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HOMILÉTICA

AULA 4

Profª Lidiane Ribeiro de Souza


CONVERSA INICIAL

Começar uma conversa nunca é uma coisa naturalmente fácil, mas a


partir de agora, estudaremos técnicas da homilética que nos possibilitarão ter
maior êxito na comunicação. Principalmente, no que está relacionado ao início
de um sermão, pois uma introdução bem realizada irá gerar mais confiança em
quem prega, assim como interesse por parte de quem ouve.
Neste momento, vamos começar a detalhar de forma mais precisa as
partes do sermão. Analisaremos como escolher o assunto e tema ou título para
sua pregação. Lembrando que essa ordem pode ser alterada conforme o tipo de
sermão que será pregado ou o objetivo do pregador.
Falaremos também sobre como fazer a introdução da mensagem, além
de alguns métodos que você pode utilizar para isso e algumas dicas de como
conquistar a empatia das pessoas, pois isso é importante para que você consiga
comunicar para elas.
Por fim, vamos conversar sobre algumas regras básicas para conseguir a
atenção do seu público. Fique atento ao detalhamento de cada uma dessas
etapas da pregação que serão apresentadas de forma descritiva neste texto.

TEMA 1 – A ESCOLHA DO ASSUNTO E DO TEXTO BÍBLICO

O assunto determina a área de reflexão. Normalmente, pode ser resumido


em uma palavra (santidade, amor, confissão) e deve ser inspirado nas Escrituras
Sagradas, se não, ela que dará a resposta. Vamos supor, por exemplo, que sua
inspiração veio da dura realidade de determinado bairro. A pergunta que você
fará é: o que a bíblia tem a dizer sobre isso? Perceba que a inspiração não veio
direto das escrituras, mas a resposta sim.
Muitas vezes, ouvimos mensagens que quando terminam, não sabemos
exatamente aonde o pregador quis chegar. Alguns pregadores tentam falar
sobre vários assuntos ao mesmo tempo. Após o término do sermão, os ouvintes
não sabem o que realmente foi abordado ou qual era a mensagem principal, o
que demonstra uma falha na comunicação.
Às vezes, para dar conta do tempo que lhe foi oferecido, o pregador se
aventura em tratar vários assuntos, pois não conseguiu preencher o tempo com
apenas um tema. É preferível, se for o caso, falar menos minutos e alcançar o

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objetivo do que priorizar o preenchimento do tempo e perder a principal coisa
que fazemos no púlpito, que é a boa comunicação do evangelho.
Quanto à escolha do texto, delimite o início e fim de tal forma que
contenha uma unidade completa de pensamento. Entre alguns conselhos:

 É importante que você exponha de fato o texto escolhido. Não o use como
pretexto;
 Não se esqueça de que é preciso estudar e interpretar o texto com o
máximo cuidado a fim de expor e não distorcer seu verdadeiro sentido.
Para isso, utilize dicionários e comentários bíblicos;
 Limite-se, sempre que possível, a um só texto para cada sermão, pois
muita informação pode confundir seu ouvinte;
 Não use textos obscuros ou controvertidos se você não está seguro de
sua interpretação. É melhor ser simples e mais claro, do que tentar ser
profundo e acabar sendo confuso.

A escolha do assunto e do texto bíblico é a parte inicial do preparo do


sermão. Dessa forma, a ideia do sermão deve falar com o público de forma clara
e direta, como também o texto bíblico deve ser bem apresentado aos ouvintes.

TEMA 2 – O TÍTULO OU TEMA DO SERMÃO

O tema deve falar de uma coisa totalmente clara aos ouvintes. Só assim
você poderá conduzir a congregação para o que deseja que eles entendam. Ele
é o ponto de partida da mensagem, de onde se inicia toda linha de pensamento.
Após escolher o tema, todos os pontos devem explicar e girar em torno deste
tema. Eles também esclarecem o foco principal da mensagem. Portanto, procure
sempre responder a seguinte pergunta: sobre o que exatamente vou falar?
O título pode ser anunciado antes ou depois da introdução. Só não pode
jamais ser ignorado. Um bom título é claro, específico, breve, relevante,
adequado ao público e, se possível, original.
Procure utilizar frases, e não palavras, por exemplo:

 Anjos: quem são os anjos?;


 Excelência: a excelência agrada a deus e atrai os homens;
 Vida: por onde passar deixe um rastro de vida;
 Perseverança: quando não desistimos coisas boas acontecem.

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Para variar, utilize temas interrogativos, por exemplo:

 Quem é Jesus para você?;


 Quem é você quando ninguém está olhando?;
 Você deixaria tudo para seguir Cristo?

Utilize temas declarativos, por exemplo:

 Jesus é o único salvador;


 Jesus é o nosso guia em tudo;
 Seja você a resposta da sua oração.

Use frases objetivas e que expressem o conteúdo da mensagem. Procure


abordar temas atuais e de interesse geral.
Pensar bem e elaborar um bom tema para o sermão é muito importante
para conquistar o interesse das pessoas. Por isso, vale apenas gastar um bom
tempo para elaborar um tema interessante para sua mensagem.
Uma dica: esteja sempre atento, pois uma inspiração para o sermão pode
vir a qualquer momento. Dessa forma, crie o hábito de anotar as ideias que virão.
Por melhor que ela seja, se não anotar, você pode esquecê-la e, com isso, perder
uma boa inspiração.
Procure abordar temas atuais e relevantes. Sugiro ler o artigo O Título
orientado por propósitos, de Rick Warren1. Ele sugere quatro perguntas:

1. O título despertará o interesse dos ouvintes?


Enquanto a maioria dos incrédulos não está buscando a verdade, eles
estão buscando alívio. Isso nos dá a oportunidade de despertar neles o
interesse pela verdade. Quando ensino a verdade que dá alívio ao
sofrimento e responde as suas perguntas ou resolve os seus problemas,
eles dizem: “O que mais tem de verdade nesse livro?”. Mostrar como um
princípio bíblico satisfaz uma necessidade gera a fome por mais verdade
(Warren, 2009).
2. O título está claro? Comunica? Fala ao não cristão?
Exemplos negativos:
o “Na estrada de Jericó”;

1
In: ROBINSON, H.; C. B. LARSON. A arte e o ofício da pregação bíblica. São Paulo: Vida
Nova, 2009. p. 457-459. Disponível em:
<https://docs.google.com/file/d/0B5hOWoOzegt3NHB5bXNXa3Zad3M/edit>. Acesso em: 6 fev.
2020.
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o “Tornando-se um Tito”;
o “Dême ágape;”
o “O ministério dos potes quebrados” (Warren, 2009. p. 458).
3. O título é atraente? Traz boa notícia?
Jesus anunciou o tom da sua pregação. O Espírito do Senhor [...] me
ungiu para pregar boas novas (Lc. 4: 18) (Warren, 2009. p. 458). Por
exemplo:
o Por que não há avivamento? O que produz o avivamento?
o O que Deus pode fazer por meio de alguém comum como você p. 459.
4. O título é relevante? Conecta-se com a vida diária?
O ensino mais “profundo” é o que faz diferença na vida diária das
pessoas. Moody (citado por Warren, 2009. p. 459) cita que “a bíblia não
foi dada para aumentar o nosso conhecimento, mas para transformar a
nossa vida”.

TEMA 3 – A INTRODUÇÃO DO SERMÃO

A introdução é fundamental para capturar a atenção dos ouvintes. Ela


deve preparar os ouvintes para receberem a mensagem e criar uma atmosfera
de empatia e amizade entre o público e o pregador. Tão importante quanto o que
será falado é quem fala. Dessa forma, a introdução deve gerar no público um
sentimento de confiança em relação ao pregador. Com isso, será mais fácil ao
orador transmitir a mensagem, pois terá ouvidos atentos.
A introdução é fundamental para todo o resto. Segundo Edwards (2009.
p. 459), “não leva muito tempo para que as pessoas formem uma opinião sobre
o pregador e o sermão que será pregado. A impressão que a plateia forma nos
primeiros momentos com frequência determina se eles ouvirão o que vem a
seguir”.
Embora a parte introdutória do sermão deva tomar cerca de 10% do tempo
total, trata-se de um momento muito relevante. Como diz o adágio: “a primeira
impressão é a que fica”. Uma boa impressão inicial levará a audiência a tender
para a reação desejada, mas um começo negativo vai esvaziar os pneus antes
da viagem começar.
Uma boa introdução deverá:

 Chamar atenção para o assunto;

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 Obter a boa vontade e expectativa dos ouvintes;
 Fazer com que sintam necessidade de ouvir o que vai seguir-se.

O tempo pode variar, mas são poucos minutos – cerca de 10% do total –
para conquistar a atenção para o tema.
A apresentação deve ser rápida e objetiva. Não todo o sermão, apenas a
introdução: um começo que deve gerar empatia e curiosidade.
Como vimos, fazer uma boa introdução é muito importante para ganhar a
atenção dos ouvintes. Então, não podemos deixar de valorizar esta parte devido
à sua grande importância para o sermão como um todo.

TEMA 4 – MÉTODOS QUE PODEM SER UTILIZADOS PARA INTRODUZIR A


MENSAGEM

Existem várias possibilidades para introduzir a mensagem. Recomenda-


se usar a criatividade com bom senso. Exemplos:

 Abordagem do problema: neste caso, busca-se levantar um problema


para ser respondido pelo sermão. Por exemplo: em nossos dias,
percebemos que muitas pessoas estão perdidas, sem um senso de
direção e carentes de sentidos em suas vidas;
 O contexto do texto: é a explicação dos fatores importantes relacionados
ao texto, o chamado “pano de fundo” ou contexto histórico cultural;
 Uma citação: citar uma reportagem de jornal ou revista, uma poesia,
música, um relato histórico. Lembrando que estas possibilidades têm que
fazer sentido tanto para o todo do sermão como para as pessoas que
estarão na plateia;
 Uma ilustração: experiências próprias ou de outros, histórias engraçadas,
tudo isso vale apena, mas lembre-se de não exagerar, pois usar a própria
experiência para mostrar o quanto você é bom em alguma coisa ou se
expor demais ou outras pessoas não contribui;
 Um recurso audiovisual: um vídeo ou reportagem. Nestes casos,
certifique-se de que tudo esteja devidamente funcionando para dar o
efeito esperado;
 Uma declaração ou demonstração da seriedade do tema: isso é
especialmente positivo quando bem feito. Pode ser destacada por um
testemunho pessoal ou fato verídico que reforce a declaração.
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 Referência a um acontecimento atual de destaque, algo que está nas
mídias.

Como vimos, não existe uma regra absoluta para introduzir um sermão.
Vários métodos podem ser utilizados. Então, vamos pensar um pouco mais em
alguns exemplos e possibilidades.

TEMA 5 – DICAS PARA CONQUISTAR A SIMPATIA DOS OUVINTES

Conquistar a simpatia dos ouvintes já no início da mensagem ajuda a


cativar a atenção e disposição em ouvir o pregador nos minutos que se seguem.
Portanto, em ocasiões especiais ou quando o pregador é um orador convidado,
alguma referência à ocasião pode proporcionar um início positivo. Por exemplo,
na dedicação de um prédio, em datas especiais, aniversários, entre outras, a
referência à ocasião é quase obrigatória.
Um cumprimento e elogios sinceros geram boa vontade e conquistam
corações. Por exemplo: dizer que está sendo muito bem recebido, agradecer a
atenção, o carinho, o convite, elogiar o louvor ou a organização da igreja (desde
que seja sincero).
Outro método simpático de iniciar um sermão é a referência a alguma
parte da liturgia ou programação, à menção de alguma música ou à lembrança
do passado. Por exemplo, destacar o que é familiar e gerar empatia pode
fornecer um meio positivo de começar a mensagem.
Se você tem uma história engraçada para contar, faça-o, pois produzirá
um ambiente mais leve e receptivo. Conquistada a simpatia dos ouvintes, o
grande desafio agora é mantê-la.

NA PRÁTICA

Vamos recapitular algumas características e dicas importantes para uma


boa introdução:

 Seja cordial: o pregador deve pensar que o ouvinte está participando


porque deseja ouvir algo que vai ajudá-lo a ser uma pessoa melhor e se
esforçar para isso;
 A introdução deve ser breve e objetiva, mas eficiente. Não subestime a
sua importância;
 Procure gerar empatia e identificação;
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 Não comece sempre da mesma forma, use a criatividade;
 Cuidado para não prometer demais e criar uma expectativa que não
poderá suprir;
 Procure fazer uma entrada interessante e provocativa ao tema e despertar
curiosidade;
 Demonstre entusiasmos pelo assunto;
 Não comece com desculpas, ou fazendo reclamações, vá direto ao
assunto;
 A introdução deve ser apropriada à mensagem e ter íntima relação com o
tema e conteúdo do sermão;
 Tudo deve ser planejado com antecedência, evite improvisos. Procure se
preparar e fazer o melhor, mas aprenda a lidar com os erros e frustrações.
Tente lidar com bom humor e naturalidade com as falhas e gafes. Avalie
e aprenda com os erros. Não perca a oportunidade de praticar.

FINALIZANDO

Para finalizar, vamos destacar algumas regras básicas para conseguir


atenção:

 Esteja bem vestido e apresentado. Não se apresente de tal forma que


venha criar polêmica;
 Nunca desconsidere as pessoas ou seja agressivo;
 Demonstre confiança;
 Não seja cansativo, contando histórias longas e complexas;
 Use palavras que todos entendam;
 Seja espontâneo e natural, tenha bom senso;
 Não demonstre cansaço ou desanimo, transmita entusiasmo;
 Sorria sempre que possível;
 Seja honesto, jamais conte mentiras;
 Prepare-se bem. Tenha um bom conteúdo e procure estar seguro do que
vai falar;
 Use a criatividade com moderação;
 Não seja o herói das suas pregações. Devemos contar os pontos fortes e
fracos de nossas experiências;

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 Evite falar de você e sua família com superioridade;
 Cuidado com o silêncio e com as longas pausas;
 Apresente assuntos atuais;
 Evite termos “espirituais”, que muitos não conheçam — o que
costumamos denominar de forma bem-humorada de “evangelicalês” ou
“crentes”.

Conseguir a atenção das pessoas é um desafio. No momento da


mensagem, determinado número de pessoas estarão lhe oferecendo um recurso
que é cada vez mais precioso: seu tempo. Portanto, utilize-o de forma adequada.
Faça o melhor possível para conseguir e manter a atenção das pessoas para o
conteúdo da mensagem.

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REFERÊNCIAS

BLACKWOOD, A. W. A preparação de sermões. Rio de Janeiro: JUERP, 1981.

COCCARO, G. Uma proposta narrativa para o sermão: “as quatro páginas do


sermão”. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/378003586/As-quatro-
pa-ginas-do-serma-o>. Acesso em: 15 ago. 2019.

EDITORA INTERSABERES (ORG.). Fundamentos sobre a comunicação


religiosa. Curitiba: Intersaberes, 2016.

KELLER, T. Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo. São Paulo: Vida


Nova, 2017.

KOESSLER, J. Manual de pregação. São Paulo: Vida Nova, 2010.

KOLLER , C. W. Pregação expositiva. São Paulo: Mundo Cristão, 1984.

MORAES, J. Homilética: da pesquisa ao púlpito. 1. ed. São Paulo: Vida, 2005.

ROBINSON, H. Arte e o ofício: pregação bíblica. São Paulo: Shedd


Publicações, 2009.

STANLEY, A.; JONES, L. Comunicação que transforma: ensinar para impactar


vidas. São Paulo: Vida, 2010.

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