LV-Mandioca-cap2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 20

Aspectos socioeconômicos,

melhoramento genético,
sistemas de cultivo, manejo de
pragas e doenças e agroindústria

Moisés de Souza Modesto Júnior


Raimundo Nonato Brabo Alves
Editores Técnicos
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Amazônia Oriental
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Embrapa
Brasília, DF
2016
CAPÍTULO 2.
MANEJO E
CONSERVAÇÃO
DO SOLO
Arystides Resende Silva
50 - CULTURA DA MANDIOCA

INTRODUÇÃO
Com o aumento da população mundial, a demanda cada vez maior
de alimentos tem levado o homem a utilizar as terras sem os cuidados
necessários para que elas produzam bem sem os riscos de desperdício dos
recursos naturais. Diante desta perspectiva tecnológica, o País se defronta,
por um lado, com os benefícios da agricultura moderna e avançada e, por
outro, com a mecanização intensiva dos solos, que se apresentam, por isso,
vulneráveis à ação dos agentes intempéricos que atuam das mais diversas
formas, proporcionando a perda de grandes quantidades de solo fértil da
camada arável.

No Brasil, muitas áreas já apresentam sinais evidentes de depauperamento


em seus solos, apesar da vastidão do território e de não estar sujeito à grande
demanda de alimentos e ao excesso de população. Valendo-se de sua grande
área territorial, a agricultura brasileira tem caminhado descuidadamente em
busca de outras terras, em vez de melhorar as já desgastadas.

Os recursos naturais têm sido impiedosamente dilapidados por uma


agricultura de exploração, na qual há uma tendência, pelos agricultores, de
ver a fertilidade natural como inesgotável, conduzindo assim a exploração
agrícola na direção do extrativismo predatório. Isto leva ao depauperamento
que, muitas vezes, é causado pela erosão em consequência do mau uso do
solo.

A improdutividade de muitos solos tem vindo como consequência da


erosão hídrica, facilitada e acelerada pelo homem por meio de práticas
agrícolas incorretas, como o plantio contínuo e inadequado de culturas
esgotantes e pouco protetoras do solo, o plantio em linha a favor do declive,
a queimada drástica e repetitiva, o pastoreio excessivo, etc.

Na destruição da fertilidade, a erosão hídrica não é o único agente a se fazer


presente. A ela está aliada a lavagem dos nutrientes pela percolação que os
coloca em profundidades inadequadas às plantas; a combustão da matéria
orgânica proporcionada pela ação das condições climáticas ou das drásticas
e impiedosas queimadas e, inalmente, o consumo dos elementos minerais
nutritivos extraídos pelos produtos agropecuários, sem que haja reposição
da fertilidade do solo.

A mandioca é considerada a mais brasileira das culturas, por ser originária


do Brasil e cultivada em todo o território nacional. Vem sendo explorada,
basicamente, por pequenos produtores, em áreas marginais de agricultura,
CULTURA DA MANDIOCA - 51

em razão da sua rusticidade e da capacidade de produzir relativamente bem


em condições em que outras espécies sequer sobreviveriam.

Tendo suas raízes usadas como alimento básico por largas faixas da
população e consumidas como farinha, amido ou cozido (in natura), a
mandioca apresenta elevada importância sociocultural para as populações
que a cultivam. Contudo, por sua capacidade produtiva, pela qualidade do
seu amido e da sua parte aérea, alcança novos mercados, tanto na indústria
(alimentícia e química) quanto na alimentação animal (raízes e parte aérea).

Atualmente, a ciência agronômica brasileira vem demonstrando ser possível


conservar as propriedades produtivas das terras, desde que seja assegurado
aos solos o emprego de medidas simples, exequíveis e econômicas de
manejo.

O SOLO COMO UM RECURSO NATURAL


Dos recursos naturais renováveis, o solo é o que suporta a cobertura vegetal,
sem a qual os seres vivos, de maneira geral, não poderiam existir. Ele é uma
das maiores fontes de energia para a vida que vem sendo utilizado por
geração após geração de homens, animais e plantas.

O solo é um recurso natural porque é fonte de todos os fatores (exceto luz)


de desenvolvimento vegetal. Sob o ponto de vista de seus nutrientes, que
podem ser repostos lentamente pelos processos pedogenéticos, ou mesmo
mais rapidamente pela adição de fertilizantes, e de sua estrutura que pode
ser modiicada pelo manejo, ele é considerado um recurso natural exaurível
renovável e, como tal, deve ser melhorado, isto é, deve ser utilizado de forma
racional, de maneira que seja mantida indeinidamente a sua produtividade.
Deve ser conservado de forma adequada para garantir às gerações futuras
melhores condições de vida, porque, embora os recursos bióticos sejam
renováveis, a sua produção não é ilimitada. Quando olhamos, entretanto, para
a profundidade efetiva e textura, que podem ser modiicadas deinitivamente
pela erosão, ele poderia ser considerado um recurso natural exaurível não
renovável, como qualquer outro recurso mineral.

A preocupação pela conservação dos solos deve estar sempre presente


nos processos de exploração das terras. Quando eles ainda se encontram
cobertos por vegetação arbórea ou rasteira, não existe a preocupação de
sua conservação. Hoje, entretanto, são bastante conhecidos os prejuízos
causados pela erosão, principalmente a encontrada na forma laminar, que
remove dos solos as suas camadas supericiais.
52 - CULTURA DA MANDIOCA

IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DOS SOLOS


Sendo o solo resultante da intemperização física, química e biológica dos
materiais pré-existentes de origem mineral (rochas) e orgânica, é necessário
conhecê-lo para que haja uma utilização racional de seus recursos em
proveito de uma melhor condição de vida para o homem. Não terá uso
racional se os dois princípios básicos da agricultura – a mecanização e a
conservação – não estiverem agindo concomitante e equilibradamente no
interesse da produção, com os cuidados exigidos para a manutenção de sua
fertilidade. Isto só poderá ser conseguido mediante o conhecimento das
noções básicas acerca da natureza dos solos e dos fatores que condicionam
a sua produtividade e o seu depauperamento.

A conservação dos solos inclui: uso adequado, manejo adequado das


culturas, controle da erosão acelerada e controle da poluição agrícola. As
práticas conservacionistas têm aumentado ou, pelo menos, mantido os
lucros dos agricultores.

Deve-se chamar a atenção para o fato de que normalmente as práticas


conservacionistas não aumentam necessariamente de imediato os lucros,
porque muitas vezes os gastos iniciais são muito elevados. Entretanto, os
resultados em longo prazo são compensadores, uma vez que, em último caso,
a produtividade se mantém indeinidamente constante ou pode até melhorar.

Para tudo isso, condições essenciais são necessárias: o conhecimento


de melhores e mais adequados métodos de uso das terras e o desejo da
utilização de técnicas conservacionistas, fatores estes que, na maioria dos
casos, estão ausentes.

Práticas conservacionistas evitam a diminuição da futura produção


sem qualquer prejuízo atual. Uso de calagem e fertilizantes, adoção de
semeadura em linhas ou rotação de cultura e pousio podem estar nesta
categoria e poderão deixar a terra em uma condição muito mais produtiva.

Existem poucas perspectivas de qualquer programa conservacionista


conseguir a manutenção da produtividade futura a níveis atuais sem
que haja diminuição da produtividade básica. Neste caso, existem duas
alternativas para o usuário: ou ele aceita uma pequena renda hoje e sempre,
com uma produtividade constante, ou experimenta um declínio constante
na produtividade. A alternativa de continuar utilizando o mesmo método
de exploração poderá condicionar a produção a cair abaixo de um nível tal,
CULTURA DA MANDIOCA - 53

a partir do qual um programa conservacionista diicilmente poderá manter


a produtividade a um nível constante. Nesta oportunidade, a produtividade
terá diminuído e o usuário terá ainda de fazer um ajuste para baixo se quiser
mantê-la constante daí para frente. Talvez haja necessidade de cultivo
de gramíneas e árvores durante certo tempo, quando as áreas estiverem
excessivamente exploradas.

O agricultor estará diante de um declínio moderado de produtividade


durante alguns anos, seguido de uma crise em que tal produtividade passa a
cair bruscamente. Essa situação ocorre quando a erosão está depauperando
grandemente o solo, instante em que a produção se torna inviável.

A conservação do solo sempre envolve comparações entre regiões. O solo


retirado de uma determinada área, pelas chuvas ou pelo vento, sempre se
acumula em outro local, que pode ser ao sopé de encostas, no leito de um
pequeno ou grande rio em seu caminho para o mar, como acontece com
os sedimentos no Rio Amazonas. Existe circunstância em que o material
depositado pode ser extremamente útil, como nas várzeas de rios de águas
barrentas. O mais comum é o material erodido trazer danos, tanto ao local
de origem, quanto ao local que recebe.

Um motivo importante para a existência da conservação do solo é o


aumento de renda. Em razão da defasagem do tempo entre o investimento
e a produção, que a conservação quase sempre introduz, as comparações
devem ser feitas sempre em termos de valor atual e da renda futura. Tudo
isso conduz à conclusão de que a conservação do solo ou a sua falta tem
uma importante relação com a produtividade e, por conseguinte, com a
rentabilidade das propriedades.

CONCEITO DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO


Manejar o solo signiica aplicar a ele um conjunto de técnicas com a inalidade
não só de protegê-lo como também de melhorar a produção das culturas.

No manejo do solo, a melhor decisão é elevar e manter a sua produtividade,


como as técnicas e os programas de manejo.

• Técnicas de manejo – são aquelas que visam aumentar e manter a


potencialidade dos solos; envolvem o controle de suas propriedades e
características e o controle da erosão.
54 - CULTURA DA MANDIOCA

• Programa de manejo – implica em executar um estudo genérico das técnicas


de manejo, o estudo dos pré-requisitos e efeitos produzidos pelas diferentes
modalidades de atividades agrícolas e a identificação do agrossistema, o que
significa conhecer as potencialidades e características de cada um deles e a
elaboração do programa de manejo.

Manejar o solo é, portanto, utilizá-lo adequadamente, tendo como base a


relação dos vários fatores que afetam a produtividade agrícola, tais como: a
rotação de culturas, o uso de adubos verdes, a fertilização, a irrigação correta
e o cultivo adequado.

Já a conservação do solo é a designação coletiva dos programas de


prevenção e controle à erosão, da excessiva perda de nutrientes e, de
maneira geral, da perda de sua capacidade de sustentar a vegetação natural
e/ou a agricultura.

Conservar é aplicar um conjunto de técnicas ao solo, de maneira a ser


obtido um rendimento maior e constante e tem a inalidade de manter
ou aumentar a produtividade sem que, contudo, haja degradação de suas
propriedades físicas, químicas ou biológicas.

Com o manejo adequado do solo, também está sendo feita a conservação.


Por meio do manejo, é possível aumentar a capacidade produtiva,
conservando não só a fertilidade natural, como também os fertilizantes
empregados pelo homem e uma quantidade adequada de água pluvial,
elementos esses que, em conjunto, se não forem bem protegidos, serão
irremediavelmente perdidos.

Como vantagens da conservação do solo podem ser distinguidas:


1. Evita e controla a degradação do solo.
2. Aumenta a produção.
3. Mantém níveis de fertilidade natural mais elevados.
4. Reduz o consumo de fertilizantes e corretivos, logo possibilita a produção
econômica com menos custos.
5. Conserva os recursos naturais (lora e fauna) em áreas impróprias à
agricultura.
6. Concorre para melhorar o nível de vida rural e, consequentemente, a
ixação do homem à terra, reduzindo o êxodo rural.
7. Contribui para melhor conservação das águas armazenadas.
8. Evita a poluição dos recursos hídricos.
CULTURA DA MANDIOCA - 55

9. Concorre para a melhor manutenção da umidade do solo, reduzindo os


danos causados pelas secas.
10. Evita o assoreamento de represas e obras hidráulicas.
11. Proporciona às gerações futuras condições de vida mais condigna e
agradável.

PRINCÍPIOS BÁSICOS
Dentre os princípios fundamentais da conservação do solo, destaca-se um
maior aproveitamento das águas das chuvas. Evitando-se perdas excessivas
por escoamento supericial, podem-se criar condições para que a água
pluvial se iniltre no solo. Isto, além de garantir o suprimento de água para
as culturas, criações e comunidades, previne a erosão, evita inundações
e assoreamento dos rios, assim como abastece os lençóis freáticos que
alimentam os cursos de água.

Uma cobertura vegetal adequada assume importância fundamental para


a diminuição do impacto das gotas de chuva. Há redução da velocidade
das águas que escorrem sobre o terreno, possibilitando maior iniltração de
água no solo e diminuição do carreamento das suas partículas.

Práticas utilizadas
Vegetativas Edáicas Mecânicas
Florestamento e Cultivo de acordo com a Preparo do solo e plantio em
relorestamento capacidade de uso da terra nível
Plantas de cobertura Controle do fogo Distribuição adequada dos
Cobertura morta Adubação: verde, química, caminhos
Rotação de culturas orgânica Sulcos e camalhões em
Calagem pastagens
Formação e manejo de
pastagem Enleiramento em contorno
Cultura em faixa Terraceamento
Faixa de bordadura Subsolagem
Quebra-vento e bosque Irrigação e drenagem
sombreador
Cordão vegetativo
permanente
Manejo do mato e alternância
de capinas

A escolha dos métodos/práticas de prevenção à erosão é feita em função


dos aspectos ambientais e socioeconômicos de cada propriedade e região.
56 - CULTURA DA MANDIOCA

Cada prática, aplicada isoladamente, previne apenas de maneira parcial o


problema. Para uma prevenção adequada da erosão, faz-se necessária a
adoção simultânea de um conjunto de práticas.

Apresentam-se, a seguir, comentários resumidos acerca de algumas destas


práticas conservacionistas:

Plantio em nível – neste método, todas as operações de preparo do


terreno, balizamento, semeadura, etc., são realizadas em curva de nível. No
cultivo em nível ou contorno criam-se obstáculos à descida da enxurrada,
diminuindo a velocidade de arraste e aumentando a iniltração d’água no
solo. Este pode ser considerado um dos princípios básicos, constituindo-se
em uma das medidas mais eicientes na conservação do solo e da água.
Porém, as práticas devem ser adotadas em conjunto para a maior eiciência
conservacionista.

Cultivo de acordo com a capacidade de uso – as terras devem ser


utilizadas em função da sua aptidão agrícola, que pressupõe a disposição
adequada de lorestas/reservas, cultivos perenes, cultivos anuais, pastagens,
etc., racionalizando, assim, o aproveitamento do potencial das áreas e sua
conservação.

Relorestamento – áreas muito susceptíveis à erosão e de baixa capacidade


de produção devem ser mantidas recobertas com vegetação permanente.
Isto permite seu uso econômico, de forma sustentável, e proporciona sua
conservação. Esse cuidado deve ser adotado em locais estratégicos, que
podem estar em nascentes de rios, topos de morros e/ou margem dos
cursos d’água.

Plantas de cobertura – objetivam manter o solo coberto no período


chuvoso, diminuindo os riscos de erosão e melhorando as condições físicas,
químicas e biológicas do solo.

Pastagem – o manejo racional das pastagens pode representar uma grande


proteção contra os efeitos da erosão. O pasto mal conduzido, pelo contrário,
torna-se uma das maiores causas de degradação de terras agrícolas.

Cordões de vegetação permanente – são ileiras de plantas perenes de


crescimento denso, dispostas em contorno. Algumas espécies recomendadas:
cana-de-açúcar, capim-vetiver, erva-cidreira, capim-gordura, etc.

Controle do fogo – o fogo, apesar de ser uma das maneiras mais fáceis e
econômicas de limpar o terreno, quando aplicado indiscriminadamente é
um dos principais fatores de degradação do solo e do ambiente.
CULTURA DA MANDIOCA - 57

Correção e adubação do solo – como parte de uma agricultura racional,


essas práticas proporcionam melhoramento do sistema solo, no intuito de
se dispor de uma plantação mais produtiva e protetora das áreas agrícolas.

Roça sem fogo – consiste no preparo de área sem uso do fogo, com
corte da vegetação de capoeira de até 10 anos de idade rente ao solo,
com ferramentas manuais, seguido do inventário das espécies de valor
econômico, como fruteiras e essências lorestais, para preservação no
roçado e posterior retirada do material lenhoso, picotamento da copa
das árvores na superfície do solo e aceiro, inalizando com o plantio
de mandioca ou espécies perenes. As vantagens desse sistema estão
relacionadas com a redução da erosão pela preservação da matéria orgânica
com a liberação gradual de macro e micronutrientes, melhora a estrutura
física do solo, promove maior retenção de umidade, aumenta a atividade
microbiana, entre outros.

ESCOLHA DA ÁREA
Na escolha da área para o plantio da cultura da mandioca, é importante
levar em consideração não só as condições climáticas da região e os
mercados dos produtos inais, mas também outros fatores de produção,
como as características topográicas, físicas e químicas do solo.

A mandioca é cultivada em regiões de clima tropical e subtropical, com


precipitação pluviométrica variável de 600 mm a 1.200 mm de chuvas bem
distribuídas e temperatura média de aproximadamente 25 °C. Temperaturas
inferiores a 15 °C prejudicam o desenvolvimento vegetativo da planta. Pode
ser cultivada em altitudes que variam de próximo ao nível do mar até mil
metros. É bem tolerante à seca e possui ampla adaptação às mais variadas
condições de clima e solo. Os solos mais recomendados são os profundos
com textura média de boa drenagem.

Outros fatores do solo, como as características físicas, topográicas e


químicas, devem ser considerados na escolha das áreas para o plantio do
mandiocal. De modo geral, a mandioca se adapta melhor em solos arenosos
ou de textura média, onde se tem melhor condição para produção de raízes
uniformes e com boa estrutura, o que facilita a colheita. Já os solos argilosos
devem ser usados com restrições, pois podem prejudicar o crescimento,
causar o apodrecimento em consequência do encharcamento e ainda
diicultar a colheita das raízes.
58 - CULTURA DA MANDIOCA

Ainda sobre as características físicas, é importante observar o solo em


profundidade, pois a presença de uma camada argilosa ou compactada
imediatamente abaixo da camada arável pode limitar o crescimento das
raízes, além de prejudicar a drenagem e a aeração do solo, portanto evitar
sucessivas operações de preparo do solo com grade aradora.

Outro fator são as condições topográicas da área. A mandioca possui


brotação e desenvolvimento lentos na fase inicial da cultura, o que acarreta
pouca proteção ao solo e, consequentemente, deixa os mandiocais sujeitos
a acentuadas perdas de solo e água por erosão. Dessa forma, deve-se
buscar os terrenos planos ou levemente inclinados, com no máximo 10%
de inclinação, e evitar áreas de baixada com pouca drenagem ou sujeitas a
alagamentos periódicos, que prejudicam o desenvolvimento das plantas e
causam o apodrecimento das raízes por anoxia.

De modo geral, as características químicas do solo são as menos


problemáticas para a escolha da área, já que podem ser corrigidas para
atender às necessidades da cultura, por meio do uso de corretivos e
fertilizantes e adição de matéria orgânica. Além disso, a cultura da mandioca
é mais tolerante aos solos ácidos e de baixa fertilidade. Assim, uma das
formas de reduzir os custos de plantio é o aproveitamento residual da
cultura anterior, escolhendo áreas onde foram feitas correções e adubações.

PREPARO DA ÁREA PARA O PLANTIO DA


MANDIOCA
O preparo da área consiste basicamente em sua limpeza, para fornecer
condições favoráveis ao plantio, brotação das manivas-semente,
crescimento das raízes e tratos culturais no mandiocal. Em face das
condições do terreno, poderá ser feito manualmente, com tração animal ou
mecanicamente.

O preparo manual normalmente é usado em pequenas áreas ou em áreas


semipreparadas, onde serão necessárias apenas algumas atividades, como
capinas, catação de raízes, coivaras ou enleiramentos dos restos vegetais e o
coveamento ou sulcamento para o plantio das manivas-semente.

Da mesma forma, o preparo com tração animal se dá em pequenas áreas,


onde, associadas ao preparo manual, são feitas as atividades de enleiramento,
aração, gradagem e sulcamento. Em pequenas áreas que precisam de
desmatamento, o preparo poderá ser manual ou com tração animal.
CULTURA DA MANDIOCA - 59

Já no preparo mecanizado, normalmente são feitas uma aração a 40 cm de


profundidade, duas gradagens e o sulcamento para o plantio. As gradagens
deverão ser feitas cerca de 30 dias após a aração, utilizada para nivelamento
da área e incorporação das invasoras que tenham rebrotado.

Em grandes áreas que precisam de desmatamento, o preparo mecanizado


requer os devidos cuidados, para evitar compactação e raspagem da
camada orgânica do solo. Vale ressaltar que o uso de máquinas nos
preparos de áreas para o plantio deverá se dar sempre em condições de
solo favoráveis à mecanização, ou seja, com teor de umidade adequado
– o solo não deve estar muito molhado nem muito seco, a im de evitar
compactação e desagregação.

É importante ressaltar que todas as atividades de preparo da área para


o plantio do mandiocal deverão seguir as curvas de nível previamente
marcadas e que os solos deverão ser removidos o mínimo possível, visando
preservar suas características químicas e físicas. Por exemplo: no plantio de
mandioca em ileiras duplas, o preparo da área poderá ser feito somente na
faixa onde serão instaladas as linhas de plantio da cultura, com utilização de
subsolador.

CONSERVAÇÃO DO SOLO PARA O PLANTIO DA


MANDIOCA
A conservação do solo deve ser uma preocupação constante dos produtores
na implantação de qualquer atividade agrícola. É preciso ter sempre em
mente que “o solo é um patrimônio do produtor e precisa ser conservado”.

Nesse particular, na condução de um mandiocal, os cuidados com a


conservação do solo se revestem de maior importância e precisam ser
considerados na escolha e preparo da área, nos sistemas de plantio e tratos
culturais e na colheita e enleiramento dos restos culturais. Isto porque a
cultura da mandioca possui brotação e desenvolvimento lentos na fase
inicial, o que acarreta pouca proteção ao solo e, consequentemente, deixa
os mandiocais sujeitos a acentuadas perdas de solo e água por erosão;
e também porque grande parte da produção é exportada na forma de
raízes, ramas para os novos plantios e, em alguns casos, a parte aérea é
usada na alimentação animal, resultando em pouco resíduo orgânico a ser
incorporado ao solo.

Essas peculiaridades da cultura evidenciam o porquê da necessidade de


alguma prática que venha contribuir na conservação do solo em todas as
60 - CULTURA DA MANDIOCA

fases do sistema de produção. Dessa forma, na escolha da área de plantio


temos a primeira preocupação com a conservação do solo, ou seja, não usar
área com declividade acima de 10%.

No preparo da área para o plantio, todas as atividades (aração, gradagem,


aberturas de sulcos ou covas, entre outras) deverão seguir as curvas de
nível previamente marcadas e os solos deverão ser removidos o mínimo
possível. Vale ressaltar, também, que um bom preparo da área, juntamente
com a correção da acidez e da fertilidade, conforme indicado pelas
análises do solo, vai propiciar um bom desenvolvimento da cultura e,
consequentemente, reduzir as perdas por erosão, graças à maior proteção
dada pelas plantas.

Ainda no preparo do solo e no plantio, deve-se planejar a utilização de


práticas conservacionistas que garantam maior proteção e uso do solo,
mesmo que ele seja de área plana ou levemente inclinada (até 3% de
inclinação). Podem ser usadas as seguintes práticas:

• Enleirar os restos de cultura em nível.


• Plantio em nível: o plantio deve seguir curvas de nível previamente
marcadas (Figura 1).

Figura 1. Plantio de mandioca em nível.


CULTURA DA MANDIOCA - 61

• Cultivo em faixas: em uma mesma área, são plantadas faixas alternadas com
cultivos diferentes, em que a cultura a ser alternada com a mandioca protege
mais o solo e, consequentemente, diminui o escoamento superficial – por
exemplo, milho, arroz, amendoim, feijão, leguminosas para adubos verdes,
entre outras (Figura 2).

Figura 2. Plantio de mandioca em sistemas de cultivo em faixa com as culturas de milho e


feijão.

• Consorciação, policultivo ou cultivo múltiplo: são sistemas de plantio em


que, numa mesma área, podem-se usar diferentes culturas em determinado
espaço de tempo e, normalmente, com arranjos modificados em relação
ao plantio de cultura solteira ou monocultivo. Nesses sistemas, tem-se a
cultura principal, normalmente com um ciclo mais longo, e a consorciada
(uma ou mais), em geral de ciclo mais curto. Nesses sistemas, objetiva-se,
além da preservação do solo, maior índice de uso da terra, que expressa
o aproveitamento em relação à área. A mandioca como cultura principal
pode ser consorciada com uma série de outras culturas (arroz, milho, feijão,
amendoim, batata-doce, hortaliças em geral, leguminosas para adubação
verde, entre outras), tanto em sistemas de plantio de fileiras simples, em que
se deve aumentar o espaçamento entre as linhas, quanto em fileiras duplas.
Também a mandioca pode ser usada como cultura consorte em uma série de
sistemas com culturas perenes ou florestas, como fruteiras, fruteiras nativas,
eucalipto, etc., e também em sistemas agrosilvipastoris (Figura 3).
62 - CULTURA DA MANDIOCA

(a)

(b)

(c)

Figura 3. Plantio de mandioca em sistemas de ileiras simples consorciada com feijão (a), em
sistemas de ileiras duplas consorciada com milho (b) e em sistemas com culturas perenes ou
fruteiras (c).
CULTURA DA MANDIOCA - 63

• Consorciação em fileiras alternadas: consiste em consorciar uma cultura


entre duas fileiras simples de mandioca e outra não. Ou seja, uma linha
consorciada e outra não, o que reduziria a área mais exposta às condições de
erosão como é o caso do Sistema Bragantino (Figura 4).

Figura 4. Plantio de mandioca consorciada com milho em ileiras alternadas.

• Plantio em leirões ou camalhões: o plantio em camalhões em nível, além


de reduzir o escoamento superficial das águas, contribuindo para a redução
da erosão do solo, também facilita a colheita da mandioca e controla a
aeração do solo em áreas com baixa drenagem, reduzindo a ocorrência de
podridão radicular. Os camalhões poderão ser feitos com passagens de arados
em sentidos alternados, com o sulcador grande, também denominado de
taipadeira, ou mesmo com enxada manual (Figura 5).

Figura 5. Plantio de mandioca em leirões ou camalhões.


64 - CULTURA DA MANDIOCA

• Rotação de culturas: consiste em alternar o tipo de cultura em uma mesma


área, a cada ciclo das culturas, com o objetivo de reduzir a ocorrência de
pragas e doenças e contribuir na manutenção ou melhoria das características
físicas, químicas e biológicas do solo. A cultura da mandioca não deve ser
plantada mais de duas vezes consecutivas em uma mesma área – é necessária
a rotação com outra cultura.
• Cordões de contorno: consiste em plantar, dentro da mesma área, faixas
adensadas de culturas mais vegetativas, seguindo as curvas de nível, ou
seja, cortando as águas. Pode-se usar cana, capins, milho, arroz, entre
outras (Figura 6).

Figura 6. Plantio de mandioca em faixas com cordão de contorno.

Também durante a fase de tratos culturais do mandiocal, é importante usar


práticas simples, mas que vão contribuir muito para evitar as perdas de solo
e água. Entre essas, podem ser usadas:
CULTURA DA MANDIOCA - 65

• Capina em linhas alternadas: consiste em capinar uma linha e saltar a outra,


deixando-a sem capinar, e assim sucessivamente até o fim da área; depois de
uma ou duas semanas, retornar e capinar as linhas que ficaram sem capinar.
Isso reduz o escoamento de água na área.
• Capina nas linhas e roçagem nas entrelinhas: consiste em controlar o mato
nas linhas de plantio e nas entrelinhas fazer somente uma roçagem, o que
contribuirá para evitar a erosão do solo.
• “Mulch” ou cobertura morta: consiste em cobrir o solo em toda a área
do mandiocal, linhas e entrelinhas de plantio, com resíduos vegetais ou
vegetação morta (por exemplo, capins secos), o que vai contribuir no controle
da erosão, incorporação de matéria orgânica e para manter a umidade do
solo. Entretanto, caso não haja disponibilidade de vegetação seca para toda a
área, a cobertura morta poderá ser feita em linhas alternadas.

Na colheita ou arranquio da mandioca, é importante enleirar os restos


culturais em nível, para diicultar o escoamento da água e facilitar o manejo
da área após a colheita.

Essas práticas são indispensáveis na implantação e na condução do


mandiocal em áreas com até 3% de declividade. Entretanto, áreas com
inclinação de 3% a 10% de declividade, como já mencionado, deverão
ser usadas com restrições, por exigirem, além das práticas citadas
anteriormente, outras práticas de conservação do solo mais onerosas, como
terraços em nível ou com inclinações e canais escoadouros. Vale ressaltar
que devemos evitar o plantio de mandioca em áreas com declividade
superior a 10%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As vantagens da conservação do solo nos mais diversos locais mostram
a viabilidade técnica, econômica e social desse sistema quando
adequadamente inserido nos diferentes sistemas de produção regionais.

Para que haja uma constante sensibilização, principalmente por parte


dos agricultores e técnicos, é necessário desenvolver estratégias técnicas
e operacionais com o intuito de atingir e sensibilizar um maior número
de agricultores possíveis, levando as vantagens da conservação do solo e
buscando meios efetivos de se reproduzir as experiências já validadas em
algumas regiões para outras regiões vizinhas.
66 - CULTURA DA MANDIOCA

LITERATURA RECOMENDADA
AMABILE, R. F.; CORREIA, J. R.; FREITAS, P. L. de; BLANCENEAUX, P.; GAMALIEL, J. Efeito do manejo de
adubos verdes na produção de mandioca (Manihot esculenta Crantz). Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v. 29, n. 8, p. 1193-1199, 1994.

CARVALHO, M. A.; ANDRADE, A. M. S. Calagem para a cultura da mandioca. Informe Agropecuário,


v. 15, n. 171, p. 10-14, 1991.

FIALHO, J. F.; VIEIRA, E. A. Mandioca no Cerrado: orientações técnicas. Planaltina, DF: Embrapa
Cerrados, 2011. 208 p.

FIDALSKI, J. Respostas da mandioca à adubação NPK e calagem em solos arenosos do noroeste


do Paraná. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 34, n. 8, p. 1353-1359, 1999.

MODESTO JÚNIOR, M. de S.; ALVES, R. N. B. Sistema agroecológico de roça sem fogo para
produção de mandioca em Moju. Amazônia: Ciência & Desenvolvimento, v. 7, n. 14, p. 59-68,
jan./jun. 2012. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/73359/1/
N-14-Sistema-Agroecologico.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2014.

SOUZA, L. S.; FIALHO, J. F. Sistema de produção de mandioca para a região do Cerrado. Cruz
das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2003. 61 p.

Você também pode gostar