Roteiro de Leitura 1 - Direito Econômico

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE DIREITO
Disciplina: Direito Econômico Prof.: Othon de Azevedo Lopes
Discentes:
1. Camila Cristina da Silva - 190134305
2. Gabriel Borges Campos - 190139099
Roteiro de leitura

Textos:
- GRAU, Eros Roberto & COMPARATO, Fábio Konder. Intervenção do Estado no Domínio
Econômico. In: Revista da Procuradoria Geral do Estado da Bahia, v. 16, jul./dez., 1991.
Salvador, p. 71/100.
- NUSDEO, Fábio. O Direito Econômico Centenário: um “Vol D’oiseau” sobre o Passado e
Algumas Perspectivas para o Futuro. In: ADEODATO, João Maurício & BITTAR, Eduardo
C. B. Filosofia e Teoria Geral do Direito. Homenagem a Tercio Sampaio Ferraz Junior.

1. O cenário do debate sobre o direito econômico (Eros Grau)


a. Em que tipo de economia?

Atualmente, tem-se desenhado como expressão do conceito moderno de economia os


ideais de livre empresa e livre competição, fazendo uma associação perniciosa entre o
conceito moderno de economia e um suposto mercado livre. Eros Grau demonstra que, na
verdade, é precisamente o inverso que ocorre. Explica que o mercado livre na verdade é
arcaico, enquanto a intervenção do Estado na economia é moderna. Afinal, o mercado não é
capaz de autorregular-se, como tanto é propagado. Trata-se de uma afirmação de retórica
vazia, que nunca se sustentou.
Na verdade, a sociedade capitalista é uma sociedade essencialmente regulada pelo
Direito, e sendo o Estado moderno uma máquina essencialmente capitalista, a intervenção do
Estado na economia certamente são medidas não para transformar o sistema capitalista, mas
sim para preservá-lo. Assim, Eros Grau concluiu em sentido contrário ao que comumente é
propagado. Na verdade, a economia moderna em que vivemos pressupõe a intervenção do
Estado na economia, não para modificar e sim para preservar o sistema capitalista e a
igualdade pregada, de modo que o entendimento de livre mercado é na verdade arcaico,
baseado em afirmações que nunca se provaram, essencialmente vazias.

b. Em qual etapa da evolução do direito e da sociedade?

O Estado moderno é uma máquina essencialmente capitalista, fundada e embasada


no Direito. Nesse contexto moderno, o Estado não se limita a apenas utilizar o Direito como
um instrumento do desenvolvimento das relações de mercado, mas também o utiliza como um
instrumento de preservação dos mercados. Trata-se da chamada dupla instrumentalidade do
Direito, conceito de Norbert Reich, segunda a qual o Direito atua no sentido de permitir a
circulação mercantil e, ao mesmo tempo, também instrumenta a atuação do Estado sobre os
mercados.
Não há de se falar mais em neutralidade do Direito, porque em meio a conflitos
econômicos, políticos, bem como em face da dupla instrumentalidade do Direito,
eventualmente esses fatores inevitavelmente se reproduzem no nível jurídico.
c. Há diferença entre o direito econômico nos EUA e nos países de tradição
continental?

Há diferença, sobretudo porque, como afirma o autor, o capitalismo que se pratica


nas sociedades subdesenvolvidas é o capitalismo assistencial, que reclama necessariamente a
estatização parcial da economia, a intervenção do Estado na economia.
Nos últimos anos, percebeu-se, sobretudo dos Estados Unidos e de países da Europa,
um movimento em prol da desregulação e da desregulamentação, com o objetivo não de
coibir a hipertrofia das regulamentações, mas de alterar as técnicas de regulação, em uma
proposta de desregulamentar para melhor regular. A intenção desses países, portanto, não é
deixar que a economia caminhe por si só, como prega a economia arcaica, mas sim procurar
novas formas para regulamentar a economia de forma mais eficiente e racional.
Em um país que, além de ser subdesenvolvido e regido pelo capitalismo assistencial,
possui dimensões continentais como o Brasil, em que as diferenças socioeconômicas entre as
diversas regiões implica em peculiaridades únicas de local para local, não é cabível conceber
a econômica da forma como pretendem os Estados Unidos e alguns países europeus. A
intervenção do Estado na economia em países como o nosso é necessária, e a própria
CRFB/88 demonstra isso, tratando-se de uma Constituição Dirigente e que acolhe o
intervencionismo e a intervenção do Estado na economia.

d. Quais os instrumentos, os tipos e as técnicas de intervenção e atuação do


Estado na economia?

Eros Grau traz, por meio de Habermas, algumas técnicas de intervenção e atuação do
Estado na economia. São elas: constituição e preservação, complementação, substituição e
compensação de disfunção do processo de acumulação.
Quanto à constituição e preservação, o Estado mantém o modo de produção, a fim de
que certas premissas fundamentais à existência contínua do sistema sejam realizadas. Entre as
medidas destacam-se a legislação anti-trust, as políticas de estabilização do sistema
monetário.
Quanto às técnicas de complementação, o Estado e o Direito se adequam a novas
formas de organização empresarial, de concorrência e de financiamento.
Já na técnica de substituição do mercado, o Estado age em reação à debilidade das
forças motrizes econômicas. Nesse sentido, entende-se como derivadas da substituição às
políticas de qualificação da mão de obra, e as políticas de desenvolvimento tecnológico.
Na compensação de disfunção, o Estado assume efeitos externos de economia
privada; assegura, através de políticas estruturais a capacidade de sobrevivência de
determinados setores, tais como mineração e economia agrícola.

2. Desdobramentos (Fábio Konder Comparato)


a. O direito econômico está ligado à legitimação do Estado por resultados ou
por procedimentos?

Atualmente, o Direito Econômico está ligado à legitimação do Estado não apenas


pela forma de procedimento, mas também pelos resultados. Tal situação é fruto do tipo ideal
do Estado Social, pois por meio dele a condição de legitimidade evoluiu da rigorosa
conformação do seu funcionamento com a Constituição e a lei, característico do Estado
Liberal, ao eficiente desempenho das políticas públicas.
b. O direito econômico enfoca a lei como garantia ou instrumento de
governo?

Tal questão se relaciona diretamente com a anterior, pois assim como a legitimação
do Estado tem seu fundamento alterado pelo Estado Social, assim também acontece com o
sentido teleológico da lei. Enquanto no Estado Liberal a lei era vista como uma garantia, uma
limitação do poder estatal, no âmbito do Estado Social ela se torna um instrumento do
governo, apto a legitimar a intervenção do Estado na sociedade. Assim, a lei adquire uma
dupla finalidade, na medida em que se torna também um instrumento de transformação
socioeconômica. O Direito Econômico não foge desse entendimento, especialmente num
Estado moderno marcado pelo intervencionismo na economia, como já visto.

c. O que se entende por conjuntura e estrutura?

Segundo o autor, conjuntura é o conjunto cíclico, mas não sazonal, relativamente


imprevisível, das variações da atividade econômica a curto prazo. Envolve problemas mais
superficiais e iminentes.
Estrutura, por outro lado, é o conjunto de proporções e de relações entre agentes
econômicos, setores produtivos e regiões econômicas, em função da base física. Envolve
problemas mais duradouros e crônicos, que deriva da disfuncional estrutura da sociedade.

3. As vertentes (Fábio Nusdeo)


a. O que é a Constituição Econômica?
A Constituição Econômica (Wirtshaftsvervassung) é a nomenclatura dada ao capítulo
da Constituição alemã da República de Weimar referente à ordem econômica
(Wirtschaftsleben). O conjunto de dispositivos legais dão origem ao embrião do instituto
principiológico da função social da propriedade, cuja concepção prevê a possibilidade de
cobrança do uso útil e condizente dos bens de um proprietário por parte da sociedade, outros
direitos dos particulares sobre os seus bens privados e regras para a atividade econômica.

b. O que é o Direito Administrativo da Economia?

Os juristas alemães, a partir da Constituição de Weimar, passaram a utilizar de duas


formas distintas de investigar a vida econômica. A primeira é justamente a Constituição
econômica, e a segunda se refere ao Direito Administrativo da Economia
(Wirtshaftsvervaltungsrecht), o qual busca ser uma doutrina a qual pudesse implementar,
concretamente, os institutos principiológicos constitucionais econômicos em uma árdua
tentativa de estabelecer limites e classificações para essa nova investigação da realidade fática
econômica. Assim, o Direito Administrativo da Economia se subdivide em duas acepções
distantes entre si: (a) amplas ao ponto de englobar praticamente tudo; e (b) restritas a poucas
atuações regulamentadoras estatais.
c. O que é o Direito Econômico como método?

O Direito Econômico como método de interpretação teleológica se configura como


um “novo Direito” original com prioridades gerais com incidência tanto em novas quanto
antigas regras com o intuito de atender às demandas de uma nova ordem econômica em
construção, no qual o “especialista em Direito Econômico” deve ser alguém capaz de transitar
em ambos os campos de estudo: o jurídico e o econômico, em uma verdadeira relação de
“simbiose” entre o Direito e a Economia. Assim, o Direito Econômico visto sob a lente de ser
um método, desempenha o papel de integrar e unir regras de outras disciplinas jurídicas
tradicionais por meio de “esquemas teleológicos-práticos”.

d. O que é o Direito Econômico como autonomia heterointegrada?

O Direito Econômico, dotado de mobilidade e disciplina, pode ser composto de uma


conjuntura de normas disseminadas por diversos outros campos de um ordenamento jurídico,
e assim, a concepção de autonomia heterointegrada se funda em um significado sui generis de
autonomia, haja vista não se tratar de um núcleo específico próprio, mas sim da procura por
fontes em outros campos do Direito, a exemplo dos direitos especiais de regras aplicáveis a
determinados setores econômicos, como o direito agrário, o direito das águas, o direito da
aviação civil. Portanto, nessa visão, o Direito Econômico seria, em verdade, uma grande
disciplina geral que englobaria esses direitos delimitados.

e. O que é o Direito Econômico como autonomia específica?

O Direito Econômico, nessa corrente, é composto de um rol de normas de um ramo


próprio e específico, em uma autonomia plena como ciência jurídica, sem necessariamente
recorrer a outros campos jurídicos para estruturar os seus fundamentos, princípios e elementos
basilares. Por conseguinte, a partir dessa perspectiva, o Direito Econômico seria formado por
regras autônomas de outros ramos do Direito. Nesse entendimento, portanto, o Direito
Econômico estaria estritamente ligado à função regulamentar do Estado por meio de meios
legais de Direito Público, principalmente o Direito Administrativo, sendo esse o modo de
promoção de uma dogmática e doutrinas únicas, com seus próprios institutos principiológicos
e suas próprias instituições.
f. O que é o movimento Law and Economics?
O movimento Law and Economics surge no contexto estadunidense na década de
1980 a partir da edição do Sherman Act, legislação cujo objetivo se fundava em conceder
mecanismos práticos de executar os institutos principiológicos da ordem econômica previstos
na Constituição norte-americana, e, posteriormente, consolida-se com o Clayton Act, em
1914, normativo que definia infrações à ordem econômica e criava uma agência reguladora
para tal, a Federal Trade Commission. Trata-se, por conseguinte, de uma corrente oriunda da
corrente de common law em razão das características tipicamente mais funcionais desse
sistema jurídico em que as preocupações se centram na realidade fática dos fenômenos
político-econômicos, afastando-se de visões excessivamente dogmáticas em prol de
classificações de normas e relações sociais. Assim, pode-se entender o Law and Economics
como um movimento fundado para analisar as intersecções entre as grandes áreas do Direito e
Economia por meio de uma lente voltada para o desempenho do sistema econômico ou como
é dito pelo autor, em torno da “funcionalidade do Direito’

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