A_prevalença_do_destino
A_prevalença_do_destino
A_prevalença_do_destino
DESTINO
de
PERSONAGENS
Índio
Velha Dona Neném
Moça 1
Moça 2
Moça 3
Moça 4
Moça 5
Moça 6
Zilda
Lico
Mocinha
T alhado
Cangaceiro 1
Cangaceiro 2
Cangaceiro 3
Cangaceiro 4
Cangaceiro 5
Cangaceira 1
Cangaceira 2
Laurino
Capitão
Dona Lulu
Dr. Dirceu
Dona Heloísa
Mariquinha
Conferencista
Macaco 1
Macaco 2
Fazendeiro
Padre
Professora
José Baldino
Macaco 3
Lampião
Maria Bonita
Cangaceira 3
Cangaceira 4
Irinéia
3
grande para acomodar quatro ou cinco pessoas em cima, suficientemente alto para caber
gente em pé debaixo.
PRÓLOGO
Escuro.
Soa um chocalho.
O palco vazio abaixo dele se banha de luz vermelha como fogo, como sangue.
Em transe, profetiza:
terrada... pli...
CENA 1
Usa chapéu de abas redondas e um retângulo de pano que cobre inteiramente seu rosto.
VELHA - Cauã ele chamava. Era o pajé mais velho dos índios Xucuru. No último
dia do século ele subiu na serra. Lá do alto, olhou aquela vastidão de terra
Tupã, de Anhangá, pra perguntar pra eles os mistério do novo tempo que
ia começar. Ficou a noite inteira lá, retorcendo nas visão do outro mundo.
E o que ele viu foi duas cobra versidade de vez se ligando e se vastando,
desenhando coisa que só ele entendia até se juntar na forma de dois ésse.
De manhã Cauã desceu do monte e profetizou assim pra tribo: Birré berré
barrâ a-borrô
VELHA - Um novo tempo se abre com duas vibra trançada: seca e sangue.
VELHA - O índio Cauã tava certo. Desde que começou o século que só se viu nesse
sertão esses dois ésse enganchado, feito cobra malina: seca e sangue, seca
M OÇA 2 - Qual, madrinha, tá querendo botar susto na gente. M eu pai disse que no
VELHA - M as naquele tempo era diferente. É... muito mais diferente de hoje. Teve
a pior seca que já teve foi em setenta e sete. Durou três anos, durou. M il
tudo, se arretirava pra longe. O mais das vez nem voltava. Tudo largado,
abandonado. As terra era dos coroné, não tinha governo pra dar ordem.
As luta era de família contra família, não fazia judiação com o povo. Até
Lampião...
M OÇA 2 - Pois eu acho que é tudo igual. A senhora é que nem minha avó. Sempre
VELHA - Sinhô Pereira foi o último cangaceiro honrado. Foi. Tanto que deixou o
cangaço e foi viver vida de gente em Goiás. Não é que nem Lampião e
M OÇA 1 - Dixéro que foi Sinhô Pereira que botou Lampião no cangaço. Verdade,
madrinha?
VELHA - É. Ele mais os irmão. Antonio, Livino, Ezequiel. Verdade, sim. Lampião
conheci. “Não tenho filho pra guardar no baú”, ela dizia. “Filho meu tem
VELHA - Zilda errou. Olha aí. Não fez quase nada. Tá doente, menina?
VELHA - Se tá doente vai pra casa se deitar. Se não tem nada, tome jeito. Senão lhe
seguro aqui até terminar seu dever. Não vai querer perder a festa, vai?
Zilda despois.
ZILDA - É.
VELHA - Tô.
M OÇA 2 - Por que? Pode ser até que ela faça gosto da filha se juntar com
cangaceiro.
M OÇA 1 - Não provoca! Que mãe vai querer que cangaceiro leve sua filha pro
cangaço?
M OÇA 2 - M inha mãe contou que a mãe de M aria Déa foi quem mandou recado pra
M OÇA 5 - É, sim. Lampião foi lá na sapataria do marido dela e M aria Bonita quando
M OÇA 2 - “Vai me levar ou quer que eu lhe acompanho?” eu tombém já sei dessa
história. M as foi a mãe dela que mandou chamar o tinhoso. Foi minha
M OÇA 6 - E como é que tua mãe sabe? Vai ver que tá querendo entregar a filha
M OÇA 2 - M inha mãe não é dessas, não, tá ouvindo? M inha família não tem medo
VELHA - Olha aqui, menina. Não quero saber dessas conversa na minha casa não.
polícia. Não chama ninguém disso, nem daquilo não, tá ouvindo? Deixa o
M OÇA 2 - M eu pai... ele falou que a senhora fala mal dos cangaceiro, diz que não
gosta dos bandido, mas é só pra disfarçar. Disse que a sua casa é coito de
Lampião e que tem até gente sua mesmo no bando dele. Vosmecê é
Antes, porém, que possa haver reação, entra um grupo de três cangaceiros armados até os
Mocinha se põe de cócoras, aperta a barriga, geme de dor, mas forte, calma.
Entra outro cangaceiro, altivo e forte. É Lico, que vai até a velha.
Mocinha deita-se no chão, cabeça voltada para o lado da platéia, as pernas, dobradas e
abertas voltadas para o fundo do palco. Geme alto, numa contração, apertando a barriga.
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A Velha vai até ela. Ajoelha-se a seu lado. Apalpa a barriga, encosta o ouvido para ouvir o
feto. Mocinha relaxa. Dona Neném levanta sua saia, e a examina com a mão examina.
A Velha se põe de pé. Dirige-se a Lico, dá uma olhada para o grupo de moças
atemorizadas.
LICO - Tivemos de dar volta pela serra, dona Neném. M acaco pra todo lado.
Lico vai até Mocinha, ela agarra a mão dele, com dor, sem medo.
VELHA - Que é que tão aí feito manteiga derretida, suas tontas? Nunca viram
mulher parir, não? Pois vão ver agora. Zilda, venha me ajudar.
LICO - Inda não. Talhado ficou de vigia. Vem me avisar quando eles entrar no
terreiro.
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LICO - Ninguém não vai prender ninguém. Tem de esperar chegar os outros meu
M OÇA 2 - Eu não vou esperar nada. Quero ir já. (avança para sair)
M OÇA 2 - (furiosa) Bandido da peste! Tu vai ver o que meu pai vai te fazer. Vai te
LICO - Êta! Parece onça braba! Será que é essa que Zé Laurino escolheu?
Os outros riem.
LICO - Ah! Seu Neco da Pedra... Apois, é com ele mesmo que nós temos umas
M OÇA 2 - M eu pai não tem nada que acertar com cangaceiro sujo nenhum.
Lico bate na moça que cai aos pés das outras, chorando.
A Velha entra com panos limpos na mão, Zilda atrás com uma bacia de água quente.
VELHA - Tô aqui...
A Velha se curva sobre Mocinha, sente a barriga, examina a dilatação, enquanto Zilda põe
está muito mais rápida, ela faz força a cada contração. A criança está começando a
nascer.
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VELHA - (para os cangaceiros) Que é que tão olhando, vocês aí? Vira a cara pra lá
que isso não é coisa pra homem assistir. (para as moças) E vocês chega
Por entre as pernas delas se entrevê a Velha fazendo o parto, Zilda segurando as mãos de
Virgem depois do parto, tal foi a obra do Espírito Santo que gerou em
Algumas moças viram o rosto. Uma chora. A Moça 2, ainda perturbada, assiste tudo de
VELHA - Êhê! Pronto! (dá uma palmada) Êta cabra macho! Não chorou nem pra
nascer.
Os homens se aproximam.
M OCINHA - É perfeito, é?
Zilda enrola os panos embaixo das costas de Mocinha, formando um ninho mais
Moça 1 sustentando a Moça 2 que está muito estranha, perturbada, olhar fixo.
VELHA - (para Zilda) Tu fica aí com ela. (para Lico, que está ao lado da mulher e
se levanta) Lico, eu queria que você deixasse essas menina voltar pra
casa. Deixa.
LICO - A madrinha desculpe, mas nós tem que esperar chegar os cabra tudo do
bando. Não podemo arriscar, madrinha. Tem gente aqui na vila que quer
TALHADO - Pronto, Lico. Chegou tudo. E já tão tudo nos lugar que você mandou.
TALHADO - Nenhum.
VELHA - É. Eu sei que vocês quer acertar o homem, mas a moça não tem nada com
LICO - É tu que Laurino vai levar pra mulher? (Zilda fica muda) Como é que
você chama?
ZILDA - Zilda.
LICO - Hum... Tá bão. Antão você já fica aí, ajuda tratar de meu filho. Tá
M OCINHA - Tô.
LICO - Antão vou cuidar do serviço que Laurino deve de estar me esperando.
LICO - Vocês dois cabra fica de guarda aí na porta. Você vem, mais eu, pra
ZILDA - É sim, madrinha. Foi meu irmão que trouxe o recado ontem.
um pouco dágua.
M OCINHA - Não se avexe não, Zilda. Sente aqui de meu lado que lhe falo um pouco
da vida da gente.
Black out.
Mocinha com seu filho no colo, Zilda a seu lado, aninhadas no chão, no mesmo lugar.
E dividisse as quitanda
M OCINHA - Passei num rio com água pelo pescoço, chuva, tempo ruim. Eu já com
dor, subi uma ribanceira, entramos num mato. Você sabe o que é tiririca,
né, de espinho? Era quebrado com pau pra se passar. Andei duas légua.
nas costa do cabra, subimos uma barranca adiante e tava aqui. O resto
você sabe.
M OCINHA - Dá. Quer dizer, num tiroteio não dá não. Fica é tudo. Se morrer fica lá,
fica bornal, fica tudo. (olha a criança, carinhosa) Filho se tem é pra zelar.
Este aqui, igual que o outro, tem enxoval, tudo direitinho que em cada
outra vez, eu fiquei três mês com o menino até que num tiroteio a bala
quase pega o bichinho. Antão mandei entregar pra quem já tava certo de
quero ver, num pode. Pru mode não perseguirem o coitadinho. Este aqui
não vou nem levar. Já fica com dona Neném pra entregar pra quem já tá
combinado.
M OCINHA - Óxente! Claro que tenho! A vida no cangaço é muito sofrimento. M as tem
logo na vida nova, porque elas vão ter de secar mesmo sem ajuda de
ninguém.
De repente, Lico, os três cabras que estavam de vigia, mais dois cangaceiros cantadores,
Já entram tocando e cantando, cercando Zilda e Mocinha. Ritmo alegre, como num
Risos, aplausos
Na tropa de Lampião
E poeta cantadô
Ou mesmo governadô
Risos, aplausos.
Os cangaceiros cercam Mocinha, uma das cangaceiras pega seu filho no colo.
LICO - Agora vamo saindo que M ocinha tem de descansar. Vamo saindo.
Presidente do Brasil
M OCINHA - Ai, ai! Inté que era bão: Lampião, presidente do Brasil! Ia ser muito
chefe de nós tudo, não sabe? Não teve nunca cangaceiro que nem ele.
Os bando sai, cada um pra suas terra, com seus chefe, mas é Lampião o
tudo feito bicho do mato. Onde passa cascavel, também ele passa. Pra
VELHA - Falei.
VELHA - Nada, coitado. O que é que ele pode fazer? Se for dar parte à polícia, a
A Moça 2 irrompe em cena, os dois cabras que estavam de guarda tentando impedir sua
entrada. Ela está chorando, roupa em frangalhos, rosto ferido, descalça, sangue nas
pernas, na roupa.
M OÇA 2 - (olha a Velha, olha Zilda, olha Mocinha) Primeiro veio um... um dos
que matou pai... Tô abrindo a vereda, ele falou. Enfiou a carne dele em
Moça 2 se deixa cair sentada no chão, começa a oscilar o corpo para frente e para trás.
No meio da canção Lico entra, muito nervoso, acompanhado de outro cangaceiro, Laurino.
Laurino estaca e olha Zilda fixamente, Zilda compreende quem ele é e fica rígida, cabeça
baixa.
VELHA - Vocês já não esfolaram o pai dela? Destruíram tudo, tomaram sua
M OCINHA - (firme) Não, Lico. Não ameaça a dona Neném. Ela sabe o que faz. O
Lico fica confuso com a intervenção de Mocinha. Não sabe o que fazer. Grunhe um
A Velha vai saindo, conduzindo para fora a Moça 2 que ri, baixinho, louca, mansa.
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Mocinha percebe a situação, ocupa-se de seu filho, disfarçadamente atenta aos dois.
LAURINO - Óia, menina, eu não sou onça pru mode tá comendo gente não, ouviu?
Vosmicê pode ficá à vontade. Ninguém vai lhe fazer mal. No meio da
gente só tem mulher decente. Tudo gente de valor: dona M aria Bonita,
minha muié.
Zilda levanta o rosto e olha para ele, surpresa com a delicadeza e beleza de Laurino.
Mocinha ri gostoso.
LAURINO - Carça.
Zilda obedece, Laurino coloca as mãos sobre a cabeça de Zilda e fecha os olhos, contrito.
Reza enquanto gira em torno dela, aplicando-lhe passes nos ombros, na cabeça, nos
braços, no ventre.
LAURINO - Justo Juiz de Nazaré, filho da Virgem M aria que em Belém nasceste
entre as idolatria, eu vos peço Senhor, pelo vosso sexto dia e pelo amor
de meu padrim Cícero que meu corpo não seja preso, nem ferido, nem
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morto, nem nas mão da justiça envorto. Pax tecum, Pax tecum. Se os
meus inimigos vier pra me prender, terão olhos e não poderão me ver,
terão ouvidos, mas não me ouvirão, terão boca, mas não falarão. Com
serei guardado, onde não me possam ver, nem ferir, nem matar, nem o
assim como andou Jesus no ventre da Virgem M aria, Deus adiante, paz
na guia. Amém.
M OCINHA - Amém.
Zilda olha de um para o outro sem entender. Por fim compreende e diz:
ZILDA - Amém.
LAURINO - Agora, vá se aprepará que nóis vamo embora assim que raiá o dia.
LAURINO - (ri) Óxente, e cangaceiro lá tem rumo? Nóis vamo indo pra onde Deus
é servido.
Laurino sai.
Mocinha avança até a Velha. Olha o bebê, chora manso, abraça com força a criança,
entrega para a Velha. Afasta um passo, torna a avançar, olha o bebê outra vez, curva-se,
Ao passar por Lico, ele coloca o braço em seus ombros e saem juntos.
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VELHA - Deus lhe abençoe, filha. Tome conta do seu homem. Cuidado pra ele
VELHA - Hã! Já vi muito hóme morrer engasgado e nem não foi no cangaço não,
tá ouvindo?
Zilda chora.
VELHA - Óxente, menina. Chore não. Seje forte. Vai em paz, minha filha. A
A Velha olha o bebê em seus braços. O foco vai se apagando sobre ela, e a Velha sai de
cena na penumbra.
CENA 2
À esquerda do palco acende-se uma área de luz. Para ela avançam lentamente o Capitão e
Lulu, sua esposa, recebendo em visita o Dr. Dirceu, sua esposa dona Heloísa e
abandonam a luta. Não lutam para vencer só, mas pra se salvar,
sempre.
DR DIRCEU - As volantes tem mais honra, claro. Não devem abandonar o campo de
CAPITÃO - É. Não há dúvidas de que Lampião tem um trunfo nas mãos, uma
muito oficial. Sabe cobrir a retaguarda para dar tempo para a retirada,
DR DIRCEU - M as apesar dessa perícia toda, Lampião foi ferido pelas tropas
pernambucanas.
CAPITÃO - É verdade.
religioso, de honra. Nas duas ou três vezes que me encontrei com ele
D. LULU - Sabe, Heloísa, depois que mataram o irmão mais velho dele, Livino...
D. LULU - Isso, Antonio. Lampião não quis mais cortar o cabelo, e agora é de
DR DIRCEU - O senhor acha então que ainda vai demorar muito tempo pra nos livrar
do flagelo do cangaço.
CAPITÃO - (sorriso) M enos nos crimes, está claro. As marchas forçadas pelas
água para saciar a sede e se banhar. Tudo é incerto. Tão incerto quanto
ou morto.
transportam.
CAPITÃO - Só quem está nesse serviço pode fazer idéia do que é a oposição que as
volantes encontram da parte dos que moram nos matos. Uns, por medo
dos cangaceiros, outros porque acham que eles são amigos e até
benfeitores.
D. LULU - Isso não é conversa para senhoras. Vamos para a outra sala, vou
procurando.
D. LULU - É, sim.
casa.
D. LULU - Deixe, Heloísa, é natural que ela tenha curiosidade. Afinal, não se fala
D. LULU - Pois então, Sabina vai indo muito bem no Rio. Está contente com o
casamento e tudo. M e escreveu uma carta linda. E contou que até lá,
D.HELOÍSA - É mesmo?!!
D. LULU - Bom, a gente estava viajando, o Capitão e eu, com escolta pequena,
saber o que era, nem deu sinal de vida. M eu marido, que também já
D. LULU - Eram.
D.HELOÍSA - M ariquinha!!
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D. LULU - Bonitos? Não sei. São vistosos, chapéus cheio de medalhas, anéis nos
M ARIQUINHA - Ruim?
D. LULU - É um cheiro forte. Cheiro de... de bicho. Que eles tentam esconder
M ARIQUINHA - Duvido que M aria Bonita seja fedida. M ulher fedida não ia ser
chamada de Bonita.
D. LULU - (sorri) É, M ariquinha, acho que você tem razão. Dizem que ela é muito
bonita mesmo.
D.HELOÍSA - Pior ainda! M oça bonita, podia casar bem, acabou mulher de bandido.
D.HELOÍSA - Onde é que a senhora anda sabendo dessas coisas, onde já se viu! Nós
D. LULU - É verdade, M ariquinha. É uma história até bonita pra quem gosta de
M ARIQUINHA - Sirigaita?
depois, veio junto Lampião em pessoa. Entrou, olhou assim pra M aria.
D.HELOÍSA - M ariquinha!!!
CAPITÃO - Eu mesmo não corto. Os soldados é que cortam. Eu mando cortar pra
DR DIRCEU - Instituto?
CENA 3
CONFERENCISTA – Seleto auditório, senhoras, senhores, boa noite. M ais uma palestra
fatigarem facilmente. Não, não foi por isso, nem por sua escassez nos
mais frios, mais retraídos, mais irritáveis, mais apegados aos próprios
Lentamente a luz vai se apagando sobre ele, que continua a falar, mesmo no escuro.
Enquanto isso, a luz vai se acendendo sobre o grupo de cangaceiros, que termina de
arrumar o acampamento.
Talhado.
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Assim que o Conferencista sai, ouve-se um grande trovão, seguido pelo clarão do raio.
CANGACEIRA 1 - Ocêis dois, Curuca e Pitu, vai apanhar lenha depressa antes do toró
cair. Senão nóis tudo vai ter de comer farinha fria e rapadura.
Os dois vão indo, mas ouve-se nova trovoada, novo raio e o ruído da chuva forte.
Os cabras voltam depressa para a torda, todos se abrigam. Ficam olhando a chuva cair.
M OCINHA - Bonito!
ZILDA - Com o céu preto assim, desabando água a gente vê como que somos
pequeninos.
CANGACEIRA 2 - Uma é a Casa Santa de Jerusalém onde Jesus Cristo nasceu. E eu digo
dois.
M OCINHA - Duas são as tábua de M oisés que Nosso Senhor Jesus Cristo trouxe em
LICO - Três são os três cravo que cravaram Nosso Senhor na Cruz. E digo
quatro.
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LAURINO e CABRA 1 – (juntos) São João, São M ateus, São M arco e São Lucas.
CABRA 1 - Cinco são as cinco chaga de Nosso Senhor Jesus Cristo. E digo seis.
ZILDA - Seis são os seis filho bento da Casa Santa de Jesusalém. Digo sete.
CABRA 1 - Oito são os oito corpo santos de Casa Santa de Jerusalém. Digo nove.
Nove.
CABRA 2 - Nove são os nove coro de anjo que para o céu subiu, digo dez.
ZILDA e M OCINHA – (juntas, sorrindo) Dez são os mandamentos de meu Senhor Jesus
Cristo.
CABRA 2 - Onze são as onze mil virge que estão na companhia de meu Senhor
TODOS - Treze são os treze reis que parte tudo e arrebenta assim com eu hei de
Talhado, durante a reza, já começa a dedilhar preguiçoso o violão. Quando a reza termina
ele para. Silêncio, frisado apenas pelo ruído da chuva mansa. Ele começa meio cantar,
meio recitar.
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(risos)
É na verdade um tesouro
E a coronha é de ouro.
E um rifle americano.
CANGACEIRA 1 - Eu não!...
É faceira e é bonita
e um menino machinho .
LAURINO - Que que tem essas muié que não para quieta?
LICO - M elhor dá mais proteção pra elas que o lugar aqui não é dos melhor.
TALHADO - Não... Tô lembrando aqui de Pedra Grande. Chovia assim que nem
LAURINO - Não.
CABRA 1 - Eu tava.
CABRA 2 - Eu tomém.
TALHADO - Cês lembra? Cumpadre Lampião deu as ordem mais bonita de toda a
comero fogo de três lado que foi uma bagacêra. E nóis trincherado nas
TALHADO - Nunca nóis viu o cumpadre melhor que nesse dia. Disposição como
trinta e as orde rigorosa, bem dada de fazê gosto. Foi ou num foi?
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CABRA 1 - Foi.
LAURINO - M elhor não fazer fogo mais hoje, não. M ió não revelar nossa posição
ZILDA - Sei não. M ocinha tá com umas conversa esquisita. Diz que tô
esperando neném.
LAURINO - Vixe M aria! Será que Cristo Nosso Senhor vai conceder essa graça
LAURINO - Ah, mas fio não devia de nascer nesse inferno, não. Se os macaco não
ZILDA - É bicho?
TALHADO - Cheiro de sovaco mal lavado. Tem macaco perto. (vai sair)
TALHADO - (também baixinho) Tenho reza forte no bolso, Laurino. A bala bate em
TALHADO - É “Prece de Deus Padre”, Laurino, só água de rio e de mar é que pode
VOZ 1 - (berrando da coxia) Laurino! Corno fio de uma puta, tu pensava que podia pegar a
VOZ 2 - Cala a boca, fio de uma jéga! Tu num presta nem pra ter mulher.
VOZ 1 - Tá de muié nova, Laurino? Foge e deixa ela pra nóis que nóis mostra
LAURINO - Se quiser muié, fio duma égua, pruque num dorme com tua irmã que
Laurino atira, os cabras atiram, gritando e zurrando feito burros enquanto as mulheres
macaco safado! Caminha pra cá que é pra nós arrancá teu rabo!
VOZ 2 - Corno safado, cangaceiro nojento. Ganhou mas não leva. Tu só escapa
Laurino, os dois cabras, Mocinha, Zilda e as duas cangaceiras vão recuando e atirando.
Mocinha estaca.
Laurino impede Zilda e eles saem, o grupo para um lado, Mocinha para o outro.
M ACACO 1 - Seu tenente, vamos acabar de matar essa puta que já tá com o pé
M ACACO 1 - Tu tá é louca.
M OCINHA - (grita) M e dá uma faca! Quero cortar fora. Não guento mais a dor.
CORTAAAAA.
Macaco 1 sai.
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não vai lhe desrespeitar não, tá ouvindo? Eu não deixo. Lhe respeito
porque vosmecê é guerreira. Vale mais que muito cabra macho que
M ACACO 2 - (saindo com o outro) Leva ele e depois vem buscar essa daí. Óia que
Saem. Mocinha, chorando de dor, arrasta-se penosamente para a coxia por onde eles
saíram.
CENA 4
FAZENDEIRO - Quero mais antes me ver neste oco do mundo às volta com bandido
cangaceiro. Querem, por fina força que a gente descubra o roteiro dos
protege quem eles caçam. Nem tem pronde correr; ninguém escapa...
PADRE - M inha filha, não fica bem uma moça falando dessas coisas.
PROFESSORA - É, seu vigário, Lampião é também conversador que nem o senhor. Diz
dele, marcar com ferro em brasa. Na cara, nas parte, nas coxa.
PADRE - Tem muito exagero nas coisas que dizem dele. Faz muitos anos cruzei
trataram muito bem. Tentei quanto pude fazer Lampião entender que
homem muito especial. Devoto e alerta como ele só. Foi ele que me
de água ali. M as Lampião sabe tudo. Água boa no sertão é coisa rara,
gatos, aves e para Lampião. É um homem muito especial, ele. Pelo que
PROFESSORA - Sei não. Eu mesma vi, em Vila Bela, um pobre que ele tinha acabado
O coitado tava todo sarapintado que parecia que tinha moléstia de pele.
JOSÉ BALDINO - (chegando ao grupo, fumando) E não é só isso, não. Se quiserem ouvir
PADRE - Francamente, não creio que isso seja assunto para festa.
PROFESSORA – (seduzida pelos olhares de José Baldino) Por que não, seu padre? Deixe
toda e dançaram a noite intera com elas nua nuela em pelo. De manhã
JOSÉ - A história não acaba aí, não, seu padre. De manhã cedo, veio o
também, enfiou uma vela atrás do pobre, acesa, e fez o homem passear
pela rua (Professora ri, maliciosa). Ficou todo queimado que não
FAZENDEIRO - Só se fosse maluco! Ter questão com soldado é ter questão com os
FAZENDEIRO - M uito desprepósito, muito abissurdo que se cuida por aí afora foi feito
JOSÉ - Nesse caso por que o senhor não trata de restabelecer a verdade, meu
Deus?
FAZENDEIRO - Está doido? A gente se cala por que? Não vê que é muito mais fative a
assim: o negócio fia mais fino. Viver destacado no sertão pra eles é
como um pão com dois pedaço. Andam eguando por aqui e voltam pra
é que bandido vai querer dinheiro? Só pode ser pra comprar a poliça
JOSÉ - (sério, sorrindo fixo) Em que consiste esses abuso cometido pela
poliça?
FAZENDEIRO - Quer que eu diga, eu digo. Eles açoita, prende, judia, desonra, mata,
tocam fogo, rouba, tudo o que a professora aqui tava dizendo, tudo é
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FAZENDEIRO - Conversa! Então eles hão de querer acabar com o meio de vida deles?
continue pra poderem levá a vida que gostam. Esse tal Virgulino, por
PROFESSORA - M atar Lampião não resolve nada. O problema é social. Tem que acabar
FAZENDEIRO - Se estivesse nas minhas mão, ele era preso e não morto. Ele devêra era
tomar galés perpétua não só pra purgar os crime que pratica, mas
JOSÉ - Acho.
FAZENDEIRO - (olha José nos olhos um tempo) Bom, seu tenente, agora já falei, não
vou desfalá. Falei o que acho, o que achamo nóis tudo fazendeiro
daqui.
JOSÉ - Eu... eu sou uma pessoa pacata, nunca quis andar com esse negócio de
arma na mão pra fazer mal aos outro. Agora, quando Lampião me
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convidou pela terceira vez pra entrar no bando dele, eu vi que daquele
contra ele. Aí, tratei de pegar em arma contra ele. Até nem acho que
ele é tão perverso. Tem pior no bando, em outros bando debaixo das
órde dele. Lampião é meu inimigo e coisa, mas eu, falá a verdade, o
que fizeram com Lampião era pra ele fazer mais do que vem fazendo.
Quem vê seu pai e sua mãe morta, sem dever coisíssima nenhuma, só
cabeça pensante, nunca vi tanto tino que nem o dele na caatinga. Não
nunca mais outro Lampião. M as a liberdade que ele vive é que não tá
maioria, concordo, mas gente de respeito que nem o senhor não devia
falar assim da ação da poliça. É nós que vamo ter que acabar com
Brasil inda mais do que já abalou. Agora, até Padim Ciço, que seu
JOSÉ - Não tem ofensa nenhuma. A verdade é que Lampião agora é capitão.
Ao fundo, sobre o praticável acende-se muito lentamente uma luz difusa, recortando a
silhueta de Lampião inteiramente equipado, que ali ficará até o final da peça.
JOSÉ - Assim que ele assina agora os bilhete exigindo dinheiro dos fazendêro.
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PADRE - E o que é que Padre Cícero Romão tem a ver com isso?
JOSÉ - Pois pode acreditar. Com essa história dos revoltoso comunista que
Preste.
PADRE - Padre Ciço deve ter agido de boa fé. Tentando puxar o bandido para
fez muita miséria depois de ser capitão. E vai continuar fazendo se não
José Baldino tira a arma, imediatamente em guarda, pronto para a luta. Mais estouros.
Black out
52
CENA 5
Na luz, está Lico em uma cadeira, sonolento, cansado, rosto inchado e arroxeado, grande
curativo na testa, cercado por dois homens, montados em cadeiras de costas para a
de veneno, nunca vi ele enterrá nas comida a faca de prata que ele tem,
que nóis qué dizê. (tempo) Nenhum home dos grupo há sido jamais
mordido de cobra, mesmo correndo todo dia o reino das cascavé. Sabe
por que? Sabe por que? Nóis é tudo rezado. É. (tempo, respiração
difícil) Quaji todo cangacêro não vem por querê. Não... Não hai
mas não brutalmente. Lico volta a si, tonto.) Em tudas viaje de nóis,
nóis ia tomando pelos caminho dinhero e tudo que prestasse dos home
Num passô três dia e nóis se ajuntou, mais compadre Lampião. (ri)
braba, capitão, uma por riba da outra. Caminhemo três dia consecutivo,
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de água. Lico vai pegar o copo, suas mãos estão amarradas. O homem
lentamente)
Cumpadre Lampião chamou nóis e botemo pra riba das força. Nóis era
dos macaco...
saímo no faro dos rasto pra atirá onde encontrasse. Gavião e Preto
começaro a tussir. Eles tava resfriado, entonce fizemo eles voltá pro
LICO - Eles podia brigá, mas porém tussindo dava aviso aos macaco... Nós
perfiria menas gente contanto que nóis caísse em riba de... ocêis de
supetão. Eu olhei pro chão dijunto e vi uns rasto vivo com os sinal bem
bem novo no chão sem o sereno da noite no lugar das pisadas. Fiz sinal
pra Lampião e ele balançô a cabeça que tava veno, mas sem falá nada.
Parece que queria pulá. (ri gostoso e o riso produz um ataque de tosse.
Homem 2 olha para Lico e aponta para o carrinho com o corpo ao fundo, na luz vermelha.
Lico dá um grande grito, a luz sobre o corpo se apaga. Lico se contrai na cadeira,
Alegres, as quatro cangaceiras começam a examinar o conteúdo dos dois sacos de estopa,
despojos de um ataque a vila ou fazenda: objetos de metal que parecem prata, roupas que
irmão... Não é?
mim. Ocê agora tem eu. Despois vai tê também maria Bonita, que é
CANGACEIRA 4 - Óia, nóis tudo enfrentemo a mesma coisa que ocê tá passano agora. E
ZILDA - É vida boa, Irinéia. Pode crê em mim. Logo-logo tu pega amor no teu
ZILDA - A primeira vez que vi o capitão Virgulino fiquei nem sei quanto tempo
nem não acreditava que tava ali na frente dele. E de M aria Bonita, a
mulhé que depois da minha madrinha Nenêm, foi a mais boa pra mim.
O capitão me olhou e me disse assim: ‘Já ouvi falar que você entrou
caminhar, fia, vem com a gente. Onde é que arranjô esse imborná tão
menina?’, ele perguntou. ‘Foi sim, capitão’, Laurino pegô e disse. Aí,
num sei que que deu ni mim eu peguei o borná e dei pro capitão. Ele
agradeceu e disse que ia usar pra sempre. E usou mesmo, usa até hoje.
Folheiam os exemplares.
nóis?
cara...
ZILDA - Talhado.
IRINÉIA - ... ele nem deixô Zeferino falá, sangrou meu irmão de faca. (começa a
chorar, descontrolada)
CANGACEIRA 3 - Iscuta só: (lê com fluência, titubeando numa ou outra palavra) “A ar...
havendo outro que o iguale nos anais do crime, não somente no Brasil
privilegiadas.
CANGACEIRA 4 - Aqui diz ansim, escuta essa: (hesita, leitura claudicante) “Recebe
CANGACEIRA 2 - Óxente, se fosse assim nóis tava robada. Já pensou ter que pagar por
tiro?
CANGACEIRA 1 - Esse que escreveu isso aí, vai ver que queria era levá esse vidão
LAURINO - Ocêis tome termo que isso é risada pra quem tá em casa no conforto.
CANGACEIRA 1 - M acaco?
TALHADO - Inda não, mas sobrou muito ente vivo, não demora a chegá tropa.
LAURINO - Pitu, cuida aí da tua muié. Vam’bora logo. Tá errado montá torda
Ouve-se a canção “Muié rendera” cantada baixinho, a boca chiusa, ao longo de toda a
cena seguinte.
Cabra 1 se volta.
CABRA 1 - Vamo.
Irinéia olha para ele, faz um dengue com o corpo, de quem está começando a gostar.
ABRÃO - Durante os seis meses que passei com o bando, Lampião me deixou
bandido e nem todo pai trata os filhos com a finura que ele trata o seu
com o grupo, nunca vi M aria Bonita ter medo. Todos obstáculos que
Virgulino passa, ela também passa sem ser preciso estender a mão para
Ao terminar a fala de Abraão, a música “Muié rendera” cresce, cantada agora com sua
Entram sete meninas rendeiras com suas almofadas, falando todas ao mesmo tempo, rindo.
VELHA - Hoje não vai ter trabalho, vocês tá dispensada. Pode vortá pra suas
casa.
VELHA - Não, nada. É quizila de véia, cousa à toa. Acordei arreliada por dentro.
Quem sabe a chuva que tá pra chegá... Quem sabe alguma coisa que tá
A Moça 2, louca, entra com uma trouxa no colo, que nina como uma criança, cantarolando
As moças rendeiras cochicham entre si, riem baixinho, maldosas com a louca.
A Velha ignora a reação das meninas, acaricia os cabelos da louca que deitou a cabeça em
seu ombro.
VELHA - Vosmicês, meninas, toma cuidado com cangaceiro pru mode não ser
ser tirada de casa. Eles tudo é pió que Satanáis. Roba o que nóis tem,
bate na gente pra falá o que a gente sabe e inda abusa das muié. Ocêis
se guarde pra podê um dia amá hóme que amô, é só o que a gente
Moça 3 fica.
VELHA - Carece não, fia. Tu é moça, vai cuidá dos seus afazê. Não perde tempo
comigo. Adespois, já tenho ela. Pruma véia caduca, uma louca mansa é
A Velha vai até a extrema esquerda do palco, onde estão uma cadeira de balanço e um
A louca Moça 2 acomoda-se a seus pés como um cachorro, com seu filho de trapos.
O rádio estala e chia e por fim toca um fox-trot americano, alegre e agitado.
VELHA - Ixe...
Ela não gosta da música e procura outra estação: chiados, zunidos, estalos de estática.
ZILDA - M adrinha...
62
VELHA – (A velha se volta e olha) Que é? Quem que tá aí? (tempo) Zilda? É
ZILDA - É eu.
VELHA - (abraça e beija Zilda) M inha fia!... Que saudade! (olha o bebê) Ixe
A louca Moça 2 se aproxima com seu filho de pano. Olha o filho de Zilda, olha o seu e ri,
M OÇA 2 - É. Neném não é fio de cangaceiro, não. É meu fio. Só meu de mim
VELHA - Apois, antão. Agora tá na hora do inocente mamá, Berré. Tu não vai
cuidar dele?
M OÇA 2 - É, vou. Tá na hora, né? Neném tá com fome, tá? (tira o seio para fora
VELHA - (finge ignorar a tristeza dela) Vão ficar tempo, não vão?
63
VELHA - (aperta o coração com a mão) Ai... Eu.. queria que ocês ficava aqui
LAURINO - Quem sabe... Bão, ocê fica um pouco com a madrinha que eu vou
VELHA - Ocê ficou muié feita. Tão bonita... Laurino é bão procê, é?
ZILDA - Ói, madrinha, às vez eu paro e penso e acho que nóis é tudo que nem
ser bão e faz o mal em vez. A gente ri e chora e o vivê só tem valor
porque a gente pode morrer daqui um minuto. Cum nóis é tudo de cara
injustiçado, porque a lei... a lei é feita pra proteger os que já tem poder,
dono de seu nariz, vai onde quer. Nóis é fora da lei, mas é dono do
A Velha enxuga os olhos e assoa o nariz por baixo do lenço preto que recobre seu rosto.
ZILDA - M adrinha, não chore, que quem tem que chorar sou eu. Vim pra lhe
ZILDA - Por que é que a senhora sempre escondeu a cara dos óio di nóis?
VELHA - (longa pausa) Um dia, Zilda, eu também fui moça bonita que nem ocê.
Também tive o meu amô que, mais que o meu coração, marcou com
Pausa.
As duas se olham.
VELHA - Assossegue, fia. Este eu num entrego pra ninguém. Teu fio agora é o
fio que eu não tive. Deus te guarde que presente melhor tu não podia
A Velha aperta a criança no colo. Caminha para a cadeira de balanço, senta-se e liga o
(Música de prefixo)
Black out.
FIM