Expropriação patrimonial

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DIREITO

PROCESSUAL
CIVIL III

Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli


Expropriação patrimonial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Caracterizar a adjudicação.
 Conceituar alienação por iniciativa particular.
 Definir alienação em leilão judicial.

Introdução
O processo executivo é o meio pelo qual o credor busca a satisfação do
seu crédito. Assim, é correto afirmar que a expropriação é a forma que con-
solida essa intenção. A expropriação pode ocorrer de três maneiras: com
o pagamento do débito, com a entrega do bem ao credor (ou seja, com a
adjudicação) e com a alienação dos bens, que pode ser particular ou pública.
Há uma ordem de preferência entre os meios de expropriação: pri-
meiro, devemos verificar se há interessados em adjudicar os bens; apenas
se não houver será determinada a alienação. A adjudicação pode ser
compreendida como meio preferencial uma vez que se realiza sem des-
pesas, pelo valor da avaliação, ao passo que a alienação envolve muitos
custos que podem impactar o valor para a quitação da dívida.
Neste capítulo, você vai ler sobre os principais elementos da adju-
dicação e como se caracterizam a alienação por iniciativa particular e a
alienação em leilão judicial.

1 Adjudicação
Uma vez procedente o pedido inicial, o vencedor da demanda judicial poderá
exigir o cumprimento da sentença por meio do processo de execução. O mesmo
ocorre com o beneficiário de um título extrajudicial.
O processo de execução tem o objetivo de permitir a satisfação do direito.
Nessa seara, como afirmam Wambier e Talamini (2017, p. 267), a penhora é
um meio de execução de quantia certa e “[...] pode ser conceituada como o
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ato executivo que afeta determinado bem à execução, permitindo sua ulterior
expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário ineficazes em
face do processo”. Assim, pode ser compreendida como de natureza executiva
e impõe medidas coativas que não dependem da colaboração do executado.
Passada a fase de penhora e avaliação, tem início a fase expropriatória,
nos termos do art. 876 e seguintes do Código de Processo Civil (CPC) de 2015
(BRASIL, 2015). Para fins de conceituação, de acordo com o art. 825 do CPC
de 2015 (BRASIL, 2015, documento on-line):

Art. 825 A expropriação consiste em:


I — adjudicação;
II — alienação;
III — apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos
e de outros bens.

A legislação processual prefere a adjudicação como meio expropriatório, que


pode ser compreendida como a técnica na qual os legitimados podem adquirir
o bem penhorado por valor não inferior à avaliação. É o ato de expropriação
no qual o bem penhorado se transfere in natura para o credor ou então é
adquirido por determinadas pessoas autorizadas no CPC de 2015 (BRASIL,
2015). São elas (BRASIL, 2015):

 o credor que promove a execução (art. 876);


 o coproprietário do bem (art. 876, § 5º, e art. 889, II);
 o titular de direito real (art. 876, § 5º, e art. 889, II e IV);
 o credor pignoratício, hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora
anteriormente averbada, quando a penhora recair sobre bens com esses
gravames, desde que não seja o credor parte na execução (art. 876, §
5º, e art. 889, V);
 o promitente comprador do bem penhorado (art. 876, § 5º, e art. 889, VI);
 o promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito adquirido
decorrente de promessa de compra e venda (art. 876, § 5º, e art. 889, VII);
 a União, os estados e os municípios, no caso de alienação de bens
tombados (art. 876, § 5º, e art. 889, VIII);
 o cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente do executado (art.
876, § 5º);
 os demais sócios, além do executado, em relação a cotas sociais ou de
sociedade anônima fechada penhoradas em execução movida por credor
alheio à sociedade (art. 876, § 7º).
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O pedido de adjudicação pode ocorrer em qualquer momento entre a avaliação do


bem e a alienação judicial. Além disso, a adjudicação também é possível se frustradas
as tentativas de alienação do bem, quando se concede uma segunda oportunidade
aos legitimados para a adjudicação, sendo permitido, inclusive, que os interessados
requeiram nova avaliação para, então, viabilizar a adjudicação, nos termos do art. 878
do CPC de 2015 (BRASIL, 2015).

Os legitimados devem formalizar o pedido de adjudicação para que o


executado seja intimado a se manifestar. De acordo com o art. 876, § 4º, do
CPC de 2015 (BRASIL, 2015), se o valor do crédito for inferior ao dos bens,
o requerente da adjudicação depositará de imediato a diferença, que ficará à
disposição do executado; por outro lado, se o valor do crédito for superior ao
dos bens, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente.
Realizado o pedido de adjudicação e intimado o devedor, o art. 877 do
CPC de 2015 (BRASIL, 2015, documento on-line) indica o momento quando
haverá o deferimento do pedido: “Art. 877 Transcorrido o prazo de 5 (cinco)
dias, contado da última intimação, e decididas eventuais questões, o juiz
ordenará a lavratura do auto de adjudicação”.
O art. 877 segue prevendo a expedição de carta de adjudicação e imissão
na posse do bem ou mandado de entrega em favor do adjudicatário:

Art. 877 [...]


§ 1º Considera-se perfeita e acabada a adjudicação com a lavratura e a assina-
tura do auto pelo juiz, pelo adjudicatário, pelo escrivão ou chefe de secretaria,
e, se estiver presente, pelo executado, expedindo-se:
I — a carta de adjudicação e o mandado de imissão na posse, quando se
tratar de bem imóvel;
II — a ordem de entrega ao adjudicatário, quando se tratar de bem móvel.
§ 2º A carta de adjudicação conterá a descrição do imóvel, com remissão à
sua matrícula e aos seus registros, a cópia do auto de adjudicação e a prova
de quitação do imposto de transmissão (BRASIL, 2015, documento on-line).

De acordo com o § 3º do art. 877, há a hipótese de o bem penhorado estar


hipotecado e o executado pretender remi-lo no contexto da adjudicação, o que
deve ocorrer até a assinatura dos autos de adjudicação:
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Art. 877 [...]


§ 3º No caso de penhora de bem hipotecado, o executado poderá remi-lo até
a assinatura do auto de adjudicação, oferecendo preço igual ao da avaliação,
se não tiver havido licitantes, ou ao do maior lance oferecido.
§ 4º Na hipótese de falência ou de insolvência do devedor hipotecário, o
direito de remição previsto no § 3º será deferido à massa ou aos credores em
concurso, não podendo o exequente recusar o preço da avaliação do imóvel
(BRASIL, 2015, documento on-line).

A decisão da adjudicação é uma decisão interlocutória e passível de agravo


de instrumento, de acordo com o art. 203, § 2º, e o art. 1.015, parágrafo único,
do CPC de 2015 (BRASIL, 2015).

2 Alienação por iniciativa particular


Frustrada a adjudicação, qualquer que seja o motivo, a legislação processual
prevê a alienação. O art. 879 do CPC de 2015 (BRASIL, 2015) apresenta duas
modalidades de alienação:

 por iniciativa particular;


 por leilão judicial.

Nos termos do art. 880 do CPC de 2015 (BRASIL, 2015), o exequente


poderá pleitear que os bens penhorados sejam alienados por uma entre três
possibilidades:

 por iniciativa particular;


 por um corretor;
 por um leiloeiro público.

As ressalvas constam nos §§ 3º e 4º, a saber:

Art. 880 Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a alienação


por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público
credenciado perante o órgão judiciário.
[...]
§ 3º Os tribunais poderão editar disposições complementares sobre o proce-
dimento da alienação prevista neste artigo, admitindo, quando for o caso, o
concurso de meios eletrônicos, e dispor sobre o credenciamento dos corretores
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e leiloeiros públicos, os quais deverão estar em exercício profissional por não


menos que 3 (três) anos.
§ 4º Nas localidades em que não houver corretor ou leiloeiro público cre-
denciado nos termos do § 3º, a indicação será de livre escolha do exequente
(BRASIL, 2015, documento on-line).

Na hipótese de alienação por corretor, o juiz deverá estabelecer uma co-


missão de corretagem:

Art. 880 [...]


§ 1º O juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser efetivada, a forma de
publicidade, o preço mínimo, as condições de pagamento, as garantias e, se
for o caso, a comissão de corretagem (BRASIL, 2015, documento on-line).

Para Wambier e Talamini (2017, p. 347), “[...] ainda que o Código silencie a respeito —
diferentemente do que faz na adjudicação (art. 876, § 1º) — o executado deve ser
intimado do pleito do exequente de promover a alienação por iniciativa privada”.
Trata-se de uma consideração ao sujeito do processo, cujo direito é ser informado
dos atos processuais. Nesse caso, quanto à intimação, são aplicadas subsidiariamente
as normas previstas no art. 889, I, e parágrafo único do CPC de 2015 (BRASIL, 2015).

Uma vez realizada a alienação por iniciativa particular, o ato deverá ser
formalizado por um termo nos autos do processo. Assim prevê o § 2º do art.
880 do CPC de 2015 (BRASIL, 2015, documento on-line):

Art. 880 [...]


§ 2º A alienação será formalizada por termo nos autos, com a assinatura do juiz,
do exequente, do adquirente e, se estiver presente, do executado, expedindo-se:
I — a carta de alienação e o mandado de imissão na posse, quando se tratar
de bem imóvel;
II — a ordem de entrega ao adquirente, quando se tratar de bem móvel.

No caso de bem imóvel, depois de lavrado o termo, será expedida uma carta
de alienação, com a qual poderá ser viabilizado o registro da transferência do bem
na matrícula do imóvel, que também conterá o mandado de imissão na posse.
Da mesma forma, caso se trate de um bem móvel, será expedida a ordem de
entrega do bem ao adquirente. Como afirmam Wambier e Talamini (2017, p. 349):
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[...] embora as disposições atinentes à alienação por iniciativa particular


silenciem a respeito, a expedição da carta de alienação (com o respectivo
mandado de imissão na posse) ou da ordem de entrega do bem apenas poderá
ocorrer depois de pago o preço da aquisição ou, se ela não for à vista, após
prestadas as garantias.

Os tribunais poderão expedir disposições normativas que complementem o regula-


mento da alienação por iniciativa particular, considerando os limites de sua compe-
tência. Um exemplo dessas normativas pode ser o emprego de meios eletrônicos no
procedimento de alienação.

3 Alienação em leilão judicial


A alienação em leilão judicial — também conhecida como arrematação — pode
ser compreendida como a expropriação por meio da qual os bens penhorados
são transferidos para outra pessoa por meio de licitação pública realizada por
leiloeiro. Desse conceito, destacamos três principais aspectos.

1. Na alienação judicial, há dois procedimentos simultâneos: a desapro-


priação do bem do executado e a sua transferência para o patrimônio
de outra pessoa.
2. O procedimento é público, com a finalidade de assegurar o melhor
preço e as melhores condições de pagamento.
3. A finalidade principal do procedimento de alienação em leilão judicial
é a arrecadação de dinheiro para satisfazer ao credor.

Alguns atos antecedem o leilão judicial:

 avaliação;
 publicação nos editais;
 intimação.
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A avaliação que antecede a arrematação segue as mesmas regras da ava-


liação dos bens penhorados. A avaliação dos bens caberá ao oficial de justiça
ou a avaliador nomeado pelo juiz, nos termos do art. 870 do CPC de 2015
(BRASIL, 2015, documento on-line):

Art. 870 A avaliação será feita pelo oficial de justiça.


Parágrafo único. Se forem necessários conhecimentos especializados e o
valor da execução o comportar, o juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo
não superior a 10 (dez) dias para entrega do laudo.

Uma vez realizada a avaliação, passa-se à publicação de editais, que é de


responsabilidade do leiloeiro. Essa ação tem a finalidade de dar publicidade ao
leilão judicial, a fim de que o maior número possível de interessados participe
e seja atendida a melhor oferta de pagamento que interessa ao devedor. De
acordo com o art. 887 do CPC de 2015 (BRASIL, 2015), o edital deverá ser
publicado em até 5 dias antes da data marcada para o leilão.
Depois de publicados os editais, algumas pessoas deverão ser intimadas
da alienação judicial, nos termos do art. 889 do CPC de 2015 (BRASIL, 2015,
documento on-line), com pelo menos 5 dias de antecedência:

Art. 889 Serão cientificados da alienação judicial, com pelo menos 5 (cinco)
dias de antecedência:
I — o executado, por meio de seu advogado ou, se não tiver procurador constituído
nos autos, por carta registrada, mandado, edital ou outro meio idôneo;
II — o coproprietário de bem indivisível do qual tenha sido penhorada fração ideal;
III — o titular de usufruto, uso, habitação, enfiteuse, direito de superfície, con-
cessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso,
quando a penhora recair sobre bem gravado com tais direitos reais;
IV — o proprietário do terreno submetido ao regime de direito de superfície,
enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito
real de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos reais;
V — o credor pignoratício, hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora
anteriormente averbada, quando a penhora recair sobre bens com tais gravames,
caso não seja o credor, de qualquer modo, parte na execução;
VI — o promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação
ao qual haja promessa de compra e venda registrada;
VII — o promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo
derivado de promessa de compra e venda registrada;
VIII — a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado.
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A alienação judicial é concluída com a arrematação. O auto de arremata-


ção deve conter as condições pelas quais foi alienado o bem, conforme o art.
901 do CPC de 2015 (BRASIL, 2015), e deverá ser assinado pelo juiz, pelo
escrivão, pelo arrematante e pelo leiloeiro e deve ser lavrado imediatamente
após o término do leilão.

BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial
da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 13 jan. 2020.
WAMBIER, L. R.; TALAMINI, E. Curso avançado de processo civil: execução. 16. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. v. 3

Leitura recomendada
BUENO, C. S. Manual de Direito Processual Civil anotado. 2. ed. São Paulo: Editora Saraiva,
2016. 1.016 f.

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