consumo de água total do cacau

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ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA EM CACAUEIROS ADULTOS

HERMES ALVES DE ALMEIDA1, REGINA CELE REBOUÇAS MACHADO2,


NILSON AUGUSTO VILLA NOVA3, ANTONIO EVALDO KLAR 4

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo estimar o consumo de água por cacaueiros adultos. O
experimento foi realizado no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), Ilhéus, Bahia, latitude 14º
45’S e longitude 39º 16’W. Dez árvores da cultivar Catongo, plantados no espaçamento 3m x 3m,
com aproximadamente 12 anos de idade, constituíram a unidade experimental. Para estimar a
evapotranspiração do cacaueiro (ETc), utilizou-se o método do balanço hídrico semanal
preconizado por Thornthwaite & Mather (1955), sendo a evapotranspiração de referência pelo
Penman Monteith O consumo potencial e real médio diário foi de 23,7 e 20,2 litros por cacaueiro,
respectivamente, o que corresponde a uma lâmina diária de ETc de aproximadamente 2,2 mm.

Palavras chave: consumo de água, balanço hídrico, cacaueiro

INTRODUÇÃO

O cacaueiro (Theobroma cacao L), pertencente à família Sterculiaceae, originou-se na


Cabeceira da Bacia Amazônica, de onde se dispersou em duas direções: uma para o norte e oeste,
atravessando os Andes, e avançando pela América Central até o sul do México, e a outra para o
leste (Alvim, 1977).

Embora não mostre, facilmente, sintomas de déficit hídrico, o cacaueiro é muito sensível à
deficiência de água. Em condições de campo, a seca pode ter dois efeitos distintos sobre a planta:
um do déficit interno, que pode ser curto ou cumulativo e outro sobre o transporte de nutrientes
(Hutcheon, 1977).

________________
1
Pesquisador, DSc, Centro de Pesquisas do Cacau, Caixa Postal 07, 45600-000 Ilhéus, Bahia, e
Professor Adjunto da Universidade Estadual de Santa Cruz, e-mail:halmeida@nuxnet.com.br
2
Pesquisador, PhD, Centro de Estudos do Cacau, Caixa Postal 55, Itajuipe, Bahia.
3
Professor Associado, DSc , Departamento de Física e Meteorologia, ESALQ, Piracicaba, SP
4
Professor Titula, DSc, Departamento de Engenharia, FCA/UNESP, Botucatu, SP
A disponibilidade de água no solo é um dos fatores mais relacionados com o crescimento e
produção do cacaueiro. Segundo Orchard (1984), o cacaueiro deve ser implantado em áreas onde a
disponibilidade de umidade no solo não seja fator limitante por mais de dois a três meses
consecutivos.

Em geral, sob condições de ótima disponibilidade de água no solo, a evapotranspiração de


referência (ETo) é função das condições meteorológicas e do tipo de vegetação (Berlato & Molion,
1981). Segundo Doorenbos & Kassam (1979), a evapotranspiração máxima (ETm) refere-se a perda
de água de uma cultura agronômica, que cresce em grandes áreas, sem restrições hídricas em
qualquer estádio de desenvolvimento.

A utilização da ETm ao invés de ETo, no cálculo do balanço hídrico, dificultaria


demasiadamente o processo de contabilidade da água no solo, além de ser variável com a época de
plantio e estádio desenvolvimento da cultura. Por isto, adota-se a ETo como indicativo da demanda
atmosférica, no cômputo do balanço hídrico e não a ETm.

O balanço hídrico climatológico semanal ou diário, descrito por Thornthwaite & Mather
(1955), é um sistema contábil de monitoramento da água no solo e a própria lei da conservação de
massas, para um volume de solo efetivamente ocupado pelas raízes. Sendo, portanto, uma
ferramenta útil e prática para se estimar o armazenamento de água no solo, a evapotranspiração real
ou da cultura, a deficiência e o excedente hídricos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Quadra E da área experimental do Centro de Pesquisas do


Cacau (CEPEC), localizado no km 22 da Rodovia Ilhéus - Itabuna, no município de Ilhéus, Bahia,
latitude 14º 45’S, longitude 39º 16’W e altitude de 41 m.

A capacidade de água disponível no solo (CAD), ou armazenamento máximo, considerada a


água retida pelo solo entre a capacidade de campo e o ponto de murchamento permanente, foi
calculada pela expressão:

( )
CAD = θ CC − θ PMP × h (1)

sendo:

θ CC = umidade média do solo na capacidade de campo (33,43 kPa), em m3.m-3;

θ PMP = umidade média do solo no ponto de murcha permanente (1519,98 kPa), em m3.m-3;

h= profundidade do perfil (mm).


O experimento foi conduzido no Centro de Pesquisas do Cacau, num cacaual implantado no
espaçamento de 3m x 3m (1.111 plantas por ha). Dez árvores da cultivar Catongo, com idade
aproximada de 12 anos, constituíram a unidade experimental. Avaliaram-se, semanalmente, o
número de frutos novos (FN) e colhidos (FC) em cada um dos dez cacaueiros.

Os dados meteorológicos utilizados na estimativa da evapotranspiração de referência foram


coletados na área experimental e na Estação Agrometeorológica do CEPEC, localizada a cerca de
500 m do local do experimento. Para calcular a média diária de todos os elementos do clima,
utilizou-se a média aritmética dos seus valores horários.

Para estimar a evapotranspiração de referência diária (ETo) foi utilizado o método de


Penman-Monteith e parametrizada por Smith (1991), conforme a equação descrita a seguir.

γ
EToPM = ∆ ( Rn − G) 1 + 900 U (ea − ed) (2)
∆+γ * λ ∆ +γ *( tmed +275) 2

sendo:

EToPM= evapotranspiração de referência (mm.d-1);

∆ = tangente à curva da tensão de vapor de saturação (kPa.°C-1)

4098 × ea
∆= (3)
(tmed + 237,3) 2

ea= tensão de saturação de vapor diária (kPa)

tmed=temperatura média do ar diária (°C).

 17 ,27 × tmed 
ea = 0,6108 exp  (4)
 tmed + 237,3

γ*= coeficiente psicrométrico modificado (kPa.°C-1)

γ*=γ ( 1+ rc / ra )

γ= constante psicrométrica (kPa.°C-1), calculada pela expressão:

P
γ= 0,0016286 × (5)
λ
P= pressão atmosférica (kPa)

λ = calor latente de vaporização (MJ.Kg-1)

Para calcular o balanço hídrico semanal foi utilizado a metodologia preconizada por
Thornthwaite & Mather (1955). Na contabilidade hídrica, considerou-se a chuva como o único
suprimento de água e a evapotranspiração de referência, estimada pelo método de Penman-Monteith
(EToPM), a demanda atmosférica.

O armazenamento máximo de água no solo (CAD) foi calculado pela equação (1), na
profundidade efetiva do sistema radicular (0-30 cm), resultando numa lâmina de 30 mm.

Para iniciar a seqüência do balanço hídrico, o experimento só foi iniciado quando constatou-
se pleno armazenamento de água no solo (ARM=CAD=30 mm). A partir desta, iniciou-se o
processo contábil seqüencial semanal, o que permitiu estimar o armazenamento de água no solo
(ARMo), a evapotranspiração real (ETR) , a deficiência hídrica (DEF) e o excedente hídrico (EXC).

Desprezando-se as perdas de água por escoamento superficial (área totalmente plana) e a


drenagem profunda sendo contabilizada como excesso (quando o armazenamento de água =CAD),
a evapotranspiração real foi considerada como o consumo de água pelo cacaueiro. Assim, o
consumo de água anual determinou-se através do somatório da ETR e o médio pela média
aritmética das ETR.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores máximos, mínimos e médios diários do consumo potencial e real de água por
cacaueiros adultos, em litros por planta, são mostrados na Tabela 1. Os valores representados nesta
Tabela referem-se, respectivamente, a evapotranspiração de referência pelo método de Penman-
Monteith e a evapotranspiração real (ETr) determinada pelo balanço hídrico. As diferenças
existentes entre os seus valores, em litros por planta por dia, são esperadas, uma vez que a ETo é
calculada em função do saldo de energia disponível no ambiente e a evapotranspiração real (ETr ou
ETc), com a disponibilidade simultânea de energia e água no solo.

Como pode ser observado (Tabela 1), o consumo potencial e real médio diário foi de 23,7 e

20,2 litros por planta, respectivamente. A demanda real média do cacaueiro, no período de 1988 a

1994, e no espaçamento de 3 m x 3 m corresponde, a uma ETc diária de aproximadamente 2,2 mm.

O máximo valor de consumo potencial (referência) observado, diariamente por cacaueiro, foi de

44,1 litros (em 1988) e o real de 33,3 litros, em 1994. Assumindo-se que o solo estivesse na
capacidade de campo, a ETo de 44,1 litros poderia ser a própria evapotranspiração do cacaueiro.

Baseado nessa hipótese, esse valor aproxima-se dos 40 litros encontrados por Alvim (1959), quando

ele estimou a taxa de transpiração do cacaueiro a partir de folhas destacadas.

TABELA 1: Estimativa do consumo de água em cacaueiros adultos, plantados no espaçamento de

3m x 3m.

Potencial(1) Real (2)


(litros.planta-1.dia-1) (litros.planta-1.dia-1)
Ano Máximo Mínimo médio máximo mínimo médio

1988 44,1 14,0 23,0 32,1 10,2 20,7

1989 31,6 12,5 21,5 29,7 2,2 18,0

1990 30,0 13,9 22,1 29,3 3,0 18,4

1991 34,6 14,0 23,8 30,6 10,5 20,7

1992 32,9 12,3 22,4 30,9 12,3 20,6

1993 34,2 15,4 25,8 32,6 4,5 20,2

1994 35,6 14,9 27,1 33,3 4,8 22,7

Média 34,7 13,9 23,7 31,2 6,8 20,2


(1)
corresponde à EToPM
(2)
corresponde à ETr (estimada pelo balanço hídrico)

A não coincidência nos totais de consumos potencial e real (máximo, mínimo e médio)
mostra que nem sempre existe disponibilidade de energia e de água no solo ao mesmo tempo. Os
valores iguais de consumos mínimo de 12,3 litros.planta-1.dia-1, verificado em 1992, por exemplo,
indicam a existência simultânea da disponibilidade de água e energia. Neste caso, a ETr é igual a
EToPM.

A não coincidência nos totais de consumos potencial e real (máximo, mínimo e médio)
mostra que nem sempre existe disponibilidade de energia e de água no solo ao mesmo tempo. Os
valores iguais de consumos mínimo de 12,3 litros.planta-1.dia-1, verificado em 1992, por exemplo,
indicam a existência simultânea da disponibilidade de água e energia. Neste caso, a ETr é igual a
EToPM.
Como não existe um valor exato do consumo de água pelo cacaueiro, como para qualquer
outro cultivo, torna-se difícil estabelecer comparação com resultados encontrados por outros
pesquisadores. Mesmo assim, parece que as principais diferenças existentes nos dados obtidos por
Cadima & Alvim (1987) e Colas et al. (1996), por exemplo, podem não ser, necessariamente, de
resultados e sim, de descrição e/ou de interpretação. Os primeiros autores encontraram uma lâmina
de 45 mm. dia-1, num solo saturado, quando deve ser 45 litros. planta-1. dia-1 Ressalta-se, entretanto,
que para cada mm de evaporação necessita-se de aproximadamente de 59 calorias. Nos meses de
julho a setembro (período no qual Cadima & Alvim executaram esse trabalho), a quantidade de
radiação solar global (bruta) é inferior a 400 calorias. cm-2 em 95% dos dias (Almeida & Lima,
1993). Por isso, o saldo de energia existente e que deve ser utilizado na mudança de fase (calor
latente) é incompatível com a esse nível tão elevado. No trabalho de Colas et al. (1996), foi descrito
um valor médio diário de evapotranspiração de 1,31 mm como sendo a do cacaueiro, mesmo sob
condição de deficiência hídrica, quando na realidade corresponde a evapotranspiração de referência
estimada pelo método de Penman (1948).

CONCLUSÕES

Com base nos resultados, pode-se concluir que:

a) a lâmina média de água consumida pelo cacaueiro correspondeu a cerca de 85% da

evapotranspiração de referência obtida pelo método de Penman-Monteith;

b) o consumo real médio diário foi de 20,2 litros por cacaueiro, o que corresponde a uma

lâmina diária de ETc de aproximadamente 2,2 mm.

BIBLIOGRAFIA

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