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Fundamentos

históricos, teóricos
e metodológicos do
serviço social III
Fundamentos históricos,
teóricos e metodológicos
do serviço social III

Elaine Cristina Vaz Vaez Gomes


© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e
Distribuidora Educacional S.A.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Gomes, Elaine Cristina Vaz Vaez


G633f Fundamentos históricos e teóricos-metodológicos do
serviço social III / Elaine Cristina Vaz Vaez Gomes – Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
96 p.

ISBN 978-85-8482-870-8

1. Serviço social – História. 2. Assistentes sociais –


História. I. Título.

CDD 361.32

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Tema 1 | O princípio educativo na institucionalização do serviço social 7


Tema 2 | O conceito de welfare state e o serviço social 19
Tema 3 | Perfis pedagógicos na constituição do serviço social 31
Tema 4 | O desenvolvimento de comunidade e o serviço social 41
Tema 5 | O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia
emancipatória 53
Tema 6 | A função pedagógica do assistente social 63
Tema 7 | As metamorfoses no serviço social 75
Tema 8 | Desafios na prática do assistente social 85
Convite à leitura
Neste tema você vai estudar aspectos relacionados ao “princípio educativo” e
ao Serviço Social, respondendo à questão: “o que vem a ser o principio educativo
na institucionalização do Serviço Social?”. Você vai observar a importância da
compreensão do conceito e sua influência na prática profissional. Sendo assim,
é preciso não só conhecer os aspectos relacionados à “cultura”, mas também o
que significa esse termo no Serviço Social, além de verificar a visão de Gramsci
nesse processo. Identificar o significado de alguns termos será fundamental
para entender e assimilar o tema proposto. Nesse processo de estudos, você vai
perceber a influência da concepção “marxista” baseada em Gramsci, bem como
entender a influência da concepção histórica do serviço social. O esclarecimento
de todos esses termos propiciará a você subsídios para entender e responder a
indagação inicial.
Tema 1

O princípio educativo na
institucionalização do serviço
social

POR DENTRO DO TEMA

É importante ressaltarmos que o texto aqui proposto é embasado na leitura


inicial de Abreu (2011), obra em que se realizou um estudo em nível de doutorado,
resultando na publicação de seu Livro-Texto. Em seu Capítulo I, a autora discorre
sobre o tema “Processo de organização da cultura e a Institucionalização do
Serviço Social: Demarcações do principio educativo da prática do assistente
social”. O primeiro desafio é entender o conceito de “cultura” e sua relação com
a proposta embasada em Gramsci; o segundo é compreender o que vem a ser o
principio educativo e sua relação com o Serviço Social.

Iniciando os esclarecimentos dos termos destacados, segundo o site da


Wikipédia (s.d, s.p.), a enciclopédia livre, o conceito de cultura (termo que vem
do latim colere, com o significado de cultivar) tem várias acepções, “sendo a mais
corrente a definição genérica formulada por Edward B. Tylor, o qual é considerado
o pai do conceito moderno de cultura”.

Seguem variados sentidos que alguns autores dão ao termo:

Para Tylor (apud Wikipédia, s.d., s.p), cultura é “todo aquele complexo que inclui
o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros
hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

Oliveira (2009, p. 115) ressalta que “a cultura é algo criado no contexto das
relações sociais de uma dada sociedade”.

Para Ianni (1996, p. 155), “a cultura é uma dimensão fundamental da hegemonia


que pode ser construída por uma classe, composição de forças sociais, bloco de
poder, Estado. Toda configuração hegemônica é necessariamente cultural”.

Para Chaui (1989, p. 50) é “uma ação que conduz à plena realização das
potencialidades de alguma coisa ou de algúem; é fazer brotar, frutificar, florescer
e cobrir de benefícios”.

T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social 7


Para o autor supracitado, cultura “passou a significar o padrão ou critério que
mede o grau de civilização de uma sociedade”.

Oliveira (2009, p. 114) ressalta que “ao falar de cultura política no campo da
política social, considera-se, por um lado, os traços conservadores e autoritários da
formação de se forjar uma cultura de direitos a partir das lutas por políticas sociais
universais, enquanto direito do cidadão e dever do Estado”.

Ianni (1996, p. 147) ressalta ainda que a cultura “revela as diversidades e os


antagonismos que se expressam nas práticas dos grupos sociais”.

Oliveira (2009), p. 147) coloca que cultura:

[...] por si só, não é suficiente para apreender as questões que


envolvem a combinação entre o moderno e o tradicional,
o avançado e o atrasado, o autoritárismo e o democrático-
popular na vida brasileira e na execução de políticas sociais;
são mais que uma cultura e relacionam-se ao problema da
constituição da hegemonia das classes dominantes e da
contra-hegemonia dos dominados.

Percebemos a influência disso na concepção do serviço social. Isto é, a história


do Serviço Social tem relação direta com a compreensão da cultura, uma vez
que a profissão surge com a influência da classe dominante no atendeimento às
mazelas da sociedade mediante uma prática tradicionalista.

É necessário ressaltar que a autora do Livro-Texto menciona cultura ao


discorrer sobre o tema proposto explicitando que “no contexto dos processos
de organização da cultura pelas classes sociais, sustenta-se na tradição marxista,
privilegiando o conceito gramsciano de cultura” (ABREU, 2011, p. 18).

Conforme Gramsci, cultura é compreendida em sua “vinculação às relações de


hegemonia, e encaminha-se para uma apreensão mais aproximada do real a partir
de indicações pertinentes às condições concretas do desenvolvimento do Serviço
Social na sociedade brasileira” (ABREU, 2011, p. 18).

Sendo assim, cultura nesse contexto é entendida a partir da identidade atribuída


ao Serviço Social e determinada diante da hegemonia da burguesia e da relação
entre Estado e Sociedade Civil, tendo em vista o enfentamento das questões
sociais.

Enfatizamos, então, que cultura tem relação com o nascimento do Serviço


Social, que vem para atender aos interesses da hegemonia que durante anos atuou
na perspectiva tradicionalista e conservadora. Abreu (2011) coloca que, em virtude
dessas questões, surge a função pedagógica do profissional assistente social, o
que se tornou objeto central de sua obra.

8 T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social


Para compreender a função pedagógica do assistente social, é necessário trazer
esses conceitos iniciais e perceber que, nos primórdios, a função do assistente
era atender aos interesses da classe dominante, e que esse “atuar” se tornou um
desafio, de modo que a categoria rompa com as práticas assistencialistas e, assim,
também com o conservadorismo presente na prática profissional.

Esse contexto corrobora as contribuições de Simionatto (2011, p. 164), quando


este indica que:

[...] em meados da década de 1960, o Serviço Social já


desfrutava de reconhecimento legal e afirmava-se como
profissão liberal de natureza técnico-científica, inscrito na
divisão social e técnica do trabalho. É nesse período, também,
que se observavam os primeiros questionamentos às matrizes
conservadoras que subsidiavam o discurso e a prática
profissionais desde a sua implantação.

Isto é, época de sua institucionalização, período destacado pelo Movimento de


Reconceituação na história do Serviço Social.

Você vai observar nesta caminhada de estudos a necessidade de se falar um


pouco da teoria marxista, embasada conforme a contribuição de Gramsci. Nesse
sentido, Abreu (2011, p. 19) ressalta que Gramsci é marxista e “dedica-se a uma
profunda análise sobre o principio educativo, em que o trabalho é entendido como
elemento constitutivo do processo educativo desde a escola elementar”.

Abreu (2011, p. 18) afirma que “o principio educativo na formulação gramsciana


consubstancia-se na relação entre a racionalidade da produção e do trabalho e a
formação de uma ordem intelectual e moral, sob a hegemonia de uma classe”.
Gramsci faz, como diz a autora mencionada, uma crítica sobre essa relação com
base nas experiências do fordismo e do americanismo, “as quais são expressões
paradigmáticas da cultura e hegemonia burguesas no capitalismo monopolista [...]”
(ABREU, 2011, p. 18).

Recorremos a Faleiros (2009, p. 19) para explicitar o sentido de capitalismo


monopolista, quando afirma que este modo de produção se consolidou com a
crise de 1930, momento em que ele “entra em fase eminentemente expansionista,
depois da Segunda Guerra Mundial, com a hegemonia americana”.

Para esclarecer ainda mais o sentido de capitalismo monopolista, vale ressaltar a


colocação de Iamamoto (2009, p. 20) sobre o assunto, ao ressaltar que “a expansão
monopolista provoca a fusão entre o capital industrial e bancário, dando origem ao
domínio do capital financeiro. A concentração da produção e a expansão industrial
transformam a competição em monopólio”.

Naquele contexto, de acordo com Abreu (2011, p. 39):

T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social 9


[...] o Serviço Social como profissão consolida-se e expande-
se, nas três primeiras décadas deste século, consubstanciada
na organização e difusão do conjunto de inovações
organizacionais na produção e no trabalho, introduzindo com
a linha de montagem nos moldes fordista/taylorista.

A relação existente entre os termos fordismo e americanismo pode ser


explicada com a contribuição de Simionatto (2011), quando este explicita que
ambos não correspondem apenas a um método de trabalho. De acordo com a
autora, associam-se também a uma “filosofia” capitalista que pressupõe um tipo
de organização do Estado e uma concepção ético-política que se liguem às
exigências de um estágio particular de desenvolvimento do capitalismo, por meio
da seguinte sequência de vínculos:

[...] exigências de programação, estabelecimento de regras


comportamentais adequadas às exigências da produção,
construção de meios de controle sobre operário fora da
fabrica, tendências à individualização de uma ideologia estatal
funcional, voltada ao sistema “fordiano”. (SIMIONATTO, 2011,
p. 88)

Nesse sentido, a prática profissional molda-se nesses processos com base


na mediação do sistema de controle social em que se localizam as práticas
assistenciais, levando-se em conta, principalmente, “o agravamento da questão
social e as exigências postas pelo novo padrão produtivo e de trabalho” (ABREU,
2011, p. 39).

Você nota não só que há contradição entre o capital e o trabalho, mas também
que nesse contexto estão presentes as classes sociais, as diferenças e as lutas entre
essas classes, sendo estas: a classe dominante e a do operariado, destacando o
trabalho e o trabalhador. Faleiros (2009, p. 48), a respeito deste último, salienta:

[...] o trabalhador se torna útil para o capital desde que perca


ou diminua sua energia, sua força de trabalho. Para o capital
o que está em jogo é a manutenção dessa capacidade de
trabalho, que é a própria vida do trabalhador.

O mesmo autor, sobre a influência do capital nesse contexto, utiliza a analise


dialética com base no marxismo, afirmando que “não é o operário quem compra
os meios de subsistência e meios de produção, mas os meios de subsistência
compram o operário para incorporá-los aos meios de produção” (FALEIROS, 2009,
p. 48). Além disso, Faleiros explicita que o trabalhador é dependente do capital

10 T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social


para viver, já que seus meios de subsistência são parte do capital variável e, quando
lhe é retirada a condição de trabalhar, também lhe é retirada a sua manutenção.
(FALEIROS, 2009, p. 48).

Nesse sentido percebemos onde está a influência do sistema capitalista


no cotidiano das pessoas e como esse sistema prevê diferenças entre classes,
antevendo, portanto, a existência de vulnerabilidade e exclusão social.

Compreendemos, assim, que a ideologia desse sistema repercute nas expressões


da questão social e que sua hegemonia incide na manutenção do aparato do
Estado. Nesse sentido, Netto (2009, p. 25) coloca que “o eixo da intervenção
estatal na idade do monopólio é direcionado para garantir os superlucros dos
monopólios”, ou seja, a manutenção de sua hegemonia. Simionatto (2011, p. 88)
salienta que é “a hegemonia da indústria, da eficiência econômica imediata, da
produção, em um mundo dividido em classes, gerando poder e controle sobre a
vida de todos”.

Você percebe, então, que existe um sistema que influencia de forma direta
a dinâmica da sociedade? De qual sistema estamos falando? O estudo do tema
proporciona de forma sucinta o esclarecimento da presença do sistema capitalista
(o capitalismo) e sua relação com o Serviço Social e também com o significado de
principio educativo.

Segundo Abreu (2011, p. 43), “o principio educativo, a rigor, significa uma


adequação do processo ideológico formador de determinado modo de vida, cultura,
às necessidades e imperativos de um tipo de racionalização produtiva”. Nesse
sentido, a autora supracitada esclarece que o principio educativo corresponde a
um “produto do movimento contraditório entre estrutura/superestrutura, em suas
expressões particulares, em um momento histórico” (ABREU, 2011, p. 43).

Você percebe que o significado de principio educativo tem relação com a


compreensão da existência e a presença do sistema capitalista na estrutura da
sociedade? Percebe ainda que, para esclarecer a influencia de tal sistema, são
utilizadas as contribuições de Gramsci?

Segundo Simionatto (2011, p. 171) Gramsci “passa a ser um marco teórico


significativo nas elaborações do Serviço Social”. Vale ressaltar que Gramsci
menciona o americanismo com base no sistema de produção fordista e no modelo
de produção taylorista.

O que é o americanismo, afinal? Simionatto (2011, p. 86) elucida essa


questão, ao dizer que a “proposta americanista traz em si uma exigência objetiva
do desenvolvimento das forças produtivas, que recebem forma capitalista,
desenvolvendo uma específica fisionomia político-ideológica”.

Você percebeu, ao estudar o assunto aqui proposto, que Abreu (2011), quando
fala sobre o conformismo mecanicista, se reporta a Gramsci como ponto de
partida em seus estudos, isto é, utiliza a análise gramsciana, trazendo nesse

T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social 11


contexto discussões a respeito do “americanismo e o fordismo”. Nesse sentido,
para entender sobre o principio educativo na institucionalização do Serviço Social,
é importante compreender o conceito de americanicismo, isto é, do americanismo
de uma forma mais ampla.

Segundo Simionatto (2011, p. 88) coloca, o americanismo, enquanto


fenômeno complexo de modernização e racionalização do aparato produtivo e
da vida político-social, constitui a fonte da hegemonia americana na “nova divisão
internacional do trabalho”.

Salientamos, para concluir, que o próximo tema propiciará a você uma maior
compreensão dos modelos de produção fordista e taylorista e sua relação com o
americanismo ao falar do “Conceito de Welfare State e o Serviço Social”.

Bons Estudos!

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O Princípio Educativo na Institucionalização do Serviço Social

• Falar sobre “O Princípio Educativo na Institucionalização do Serviço Social”


correlacionando a função pedagógica na prática do Assistente Social pode parecer
curioso, até mesmo porque percebemos que o assunto abordado aqui por Abreu
(2011) é discutido por poucos autores. No entanto, fomos privilegiados ao nos
familiarizarmos com o tema abordado pela autora de seu Livro-Texto, que direciona
o estudo dessa disciplina. Para você saber mais sobre a prática pedagógica e o
Serviço Social, leia o artigo de Débora Conceição, intitulado “O Serviço Social e
prática pedagógica: a arte como instrumento de intervenção social” publicado em
Serviço Social em Revista, em seu volume 12, no ano de 2010.

Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ssrevista/article/


view/7542>. Acesso em: 6 abr. 2014

Americanismo e fordismo

• Para ampliar o conhecimento sobre o conceito de americanismo e fordismo,


e a respeito da relevância atribuída por Gramsci a esse período histórico, indicamos
a leitura da resenha de Lúcia Maria Wanderley Neves, sobre o livro Americanismo
e fordismo, de Antonio Gramsci.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-


77462009000100011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 6 abr. 2014.

12 T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social


AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

1. Com base nos estudos do Livro-Texto. Assinale (V) verdadeiro ou (F)


falso para cada uma das afirmações seguintes:
a) O principio educativo, a rigor, significa uma adequação do processo
ideológico formador de determinado modo de vida, cultura, às
necessidades e aos imperativos de um tipo de racionalização produtiva.
b) Embora seguindo percursos diferentes, o Serviço Social europeu e o
norte-americano aproximaram-se no início do século XX.
c) A discussão acerca do conformismo mecanicista e de suas repercussões
na função pedagógica do assistente social constitui a análise marxista
sobre a racionalização produtiva.
d) A profissionalização do assistente social na Europa e nos Estados
Unidos ocorre no mesmo período histórico, compreendido entre a fase
final do século XIII e as duas primeiras décadas do XIX.
e) Essa discussão gramsciana é uma referência fundamental para o
entendimento da posterior expansão do padrão fordista/taylorista.

2. Como intelectual profissional, o assistente social nem sempre


desempenha funções intelectuais na sociedade, porque, de acordo com
a concepção gramsciana, embora reconhecendo todos os homens
como intelectuais, nem todos desempenham essa função na dinâmica
das relações sociais. Diante disso, como definir a função intelectual do
assistente social de acordo com o critério gramsciano?

3. Você estudou que o trabalho dos intelectuais a serviço da “nova” ordem


do capital perpassa o processo global de racionalização da formação
social norte-americana, o qual envolve, segundo a análise gramsciana,
três aspectos fundamentais. Quais são eles? Descreva-os.

4. O neotomismo, conforme as formulações de Maritain, centrado na


pessoa humana e síntese de individualidade e personalidade, imprime
orientações ético-pedagógicas, tendo em vista o que considera a
construção de um mundo mais justo, assentado na integridade da vida
em suas duas instâncias. Quais são essas duas instâncias? Assinale a
alternativa correta:
a) Terrena e transcendental.
b) Física e transcendental.

T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social 13


c) Ética e moral.
d) Ética e espiritual.
e) Humana e espiritual.

5. As reflexões desenvolvidas neste tema apontam a interconexão entre a


função pedagógica do assistente social e o conformismo mecanicista na
organização e na difusão da cultura dominante. Descreva a interconexão
entre a função pedagógica do assistente social e os princípios educativos.

FINALIZANDO

Você estudou, neste tema, o princípio educativo na institucionalização do Serviço


Social, com base em seu Livro-Texto, Serviço Social e a organização da cultura:
perfis pedagógicos da prática profissional. Você apreendeu o significado do termo
cultura, o conceito de principio educativo e a influência do americanismo nesse
contexto. Você percebeu a importância de compreender os aspectos relacionados
ao sistema capitalista, o qual tem relação direta na atuação profissional. Faleiros
(2009, p. 46), nesse sentido, coloca que:

As políticas sociais conduzidas pelo Estado capitalista


representam um resultado da relação e do complexo
desenvolvimento das forças produtivas e das forças sociais.
Elas são o resultado da luta de classes e ao mesmo tempo
contribuem para reprodução das classes sociais.

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel. Serviço social e a organização da cultura: perfis pedagógicos


da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2011
CHAUI, Marilena. Cultuar ou cultivar. Teoria e Debate, São Paulo, ano 2, n. 8, p. 50-56,
out./dez. 1989.
CONCEIÇÃO. Débora Guimarães. O Serviço Social e prática pedagógica: a arte como
instrumento de intervenção social. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 12, n. 2,
p. 51-67, jan./jun. 2010. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/
ssrevista/article/view/7542>. Acesso em: 6 abr. 2014
FALEIROS, Vicente de Paula. Saber profissional e poder institucional. 9. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Estado, classes trabalhadoras e política social no Brasil. In:
BEHRING, Elaine; MIOTO, Regina Celia Tamaso, BOSCHETTI, Ivanete; SANTOS, Silvana

14 T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social


Mara de Morais dos. Política Social no Capitalismo –Tendências Contemporâneas. 2.
ed. São Paulo: Cortez, 2009.
IANNI, Octavio. A ideia de Brasil moderno. São Paulo: Brasiliense, 1996.
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez,
2009.
NEVES, Lúcia Maria Wanderley. Resenha de: GRAMSCI, A. Americanismo e
fordismo. São Paulo: Hedra, 2008. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro,
v. 7, n. 1, jun. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1981-77462009000100011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 6 abr. 2014.
OLIVEIRA, Íris Maria de. Cultura política, direitos e política social. In: BEHRING, Elaine;
MIOTO, Regina Celia Tamaso, BOSCHETTI, Ivanete; SANTOS, Silvana Mara de Morais
dos. Política Social no Capitalismo –Tendências Contemporâneas. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
SIMIONATTO, Ivete. Gramsci: Sua teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço
Social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
VÁRIOS AUTORES. Dicionário de Português. Edições Poliglota, 2002.
WIKIPÉDIA. Cultura. Disponível em: <http://pt.wikepedia.org/wiki/Cultura>. Acesso
em: 4 abr. 2014.

GLOSSÁRIO

Concepção: ato ou efeito de conceber ou gerar (no útero). Ponto de vista.


Cultura: ação ou maneira de cultivar a terra ou certas plantas; cultivo. Terreno cultivado,
civilização, progresso. Atividade e desenvolvimento intelectuais. Categoria de vegetais
cultivados.
Educativo: educacional. Instrutivo
Escola: é uma instituição concebida para o ensino de alunos sob a direção de
professores.
Marxismo: sistema doutrinário do socialista alemão Karl Marx.
Princípio: começo, início. Razão, base. Preceito, regra.

T1 - O princípio educativo na institucionalização do serviço social 15


Convite à leitura
No tema anterior explicitamos que o próximo assunto iria tratar dos aspectos
referentes aos métodos de produção fordista e taylorista. Este tema, portanto,
apresentará os conceitos desses modelos, além de ressaltar o de “Welfare State
e o Serviço Social”. É importante destacar que tais definições contribuem para
compreender as relações existentes no americanismo, bem como, no Welfare
State e o Serviço Social. Este estudo vai tratar também do keynesianismo, sempre
o correlacionando com o Serviço Social. As reflexões propiciam a continuidade da
compreensão do termo “cultura” e seu entendimento no contexto das experiências
fordistas e keynesianistas e dos aspectos relacionados ao taylorismo. Você pode
até pensar que são muitos os termos a serem esclarecidos, mas perceberá que
todos eles se relacionam entre si.

É valido destacar, nesse sentido, que tal estudo parte das contribuições da
autora Abreu (2011, p. 69), que registra: “o compromisso fordista/keynesiano [é]
base da cultura do ‘bem-estar’”, salientando que tal cultura é “organizada a partir
dos anos 1930 e 1940”. Sendo assim, vamos ficar por dentro tema, fazendo a leitura
do tópico seguinte?
Tema 2

O conceito de welfare state e


o serviço social

POR DENTRO DO TEMA

O Conceito de Welfare State e o Serviço Social

Iniciaremos as discuFssões trazendo a influência e a presença do entendimento


de “cultura” no interior do estudo proposto, o qual objetiva conceituar o Welfare
State.

Mota (2008a, p. 108), sobre o assunto, abordando especificamente a cultura


com base na crise no Brasil, salienta que:

[...] o núcleo temático dessa cultura é a socialização da ideia


de que a crise afeta indistintamente toda a sociedade. Enfim,
uma visão socializadora da crise que desqualifica, do ponto de
vista político-econômico, as posições antagônicas das classes,
ao mesmo tempo em que constrói um modo de integração
passiva à ordem do capital.

Abreu (2011, p. 70) menciona que tal cultura traduz “a sociabilidade que
consubstancia o ‘novo’ padrão societário sob a ordem do capital, o denominado
Estado de Bem-Estar Social”, conhecido também como Welfare State.

Nesse contexto, de acordo com Antunes (2011, p. 23), a década de 1980


observou, nas nações de capitalismo avançado, transformações intensas “no
mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura produtiva, nas formas
de representação sindical e política”.

Dentro desse processo de mudanças e transformações é que surgem os


modelos fordistas e tayloristas.

Sendo assim, Lessa (2007, p. 297) questiona:

T2 - O conceito de welfare state e o serviço social 19


[...] as transformações tecnológicas e nas estratégias gerenciais
na segunda metade do século XX alteraram a produção da
riqueza social a tal ponto que tornam anacrônica a categoria
marxiana de trabalho, tal como definida em O Capital, isto é, o
trabalho enquanto categoria fundante o ser social por efetivar
a mediação orgânica do homem com a natureza, necessidade
primeira, “eterna” e predominantemente na reprodução
social?

Há, no questionamento anterior, a presença de inevitáveis alterações na


produção da riqueza social. Em virtude de tais mudanças e das dificuldades na
economia, Mota (2008a) acrescenta que a mencionada crise econômica dos anos
1980 e os mecanismos utilizados para enfrentá-la trazem, como consequências,
mudanças no mundo do trabalho e mudanças na intervenção do Estado.

Nesse contexto, em que vigora o modelo fordista-keynesiano, para Mota


(2008a, p. 117), essas mudanças são compreendidas “como parte do processo
de reestruturação produtiva e produto das estratégias de superação do modelo
fordista keynesiano em favor da acumulação flexível”.

Com relação às mudanças no cenário de trabalho na década de 1980, Antunes


(2012, p. 23) aponta que, naquele período, de “grande salto tecnológico, a
automação, a robótica e a microeletrônica invadiram o universo fabril, inserindo-
se e desenvolvendo-se nas relações de trabalho e de produção do capital”.

Você pode perceber, portanto, que é no interior dessas mudanças que


ocorrem também transformações para o trabalhador, isto é, para o operário que
está trabalhado nas diversas fábricas e sofrendo com tais mudanças, dentre elas
a exploração da força de trabalho, em virtude da luta existente entre capital e
trabalho, classe dominante e o proletariado.

Sobre o surgimento do Welfare State, Abreu (2011, p. 72) afirma:

[...] as lutas do operariado europeu contra a exploração


econômica e a opressão políticas, na perspectiva de
emancipação, constituem fator decisivo na formação do
Welfare State, por intermédio das conquistas e da expansão
dos chamados direitos democráticos nos países desenvolvidos.

No que diz respeito aos aspectos inerentes ao taylorismo e ao fordismo


que estão presentes no conceito de Welfare State e têm relação com o modo
de produção do sistema capitalista, no Brasil, na França e no Japão há uma
predominância quase absoluta da organização taylorista-fordista do trabalho, com
uma rigorosa cisão entre produção, manutenção, controle de qualidade e gestão
de fluxos (LESSA, 2007)

20 T2 - O conceito de welfare state e o serviço social


Nesse sentido, Faleiros (2009, p. 19) afirma que “o modo de produção capitalista
mercantil e concorrencial transformou-se para reagir à lei da baixa tendencial da
taxa de lucro”, salientando ainda que “foram profundas as transformações nas
relações de produção e nas relações sociais de produção”.

Abreu (2011), sobre a influência dos chamados direitos sociais, salienta que a
organização de um operariado direcionado conforme as diretrizes do movimento
operário social-democrático, na luta coletiva por direitos, repercutiu na “tendência
reformista do referido movimento”.

Sobre o assunto, a autora destaca:

[...] a tendência reformista do referido movimento colocou-


se como hegemônica no estabelecimento do chamado
compromisso fordista/keynesiano, pacto que se estabelece
entre classes traduzindo-se no consenso garantidor
da socialização dos custos da produção, mantendo a
apropriação privada da riqueza social, eixo central do novo
equilíbrio de forças que consubstanciou o Welfare State.
(ABREU, 2011, p. 74)

Nesse contexto todo, como você já observou, surgem os modelos fordistas e


tayloristas. Antes de analisar a definição desses dois modelos, veja um pouco do
que vem a ser o keynesianismo neste processo.

De acordo com o texto sobre o assunto na Wikipédia:

A escola Keynesiana ou Keynesianismo é a teoria econômica


consolidada pelo economista inglês John Maynard Keynes,
em seu livro Teoria geral do emprego, do juro e da moeda
(General theory of employment, interest and money), que
consiste numa organização político-econômica, oposta às
concepções liberais, fundamentada na afirmação do Estado
como agente indispensável de controle da economia, com
objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego.
Tais teorias tiveram uma enorme influência na renovação
das teorias clássicas e na reformulação da política de livre
mercado. (ESCOLA keynesiana, [s.d.], [s.p.])

De acordo com a mesma enciclopédia, a teoria de Keynes destinou ao Estado


o direito e o dever de oferecer benefícios sociais que garantissem à população um
padrão mínimo de vida com base nos seguintes fatores:

T2 - O conceito de welfare state e o serviço social 21


• Criação do salário-mínimo.

• Criação do seguro-desemprego.

• Redução da jornada de trabalho (que podia ultrapassar as 12 horas diárias).

• Assistência médica gratuita.

O keynesianismo é também denominado como “Estado de bem-estar social”


ou “Estado Escandinavo”.

A experiência do Welfare State, segundo Clarke (1991, p. 118, apud ABREU


2011 p. 74), “concretiza a visão social-democrática de uma sociedade mediante
combinação do dinamismo econômico do capitalismo com valores políticos do
socialismo”.

Abreu (2011, p. 60) ainda esclarece a influência desse fenômeno no contexto


do serviço social salientando que:

[...] a vertente europeia da institucionalização do Serviço Social


como profissão, inicialmente marcada pela predominância
da orientação filosófica neotomista, os avanços técnicos-
científicos são introduzidos a partir da década de 40, no bojo
da difusão e consolidação do padrão fordista/taylorista sob a
regulação do Estado keynesiano em todo mundo.

Com relação ainda ao keynesianismo, Faleiros (2009, p. 18) contribui trazendo


algumas considerações relevantes nesse processo. O autor coloca que para
“Keynes, a incitação para investir se faz por intermédio da taxa de juro e a incitação
para consumir, por intermédio da política fiscal ou da política social de inversões
públicas”.

O autor salienta ainda que “nesse modelo ideal o indivíduo-consumidor é


livre, mas desvinculado do indivíduo produtor. Este é obrigado a vender sua força
de trabalho para poder consumir, nas condições impostas pela sua situação no
sistema produtivo” (FALEIROS, 2009, p. 18).

Percebemos, assim, a dinâmica existente entre capital e trabalho e a luta


classista entre classe dominante e classe trabalhadora (o operariado). Faleiros
(2009, p. 18), no mesmo sentido, ainda coloca que “a teoria exposta se baseia nessa
separação radical entre produção e consumo, pois é a produção que produz o
consumidor. Ela se realiza para o intercâmbio e não para satisfazer às necessidades
ou preferências individuais”.

Conforme diz Mota (2008a), as mudanças na intervenção do Estado são


marcadas pela crise do keynesianismo e pela emergência das propostas neoliberais

22 T2 - O conceito de welfare state e o serviço social


(no contexto, portanto, do neoliberalismo). A autora menciona que isso ocorreu
porque, “em termos políticos concretos, [houve] um desejo de reduzir o papel do
Estado na área do bem-estar social, cortando os gastos e os impostos e transferindo
os serviços para o setor privado” (MOTA, 2008a, p. 119).

No interior das mudanças relacionadas ao mundo e no que diz respeito às


transformações do Estado, surge, portanto, o modelo denominado neoliberalismo
como forma de intervenção estatal. É nesse processo de transformações em torno
do sistema capitalista que há a necessidade de mencionar a existência dos modelos
fordistas/tayloristas e também do keynesianismo como termos que direcionam o
conceito de Welfare State.

Para Abreu (2011, p. 45), o modelo fordista/taylorista “significou tanto a introdução


de uma nova tecnologia, como de novas formas de organização do processo de
produção e de controle social”. Essa renovação equivale, nesse contexto, a uma
nova política de controle e gerência do trabalho no interior das fábricas.

É interessante conceituar o que é fordismo e também analisar como se criou


a palavra. Trata-se, segundo o texto sobre o assunto, oferecido pela Wikipédia, de
um termo criado em meados da década de 1920 por Antonio Gramsci, ao fazer
referência aos sistemas de produção em massa e de gestão desenvolvidos por
Henry Ford, que, por sua vez, foi o fundador da companhia Ford Motor, em Detroit.
O fordismo corresponde a uma maneira de racionalizar a produção capitalista a
partir de inovações técnicas e organizacionais que se comunicam entre si, visando
de um lado à produção em massa e, do outro, ao consumo em massa. Ou seja,
esse “conjunto de mudanças nos processos de trabalho (semi-automatização,
linhas de montagem) é intimamente vinculado às novas formas de consumo
social” (FORDISMO, s.d., s.p).

Entende-se, então, que fordismo é um sistema de produção criado por Henry


Ford; o termo, por sua vez, foi formulado por Gramsci.

Abreu (2011, p. 32) menciona que:

[...] sob o ponto de vista dos interesses do capital, a


reconstituição do seu projeto de hegemonia consubstancia-se
em todo o processo de reestruturação econômica e político-
cultural da sociedade capitalista face ao esgotamento mundial
do padrão fordista/taylorista de produção, sob a regulação do
Estado nos moldes Keynesiano.

Com base nos estudos de Kumar (1997 apud LESSA, 2007, p. 301) percebemos
que, “mais do que a técnica da linha de montagem e o taylorismo, o fordismo seria
o modo capitalista por excelência de controle do trabalho”.

Com relação ao termo taylorismo, vale conceituá-lo também com a utilização


da enciclopédia livre (Wikipédia). Trata-se de um modelo utilizado na administração.

T2 - O conceito de welfare state e o serviço social 23


Veja a seguir a sua definição:

Taylorismo ou Administração científica é o modelo de


administração desenvolvido pelo engenheiro norte-
americano Frederick Taylor (1856-1915), considerado o pai da
administração científica e um dos primeiros sistematizadores
da disciplina científica da Administração de empresas. O
taylorismo caracteriza-se pela ênfase nas tarefas, objetivando
o aumento da eficiência ao nível operacional. É considerado
uma das vertentes na perspectiva administrativa clássica.

Percebe-se que a proposta de um Estado de Bem-Estar Social em torno desse


tema está correlacionada com a luta por um sistema de segurança, isto é, a
seguridade social.

Nesse sentido, Mota (2008a, p. 121) coloca que:

[...] a seguridade social transforma-se em objeto prioritário de


mudanças e ajustes, tanto nos países hegemônicos quanto
nos países periféricos, evidenciando a centralidade dessa
política social, no conjunto das novas relações entre o Estado,
o mercado e a organização social.

A autora ainda destaca que:

[...] o paradigma histórico mais explicativo é a conjunção


formada pela crise de 1929 com a implementação das políticas
anticíclicas keynesianas, que redirecionaram a intervenção do
Estado, o desenvolvimento do taylorismo e do fordismo e a
formação dos grandes sindicatos de trabalhadores. (MOTA,
2008a, p. 121)

Você pode estar se questionando: “onde está a correlação entre Serviço Social
e Welfare State?”. É importante entender os termos anteriormente conceituados
e perceber que o sistema capitalista tem relação direta com as desigualdades
sociais e suas expressões. Dentre estas estão a exploração, a fome, a violência
etc., que compõem o cenário de atuação do Serviço Social, o qual deve agir por
meio de políticas públicas que possam propiciar a autonomia e a transformação
social do usuário, ações que não se traduzam por meio da caridade, destacando-
se o assistencialismo. Nesse sentido, é de suma importância entender a história do
Serviço Social e observar onde se iniciam tais práticas.

24 T2 - O conceito de welfare state e o serviço social


A autora de seu Livro-Texto nesse contexto destaca que, no Brasil, o Welfare State
acontece por projeto populista, “no período getulista mediante implementação
de políticas sociais de cunho clientelista e paternalista, próprias de um padrão
assistencial e de filantropia estatal” (ABREU, 2011, p. 78).

ACOMPANHE NA WEB

O mito do declínio do Welfare State

• É relevante entender um conceito sobre a perspectiva de autores diferentes,


pois existem opiniões favoráveis e contrárias acerca de um mesmo tema: em
nosso caso o “Estado de Bem-Estar Social”. Diante disso, é fundamental nos
familiarizarmos com todos os conceitos e, a partir de então, percebermos que
vamos nos identificar mais com um autor do que com o outro ou, de repente,
com nAenhum. De qualquer forma, construiremos uma opinião acerca do Welfare
State. Por esse motivo, indico a leitura do artigo “O mito do declíneo do Welfare
State” que tem como autor principal o prof. Dr. Clóvis Roberto Zimmermann.

Link: <http://dx.doi.org/10.5212/Emancipacao.v.9i2.225232>. Acesso em: 13


mar. 2014.

Estado de bem-estar social: padrões e crises

• Para investigar um pouco mais sobre alguns dos principais acontecimentos


que marcaram essa trajetória do Welfare State e tecer algumas reflexões depois
do Plano Beveridge, leia o artigo de José Luís Fiori, intitulado “Estado de bem-estar
social: padrões e crises”.

Link para acesso: <http://www.scielo.br/pdf/physis/v7n2/08.pdf>. Acesso em:


13 mar. 2014

Welfare State: tendências e lições da experiência internacional para o Brasil

• Para fazer relação entre o objeto de estudo desse tema e nossa


contemporaneidade, assista em vídeo ao comentário da professora Dra. Sônia
Draibe da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) a respeito da mesa-
redonda que trata do tema “Welfare State: tendências e lições da experiência
internacional para o Brasil”.

Link para acesso: <https://www.youtube.com/watch?v=4-N63AK_w6k>.


Acesso em: 13 mar. 2014. Tempo: 7:07.

T2 - O conceito de welfare state e o serviço social 25


AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

1. Assinale a alternativa com a sequência de palavras que completam


corretamente as lacunas do parágrafo seguinte:
“A tendência reformista do referido movimento colocou-
se como hegemônica no estabelecimento do chamado
compromisso_________________, pacto que se estabelece entre
classes traduzindo-se no consenso garantidor da socialização dos
custos da produção, mantendo a apropriação privada da____________,
eixo central do novo equilíbrio de forças que consubstanciou
o__________________.”
a) keynesiano/fordista, riqueza social, neoliberalismo.
b) fordista/keynesiano, riqueza social, Welfare State.
c) político, riqueza social, Welfare State.
d) fordista/keynesiano, riqueza social, neoliberalismo.
e) cívico, riqueza social, neoliberalismo.

2. Abreu (2011), no Livro-Texto, cita Bihr (1998), o qual menciona, sobre


o compromisso fordista/keynesiano: “do ponto de vista do proletariado
esse compromisso só pode ser comparado a uma espécie de imensa
barganha, pela qual o proletariado renunciou à ‘aventura histórica’, em
troca da garantia de sua ‘seguridade social’”. Segundo Abreu (2011), para
qual aspecto o citado autor chama atenção? Descreva.

3. Abreu (2011) concorda com a posição de que o Welfare State


materializa-se, portanto, como um padrão de acumulação e de
regulação econômica e política, em que a utilização do fundo público,
a partir de regras definidas pelos principais grupos sociais e políticos, é
o pressuposto do financiamento da economia capitalista. Diante disso,
discorra sobre os avanços sociais e políticos mediante essa perspectiva.

4. Na conquista e na expansão dos chamados direitos democráticos


nos países desenvolvidos, a sua influência deve ser entendida a partir
das tendências do movimento operário social-democrático no mundo
capitalista desenvolvido, ou seja, de suas variantes. Quais são elas?
Indique a alternativa correta:
a) A conformista e a revolucionária.
b) A revolucionária e a política.

26 T2 - O conceito de welfare state e o serviço social


c) A democrática e a reformista.
d) A reformista e a revolucionária.
e) Nenhuma das alternativas citadas.

5. O Welfare State encarna, assim, a institucionalidade do ordenamento


societário gestado nos marcos da racionalidade do padrão fordista/
taylorista de produção e trabalho, sob a regulação do Estado Keynesiano.
Abreu (2011, p. 70) coloca que “trata-se de uma cultura que traduz a
sociabilidade que consubstancia o ‘novo’ padrão societário sob a ordem
do capital, denominado Estado de Bem-Estar (Welfare State)”. Dito isso,
responda: quando é organizada a cultura desse Estado de Bem-Estar
Social, segundo Abreu (2011)?

FINALIZANDO

Você percebe que o tema propicia informações inerentes aos termos:


keynesianismo, fordismo, taylorismo para a compreensão do significado do Welfare
State e sua relação com o Serviço Social. Você observa também que em virtude
das mudanças e transformações no mundo do trabalho, a classe trabalhadora se
organiza para lutar por direitos, aqui mais especificamente por segurança, contexto
em que você pode notar a presença do Serviço Social.

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel. Serviço social e a organização da cultura: perfis pedagógicos


da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2011.
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade
no mundo do trabalho. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
DRAIBE. Sônia M. Introdução à mesa-redonda de tema “Welfare State: tendências
e lições da experiência internacional para o Brasil”. Seminário 2 – Aspectos Sociais
Desafios e Oportunidades para o Desenvolvimento Brasileiro (UNICAMP). Vídeo/
YouTube, Político Social, 2013. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=4-
N63AK_w6k>. Acesso em: 13 mar. 2014.
ESCOLA keynesiana. Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_
keynesiana>. Acesso em: 31 mar. 2014.
FALEIROS, Vicente de Paula. A política Social do estado Capitalista. 12. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
FIORI, José Luiz. Estado de Bem-Estar Social: Padrões e Crises. PHYSIS: Rev. Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 129-147, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.
br/pdf/physis/v7n2/08.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2014.

T2 - O conceito de welfare state e o serviço social 27


FORDISMO. Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fordismo>.
Acesso em: 31 mar. 2014.
LESSA, Sergio. Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo. São Paulo
Cortez. 2007.
MOTA, Ana Elizabete. Cultura da Crise e Seguridade Social. Um estudo sobre as
tendências e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. 4. ed. São Paulo: Cortez,
2008a.
________ (org.). O Mito da Assistência Social ensaios sobre Estado, Política e
Sociedade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008b.
ZIMMERMANN, Clóvis Roberto; ALVES, João Carlos Lima. O mito do declínio do
Welfare State. Emancipação, Ponta Grossa, v. 9, n. 2, p. 225-231, 2009. Disponível
em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/1067/832>.
Acesso em: 1 abr. 2014.

GLOSSÁRIO

Crise: alteração súbita no curso de uma doença, ataque de nervos, conjuntura de


incertezas, dificuldades e perigos, momento decisivo.
Exploração: tem correlação com a palavra explorar, a qual significa procurar; descobrir;
sondar; pesquisar; fazer produzir; tirar proveito de; cultivar terras, matas dentre outros;
abusar da boa-fé de; especular; ludibriar; ato de explorar.
Operário: relativo ao trabalho ou aos operários, trabalhador, artesão obreiro.
Modelos: é amplo o conceito de modelo, podendo significar imagem que se quer
reproduzir; tipo exemplar; aquilo que serve de exemplo ou norma; indivíduo exemplar;
o que serve para estudo prático de pintores ou escultores, manequim.

28 T2 - O conceito de welfare state e o serviço social


Convite à leitura
Você estudou até agora dois assuntos que estão relacionados à História do
Serviço Social, destacando-se: O Princípio Educativo na Institucionalização do
Serviço Social, bem como o Conceito de Welfare State e o Serviço Social. Vamos
retomar os dois pontos para dar sequencial aos estudos: você percebeu que a
autora Abreu (2011) utiliza a análise fundamentada em Gramsci em sua pesquisa e
afirma que seus estudos irão contribuir para a compreensão da função pedagógica
do assistente social. Neste sentido, trata do princípio educativo e discorre sobre tal
aspecto com base em Gramsci. Aponta que “o princípio educativo na formulação
Gramscina consubstancia-se na relação entre a racionalização da produção e do
trabalho e a formação de uma ordem intelectual e moral, sob a hegemonia de
uma classe” (ABREU, 2011, p. 18). Afirma, ainda, que Gramsci, em sua crítica sobre
essa relação, traz à tona as experiências do americanismo e do fordismo.

No segundo tema, conceituamos Welfare State e Serviço Social, termos que


perpassam as experiências do americanismo, entre elas, fordismo, taylorismo e
Welfare State, assuntos trabalhados em seu Livro-Texto e explicitados em seu
Caderno de Atividades.

Raichelis (2011, p. 57) aponta que o “Welfare State caracterizou-se, como padrão
de financiamento público da economia capitalista, mediante a estruturação de
uma esfera pública”.

Neste tema, vamos estudar os Perfis Pedagógicos na Constituição do Serviço


Social.
Tema 3

Perfis pedagógicos na
constituição do serviço social

POR DENTRO DO TEMA

Perfis Pedagógicos na Constituição do Serviço Social

Abreu (2011, p. 38) revela, com base em suas análises, que há três perfis
pedagógicos. Sua obra, portanto,

[...] traz uma configuração de três perfis pedagógicos


identificados na constituição do Serviço Social na sociedade
brasileira, considerando a relação profissional a partir de
estratégias educativas denominadas como pedagogias da
ajuda, da participação e da perspectiva de construção de uma
pedagogia emancipatória pelas classes subalternas.

Para se pensar esses perfis, é necessário ter compreendido bem os assuntos


já tratados nos temas anteriores, pois os perfis pedagógicos na constituição do
Serviço Social fazem parte do contexto histórico que estamos estudando até o
momento, ou seja, do processo de organização da cultura na institucionalização
do Serviço Social.

O conhecimento dos termos contribui para o melhor entendimento do estudo


proposto, pois, quando falamos em institucionalização, estamos nos reportando à
criação do Serviço Social.

Neste sentido, faremos um breve resumo dos aspectos tratados pela autora
para então discorrermos sobre o Serviço Social e a pedagogia da ajuda, abordada
por Abreu (2011), sendo o primeiro perfil pedagógico apontado por ela.

Como já foi mencionado, Abreu (2011) recorre a Gramsci em seus estudos,


vinculando a análise gramsciana sobre a questão pedagógica ao amplo processo
de luta de classes pela hegemonia na sociedade. Para Gramsci, “cada relação
de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica, não limitando esta
pedagogia às relações especificamente escolásticas” (ABREU, 2011, p. 19).

T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social 31


Para explicitar a relação existente entre o americanismo e a teoria de análise
com base em Gramsci neste processo de estudo dos perfis pedagógicos do
assistente social, Abreu (2011, p. 18) afirma que o nexo americanismo/fordismo
refere-se à constituição da hegemonia da burguesia industrial americana, por isso
a utilização do termo “americanismo” e também a necessidade de se comentar a
respeito dos modelos fordistas e tayloristas.

Ainda de acordo com a afirmação da autora, a hegemonia da burguesia


industrial americana foi levantada sob um padrão de racionalização do produto
e do trabalho, fundamentado na filosofia e técnicas das linhas de montagem nos
moldes fordista/taylorista. Tal padrão, referente aos modelos organizacionais
elencados, tem seu início nas primeiras décadas do século XX, aprofundando-se
e expandindo-se, mundialmente, após a Segunda Guerra Mundial, associado à
regulação do Estado keynesiano, termo também esclarecido no Tema 2.

A combinação fordismo, taylorismo e keynesianismo resulta na constituição do


Welfare State, conhecido como Estado de Bem-Estar Social, assunto explicitado
no Tema 2.

O Welfare State, com base nos estudo de Abreu (2011), pode ser entendido
como um reordenamento societário sob o domínio do capital, cuja experiência
em países avançados mantém-se por três décadas, iniciando em 1945. A autora
salienta que tal período ficou conhecido como “a era dourada, até a metade da
década de 70, quando entra em crise, em termos mundiais, a capacidade desse
padrão econômico” (ABREU, 2011, p. 81), referindo-se à crise do capitalismo e ao
esgotamento dos modelos fordista e keynesiano.

Para compreendermos melhor o que é hegemonia, vale conferirmos o que


Smionatto (2011) salienta a respeito deste conceito, também utilizado no processo
de análise dos perfis pedagógicos do assistente social. Para a autora, de forma
ampla, hegemonia “se apresenta como algo que opera não apenas sobre a
estrutura econômica e sobre a organização política da sociedade, mas também
sobre o modo de pensar, sobre as orientações ideológicas e inclusive sobre o
modo de conhecer” (SMIONATTO, 2011, p. 55).

Abreu (2011, p. 31) explicita que:

[...] pensar a função pedagógica do assistente social na


sociedade brasileira significa apreendê-la considerando
suas determinações históricas, isto é, as condições de sua
constituição e desenvolvimento no processo de recomposição
das bases político-culturais das relações de hegemonia.

Para elucidar o primeiro perfil pedagógico mencionado pela autora relacionado


à prática do assistente social, vamos primeiramente trazer o conceito da palavra
“ajuda”, a qual significa, conforme o Dicionário Online de Português, contribuir,

32 T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social


favorecer, facilitar. Já conforme o site Significados.com.br “ajuda” significa auxílio,
socorro, sendo o ato de prestar auxílio a quem está necessitado.

No contexto histórico do Serviço Social, “ajudar” se correlaciona a “favorecer”,


no sentido de favor, pois na trajetória do Serviço Social ajudar tem significado de
caridade, paternalismo, assistencialismo em virtude da influência da igreja na ação
social da profissão e da necessidade de manter a manutenção do sistema sob a
ideologia da ordem e do progresso.

Martinelli (2009, p. 117) ressalta que, conforme o pronunciamento feito pelas


lideranças da Sociedade de Organização da Caridade, as práticas assistenciais
tinham a influência de S. Vicente de Paulo, cujo referencial tinha por base práticas
da doutrina da igreja, voltado para objetivo da ordem social.

Percebemos, assim, que o Serviço Social, em razão destes aspectos históricos,


adotava em sua prática, naquele momento, ações reformadoras de caráter, com o
intuito de ordem social, de ação social com o objetivo de propiciar o ajustamento
social, isto é, a ordem, pois quem estava fora da ordem necessitava ser ajustado
ao sistema. Neste sentido, a ação do assistente social naquele momento estava
embasada no perfil pedagógico da ajuda.

Percebemos, assim, que:

[...] a prática social produzida pela burguesia era contraditória,


submetendo a função social da assistência à sua função
econômica, substituindo o educativo pelo assistencial e
transformando a crítica em resignação, em passiva aceitação.
(MARTINELLI, 2009, p. 158)

Abreu (2011), ao explicitar a função pedagógica do assistente social, menciona


que tanto na Europa como nos Estados Unidos ela está relacionada ao processo
da organização da cultura da classe dominante, que se fundamenta em uma visão
psicologista da questão social.

Neste sentido, a atuação profissional tem uma visão reduzida das múltiplas
expressões da questão social ao considerar uma visão psicologista da questão
social, reduzindo as manifestações individuais. Significa que a ajuda se torna
uma forma de prática profissional relacionada a manifestações individuais; assim,
a função pedagógica do assistente social é centrada na dimensão individual, na
perspectiva da reforma moral e reintegração social, influenciada por meio da
classe dominante e representada pela igreja.

Em virtude desta conjuntura no cenário histórico do Serviço Social, Abreu


(2011) discorre sobre os três perfis pedagógicos na constituição do Serviço Social,
destacando primeiramente o Serviço Social e a pedagogia da ajuda, em que
percebemos o porquê da presença forte do termo na prática do Serviço Social

T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social 33


e também o desafio que é para o profissional identificar e instigar reflexões para
uma mudança de postura profissional de transformação social, por meio de uma
vertente crítica dialética, pois, em sua história, o Serviço Social tinha uma prática em
que “ficavam atribuídas às tarefas de controle da questão social, complementadas
por aquelas relativas à socialização do modo capitalista de pensar, ou seja, modo
de pensar necessário à reprodução capitalista” (MARTINELLI, 2009, p. 155).

Abreu (2011, p. 85) afirma que:

[...] o desenvolvimento do processo de ajuda psicossocial


individualizada no Serviço Social parte do ponto de vista de
que a questão social é reduzida às manifestações na esfera
individual, constitui-se um problema moral. Esta noção
justifica uma intervenção via assistência social individualizada
de cunho moralizador direcionada para a reforma moral e a
reintegração social.

É valido ressaltar que Abreu (2011) aborda a influência da Lei dos Pobres com
relação à questão do problema moral; salienta que a primeira Lei dos Pobres foi
instituída na Inglaterra, em 1597, quando as questões relacionadas à pobreza eram
tratadas como problema moral, mas não só a pobreza, como também a questão
da ordem.

Para propiciar mais informação a respeito da Lei dos Pobres, observamos que
a referida Lei de 1961:

[...] foi um projeto que aperfeiçoou outra norma legalística


assistencialista de 1597, o parlamento inglês alcunhava
religiosos para serem espécies de “inspetores dos pobres”,
suas funções eram de zelar pela instituição, tomar conta dos
pobres, fazer que o descamisado aprenda a profissão, ensinar
o ofício religioso para que o pobre camponês seja obediente e
fiel ao sistema, manter a ordem. (SILVA JÚNIOR, [s.d.])

O termo “alcunhava”, neste contexto, tem o sentido de apelido, isto é, os


inspetores dos pobres eram assim conhecidos e tinham o papel de zelar, isto é, de
cuidar, de vigiar, pois havia o interesse de manter a ordem social. Este ofício ficou
conhecido por meio de tal Lei, reforçando o sentido da ajuda da qual estamos
tratando, quando estudamos o primeiro perfil pedagógico do assistente social,
apontado pela autora do Livro-Texto.

Você pode notar que Abreu (2011) traz a figura de Mary Richmond. É válido
ressaltar que Richmond tem relação direta com a Sociedade de Organização da
Caridade de Baltimore. Foi com base em sua tese que a ação social filantrópica

34 T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social


e o Serviço Social caminharam em seu processo de institucionalização, tanto no
ensino como na profissionalização. É importante ressaltar que a influência de Mary
Richmond é relevante nesse processo, pois foi após a organização e a existência
dos cursos de Filantropia Aplicada que o Serviço Social iniciou a capacitação e a
formação de agentes sociais.

Abreu (2011, p. 87) ressalta que:

[...] as formulações de Mary Richmond, em Diagnóstico


social de 1950, revelam elementos substanciais da função
pedagógica do assistente social vinculada às estratégias
de reforma moral e reintegração social, na medida em
que o referido estudo centra-se no aperfeiçoamento de
procedimentos e instrumentos pedagógicos.

Abreu (2011) destaca alguns desses instrumentos pedagógicos por meio das
formulações de Mary Richmond, sendo eles: inquérito, observação, entrevista,
visita domiciliar e fontes de informações, utilizadas no processo de elaboração do
diagnóstico sobre a situação social e a personalidade do indivíduo considerado
necessitado, condição básica para a intervenção no desenvolvimento do processo
de ajuda psicossocial individualizada.

Neste contexto, a visita domiciliar era utilizada para fiscalizar, inspecionar, isto é,
examinar, controlar, vigiar, intimidando o trabalhador, o qual era vigiado de forma
rigorosa para controlar sua faltas no serviço, e com isso controlar o absenteísmo e
também manter a ordem do sistema.

Abreu (2011, p. 93) destaca que

[...] a necessidade histórica que determina a atualização


da ajuda em moldes psicossociais deita sua raízes no
agravamento da questão social no bojo do desenvolvimento
da sociedade industrial, tendo como determinações, num
primeiro momento, tanto a crescente pauperização da classe
trabalhadora e suas manifestações político-organizativas
contra a intensificação da exploração da força de trabalho
e controle político pela burguesia industrial, quanto os
imperativos do processo de acumulação capitalista referentes
à neutralização dos conflitos de classes, necessária à garantia
da exploração e da reprodução da força de trabalho sob
determinados limites.

Percebemos, assim, que a sociedade capitalista, a qual é representada pela


burguesia e o proletariado, está em constante luta em virtude do sistema, pois

T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social 35


sabemos que existem na relação capital e trabalho diferenças entre classes. Por
causa das desigualdades sociais, era necessário fazer uma intervenção em razão
das múltiplas expressões da questão social, por meio do trabalho social da época;
neste sentido, observamos o agir na prática pedagógica fundamentada na ajuda,
isto é, o perfil pedagógico da ajuda.

Com relação ao segundo perfil mencionado por Abreu (2011), o qual trata da
participação, isto é, do perfil pedagógico da participação, que esclarece sobre o
Serviço Social e a pedagogia da participação, será abordado de forma detalhada no
Tema 4 deste Caderno de Atividades.

Com relação ao último perfil pedagógico, Abreu (2011) o aborda no Tema 5


conforme as perspectivas de construção de uma pedagogia emancipatória pelas
classes subalternas.

ACOMPANHE NA WEB
Em seu livro, Marina Maciel Abreu (2011) fez menção por várias vezes ao Serviço
Social europeu. Diante de tal informação, percebemos a relevância deste assunto
e a importância de você se familiarizar com ele.

Timm Kunstreich: Por uma Teoria Crítica de Serviço Social

• Para ampliar seus conhecimentos nesta perspectiva, leia o artigo: “Timm


Kunstreich: Por uma Teoria Crítica de Serviço Social”. Este texto traz reflexões
acerca das tendências hegemônicas de reconfiguração das políticas sociais, bem
como da assistência social nos Estados de bem-estar europeus. Ele contextualiza
suas ideias em torno de uma teoria crítica do Serviço Social.

Link para acesso: <http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n108/a06n108.pdf>. Acesso


em: 2 maio 2014.

Lei Orgânica da Assistência Social

• Acesse o site indicado e faça a leitura da Lei Orgânica da Assistência Social.

Link para acesso: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>.


Acesso em: 2 maio 2014.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

36 T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social


1. Segundo Abreu (2011), qual é o marco principal do desenvolvimento da
função pedagógica do assistente social, centrada na dimensão individual
na perspectiva da reforma moral e reintegração social?

2. “Esta noção justifica uma intervenção via assistência social


individualizada de cunho moralizador direcionada para a reforma moral e
a reintegração social”. A que Abreu (2011) está se referindo neste trecho?
Assinale a alternativa correta:

a) Ao Serviço Social.
b) À ajuda em grupo.
c) À questão social-familiar.
d) A um problema moral.
e) Nenhuma das alternativas.

3. Abreu (2011) menciona uma autora cujas formulações revelam


elementos substanciais da função pedagógica do assistente social
vinculada às estratégias de reforma moral e reintegração social. Quem
é essa autora? Segundo ela, quais instrumentos pedagógicos devem ser
utilizados no processo de elaboração do diagnóstico sobre a situação
social?

4. Abreu (2011) menciona que a sistematização do processo de “ajuda”


pelo Serviço Social nos marcos da racionalização da assistência social
condensou, portanto, duas demandas fundamentais. Quais são?
Descreva-as.

5. Abreu (2011) faz menção a uma análise feita por Gramsci: “é antes de
tudo questão moral e religiosa, não econômica, devendo ser resolvida
por intermédio da caridade cristã e dos ditames da moral e do juízo da
religião” (GRAMSCI, 1976, p. 281). Essa análise do autor é para qual obra?

a) Para o Serviço Social.


b) A ajuda psicossocial na igreja.
c) A questão social para a Igreja Católica.
d) A questão social enquanto um problema moral.
e) Nenhuma das alternativas.

FINALIZANDO
Neste tema, você estudou os Perfis Pedagógicos na Constituição do Serviço
Social, percebeu a influência da história do Serviço Social em sua prática e
observou, também, como teve início o processo de ajuda na atuação profissional
do assistente social. Observou, ainda, que tal prática tem a influência do sistema

T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social 37


capitalista e que tal ação profissional, naquele momento, era indispensável para a
manutenção do sistema. Bons estudos!

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel. Serviço social e a organização da cultura: perfis pedagógicos


da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2011.
BRASIL. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da
Assistência Social. Diário Oficial da União, Brasília, 7 dez. 1993. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 1 ago. 2014.
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/
ajudar/>. Acesso em: 1 ago. 2014.
MARTINELLI, M. L. Serviço Social: Identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 2009.
RAICHELIS, Raquel. Esfera Pública e Conselhos de Assistência Social: caminhos da
construção democrática. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
SILVA JUNIOR, Gilson Lopes da. A Lei dos Pobres 1601: Primeira Lei Assistencialista
e Política de Bem Estar Social. Disponível em: <http://www.webartigos.com/
artigos/a-lei-dos-pobres-1601-primeira-lei-assistencialista-e-politica-de-bem-estar-
social/101885/#ixzz2zjRikyGE>. Acesso em: 1 ago. 2014.
SMIONATTO, Ivete. Gramsci – Sua Teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço
Social. 4. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011.
WEHRLE, Tuto Beat. Timm Kunstreich: por uma Teoria Crítica de Serviço Social. Serv.
Soe. Soc. [online], n. 108, p. 680-691, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
sssoc/n108/a06n108.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2014.

GLOSSÁRIO

Construção: Ação ou efeito de construir, edificação, arte de construir.


Pedagogia: Arte e ciência da educação e da instrução.
Perfil: “Aspecto, representação de um objeto, visto de um dos seus lados” (Dicionário
Priberam da Língua Portuguesa).
Pobreza: “Estado do que ou de quem é pobre” (Dicionário Online de Português). “Falta
do necessário à vida; escassez [...]” (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa).

38 T3 - Perfis pedagógicos na constituição do serviço social


Convite à leitura
Agora vamos falar um pouco sobre o segundo perfil pedagógico abordado por
Abreu (2011), autora de seu Livro- Texto, sendo o perfil relacionado à participação,
isto é, vamos refletir o que vem a ser a correlação entre Serviço Social e Pedagogia
da Participação. No tema anterior, você estudou e identificou o primeiro perfil
pedagógico destacado pela autora, que discorreu a respeito do perfil pedagógico
da ajuda. Agora, vamos verificar o motivo pelo qual o Desenvolvimento de
Comunidade, conhecido como DC, tem relação com a pedagogia da participação
mencionada pela autora Abreu (2011).

É importante destacarmos que você perceberá a influência do sistema


capitalista, mais uma vez presente por meio de sua ideologia e hegemonia do
capitalismo monopolista.

Como expõe a autora de seu Livro-Texto:

A pedagogia da ‘participação’, desenvolve-se e consolida-se


na prática do assistente social a partir, fundamentalmente,
das propostas de Desenvolvimento de Comunidade (DC), sob
a influência da ideologia desenvolvimentista modernizadora.
(ABREU, 2011, p. 105)

Então, vamos ficar por dentro do assunto estudando o tema ‘O Desenvolvimento


de Comunidade e o Serviço Social’.
Tema 4

O desenvolvimento de
comunidade e o serviço social

POR DENTRO DO TEMA

O Desenvolvimento de Comunidade e o Serviço Social

Ao falar sobre o Desenvolvimento de Comunidade e correlacioná-lo ao Serviço


Social você vai perceber que não se trata de um tema difícil. Você já tem observado
nos estudos anteriores a presença da herança tradicional na prática do assistente
social. Agora, você vai perceber que tal concepção do Serviço Social ainda é visível
nesse assunto e vai verificar como se inicia o processo da participação na prática
do assistente social e sua relação com a pedagogia da participação.

Abreu (2011, p. 107) explicita que a pedagogia relacionada à participação tem


as experiências advindas do Desenvolvimento de Comunidade nos anos 1920,
quando ocorreram iniciativas que tinham o intuito de minimizar, isto é, frear os
movimentos emancipatórios nos domínios coloniais e neutralizar as contradições
próprias do capitalismo monopolista, expressas na agudização e aprofundamento
das desigualdades sociais, que impõem medidas controladoras e integradoras das
forças sociais em confronto. Assim, a autora Abreu (2011) continua a explicitar
que o Desenvolvimento de Comunidade surge não para superar as desigualdades
sociais e suas múltiplas formas de expressões, mas sim, primordialmente, para
a manutenção e combinação de tais desigualdades, no sentido de favorecer os
interesses da classe dominante.

Nesse momento, você pode perceber a importância de extrair informações por


meio das notas de rodapé, pois na leitura das notas do Livro-Texto, obtivemos os
esclarecimentos anteriormente mencionados e pudemos observar também que o
Desenvolvimento de Comunidade tem sua proposta relacionada com a articulação e
influência forte da classe dominante. Ainda referindo-se ao DC, nota-se uma estratégia
para a proliferação da ideologia do capitalismo monopolista por meio do discurso
da participação da comunidade, isto é, da ideologia desenvolvimentista atrelada ao
perfil pedagógico do assistente social por meio da pedagogia da participação.

Abreu (2011, p. 106) ressalta que “a ideologia desenvolvimentista modernizadora


vincula-se a uma concepção de desenvolvimento fundada na chamada teoria da
modernização”. É valido explicitar que tal teoria faz parte de uma das perspectivas

T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social 41


relacionadas ao processo de Renovação do Serviço Social: trata-se da perspectiva
modernizadora.

Abreu (2011, p. 106) salienta que “o discurso da modernização é sempre


recorrente e recorrido a cada momento de estruturação das relações capital e
trabalho, diante de uma crise do capital”. Nesse sentido, esclarece a autora que
“toda a reestruturação é colocada para a sociedade com a mediação do Estado
como forma de modernização” (2011, p. 106).

Smionatto (2011, p. 166) elucida a importância da perspectiva modernizadora e


discorre a respeito do aspecto relacionado à teorização, explicitando que:

[...] a perspectiva modernizadora que emerge do Encontro


de Porto Alegre (1965) será sistematizada nos Seminários
de Teorização do Serviço Social, promovidos pelo Centro
Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais
(CBCISS), através dos documentos de Araxá (1967) e
Teresópolis (1970).

A autora citada, Smionatto (2011, p. 166), explicita que por meio de tais
documentos, referindo-se a Araxá e Teresópolis, é evidenciada a:

[...] preocupação com o aperfeiçoamento do instrumental


operativo da profissão, com os procedimentos metodológicos
e técnicos, com claros padrões de eficiência que resultaram
na tecnicização do agir profissional, não distante do processo
de burocratização que atingia todo o aparelho do Estado. Esta
nova forma de construção de procedimentos profissionais, que
reafirmou os fundamentos teóricos, oriundos, principalmente
da influência norte-americana [isto é, do estruturalismo-
funcionalismo norte-americano].

Neste sentido, esclarece Abreu (2011) que o ponto de partida da pedagogia


da participação é a influência da ideologia desenvolvimentista modernizadora, e,
sendo assim, a participação torna-se o redimensionamento na prática do assistente
social, contribuindo para a mudança em seu perfil pedagógico a partir de um novo
arranjo, isto é, a participação.

Por meio dos estudos de Castro (1984), observa-se que a proposta do


Desenvolvimento de Comunidade com foco na participação tem o objetivo de
intervenção na área social com base em uma visão:

[...] de que os problemas sociais (de integração ou


modernização) são passíveis de tratamento no âmbito de
cada comunidade, sendo estas entidades como núcleos
básicos ou células da sociedade, concepção esta relacionada

42 T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social


com o pragmatismo inglês e com a corrente predominante na
sociologia norte-americana, o estrutural-funcionalismo é no
fundo a concepção liberal neocapitalista da sociedade e da
economia. (CASTRO, 1984, p. 134)

Neste sentido, o documento de Araxá, publicado por meio do Centro Brasileiro


de Cooperação de Intercâmbio de Serviços Sociais –CBCISS (1967, p. 21), esclarece
quanto ao Desenvolvimento de Comunidade-DC, afirmando que “podem-se definir
quatro etapas” em sua evolução. Sobre tais etapas, destaca-se que:

• A primeira está ligada às experiências de organizações de comunidades,


inspiradas em moldes norte-americanos, através de tentativas de coordenação de
serviços sociais em áreas funcionais.

• A segunda caracteriza-se por experiências isoladas, atingindo pequenas


áreas e com finalidades específicas de melhorias imediatas de condições de vida,
sem recursos político-administrativos e técnicos, tampouco a preocupação com
perspectivas voltadas para o setor econômico.

• A terceira fase é definida por uma transição caracterizada pelo reconhecimento


da necessidade de estabelecimento de metas para o desenvolvimento.

• A última fase, isto é, a quarta, que se esboça atualmente com esforço


definido de elaboração técnica, procura enfatizar a criação de mecanismos
de participação popular no processo de desenvolvimento, baseando-se num
melhor conhecimento da realidade nacional e regional, principalmente quanto
ao instrumental disponível e à dinâmica de comportamento das populações. O
documento CBCISS (1967, p. 21) menciona ainda que “a maioria dos programas
está vinculada a planos governamentais e operam-se em algumas regiões do país”.

Abreu (2011, p. 107) afirma que:

[...] as experiências de Desenvolvimento de Comunidade-


DC, implementadas a partir dos anos 1950 na América Latina,
enfatizam a participação popular nos programas de governos
com eixo central de processos de integração e promoção
sociais.

Salienta também que:

Tais programas, de um modo geral, são colocados como


formas de ajuda face à situação de pauperismo, considerada a
principal expressão da questão social no continente, visando
principalmente conter a ameaça do comunismo nesse
contexto, em que as condições de pobreza são entendidas
como facilitadoras.

T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social 43


Você percebe que o Desenvolvimento de Comunidade-DC tem relação com o
Serviço Social quando os profissionais realizam sua prática por meio da ideologia
da burguesia, com vista à manutenção do sistema capitalista monopolista.

O capitalismo monopolista tem a sua estratégia consolidada através do discurso


de que, por meio do desenvolvimento, a comunidade prosperará e, assim, o
desenvolvimento repercutirá na mudança da qualidade de vida, na melhoria das
condições de vida da população e consecutivamente na eliminação da pobreza.
O que não ocorre é uma análise das desigualdades sociais, nem das contradições
existentes entre capital e trabalho em virtude do sistema capitalista, ou ainda um
estudo acerca das lutas de classe e das expressões da questão social. O objetivo
é atender às mazelas da sociedade com a participação e esforço da população.

Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas-ONU tem um papel


importante na disseminação da proposta do Desenvolvimento de Comunidade-
DC, como esclarece a autora de seu Livro-Texto, salientando que a perspectiva do
Desenvolvimento de Comunidade tem sua proposta defendida pela ONU:

[...] como processo por intermédio do qual os esforços do


próprio povo se unem aos das autoridades governamentais,
com o fim de melhorar as condições econômicas, sociais e
culturais das comunidades, integrar essas comunidades
na vida nacional e capacitá-las a contribuir para o progresso
do país. (ABREU, 2011, p. 110)

Com base nos estudos da autora de seu Livro-Texto, você pode observar que
a ideologia, isto é, a proposta da classe dominante, é instigar a participação da
população. Sendo assim, destaca-se a participação popular, o meio pelo qual o
Desenvolvimento de Comunidade torna-se um instrumento nesse processo, no
qual o assistente social passa a ter um perfil pedagógico da participação, visto que
a sua prática fomenta e propicia que o povo se esforce para mudar e melhorar sua
qualidade de vida. Assim, o assistente social vai exercendo seu perfil pedagógico
organizando e incentivando o Desenvolvimento de Comunidade, pois tal proposta
é um importante instrumento desse processo da pedagogia da participação.

Para que o assistente social realize seu trabalho conforme a proposta da


pedagogia da participação, foi necessário buscar profissionais que tivessem
condições para desenvolver a função pedagógica, os quais realizavam seu trabalho
por meio de programas de governos e vislumbrando a promoção social, conhecida
como o Estado de Bem-Estar Social, que você já estudou nessa caminhada.

Abreu (2011) menciona que as mudanças do perfil pedagógico da ajuda para


o perfil pedagógico da participação não romperam com o tradicionalismo na
prática profissional, herança da concepção do Serviço Social, mas, ao contrário,
reafirmaram uma prática por meio de uma vertente positivista, na qual a leitura
dos aspectos relacionados ao Sistema Capitalista não era analisada de forma

44 T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social


contraditória. A leitura era, na tendência, a naturalização da vida social, isto é, a
pobreza existe e é natural.

O CBCISS (1967, p. 22) expõe que o Desenvolvimento de Comunidade-DC ”é


um processo interprofissional que visa a capacitar a comunidade para integrar-
se no desenvolvimento através de ação organizada para atendimento de suas
necessidades e realizações de suas aspirações”.

Com relação à importância do Serviço Social, o documento CBCISS (1967, p. 23)


aponta que “focalizando o papel do Serviço Social na integração da comunidade
no processo de desenvolvimento, sua presença é requerida em todas as fases da
ação metódica e da dinâmica do processo”.

É valido ressaltar que nesse processo inicia-se também a preocupação


profissional no sentido de romper com o tradicionalismo, ou seja, com o
conservadorismo que você pode observar que está presente na ação do assistente
social nesse contexto. Sendo assim, um grupo de profissionais representado por
assistentes sociais de diversos países questiona a prática profissional.

Abreu (2011, p. 112) salienta que:

[...] as ideias desse grupo avançam, culminando com a


deflagração de um amplo processo de redimensionamento
profissional, o denominado ‘Movimento de Reconceituação
do Serviço Social na América Latina’.

Destacamos que é por meio de tal movimento que se inicia a luta para romper
com a herança tradicionalista do Serviço Social.

Smionatto (2011, p. 165) afirma que o “marco inicial do Movimento de


Reconceituação no Brasil pode ser situado em 1965, em Porto Alegre, quando um
grupo de profissionais de diferentes países latino-americanos passa a questionar as
propostas do Serviço Social”.

Neste sentido, Netto (2009) esclarece que tal movimento tem sua trajetória
representada por meio de três perspectivas, cada um delas com sua importância
na historia do Serviço Social. A primeira delas foi denominada perspectiva
modernizadora, a segunda foi chamada de reatualização do conservadorismo e a
terceira de intenção de ruptura.

Salientamos que a autora de seu Livro-Texto, ao discorrer a respeito de


Desenvolvimento de Comunidade (ABREU, 2011, p. 106), menciona a perspectiva
modernizadora, a qual “é intensificada a partir dos anos 1950 e 1960 no
continente latino-americano, por meio do processo que se convencionou chamar
desenvolvimentismo”, processo no qual você percebeu que se inicia a proposta da
participação.

É válido ressaltar que o Movimento de Reconceituação será retomado no

T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social 45


próximo tema, ao abordarmos o Serviço Social e a perspectiva de uma pedagogia
emancipatória, ocasião na qual, por meio do assunto, será explicitado o terceiro
perfil pedagógico do assistente social.

A autora Abreu (2011, p. 114), esclarecendo sobre o DC e a relação do Serviço


Social com a participação, a qual tem sua origem influenciada pela ideologia
desenvolvimentista, elucida que no Brasil, tal momento é conhecido como
o período desenvolvimentista, no qual o país esteve sob a gestão de Juscelino
Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart, e também dos governos militares,
na época da ditadura, momento em que os militares comandaram o país, de
1964 até 1985, “sustentados na chamada ideologia da segurança nacional e
desenvolvimento, onde essas demandas impulsionavam a ampliação do mercado
de trabalho e a valorização profissional do assistente social”.

ACOMPANHE NA WEB

Desenvolvimento e Organização de Comunidade e Serviço Social

• Esse tema agregou aos seus saberes informações acerca do


Desenvolvimento de Comunidade (DC) e sua respectiva relação com o Serviço
Social.

• Para ampliar o entendimento sobre o DC no Brasil, faça a leitura do


primeiro capítulo da monografia de Bruna Motta, intitulada “Desenvolvimento
e Organização de Comunidade e Serviço Social: uma abordagem à formação
curricular da ESS/UFRJ”.

Disponível em:<http://www.ess.ufrj.br/monografias/104080841.pdf>. Acesso


em: 7 abr. 2017.

O Metodologismo e o Desenvolvimentismo no Serviço Social brasileiro

• A perspectiva da modernização conservadora é intensificada a partir dos


anos 1950 e 1960 na América Latina, por meio do processo que se convencionou
chamar desenvolvimentismo (ABREU, 2011, p. 106). Para saber mais a respeito
desse conceito, leia o artigo de Maria Ângela Rodrigues Alves de Andrade,
intitulado “O Metodologismo e o Desenvolvimentismo no Serviço Social brasileiro
– 1947 a 1961”.

Disponível em: <http://periodicos.franca.unesp.br/index.php/SSR/article/


viewFile/13/78>. Acesso em: 7 abr. 2017.

46 T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social


AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

1. Ao elucidarmos sobre a análise da pedagogia da participação, o


ponto de partida é que, sob a influência da ideologia desenvolvimentista
modernizadora, a participação redimensiona-se para além de uma
atitude inerente ao processo de “ajuda”, constituindose uma esfera
programática da intervenção profissional nas relações sociais. De que
forma esse redimensionamento repercutiu na prática do assistente
social? Descreva.

2. Neste tema, Abreu (2011) cita a seguinte definição:

[...] processo por intermédio do qual os esforços do próprio


povo se unem aos das autoridades governamentais, com o fim
de melhorar as condições econômicas, sociais e culturais das
comunidades, integrar essas comunidades na vida nacional
e capacitá-las a contribuir plenamente para o progresso do
país. (ONU apud AMMANN, 1980, p. 32)

A autora está se referindo a qual situação?


a) À definição dada pela ONU à proposta de CD.
b) À definição dada pela ONU à proposta de DC.
c) À definição de participação popular.
d) Trata-se da posição da ONU quanto à pedagogia da ajuda.
e) Todas as alternativas estão corretas.

3. Leia o trecho a seguir e preencha as lacunas:


As atenções da _____ e ______ com o Serviço Social prendem-se
exatamente na busca de profissionais especializados para o desempenho
de funções pedagógicas e intelectuais referentes à ________________.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
a) a) ONU, CD, pedagogia da ajuda.
b) b) ONU, OEA, prática profissional.
c) c) CD, OEA, participação popular.
d) d) ONU, OEA, participação popular.
e) e) Nenhuma das alternativas citadas.

T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social 47


4. Consta no Livro-Texto de Abreu (2011) que o subdesenvolvimento
constitui um estágio econômico e cultural que deve ser ultrapassado,
com a expansão da economia em moldes industriais associada a
mudanças culturais no campo e na cidade. Quais experiências podem
acompanhar a necessidade das mudanças estruturais?

5. Abreu (2011) afirma: “é, portanto, eixo central da reorganização cultural,


ou seja, constitui uma mediação para a integração e o consentimento,
por parte da população, às mudanças estruturais impostas pelo padrão
de acumulação do capital”. A que a autora está se referindo? Explique.

FINALIZANDO

Neste tema, ao estudar sobre o Desenvolvimento de Comunidade e o Serviço


Social, você observou que Abreu (2011), a autora de seu Livro-Texto, discorre sobre o
Serviço Social e a pedagogia da participação, que é justamente o esclarecimento do
segundo perfil pedagógico do assistente social, em que tal profissional tem em sua
prática a função de orientar e motivar o engajamento do povo em lideranças para o
Desenvolvimento de Comunidade, caracterizado mediante uma prática tradicional.

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel. Serviço Social e a Organização da Cultura: perfis pedagógicos


da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2011.
AGUDIZAR. Dicionário Informal. 2006-2014. Disponível em: <http://www.
dicionarioinformal.com.br/agudizar/>. Acesso em: 20 ago. 2014.
ANDRADE. Maria Angela Rodrigues Alves de. O Metodologismo e o Desenvolvimentismo
no Serviço Social Brasileiro – 1947 a 1961. Serviço Social & Realidade, Franca, v. 17, n.
1, p. 268-299, 2008. Disponível em: <http://periodicos.franca.unesp.br/index.php/SSR/
article/viewFile/13/78>. Acesso em: 26 mar. 2014.
CASTRO, M. M. História do Serviço Social na America Latina. São Paulo: Cortez, 1984.
MOTTA. Bruna Stephem da. Desenvolvimento e Organização de Comunidade e
Serviço Social: uma abordagem à formação curricular da ESS/UFRJ. Trabalho de
Monografia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Centro de Filosofia e Ciências
Humanas. Escola de Serviço Social. 2009. Disponível em: <http://www.ess.ufrj.br/
monografias/104080841.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2014.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil
pós-64. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
PAUPERISMO. Dicionário Informal. 2006-2014. Disponível em: <http://www.
dicionarioinformal.com.br/pauperismo/>. Acesso em: 20 ago. 2014.

48 T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social


SMIONATTO, Ivete. Gramsci: sua teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço
Social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

GLOSSÁRIO

Agudização: o que se torna agudo, forte.


Pauperismo: miséria, pobreza extrema.
Trajetória: percurso realizado.

T4 - O desenvolvimento de comunidade e o serviço social 49


Convite à leitura
Este tema inicia-se com a explicitação do último perfil pedagógico do assistente
social, na perspectiva de construção de uma pedagogia emancipatória pelas
classes subalternas. Nessa perspectiva, torna-se necessário dialogar com a história
do Serviço Social para entender a conexão entre o Movimento de Reconceituação
e a proposta do perfil pedagógico em pauta.

A autora do Livro-Texto, Abreu (2011), discorre sobre o Projeto Ético-Político do


Serviço Social, o qual deve conter os interesses das classes subalternas, isto é, as
necessidades da classe trabalhadora. Assim, um grupo de profissionais deu início
a um processo de discussão da prática dos assistentes sociais para romper com
o tecnicismo, tradicionalismo, isto é, o conservadorismo presente na história do
assistente social, repercutindo em sua prática.

Neste sentido, começa um processo de mudança nas bases teóricas do


Serviço Social, por meio de uma proposta de análise marxista, vislumbrando a
transformação social.
Tema 5

O serviço social e a
perspectiva de uma pedagogia
emancipatória

POR DENTRO DO TEMA

O Serviço Social e a Perspectiva de uma Pedagogia Emancipatória

Abreu (2011), ao trazer elementos para a análise do perfil pedagógico do


assistente social por meio de uma pedagogia emancipatória, afirma que “no
contexto da crise profissional a partir dos anos 70 situam-se os esforços na
perspectiva da construção de uma pedagogia emancipatória no âmbito do Serviço
Social. Esses esforços inscrevem-se no bojo do Movimento de Reconceituação”
(ABREU, 2011, p. 129).

Com relação à proposta de análise, com base em Marx, da profissão do Serviço


Social, este novo modelo de embasamento teórico iniciou-se em 1960, articulado
à proposta de um novo projeto profissional. Este processo teve seu momento de
reclusão em virtude da ditadura; após este período, teve “maior expressividade na
segunda metade da década de 1970” (ABREU, 2011, p. 169).

A respeito da proposta de um novo projeto profissional para os assistentes


sociais, Netto (1999) ressalta que:

[...] os projetos profissionais, construídos coletivamente


pela categoria, apresentam a auto-imagem da profissão,
elegem valores que a legitimam socialmente, delimitam e
priorizam seus objetivos e funções, formulam requisitos,
sejam técnicos, institucionais e práticos para o seu exercício,
prescrevem normas para o comportamento dos profissionais
e estabelecem balizas de sua relação com os usuários dos
seus serviços, com outras profissões e com as organizações
e instituições, públicas e privadas (entre estes, também e
destacadamente, com o Estado, ao qual coube historicamente
o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais).

T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória 53


Neste sentido, destacam-se algumas conquistas na trajetória da profissão: a Lei
de Regulamentação da Profissão, que tem o caráter de normatizar a profissão, na
qual podemos conhecer as atribuições e as competências privativas profissionais
do assistente social; o Código de Ética Profissional, conquistado em 1993, por
meio do qual podemos conhecer os direitos e deveres do profissional assistente
social. O projeto profissional do assistente social está concomitantemente
relacionado às dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-
operativas da formação e também do desenvolvimento da profissão do assistente
social.

Smionatto (2011, p. 178) afirma que a

[...] grande novidade da época eram as discussões sobre


a construção do objeto numa postura que colocava
contra o positivismo e mesmo contra certas formulações
fenomenológicas que estavam muito em moda na academia,
a discussão metodológica levada a efeito nesses cursos
foi significativa para o Serviço Social, pois, instaurou-se a
oportunidade para travar contato com correntes que não
eram tradicionalmente discutidas na graduação e na pós-
graduação do Serviço Social.

Abreu (2011, p. 135) menciona que é “o princípio educativo que está na


base da construção de uma perspectiva pedagógica emancipatória pelas
classes subalternas”. Isso significa que a proposta é estabelecer uma análise
crítica da realidade, propiciando uma intervenção social na qual possa existir
a correlação entre o binômio pensar e agir profissionalmente. Tal postura
consubstancia-se na proposição de uma postura contra a ideologia da cultura
dominante, propondo um novo projeto social, sob novas bases teórico-
metodológicas.

Neste sentido, é importante entender que o embasamento teórico-


metodológico, ético-político e técnico-operativo da profissão precisava estar
apropriado, com fundamentos que permitissem a construção de um novo projeto
social na atividade profissional. A compreensão dos aspectos relacionados aos
fundamentos teóricos, metodológicos, históricos, éticos e políticos significa a
apropriação de uma leitura que tem como base os fundamentos ético-políticos,
teórico-metodológicos e técnico-operativos. Este rigor está comprometido com
uma leitura fundamentada na tríade da categoria da dialética, a saber: singularidade,
particularidade e universalidade, o que dá aos profissionais condições de propor
um novo projeto.

Lewgoy (2009, p. 158), neste sentido, salienta que:

54 T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória


[...] o eixo norteador do projeto ético-político e pedagógico da
formação profissional é esse projeto que garante a dimensão
formativa a reflexão sobre valores, posturas e atitudes que
devem ser assumidas pelo assistente social em função de um
posicionamento no âmbito de seu espaço sócio-ocupacional,
ao lado da competência teórico-metodológica e técnica-
operativa em relação aos processos de trabalho do assistente
social.

Pontes (2010) explicita que as dimensões da singularidade e da universalidade


podem ser discutidas e explicadas de forma separada, porém, no aspecto
ontológico, tal separação não existe.

Você pode perceber que, ao estudarmos o Serviço Social e o movimento da


proposta de uma pedagogia emancipatória, estamos de certa forma analisando o
Serviço Social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória. Neste sentido, faz-
se necessário compreender que estamos refletindo a respeito de um momento
em que a profissão analisa as questões relacionadas à sua prática e percebe a
necessidade de mudança. Propõe, então, uma articulação ontológica com base na
tríade universalidade, particularidade e singularidade, dando condições para uma
prática em que compreensão do papel da mediação é necessária para romper com
uma prática tradicionalista e conservadora na profissão.

Pontes (2010, p. 85) explica que, “na singularidade, as mediações, as


determinações, enfim, a própria legalidade social estão inteiramente ocultas”,
sendo este “o plano da imediaticidade”. Ainda a respeito da tríade, salienta que,
“no plano da realidade, o particular representa a mediação concreta entre os
homens singulares e a sociedade, a particularidade da vida humana está eivada da
singularidade” (PONTES, 2010, p. 85).

Percebemos, assim, que o universal, o particular e o singular estão diretamente


relacionados de forma que a realidade social está em movimento, e este processo
de análise faz parte da proposta em que o pensar e o agir estão articulados com
base em uma reflexão crítica dessa realidade social, em que o singular pode ser
exemplificado por aquilo que é aparente, o imediato e a mediação, é a busca de
uma análise mais profunda dessa realidade social, em que se deve desvendar o
particular para então se aproximar da totalidade, a qual é complexa. Só é possível
compreendê-la buscando uma análise dialética por meio da constituição do campo
das mediações. Pontes (2010, p. 85) salienta que “a dialética desta tríade se expressa
na realidade social da vida cotidiana de cada ser social”.

Neste sentido, percebemos, na trajetória da proposta de uma pedagogia


emancipatória, a articulação de grupos sociais que, de forma coletiva, mobilizaram-
se para mudanças, lutando por direitos, para a proposição de um novo projeto social.
Esse processo lutou pelo fim da ditadura, da exploração do trabalhador, lutou pela
democracia, pela liberdade de expressão. A categoria profissional dos assistentes

T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória 55


sociais lutou para mudar seu agir profissional, mas, para tal, eram necessárias
mudanças nos aspectos teórico-metodológicos, técnico-operativos e ético-políticos.

Lewgoy (2009, p. 160) salienta que a “dimensão teórico-metodológica


consubstancia-se na interlocução entre história, teoria e método”. Para tanto,
faz-se necessário “o conhecimento da realidade em seu movimento dialético,
no qual e por meio do qual se engendram como totalidade as relações sociais
que configuram a sociedade” (LEWGOY, 2009, p. 160). Acrescenta Lewgoy (2009,
p. 160): “o saber-fazer, por sua raiz técnico-operativa, alicerçada na investigação
e na pesquisa rigorosas das condições e relações sociais particulares e no
acompanhamento da dinâmica dos processos societários”.

Assim, fazem-se necessárias a compreensão e a busca de uma teoria e de um


método que permitam a análise da realidade social de forma crítica, vislumbrando
a transformação de tal realidade, propiciando o protagonismo, a autonomia e o
empoderamento da classe trabalhadora, a qual tem sido referida nos estudos como
classe subalterna. A proposta do terceiro perfil pedagógico do assistente social é a
pedagogia emancipatória, a qual é justamente a proposta da classe representada
pela classe trabalhadora, do proletariado, subalterno, isto é, da classe que luta por
seu protagonismo por meio de uma leitura crítica da realidade social, sendo assim,
também, a análise das expressões da questão social.

Abreu (2011, p. 140) aponta:

[...] as lutas sociais que marcam o ressurgimento e o


protagonismo dos movimentos sociais populares no final
da década de 70, no Brasil, no contexto da exploração e
opressão capitalistas asseguradas pelas forças e controle
da ditadura militar, salienta a autora que esses movimentos
são desencadeados no enfrentamento da questão social, no
confronto com o Estado expressando formas variadas de
manifestação e lutas coletivas das classes subalternas nos
âmbitos da produção e reprodução sociais.

Com relação à dimensão técnico-operativa, é valido esclarecer que ela tem


sua importância nesse processo de compreensão do terceiro perfil pedagógico
do assistente social, destacando que a pedagogia emancipatória correlacionada
ao Serviço Social é a perspectiva, isto é, a possibilidade de uma pedagogia
emancipatória, e a dimensão técnico-operativa é o meio, isto é, a capacidade de
transformar a proposta em ação, sendo, assim, operacionalização do conhecimento
da ética.

Neste sentido, Lewgoy (2009, p. 168) salienta que a “dimensão técnico-operativa


é a capacidade que o Serviço Social tem adquirido na sua trajetória histórica de
responder às demandas da sociedade, às requisições socioinstitucionais e às
finalidades profissionais”. Salienta a autora Lewgoy (2009, p. 168)

56 T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória


[...] que a instrumentalidade encaminha o pensamento à
indagação do como fazer e do para que fazer, conectando
meios às finalidades, entendo-as impregnadas de valores
e de implicações sociopolíticas. Complementa que a
instrumentalidade não trata apenas do conjunto de
instrumentos necessários para o fazer, mas para o saber-fazer,
abrange o instrumental, que é, por excelência, uma instância
de passagem expressa pelo eixo operacional das profissões,
o qual abarca o campo das técnicas, dos conhecimentos e
habilidades.

O Movimento de Reconceituação, como o próprio nome diz, propiciou a


reflexão sobre o agir profissional, propondo um novo pensar profissional, não
mais com vertentes carregadas de assistencialismo, de visão limitada, mas um
pensar crítico, analisando as desigualdades sociais, as diferenças entre classes, o
sistema e confrontando-os com as propostas inerentes às políticas públicas. Tal
movimento tem seu desdobramento em grandes conquistas da categoria, entre
elas, as Diretrizes Curriculares, atrelando as competências e habilidades técnico-
operativas do profissional assistente social à capacidade ético-operativa e teórico-
metodológica, sendo o requisito fundamental para o exercício da atividade inerente
ao assistente.

Assim, percebe-se a ligação direta do Serviço Social com a proposta de uma


pedagogia emancipatória. É preciso criar condições de análise com base em uma
vertente dialética do cotidiano profissional, isto é, no trabalho, diariamente, deve-
se estabelecer a análise crítica com base na tríade, estabelecendo a mediação
entre a realidade e as circunstâncias da realidade social, com base em uma análise
do singular, particular e universal dos fatos.

Assim, é imprescindível ampliar a análise das relações sociais, levando-se em


consideração as relações de força entre classe dominante e proletariado, bem
como o antagonismo entre capital e trabalho, e as contradições existentes em
virtude das desigualdades sociais, impostas por um modelo de sistema, neste caso,
propostas inerentes ao sistema capitalista.

ACOMPANHE NA WEB

Diálogos entre Serviço Social e Educação Popular: reflexão baseada em uma


experiência científico-popular

• Conforme apontado por Marina Abreu (2011), a educação popular


representou uma democratização. Para ampliar seus estudos, leia o artigo indicado
a seguir, pois ele apresenta uma reflexão sobre a contribuição da educação popular
para a atuação dos assistentes sociais. OLIVEIRA, Lucia Conde de et al. Diálogos

T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória 57


entre Serviço Social e Educação Popular: reflexão baseada em uma experiência
científico-popular. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 114, p. 381-397, abr./jun. 2013.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n114/n114a10.pdf>. Acesso


em: 4 abr. 2014.

Apontamentos sobre a Influência Religiosa na Escolha da Profissão

• Para compreender melhor a importância dos valores religiosos, bem como


a influência da Teologia da Libertação nas práticas profissionais dos assistentes
sociais, faça a leitura do artigo. SILVA, Fabiana Cristina da; OLIVEIRA, Lidiane
Cristine Dutra de; SANTOS, Valéria Nazário da Silva Santos. Apontamentos
sobre a Influência Religiosa na Escolha da Profissão. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE
ASSISTENTES SOCIAIS, 3., Belo Horizonte, 2013.

Disponível em: <https://goo.gl/2VNa5G>. Acesso em: 4 abr. 2014.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

1. Segundo Abreu (2011), _______________ busca estabelecer uma


relação entre cristianismo e marxismo, realizando uma crítica sobre as
relações de exploração e dominação inerentes à sociedade capitalista,
conclamando os cristãos a aderir à luta pelo socialismo no continente.
A qual fato a autora está se referindo?
a) Revolução Cubana.
b) Teologia da Libertação.
c) Movimento popular.
d) Crise de legitimidade.
e) Nenhuma das alternativas citadas.

2. As CEBs, sobretudo no Brasil, representam “uma ampla rede de


organização e politização das bases” (WANDERLEY, 1998, p. 51), em que
a motivação religiosa, a constituição de uma solidariedade no interior da
comunidade local e a participação de seus membros em movimentos
populares de libertação das classes subalternas são eixos importantes
em seu processo de constituição e crescimento. Qual a contribuição das
CEBs? Comente.

58 T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória


3. Experiências na sociedade brasileira apontam, de maneiras
diferenciadas, para as transformações político-culturais integradas a
movimentos por mudanças estruturais, na perspectiva emancipatória das
classes subalternas. A quais experiências Abreu (2011) está se referindo?
a) Crises políticas e sociais.
b) Crises econômicas e movimentos populares.
c) Experiências da Revolução Cubana e dos movimentos sociais.
d) Experiências da Revolução Cubana e da educação comunitária.
e) Nenhuma das alternativas citadas.

4. No decorrer deste tema, vimos que as chamadas estratégias de


distensão e abertura políticas e o denominado processo de transição
democrática devem ser entendidos como exigências impostas pela
crise. Abreu (2011) aponta duas crises para esse momento. Quais são
elas? Descreva-as.

5. Estudamos as condições objetivas dos processos de politização das


relações sociais e da intervenção consciente das classes subalternas no
movimento histórico e as formas de inserção dos assistentes sociais.
Considerando isso, destaque a educação popular enquanto instrumento
da prática do assistente social nos diferentes espaços de atuação.
Comente.

FINALIZANDO

Faz-se necessário apontar que o processo da proposta de uma pedagogia


emancipatória possibilitou várias conquistas, entre elas, a Constituição Federal de
1988. Abreu (2011, p. 151) menciona que tal processo “envolveu a participação de
vários segmentos organizados da sociedade e incorporou sob a forma de direitos
sociais garantidos pelo Estado grandes bandeiras de luta das classes subalternas”.

REFERÊNCIAS

LEWGOY, Alzira Maria Baptista. Supervisão de Estágio em Serviço Social: desafios para
a formação e o exercício profissional. São Paulo: Editora Cortez, 2009.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social - uma análise do Serviço Social no Brasil
pós-64. 13. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2009.
OLIVEIRA, Lucia Conde de et al. Diálogos entre Serviço Social e educação
popular: reflexão baseada em uma experiência científico-popular. Serviço Social e
Sociologia, São Paulo, n. 114, p. 381-397, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/sssoc/n114/n114a10.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2014.

T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória 59


PONTES, Reinaldo Nobre. Mediação e Serviço Social. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
SILVA, Fabiana Cristina da; OLIVEIRA, Lidiane Cristine Dutra de; SANTOS, Valéria Nazário
da Silva Santos. Apontamentos sobre a Influência Religiosa na Escolha da Profissão. In:
SIMPÓSIO MINEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS, 3., 2013. Anais... Belo Horizonte, 2013.
Disponível em: <https://goo.gl/OpEhg6>. Acesso em: 4 abr. 2014.
SMIONATTO, Ivete. Gramsci: sua teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço
Social. 4. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011.

GLOSSÁRIO

Conectando: “Ligação de uma coisa com outra; união. Nexo, relação de dependência”
(Fonte: <http://www.dicio.com.br/conexao/>. Acesso em: 27 ago. 2014.)
Exploração: “Tentativa de tirar proveito ou utilidade de alguma coisa (a boa ou má
parte). [...] Abuso da boa-fé, da situação precária, da ignorância (de alguém, para auferir
interesses)” (Fonte: <http://www.priberam.pt/DLPO/explora%C3%A7%C3%A3o>.
Acesso em: 27 ago. 2014.)
Vertente: “empregado no sentido figurado, se refere a uma determinada perspectiva, a
um dos lados de um determinado tema, por exemplo, a ‘vertente religiosa’, a ‘vertente
cultural’, a ‘principal vertente’ etc.” (Fonte: <http://www.significados.com.br/vertente/>.
Acesso em: 27 ago. 2014.)

60 T5 - O serviço social e a perspectiva de uma pedagogia emancipatória


Convite à leitura
Neste tema vamos estudar a função pedagógica do profissional assistente
social. Para tanto, é necessário ter a clareza de que o assistente social tem um
papel fundamental em sua prática profissional, pois devemos propiciar ao cidadão,
isto é, ao usuário dos Serviços Sociais, uma análise da realidade social de forma
abrangente e com senso crítico, valorizando as potencialidades e experiências
desse usuário, além de possibilitar-lhe emancipação, autonomia e transformação
da realidade existente.

Esse é um dos papéis a serem trabalhados pelo assistente social. É importante


e necessário conhecer os instrumentos relacionados aos aspectos teórico-
metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos do Serviço Social, os quais
possibilitarão a compreensão da função pedagógica do assistente social nesse
processo.
Tema 6

A função pedagógica do
assistente social

POR DENTRO DO TEMA

A Função Pedagógica do Assistente Social

Para compreendermos a função pedagógica do assistente social, faz-se


necessário ter o entendimento das questões históricas, do movimento das
contradições das relações sociais, do antagonismo entre capital e trabalho. Sendo
assim, é preciso ter a compreensão da filosofia marxista, que vem possibilitar ao
assistente social elementos que propiciam a análise de conjuntura e das relações
de hegemonia que são constituídas sob as bases da ordem do capital, do sistema
capitalista, e das influências neoliberais.

Abreu (2011, p. 163) coloca que:

[...] as bases sócio-históricas da função pedagógica


do assistente social na sociedade brasileira vêm sendo
tensionadas, a partir dos anos 90, pelas estratégias político-
culturais acionadas pelas classes fundamentais na luta pela
hegemonia no país – luta esta travada nos marcos da crise
estrutural do sistema capitalista, instaurada nas três últimas
décadas deste século.

Sendo assim, percebemos que, para entender a função pedagógica do assistente


social, é necessário ter clareza sobre o fato de que os aspectos econômicos políticos
e os aspectos ideológicos da hegemonia consubstanciam-se na organização de
uma cultura a partir de determinado princípio educativo estabelecido.

Para que o assistente social amplie tal conhecimento e perceba a relação


existente entre princípio educativo e organização da cultura, é necessário que
ele compreenda ser o mediador, isto é, o intermediador que instigará condições
para despertar e sensibilizar para uma consciência crítica e reflexiva das questões
político-ideológicas e neoliberais.

T6 - A função pedagógica do assistente social 63


Nesse sentido, Abreu (2011, p. 32) coloca que é importante considerar a relação
que há entre as requisições, as solicitações e as respostas profissionais, a qual
não é mecânica, nem imediata, nem instantânea, “pois supõe o desenvolvimento
teórico-metodológico e político-ideológico da profissão para a construção de
respostas em determinada direção histórica”.

Isso implica entender que, no desenvolvimento da prática profissional, é


necessário ter uma conduta, isto é, um perfil pedagógico que estabeleça uma relação
entre teoria e prática. Nesse cenário, será utilizada a compreensão da categoria de
mediação por meio de uma tríade que, de forma articulada aos aspectos teórico-
metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos, propicia condições de romper
com o conhecido Serviço Social tradicional e conservador. Isso é possibilitado por
uma análise crítica da realidade atrelada às noções de singularidade, particularidade
e universalidade (isto é, a tríade), no contexto da sociedade capitalista, mediante a
proposta de uma prática com a qual o pensamento e o agir têm articulação com
a proposta de reflexão marxista.

Sendo assim, no perfil pedagógico do assistente social, é necessário superar


a prática profissional vinculada aos interesses da classe dominante de cunho
assistencialista a fim de vencer as práticas tecnicistas e pragmáticas.

Podemos exemplificar “práticas pragmáticas” como aquelas práticas realizadas


por uma “Pessoa [que] têm o hábito de ter suas ações, atos e atitudes frente a vida
baseados na verdade absoluta, na praticidade das soluções, de forma que sejam
sempre os mais objetivos e simples possível” (PRAGMÁTICO, 2009). Nesse sentido,
o imprevisível ou os contratempos não são levados em consideração.

O termo “tecnicismo”, por sua vez, se refere “ao abuso da tecnicidade, ou seja,
o uso excessivo ou a supervalorização dos aspectos técnicos de algo, muitas
vezes em detrimento do conjunto dos outros aspectos que possam caracterizá-lo”
(TECNICISMO, 2009).

Nesse sentido, levar em consideração “outros aspectos” significa a compreensão


de que estes devem ser considerados na proposta de um perfil pedagógico com
o qual o assistente social entenda sua função norteadora, que é a de conhecer
não somente os aspectos técnicos, mas também os teórico-metodológicos, ético-
políticos e técnico-operativos, em consonância com o projeto ético-político da
profissão do Serviço Social.

Dessa forma, o assistente social precisa ter respostas para os seguintes


questionamentos: “que projeto é esse?”, “qual relação tal projeto tem com o
estudo?” e “qual a importância de tal projeto para o Serviço Social?”. Tal projeto
é importante para o estudo em razão de trazer novo significado para a profissão.
Uma de suas grandes contribuições é possibilitar à profissão a recusa dos aspectos
tradicionais. Isto é, propiciar a recusa e a crítica ao conservadorismo que se
iniciam com o Movimento de Reconceituação na segunda metade dos anos
1960 e posteriormente na transição dos anos 1970 para a década de 1980. Foi

64 T6 - A função pedagógica do assistente social


um movimento de enfrentamento e reflexão das práticas tradicionais inerentes à
profissão do Serviço Social, fazendo-se necessário como proposta de um novo
projeto profissional.

Para retomar o estudo da função pedagógica do assistente social, voltemos


aos aspectos históricos do Serviço Social para entender que essa sua função era
imposta pela classe dominante e que, na trajetória do Serviço Social, tal perfil foi
questionado. Houve, portanto, crítica e recusa ao conservadorismo da profissão
naquele contexto, tendo seu desdobramento na proposta de um novo projeto
para o serviço social. Essa compreensão e essa análise são importantes para o
entendimento da função pedagógica do serviço social e sua relação com o novo
projeto, já que este questiona o perfil desse profissional.

Nesse sentido, Netto (apud MOTA et al., 2008, p. 148) coloca que:

[...] o debate acerca do projeto ético-político é, nestes termos,


muito recente, [e] a sua história remonta à transição dos
anos 70 aos 80 do século passado. Com efeito, foi naqueles
anos que a primeira condição para a construção deste novo
projeto se viabilizou: a recusa e a crítica ao conservadorismo
profissional.

Em suma, o projeto profissional consiste na conquista revelada e na


contribuição dada pela compreensão de uma nova prática profissional atrelada
à vertente marxista, mediante estudos de Marx e Gramsci, conforme o faz Abreu
(2011), que utiliza a análise gramsciana como base de interpretação teórica em
seus estudos.

Abreu (2011, p. 18) salienta que:

[...] este estudo sobre a função pedagógica do assistente social


sustenta-se na tradição marxista, privilegiando o conceito
gramsciano de cultura, entendido em sua vinculação às
relações de hegemonia, e encaminha-se para uma apreensão
mais aproximada do real a partir de indicações pertinentes às
condições concretas do desenvolvimento do Serviço Social
na sociedade brasileira.

Para entendermos o que vem a ser o projeto profissional mencionado


anteriormente e a sua importância, vale utilizar a contribuição de José Paulo Netto
(2006, p. 144):

T6 - A função pedagógica do assistente social 65


[...] os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma
profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente,
delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam
os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu
exercício, prescrevem normas para o comportamento dos
profissionais e estabelecem as bases das suas relações com
os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com
as organizações e instituições sociais privadas e públicas
(inclusive o Estado), a quem cabe o reconhecimento jurídico
dos estatutos profissionais.

Nesse sentido, há uma proposta de uma pedagogia emancipatória, isto é, uma


pedagogia (uma prática) mediante a qual o assistente social instiga a reflexão dos
processos contraditórios existentes nas relações sociais.

Abreu (2011, p. 185) salienta que “a função pedagógica dos assistentes sociais
ressitua-se nas relações sociais vinculadas a mediações que viabilizam processos
contraditórios de reforma intelectual e moral, em curso na sociedade”. A autora
ainda acrescenta que “no contexto dessas mediações são distinguidos recortes das
pedagogias subalternas e da construção de uma pedagogia emancipatória pelas
classes subalternas”.

Nesse contexto, a pedagogia emancipatória tem relação com a função


pedagógica do serviço social no sentido de haver clareza de que tal profissão
instiga, isto é, incentiva o cidadão a ter sua independência, sua autonomia e sua
consciência crítica da realidade.

Significa, então, que a função pedagógica do serviço social está voltada à


proposta de fomentar, isto é, de estimular o empoderamento da classe subalterna.

Podemos conceituar empoderamento como o fortalecimento do poder da força


do dominado. Como coloca Faleiros (2013), essa perspectiva do empoderamento
(do empowerment), do fortalecimento do poder da força do dominado, tem tido
vasta repercussão na prática profissional.

Para tanto, é necessário romper com a análise baseada na vertente positivista e


fazer uso de uma vertente que possibilita a transformação social.

Para Faleiros (2013, p. 158), “a reconceituação, de linha marxiana, foi situada


como oposto ao Serviço Social tradicional com o questionamento crítico na
busca de uma fundamentação teórica no marxismo”. Nesse sentido, podemos
acrescentar as seguintes palavras do autor: “a isso se agrega uma profunda crítica
ao positivismo”.

Percebemos que o Serviço Social vem lutando para conquistar sua função
pedagógica articulada ao projeto ético-político com base em uma proposta

66 T6 - A função pedagógica do assistente social


marxista de análise das relações de poder, e na análise das relações constituídas
com base na ideologia da hegemonia da classe dominante.

Abreu (2011. p. 31) coloca que:

[...] a função pedagógica do assistente social como


processo concreto, de forma mais aproximada da realidade,
desenvolve-se a partir de mediações que concretizam a
prática profissional na sociedade brasileira, considerando sua
inscrição, no campo das políticas sociais públicas e privadas,
principalmente as de corte assistencial e de formação e gestão
de recursos humanos, e nos processos de luta e resistência
das classe subalternas, na garantia de sua reprodução plena
e constituição autônoma como classe, contraposta à ordem
do capital.

Abreu (2011, p. 31) ainda acrescenta que essa “função é entendida em sua
inscrição no movimento contraditório de reestruturação das bases político-culturais
das relações de hegemonia como elemento constitutivo desse movimento e por
ele constituído”.

Para tal análise, faz-se necessária a compreensão de hegemonia. Para isso,


utilizaremos a interpretação do conceito feita por Smionatto (2011, p. 47): “a
concepção de hegemonia remete, ainda, ao esclarecimento das relações entre
infraestrutura e superestrutura, à forma como as classes sociais se relacionam e
exercem as suas funções no interior do ‘bloco histórico’”.

Abreu (2011, p. 46) explicita, com relação aos aspectos associados à


hegemonia, e correlacionando-os com o entendimento de estrutura, que a
“análise de Gramsci sobre a organização do americanismo alicerça-se na unidade
orgânica entre a relação estrutura/superestrutura, em que a determinação da
estrutura não é mecânica, supõe a posição ativa da superestrutura, exatamente
na medida em que as superestruturas reagem sobre a estrutura, a política sobre
a economia”.

Percebe-se, assim, que, graças às questões relacionadas ao processo de


hegemonia desencadeado pela classe dominante, é necessário que o assistente
social saiba que sua função pedagógica estava a favor de tal classe. Entretanto, esse
profissional, nos dias atuais, tem o desafio de desenvolver sua atividade profissional
com base na proposta de problematizar e analisar de forma crítica as relações
sociais, incorporando o marxismo.

Abreu (2011, p. 171), nesse sentido, coloca que a proposta marxista conforme a
teoria gramsciana tem seu compromisso com as classes subalternas:

T6 - A função pedagógica do assistente social 67


Gramsci passa a ser um marco teórico significativo nas
elaborações do Serviço Social. [...] o referencial teórico
gramsciano é buscado, inicialmente, como possibilidade para
pensar a atuação do assistente social enquanto intelectual
orgânico marcado pelo compromisso com as classes
subalternas.

Dessa forma, fica claro que o assistente social deve estar atento ao processo
relacionado aos elementos de produção desencadeados pelo sistema capitalista,
o qual tem relação direta com as repercussões, isto é, com as múltiplas formas de
expressões da questão social no campo do Serviço Social.

ACOMPANHE NA WEB

A Importância do Serviço Social na Mediação das Demandas que Mais Afligem


o Contexto Escolar

• Este tema trouxe os apontamentos acerca da função pedagógica do


Assistente Social. Mediante essa explicitação, para entender a relação do profissional
nas demandas escolares faça a leitura do artigo “A importância do serviço social
na mediação das demandas que mais afligem o contexto escolar”, de Micheli K.
Faustino.

Disponível em: <https://goo.gl/fkwIUv>. Acesso em: 8 abr. 2014.

A Construção do Perfil do Assistente Social no Cenário Educacional

• O seguinte material aborda as políticas sociais e públicas que tratam do


contexto educacional na práxis do Serviço Social. Trata-se de uma pesquisa
realizada em Barretos (SP) que explicita o percurso do trabalho desenvolvido pelo
Serviço Social na Secretaria de Educação. Leia, portanto, o livro A construção do
perfil do assistente social no cenário educacional, de Maria Cristina Piana.

Disponível em: <https://goo.gl/2kzPiq>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Prática Pedagógica na Assistência Social

• A seguinte cartilha evidencia o princípio educativo da Assistência Social e


como ele se configura, além de oferecer subsídios para os Centros de Referência
de Assistência Social (CRAS), com o objetivo de contribuir para o processo de
consolidação de uma prática político-pedagógica que vise ao fortalecimento da
cidadania dos usuários da Assistência. Para saber mais, leia o documento “Prática
pedagógica na assistência social”.

Disponível em: <https://goo.gl/l1YN5K>. Acesso em: 8 abr. 2014.

68 T6 - A função pedagógica do assistente social


AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

1. No seu Livro-Texto, consta que na recomposição das bases político-


culturais das relações de hegemonia na sociedade brasileira articulam/
rearticulam-se princípios educativos norteadores de ordenamentos
morais e intelectuais propostos pelas classes em luta. Quando Abreu
(2011) concorda com Bihr (1998), ambos apontam a importância de se
considerar o quê? Descreva.

2. Leia o seguinte trecho:


“Tem sua raiz no desenvolvimento de empresas transnacionais, assim
entendidas na medida em que produzem mais-valia em vários países,
sobrepondo-se ao controle da regulação dos Estados nacionais”.
Do que se está falando? Assinale a alternativa com a resposta correta.
a) Da exportação.
b) Da transnacionalização.
c) Da exploração do capital.
d) De uma nova divisão internacional do trabalho (DIT).
e) Do equilíbrio entre burguesia e proletariado.

3. Preencha as lacunas do parágrafo seguinte e escolha a alternativa com


a sequência correta de palavras/expressões.
“Em suma, ____________________ imposto pelo interesse da
acumulação do capital visa, de acordo com o citado anteriormente, à
obtenção do consentimento ______________ das classes subalternas
à “nova” ordem do capital, bem como a neutralização de suas lutas de
caráter emancipatório”.
a) O “novo” conformismo social; ativo e passivo.
b) O “novo” conformismo capital; ativo e passivo.
c) O “novo” conformismo social; passivo.
d) O “novo” aporte da divisão internacional do trabalho (DIT); ativo.
e) O “novo” incômodo social; único.

4. Abreu (2011) aponta que, no Brasil, nas duas últimas décadas, a


chamada crise do Estado aparece no discurso dominante como a
principal causa da crise econômica. O que se pode destacar como as
principais expressões desse processo de reforma do Estado? Descreva.

T6 - A função pedagógica do assistente social 69


5. Localizam-se na base da institucionalização dessa profissão na
sociedade brasileira e mantêm-se na atual correlação de forças. Todavia,
significativas transformações ocorrem nos processos pelos quais, na
atualidade, são estabelecidas as relações de enfrentamento da questão
social por meio da ação estatal e da ação da sociedade civil.
Com base no exposto, responda: a que Abreu (2011) está se referindo?
Descreva.

FINALIZANDO

Neste tema, você pôde perceber que, para a reflexão e o desenvolvimento de


uma função pedagógico, é necessário fazer uso da categoria da mediação do
método dialético, que é imprescindível e emergente na prática profissional do
assistente social.

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel. Serviço social e a organização da cultura: perfis pedagógicos


da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2011.
FALEIROS, Vicente de Paula. Globalização – Correlação de Forças e Serviço Social.
São Paulo: Cortez, 2013.
FAUSTINO, Micheli Klauberg. A importância do serviço social na mediação das
demandas que mais afligem o contexto escolar. Fazendo Gênero 9: Diásporas,
Diversidades, Deslocamentos, Santa Catarina, 2010. Disponível em: <http://www.
fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1277897841_ARQUIVO_AimportanciadoSe
rvicoSocialnamediacaodasdemandasqueafligemocontextoescolar.pdf>. Acesso em: 8
abr. 2014.
LIRA, Lidia. Prática pedagógica na assistência social: Fortalecendo o processo de
inclusão social através do CRAS. Instituto de Administração e Tecnologia, Secretaria
De Desenvolvimento Social e Cidadania, 2011. Disponível em: <http://www.fecam.org.
br/arquivosbd/basico/0.627066001273164101_pratica_pedagogica_na_assistencia_
social.pdf>. Acesso em: 8 abr. 2014.
MOTA, Ana Elizabeth; BRAVO, Maria Inês de Souza; UCHÔA, Roberta; NOGUEIRA,
Vera; MARSIGLIA, Regina; GOMES, Luciano; TEIXEIRA, Marlene. Serviço Social e
Saúde: Formação e Trabalho Profissional. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
NETTO, José Paulo. A construção do projeto ético político do Serviço Social. In:
MOTA, A. E. et al. Serviço Social e saúde: Formação e Trabalho Profissional. São Paulo:
Cortez, 2006.
PIANA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional [on-
line]. São Paulo: Editora UNESP/Cultura Acadêmica, 2009. Disponível em: <http://
static.scielo.org/scielobooks/vwc8g/pdf/piana-9788579830389.pdf>. Acesso em: 8

70 T6 - A função pedagógica do assistente social


abr. 2014.
PRAGMÁTICO. Dicionário Informal, 2009. Disponível em: <http://www.
dicionarioinformal.com.br/pragm%C3%A1tico>. Acesso em: 3 set. 2014.
SMIONATTO, Ivete. Gramsci: Sua teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço
Social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
TECNICISMO. Dicionário Informal, 2009. Disponível em: <http://www.
dicionarioinformal.com.br/tecnicismo>. Acesso em: 3 set. 2014.

GLOSSÁRIO

Antagonismo: oposição de ideias ou de sistemas, rivalidades, incompatibilidade, luta,


relutância, inimizade.
Contradição: incoerência, desacordo.
Função: exercício de órgão ou aparelho, prática, uso, cargo.

T6 - A função pedagógica do assistente social 71


Convite à leitura
Neste tema, vamos estudar as metamorfoses ocorridas no contexto do Serviço
Social e, para isso, retomaremos termos como ajuda, participação e reatualização,
como faz Abreu (2011). A autora discorre sobre estes conceitos ao salientar os
perfis pedagógicos do assistente social. Dessa forma, você pode perceber que tais
termos não são novos, pois, já estudamos esses conceitos quando falamos sobre
os três perfis pedagógicos que Abreu (2011) identificou na constituição do Serviço
Social na sociedade brasileira, ao tratar sobre a função pedagógica do assistente
social, abordada no tema 6 deste caderno.
Tema 7

As metamorfoses no serviço
social

POR DENTRO DO TEMA

As Metamorfoses no Serviço Social

O termo metamorfose está relacionado com o perfil pedagógico do assistente


social, conforme nos mostra Abreu (2011, p. 186). Vamos iniciar nossos estudos
conceituando esta palavra que estará presente ao longo de todo este tema.
Metamorfose, segundo Bueno (1996, p. 428), significa “transformação, mudança
de forma ou de estrutura que ocorre na vida de certos animais, como insetos e
os batráquios”. Já o termo metamorfosear significa “transformar, trocar a forma,
alterar, modificar, mudar o caráter”, isto é, o gênio de algo.

Você pode observar que, independentemente do tipo de perfil pedagógico


que estudamos, falamos sempre da proposta de mudança dos perfis do assistente
social, considerando a mudança de estrutura, de modelo, ou ainda de forma de
atuação deste profissional. Além disso, ao discorrermos sobre eles, abordamos os
três perfis pedagógicos tratados nos estudos de Abreu (2011). A autora define estes
perfis após identificar o que ela denomina de pedagogias, destacando entre elas as
pedagogias da ajuda, da participação e a pedagogia emancipatória (da perspectiva
de construção de uma pedagogia emancipatória pelas classes subalternas).
Notamos que para a compreensão de todos estes perfis é necessária a articulação
com uma análise que considere os aspectos inerentes ao sistema econômico.
Abreu (2011, p. 186) salienta que:

[...] as metamorfoses operadas nas pedagogias da “ajuda”


e da “participação” derivam das exigências colocadas pelo
conjunto das atuais transformações sociais no que concerne à
reorganização da cultura pelos detentores do capital, visando
uma adequação do modo de vida à nova racionalização do
processo produtivo e do trabalho.

Nesse sentido, estudar as metamorfoses do Serviço Social significa refletir sobre


a influência do sistema capitalista nestes perfis e compreendê-la. A partir dessa

T7 - As metamorfoses no serviço social 75


questão, Abreu (2011) fala sobre a formação dos intelectuais, conforme a análise
Gramsciana. Segundo esta análise, não seria possível a existência dos intelectuais
se não existissem classes sociais, pois eles são os representantes pensantes de
tais classes e é por meio deles que se forma a consciência crítica, conforme a
ideologia que defendem. Dessa forma, a autora coloca que a classe dominante tem
os intelectuais orgânicos, sob a representação de seus organizadores e dirigentes.
Segundo Abreu (2011, p. 50):

[...] os intelectuais são criadores e difusores das concepções


de mundo das classes fundamentais. Não estabelecem
uma relação imediata com o mundo da produção, pois é
mediatizada em diversos graus por todo o contexto social,
pelo conjunto das superestruturas do qual os intelectuais são
precisamente os funcionários.

Percebemos assim que, tal como o intelectual, o assistente social desenvolve


em seu trabalho a representação de uma classe, seja do proletariado ou da própria
classe dominante, representada pela burguesia. Nesse sentido, devemos pensar
as metamorfoses no Serviço Social como um processo de transformação, a partir
de uma proposta de mudança em suas bases, pois sabemos que ele foi gestado
e concebido sob a influência dos intelectuais orgânicos, representantes da classe
dominante. Assim, é válido ressaltar o que afirma a autora sobre o profissional de
serviço social:

[...] o assistente social como um intelectual do tipo tradicional


pode constituir-se em intelectual orgânico, seja do
proletariado, seja da burguesia, considera as possibilidades
de as funções intelectuais desempenhadas pelo mesmo
expressarem desdobramentos de atividades essenciais às
referidas classes nos campos econômico, político e social,
como organizador e dirigente político. (ABREU, 2011, p. 51)

Assim, entendemos que as afirmações de Abreu (2011) contribuem para


observarmos que o desafio do profissional assistente social na sociedade brasileira
é de ser o mediador e propositor, aquele que fomenta e instiga a classe subalterna
em direção à superação, isto é, em direção a uma mudança. Por isso, utiliza-
se o termo Metamorfose do Serviço Social, pois procura-se a mudança dessa
circunstância ou situação de classe social subalterna, explorada e manipulada pelos
intelectuais orgânicos da classe dominante, dadas as circunstâncias históricas.

O desafio desse processo de metamorfosear está no trabalho de ruptura


com as práticas conservadoras que, de forma hegemônica, foram construídas
historicamente na profissão do serviço social. Assim, para romper com tais

76 T7 - As metamorfoses no serviço social


condições de subalternidade, principalmente desta classe representada pelo
proletariado, o profissional do serviço social precisa se capacitar para entender
todos os aspectos que a envolvem e utilizar estratégias que possam instigar a
análise crítica nesta classe. Dessa forma, considerando a influência dos aspectos
políticos inerentes ao sistema capitalista, a metamorfose é a mudança necessária à
organização e luta da classe trabalhadora para o enfrentamento das desigualdades
sociais. Percebemos assim a forte presença e influência do profissional assistente
social nesse processo.

Nesse sentido, é importante a compreensão do termo intelectual, como é


tratado pela vertente marxista, para subsidiar a prática profissional, pois sabemos
que esta tem uma função pedagógica essencial, que é o desafio de metamorfosear.
Conforme coloca Simionatto (2011, p. 56), no “âmbito do marxismo, pode-se dizer
que o conceito de intelectual é um tema que mereceu muita atenção de Marx.
Entretanto, foi Gramsci que tratou a função da questão dos intelectuais”.

As contribuições de Abreu (2011) também propiciam ao assistente social as


condições necessárias para que ele amplie sua consciência crítica, especialmente
quando a autora menciona a influência e a importância de se entender alguns
conceitos, tais como estrutura e superestrutura, ao tratar da metamorfose do
serviço social. Sobre estes conceitos, Simionatto (2011) salienta que:

[...] a análise gramsciana se coloca na trilha da clássica relação


indicada por Marx entre estrutura e superestrutura, ou seja,
as classes sociais nascem e se constituem no terreno da
produção econômica dão origem a grupos de intelectuais que
se vinculam desde a economia até outros aspectos da vida
social e estatal. (SIMIONATTO, 2011, p. 57)

Percebemos, assim, a importância de se entender o que vem a ser a mediação na


atuação profissional, a qual está relacionada com a função pedagógica do assistente
social e, consequentemente, com a metamorfose no serviço social. Abreu (2011, p.
185) nos mostra que “no contexto dessas mediações são distinguidos recortes das
pedagogias subalternas e da construção de uma pedagogia emancipatória pelas
classes subalternas”.

Você pode perceber que a prática profissional está fundamentada em dois


caminhos: um que segue os interesses da burguesia, isto é, os interesses da ordem
estabelecida pelo sistema capitalista, e outro que segue no campo das lutas da
classe subalterna, representada pela classe trabalhadora, a qual se organiza pela
efetivação e conquista dos direitos sociais, hoje garantidos pela Constituição
Federal de 1988.

Ainda sobre o intelectual, Simionatto (2011, p. 63) afirma que o “conceito de


intelectual orgânico implica as relações dos grupos intelectuais e a explicitação de
suas funções técnicas”. Segundo a autora:

T7 - As metamorfoses no serviço social 77


[...] a concepção de organicidade é inerente à formação
mesma das suas competências e das funções que desenvolvem
no interior do modo de produção capitalista, inclusive o
encaminhamento das lutas junto à classe que está vinculado.
Estar vinculado organicamente a uma classe não significa agir de
fora, externamente, de maneira mecânica. Significa sim participar
efetivamente de um projeto junto às classes fundamentais:
burguesia ou proletariado. (SIMIONATTO, 2011, p. 63)

Assim, percebemos que o assistente social passa a ser o porta-voz dessa classe
trabalhadora, uma vez, que ele tem o compromisso com o projeto ético-político da
profissão, ao defender os direitos sociais das pessoas e da sociedade. Tal proposta
está sustentada nas seguintes legislações: a Lei de Regulamentação da Profissão, o
Código de Ética Profissional dos assistentes sociais e as Diretrizes Curriculares para
o Curso de Serviço Social.

Nesse sentido, é necessário que o assistente social conheça a proposta de


mudança em sua profissão, ou seja, a possibilidade de metamorfose. É importante
também que ele não perca de vista que tal proposta entra em choque com os
princípios do sistema capitalista, pois para que este se mantenha, a exploração da
classe trabalhadora deve permanecer.

Dessa forma, entender o papel dos intelectuais é importante, uma vez, que a
classe representada pelo proletariado também pode ter seus próprios intelectuais.
Simionatto (2011, p. 64) afirma que “o proletariado também pode produzir os seus
intelectuais, que contribuirão para a construção da sua hegemonia e assim, pode
aspirar à direção da sociedade”.

Com relação ao projeto ético-político que se relaciona à questão da


metamorfose do serviço social, Netto (2008, p. 116) afirma que:

[...] o rompimento com o conservadorismo engendrou uma


cultura profissional muito diferenciada, prenhe de diversidades,
mas que acabou, ao longo da década de oitenta e na entrada
dos anos noventa, por gestar e formular uma direção social
estratégica que colide com a hegemonia política que o
grande capital pretende construir (e que vem ganhando corpo
desde a última eleição presidencial), direção suficientemente
explicitada no Código de Ética Profissional em vigência desde
março de 1993, direção que, pondo como valor central a
liberdade, fundada numa ontologia do ser social assentada no
trabalho, toma como princípios fundamentais a democracia
e o pluralismo e, posicionamento em valor da equidade e da
justiça social, opta por um projeto profissional vinculado ao
processo de construção de uma nova ordem societária, sem
dominação-exploração de classe, etnia e gênero.

78 T7 - As metamorfoses no serviço social


Através das questões acima apresentadas, percebemos que a profissão
conquistou grande avanço ao firmar suas bases teóricas em uma proposta marxista,
privilegiando as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-
operativas, com o intuito de propor um novo agir profissional e também uma
mudança na formação profissional. Nesta direção, Abreu (2011, p. 205) coloca que
são “abordadas tendências profissionais e desafios colocados ao assistente social,
considerando sua inserção no movimento de constituição de uma pedagogia
emancipatória pelas classes subalternas”.

O próximo tema irá tratar dos desafios profissionais do assistente social, tendo
em vista a necessidade de esclarecer os processos de mudanças e transformações
em relação ao agir deste profissional.

ACOMPANHE NA WEB

Serviço Social e a organização da cultura: perfis pedagógicos da prática


profissional

• No capítulo 3 do livro Serviço Social e a organização da cultura: perfis


pedagógicos da prática profissional, Abreu traz apontamentos sobre a previdência
social e menciona o Beneficio de Prestação Continuada. Por ser um dos grandes
campos de atuação do assistente social, é importante que você se familiarize com
este benefício, bem como com os instrumentais utilizados nesse processo. Acesse
a perguntas e respostas sobre o BPC no site do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome.

Disponível em: <https://goo.gl/EEifZD>. Acesso em: 11 de abr. 2014.

Filantropia Empresarial: entre os ganhos sociais, a exploração do trabalhador


e à focalização do atendimento

• Leia o artigo Filantropia Empresarial: entre os ganhos sociais, a exploração


do trabalhador e à focalização do atendimento, de Núbia Maria Dias da Cunha, e
veja a importância deste assunto no âmbito do Serviço Social, em que a filantropia
empresarial, segundo Abreu (2011, p.198), “apresenta-se como objetivação de
respostas do empresariado aos apelos de solidariedade no enfrentamento da
pobreza”.

Disponível em: <https://goo.gl/FP7tkG> Acesso em: 11 abr. 2014.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você

T7 - As metamorfoses no serviço social 79


encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

1. Têm em vista a criação/avanço/ampliação/difusão de condições


teórico-metodológicas e político-ideológicas para o redimensionamento
profissional face às demandas e condições de trabalho profissional e
os desafios da construção de respostas profissionais comprometidas
com os interesses das classes subalternas (ABREU, 2011, p. 192). O texto
refere-se a:
a) Questões sociais e políticas capitalistas.
b) Questões que chamam a atenção do governo para politicas públicas.
c) Questões para o enfrentamento coletivo dos assistentes sociais.
d) Questões para o enfrentamento coletivo dos Conselhos.
e) Questões para o enfrentamento de políticas sociais.

2. Com relação às políticas de seguridade social e necessidades sociais


das classes subalternas nos países periféricos, analisando a histórica
implementação dos atendimentos a essas necessidades e o acesso a
tais benefícios, comente a importância do assistente social frente a essa
demanda?

3. Abreu (2011) aponta que a função pedagógica do assistente social


junto aos processos de participação das classes subalternas na gestão
das políticas públicas, na mediação dos chamados conselhos de direitos,
é mobilizada a partir de dois vetores opostos. Quais são? Descreva-os.

4. Intensificada na sociedade brasileira e no mundo nos anos 80,


apresenta-se como objetivação de respostas do empresariado aos
apelos de solidariedade no enfrentamento da pobreza, mas na realidade,
não passa de mais uma forma de privatização dos serviços sociais como
vantagens econômicas, políticas e sociais para o patronato. Do que fala
Abreu (2011) neste trecho?
a) Do Beneficio de Prestação Continuada/BPC.
b) Da reinserção dos assistentes sociais na administração do consumo.
c) Da filantropia do Serviço Social de Caso.
d) Das questões sociais frente às politicas capitalistas.
e) Da filantropia empresarial.

5. Vimos no decorrer deste tema que a reorganização da cultura pelo


capital em crise funda-se na necessidade da formação de um novo
perfil do trabalhador, atingindo o núcleo integrado dos trabalhadores
assalariados e o núcleo mais amplo heterogêneo em suas ramificações
periféricas. Quais os apontamentos de Abreu nas respostas a tais
necessidades? Descreva.

80 T7 - As metamorfoses no serviço social


FINALIZANDO

Você percebeu que pensar na metamorfose do serviço social é pensar no


processo de mudança desencadeado no mundo do trabalho, sob a influência do
sistema capitalista. É pensar também nas mudanças das formas de expressão da
questão social e do processo de formação do agir profissional, pois as metamorfoses
iniciam sua reflexão no campo do trabalho, motivo pelo qual você estudou, nos
temas anteriores, o fordismo e o toyotismo. Como coloca Antunes (2008, p. 86) “as
metamorfoses ocorridas no trabalho não só eliminaram a ‘alienação’ do trabalho,
como levaram a uma intensificação do estranhamento, um estranhamento tanto
no processo de produção, como na esfera do consumo”. É necessário refletir
sobre tais transformações e mudanças desencadeadas na sociedade, uma vez que
elas repercutem nas profissões, pois só assim poderemos entender seus desafios
e pensar no agir profissional compromissado com o projeto ético-político da
profissão, aspectos que merecem atenção na formação profissional.

Bons estudos!

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel. Serviço Social e a organização da cultura: perfis pedagógicos


da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2002.
ANTUNES, Ricardo. Dimensões da crise e metamorfose do mundo do trabalho.
Serviço Social & Sociedade, ano XVII, n. 50, abr./1996. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Beneficio de
Prestação Continuada da Assistência Social – BPC 2014. Disponível em: <http://
www.mds.gov.br/relcrys/bpc/perguntas_respostas.htm#9Acesso> Acesso em: 11 de
abr. 2014.
CAPITAL. DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa, 2014. Disponível em: <http://
www.priberam.pt/dlpo/capital>. Acesso em: 15 abr. 2014.
COLIDIR. DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa, 2014. Disponível em: <http://
www.priberam.pt/dlpo/colide>. Acesso em: 15 abr. 2014.
CUNHA, Núbia Maria Dias da. Filantropia empresarial: entre os ganhos sociais,
a exploração do trabalhador e à focalização do atendimento. In: JORNADA
INTERNACIONAL DE POLITICAS PÚBLICAS, 2., 2005, São Luís, MA. Anais... São Luís:
Universidade Federal do Maranhão, 2005. Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.
br/jornadas/joinppIII/html/Trabalhos2/Nubia_Maria_Dias_da_Cunha162.pdf> Acesso
em: 11 de abr. 2014
ENGENDRAR. DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa, 2014. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/engendrou>. Acesso em: 15 abr. 2014.

T7 - As metamorfoses no serviço social 81


METAMORFOSE. BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:
FTD, 1996.
METAMORFOSEAR. BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:
FTD, 1996.
NETTO, José Paulo. Transformações societárias e Serviço Social: notas para uma
análise prospectiva da profissão no Brasil. In: Serviço Social & Sociedade, ano XVII, n.
50, abr./1996. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
SIMIONATTO, Ivete. Gramsci: sua teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço
Social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

GLOSSÁRIO

Engendrou: en·gen·drar (latim ingenero, -are, gerar, procriar, fazer nascer, criar, inspirar).
1. Dar origem a. = CRIAR, GERAR, ORIGINAR. 2. Criar mentalmente. = ARQUITETAR,
ENGENHAR, INVENTAR. (DICIONÁRIO PRIBERAM)
Colide: co·li·dir (latim collido, -ere). 1. Fazer ir de encontro. 2. Quebrar (uma coisa),
batendo-a contra outra. 3. Embater. 4. Quebrar-se (uma coisa na outra). 5. [Figurado]
Estar em oposição, contradizer-se. (DICIONÁRIO PRIBERAM)
Capital: 7. Dinheiro que constitui o fundo de uma indústria ou de um rendimento.
8. Valores, dinheiro, numerário. 9. [FIGURADO] Aquilo que constitui fundo ou valor,
suscetível de produzir lucros ou vantagens. 10. Fortuna. (DICIONÁRIO PRIBERAM)

82 T7 - As metamorfoses no serviço social


Convite à leitura
Este tema fala da questão inerente aos desafios que há atualmente na prática
do assistente social na sociedade brasileira, isto é, os desafios do Serviço Social na
contemporaneidade.

Você percebeu até aqui que a essência do trabalho de Abreu (2011) se estabeleceu
por meio da proposta de estudar a função pedagógica do assistente social. Com
o estudo dessa função, foi possível observar as elucidações que a autora trouxe
sobre os perfis pedagógicos desse profissional. Para isso, correlacionou três perfis
com o princípio educativo, conforme o conceito em Gramsci.

Neste tema, Abreu (2011) traz reflexões sobre os desafios do assistente social,
isto é, do Serviço Social, para a construção de uma pedagogia emancipatória,
assunto que com certeza propiciará elucidações que contribuem para sua trajetória
acadêmica.
Tema 8

Desafios na prática do
assistente social

POR DENTRO DO TEMA

Desafios na Prática do Assistente Social

Assim sendo, este tema, norteado pelos estudos de Abreu (2011), propicia a
reflexão de elementos necessários para o desenvolvimento de sua atividade
profissional, tendo em vista o objetivo de esclarecer os pontos-chaves referentes
ao desafio para o profissional assistente social.

Abreu (2011, p. 205), ao falar sobre os desafios do profissional de Serviço Social,


retoma o trabalho sobre o assunto em:

[...] relação ao redimensionamento da função pedagógica dos


assistentes sociais na perspectiva emancipatória das classes
subalternas, que se delineiam desde os anos 80, nos marcos
da ofensiva do projeto neoliberal, e se intensificam nos anos
90, com a expansão hegemônica desse projeto, embora em
crise, em todo o mundo.

Abreu (2011, p. 205) ressalta, nesse sentido, que tais tendências “refletem
processos concretos em curso na sociedade, traduzindo compromissos e
horizontes diferenciados da prática profissional no movimento histórico”.

Nesse contexto, a autora nos revela que, num primeiro momento, o


redimensionamento da função pedagógica do assistente social teve como plano
de fundo uma proposta de mudança nos aspectos teóricos da profissão. Isso
aconteceu por meio do Movimento de Reconceituação da profissão, tendo seu
desdobramento nos anos 1980, mediante discussão sobre a necessidade de uma
nova proposta de embasamento teórico para o profissional de Serviço Social.
Entretanto, ela foi projetada no cenário do projeto neoliberal desencadeado pelo
sistema capitalista e intensificado nos anos 1990 (projeto, portanto, relacionado ao
neoliberalismo).

Sendo assim, entende-se que o assistente social não pode estar alheio às
transformações no tocante à economia, pois a tendência do projeto neoliberal

T8 - Desafios na prática do assistente social 85


tem repercussão no seu exercício profissional. O assistente social, portanto, deve
ter a clareza em relação às mudanças que ocorrem no contexto de condução das
políticas sociais. Dessa forma, é inegável que os aspectos teórico-metodológico,
ético-político e técnico-operativo são dimensões que devem estar claras para
o profissional assistente social a fim de que este possa consolidar, por meio de
sua prática, a efetivação de um projeto que contribua para emancipação e o
empoderamento do cidadão. Percebe-se, ainda, que, para tal alcance, é necessária
uma leitura crítica desse cenário, o qual está em movimento e em constante
transformação na realidade social.

Nesse sentido, entender a proposta de uma vertente marxista para a prática


profissional é importante. Essa inclinação tem seu início justamente nos anos 1980
por meio da proposta de uma teoria que propicia a análise das relações sociais
com a utilização da categoria de mediação fundamentada em Marx.

Cabe aqui uma informação:

[...] até o final da década de 70, o pensamento de autores


latino-americanos ainda orienta, ao lado da iniciante
produção brasileira, particularmente divulgada pelo CBCISS, a
formação e o exercício profissional no país.
Situação que, aos poucos, vai se modificando com o
desenvolvimento do debate e da produção intelectual do
Serviço Social brasileiro que resulta de desdobramentos e da
explicitação das seguintes vertentes de análise que
emergiram no bojo do Movimento de Reconceituação.
(YAZBEC, 2009, p. 149)

A primeira vertente é caracterizada por uma abordagem do pensamento


influenciada pela igreja católica. Mais tarde, por meio das discussões dos profissionais,
ocorre nela uma mudança conhecida como perspectiva modernizadora, a qual é
pautada na vertente positivista. A segunda, com a perspectiva de renovação do
conservadorismo, embasa-se pela proposta da vertente fenomenológica, sendo
conhecida como forma de reatualização do conservadorismo. Por fim, com a
intenção de ruptura, mais precisamente por meio das propostas e discussões do
Método BH, surgiu a a terceira vertente, que trouxe a proposta marxista para o
Serviço Social.

No âmbito das discussões dos desafios para o profissional assistente social,


faz-se necessário conhecer tais vertentes para entender que a conquista de uma
instrumentalidade sólida que propicie mudança social foi um processo na história
do serviço social.

Percebe-se, assim, que um dos desafios para o profissional é o entendimento de


tal instrumentalidade e de suas dimensões – sendo elas políticas, éticas ou teóricas
– para compreender os antagonismos existentes na realidade social e também

86 T8 - Desafios na prática do assistente social


perceber o comprometimento que o profissional tem com a classe trabalhadora
por meio do projeto éticopolítico da profissão.

Nesse sentido, Abreu (2011, p. 206) aponta que:

[...] o primeiro e fundamental desafio que se coloca para os


assistentes sociais, para avançar numa perspectiva
emancipatória, refere-se à contribuição profissional para o
fortalecimento e o avanço de processos e lutas que
favoreçam a ultrapassagem das conquistas das classes
subalternas dos limites históricos do Estado de Bem-
Estar, no sentido da construção de uma nova sociabilidade.

Dessa forma, a profissão tem o desafio de captar, isto é, de entender as


mudanças no mundo do trabalho, dentre elas destacam-se aquelas ocorridas no
sistema de proteção social (mais especificamente: a Seguridade Social).

Quando Abreu (2011) versa a respeito dos limites históricos, destacando o


Estado de Bem-Estar Social, é válido lembrar que tais mudanças e conquistas
ocorrem graças às transformações ocorridas na sociedade por meio do sistema
capitalista, em virtude da política neoliberal.

Assim, destaca-se o que o texto de Yaszbek (2009, p. 154) diz:

[...] os anos 80 e 90 foram anos adversos para as políticas


sociais e se constituíram em terreno particularmente fértil
para o avanço da regressão neoliberal que erodiu as bases dos
sistemas de proteção social e redirecionou as
intervenções do Estado em relação à questão social.

Nesse caso, sobressaem-se as mudanças desencadeadas por meio de projetos


sociais de cunho assistencialista, destacando-se a filantropia, a solidariedade por
meio do incentivo da participação da sociedade civil na responsabilidade social
diante das políticas sociais para combater a pobreza e a exclusão.

Justifica-se, então, por que o profissional deve atentar-se para as mudanças


ocorridas no cenário brasileiro. Sabe-se que a conquista da Seguridade Social é
efetivada por meio da Constituição Federal de 1988, a qual garante os direitos
sociais, destacando a responsabilidade do Estado na efetivação e na garantia de
tais direitos por meio das políticas públicas.

Desse modo, Abreu (2011, p. 207) traz uma reflexão a respeito desse contexto
quando menciona “as transformações no mundo do trabalho objetivadas
principalmente por meio das práticas de terceirização e dos programas de qualidade
total”. A autora coloca que tais mudanças, isto é, tais transformações “resultam de
um movimento do capital e de escolhas do empresariado local para manter a

T8 - Desafios na prática do assistente social 87


reprodução da economia do capital de acordo com as exigências históricas atuais
da mundialização da economia”.

Em virtude de tal conjuntura, percebe-se, segundo Abreu (2011), que o profissional


assistente social desenvolve sua atividade profissional em meio a esse cenário de
lutas e desigualdades, onde assume o desafio de propiciar o empoderamento, isto
é, a autonomia e a emancipação do cidadão.

Entretanto, fomentar e propor tal empoderamento seria como ir pela


contramão das propostas neoliberais, as quais propõem o mínimo social, isto é,
que se possibilite o mínimo necessário para os cidadãos, uma vez que se divide
com a sociedade civil a responsabilidade no tocante às políticas públicas.

Trata-se de compreender o movimento existente na contradição e no


antagonismo entre capital e trabalho nas relações sociais, uma vez que o projeto
inerente ao sistema capitalista tem sua roupagem em propostas neoliberais
relacionadas à economia mundial, no âmbito da globalização.

Nesse sentido, Faleiros (1999 apud ABREU, 2011) diz que o empowerment:

[...] coloca-se em contraposição ao novo contrato social,


imposto pelo processo de globalização, que consiste em
tornar o indivíduo menos seguro, menos protegido, mais
competitivo no mercado, com menos garantia ou nenhuma
garantia de direitos.

Observa-se que até aqui se refletiu sobre a importância de entender as


contradições que permeiam o cenário da sociedade brasileira e que, por isso,
também permeiam a prática profissional, daí a necessidade de entender tal contexto.

Cabe assinalar, como dito, que, para compreender tais mudanças, faz-se
necessário, portanto, ter a clareza da existência da proposta de uma vertente
marxista para a prática profissional.

Tal vertente passa a ter força e presença na formação profissional do assistente


social por meio de conquistas e mudanças as quais estão presentes e são orientadas
no projeto da profissão, que tem consonância com o Código de Ética de 1994,
com as Diretrizes Curriculares de 1996 e com a Legislação (Lei 8662 de 1993) que
regulamenta o exercício do profissional.

A outra proposta do tema é trazer elementos que possam esclarecer e fazer


conexões para o entendimento dos termos prática e práxis, o que é necessário para
o alcance do desafio profissional de exercer uma atividade profissional conforme
a proposta marxista.

Abreu (2011), sobre o desafio do assistente social, menciona o papel da prática


e da práxis:

88 T8 - Desafios na prática do assistente social


[...] concordando com Lopes (1998, p. 17) entendo esse desafio
como um desdobramento, um produto da práxis social, em
cujo âmbito se situa o serviço social como prática profissional,
da qual são sujeitos os assistentes sociais. Esse desafio traduz-
se, pois, para os assistentes sociais, como elemento inerente à
relação orgânica serviço social/movimento social.

Nesse sentido, é importante entender que, no que se refere aos desafios na prática
do assistente social, é de suma importância compreender a diferença existente entre
os termos mencionados para, então, perceber que o desafio é ter uma atividade
profissional voltada à práxis.

Nesse sentido, Abreu (2011) nos faz entender que o princípio pedagógico fundamental
e necessário na prática profissional do assistente social é o da práxis marxista.

A práxis é algo que está implícito na atividade profissional. Sua compreensão


ocorre com a prática articulada à teoria, isto é, com o conhecimento que se tem
dessa teoria (práxis marxista).

É a partir dessa compreensão que então se estabelece a interpretação da


realidade social por meio da teoria marxista, que ocorre com a utilização da
categoria da mediação.

Esclarecer a temática é interessante, pois o que algumas vezes ocorre na realidade


é a confusão entre os termos prática e práxis ou a utilização equivocada deles.
Pensando nesse aspecto, é perceptível a necessidade de trazer o conceito de cada
um deles para entender o que Abreu (2011) quer dizer quando utiliza o termo práxis.

Conforme coloca Vazques (1977, p. 185), “toda práxis é atividade, mas nem toda
atividade é práxis”. Sendo assim, entende-se que a práxis pode ser explicitada como uma
atividade profissional desenvolvida por meio da categoria da mediação, possibilitando
mudança na realidade social e fomentando a consciência crítica de si mesmo e do
cidadão. A prática por si só não é práxis. A prática sem o questionamento do imediato,
sem o desenvolvimento da tríade singularidade, particularidade e universalidade na
atividade profissional, não pode ser considerada práxis, pois esta tem um alcance
mais complexo e amplo.

Abreu (2011, p. 220) menciona que:

[...] no sentido do enfrentamento dos desafios postos nesse


processo, coloca-se a necessidade de uma capacitação
profissional permanente, adequada às exigências de um
trabalho crítico, coerente e buscando responder aos
compromissos com os interesses e necessidades das classes
subalternas na destruição da cultura dominante e construção
de uma nova cultura.

T8 - Desafios na prática do assistente social 89


Vale ressaltar que, para alcançar tal proposta, é necessária, segundo Abreu
(2011), uma atuação qualificada por meio do instrumental da profissão, conforme
as dimensões teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política.

Esse processo só é possível por meio de uma práxis que contribua para romper
com a alienação, desvendando, dessa forma, as contradições existentes nas
relações sociais, a fim de propiciar um fazer profissional ao encontro dos interesses
da classe do proletariado, para então construir uma nova cultura, isto é, minar a
hegemonia da cultura dominante.

Abreu (2011, p. 220), nesse sentido, equivale esse processo a um “[...] fazer
profissional no sentido da construção de uma nova sociabilidade, uma nova cultura”.

A autora ressalta ainda que a práxis mencionada corresponde a uma:

[...] intervenção do assistente social, numa perspectiva


emancipatória, [que] volta-se para o rompimento de práticas
identificadas com a cultura tuteladora/clientelista da relação
entre Estado e sociedade, contribuindo para o surgimento de
uma nova e superior prática social. (ABREU, 2011, p. 216)

Torna-se, portanto, necessário entender tal termo para desenvolver uma


atividade profissional vislumbrando o alcance dos desafios na prática do assistente
social em sua práxis.

ACOMPANHE NA WEB

O Exercício profissional do Serviço Social no capitalismo contemporâneo:


desafios e possibilidades para a efetivação do Projeto Ético-Político

• Abreu explicitou nessa última etapa os desafios postos ao assistente social


frente às demandas das classes subalternas, bem como a contribuição profissional
para o fortalecimento e avanços de processos de lutas que resultem nas conquistas
dessa classe. Para ampliar seus conhecimentos diante das demandas postas pelo
capital na atualidade, leia o artigo de Josy Amador, intitulado.

Disponível em: <https://goo.gl/zqKZJL>. Acesso em: 13 abr. 2014.

O Serviço Social e as Lutas Sociais no Campo: Pensando nos Movimentos


Sociais a partir das Relações de Gênero e da conquista de Direitos

• Ao explicitar os movimentos populares e os direitos sociais, Abreu (2011)


discorreu sobre os movimentos sindicais e sociais, destacando dentre esses o
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Para saber mais sobre essa
perspectiva, leia o artigo de Mailiz Garibotti Lusa, intitulado.

90 T8 - Desafios na prática do assistente social


Disponível em: <http://www.cibs.cbciss.org/arquivos/O%20SERVICO%20
SOCIAL%20E%20AS%20LUTAS%20SOCIAIS%20NO%20CAMPO.pdf>. Acesso em:
13 abr. 2014.

Terceiro Setor

• Para obter mais conhecimentos acerca do Terceiro Setor, acesse o seguinte


link, no qual você poderá visualizar legislações, conceitos, pesquisas, estatísticas
dentre outras informações relacionadas a ONGs e OSCIPs. .

Disponível em: <http://www.terceirosetoronline.com.br>. Acesso em: 13 abr.


2014.

AGORA É A SUA VEZ

Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo
pedido.

1. Vimos neste tema que a perspectiva interventiva coloca para os


assistentes sociais novas e desafiadoras demandas,
num ponto de vista emancipatório. Defronta-se com o velho e agora
revigorado fantasma da seletividade/elegibilidade.
Diante disso, qual o desafio que se coloca para os assistentes sociais?
Descreva.

2. A intervenção do assistente social, numa perspectiva emancipatória,


volta-se para o rompimento de práticas identificadas
com a cultura tuteladora/clientelista da relação entre Estado e sociedade,
contribuindo para o surgimento de uma nova
e superior prática social. Nesse sentido, a que se vincula a função
pedagógica do assistente social? Comente.

3. Abreu (2011) aponta que o Estado sempre constituiu uma esfera


pública para expressão e defesa dos interesses e das
necessidades (privados) das classes detentoras do capital. Descreva qual
é o desafio que se coloca na construção de
uma esfera pública não burguesa.

T8 - Desafios na prática do assistente social 91


4. "É uma prática que busca restaurar direitos, a partir do que considera
a necessidade de o usuário reinventar-se como sujeito, reinventando
relações no contexto de forças em presença, cuja centralidade parece
colocar-se em termos da articulação de propostas, recursos e sujeitos no
enfrentamento da desresponsabilização do Estado com os atendimentos
sociais.”
Do que se está falando no parágrafo anterior?
a) Da perspectiva de luta entre classes.
b) Da contraposição neoliberalista.
c) Da desresponsabilização do poder estatal com a questão social.
d) Da proposta do empowerment do sujeito.
e) Da proposta do MST.

5. “Caracteriza-se pela adesão passiva de parte dos trabalhadores


à ideologia neoliberal e pelo vínculo de seus dirigentes ao campo
governista. O seu papel de apoio à política neoliberal no país se
expressa fundamentalmente em relação aos processos de privatização e
desregulamentação do mercado de trabalho.”
Do que se fala no parágrafo anterior?
a) Da perspectiva emancipadora.
b) Da perspectiva pedagógica.
c) Da Força Sindical.
d) Da proposta do empowerment do sujeito.
e) Da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

FINALIZANDO

Percebemos que é por meio da teoria marxista que é possível o desenvolvimento


de uma práxis profissional. Sendo assim, faz-se então necessário e emergente
para o profissional assistente social conhecer os elementos discutidos para uma
atividade de acordo com a instrumentalidade inerente ao serviço social em direção
à maestria do agir profissional, superando os desafios da área.

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel. Serviço social e a organização da cultura: perfis pedagógicos


da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2011.
AMADOR. Josy Ramos de Oliveira. O Exercício profissional do Serviço Social no
capitalismo contemporâneo: desafios e possibilidades para a efetivação do Projeto
Ético-Político. O Social em Questão, ano XIV, n. 25/26, p. 345-356, 2011.
BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 1996.
LUSA, Mailiz Garibotti. O Serviço Social e as Lutas Sociais no Campo: Pensando

92 T8 - Desafios na prática do assistente social


nos Movimentos Sociais a partir das Relações de Gênero e da conquista de Direitos.
(Relato de Experiência). Disponível em: <http://www.cibs.cbciss.org/arquivos/O%20
SERVICO%20SOCIAL%20E%20AS%20LUTAS%20SOCIAIS%20NO%20CAMPO.pdf>
Acesso em: 13 abr. 2014
PORTAL TERCEIRO SETOR Online. Disponível em: <http://www.terceirosetoronline.
com.br>. Acesso em: 13 abr. 2014.
YAZBEK, M. C. O Significado sócio-histórico da profissão. In: CFESS/ABEPSS. Serviço
Social Direitos e Competências Profissionais. Brasilia, 2009.
VAZQUEZ, A. S. Filosofia da Práxis. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

GLOSSÁRIO

Vertente: que verte, que se discute, de que se trata.


Marxista: relativo ao marxismo, que é o sistema das teorias filosóficas, econômicas e
políticas de Karl Marx.
Proposta: proposição, determinação.

T8 - Desafios na prática do assistente social 93


ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
UNOPAR FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III

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