06 - Prof. Rodolfo Souza 2
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1 – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Chegamos hoje em uma lei bem explorada em provas, a Lei de Drogas – Lei 11.343/2006.
Em relação a essa lei, nosso edital é bem específico e indica pontos possíveis de serem explorados, quais
sejam: 14. Crimes previstos na (Lei n° 11.343/2006);
Mesmo assim farei uma breve introdução do assunto para que a aula possa ficar ainda mais dinâmica.
Vem comigo!
2 – LEI DE DROGAS
Moçada, o título I é composto pelos art. 1 e 2 da Lei de Drogas que trazem as suas disposições gerais.
Art. 1º - Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas
para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; e define crimes.
Parágrafo único. Para fins desta lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de
causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo
Poder Executivo da União.
Do caput do art. 1º, é possível identificar o objeto da Lei de Drogas. Nesse teor ela:
Cria o SISNAD - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas; esse sistema possui finalidades,
princípios e objetivos específicos, os quais estudaremos no tópico II;
Traz prescrições acerca de medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes de drogas;
Estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define
crimes: aqui, você verá que a lei inclusive destina capítulo específico relacionado a esses delitos (CAP. III, do
Título II).
Diante desses objetos trazidos pela Lei de Drogas, o parágrafo único o completa no sentido de que drogas
são as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou
relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.
Perceba que a lei utiliza um termo vago “drogas”, não definindo, as quais podem ser as substâncias ou os
produtos capazes de causar dependência. Ao contrário, a própria lei esclarece que será necessária a
definição por outra lei ou listas, que definam quais são essas substâncias. Por isso, a Lei de Drogas é uma
norma penal em branco heterogênea, pois o que de fato vem a ser “droga” não é esclarecido pela própria
lei, sendo necessário que outras normas tragam o devido esclarecimento.
DICA!
O complemento do que vem a ser “droga”, está previsto na Portaria 344/98 – Anvisa.
Além disso, outros diversos atos normativos complementam a Lei de Drogas, sendo a portaria da Anvisa o
principal deles, contendo mais de 400 substâncias enumeradas que causam dependência.
Galerinha, no artigo segundo nós temos uma norma que proíbe, sem sanções, a matéria-prima da droga,
veja:
Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita
e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a
hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das
Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente
ritualístico-religioso.
Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput
deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados,
mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.
Perceba então que, no Brasil, exceto nos casos em que há autorização legal ou regulamentar, é proibido:
plantar, cultivar e explorar quaisquer substratos do qual se possa extrair a droga, perceba, portanto, que
aqui a droga ainda não existe, mas que será criada a partir desses insumos.
ACORDE, ISSO CAI NA SUA PROVA!
No parágrafo único nós temos a competência da União que é sempre desenvolvida pela ANVISA. Noutras
palavras, é dizer que as autorizações relacionadas à produção medicinal ou fins científicos são sempre feitas
pela ANVISA, órgão da União com competência para tanto.
IMPORTANTE: As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas
ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e
destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário
e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Além disso, todo e qualquer bem de valor econômico
apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho
escravo serão confiscados e revertidos a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. Tudo
isso ocorre por determinação da Constituição Federal.
Título II: SISNAD
De olho no conceito!
O SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas é o conjunto ordenado de princípios, regras,
critérios e recursos materiais e humanos que envolvem as políticas, planos, programas, ações e projetos
sobre drogas, incluindo-se nele, por adesão, os Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos Estados,
Distrito Federal e Municípios.
Como falamos no início da aula, esse sistema possui finalidades, princípios e objetivos específicos, os quais
estudaremos no tópico II.
A) FINADALIDADE DO SISNAD
Moçada, a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com:
✓ A prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
✓ A repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.
Sempre trabalhando em articulação com SUS1 e com o SUAS - Sistema Único de Assistência Social.
B) OBJETIVOS DO SISNAD
Moçada, os objetivos do SISNAD são quatro:
Contribuir para a inclusão social do cidadão: a ideia é torná-lo menos vulnerável a assumir
comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos
correlacionados;
Promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país;
Promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as
políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios;
Assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades.
Bem moçada, chegamos ao ponto da aula que vocês mais gostam e o que realmente será cobrado no
concurso da Polícia Civil de Goiás: os crimes.
Verificaremos agora, na prática, o objeto da lei que falamos no início da aula; as normas para repressão à
produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas além de outros crimes.
IMPORTANTE 1: Em relação aos crimes que estudaremos a partir de agora, anote que as penas sempre
poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, e também podem ser substituídas a qualquer tempo,
ouvidos o Ministério Público e o defensor.
IMPORTANTE2: Anote também que, na Lei de Drogas o bem jurídico protegido é a saúde pública e o
equilíbrio sanitário coletivo.
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas:
I - Advertência sobre os efeitos das drogas;
II - Prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
Consiste em delito de porte para consumo pessoal quando o sujeito de um modo geral obtém a droga e a
preserva para consumo. Ainda é possível que o sujeito seja flagrado transportando-a, isto é, levando-a de
um local a outro e ainda assim, haverá o crime de porte para consumo pessoal. Contudo, todas essas
condutas devem estar ligadas a um especial fim de agir, isto é, a finalidade da droga precisa ser destinada a
consumo pessoal. Se o sujeito não vai consumir, mas transporta ou guarda, por exemplo, estaremos diante
do tráfico de drogas e não porte.
O delito se consuma com qualquer da prática dos verbos. Além disso, anote que o crime dispensa a
demonstração da comprovação da existência de situação que tenha colocado em risco o bem jurídico
tutelado, restando consumado com a mera prática dos verbos descritos, uma vez que a figura do
“consumidor da droga”, ainda que não tenha intenção de difundi-la, mantém ON o crime de tráfico de
drogas.
O crime é tipo misto alternativo sendo que a prática de mais de um verbo, no mesmo contexto fático, é
crime único, não havendo, portanto, concurso de crimes.
IMPORTANTE 1: Uma questão que é típica de prova galerinha, a o probleminha do sujeito que compra a
droga para outra pessoa consumir. Nesse caso, perceba que está ausente o especial fim de agir do tipo penal
“para consumo pessoal”, razão pela qual o sujeito responde pelo tráfico de drogas e não por porte para
consumo pessoal.
IMPORTANTE 1: Anote que, por razões de política criminal, não se aplica o princípio da insignificância neste
delito, ainda que a quantidade da droga seja ínfima.
Não confunda!
• O artigo 28 foi despenalizado (e não descriminalizado), é dizer que a prática da conduta é criminosa.
Então, atenção para a sua prova:
O fato de não ser aplicada pena privativa de liberdade ao crime de porte de drogas para consumo pessoal,
não significa que a conduta foi descriminalizada, mas sim, despenalizada.
São 03 penas não privativas de liberdade aplicadas: advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de
serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programas ou cursos educativos. Para
garantia do cumprimento dessas medidas educativas caso o usuário se recuse, poderá o juiz submetê-lo,
sucessivamente a: I) admoestação verbal; II) multa – que será creditada à conta do Fundo Nacional
Antidrogas.
➔ Advertência sobre os efeitos das drogas: a advertência é feita em audiência específica para essa
finalidade. Aqui o sujeito tomará um “puxão de orelha”, sendo advertido sobre os efeitos nocivos da droga.
➔ Prestação de serviços à comunidade: cumprida em programas comunitários, entidades educacionais
ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se
ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de
drogas.
IMPORTANTE 1: Essa pena só pode ser aplicada pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses, a exceção dos casos
de reincidência, hipótese em que a pena será aplicada pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
B) CONDUTAS EQUIPARADAS
Além do caput, o legislador trouxe também condutas equiparadas ao crime de porte de drogas para
consumo pessoal. Veja:
Art. 28 (...) § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe
plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar
dependência física ou psíquica.
Galerinha, basicamente, na conduta deste tipo penal, nós temos o estilo playboy que tem a sua hortinha de
plantas para produzir drogas em casa, perceba que, neste tipo penal, a droga ainda não existe. Sendo assim,
o sujeito lança sementes em terra ou ainda mantém plantas, por exemplo, em estufa, tudo destinado à
produção de pequenas quantidades de drogas (se a quantidade é grande, possivelmente a conduta será a
de tráfico de drogas). Atenção, pois essa conduta tem o mesmo especial fim de agir do caput, ou seja, para
que ocorra o crime, é necessário o especial fim de agir: que toda essa produção seja para consumo pessoal.
§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade
da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais
e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
Basicamente, o juiz utilizará da análise do caso concreto para analisar se a droga é ou não para consumo
pessoal.
EXEMPLO: imagine que Foguete foi surpreendido com pequena quantidade de drogas, porém parado em
ponto de tráfico conhecido pela polícia. Entre as drogas havia cocaína e maconha. Ao analisar os
antecedentes, descobriu-se que Foguete já havia sido condenado por tráfico de drogas, pois há anos vendia
drogas naquele mesmo ponto, inclusive estava em regime semiaberto. Pergunto: - Em todo esse contexto,
moçada, é possível que estejamos diante da conduta do 28? Claramente não! Aqui o sujeito já é conhecido,
inclusive, estando com diversas espécies do produto em ponto conhecido de drogas, ok? Então, fique atento
a esses critérios na sua prova e também quando for um soldado da PM.
D) PRESCRIÇÃO DO CRIME
Galerinha, a prescrição do crime de porte de drogas para consumo pessoal, se difere de TODOS os outros
crimes que seguem o CP (art. 107 e ss). Aqui, o legislador trouxe um prazo específico:
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à
interrupção do prazo, o disposto nos art. 117 e seguintes do Código Penal.
Portanto, a prescrição ocorre em 02 anos.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer,
ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer
drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos)
dias-multa.
O tipo penal possui 18 verbos, ou seja, isso significa que 18 condutas tipificam o crime de tráfico de drogas.
Com essa quantidade de verbos, é claro, o tipo é misto alternativo, por isso, praticadas 02 ou mais condutas
no mesmo contexto legal, haverá crime único.
Além disso, observe que para ocorrência do delito, não é necessária a intenção de lucro, assim, também
incorre no crime de tráfico de drogas o sujeito que, por exemplo, importa, exporta, mantém, etc., drogas
para conhecido “na amizade”. É a hipótese que falei para você lá no tópico de porte para consumo pessoa,
sujeito que adquire droga para outra pessoa, responde aqui, por tráfico de drogas e não porte para consumo
pessoal, lembra?
Se o sujeito possui autorização legal ou estiver de acordo com as normas que regulamentam o tema, não há
crime.
O crime é próprio na conduta de “prescrever”, exigindo-se nesse caso a figura de quem tem competência
para prescrição (ex. médico, farmacêutico, etc.).
O crime é comum nas demais condutas, podendo ser praticados por qualquer pessoa.
Como estudamos lá na lei de crimes hediondos, você já sabe, mas não custa anotar que o tráfico de drogas
é EQUIPARADO a crime hediondo, portanto, há inúmeros impactos relacionados à graça, anistia, indultos e,
principalmente, no cumprimento da pena.
Sobre o crime de tráfico, galerinha, alguns pontos são importantes para sua prova. Então anote aí:
IMPORTANTE 1: Várias espécies de drogas. O sujeito que pratica qualquer dos verbos em relação às drogas
de várias espécies, comete crime único. Exemplo: guarda cocaína, maconha e anfetamina para o tráfico =
crime único.
IMPORTANTE 2: Consumação do crime de tráfico de drogas na modalidade adquirir. A conduta consiste
em negociar por telefone a aquisição de droga e também disponibilizar o veículo que seria utilizado para o
transporte do entorpecente, conduta essa que configura o crime de tráfico de drogas em sua forma
consumada (e não tentada), ainda que a polícia, com base em indícios obtidos por interceptações
telefônicas, tenha efetivado a apreensão do material entorpecente antes que o investigado efetivamente o
recebesse. Para que configure a conduta de "adquirir", prevista no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, não é
necessária a tradição do entorpecente e o pagamento do preço, bastando que tenha havido o ajuste. Assim,
não é indispensável que a droga tenha sido entregue ao comprador e o dinheiro pago ao vendedor, bastando
que tenha havido a combinação da venda. 2
IMPORTANTE 4: O fato de a droga ser pura ou misturada não influencia na consumação do delito. Dessa
forma, ainda que a cocaína seja misturada com grande quantidade de farinha (e tenha mais farinha do que
a droga), por exemplo, haverá crime. Até porque, a pequena quantidade de drogas aqui nesse tipo penal,
não influencia a configuração do crime.
IMPORTANTE 6: Tráfico de drogas no Código Penal Militar. O tráfico, posse ou uso de entorpecente ou
substância de efeito similar tem previsão no CPM art. 290 e, em atenção ao princípio da especialidade,
aquele é aplicável aos casos de Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito similar
praticados por militares.
A) CONDUTAS EQUIPARADAS
Moçada, são as condutas equiparadas ao tráfico de drogas:
2STJ. 6ª Turma. HC 212.528-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 1º/9/2015 (Info 569). Fonte:
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/11/info-569-stj.pdf Acesso em 28.10.2021
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
No inciso I, responde por conduta equiparada ao tráfico de drogas aquele que põe em prática os verbos
relacionados à preparação da droga.
No inciso II, o sujeito mantém, de modo geral, um cultivo de matérias para produzir drogas. Aqui, diferente
do que ocorre no porte para consumo pessoal equiparado, o sujeito mantém uma plantação de grande
quantidade, a ideia é manter a produção para o tráfico.
No inciso III, nós temos a figura do sujeito que de alguma forma, isto é, direta ou indiretamente, patrocina
o tráfico ao colocar à disposição ou utilizar seus bens, como seus carros, casas, lanchas, taxi, Uber.
No inciso IV, nós temos uma novidade trazida pelo Pacote Anticrime, que é a figura do agente policial
disfarçado. Aqui galerinha, há um agente policial disfarçado que compra ou recebe a droga do sujeito. Como
vocês bem sabem, não há provocação do policial, pois o crime de tráfico já existia (conduta preexistente).
A novidade do agente policial disfarçado foi trazida pelo pacote anticrime – Lei 13.964/2019, inserida na Lei
de Drogas e no Estatuto do Desarmamento.
O agente disfarçado é aquele que, durante uma investigação, havendo elementos probatórios razoáveis de
tipo criminal preexistente, compra/recebe drogas.
Não confunda!
O agente disfarçado não se confunde com o agente infiltrado, este necessita de autorização judicial para
atuar, e aquele prescinde de autorização e comunicação. Muito menos com o agente provocador, pois este
provoca, prepara um flagrante, e a prova é ilícita. Então, atenção:
Dica: Novidade inserida pelo Pacote Dica: Técnica especial de Súmula 145 STF: Não há
Anticrime, no Estatuto do desarmamento e investigação prevista na Lei crime, quando a
na Lei de Drogas. de Drogas (art. 53, I), na Lei preparação do flagrante
de Organizações pela polícia torna
Criminosas (arts. 10 e ss.) e impossível a sua
na Lei de Lavagem de consumação.
Capitais (art. 1º, §6º)
No parágrafo segundo, há a penalização do sujeito que faz nascer na mente de alguém a ideia de usar drogas,
ou ainda, alimenta a ideia de quem já pensou em usar. Além disso, é possível que incorra no crime, se o
sujeito auxiliar prestando ajuda material à vítima que usará drogas. Em quaisquer do caso, o sujeito não tem
a intenção de vender, apenas de influenciar na decisão do outro.
IMPORTANTE: Se o sujeito induz, instiga ou auxilia para depois vender a droga à pessoa, haverá o crime de
tráfico de drogas e não esse de instigação. O crime também é único de tráfico de drogas, pois a conduta de
instalação é o meio necessário para a venda.
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a
consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos)
dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
EXEMPLO: um exemplo bem tradicional deste delito é sobre o casal de namorados que juntos em um
momento de lazer, o namorado oferece a droga para que juntos façam uso.
Art. 33 (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um
sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos , desde que o agente seja primário,
de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.
Galerinha, as condutas equiparadas do tráfico de drogas admitem uma causa de diminuição de pena que
pode variar de 1/6 a 2/3. Essa redução acaba por privilegiar o criminoso, daí porque, é chamada pela doutrina
de tráfico privilegiado.
Esse privilégio é destinado ao traficante eventual e não ao profissional, de forma que a condição para que
ocorra a causa de diminuição, exige 04 requisitos:
✓ Réu primário;
✓ Bons antecedentes;
✓ Não se dedicar às atividades criminosas;
✓ Não integrar organização criminosa.
Os requisitos são cumulativos, isso significa que a ausência de um deles não autoriza o reconhecimento do
privilégio ao tráfico.
Em relação à parte riscada no texto galerinha, o STF julgou o trecho inconstitucional por entender que viola
expressamente o princípio da individualização das penas.
Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título,
possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer
objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-
multa.
Galerinha esse tipo penal do art. 34, incrimina o sujeito que coloca maquinário disponível para a fabricação
ou transformação de drogas.
Não se confunde com o inciso III, §1º, 33, porque lá o sujeito usa LOCAL ou BEM que está sob seus cuidados.
Aqui o crime está diretamente ligado a adquirir/vender de qualquer forma MAQUINÁRIO destinado à
produção de insumos. São os atos preparatórios para os demais crimes.
O crime é permanente, nos verbos transportar, possuir e guardar, de forma que é possível o flagrante
enquanto permanecer a conduta.
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-
multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada
do crime definido no art. 36 desta Lei.
O crime exige um dolo, isto é, um animus de associar. Esse animus é demonstrado sempre pela: estabilidade
e continuidade da associação, que se ausentes, não haverá crime de associação, mas apenas coautoria.
Exemplo: 02 sujeitos se associam para a prática de um ato isolado de tráfico. Não haverá o crime do art. 35.
Munidos desse animus, 2 ou + pessoas (inclui nessa quantidade os inimputáveis também), se reunirão com
a finalidade de cometer os crimes específicos de:
✓ Tráfico de drogas;
✓ A conduta equiparada do §1º, e;
✓ O crime de financiamento ao tráfico.
Trata-se de crime formal, portanto, crime se consuma com a mera associação, de forma estável e
permanente, não sendo necessário êxito ou a prática dos crimes descritos, bastando que a finalidade da
reunião seja esta.
IMPORTANTE 1: A prática dos delitos acima elencados pode ser reiterada ou eventual. Porém, o crime de
associar-se para praticar tais crimes, sempre será crime permanente. Noutras palavras, o crime de
associação para o tráfico é crime permanente.
IMPORTANTE 2: A Associação para o tráfico não é equiparada a crime hediondo.
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta
Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil)
dias-multa.
Galerinha, nesta conduta temos o “pai” do tráfico. Literalmente é o crime daquele que financia o tráfico de
drogas, injetando recursos financeiros nessas atividades ilícitas. Evidentemente a conduta deve ser estável
e reiterada. Para incorrer no crime, não pode ser um ato isolado.
Não confunda!
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de
qualquer dos crimes previstos nos art. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.
Galerinha, este é o delito do “fogueteiro”, do informante. É claro que o crime não é só para o fogueteiro,
mas para qualquer pessoa que colaborar com informações relativas aos crimes de tráfico:
✓ Tráfico de drogas;
✓ A conduta equiparada do §1º, e;
✓ Fabricação, preparação e produção.
Perceba que a informação pode ser dada de várias formas (sinais, fogos de artifício, soltar pipa, etc.).
O crime se consuma com a efetiva colaboração.
O crime é comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa.
Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em
doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-
multa.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que
pertença o agente.
O segundo ponto a ser observado é que o crime pode ser praticado pelo profissional na forma culposa, em
apenas três situações:
✓ Droga desnecessária ao paciente;
✓ Droga necessária, porém em excesso;
✓ Droga necessária, mas em desacordo com a legislação.
O crime se consuma com a entrega da receita ou com a aplicação da droga, independente do resultado
posterior à aplicação.
O crime é próprio, pois só pode ser cometido por profissional qualificado para prescrever ou ministrar (ex.
médico, dentista, enfermeira, etc.).
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a
incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação
respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento
de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro)
a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste
artigo for de transporte coletivo de passageiros.
Galerinha, o crime do art. 39 consiste em conduzir, isto é, dirigir, pilotar, guiar, embarcação ou aeronave,
após o consumo de droga, evidentemente, a ideia do legislador foi evitar o perigo gerado às pessoas, pela
condução de embarcação.
O crime se consuma com a “mera” condução após o consumo, expondo as pessoas a perigo, não precisa de
dano, pois se trata de crime formal.
Galerinha, a lei traz algumas causas de aumento específicas para os crimes do 33 ao 37, isso significa que
tais causas de aumento não incidem sobre o porte de drogas para consumo pessoal!
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de 1/6um sexto a 2/3 dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato
evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - O agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação,
poder familiar, guarda ou vigilância;
III - A infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de
ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV - O crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer
processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - Caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;
VI - Sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo,
diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;
VII - O agente financiar ou custear a prática do crime.
No inciso I, temos a transacionalidade dos crimes, ou seja, a droga tem como destino algum país no exterior.
Para incidir a causa de aumento, não é necessário que a droga ultrapasse a fronteira, basta a prova de que
a droga tem como destino outro país. Nesse sentido, temos a súmula 607 – STJ:
Súmula 607 - STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei nº 11.343/2006)
configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição
de fronteiras.
Galerinha, anotem aí que a transacionalidade dos crimes tem duas consequências: 1) a incidência desta
causa de aumento e 2) a competência que passa a ser da Justiça Federal.
No inciso II, a causa de aumento incide no caso de pessoas que cometem os crimes relacionados ao tráfico
e seguintes, utilizando-se da função. O aumento na pena é obvio e encontra respaldo no fato de que essas
pessoas gozam de maior influência e responsabilidade também, razão pela qual a conduta tem uma
gravidade maior do que quando praticados por pessoas “comuns”, isto é, não tão influentes.
No inciso III, temos a causa de aumento destinada à prática de crimes cometidos nas imediações de
determinados estabelecimentos. Esses locais possuem uma enorme concentração de pessoas, daí porque,
merece melhor repreensão. Para incidência desta causa de aumento, é necessário o dolo do sujeito de
utilizar as imediações desses locais para a prática criminosa.
No inciso IV galerinha, nós temos a incidência do aumento em casos de emprego de violência, grave ameaça,
emprego de arma de fogo ou outras formas de intimidações, o aumento ocorre porque nos crimes do art.
33 a 37, não existem essas previsões, de maneira que merecem maior reprimenda.
No inciso V, nós temos a previsão do tráfico INTERESTADUAL e não internacional, cuidado. Aqui, o tráfico
ocorre de um estado para o outro, exemplo: de Goiânia-GO, para Uberlândia-MG e a competência é da
Justiça ESTADUAL (e não Federal como vimos no caso anterior). Nesse sentido:
Súmula 522 – STF: salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência será da justiça
federal, compete à justiça dos estados o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
Súmula 587 – STF: Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é
desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a
demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual.
No inciso VI, a causa de aumento incidirá em hipótese de os crimes envolverem, isto é, trazer para dentro
do ambiente criminoso, crianças ou adolescentes. Neste caso, incide a majorante e não o delito do 244-B do
Eca, também não há concurso de crimes sob pena de bis in idem.
No inciso VII, a causa de aumento somente incide se o crime for ocasional, pois se for reiterado estaremos
diante do crime do art. 36. Anote também que esta causa de aumento não pode incidir sobre o art. 35 e o
parágrafo único do 36 sob pena de bis in idem.
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo
criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do
produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de 1/3 um terço a 2/3 dois terços.
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas
no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Galerinha, a Lei de Drogas traz a previsão da colaboração premiada, também chamada de delação premiada.
Como o próprio nome sugere, nesse instituto o sujeito colabora com a justiça (na fase policial ou na fase
judicial) e identifica outras pessoas que também praticam delitos, promovendo a recuperação total ou
parcial do delito. Caso isso aconteça, esse indivíduo será beneficiado pela redução de 1/3 a 2/3. Anote que,
o sujeito deve delatar de forma voluntária para que haja a incidência da “premiação”, isto é, a redução.
Galerinha, os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 são inafiançáveis e insuscetíveis de graça,
indulto, anistia.
Moçada, sobre a isenção de pena no âmbito da Lei de Drogas, algumas anotações são importantes. Vejamos:
IMPORTANTE 1: É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de
caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a
infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
IMPORTANTE 2: Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época
do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na
sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.
IMPORTANTE 3: Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de
encaminhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com competência
específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.
12.4- JURISPRUDÊNCIAS RELACIONADAS AO CAPÍTULO
Para Revisar:
LEI DE DROGAS
Objeto: A Lei de Drogas 1) Cria o SISNAD - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas; 2) traz
prescrições acerca de medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas; e 3) Estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito
de drogas e define crimes.
▪ Objetivos: contribuir para inclusão social, estabelecer uma socialização do conhecimento sobre as
drogas no país, promover políticas públicas de prevenção de drogas.
Galerinha, por hoje é só. Continue focado e compromissado com seu sonho.
Te encontro na próxima aula. Até lá.
3STJ. 6ª Turma. HC 212.528-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 1º/9/2015 (Info 569). Fonte:
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/11/info-569-stj.pdf Acesso em 28.10.2021