AP_Inovação em Serviço Social Parte 1

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Inovação em
Serviço Social
PARTE 1
Chanceler
Prof. Antonio Colaço Martins Filho

Reitora
Profª. Denise Ferreira Maciel

Diretor Administrativo Financeiro


Edson Ronald de Assis Filho

Diretora Executiva
Ana Cristina de Holanda Martins

Diretora Executiva
Sandra de Holanda Martins

Assessoria de Desenvolvimento Educacional – ADE


Profª. Elane Pereira
Prof. Silvio Rodrigues

Produção de Conteúdo:
Profª. Jane Meyre Silva Costa

Revisão Textual
Cristiana Castro

Diagramação
Wanglêdson Costa
Sumário

Apresentação 05
Para começo de conversa 06

01 - A Construção das Bases para o Serviço Social


e o Serviço Social no Brasil 07
Serviço Social: Breve introdução 09
Serviço Social e Questão Social 14

Referências 19
Anotações 20
Apresentação

Seja bem-vindo à disciplina Inovação em Serviço Social. A metodo-


logia adotada pela UNIFAMETRO na modalidade a distância conta com
aulas ministradas no Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle, favore-
cendo atividades colaborativas, aproximando professores e alunos distan-
tes fisicamente.
Para a melhor compreensão do assunto, é importante que, além da
leitura desse conteúdo, você participe das atividades e tarefas propostas
no cronograma e consulte dicas e complementos sugeridos no decorrer
da disciplina. Este material também está disponível para impressão ou
para download em formato pdf clicando no botão abaixo:

educacaoonline.unifametro.edu.br

É importante ressaltar que, nessa metodologia, o seu compromis-


so com a aprendizagem é fundamental para que ela aconteça. Portanto,
participe, lendo os textos antes de cada aula para interagir melhor nos
momentos de comunicação virtual e presencial, nas discussões com os tu-
tores, professores e colegas de curso.

BONS
ESTUDOS!

5
Para começo de
conversa
A disciplina Inovação em Serviço Social é dividida em 4 partes, nas quais
você encontrará o conteúdo, bem como conteúdos adicionais e sugestões
de leituras. Ao longo do texto, você irá se deparar com vários ícones que
irão ajudá-lo neste percurso em busca do conhecimento, tais como:

SUGESTÕES PARA REFLETIR OBJETIVOS

PARA LER ATENÇÃO EXEMPLO

SAIBA MAIS VOCÊ SABIA VÍDEO

Esses ícones nortearão a sua leitura, oferecendo amplas possibilidades de


aprofundamento. A linguagem dialógica aqui utilizada também irá aproxi-
málo das aulas ora apresentadas, levando-o à motivação e ao entendimen-
to da disciplina. Esperamos, por meio da diagramação desse material, con-
tribuir com sua interação plena com os conteúdos. Agora que já estamos
“conectados”, mãos à obra!

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01

A Construção das Bases


para o Serviço Social
e o Serviço Social
no Brasil
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1. O que é o Serviço Social. O que faz o assistente social. Breve contextuali-


zação do surgimento da profissão;
2. O capitalismo e o surgimento da questão social no mundo;
3. O século XX e a questão social.

Breve Introdução sobre a temática


Este texto tem como objetivo realizar uma breve introdução acerca da
profissão e pretende mostrar os aspectos fundantes da Profissão de Serviço
Social, descrevendo fatos históricos e a relação existente entre o seu surgi-
mento com o capitalismo monopolista de produção.
Será abordado também a relação estabelecida do Serviço Social com
a “questão social”, seu principal fundamento e objeto de trabalho inserido
nas bases da produção capitalista. Compreender o contexto histórico, social,
econômico e político deste momento torna-se imprescindível para o entendi-
mento acerca da gênese da profissão.
Sejam bem-vindos (as) a esse mergulho nos fundamentos históricos da
profissão.

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Serviço Social: Breve introdução
Os (as) Assistentes Sociais são profissionais que cursaram uma faculdade de
Serviço Social, por 4 anos (Reconhecida pelo Ministério da Educação) e que possuem
registro no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) do estado que trabalham. A
profissão é regida pela Lei Federal 8.662/1993, que estabelece suas competências e
atribuições.
Porém, nem sempre foi assim, o primeiro curso de Serviço Social com essa no-
menclatura foi formado apenas em 1911, em Paris, na Europa. Antes disso, durante
todo o final do século XIX e primeira década do século XX, existiam apenas cursos
destinados a agentes sociais (era assim que as assistentes sociais eram denominadas
anteriormente). Essa discussão, será aprofundada na próxima unidade deste mate-
rial didático.
Antes disso, precisamos entender como se constituiu a origem da profissão, pri-
meiramente na Europa e sua relação com o movimento histórico-político que acon-
tecia no final do século XIX.
A origem do Serviço Social como profissão tem a marca profunda do capita-
lismo, que representa um modo de produção que passa a se assentar em relações
sociais de produção, marcadas fundamentalmente pela compra e venda da força de
trabalho, tornada mercadoria como qualquer outra, sendo a base desse sistema.

E o que representa o capitalismo?


Não há acordo sobre seu significado, a autora Martinelli (2008) apresenta três
vertentes acerca desta visão quais sejam: 01) “Espírito capitalista”: Em épocas di-
ferentes têm reinado atitudes econômicas diferentes. (Natureza das transações

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comerciais); 02) Capitalismo: Dimensão de categoria econômica, caráter comercial


do sistema. (Fins lucrativos); 03) Karl Marx. Iremos nos centrar neste momento, a par-
tir de debate tendo como pressuposto fundamental a terceira vertente: a de origem
Marxista.

A partir desta perspectiva, o capitalismo pode ser compreendido a partir das carac-
terísticas retratadas a seguir:

9 O capital é uma relação social e o capitalismo um determinado modo de produ-


ção, marcado não apenas pela troca monetária, mas essencialmente pela domina-
ção no processo de produção pelo capital;
9 Uma forma específica e peculiar de relações sociais entre os homens, e entre es-
tes e suas forças produtivas, relações mediatizadas pela posse privada dos meios
de produção;
9 Uma nova estrutura social, pois uma classe apenas que determinava a minoria de-
terminava o aparecimento de uma outra classe, constituída por aqueles que nada
tinham, a não ser sua própria força de trabalho;
9 A história do capitalismo é a história das classes sociais. (Martinelli, 2008).

Não temos como compreender o modo de produção capitalista sem descrevermos


um pouco sobre um dos seus maiores pensadores, Karl Marx, o qual destacamos na
foto abaixo:
Karl Marx como já relatamos representou um
dos maiores pensadores do século XVIII e que con-
tinua sendo referência aos estudos atuais. Foi um
filósofo, economista, historiador, sociólogo, teó-
rico político, jornalista, e revolucionário socialista
alemão. Nascido em Tréveris, Prússia, Marx estu-
dou direito e filosofia nas universidades de Bona e
Berlim. Casou-se com a crítica de teatro e ativista
política alemã Jenny von Westphalen em 1843. As
teorias críticas de Marx sobre sociedade, economia
e política, entendidas coletivamente como mar-
xismo, sustentam que as sociedades humanas se
desenvolvem através da luta de classes. No modo
capitalista de produção, isto manifesta-se no con-
Karl Marx - Fonte: https://pt.lifeder.com/
conceito-classes-sociais-perspectiva- flito entre as classes dirigentes (conhecidas como a
marxista/ burguesia) que controlam os meios de produção e
as classes trabalhadoras (conhecidas como o proletariado) que permitem a existên-
cia destes meios através da venda da sua força de trabalho em troca de salários.
De acordo com a perspectiva Marxista, podemos afirmar que as classes sociais
são grupos que se diferenciam de acordo com a posição que ocupam em determina-
do sistema produtivo.
São três critérios para estabelecer a classe a que cada ator social pertence. O
primeiro critério diz respeito a possessão de um meio de produção, o qual cada in-
divíduo deve ser classificado de acordo com a similaridade do cargo que ocupa. As

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Classes sociais estão divididas em Burgueses e Proletários. Os burgueses são os de-


tentores do capital, como os banqueiros, comerciantes, donos de indústrias, donos
de terras, entre outros. Os proletários, por outro lado, são os trabalhadores. É a for-
ça de trabalho, que vivia numa situação de exploração.
Dessa forma, a proposta desta discussão é a compreensão do capitalismo en-
quanto categoria histórica e suas interconexões com o surgimento do Serviço Social.

Modelo de Produção Capitalista: Gênese


e Desenvolvimento
A consolidação do modo de produção capita- Riqueza criada
lista originou-se na passagem do século XVIII para pelos trabalhadores

o século XIX, e tem como característica principal: Trabalhadores Patrão


a posse privada dos meios de produção por uma
Salário
classe e a exploração da força de trabalho daque-
les que não os detêm.
Na figura ao lado podemos perceber clara-
mente, os elementos que compõem o capitalismo:
as classes sociais (burguesia e proletariado), o salá-
rio gerando pela venda da força de trabalho, o qual
o proprietário (burguesia) fica com grande parte
do lucro gerado pela venda da mercadoria.
Fonte: https://pensarbemviverbem.com.
Neste sentido, a foto acima demonstra a con- br/marx-e-a-luta-de-classes/marx-e-a-
solidação de uma nova estrutura social, uma classe luta-de-classes
apenas que determinava a minoria (burguesia) o aparecimento de uma outra classe,
constituída por aqueles que nada tinham, a não ser sua própria força de trabalho
(proletariado).

De uma forma breve, visando uma melhor compreensão desse período histórico, po-
demos dividir o período pré-capitalista em:

9 Sociedade Medieval/ Comunidade Primitiva: Perdurou por mais 30.000 anos.


Sua economia natural, as relações de troca eram simples, e tal subordinação não
ocorria de forma contratual;
9 Séculos XIV e XV vamos encontrar o feudalismo/ escravismo: Encontrou-se
plenamente estruturado por volta do séc XII, neste período a centralização im-
perial foi substituída pela atomização dos feudos. Os feudos pertenciam a um
nobre, que sujeitava os produtores diretos (os servos);
9 Capitalismo Mercantil: as relações de produção no campo são invadidas pela
variável comercial, as trocas se tornam cada vez mais complexas.

O intenso desenvolvimento do capitalismo, em sua fase mercantil, se fez acom-


panhar da criação de uma força de trabalho assalariada e destituída dos meios de
produção, a partir do século XVI. O emprego do trabalho assalariado significava para
a burguesia uma forma de obter lucro, de acumular capital.
O modelo capitalista de produção pode ser observado a partir de três fases
fundamentais:

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9 Capitalismo Comercial (século XV- XVIII);


9 Capitalismo Industrial (século XVIII – XIX);
9 Capitalismo Financeiro ou Monopolista (século XX).

Será o Capitalismo Industrial, o chão histórico para a construção de base para


a consolidação da profissão, inicialmente na Europa e chegando posteriormente no
Brasil no século XX. A Revolução Industrial ocorrida no século XIX, representou o
momento crucial do capitalismo industrial.
A Revolução Industrial iniciou na Inglaterra no final do século XVIII e ao longo
de todo o século XIX irradiou-se por toda a Europa. Trouxe com ela, uma nova or-
dem social, pois as transformações produzidas pela Revolução Industrial não fica-
vam, portanto, circunscritas aos limites da produção industrial, era a sociedade que
ganhava uma nova ordem.
O Capitalismo Industrial teve início com o aparecimento das máquinas movi-
das por energia não-humana e não-animal, demandava uma rápida recomposição do
cenário social, pois sua continuidade histórica dependia da consolidação do modo
capitalista de produção.

Características fundamentais:

9 Constituição de uma força de trabalho assalariada e “livre”;


9 Relações de produção: capitalista e trabalhador;
9 Trabalho sujeito ao domínio do capital;
9 Capitalista: Concentração cada vez mais do capital em suas mãos.

A consolidação do capitalismo Industrial, também denominado “Era de Ferro”


ocorreu nos anos de 1840 e 1850: a construção ferroviária, absorvia um grande con-
tingente de mão de obra e como retorno trazia a expansão do capital. O mercado se
expandia ultrapassando as barreiras locais superando as fronteiras geográficas, fun-
dado essencialmente na compra e venda da força de trabalho. Era preciso, portanto,
promover uma rápida transição da mão-de-obra para um sistema assalariado.
A máquina a vapor, criada por James Watt, e o tear mecânico, criado por Ri-
chard Arkright, foram as invenções mais importantes do século XVIII. O novo modo
de produção exigia a concentração do trabalhador em um espaço específico: a fá-
brica, a indústria, locus de concentração da produção, tendo em vista a expansão do
capital.
A concentração da população operária, que passando a viver nos arredores das
fábricas, vai incrementar o surgimento das cidades industriais. Para o proletariado, a
ascensão do capitalismo significava a exploração de suas próprias vidas, o dilacera-
mento de sua história.
O surgimento das cidades industriais impôs uma fisionomia ao contexto social.
As precárias VILAS OPERÁRIAS construídas com frequência em locais inadequados
à qualidade de vida, porém amoldadas às exigências do capitalismo. Assim, ao longo
da primeira metade do século XIX, o capitalismo avançou em sua marcha expansio-
nista, instaurando concomitantemente um processo de contínua desvalorização do
ser humano.

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Na imagem abaixo, um exemplo de Vila Operária, geralmente eram construídas


próximas ao centro industrial que empregava seus moradores, chegando, em alguns
casos, a comportar várias ruas, praças, jardins, creches, centros comunitários, esco-
las, igrejas e outros bens de uso coletivo.
A Inglaterra represen-
tou o berço do Movimento
Operário e dos trabalhado-
res fabris, sendo o núcleo do
movimento operário. Cami-
nhando em rota paralela ao
desenvolvimento do sistema
capitalista, o protesto, a re-
cusa, a resistência operária
expressavam-se de forma
cada vez mais evidente.
Dessa forma, ao mes-
mo tempo em que favorecia
a expansão do poder econô-
Fonte: https://institutobixiga.com.br/vilas-operarias-o-dominio-da-
fabrica-na-paisagem-urbana-de-sao-paulo/ mico, favoreceu também a
consciência de classe do pro-
letariado, trazendo assim o surgimento do movimento operário não apenas como
classe social mas classe política.
O capitalismo traz em seu seio a marca da desigualdade, da posse privada de
bens e da exploração da força de trabalho. Devido a este cenário, começa a se arti-
cular movimentos associativos, a prática sindical, os movimentos sociais em direção
a luta de classe desenvolvidos pela classe trabalhadora. Governos como a França,
Inglaterra e Alemanha começam a investir em políticas de bem-estar para o trabalha-
dor, para reduzir a tensão capital-trabalho, criando políticas de Bem-Estar.
Durante quase todo o século XVIII foi caracterizado o domínio do capital sobre
o trabalho. O trabalhador sofria dupla violência: além de separado de sua força de
trabalho, era reduzido a condição de mero acessório da máquina. Seu contato funda-
mental não se dava com os outros seres humanos, mas com a máquina.

Manifestação cartista em Londres. Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/


noticias/2018/04/20/biografia-politica-de-uma-fotografia

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Paralisação de atividades e greves tornaram-se frequentes, embora nem sem-


pre atingissem os objetivos visados, em geral situados no plano de reivindicações
trabalhistas como salário, jornada de trabalho, instalações adequadas. O resultado
mais importante dessas manifestações era o avanço que proporcionavam ao proces-
so organizativo dos trabalhadores.
Com o capitalismo se instituiu a sociedade de classes e se plasma um novo
modo de relações sociais, mediatizadas pela posse privada de bens. O capitalismo
gera o mundo de cisão, da ruptura, da exploração da maioria pela minoria, o mundo
em que a luta de classes se expressa pela luta pela vida, na luta pela superação da
sociedade burguesa.
A expansão do capitalismo se fez acompanhar juntamente com o crescimento
da “questão social” O progresso capitalista produzira em seu entorno, a acumulação
da pobreza e generalização da miséria. A classe dominante percebia a miséria como
um mal necessário ao capitalismo, por isso a tolerava porém tentando manter sem-
pre sob controle, para que não se constituísse como risco à expansão do capitalismo.

Serviço Social e Questão Social


A questão social como já relatamos, representa o objeto de trabalho do assis-
tente social. No final do século XIX, o qual desenvolveu-se o capitalismo industrial,
a força de trabalho torna-se mercadoria e a classe proletária vende seu trabalho,
contudo, existia uma exploração abusiva pelos capitalistas. Isso faz com que a classe
trabalhadora se organizasse de forma política em busca de lutar por seus direitos
cada vez mais negligenciados pela burguesia.
Conforme Iamamoto (2008) a questão social tem a ver com a emergência da
classe operária e seu ingresso no cenário político, por meio das lutas por direitos
relacionados ao trabalho, exigindo seu reconhecimento de classe, principalmente
por parte do Estado. É apreendida como o conjunto das expressões das desigual-
dades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social
é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a
apropriação dos seus frutos, mantém-se privada, monopolizada por uma parte da
sociedade

A questão social expressa, portanto, disparidades econômicas, po-


líticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de
gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colo-
cando em causa relações entre amplos segmentos da sociedade
civil e o poder estatal. (...)este processo é denso de conformismo
e rebeldia, forjado ante as desigualdades sociais, expressando a
consciência e luta pelo reconhecimento dos direitos sociais e polí-
ticos de todos os indivíduos sociais. ( IAMAMOTO, 2001: p.17).

Para Yazbec ( ) a pobreza e a exclusão social são alguns dos resultantes da


questão social que permeiam a vida das classes subalternas em nossa sociedade.
O desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a “questão social” – dife-
rentes estágios capitalistas produzem diferentes manifestações da “questão social”,
dessa forma, a “questão social” é constitutiva do desenvolvimento do capitalismo.

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A implantação do Serviço Social se dá no decorrer desse processo histórico.


Não se baseará, no entanto, em medidas coercitivas emanadas pelo Estado. Surge da
iniciativa particular de grupos e frações de classe, que se manifestam principalmen-
te, por intermédio da Igreja Católica, os primeiros trabalhadores ainda não denomi-
nados Assistentes Sociais e sim, agentes sociais.
A questão social que antes era tratado como caso de polícia, neste momento
suas intervenções são revistas por parte do Estado e da Igreja como objetivo de con-
trolar estas manifestações políticas por parte dos trabalhadores em busca de maio-
res direitos sociais.

Crianças e mulheres no Capitalismo Industrial


O século XVIII marcou o início da Primeira Revolução Industrial na Inglaterra,
promovendo profundas mudanças econômicas nos sistemas de produção. Junto a
essa revolução, vieram também outras transformações, como o êxodo rural, em que
grande parte da população deslocou-se para as cidades à procura de ofertas de em-
prego; a invenção de máquinas para fabricar mercadorias; o surgimento de novas
classes sociais e a exploração do trabalho infantil nas fábricas.
Conforme Carvalho e Iamamoto (2008), o poder aquisitivo dos salários era de
tal forma ínfimo que para uma família média, mesmo com o trabalho extenuante da
maioria de seus membros, a renda obtida ficava insuficiente para a sobrevivência. A
pressão salarial força a entrada no mercado de trabalho das mulheres e das crianças
de ambos os sexos em idades extremamente prematura, o que funciona também
como mecanismo de reforço do rebaixamento salarial. Mulheres e crianças estarão
sujeitas à mesma jornada e ritmo de trabalho, inclusive noturno, com salários bastan-
te inferiores.
O operário contará para sobreviver apenas com a venda da força de traba-
lho, sua, de sua mulher e filhos. Não terá direito a férias, descanso semanal remu-
nerado, licença para tratamento de saúde ou qualquer espécie de seguro regulado
por lei.
Antes da Revolução Industrial, as famílias europeias viviam nas áreas rurais.
Nessa época, as crianças começavam a trabalhar desde pequenas, auxiliando os pais
nas tarefas do campo. No entanto, elas não realizavam trabalhos repetitivos e exaus-
tivos, pois praticavam diferentes tarefas, que variavam desde semear a fabricar cal-
çados. O convívio entre pais e filhos era bem intenso, pois o trabalho não ocupava o
dia inteiro das pessoas e sobrava tempo para reuniões e festas entre famílias.
A vida nas cidades alterou completamente esse panorama das relações de tra-
balho familiares. Ao passar o dia nas fábricas, os pais perderam o convívio com seus
filhos, que antes existia na vida no campo. As crianças, além de perderem o contato
com a natureza e se depararem com um cenário urbano que se diferenciava da pai-
sagem natural das zonas rurais, também foram atingidas pelas transformações nas
relações de trabalho.
A mudança do campo para a cidade contribuiu para a utilização do trabalho
infantil nas indústrias. Inicialmente, só as crianças abandonadas em orfanatos eram
entregues aos patrões para trabalharem nas fábricas. Com o passar do tempo, as
crianças que tinham famílias começaram a trilhar o mesmo caminho, trabalhando por
longas e exaustivas horas, perdendo, assim, toda a sua infância.

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unifametro.edu.br - Inovação em Serviço Social - Parte 1

Elas começavam a trabalhar aos seis anos de idade de maneira exaustiva. A car-
ga horária era equivalente a uma jornada de 14 horas por dia, pois começava às 5
horas da manhã e terminava às 7 horas da noite. Os salários também eram bem infe-
riores, correspondendo à quinta parte do salário de uma pessoa adulta. Além disso,
as condições de trabalho eram precárias e as crianças estavam expostas a acidentas
fatais e a diversas doenças.
O longo tempo de trabalho gerava cansaço nas crianças, o que acabava dimi-
nuindo o ritmo das atividades. Castigos como socos e outras agressões eram aplica-
dos para punir a desatenção. As crianças que chegavam atrasadas ou que conversa-
vam durante o trabalho também eram castigadas. As que fugiam eram procuradas
pela polícia e fichadas quando encontradas. Dessa forma, a vida nas cidades trouxe
grandes dificuldades para as crianças durante o processo de Revolução Industrial,
que promoveu a exploração não só de adultos, mas também do trabalho infantil.

Fonte: https://sp.unifesp.br/

Também nessa fase era visível a desigualdade entre homens e mulheres no


mundo do trabalho, pois, historicamente, as trabalhadoras sempre foram mais des-
valorizadas, ocupando postos precários de trabalho e recebendo salários baixos.
A mulher também foi obrigada a encarar o trabalho fabril, pois os salários dos
trabalhadores masculinos, que eram considerados chefes de família, foram profun-
damente achatados e não garantiam mais a subsistência familiar. Isto mudou radical-
mente a vida das mulheres, já que elas passaram a executar dupla jornada de traba-
lho. No âmbito doméstico continuaram a cumprir com as funções de reprodução e,
na fábrica passaram a desenvolver as atividades precarizadas em funções multitare-
fas. As mulheres, assim como os homens operários, eram condenadas ao trabalho em
razão das necessidades impostas pela subsistência.
Diante disso, o que se observa é que a realidade atual não sofreu muitas va-
riações, tendo em vista que as mulheres continuam predominantemente a ocupar
postos de trabalho precarizados, com baixos rendimentos e intensas formas de ex-
ploração, perpetuando a divisão sexual do trabalho. No caso das mulheres, podemos
afirmar que também houve avanços ao longo do tempo. Entretanto, o processo de

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emancipação da mulher sempre


foi muito mais intenso, as lutas
tiveram que ser árduas e persis-
tentes. Este fato persiste até hoje
numa luta contínua para superar
a dualidade “trabalho do homem”
vesus “trabalho da mulher”. Então
a mulher não luta apenas contra
o capital, mas também contra os
“valores” machistas que imperam
na sociedade e que muitas vezes
estão presentes nos próprios la-
res. É a partir da Revolução Indus-
trial, em 1789, que estas reivindi-
Fonte: https://sp.unifesp.br/
cações começaram a tomar corpo
com a exigência de melhores condições de trabalho, acesso à cultura e igualdade
entre os sexos. Segundo dados históricos, as operárias daquela época eram submeti-
das a um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, espanca-
mentos e assédios sexuais.

Racionalização da Assistência Social: As primeiras Assistentes Sociais na Europa


Na Inglaterra, nas décadas iniciais da segunda metade do século XIX, em face
de suas circunstâncias históricas e sociais, marcadas por uma verdadeira explosão da
pobreza, membros da alta burguesia, ligados a Igreja Evangélica, haviam se unido em
grupos com o objetivo de estudar a reforma do sistema de assistência pública inglês.

A intenção nesse momento é racionalizar a assistência


Ocultando suas reais intenções em um abstrato discurso humanitário, baseado
na igualdade e na harmonia entre as classes, a prática social burguesa procurava ge-
rar a ilusão de que havia, por parte da sociedade, um real interesse pelas condições
de vida da família operária, por seu salário, por suas condições de habitação, saúde,
educação.
Devido suas circunstâncias históricas e da longa convivência com a miséria ge-
neralizada, a Inglaterra foi o primeiro país da Europa a criar não só uma legislação
específica para atendimento da questão social mas um organismo encarregado de
racionalizar e normatizar a política de assistência.
Na Inglaterra, uma série de dispositivos legais, promulgados principalmente
pelo Estado, como a Lei dos Pobres, promulgada em 1597, era ainda mais rigorosa,
determinando que todos os atendidos pelo sistema de assistência pública vivessem
confinados em locais tão somente a eles destinados.
Nesses locais denominados Casas de Correção, a pobreza era considerada um
problema de caráter, eram obrigados a realizar todo tipo de trabalho independente
de salário.
Apoia-se numa legislação das mais brutais onde visualizam a assistência como
uma forma de controlar a pobreza e ratificar a sujeição e a submissão dos trabalha-
dores. Utilizam três grandes estratégias: INTIMIDAÇÃO, PUNIÇÃO E REPRESSÃO.

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BURGUESIA + IGREJA+ ESTADO


Estas três instituições uniram-se tentando coibir as manifestações de trabalha-
dores. Na Inglaterra o resultado material e concreto dessa união foi o surgimento da
Sociedade de Organização da Caridade. Não era legitimada pela classe trabalhado-
ra, pois não respondem a nenhuma de suas reivindicações coletivas. Os pobres sem-
pre que possível, preferiam ajudar-se evitando cair nas malhas do sistema de assistên-
cia pública, de onde dificilmente conseguiria escapar após um primeiro atendimento.
O pauperismo, como pólo oposto da expansão capitalista, crescera tanto na
Europa do século XIX que não podia se restringir à ação de particulares ou da Igreja,
como ocorria até aquele momento.
Era preciso mobilizar o próprio Estado, incorporando a prática de Assistência e
sua estratégia profissional operacional – o Serviço Social- à estrutura organizacional
da burguesia constituída como um importante instrumento de controle social.

As atitudes e tarefas assistenciais utilizadas para bloquear o Movimento Proletário


naquele momento:

9 PRIMEIRA TAREFA: Reorganizar a Assistência;


9 SEGUNDA TAREFA: Propor Políticas e implementar medidas legislativas. Aliança
da burguesia com o Estado.

Surgia, assim, no cenário histórico os primeiros assistentes sociais, como agen-


tes executores da prática de assistência social, atividade que se profissionalizou sob
a denominação de “Serviço Social”, acentuando seu caráter de prática de prestação
de serviços. A origem do Serviço Social como profissão tem a marca profunda do
capitalismo.
É uma profissão que nasce articulada com um projeto de hegemonia do poder
burguês, como uma prática humanitária, sancionada pelo Estado e protegida pela
Igreja, como uma mistificada ilusão de servir.
O Serviço Social nasce como uma importante estratégia de controle social, como
uma ilusão (falsa aparência) necessária para, juntamente com muitas outras ilusões
por ele criadas, garantir-lhe a efetividade e a permanência histórica. O Serviço So-
cial já surge, portanto, no cenário histórico com uma identidade atribuída (Martinelli,
2008), que expressava uma síntese das práticas sociais pré-capitalistas – repressoras e
controlistas – e dos mecanismos e estratégias produzidas pela classe dominante para
garantir a marcha expansionista e a definitiva consolidação do sistema capitalista.
O Assistente Social, nesse período histórico, teve roubadas as possibilidades de
construir formas peculiares e autênticas da prática social. Envolvendo seus agentes
na ilusão de servir e os destinatários de sua ação de que eram servidos, a classe do-
minante procurava mascarar as reais intenções do sistema capitalista, impedindo-o
que se tornasse transparente.

Acumulação da Pobreza e Expansão do Serviço Social


Fases da Questão Social
1) Amadurecimento político da classe trabalhadora;
2) Pobreza em massa e generalização da miséria.

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Relação com a Igreja


A Igreja tanto católica como protestante representavam aliados da burguesia,
e entendia que o antagonismo da produção capitalista representaria uma lei natural
da riqueza social.
Ao iniciar o século XX, o Serviço Social estava em diversos países europeus e
também nos EUA, contando com inúmeras sedes de Organização da Caridade.
A identidade da profissão é recheada de contradições e antagonismos. Seus
agentes, saídos da burguesia, estavam agora a seu serviço submetidos portanto a
lógica do capital. Prática profissional do Assistente Social neste momento caracteri-
zava-se como: INDEFINIDA, AMBÍGUA E NÃO-OBJETIVA.

REFERÊNCIAS

Iamamoto, Marilda. A questão social no Capitalismo In. Temporalis/Asso-


ciação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, Ano 2, n.3 (jan/jul
2003). Brasilia: ABEPSS, Grafine, 2001.

IAMAMOTO, M. V. & CARVALHO, R. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil


Ed. Cortez, SP, 2008.

Martinelli, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação – 12ed. São


Paulo: Cortez, 2008.

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