca de
60% dos pacientes suspeitos.

31
Do ponto de vista epidemiológico, a suspeita clínica antecipa a confirmação
diagnóstica, a liberação do SAB e a investigação epidemiológica.

Todo caso suspeito deve ser conduzido, tratado e investigado como se fosse
Botulismo.

A definição de caso
suspeito de Botulismo
alimentar e por ferimento é
baseada na condição em
que o indivíduo apresenta
paralisia flácida aguda,
simétrica, descendente,
sem alteração do nível de
consciência associado à
presença de visão turva,
diplopia, ptose palpebral,
boca seca, disartria,
disfagia ou dispneia.

História clínica de consumo


de alimentos nos últimos
dez dias ou ferimentos nos
últimos 21 dias reforçam a
suspeita.

32
A vigilância epidemiológica considera caso suspeito de Botulismo intestinal:

Em crianças menores de 1 ano Em adultos

Quadro de paralisia flácida aguda de Quadro de paralisia flácida aguda


evolução insidiosa e progressiva, simétrica descendente sem alteração
associado à: do nível de consciência, associado à:

➢ Constipação intestinal ➢ Visão turva;


➢ Sucção fraca; ➢ Diplopia;
➢ Engasgo; ➢ Ptose palpebral;
➢ Disfagia; ➢ Boca seca;
➢ Choro fraco ou dificuldade de ➢ Disartria;
controle dos movimentos da ➢ Disfagia ou dispneia, e na
cabeça. história clínica não há relato de
ingestão de alimentos
potencialmente contaminadas
com toxina botulínica nos
últimos 10 dias ou de
ferimentos nas últimas 3
semanas.

33
A vigilância epidemiológica considera caso confirmado de Botulismo, baseado
em critérios laboratoriais, nas seguintes situações:

Caso suspeito que apresente exame positivo para presença de toxina


botulínica em amostras clínicas coletadas e/ou a detecção da presença de
toxina botulínica nos alimentos consumidos nos últimos 10 dias.

Caso suspeito de Botulismo intestinal ou por ferimento no qual foi isolado o


C. botulinum nas fezes ou no material coletado do ferimento.

E baseados em critérios clínico-epidemiológicos na seguintes situações:

➢ Caso suspeito com vínculo epidemiológico com caso confirmado.


➢ Caso suspeito com história de consumo de alimento potencialmente
contaminado com toxina botulínica nos últimos 10 dias, antes do
aparecimento dos sintomas.
➢ Caso suspeito com eletroneuromiografia compatível com Botulismo.
➢ Caso suspeito com ferimento em condições de anaerobiose nos últimos 21
dias, antes do aparecimento dos sintomas.

34
Diagnóstico
Diferencial
O diagnóstico diferencial
deve ser feito com:

36
Tratamento
O tratamento do Botulismo, tanto de
suporte como o específico, deve ser
instituído o mais precoce possível devido a
sua alta mortalidade e conduzido em
Unidades de Terapia Intensiva.

Tratamento de suporte

Baseia-se na monitorização dos dados vitais, principalmente relacionados ao


trato respiratório.
A ocorrência de disfagia, regurgitação nasal, diminuição do movimento da língua
é indicativo de intubação orotraqueal para manutenção das vias aéreas pérvias e
evitar aspiração pulmonar.

O acometimento da musculatura respiratória requer assistência ventilatória por


ventilação mecânica antes mesmo que haja alterações gasométricas ou
hipoxemia ou hipercapnia.

Retardar a indicação de ventilação mecânica pode ser desastroso. A realização de


lavagem gástrica, enemas e utilização de laxativos podem auxiliar na eliminação
da toxina nos casos de Botulismo alimentar na sua fase inicial.

Tratamento específico

Baseia-se no bloqueio da toxina por meio da administração de soro antibotulínico


(SAB) e a eliminação do C. botulinum por meio de antibioticoterapia.

Deve-se coletar todas as amostras laboratoriais antes do início do tratamento


específico, a fim de se evitar resultados falso negativos em consequência da
neutralização das toxinas pelo SAB e eliminação do C. botulinum pela
antibioticoterapia.

38
A administração do SAB deve ser o mais precoce possível pois só neutraliza a
toxina circulante, não tendo nenhum efeito nas toxinas ligadas ao sistema
nervoso. A dose recomendada é de 1 ampola de SAB bivalente (toxinas A e B)
ou trivalente (toxinas A, B e E) administrada por via endovenosa.

A ampola de SAB tem 20 ml e deve ser diluída em 200 ml de SF 0, 9%, mantendo


proporção de 1:10, e infundida por via endovenosa durante 60 minutos (1 hora).
O SAB por ser derivado de soro heterólogo equino apresenta risco de efeitos
colaterais como: reações alérgicas, de hipersensibilidade, doença do soro e mais
raramente choque anafilático.

O SAB é solicitado pelo médico assistente, com o devido preenchimento da ficha


de notificação acompanhada da prescrição e do relatório do caso, à vigilância
epidemiológica da secretaria municipal de saúde que repassa a solicitação à
secretaria estadual de saúde para liberação e fornecimento do SAB.

No Brasil, o SAB é produzido pelo Instituto Butantã.

39
O uso de antibióticos no Botulismo alimentar não está bem definido, não
havendo indicação corriqueira de antibioticoterapia nesses casos, sendo sua
indicação muitas vezes relacionada à pneumonia associada à ventilação
mecânica em pacientes submetidos à assistência ventilatória.

O uso de aminoglicosídeos e tetraciclinas deve ser evitado, pois podem piorar a


evolução do Botulismo, principalmente em crianças, por reduzir a entrada de
cálcio no neurônio potencializando o bloqueio neuromuscular.

É aventada também a possibilidade de piora do Botulismo intestinal com uso de


antibióticos, devido à possibilidade da lise bacteriana provocar maior liberação
de toxina. Não há indicação de SAB ou antibioticoterapia em crianças menores de
1 ano com Botulismo intestinal.

Nos casos de Botulismo por ferimento, recomenda-se o desbridamento da ferida


e a prescrição de penicilina cristalina na dose de 10 a 20 milhões de UI/dia para
indivíduos adultos e 300.000UI/kg/dia para crianças, em doses fracionadas de
4/4h, por via endovenosa, e durante 7 a 10 dias.

O metronidazol é uma alternativa, sendo recomendada a dose de 2g/dia para


adultos e 15 mg/kg/dia para crianças, por via endovenosa, em doses fracionadas
de 6/6h durante 7 a 10 dias.

40
Prevenção e
Controle
Ações de educação em saúde enfocando a
manipulação, o armazenamento e o preparo de
alimentos, e ações de vigilância sanitária na
fiscalização da indústria alimentícia e de
produtores de alimento são as melhores formas
de prevenção do Botulismo.

Informar sobre os riscos de adoecimento do


Botulismo é responsabilidade dos órgãos e
profissionais de saúde. Projetos como Saúde na
Escola e Educanvisa são experiências exitosas e
refletem-se no controle e evitamento de
ocorrência de Botulismo.

A população geral deve ser informada: toda lata


de alimento que estiver estufada deve ser
descartada; na produção de conservas e de
alimentos sub-processados e não ácidos de
carnes, peixes e vegetais, a manipulação e o
armazenamento devem ser feitos
adequadamente; para a preparação de
alimentos (como salsichas), recomenda-se
fervura por 10 minutos com a finalidade de
eliminar possíveis microrganismos patogênicos
como o C. botulinum.

42
Boas práticas de higiene e outros processos no
preparo de alimentos e conservas como: salga e
secagem, fermentação ou acidificação dos
alimentos previnem o Botulismo. A indústria
alimentícia utiliza-se de vários aditivos para
impedir o crescimento de C. botulinum nos
alimentos.

Sempre que ocorrer um caso de Botulismo, as


vigilâncias epidemiológica e sanitária devem
identificar a fonte alimentar causadora da
doença e interromper de imediato o consumo, a
produção e/ou a distribuição da fonte alimentar
suspeita.

A imunização ativa com toxoide botulínico só


está indicada para pessoas em atividades que
entram em contato direto ou manipulam C.
botulinum.

43
Conclusão
Apesar de não existir vacina para o Botulismo, ações de
Prevenção e Promoção da Saúde voltadas para a
manipulação e conservação adequada de alimentos
previnem e podem evitar a ocorrência de Botulismo.

Embora a toxina botulínica seja mortal e apenas


pequenas quantidades causem doenças, a toxina não
resistente ao calor pode ser destruída se aquecida a
80°C durante pelo menos dez minutos.

Importante, também, ressaltar que os serviços de


saúde contam com o soro antibotulínico fornecido pelo
SUS para seu tratamento.

45
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de
Vigilância em Saúde [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em
Saúde. – 5. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2021.

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