Literatura e subdesenvolvimento
Literatura e subdesenvolvimento
Literatura e subdesenvolvimento
1:
Até 1930, predominava entre nós a noção de “país novo” (a grandeza ainda não
realizada). O que predomina agora é a noção de “país subdesenvolvido” (a pobreza, a
atrofia). Esses são aspectos fundamentais que ajudam a entender a criação literária na
América Latina.
A ideia de “país novo” produz na literatura: surpresa, interesse pelo exótico, respeito
pelo grandioso e esperança quanto às possibilidades. Essas são projeções utópicas em
face da conquista da colonização. Exemplos: Colombo, Antônio Vieira, Gonçalves
Dias. Ver citação da p. 141 (“A literatura se fez linguagem de celebração...”).
2:
É preciso, portanto, que a literatura latino-americana atente-se para não ser influenciada
pela cultura de massa.
3:
O atraso, às vezes, significa apenas demora cultural. É o que ocorre com o Naturalismo
no romance, que chegou tarde e se prolongou sem quebra de continuidade. Isso se
justifica pelo fato de que o peso da realidade local legitima a influência retardada, que
adquire sentido criador. Exemplo: romance social dos anos 1930 e 1940.
4:
O problema causado pela dependência cultural da América Latina é o das influências,
boas e más, inevitáveis e desnecessárias, na literatura.
O nosso vínculo com as literaturas europeias (formas importadas) não é uma opção, mas
um fato quase natural. No entanto, aqui os temas são novos, os sentimentos são
diferentes.
Nós sempre reconhecemos como natural a nossa inevitável dependência. E dessa forma,
participamos e contribuímos para um universo cultural a que pertencemos, sem
desenvolver invenções, mas afinando os instrumentos recebidos.
As vanguardas foram para nós fatores de autonomia e autoafirmação. Isso não impediu
que as correntes que beberam de suas fontes fossem inovadoras, nem que os seus
propulsores fossem por excelência os fundadores da literatura nova.
5:
Existem algumas distinções que devem ser consideradas antes de encarar a ficção
regionalista, como consequência da atuação que as condições econômicas e sociais
exercem sobre a escolha dos temas.
O regionalismo foi uma etapa necessária, que fez a literatura, sobretudo o romance e
o conto, focalizar a realidade social. Muitos de seus produtos envelheceram, mas o
regionalismo não acabou no Brasil. Ver citação da p. 159 (“A realidade econômica do
subdesenvolvimento...”).
No Brasil, o regionalismo inicial, que inicia com o Romantismo, nunca produziu obras
consideradas de primeiro plano. Só a partir mais ou menos de 1930, as tendências
regionalistas atingiram o nível das obras significativas.
Escritores como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, no universo dos valores urbanos,
praticam em suas obras uma espécie nova de literatura, que ainda se articula de modo
transfigurador com o próprio material daquilo que foi um dia o nativismo.